UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA DEPARTAMENTO DE FÍSICA CURSO DE FARMÁCIA Ressonância Paramagnética Eletrônica FILLIPE BRISOLLA LAÍS SCHEEREN LUMA ELSENBACH ROSANGELA MULLER THIAGO DOMINGUES SANTA MARIA, 18 DE JUNHO, 2009. RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA A espectroscopia de ressonância paramagnética electrónica ou de ressonância de spin eletrônico (RPE, ou EPR, do inglês electron paramagnetic resonance ou ainda ESR, do inglês electron spin resonance) foi descoberta por Zavoisky, 1945 e é uma técnica espectroscópica que detecta espécies contendo elétrons desemparelhados, ou seja, espécies paramagnéticas. Em geral, esta condição verifica-se quando a espécie é um radical livre, se é uma molécula orgânica, ou quando possui metais de transição (, em complexos inorgânicos ou metaloproteínas. Esta técnica é menos usada que a espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) porque a maioria das moléculas possui uma configuração eletrônica de valência completa, sem elétrons desemparelhados. A teoria subjacente à técnica é análoga à de RMN, havendo lugar à excitação dos spins dos elétrons, ao invés dos spins dos núcleos atômicos. Campos magnéticos menos intensos e freqüências mais elevadas são usadas em RPE que em RMN devido à diferença de massa entre núcleos e elétrons. Para elétrons num campo magnético de 0,3 tesla, a ressonância de spin ocorre cerca de 10 GHz. A espectroscopia de RPE é usada na Física do estado sólido, em Química na identificação e quantificação de radicais e na identificação de vias de reação química, em Biologia e Medicina na marcação de moléculas com sondas de spin e em Bioquímica na identificação e caracterização estrutural de centros metálicos em metaloproteínas. Para detectar alguns detalhes mais subtis em alguns sistemas, é necessário utilizar espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica em campo alto e usando freqüências elevadas. Enquanto o espectrômetro de RPE é relativamente fácil de adquirir por um grupo de investigação acadêmico, apenas alguns centros científicos no mundo inteiro podem oferecer este tipo especial de espectroscopia. A RPE têm-se desenvolvido rapidamente e vem sendo aplicada em um grande número de áreas de pesquisa. Essencialmente ela forma um ramo da espectroscopia de alta resolução usando frequências na região de microondas para analisar a estrutura químicas destes. Ela é também considerada uma ferramenta extremamente valiosa em pesquisas fósseis, sistemas complexos e esclarecer os mecanismos de ligações envolvidos. A absorção de microondas é medida em função do campo magnético pelo aparelho espectroscópio de RPE. As informações que obtém-se experimentalmente por RPE de análises das amostras incluem: -comportamento de saturação; -concentração de spin eletrônico; -Identificação de radicais livres orgânicos. RPE é um sensível e específico método para o estudo de radicais formados em reações químicas e das próprias reações químicas. Por exemplo, quando H2O sólido é decomposto pela explosição a uma alta energia de radiação, radicais como H, OH e HO2 são produzidos. Estes radicais podem ser identificados e estudados por RPE. Radicais orgânicos e inorgânicos podem ser detectados em sistemas eletroquímicos e em materiais expostos a luz UV. Em muitos casos o RPE é usado para prover informações sobre a geometria e o orbital do elétron desemparelhado do radical. O destaque de RPE é pelo fato de que suas medidas são várias ordens de intensidade mais sensíveis do que muitas outras técnicas espectroscópicas e requer relativamente pouca quantidade de amostra. PARAMAGNETISMO O paramagnetismo consiste na tendência que os dipolos magnéticos atômicos têm de se alinharem paralelamente com um campo magnético externo. Este efeito ocorre devido ao spin mecânico-quântico, assim como o momento angular orbital dos elétrons. Caso estes dipolos magnéticos estejam fortemente unidos então o fenômeno poderá ser o ferromagnetismo ou o ferrimagnetismo. Este alinhamento dos dipolos magnéticos atômicos tende a se fortalecer e é descrito por uma permeabilidade magnética relativa maior do que a sua unidade (ou, equivalentemente, uma susceptibilidade magnética positiva e pequena). O paramagnetismo requer que os átomos possuam, individualmente, dipolos magnéticos permanentes, mesmo sem um campo aplicado, o que geralmente implica um átomo desemparelhado com os orbitais atômicos ou moleculares. No paramagnetismo puro, estes dipolos atômicos não interagem uns com os outros e são orientados aleatoriamente na ausência de um campo externo, tendo como resultado um momento líquido zero. No caso de existir uma interação, então podem espontaneamente se alinhar ou antialinhar-se, tendo como resultado o ferromagnetismo ou o antiferromagnetismo, respectivamente. O comportamento paramagnético pode também ser observado nos materiais ferromagnéticos que estão acima da temperatura de Curie, e nos antiferromagnéticos acima da temperatura de Néel. Em átomos sem dipolo magnético, um momento magnético pode ser induzido em uma direção antipararela a um campo aplicado, este efeito é chamado de diamagnetismo. Os materiais paramagnéticos podem também exibir o diamagnetismo, mas tipicamente com valores fracos. Os materiais paramagnéticos em campos magnéticos sofrem o mesmo tipo de atração e repulsão que os ímãs normais, mas quando o campo é removido o movimento Browniano rompe o alinhamento magnético. No geral os efeitos paramagnéticos são pequenos (susceptibilidade magnética na ordem entre 10-3 e 10-5). METAIS DE TRANSIÇÃO A ocupação sistemática dos orbitais d por elétrons em metais de transição leva, na maioria das vezes, a compostos paramagnéticos, isto é, àqueles que são atraídos por campos magnéticos devido à presença, nos compostos, de um ou mais elétrons desemparelhados. Portanto, o estudo das propriedades magnéticas dos compostos de metais de transição sempre foi muito importante para o desenvolvimento da nossa compreensão da química desses materiais. Os elementos de transição apresentam uma grande tendência em formar compostos de coordenação com bases de Lewis, isto é, com grupos capazes de doar um par eletrônico. Esses grupos, que chamaremos de ligantes, podem ser moléculas ou íons. Essa capacidade excepcional dos elementos do bloco para formarem complexos está relacionada com o fato de formarem íons pequenos com carga elevada, contendo orbitais vazios de baixa energia, capazes de receber pares de elétrons dos grupos ligantes. Muitos dos compostos dos elementos de transição são paramagnéticos, isto é, podem ser atraídos por um campo magnético, pois contêm níveis eletrônicos semipreenchidos. Em particular, Fe, Co e Ni são ferromagnéticos, isto é, são magnetizados por um ímã - os átomos se alinham e apontam todos para uma mesma direção. METALOPROTEINAS Uma metaloproteína é uma proteína que contém um ou mais íons metálicos na sua estrutura, seja diretamente ligado à cadeia polipeptídica, seja inseridos numa molécula não protéica covalentemente ligada à cadeia polipeptídica. Muitas metaloproteínas são enzimas (metaloenzimas), em particular oxidorredutases. Uma grande parte são proteínas de transferência electrônica, servindo como meio de transpote de elétrons para outras metaloenzimas. O metal de transição mais encontrado em metaloproteínas é o ferro. Outros metais de transição de relevo incluem o zinco, o cobre e o molibdênio. Também se consideram metaloproteínas aquelas contendo os metais alcalino-terrosos magnésio e cálcio. RADICAIS LIVRES São espécies químicas que apresentam um elétron desemparelhado, portanto são detectáveis pela técnica de Ressonância Paramagnética Eletrônica (RPE). Em muitos destes radicais livres, os elétrons estão livres para moverem-se por toda a molécula e com isso interagir com muitos momentos nucleares, apresentando interação superhiperfina. Denomina-se radical livre toda molécula que possui um elétron ímpar em sua órbita externa, fora de seu nível orbital, gravitando em sentido oposto aos outros elétrons. Este elétron livre favorece a recepção de outras moléculas, o que torna os radicais livres extremamente reativos, inclusive com moléculas orgânicas. MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS Sódio Na [11] (metal alcalino) Magnésio Mg [12] (metal alcalino-terroso) Cálcio Ca [20] (metal alcalino-terroso) Estrôncio Sr [38] (metal alcalino-terroso) Bário Ba [56] (metal alcalino-terroso) Alumínio Al [13] (metal terroso) É o material paramagnético preferido para aplicações em catapultas eletromagnéticas lunares, utilizando rególito como minério. Oxigênio O [8] (ametal calcogênio) Na forma líquida. Tecnécio Tc [43] (metal de transição externa) (elemento artificial) Platina Pt [78] (metal de transição externa) (metal nobre) Disprósio Dy [66] (metal de transição interna) (lantanídeo) Urânio U [92] (metal de transição interna) (actinídeo) I) Pequenos imãs na ausencia de campo magnético; II) Pequenos imãs sobre um campo magnético fraco; III) Pequenos imãs sobre um campo magnético forte. RESSONÂNCIA Em Física, Ressonância é a tendência de um sistema a oscilar em máxima amplitude em certas freqüências, conhecida como 'freqüências ressonantes'. Nessas freqüências, até mesmo forças periódicas pequenas podem produzir vibrações de grande amplitude, pois o sistema armazena energia vibracional. Quando o amortecimento é pequeno, a freqüência de ressonância é aproximadamente igual à freqüência natural do sistema, o que é a freqüência de vibrações livres. O fenômeno da ressonância ocorre com todos os tipos de vibrações ou ondas; mecânicas (acústicas), eletromagnéticas, e funções de onda quântica. Sistemas ressonantes podem ser usados para gerar vibrações de uma freqüência específica, ou para obter freqüências específicas de uma vibração complexa contendo muitas freqüências. Também se pode destacar a área da espectroscopia em que a energia radiante incidente é absorvida, refletida ou ainda transmitida pela amostra, fornecendo como resultado um espectro que é a informação da energia absorvida em função do comprimento de onda (ou da freqüência) em forma de um gráfico. TEORIA BÁSICA Um elétron tem um momento magnético associado igual ao magnetão de Bohr, μB. Quando colocado num campo magnético externo de intensidade B 0, esse momento magnético pode tomar duas orientações: paralela e antiparalela ao sentido do campo magnético. A orientação paralela encontra-se num estado de menor energia que a antiparalela (o chamado efeito de Zeeman), sendo a diferença de energia entre os dois estados, ΔE, dada por: ΔE = geμBB0, em que ge é a razão giromagnética do elétron (a razão entre o seu momento magnético dipolar e o seu momento magnético angular). Para passar do nível mais baixo de energia para o mais elevado, o elétron tem de absorver radiação electromagnética de energia ΔE: ΔE = hν = geμBB0, sendo esta a equação fundamental na espectroscopia de RPE. O centro paramagnético é colocado num campo magnético, provocando a ressonância do elétron entre os dois estados; a energia absorvida é monitorizada e convertida num espectro de RPE. Um elétron livre, ou seja, teoricamente não influenciado por qualquer fator externo, tem um valor ge igual a 2,002319304386. Isto significa que, ao usar uma radiação de frequência 9,5 GHz (a frequência normalmente usada na chamada banda X de RPE), ocorre ressonância à volta de 3400 G (0,34 tesla). Os sinais de RPE podem ser gerados por medições de absorção de energia feitas a diferentes valores de campo magnético, B, mantendo o valor da frequência ν constante. Também é possível fazer o inverso, ou seja, obter espectros a diferentes frequências mantendo fixa a intensidade de campo magnético (tal como acontece em espectroscopia de RMN). Por razões de ordem técnica, a forma mais frequente de medir RPE é a primeira. Isto significa que os espectrômetros de RPE são construídos de forma a ter uma fonte de radiação electromagnética de frequência fixa e ímans que possibilitam a variação da intensidade do campo magnético (dentro de determinados limites). O espectro resultante é normalmente desenhado tendo a intensidade do campo magnético no eixo das abcissas (eixo dos x) e a intensidade do sinal resultante no eixo das ordenadas (eixo dos y). Na prática, os elétrons encontram-se associados a átomos, com consequências importantes para a experiência: O elétron pode ganhar ou perder momento angular (através do fenômeno denominado acoplamento spin-órbita), o que afecta o valor de g. Este valor é frequentemente diferente de 2,0023, especialmente em compostos contendo metais de transição. O fator g muda de acordo com a orientação do átomo paramagnético no campo magnético aplicado, ou seja, o momento angular do elétron não é igual para todas as orientações possíveis do átomo ou molécula no campo magnético. Este fenómeno é denominado anisotropia. Como a anisotropia depende da estrutura electrônica do átomo em questão, é possível obter informação sobre as orbitais contendo elétron desemparelhado. Se o átomo contendo o elétron desemparelhado tiver ele próprio um spin nuclear diferente de zero, o átomo possui um pequeno campo magnético associado que também influencia o elétron. Acontece então o fenômeno de acoplamento hiperfino (análogo ao acoplamento que existe em RMN), que causa o splitting do sinal em dubletos, tripletos, etc. (ou seja, uma ressonância divide-se em duas, três, etc.). ESPECTROSCOPIA Em Química e Física o termo espectroscopia é a designação para toda técnica de levantamento de dados físico-químicos através da transmissão, absorção ou reflexão da energia radiante incidente em uma amostra. Por extensão, o termo espectroscopia ainda é usado na técnica de espectroscopia de massas, onde íons moleculares monovalentes são defletidos por um campo magnético. O resultado gráfico de uma técnica espectroscópica qualquer é chamado espectro. Sua impressão gráfica pode ser chamada espectrograma ou, por comodidade, simplesmente espectro. TÉCNICA ESPECTROSCOPICA Toda técnica espectroscópica baseia-se na detecção e análise de um feixe de radiação eletromagnética vinda de uma amostra do material que está sendo investigado. Essa radiação pode ser parte de um feixe que incidiu sobre a amostra e foi parcialmente atenuado (espectroscopia de absorção ou transmissão); pode ser um feixe que, após incidir sobre a amostra foi espalhado ou difratado (espalhamento); pode ainda ter se originado na própria amostra, como resultado de diferentes processos (espectroscopia de emissão). Existem diversas variantes desse esquema básico, mas o importante é entender que tipo de interação ocorre entre a radiação e a matéria, e que tipo de informação pode ser obtido com cada técnica espectroscópica. As diferentes técnicas espectroscópicas utilizadas em Biofísica cobrem diferentes intervalos do amplo espectro da radiação eletromagnética, desde os raios-X até as microondas. Na região dos raios-X (comprimentos de onda da ordem de alguns Å), a radiação interage com núcleos e elétrons, sofrendo espalhamento, e, se houver periodicidades como estruturas cristalinas, difração. Essa é a região da cristalografia, do espalhamento e difração de raios-X. Ondas eletromagnéticas com energias mais baixas que os raios-X, correspondentes a comprimentos de onda entre 1.000 e 7.000 Å, compõem a região do ultravioleta e visível. Essa radiação interage com os elétrons de átomos e moléculas, promovendo-os para estados excitados e temos aqui as espectroscopias no UV-visível: absorção ótica, fluorescência e dicroísmo circular. Na faixa espectral seguinte, no infravermelho (comprimentos de onda da ordem de alguns micrometros), a radiação possui energia tal que estimula vibrações e rotações moleculares, associadas às espectroscopias no infravermelho e espalhamento Raman. Em comprimentos de onda maiores (comprimentos de onda de milímetros a metros) temos as microondas e ondas de rádio. Nesse caso, a radiação pode ser absorvida por amostras colocadas em campos magnéticos elevados, da ordem de milhares de Gauss, devido à excitação dos spins eletrônicos e nucleares. As técnicas espectroscópicas envolvidas aqui são a Ressonância Paramagnética Eletrônica (RPE) e a Ressonância Magnética Nuclear (RMN). Todas essas técnicas são empregadas no estudo de sistemas de interesse biológico, fornecendo informações que ajudam a entender os diversos níveis de complexidade dos sistemas vivos apresentados anteriormente. Nesta oportunidade destaco apenas algumas dessas técnicas aplicadas ao estudo de macromoléculas biológicas, em particular das proteínas. Conforme será apresentado a seguir, ilustro a obtenção de informações de natureza estrutural em sistemas biológicos, utilizando essas técnicas espectroscópicas. Banda λ / mm L 300 S 100 C 75 X 30 P 20 Q 8,5 U 6 V 4,6 E 4 W 3,2 F 2,7 D 2,1 1,6 J 1,1 15 K 12, 5 24 35 50 65 75 95 0,8 6 1,2 5 1, 8 2,3 2,7 3,5 14 0 4,9 19 0 6,8 285 0,5 4 11 1 3,9 0,8 3 360 ν / GHz 1 3 4 10 B0 / T 0,0 3 0,1 1 0,14 0,3 3 10, 2 12, 8 EQUIPAMENTO DE RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA: ESPECTRÔMETRO Basicamente apresenta uma fonte de microondas, eletroímã, cavidade onde são introduzidas as amostras e sistema de coleta de dados. A fonte de radiação, Klystron, emite microondas com freqüências próximas a 9 GHz (banda X). Todos os espectros foram obtidos a temperatura ambiente. Espectrômetro é um instrumento óptico utilizado para medir as propriedades das luz em uma determinada faixa do espectro eletromagnético. Sua estrutura basicamente se resume a existência de uma rede de difração e um captador. A rede faz com que a luz incidente sobre a abertura do espectrômetro se divida em feixes de onda aproximadamente monocromáticos (quanto maior a qualidade da rede de difração melhor a aproximação para "monocromático"). Já esses feixes incidem sobre os captadores que são sensores fotovoltaicos. Deste modo, temos uma leitura da intensidade luminosa de cada comprimento de onda que existe na composição de nosso feixe incidente. Com isso podemos caracterizar uma série de materiais quanto à sua absorção luminosa, fluorescência, transmissão entre outros. Entre outras técnicas espectroscópicas, a ressonância paramagnética eletrônica, RPE, em onda contínua ou pulsada, vem sendo usada na quantificação de defeitos, tanto intrínsecos à estrutura dos nanotubos (os chamados elétrons localizados) como extrínsecos, isto é, relacionados com a presença de carbono não cristalino (elétrons deslocalizados)27. Cada um desses defeitos apresenta linhas de ressonância em campos magnéticos distintos, possibilitando sua identificação e quantificação. Todavia, a presença do catalisador metálico, mesmo em baixa proporção, limita o uso desta técnica, devido ao fenômeno da ressonância ferromagnética, que apresenta linhas muito largas no espectro de RPE.