OS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ACR SOBRE A FADIGA NO EXERCÍCIO DE ENDURANCE THE EFFECTS OF ACR SUPPLEMENTATION ON FATIGUE IN ENDURANCE EXERCISE Helen Deyse S. Cândido GOIS1 Keila Cristina Gasparin FERREIRA2 Luis Carlos Nobre de OLIVEIRA3 Daniela Navarro D’Almeida BERNARDO4 RESUMO Nove são os aminoácidos considerados essenciais ao organismo, ou seja, necessitam ser adquiridos através da dieta. Dentre eles a Isoleucina, Leucina e Valina são consideradas de cadeia ramificada (ACR). Supõe-se que esses aminoácidos estejam envolvidos no processo de fadiga central, aumentando a performance do indivíduo. O presente estudo tem como objetivo identificar os efeitos da suplementação de Branched Chained Amino Acids (BCAA) sobre o estado de fadiga em exercícios de endurance. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica a partir dos artigos publicados junto ao banco de dados Bireme, Lilacs, Scielo, Google Acadêmico e livros. Conclui-se que não há evidências científicas que comprovam os efeitos dos ACR na diminuição da fadiga central em exercícios de endurance, apenas na diminuição da incidência de lesão muscular. UNITERMOS: Fadiga; Esforço Físico; BCAA. INTRODUÇÃO Aminoácidos são unidades básicas de composição de uma proteína em seres vivos, usados para sintetizar proteínas obtidas da dieta ou do turnover de proteínas, somam vinte aminoácidos padronizados no total, mas apenas nov e aminoácidos são considerados essenciais. Uma vez que não podem ser sintetizados endogenamente, devem ser ingeridos por meio da dieta ou suplementos. Destacando dentre eles os Aminoácidos de Cadeia Ramificada (ACR) ou Branched Chained Amino Acids (BCAA); Leucina (Leu), Valina (Val) e Isoleucina (Ile)1. Os ACR e o Triptofano (TRP) competem pela passagem na barreira hematencefálica, no exercício exaustivo, podendo resultar gradativamente no aumento da concentração de ácidos graxos livres no plasma, que competem com o aminoácido TRP pela ligação à proteína plasmática albumina. O decréscimo dos ACR eleva os níveis de triptofano livre (TRP-L) plasmático, sendo o precursor da serotonina ou 5Hidroxitriptamina (5-HT) ocasionando a fadiga central2. Exercício de endurance pode ser definido como atividade de média e longa duração, com a capacidade de manter um determinado esforço pelo maior intervalo de tempo, as fibras musculares são predominantes na oxidação, principalmente a de contração lenta tipo I, utilizando lipídeos pelos músculos fazendo ocorrer profundas adaptações no mecanismo fisiológico e uma dessas adaptações é o aumento da quebra de lipídeos, maior deposição de triacilglicerol nos músculos3, 4. Em uma atividade de longa duração dois fatos poderiam ocorrer; primeiro, seria que os ACR são absorvidos pelo músculo esquelético para serem oxidados para fins energéticos, consequentemente à queda da glicemia, efeito normal durante tal evento e, com a queda de competição ocasiona a fadiga. O segundo seria a estratégia nutricional empregada nesta área envolvendo a suplementação de BCAA, com objetivo de manter a concentração de aminoácidos competidores do TRP para reduzir os sintomas de fadiga central, reduzindo concentração excessiva de 5-HT no cérebro durante o exercício de endurance5. O impacto dos lipídeos no metabolismo de carboidratos é fundamental no esforço prolongado, sendo que a redução do glicogênio muscular durante o exercício está relacionada à instalação da fadiga periférica e central6. 1 Graduada em Nutrição - UniSALESIANO- Araçatuba- SP. Graduada em Nutrição - UniSALESIANO- Araçatuba- SP. 3 Mestre Docente do Curso de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba/ SP – UniSalesiano. 4 Mestre Docente nos Cursos de Nutrição e Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba – UniSalesiano. 2 Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 19-23, Julho/Dezembro, 2015 19 Na situação bioquímica considera-se a fadiga periférica como aquela que perde a força e a potência, ocorre independente da ação dos neurônios, acontece nos músculos em atividade e ocorrem alterações como depleção. Na fadiga central ocorre uma redução progressiva da direção voluntária para os neurônios mot ores durant e o ex ercíci o, o mecani smo relacionado seria a hipoglicemia devido à redução do glicogênio7. Há suplementação com BCAA (18mg/kg) é capaz de suprir o aporte energético durante uma prova de 10km com homens saudáveis e não atletas, retardando o aparecimento precoce de fadiga e melhorando o desempenho em comparação ao grupo placebo8. O presente estudo tem como objetivo identificar os efeitos da suplementação de BCAA sobre o estado de fadiga em exercícios de endurance. MATERIAL E MÉTODO Foi realizada uma revisão bibliográfica a partir de artigos publicados junto ao banco de dados: Bireme, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico, acessados pela internet com as seguintes palavras chave: Aminoácidos de Cadeia Ramificada, BCAA, fadiga central e exercício de endurance, e em livros de Bioquímica, Fisiologia Humana, Fisiologia do Exercício, Nutrição Esportiva e Suplementação. Os artigos foram analisados com o objetivo de observar os efeitos do BCAA sobre a fadiga no exercício de endurance. DISCUSSÃO Aminoácidos de Cadeia Ramificada A Isoleucina (Ile), Valina (Val) e a Leucina (Leu), somam um terço das proteínas musculares (35%), sendo a Leu mais destacada por obter maior taxa de oxidação, estimular síntese de proteínas musculares, est arem ligada à l iberação de precursores gliconeogênicos e também no efeito sinérgico com a insulina, hormônio anabólico com papel na manutenção da síntese proteica muscular. A Leu é primariamente utilizada pelo organismo para a síntese de proteína, mas também como substrato energético para o músculo na sua recuperação, fornecendo 3 a 4% da energia no músculo em repouso e 1% durante o exercício9. Á medida que o estoque de glicogênio é reduzido durante a execução de um exercício de endurance, as enzi mas responsáv eis pela transaminação dos ACR aumentam sua atividade no músculo esquelético, dependendo dos ACR como fonte de energia para diminuir a concentração de TRPL. Logo ocorre uma competição entre ambos para entrada no cérebro, para o TRP formar a 5-HT. O TRP é o único aminoácido que circula 90% ligado à proteína de transporte albumina, ficando 10% na forma livre, ao elevar os níveis de ácidos graxos, aumenta o nível de TRP competindo para se ligar à albumina, que com a presença da suplementação de BCAA eleva os níveis de ACR no plasma e diminui a síntese de TRP em 5HT, responsável pela instalação da fadiga central no exercício de endurance10. Exercícios de endurance x fadiga Endurance é a capacidade de resistência física que permite o indivíduo sustentar por um médio (< 20 minutos) ou longo tempo (> 30 minutos) um exercício relativamente generalizado em condições aeróbias, dentro dos limites do equilíbrio fisiológico. Os exercícios de endurance podem ser: corrida, ciclismo, natação, remo, canoismo, triatlo, patinação artística e esqui. O grau de endurance está na capacidade de absorver o oxigênio nos pulmões, transportá-lo para os músculos que estão em constantes contrações e utilizá-lo pelas vias metabólicas oxidativas da musculatura, sendo o sistema cardiovascular o responsável pelo transporte de oxigênio para a musculat ura, ocupando um papel-chav e no desenvolvimento do endurance 4,11. A duração de um exercício de endurance para a instalação da fadiga depende da ação e dos eventos fisiológicos musculares, que relacionados com falta de sua manutenção durante a tarefa é definida como fadiga, onde a complexidade desse evento está desde os músculos até o Sistema Nervoso Central (SNC), origem das reações em todas as estruturas nervosas10. Pressupõe-se que, ao realizar um exercício cíclico na maior intensidade possível, o tempo de duração desta tarefa será o fator preponderante para determinar a predominância dos sistemas fisiológicos apresentados. Em exercícios de alta intensidade com duração aproximada de três minutos, 89 % da redução da força estão relacionados aos mecanismos periféricos, ao passo que os 11% dos remanescentes estão associados ao SNC. Nos exercícios de endurance ocorrem limitações do SNC, do sistema cardiovascular e do sistema periférico, ocasionando a instalação da fadiga dificultando a performance do exercício7. Doses e recomendações Sabendo que as ingestões diárias dos ACR se diferem nas suas recomendações comparadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Dietare Reference Intakes (DRI), a recomendação da OMS propõe que a ingestão seja na proporção de Leu (14mg/Kg/dia), Val (10mg/Kg/dia) e Ile (10mg/Kg/dia), citando também a DRI a qual é baseada na determinação da Recommendedy Dietary Allowance (RDA) que recomenda a um indivíduo adulto, a ingestão na proporção de Leu (42mg/Kg/dia), Val (24mg/Kg/dia) e Ile (19mg/Kg/dia), respectivamente12. Em um estudo com 7 indivíduos do sexo masculino os quais fizeram 60 minutos de ciclismo, divididos em dois grupos. O primeiro grupo recebeu Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 19-23, Julho/Dezembro, 2015 20 uma solução com 100mg de ACR/kg/peso contendo 45% de Leu, 30% de Val e 25% de Ile, o segundo grupo, placebo. O grupo suplementado apresentou melhora relacionada apenas a síntese proteica e recuperação muscular no pós-exercício e não durante o mesmo13. Est udo reali zado em 17 indiv íduos suplementados com BCCA (77mg/kg) para uma corrida até a exaustão declarou que a suplementação não afeta o desempenho de endurance, havendo ausência de efeitos positivos na fadiga14. Efeitos adversos Alguns estudos vêm sendo realizados em humanos, adultos fisicamente ativos, indicam que os ACR são bem tolerados quando consumidos em até 450mg/kg, que é três vezes mais que a média estimada, onde doses acima podem causar efeitos adversos, podendo ocorrer à destruição das enzimas metabólicas responsáveis pela transaminação dos ACR15. Destacando que quando a ingestão de ACR na dieta diária é menor ou igual ao recomendado, seu processo metabólico enzimático ocorre normalmente, quando há adição de suplementos na forma de comprimidos, que foram os utilizados em seus estudos, continham 100mg de Val, 50mg de Ile e 100mg de Leu, destacando atenção ao excesso, pois um peito de frango (100g) possui: 470mg de Val, 375mg de Ile e 656mg de Leu, que somados equivalem a sete comprimidos formulados de ACR15. CONCLUSÃO Os estudos pesquisados mostraram improvável resultado na prevenção da instalação da fadiga, atuando apenas na recuperação de lesões do tecido muscular pós-treino. Conclui-se que não há evidências científicas suficientes comprovando os efeitos dos ACR nos exercícios de endurance, portanto, é necessário que haja mais estudos para a comprovação de sua eficácia sobre a fadiga. ABSTRACT Nine amino acids are considered essential to the organism, so, need to be acquired from the diet. Among them Isoleucine, Leucine and Valine are considered branched-chain (BCAA). It is assumed that these amino acids are involved in the central fatigue process, increasing the performance of the individual. Thi s st udy aims to identif y the ef f ects of supplementation of Branched Chained Amino Acids (BCAA) on the state of fatigue in endurance exercise. A literature search from articles published was carried out by the Bireme database, Lilacs, Scielo, Google Scholar and books. We conclude that there is no scientific evidence to prove the effects of BCAA in decreased central fatigue in endurance exercise, only in reducing the incidence of muscle injury. UNITERMS: Fatigue; Physical Exertion; BCAA. REFERÊNCIAS 1. Marzzoco A, Torres BB. Bioquímica Básica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1999. p. 11. 2. Pardridge WM, Choi TB. Neutral aminoacid transport at the human blood-brain barrier. Federation Proc 1988; 45(7): 2073-2078. 3. Denadai BS. Fatores fisiológicos associados com o desempenho em exercícios de média e longa duração. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1996; 1(4): 82-91. 4. Power SK, Howley ET. Fisiologia do Exercício e Apl icação ao condicionamento e ao desempenho. 6ª ed. Barueri: Ed. Manole, 2009. cap 13, p. 280. 5. Rossi L, De Castro IA, Tirapegui J. Suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada e alteração na concentração da serotonina cerebral. Nutrire: Rev Soc Bras Alim Utr 2003; 26: 1-10. 6. Foss L, Keteyian SJ. Bases Fisiológicas do Exercício e do esporte. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ed.Guanabara Koogan, 2000. cap 15, p. 376. 7. Silva AEL, Fernandes TC, De oliveira FR, Nakamura FY, Da Silva MG. 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