O texto escrito e o texto oral: características O processo de comunicação pode realizar-se através da linguagem oral ou da escrita. Embora a língua seja a mesma, a expressão escrita difere muito da oral, sendo ponto pacífico, largamente comprovado, que ninguém fala como escreve, ou vice-versa. Originalmente, só havia a língua falada; a escrita apareceu em estágios mais avançados da civilização, mas até hoje ainda existem línguas ágrafas, isto é, sem escrita. Entretanto, a escrita adquiriu, através do tempo, tão alto prestígio, a ponto de se esquecer que, anterior a ela, há uma linguagem oral que lhe serve de suporte. Na verdade, a escrita é apenas uma tentativa imperfeita de reprodução gráfica dos sons da língua. Algumas características da linguagem oral, tais como entonação, timbre, altura, ênfase, pausas, velocidade da enunciação e muitas outras são impossíveis de ser representadas graficamente. Essas características são precariamente reproduzidas pelos sinais de pontuação (exclamação, interrogação, reticências, hífen, parênteses, travessão etc.), pelo emprego de maiúsculas, de negrito, itálico ou de sublinhas. A língua falada pressupõe contato direto com o falante, o que a torna mais concreta; é mais espontânea, não apresentando grande preocupação gramatical do ponto de vista normativo. Seu vocabulário é mais restrito, mas está em constante renovação. Na linguagem familiar, em situações informais, as preocupações com a clareza e a correção vão-se tornando menos evidentes. Na língua falada, além da restrição do vocabulário, não há grande preocupação com as regras gramaticais de concordância, regência e colocação, nem com a clareza das construções sintáticas. A língua escrita mantém contato indireto entre quem escreve e quem lê, o que a torna mais abstrata; é mais refletida, exige grande esforço de elaboração e obediência às regras gramaticais. Seu vocabulário é mais apurado e é, por natureza, mais conservadora. A língua falada conta com recursos extralingüísticos, contextuais, tais como gestos, expressões faciais, postura, que muitas vezes completam ou esclarecem o sentido da comunicação. A presença do interlocutor permite que a língua falada seja mais alusiva, enquanto a escrita é menos econômica, mais precisa. Do ponto de vista gramatical, as duas linguagens, escrita e falada, apresentam características específicas, cientificamente comprovadas. De maneira geral, as principais construções gramaticais são observadas no uso da língua escrita. É interessante acrescentar aqui a visão de Denise Bértoli Braga. Em seu artigo - A constituição híbrida na internet: a linguagem nas salas de bate-papo e na construção dos hipertextos - a estudiosa diz que o contexto cibernético não só permite que a escrita ocupe espaços antes reservados para as interações orais, como também viabiliza a existência de um novo texto, o hipertexto, que é híbrido na construção dos fatos lingüísticos, ou seja, incorpora textos escritos e orais e diferentes recursos audiovisuais: fotografia , som e vídeo. Ainda, segundo a autora, a escrita passa a desenvolver características próprias, mas não houve, ao contrário do que propõem algumas teorias mais tradicionais, uma ruptura drástica entre as práticas orais e escritas. Ela diz também que as salas de bate-papo na internet introduzem a escrita em um novo espaço comunicativo até recentemente restrito à oralidade: conversa informal. Essa importação de gênero acarreta mudanças que, por um lado, aproximam a escrita da oralidade e, por outro lado, induzem novos recursos expressivos, adequados a essa nova situação de uso e aos recursos que o meio eletrônico oferece. Atente para as características do texto oral e do texto escrito: LINGUAGEM ORAL • Repetição de palavras. • Emprego de gíria e neologismos. • Maior uso de onomatopéias. • Colocação pronominal livre. • Supressão dos relativos (“cujo”, por exemplo). • Frases feitas, chavões. • Anacolutos (rupturas de construção). • Frases inacabadas. • Formas contraídas, omissão de termos no interior das frases. LINGUAGEM ESCRITA • Vocabulário rico e variado, emprego de sinônimos. • Emprego de termos técnicos. • Vocábulos eruditos, substantivos abstratos. • Colocação pronominal de acordo com a gramática. • Emprego de pronomes relativos. • Variedade na construção das frases. • Sintaxe bem elaborada. • Frases bem construídas. • Clareza na redação, sem omissões e ambigüidades. Vale informar que, nos e-mails utilizados em correspondências empresariais ou para fins profissionais, deve-se respeitar a língua–padrão e evitar frases longas, palavras de baixo calão, abreviaturas (como as usadas em salas de batepapo, blogs etc.), letras maiúsculas como – ENTENDEU –, excesso de recursos - negrito, itálico e sublinhado - ao mesmo tempo. 2.1 As condições de produção do texto Você já parou para pensar que em cada situação da vida cotidiana produzimos, quase que intuitivamente, textos diferentes para atender a diferentes finalidades? Veja: Podemos, por exemplo, escrever uma carta a um jornal se quisermos expressar nossa indignação ou admiração em relação a uma matéria que tenhamos lido. Para divulgar um serviço que prestamos podemos escrever um anúncio para uma revista, um folheto de propaganda para ser distribuído em diversos lugares. Se desejarmos uma vaga de emprego, devemos escrever um currículo para informar nossa experiência profissional e nossa formação. Se fizemos uma pesquisa e queremos divulgar os resultados dela, podemos escrever um artigo acadêmico-científico para uma revista especializada. Quando queremos saber notícias de uma pessoa querida que está distante, podemos escrever uma carta ou um e-mail. Isso significa que em várias circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais vários. Por isso, a cada circunstância correspondem: a) finalidades diferentes: manifestar nossa forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido; informar sobre sua qualificação profissional; b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante; c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas; d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo. Quer dizer: escrever um texto é uma atividade que nunca é a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita caracteriza-se por diferentes condições que determinam a produção dos discursos. Essas condições referemse aos elementos apresentados acima. Mas não apenas a eles. Um aspecto a ser considerado ainda é o lugar social do qual se escreve. Todos nós desempenhamos diferentes papéis na vida: o de mãe/pai, de filho/filha, de irmão/irmã, de associado de determinado clube, de consumidor de determinado produto, de cidadão brasileiro, o relativo à profissão que exercemos (professores, médicos, dentistas, vereadores, escritores, revisores, feirantes, digitadores, diretores de escola etc) entre outros. Cada um desses papéis estabelece entre nós e aqueles com quem nos relacionamos determinados vínculos, que implicam responsabilidades assumidas, pontos de vista a partir dos quais acontecimentos são analisados, recomendações são feitas, atitudes são tomadas... Ainda que esses papéis se articulem todo o tempo, uma vez que são todos constitutivos do sujeito e que, dessa forma, influenciam-se mutuamente, quando assumimos a palavra para dizer alguma coisa a alguém, um desses papéis predomina, em função das demais características do contexto de produção (sobretudo do lugar de circulação do discurso e do interlocutor presumido). Ser um escritor/leitor proficiente, portanto, significa saber lidar com todas as características do contexto de produção dos textos, de maneira a orientar a produção do seu discurso pelos parâmetros por elas estabelecido. Contexto é a situação históricosocial de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com ele se relacionem. Pode-se dizer que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do leitor — e a análise destes elementos ajuda a produzir sentidos possíveis. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).