Expresso, 24 de julho de 2010 ECONOMIA 17 HORTICULTURA Plantas da Fórmula 1 vêm de Loures A Feel Green fornece decorações florais para eventos VIP em todo o mundo e, apesar da crise, está a crescer Afinal, as plantas floridas que enfeitam os exclusivos paddocks da Formula 1 são produzidas em Portugal. Em plena temporada de provas do campeonato mundial de automobilismo, estão sempre a partir camiões TIR de São Julião do Tojal. É lá que se localizam os viveiros da Feel Green, empresa que abastece em exclusivo as plantas decorativas dos grandes prémios de F1, desde Silverstone a Monza, e também a nata dos eventos desportivos um pouco por todo o mundo. O negócio está a crescer, totalizando 24 grandes eventos internacionais este ano, com destaque ainda para o Red Bull Air Race, “Vamos fazer um bom ano em 2010, estamos com mais eventos internacionais. Mas por causa da crise, os preços são muito controlados. Para obter o mesmo valor de vendas é preciso trabalhar mais”, explica Yves Boschmans, proprietário da Feel Green, prevendo este ano elevar a faturação de ¤1,5 milhões para ¤2 milhões. Casado com uma portuguesa, Yves Boschmans acabou por deslocalizar para Portugal a empresa de horticultura que tinha na Bélgica. “Viemos para Portugal para fornecer o Euro-2004, pois era necessário constituir uma empresa portuguesa”, conta. “E também porque a minha mulher tinha saudades de viver em Portugal”. Formado em agronomia, NEGÓCIO FLORESCENTE 2 milhões de euros é a previsão da Feel Green para o volume de negócios em 2010, face aos anteriores ¤1,5 milhões. A empresa, com viveiros em São Julião do Tojal, vai fornecer este ano 24 grandes eventos internacionais, com destaque para os Grandes Prémios de Fórmula 1 ou o Red Bull Air Race. Cerca de 90% do negócio vêm de eventos no exterior Yves Boschmans deslocalizou para Portugal a empresa que tinha na Bélgica FOTO TIAGO MIRANDA Boschmans abriu em 1995 uma loja de flores em Bruxelas, com tanto sucesso que até foi solicitada para eventos protocolares do Parlamento Europeu. A sua primeira coroa de glória foi tornar-se fornecedor oficial dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. “E a seguir fizemos muitos torneios de ténis na Alemanha, no período de Boris Becker”, recorda Yves Boschmans, que até à data não tem parado de somar contratos de luxo para a sua empresa hortícola, desde campeonatos da UEFA à America’s Cup. “Cerca de 90% das nossas vendas são fora de Portugal, em eventos no exterior”, faz notar o empresário. A logística é uma área crítica da empresa, que para os eventos na Ásia conta com armazéns em Xangai e em Kuala Lumpur. “Em Portugal, te- INTERNACIONALIZAÇÃO Arquitetura e engenharia de mãos dadas O objetivo do acordo é ganhar dimensão com vista a avançar com processos de internacionalização. Empresas estão em 12 países e faturam cerca de ¤30 milhões O Network for Engineering, Architecture and Technology, SA (NEAT) foi criado há cerca de quatro anos por PME nacionais com ambições de internacionalização. Neste momento as oito empresas que integram o grupo têm negócios, além de Portugal, em onze países espalhados pela Europa e África e preparam-se para alcançar novos destinos como a Tunísia e o Panamá. Aqualogus, Qualitas Vidit, Gapres, Geocontrole, Globalvia, Sua Kay Arquitectos, Tecproeng e VHM, são as oitos empresas que integram o NEAT. “O núcleo nasceu de um conjunto de PME que, não tendo dimensão, reuniu competências em várias áreas que não se sobrepõem e lançaram-se num esforço de internacionalização”, conta João Santos Silva, presidente do conselho de administração do NEAT. Os serviços que prestam situam-se na área da consultoria, projeto e gestão de empreendimentos em domínios tão diversos como engenharia da água, estruturas de edifícios, ambiente, arquitetura, fundações e geotécnica, infra-estruturas de vias e acessibilidades, entre outros. Na prática, o NEAT funciona como “uma plataforma que tem um back-office na procura de oportunidades, estuda propostas, no fundo, trabalhamos em rede”, explica João Santos Silva. As empresas que integram o núcleo, sozinhas ou em grupo, participam em concursos internacionais. Uma vez assegurada a sua presença nesses mercados, podem levar consigo as restantes empresas, fazendo lóbi ou encontrando possibilidades de trabalho, ou ainda integrando-os nos projetos que vierem a conseguir. Começar pelo Magrebe Angola, Argélia, Marrocos, Líbia, Bulgária, Roménia e Sérvia são alguns dos países onde as empresas do NEAT marcam presença. “No Magrebe escolhemos começar pela Argélia e foi por aí que o núcleo iniciou a sua busca”, conta o presidente. Neste destino pesou a proximidade a Portugal. Dentro do grupo existe o consenso de que a Europa de Leste e o Magrebe são destinos preferenciais, como também o são Moçambique, Cabo Verde, Angola e Brasil. A estratégia implementada até agora tem sido estudar países com disponibilidade financeira para investir, nomeadamente em obras públicas. A Tunísia e o Panamá são destinos que o NEAT tem debaixo de olho para se expandir. Mas todas as oportunidades que surjam são bem-vindas. O presidente do NEAT conta que a empresa que dirige, a Globalvia, estabeleceu uma parceria para concorrer a uma obra na Índia. “Não é um dos nossos mercados-alvo, todavia apareceu uma oportunidade que aproveitámos e, se vier a ter viabilidade, podemos criar possibilidades para os restantes colegas”. Esta é a força do NEAT, a de procurar e atrair oportunidades internacionais para quem o integra. Exemplo disso é a Sua Kay Arquitectos. Antes de integrarem o núcleo, o ateliê de arquitetura já se tinha lançado na internacionalização. Contudo, António Rodrigues da Silva, administrador do ateliê, conta que “a presença no NEAT veio ampliar a nossa capacidade de internacionalização. Foi uma mais-valia que nos abriu outros mercados, como a Argélia e Marrocos, onde nunca tínhamos pensado investir”. Neste momento a Sua Kay está a projetar um conjunto de investimentos no valor de ¤120 milhões na Argélia e cerca de 60% da sua atividade é feita fora de Portugal. Na opinião de António Rodrigues da Silva, com a crise existente, as empresas só conseguem ter algum crescimento à custa da internacionalização. Maribela Freitas [email protected] mos a ambição de crescer no mercado de hotéis, centros comerciais e escritórios”. A Feel Green é o fornecedor oficial do Sport Lisboa e Benfica e abasteceu as plantas decorativas do Sofitel Lisboa. Em 2010, a remodelação do centro comercial Vasco da Gama e o campeonato equestre no Estoril, o Global Champions Tour CSI, foram as suas principais conquistas no país. Os viveiros no concelho de Loures já são manifestamente insuficientes para dar resposta à procura crescente. “Está tudo muito apertado. Precisava no mínimo de 10 mil metros quadrados, e só tenho 3 mil”. As plantas destes viveiros são a matéria-prima para o produto acabado da Feel Green, já com flores, acessórios e painéis decorativos. É aqui que entra a arte de Yves Boschmans. “Não podemos fazer trabalhos iguais. O cliente de grandes eventos quer ter a certeza que as decorações têm design e estão na moda”. Ferrari só quer flores vermelhas Lidar com as exigências dos patrocinadores já é habitual para a Feel Green. “Na Fórmula 1, exigem uma coisa, e ela tem de aparecer. Bernie Ecclestone anda por ali a passear e, se não gostar, manda tirar tudo”. Muitas vezes, é das celebridades que vêm os imprevistos. “O Pavarotti ia dar um concerto na final de ténis em Hannover em 1994, mas ao ver a decoração com flores amarelas disse logo que era alérgico. Tivemos de substituir tudo, do dia para a noite”. As exigências estendem-se sobretudo às cores dos arranjos. “A Ferrari quer flores vermelhas, a Williams brancas, a McLaren só quer helicórnias”, exemplifica. “E cada país tem um gosto próprio. Em Itália e Inglaterra detestam cravos, porque são flores de morte”. Para 2011, “a expectativa continua a ser boa, tenho a sorte de ter eventos de alta qualidade”, sustenta Yves Boschmans. “Há crise, mas o mundo não parou. O que é preciso é ser criativo e razoável em termos de preço”. Conceição Antunes [email protected]