Jewish-Christian Relations Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue Meißner, Stefan | 01.02.2006 Quem era culpado da morte de Jesus? por Stefan Meißner 1. Os judeus como assassinos de Cristo? Na sexta feira, no 14 mês de NIÇaN, qualquer dia ao redor do ano 30 – tão exatamente não mais pode ser determinado isso – morreu em Jerusalém um judeu de nome Yeshua há-Nosri, em português: Jesus de Nazaré. Chegara como peregrino para, cada ano na Festa do Peçah, oferecer no Templo o sacrifício indicado. Mas desta vez se tratava de mais que somente de sacrifício. Tratava-se do Reino de Deus, cujo despontar devia ser imediatamente iminente. Aqui, no centro espiritual e político do Judaísmo devia cair a decisão. Se não agora, quando então? Aqui podia esperar um público grande. Dezenas de milhares se detiveram durante a festa na cidade, mais que a cidade tinha de habitantes. Talvez a sua missão caíra numa crise na Galiléia. Algumas coisas apontam para que, na sua região, encontrou mais e mais recusa. Assim parece como se Jesus viu a sua estada em Jerusalém como encerramento da sua atividade. Quando se pôs a caminho, a possibilidade do seu fim violento talvez lhe estava já diante os olhos. Mesmo se não conscientemente procurava a morte, contar com ela precisava em todo o caso. Porque esse homem precisava morrer? Por que o repreendiam? E quem era culpado da sua morte? Ou melhor: Quem era responsável por ela? Pois já havia na história atribuições de culpa demais – na maioria dos casos com conseqüências sangrentas para os acusados. Durante séculos, expulsou-se os judeus das suas casas como assassinos de Cristo, abatiam-se eles na opinião de vingar neles assim a morte de Jesus. A Bíblia não está totalmente inocente desta história fatal. O Novo Testamento surge numa fase de corte do cordão umbilical da Cristandade da sua religião judaica mãe. E quem já experimentou a corte umbilical das próprias crianças na puberdade sabe algo dos conflitos dolorosos e ofensas recíprocas que possam estar ligadas a isso. Sempre, nos Evangelhos, os judeus estão sendo culpados e os romanos desculpados, quando se tratar da morte de Jesus. O procurador romano Pilatos, outrora conhecido como político de poder sem escrúpulos que costuma dar despacho rápido com os perturbadores da ordem, chega de repente a ter escrúpulos. Pretensamente, não pode encontrar nada agravante contra o homem de Nazaré. Quando finalmente cede à pressão da multidão berrante, lavam-se demonstrativamente as mãos em inocência: “Sou inocente no seu sangue!” (Mt 27,24b). A tendência dos relatos da paixão é estranha. Os romanos não têm nada a ver com a crucificação de Jesus. Os judeus eram aqueles que a exerciam. Mas os fatos históricos falam outra língua. Para lhes dizer isso, voltamos um momento para ali onde tudo começou, a Galiléia. 2. Litígio sobre a lei? Diferentemente de Jerusalém, a Galiléia ainda não estava imediatamente sob administração romana, mas foi governada por Herodes Antipas, um príncipe judaico cliente com competências determinadas, estreitamente delimitadas pelos romanos. Crendo aos Evangelhos, então o conflito, que finalmente custava a vida a Jesus, irrompeu já aqui na região ao redor do Lago de Genesaré. 1/7 Quando Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, curara um homem com uma “mão seca”, assim relata o Evangelho de Marcos, os fariseus saíram “e logo deliberaram sobre ele com os adeptos de Herodes como o matassem” (Mc 3,6). De que se tratava ali? Obviamente, de uma infração contra o mandamento do sábado. É que se podia segundo o costume judaico também curar no sábado, quando havia perigo para corpo e alma. Mas a isso falta nessa história qualquer referência. Mas porque o fez mesmo assim – contra qualquer direito? Obviamente quis esclarecer às pessoas como ele se imaginava o “Reino de Deus”: salvação completamente concreta, até para dentro da dimensão corporal! Que estavam presentes entenderam imediatamente o que achava. O sábado como uma parte antecipada do Reino de Deus antecipada. Assim será logo todos os dias! Certamente uma mensagem alegre para todos os amarrotados, os aleijados e marginalizados, os quais lhe seguiam em massa e cuja esperança representava. Os representantes do estabelecimento religioso e político, ao contrário, tinham pouco entendimento para tais ações. Também eles podiam certamente imaginar algo melhor que o presente muitas vezes triste, mas se houvesse um futuro melhor, este chegaria somente por mais, e não menos, respeito diante da lei. Cenas como essas poderiam dar a impressão como se Jesus tivesse consciente e sistematicamente infringido a lei, atraindo assim a ira dos poderosos a si. De fato, tal coisa tem sido afirmada no passado muitas vezes. Mas de um crime digno de morte se tratava dificilmente numa infração tal. Muito menos se pode disso oferecer uma crítica fundamental da lei. Em muitos lugares nos Evangelhos encontramos Jesus como judeu piedoso que obedece à Toráh, às orientação de Deus do Sinai como naturalmente. Em alguns pontos parece que as ainda agravava. Pensemos somente nos critérios severos que aplica no Sermão da Montanha aos seus discípulos! Com o seu “Eu, porém, vos digo…”, não estabelece uma nova lei, mas, ao contrário, a faz corretamente valer. Assim, não se poderá em resumo asseverar que era a lei, por causa da qual se crucificava Jesus. Pareceres controversos sobre a interpretação reta eram, aliás, em pleno curso. Mas chapéus de herege eram, apesar disso, longe de serem distribuídos. Em geral, precisa-se contar com que uma parte das conversas de litígio nos Evangelhos não foi formada pelas comunidades cristãs senão muito tempo depois da morte de Jesus. Essas projetam os seus próprios conflitos, muitas vezes ainda intrajudaicos, atrás para dentro do tempo de Jesus. E finalmente: Mesmo quando se tomar as conversas de litígio como históricas – com a sua execução os fariseus dificilmente deviam ter algo a ver. São outros agrupamentos, os quais põem os fios na história da paixão. É que então a resposta à nossa pergunta terá de ser procurada em Jerusalém. 3. A reivindicação de Messias Se a entrada de Jesus em Jerusalém se tiver passado realmente assim como Marcos a relata, uma reivindicação massiva de Messias possivelmente se expressa: Jesus entra na cidade montado num burro, completamente assim como o profeta Zacarias o predissera do ungido por vir. Também a recepção pelas pessoas é verdadeiramente régia: “Hosianna! Louvado seja este que vem em nome do Senhor!” é que gritam. “Louvado seja o reino do nosso pai Davi que está vindo. Hosianna nas alturas!” (Mc 11,9). É que Jesus encenou essa entrada de propósito, para deixar claro até também ao último: “Eu sou o Messias”? Também aqui dúvidas são oportunas: Será imaginável que as mesmas pessoas que o levaram à cruz poucos dias depois, arrumaram uma recepção tão triunfal? Será que, na capital, já se tivera alguma notícia desse pregador ambulante, ou não será muito mais provável que aí era ainda uma folha em branco? Em tempos sem mídia de massas, as informações fluíam ainda mais devagar que hoje, quando a cada noite estamos sendo servidos com notícias do mundo inteiro. Mas o que me convence ainda menos é a apresentação teatral dessa entrada. Acho que isso simplesmente não diz bem com esse homem simples do campo, o qual sempre se deixava mais para trás da sua mensagem, a qual dizia: “O Reino de Deus está próximo!” 2/7 Se Jesus mesmo se fazia passar por Messias é questão difícil, controversamente discutida da pesquisa neotestamentária. Os escritos neotestamentários, no entanto, anunciam-no como tal. “Cristo”, a tradução grega para “Messias”, chega logo depois da morte de Jesus a ser o título mais importante da sua alteza. Jesus Cristo – isso soa como prenome e sobrenome, mas é, na realidade, uma fórmula de confissão, a qual diz: Jesus é o Messias. Tanto mais surpreende que, fora de poucas exceções, Jesus mesmo não se designa a si mesmo nenhures como Messias. Ao contrário: Quando Pedro lhe traz o título de Cristo, manda-o que se cale. O que não lhe era próprio nessa designação? Talvez as esperanças demasiadamente mundiais ligados a ele? Para jogar os romanos fora do país e renovar o reino de Davi – para isso não veio. Exatamente isso, porém, ligava-se com a expectativa messiânica judaica: uma reivindicação de domínio massiva. O seu reino, ao contrário, isso repetia sempre, não era deste mundo. A essa reservação de Jesus frente ao título de Messias, é que exatamente não se quer ajustar bem o texto que a nossa comunidade eclesial de Minfeld tem de copiar e comentar para o evangeliário palatino: O interrogatório de Jesus diante o Alto Conselho (Mc 14,53-65). Aí, Jesus está sendo interrogado pelo Sumo Sacerdote, em cujo palácio a cena se realiza: “És tu o Cristo, o Filho do Alto Benedito?” E Jesus responde inequivocidade aparente: “Sou.” Mas ao quê se refere o seu consentimento: ao título de Cristo – ou ao título de filho de Deus? Isso deve se deixado em aberto! Como se Jesus queria completar a confusão, continua introduzindo um título terceiro na discussão: Vireis o filho de pessoa humana sentado à direita da força, vindo com as nuvens do céu” (14,62). Quase mais importante ainda, mais uma pergunta aberta: Porque o Sumo Sacerdote reage agora tão veementemente que rasga o seu vestido, acusando Jesus de blasfêmia? A minha conjetura: Não é nenhum dos três títulos que estão vindo em questão, que o impele à incandescência, mas antes a reivindicação de Jesus de que iria aparecer junto com Deus para o juízo final. É que nenhuma outra coisa Jesus poderia ter entendido com a sua formulação um pouco clausulada. Com isso, Jesus inverte a situação atual de inquérito. Aquele que se precisa justificar perante os retentores de poder judaicos, então julgará sobre eles em juízo. E, igualmente ofensivo para ouvidos judaicos: que um mortal normal afirma de si mesmo ter permissão de estar sentado “à direita de Deus”. Para coisa tal talvez se julgava apto um Abraão, um Moisés ou algum dos patriarcas de Israel, mas coisa tal da boca dum Galileu que veio correndo daí! Vocês vêem: Não se precisa procurar a causa para a condenação à morte do Alto Conselho não incondicionalmente em que Jesus a partir de si mesmo falou como do Messias. Estou, antes, cético se jamais fez isso. Mesmo se o tivesse feito, estaria questionável se só isso cumprisse o fato de blasfêmia. Teria-se considerado Jesus como algum dos muitos sonhadores inócuos que se ofereciam nesses dias ao povo judaico como o esperado rei de salvação. Precisa ter sido, então, algo diferente de uma reivindicação como uma reivindicação possível de Messias, aquilo que levou a crucificação de Jesus. Encontramos uma indicação a isso no exatamente mesmo texto do inquérito perante o alto Conselho: Tratava-se do pôr o Templo em questão. 4. Um templo novo “E alguns se levantaram, dando testemunho falso contra ele dizendo: Ouvimos que disse: Quero demolir este Templo feito à mão e edificar outro em três dias, que não estará feito com mãos” (Mc 14,57+58). O evangelista Marcos, que escreveu essa reportagem, embora falasse de testemunhos falsos que proferiram essa acusação, mas a tradição paralela em João a confirma indiretamente (2,19), e também aquilo que alhures sabemos sobre a atitude de Jesus ao Templo oferece bastante motivo para lhe fazer o processo por essa. Essa atitude referente ao Templo não deve ser simplesmente caracterizada como recusa. Ao contrário. É óbvio que já como moço é que ele vem regularmente ali nas festas da peregrinação, para oferecer os sacrifícios ordenados e discutir com os escribas. Também o Jesus adulto parece 3/7 estar inteiramente positivo, mas fica perturbado, quanto mais tempo tanto mais, que se tem feito dessa casa de oração um covil de ladrões. Cambistas tinham postos aqui os seus estantes, onde os peregrinos podiam trocar as dracmas que trouxeram por shekels de Tiro – a única moeda que era aceita na região do templo, porque não continha representação do imperador. Além disso, havia comerciantes que ofereciam animais para sacrifício. Em si uma organização: Assim, um peregrino da Galiléia, por exemplo, não precisava empurrar diante de si um animal por todo o caminho fatigante à capital, mas o comprava um no lugar mesmo. Esse movimento caótico se pode conferir talvez com o Domo de Florença ou da Catedral de Chartres, onde inúmeros guias de estranhos do mundo todo desagregam ao mesmo tempo as sua sabedorias de arte histórica, onde se oferece de alta vos cartões posteis e diagramas, assim que a igreja quase perde a sua função como espaço sagrado. É a primeira “ação de ofício” em Jerusalém, depois da entrada na cidade, livrar o Templo desses tarecos. Vira as mesas dos cambistas e faz andar embora os comerciantes – não porque detestasse o Templo, mas exatamente porque lhe era importante como lugar de adoração e do sacrifício. Se as acusações das testemunhas perante o Alto Conselho estivessem cartas, então não teria simplesmente pregado a demolição do antigo, mas a edificação dum novo templo, o qual não seria, como o antigo, feito por mão humana, mas sim por Deus. Essa expectativa dum templo novo é, porém, no âmbito da expectativa judaica do fim de tempo, um motivo plenamente familiar. É expressão da sua expectativa intensiva de proximidade. Agora Deus entrará no curso da história, renovando tudo. Aqueles, no entanto, que estavam no sistema antigo bem ganhando, estavam de tudo, menos entusiasmados por alguém que quisesse atrapalhar o negócio. Talvez, Jesus subestimava a importância econômica imensa do Templo. Todos esses hospedes peregrinos vieram somente por motivo deste. Aqui se sentiam tão perto de Deus como em nenhum outro lugar. Não só cambistas e comerciantes de animais, mas também casas de hospedes e tabernas, que hospedavam os peregrinos, viviam dele, viviam dele igualmente os sacerdotes, cantores do Templo e artistas de construção. Havia, então, quase ninguém em Jerusalém que desejasse o fim do templo – mesmo quando se lhes prometesse um novo. Muitos demais lhe deviam o seu sustento. Antes de todos, os Sumos Sacerdotes e escribas temiam pela prebenda deles, “ambicionando como o matassem, pois o temiam, todo o povo admirava a sua doutrina” (Mc 11,18). Está sendo, então, feito uma conexão imediata entre a assim chamada limpeza do Templo e a condenação. Porque não veio a ter um aprisionamento pela polícia sempre presente do Templo, o evangelista segurou exatamente: Os responsáveis temiam revolta entre os milhares de hospedes de festa (Mc 14,2). Esperava-se por um momento favorável para aprisionar Jesus. E esse veio graças ao apoio do discípulo renegado, Judas Iscariot. Talvez um que, por esperança decepcionada, mudou de lado, desertando ao adversário. 5. Revolta política? Até agora consideramos somente motivos religiosos como motivos possíveis para a execução de Jesus na contenda pela lei e questão de Messias. Ambas as coisas – assim o expliquei – dificilmente jogavam um papel. Já mais importante era a acusação de ter posto em questão o Templo. Isso precisava ter irritado judeus – antes de todos aqueles que dele viviam. Mas o que havia com os romanos? Estes se comportavam realmente tão cobertos como os Evangelhos querem fazer que se creia? Dificilmente! A responsabilidade última pela morte de Jesus – assim se precisa julgar hoje – jazia nos romanos. O modo de execução denota isso primeiro: a crucificação era pena tipicamente romana; nos judeus, apedrejamento ou decapitação eram “mais populares”. Além disso, a Judéia estava desde o ano 6 DC imediatamente sob administração romana. Os judeus não tinham aqui provavelmente competência de execução (Jo 18,31; Talmude), com exceção talvez da área do Templo (mas isso é incerto). 4/7 Mas o que os romanos tinham a repreender Jesus? Porque cederam à instância da aristocracia do Templo? Sabemos de outras execuções, que se perseverava o motivo da condenação numa tábua, a qual se pendurava sobre a cruz. De fato, os Evangelhos relatam de uma tal. O texto latino (!) que continha disse: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus”. Isso aponta univocamente a um motivo político. A isso condiz a pergunta que foi posta a Jesus por Pilatos: “És tu o rei dos judeus?” Esse era o interesse único que os romanos tinham nesse assunto: que ficasse calmo no povo, que não chegasse a ter desordens como já muitas vezes nessa parte renitente do império. Não foi que fazia muito tempo que um certo Judas introduzira os judeus contra o levantamento de impostos realizado pelos romanos. Nisso, ao lado de motivos sociais, certamente uma expectativa de Reino de Deus completamente cunhada jogava um papel. A dominação alheia de pagãos na Terra Santa contradizia, nos olhos dos rebeldes, ao Reinado de Deus, à qual quiseram proporcionar brecha (com violência, caso necessário). Como Jesus, esse rebelde veio da Galiléia, como aquele marchava pregando pelo país, seguido por uma aderência notável. Se esse Judas foi eliminado, não era também natural dar despacho rápido com Jesus? “Como agora”, vocês se vão perguntar, “combina isso com a informação de que Jesus não teria tido ambições políticas”? Plenamente certo! Pode ser que Jesus mesmo, não era rebelde, entendeu o Reinado de Deus antes num sentido sobre-mundial. Que exortou à insurreição armada, penso, é impensável, já que, noutro lugar, pregava amor ao inimigo e renúncia à violência. Mas isso está longe de excluir que outros, entre estes também alguns dos seus discípulos, levavam a ele expectativas políticas. Há indícios que, entre os seus adeptos, encontravam-se também alguns combatentes de resistência. Assim, possivelmente, o nome Judas Iscariot lembra a palavra latina sicarii, a que se pode traduzir por “portadores de punhal”. Esses portadores de punhal formavam o escol dos rebeldes de Massada na guerra judaica-romana. Judas pertencia também a essa gente? Traiu o seu senhor porque este se subtraiu da sua aspiração revolucionária? Outro discípulo de Jesus se chama de Simão Zelotes. Também os zelotes, verbalmente “fanáticos”, pertencem à resistência armada anti-romana no primeiro século. Esse Simão era um deles? Se essas suposições tiverem alguma correspondência, chega a ser plausível por um trecho porque se condenou esse Jesus de Nazaré à morte na cruz, sem que este mesmo jamais levantara uma reivindicação política. 6. Tudo minha culpa O restante dá para contar rapidamente. Depois da sua condenação por Pilatos, Jesus foi levado, por soldados romanos a uma pedreira paralisada, a qual a Bíblia chama de “Gólgota”, em português: “Caveira”. Carregava no caminho provavelmente, não a cruz inteira, mas só o travessão, o qual, no fim do caminho da cruz, só se precisava içar no poste preparado. Para que os pregos, que se pregou pelos antebraços e tornozelos, não arrancassem, pôs-se ainda uma cavilha de apoio, e dificilmente uma tábua de pé, como isso se vê muitas vezes na arte cristã. Conforme o costume antigo, os carrascos podiam repartir entre si o que o condenado carregava no corpo – no caso de Jesus jogavam a sorte sobre o seu vestido. A causa da morte podia ter sido falhar de circulação ou asfixia. É que, com o esgotamento aumentando, o delinqüente sucumbia assim em si mesmo que o respirar chegou a ser cada vez mais pesada. Muitas vezes quebravam-se as pernas do candidato à morte, para abreviar as suas dores. Em Jesus, isso possivelmente tem sido omitido (cf. Jo 19,33). Ainda assim, lhe deram uma esponja embutida com vinagre, o qual continha um entorpecente leve. De outras vítimas se sabe que, por vezes, ainda languesciam, atormentadas por fome, sede e animais selvagens. Pelo menos disso, Jesus foi poupado. Quem era culpado da morte de Jesus, perguntamos. Encontramos resposta? Nenhuma unívoca, 5/7 temo. Quando se procurar um responsável determinado, era o Pilatos. Este preferiu deixar Jesus morrer para ele mesmo sobreviver politicamente. Coisa semelhante se poderia dizer da aristocracia do Templo de Jerusalém, a qual colaborava com os romanos e tinha interesses na manutenção do status quo [que como estava]. Um processo por parte judaica não houve, mesmo se os Evangelhos (Mt e Mc) o assim apresentam em parte (mais diferenciadamente Lc e Jo). É que um processo tal teria, em pontos essenciais, contrariado o direito judaico de processo (Mishnáh): (interrogatório noturno, sentença no dia seguinte, processo em dias de festa, lugar de processo normalmente no templo, dois depoimentos de testemunhas concordantes). Assim se pode hoje dificilmente falar de uma culpa dos judeus. O povo simples mal teria algo a ver com a execução dele. A morte de Jesus tinha muitas causas. Talvez está errado procurar mesmo um culpado. Eram, em última análise tensões e conflitos que levaram Jesus à cruz, sob as quais todo o povo judaico se ressentia então do anti-semitismo das tropas romanas, o qual se estendeu do soldado raso até ao governador, tensões também entre o centro e a periferia, entre a Galiléia rural e a metrópole orgulhosa de Jerusalém e tensões, a final, entre pobre e rico, os pescadores, artífices e jornaleiros simples, os quais punham as suas esperanças em Jesus, e aqueles que quiseram manter o seu status de posse. Não é que haja conflitos semelhantes também hoje? E como lidamos com eles? Somos melhores que aqueles judeus e romanos que imediatamente participavam da execução? Dificilmente! Também nós somos sempre outra vez prontos a sacrificar um bode de expiação, para despistar das nossas insuficiências próprias. Com isso, porém, participamos da crucificação de Jesus, a qual acontece diariamente – em todas as partes do mundo. Assim, também a formulação no presente faz um bom sentido: “Quem é culpado na morte de Jesus?” A resposta queria dar com as palavras de Paul Gerhard: “Agora, o que tu, Senhor, sofreste, é tudo o meu cargo. Eu mesmo estou culpado daquilo que carregaste.” Texto alemão Tradução: Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT – BRASIL – [email protected] 6/7 7/7 Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)