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FISIOTERAPIA
Análise comparativa de exercícios em cadeia
cinética aberta e fechada no tratamento de
pacientes com disfunção fêmoro-patelar
Angela Maria Oliveira Melim
Pesquisadora
Cristina Maria N. Cabral
Orientadora
Resumo
A disfunção fêmoro-patelar (DFP) é definida como dor anterior no joelho de início insidioso e desencadeada durante
atividades funcionais. É mais comum em mulheres, sua etiologia é multifatorial, de difícil diagnóstico e tratamento. O
objetivo deste trabalho foi analisar os efeitos dos exercícios em cadeia cinética aberta (CCA) e fechada (CCF) no tratamento
de pacientes com DFP. Foram avaliadas 20 mulheres sedentárias (de 18 a 30 anos) de um Centro Universitário da cidade
de Osasco, as quais foram divididas em dois grupos de 10 pessoas, grupo 1 (G1) e grupo 2 (G2), que executaram exercícios
em CCA e CCF, respectivamente. Foram realizadas avaliações física e funcional antes e após o tratamento em CCA e CCF.
Os resultados indicaram diminuição da dor e do ângulo Q, e melhora da capacidade funcional após tratamento em CCA e
CCF. Além disso, os valores EMG demonstraram que os exercícios em CCF podem ser utilizados para fortalecer o músculo
VM de forma isolada, sendo uma boa alternativa de tratamento para DFP.
Palavras-chave: Joelho. Dor. Cadeia Cinética Aberta. Cadeia Cinética Fechada.
Abstract
The patellofemoral dysfunction (PFD) is defined as pain in the knee. It is an insidious pain, at the beginning during
functional activities. It is more common in women; the etiology is multifactorial, of difficult diagnosis and treatment.
The objective of this work was to analyze the effects of the exercises in opened kinetic chain (OKC) and closed kinetic
chain (CKC) in the treatment of patients with PFD. One evaluated 20 sedentary women (from 18 to 30 years old) of an
Academical Center of the city of Osasco. They were divided into2 groups of 10 people, group 1(G1) and group 2 (G2). They
executed. Exercises in OKC and CKC respectively. Physical and functional evaluations were accomplished before and
after the treatment in OKC and CKC. The results indicated decrease of the pain and of the angle Q, and that makes the
functional capacity better after treatment in OKC and CKC. Besides, the EMG values demonstrated that the exercises in
CKC can be used to strengthen the VM muscle in an isolated way, being a good treatment alternative for PFD.
Key words: Knee. Pain. Opened Kinetic Chain. Close Kinetic Chain.
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Angela Maria Oliveira Melim
1 Introdução
21 indivíduos saudáveis de ambos os sexos. A EMG foi
obtida durante a execução de exercícios de extensão da
A disfunção fêmoro-patelar (DFP) é definida como
dor anterior no joelho, e acomete principalmente
mulheres jovens. Sua etiologia é multifatorial, de difícil
diagnóstico e tratamento, com sinais e sintomas de início
insidioso (CABRAL; MONTEIRO-PEDRO, 2003), durante
atividades funcionais (LOUDON, 2001). Os protocolos
de exercícios que visam o tratamento da DFP dividemse em cadeia cinética aberta (CCA) e cadeia cinética
fechada (CCF). Embora exista uma preferência por
exercícios em CCF, o estresse excessivo sobre a
articulação fêmoro-patelar pode ser evitado nos dois
tipos, desde que os exercícios em CCA sejam executados
em posições mais fletidas de flexão da perna, e os em
CCF em posições mais estendidas (CABRAL; MONTEIROPEDRO, 2003). Portanto, o objetivo deste trabalho é
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comparar os efeitos dos exercícios em CCA e CCF sobre
perna em CCA nos ângulos de 15º, 50º e 90º de flexão.
Os exercícios foram realizados na cadeira extensora, de
forma que foi possível solicitar CIVM em cada ângulo.
Verificou-se que os músculos VLO e VMO são ativados
de forma recíproca e sincrônica na estabilização da patela
durante os exercícios, independente do ângulo de flexão
da perna. Além disso, o músculo VMO foi mais ativado
que o músculo VLL de forma significativa no exercício
de CIVM a 90º de flexão da perna. Mirzabeigi et al.
(1999) realizaram um estudo EMG com 8 sujeitos
sedentários e sem lesão, com o propósito de verificar se
o músculo VMO pode ser seletivamente ativado após
treinamento com exercícios isométricos e anisométricos
com auxílio de dinamômetro. Os autores concluíram
que em nenhum deles houve maior atividade elétrica
do músculo VMO em relação ao músculo VL.
parâmetros funcionais em pacientes com disfunção
fêmoro-patelar.
A perda de força do músculo quadríceps femoral pode
gerar instabilidade e déficit funcional no joelho. Para
Uma forma de avaliar a presença dos sintomas
característicos da DFP é por meio de escalas (Escala de
Contagem de Lysholm (NATRI, 1998) e Escala para
determinar a perda ou ganho de trofismo, pode ser utilizada
a perimetria da coxa que consiste na medida de sua
circunferência com fita métrica (REYNOLDS et al., 1992).
avaliação da articulação fêmoro-patelar (AFP)-(MAGEE,
2002)), perimetria bilateral da coxa para evidenciar
Reynolds et al. (1992) realizaram uma pesquisa
possível hipotrofia do músculo quadríceps femoral e
selecionando 20 indivíduos do sexo feminino, saudáveis
medida do ângulo Q, pois é suposto que, quanto maior
e sedentários. Os mesmos foram divididos em dois
esta medida, maior a lateralização da patela e este é um
grupos, sendo um experimental e outro controle. No
fator intimamente associado à DFP.
grupo experimental foi realizada a perimetria antes e
após a realização de exercícios de fortalecimento (subida
Muitos estudos apontam a EMG de superfície como
forma de pesquisa para melhor compreensão da DFP
(SOUZA et al., 2003). Para comparar a atividade elétrica
dos músculos VMO e VLL e VLO, Bevilaqua-Grossi et
al. (2004) analisaram a atividade desses músculos em
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e descida de degrau de lado por seis semanas) e também
foi utilizado um dinamômetro para avaliar a força
muscular dos indivíduos. Não houve diferença
significativa quanto ao fortalecimento do músculo
quadríceps femoral e quanto à perimetria da coxa.
Análise comparativa de exercícios em cadeia
cinética aberta e fechada no tratamento de
pacientes com disfunção fêmoro-patelar
É recomendável utilizar um instrumento de avaliação
de intensidade de dor para determinar a efetividade das
intervenções clínicas aplicadas. A escala visual analógica
(EVA) é considerada um método apropriado e confiável
para quantificar este parâmetro e consiste em uma linha
horizontal de 10 cm, cuja extremidade esquerda (0)
indica “nenhuma dor”, e sua extremidade direita (10)
indica “maior dor possível”. (THOMEÉ et al., 1997).
Mattacola (1997) comparou a EVA com outra escala
que avalia a intensidade da dor de forma semelhante –
Graphic Rating Scale (GRS) antes e após indução de
dor e antes e após tratamento. Os resultados indicaram
que ambas são confiáveis para tal finalidade. Thomeé
(1997) realizou um estudo em 40 mulheres jovens
sintomáticas, no qual comparou um programa de
treinamento com contrações isométricas e excêntricas
(em CCA e CCF). Nenhuma diferença foi encontrada entre
os dois grupos e ambos apresentaram diminuição da
dor, e melhora do torque. Segundo o autor, os resultados
estatisticamente significante da dor e um aumento do
desempenho funcional.
Ao estudar a DFP, faz-se necessário avaliar a medida do
ângulo do quadríceps (ângulo Q), pois quanto maior este
ângulo, maior a tensão lateral na patela, e um fator que
pode levar ao aumento deste é a fraqueza do músculo VM
(LATHINGHOUSE; TRIMBLE, 2000). São considerados
ângulos Q normais de 8º a 12º em homens e de 15º a 18º em
mulheres (LA BELLA, 2004). Lathinghouse e Trimble (2000)
realizaram um estudo com a finalidade de verificar se a
realização de exercícios vigorosos de fortalecimento do
músculo quadríceps femoral interfere na medida do ângulo
Q durante ativação isométrica do mesmo. Para isso, foram
selecionadas 22 mulheres sem história de dor no joelho e
foram obtidas as medidas de ângulo Q, em posição ortostática
e extensão completa de perna, com quadríceps relaxado e
também em contração. Após a realização dos exercícios, as
medidas foram retomadas e conclui-se que o ângulo Q
diminuiu com a realização dos mesmos.
positivos se devem à monitorização da dor através da
aplicação da EVA em todas as sessões de tratamento, e
2 Método
afirma que uma forma otimizada de tratar pacientes com
DFP é monitorando a dor (uma zona “segura” de
Foram avaliadas 20 alunas de um Centro
monitorar a dor é a marca de 2 cm na EVA), carga e
Universitário da cidade de Osasco, sedentárias, na faixa
repetições dos exercícios.
etária de 18 a 30 anos. Foram distribuídas de forma
aleatória em 2 grupos de 10 pessoas, grupo 1 (G1) e
Witvrow et al. (2000) realizaram um estudo para
grupo 2 (G2), ambos realizaram exercícios em CCA e
avaliar a eficácia de exercícios em CCA e CCF no
CCF, respectivamente. Todas assinaram um termo de
tratamento de 60 pacientes com DFP. O tratamento teve
consentimento formal pós-esclarecido para
duração de 5 semanas, e os indivíduos foram avaliados
participação na pesquisa de acordo com a resolução
antes do início do tratamento, após 5 semanas e após 3
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
meses em relação a intensidade da dor (por meio da
EVA), desempenho funcional, fortalecimento muscular
Os critérios de inclusão basearam-se em estudos
e amplitude de movimento (ADM)-(por goniometria).
anteriores que apontam alguns sinais e sintomas
Ambos os grupos apresentaram diminuição
característicos da DFP, tais como: mau alinhamento do
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Angela Maria Oliveira Melim
membro inferior observado na avaliação postural, dor
tuberosidade da tíbia (MARQUES, 2003). Também foram
à palpação da patela e também ao realizar atividades
realizados testes específicos para joelho e patela contidos
funcionais como correr, subir e descer escadas, agachar
na ficha de avaliação (CIPRIANO, 2005).
ou ajoelhar e levantar após um longo período sentado.
Também foram incluídas aquelas que não apresentaram
dor no momento da avaliação, embora o teste de
compressão patelar tenha sido positivo, pois os sintomas
da DFP têm característica intermitente e são relacionados
a atividades funcionais (COHEN; ABDALLA, 2003). Da
mesma forma, foram excluídas as pacientes que
apresentaram anomalias congênitas da patela ou
qualquer patologia musculoesquelética relacionada ao
membro inferior que não fosse a DFP, com ocorrência
inferior há 2 anos (KARST; WILLET, 1995). Também foi
critério de exclusão a ausência de dor em atividades
funcionais, mesmo estando presentes outros sinais de
DFP. As pacientes foram submetidas à avaliação física e
48
funcional antes e após a realização do tratamento
conforme descritos abaixo:
- EMG: Antes da obtenção da EMG, foi necessário
identificar o ponto motor dos músculos VM e VL.
Então, as pacientes foram posicionadas em decúbito
dorsal em uma maca e os pontos foram localizados
por meio da da estimulação elétrica destes músculos
com o aparelho Nemesys ® da marca Quark ®. A
intensidade
dos
impulsos
foi
aumentada
progressivamente até atingir o limiar motor do
músculo, evidenciado pelo maior sinal de contração
na região do ventre muscular, onde posteriormente
foram posicionados os eletrodos adesivos de superfície
(com distância intereletrodo de 1 cm), utilizados para
captar os sinais EMG. Para melhor fixação dos mesmos,
utilizou-se fita adesiva Transpore-3M®. Antes da
colocação dos eletrodos, a pele do indivíduo foi limpa
com álcool para diminuir sua impedância, além de
- Aplicação de questionário mediante explicação
realizada a tricotomia dos pêlos para diminuir ruídos
prévia, para avaliação da capacidade funcional (Escala
externos. Também foi colocado um eletrodo de
de Contagem de Lysholm e AFP);
referência com gel no punho homolateral ao membro
- Avaliação Postural de acordo com o padrão
proposto por Kendall et al. (1995);
inferior analisado para eliminar possíveis
interferências. Quando a paciente apresentava DFP nos
dois joelhos, a EMG era obtida apenas do membro
- Perimetria da Coxa: Com a paciente em decúbito
que apresentava mais sinais característicos da
dorsal, o ponto de referência para iniciar as medidas
patologia. Para realização da EMG, as pacientes
com a fita métrica foi a linha suprapatelar, e os próximos
permaneceram sentadas em uma maca, com os MMII
pontos foram marcados a partir desta linha contando 4,
pendentes, membros superiores em extensão e mãos
10 e 15 cm em sentido proximal;
apoiadas nas coxas. Então, foram orientadas a
- Medida do ângulo Q: Com a paciente em decúbito
dorsal, o eixo do goniômetro foi posicionado no centro
da patela, o braço fixo em direção às espinhas ilíacas
ântero-superiores e o braço móvel em direção à
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realizarem contração isométrica do músculo
quadríceps femoral por três vezes, com duração de
quatro segundos cada e intervalo de um minuto entre
uma e outra. Para EMG utilizou-se um eletromiógrafo
Análise comparativa de exercícios em cadeia
cinética aberta e fechada no tratamento de
pacientes com disfunção fêmoro-patelar
com um amplificador de 8 canais e Conversor
posição, realizaram extensão de perna até 0º
Analógico-Digital-CAD 12/32 ® (EMG System do
retornando para 45º de flexão, e assim,
Brasil®).
sucessivamente.
2.1 Tratamento
2.2 Análise dos dados
Todos os exercícios consistiram em 5 séries de 10
A análise dos dados foi realizada calculando o
repetições com intervalo de 1 minuto entre as séries
valor Médio e o Desvio Padrão dos resultados obtidos.
e foram realizados duas vezes por semana, durante 2
Para isso, foram utilizadas planilhas do programa
meses com intervalo mínimo de 48 horas entre as
Microsoft Office Excel® com funções correspondentes.
sessões. Antes e depois da realização dos mesmos, as
pacientes preencheram a EVA. Na primeira sessão
3 Resultados
foram utilizados 5 kg de carga independente da
Em relação à perimetria da coxa, os valores obtidos
intensidade da dor. A partir da segunda sessão de
antes e após a realização do programa de tratamento
fortalecimento, a carga era aumentada de 5 em 5 kg
estão expressos na tabela 1.
caso a paciente apresentasse um nível de dor igual
ou inferior a 2 cm na EVA. Quando o nível de dor era
maior que 2 cm, era utilizada a mesma carga da sessão
49
anterior. Outro motivo que levou à manutenção da
carga foi a presença de dor no membro contra-lateral
ao avaliado, ou ainda, quando mesmo sem dor a
paciente apresentava-se incapaz de realizar o exercício
por conta de fraqueza muscular. Nos em CCA os
Tabela 1 - Valores Médios e Desvio Padrão da perimetria da
coxa obtidos antes e após o fortalecimento do músculo
quadríceps femoral no G1 e G2, Osasco maio/dez 2005.
indivíduos foram posicionados na cadeira extensora
da marca Righetto Fitness Equipment®, sentados com
Quanto a EMG, escala Lysholm, escala AFP, medida
o tronco fletido a 45º e perna fletida a 90º. A amplitude
do ângulo Q (em graus), EMG (dos músculos VM e
do movimento de extensão de perna foi de 90º a 45º
VL) e carga utilizada (kg), os resultados obtidos antes
determinados previamente por meio de um
e após a realização do programa de tratamento estão
goniômetro Em cada repetição, foi colocada barreira
indicados na tabela 2.
à frente da perna impedindo que a extensão
ultrapassasse 45º de ADM. Quanto aos exercícios em
CCF, os indivíduos foram posicionados no Leg-Press
da marca Righetto Fitness Equipment®, sentados com
o tronco fletido à 45º e 45º de flexão de perna com
os pés apoiados em posição neutra. A partir desta
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Tabela 2 - Valor Médio e Desvio Padrão de parâmetros avaliados antes e após a realização de exercícios de fortalecimento,
Osasco, maio/dez. 2005.
4 Discussão
Bevilaqua-Grossi et al. (2004) realizaram uma
pesquisa EMG dos músculos VLL, VLO, e VMO durante
Os resultados obtidos em nosso estudo sugerem que
os exercícios em CCA e CCF, quando realizados com
controle da ADM e com monitorização da intensidade
da dor, podem ser eficientes no tratamento de pacientes
com DFP, uma vez que obtivemos diminuição do ângulo
50
Q, aumento da atividade elétrica do músculo VM,
diminuição da dor e melhora da capacidade funcional
em ambos. Contudo, devemos citar que, embora
tenhamos obtido aumento da atividade do músculo VM
em ambos os grupos, este foi mais notável no G1 do
que no G2, porém, no G1 houve também um aumento
de maior proporção na atividade do músculo VL quando
em comparação com o músculo VM, enquanto que no
G2, houve aumento na atividade do músculo VM e
diminuição na atividade do músculo VL, o que pode
exercícios isométricos de extensão de perna em CCA na
cadeira extensora, e concluíram que os músculos VLO e
VMO são ativados de forma recíproca e sincrônica na
estabilização da patela durante os exercícios, o que não
ocorreu em nosso estudo ao analisar-se a atividade dos
músculos VM e VL. Também observaram que o músculo
VMO foi significativamente mais ativado que o VL no
exercício à 90º de flexão de perna, enquanto que, em
nosso estudo, o músculo VM não foi mais ativado em
relação ao músculo VL nos exercícios em CCA e CCF.
Neste último houve diminuição da atividade do músculo
VL quando analisada sua atividade antes e depois do
tratamento, e, por isso, houve prevalência do VM neste
grupo (CCF).
ser mais almejado para o tratamento da DFP (CABRAL;
Reynolds et al. (1992) realizaram um estudo
MONTEIRO-PEDRO, 2003; LA BELLA, 2004). Tang et
utilizando a perimetria para quantificar o
al. (2001) também obtiveram resultados semelhantes ao
fortalecimento do músculo quadríceps femoral. Nossos
comparar o efeito dos exercícios em CCF e CCA em
resultados não demonstraram diferença notável na
pacientes com e sem DFP, ou seja, observaram que os
comparação da perimetria da coxa antes e após a
exercícios em CCF apresentaram maior atividade do
realização dos exercícios em CCA e CCF. Entretanto,
músculo VM em relação ao VL, embora tenham sido
não podemos dizer que este fator é um indicativo de
realizados de forma isométrica.
que não houve aumento da força muscular, pois todas
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cinética aberta e fechada no tratamento de
pacientes com disfunção fêmoro-patelar
as pacientes progrediram com o nível de carga ao
em indivíduos com DFP. Após seis semanas de
longo do tratamento.
tratamento, os resultados indicaram que houve uma
Em relação à intensidade da dor, nossos resultados
mostraram que houve uma diminuição considerável em
ambos os grupos, sendo mais evidente no G1 em relação
ao G2, indicando que os exercícios em CCA favorecem
a diminuição da dor imediatamente após sua realização.
melhora significativa quanto à capacidade funcional e
diminuição da dor. Porém, relatam que a melhora da
capacidade funcional não foi correlacionada com o
ganho de força, e sim com a EVA. Este estudo se
assemelha ao nosso, pois os exercícios isocinéticos
também são realizados em CCA, e obtivemos resultados
Witvrow et al. (2000) realizaram um estudo para
similares em relação à avaliação da capacidade funcional
avaliar a eficácia de exercícios em CCA e CCF. Um dos
e intensidade da dor já que, para isso, foram utilizadas
parâmetros avaliados foi a intensidade da dor (com a
a escala de Lysholm e a EVA em ambos os estudos.
EVA), e concluíram que não houve diferença
estatisticamente significante entre os 2 grupos, e ambos
apresentaram diminuição significante da dor e aumento
da capacidade funcional. Em nosso estudo, foram
realizados exercícios na cadeira extensora (CCA),
enquanto que Witvrow et al. (2000) realizaram um
programa de 5 exercícios distintos em CCA. Observamos
Lathinghouse e Trimble (2000) avaliaram a medida do
ângulo Q em 22 mulheres sem história de dor no joelho,
antes e após fortalecimento isométrico do músculo
quadríceps femoral e exercícios na bicicleta ergométrica.
Concluíram que exercícios isométricos podem ser
empregados para diminuir o ângulo Q. Apesar de este estudo
diminuição da intensidade da dor em ambos os grupos,
ter utilizado exercícios isométricos, podemos sugerir que
porém é mais notável no grupo que realizou exercícios
exercícios concêntricos e excêntricos em CCA e CCF também
em CCA do que no grupo que realizou exercícios em
contribuem para diminuição do ângulo Q, já que obtivemos
CCF. Quanto à avaliação da capacidade funcional, nossos
resultados positivos com esses exercícios em nosso estudo,
estudos estão de acordo com os de Witvrow et al. (2000),
principalmente no grupo que realizou exercícios em CCA.
pois verificamos que todas as pacientes apresentaram
5 Conclusão
melhora considerável deste parâmetro. Loudon et al.
(2002) também utilizaram a EVA para avaliar a
De acordo com os resultados obtidos verificamos
intensidade da dor em indivíduos com DFP e indivíduos
que os exercícios em CCA e CCF podem ser indicados
saudáveis, durante a realização de cinco testes funcionais
para o tratamento da DFP, já que ambos apresentaram
e verificaram que, quanto menor a intensidade da dor,
diminuição da dor e do ângulo Q e aumento dos valores
melhor é o desempenho funcional. Isso também foi
das escalas Lysholm e AFP, o que sugere melhora da
demonstrado em nosso estudo conforme observado em
capacidade funcional após a realização destes exercícios.
ambos os grupos de tratamento.
Também verificamos que os exercícios em CCF favorecem
Alaca et al. (2002) realizaram um estudo com 22
pacientes para verificar a eficácia de um programa de
exercícios isocinéticos sobre a dor e capacidade funcional
a ativação seletiva do músculo VM em relação ao
músculo VL, podendo ser preferencialmente realizado
na reabilitação de pacientes com DFP.
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Angela Maria Oliveira Melim
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