Universidade Federal do Piauí CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE CAPRINOS DA RAÇA ANGLONUBIANA NO CENTRO NORTE DO PIAUÍ Ellida de Aguiar Silvestre Dissertação apresentada à Universidade Federal do Piauí como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento, área de concentração em Genética e Melhoramento, para obtenção do título de “Mestre”. Teresina – PI 2012 Ellida de Aguiar Silvestre Bióloga CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE CAPRINOS DA RAÇA ANGLONUBIANA NO CENTRO NORTE DO PIAUÍ Orientador: Prof. Dr. Fábio Barros Britto - UFPI Coorientador: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo – UFPI Dissertação apresentada à Universidade Federal do Piauí como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento, área de concentração em Genética e Melhoramento, para obtenção do título de “Mestre”. Teresina – PI 2012 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico S587c Silvestre, Ellida de Aguiar Caracterização genética de caprinos da raça Anglonubiana no Centro Norte do Piauí / Ellida de Aguiar Silvestre. – 2012. 53f. : il. Dissertação (Mestrado em Genética e Melhoramento) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012. Orientação: Profº. Dr. Fábio Barros Britto Co-orientação: Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo 1. Genética -Caprino. 2. Diversidade Genética. 3. Caracterização Molecular. 4. Microssatélite. I. Título. CDD:636.390 8 Caracterização genética de caprinos da raça Anglonubiana no estado do Piauí . Ellida de Aguiar Silvestre Aprovada em: ____ / ____ /____ Comissão julgadora: _____________________________________________________________ Prof. Dr. Fábio Barros Britto - Orientador Universidade Federal do Piauí _____________________________________________________________ Prof. Dr. José Elivalto Guimarães Campelo - Co-orientador Universidade Federal do Piauí _____________________________________________________________ Pesq. Dr. Fábio Mendonça Diniz – Membro titular Embrapa Meio-Norte _____________________________________________________________ Pesqa. Dra. Maria Imaculada Zucchi – Membro titular APTA - Piracicaba - SP Dedico à minha mãe Vanêce de Aguiar Silvestre, e ao meu irmão Erick de Aguiar Silvestre. AGRADECIMENTOS À Deus, por me fortalecer nas horas difíceis e sempre me acompanhar na minha jornada; À Universidade Federal do Piauí, por subsidiar esta etapa da minha vida profissional e em especial ao Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento; Ao PROCAD por proporcionar intercâmbio para a conclusão da minha dissertação; À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos; Ao Dr. Fábio Barros Britto, pela paciência e acima de tudo por ser um bom amigo; Ao Dr. José Elivalto Guimarães Campelo, pela a ajuda constante; Ao Dr. José Baldin Pinheiro, por abrir as portas do seu laboratório me ajudando a finalizar este projeto; À Dra. Maria Imaculada Zucchi, por me ajudar e se preocupar com o meu tarbalho; Às professoras Dra. Regina Lucia Ferreira Gomes e Dr. Ângela Celis de Almeida Lopes, por serem verdadeiras mães na minha vida acadêmica; Aos professores do Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento por ensinar não só a disciplina, mas também a viver; Aos criadores de caprinos Anglonubianos, por permitirem a realização das coletas; Aos amigos Márcio da Silva Costa, Pollyana Oliveira da Silva, Felipe Pereira da Silva Barçante pelo auxílio nas coletas de dados e por dividir comigo momentos de descontração; Aos colegas do laboratório de Diversidade Genética e Melhoramento da ESALQ, pela companhia e ajuda para a realização das análises; Ao Miklos Maximiliano Bajay, por me ajudar nas análises; Aos amigos Erina Victorio Rodrigues, Hendrie Ferreira Nunes e José Ribamar Assunção Filho, pelos momentos de descontração, ajuda e apoio; Aos demais colegas do Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento; Ao amigo Alexandre Marcolino por acreditar e sempre me incentivar; Aos meus inesquecíveis amigos Katharinne Ingrid Moraes de Carvalho, Bruno Soares Moreira, Jamile Queiroz de Sousa, Samira da Silva Maciel, Flavia Danniele Frota Machado, Edson Falcão Lima Filho, Denise Mendes Martins, Camilla Micaely, Ocimara Oliveira, Betriny Nascimento, Carolina Vasconcelos entre outros, por mesmo de longe me apoiarem e me ajudarem na parte prática como também com conselhos; Ao meu namorado Leandro Longato Neto, pela paciência na última etapa e por me proporcionar segurança e carinho; Aos meus sogros e cunhada pela hospitalidade; À minha mãe e irmão, por acreditar inabalavelmente em mim e no meu potencial; Aos meus familiares, em especial meu pai, pelo apoio; A todos que tornaram possível a realização deste projeto. SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................VII ABSTRACT...............................................................................................................VIII LISTA DE FIGURAS...................................................................................................IX LISTA DE TABELAS....................................................................................................X 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11 2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................13 2.1. Caprinocultura no Brasil e Nordeste....................................................................13 2.2. A raça Anglonubiana...........................................................................................15 2.3. Uso de marcadores moleculares na caracterização genética.............................17 2.4. Estimativas populacionais...................................................................................20 3. MATERIAL E MÉTODO.........................................................................................24 3.1. Amostragem........................................................................................................24 3.2. Extração de DNA.................................................................................................25 3.3. Marcadores Microssatélites.................................................................................25 3.4. Genotipagem.......................................................................................................28 3.5. Análise estatística................................................................................................28 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................30 5. CONCLUSÕES......................................................................................................43 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................4 VII RESUMO SILVESTRE, E. A. Caracterização genética de caprinos da raça Anglonubiana no Centro Norte do Piauí. 2012. 53p. Dissertação para obtenção do título de Mestre em área de concentração em Genética e Melhoramento - Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí, 2012. O caprino Anglonubiano é um animal resistente, indicado para cruzamentos com as cabras mestiças melhorando a produção de leite e carne, sendo úteis para regiões de clima tropical. Este trabalho teve como objetivo a caracterização da variabilidade genética da raça Anglonubiana em rebanhos de seleção no Centro Norte do Piauí. Foram coletados pêlos de 96 animais da raça Anglonubiana em quatro fazendas localizados nos municípios de Angical, José de Freitas, Teresina e Campo Maior, sendo 24 animais em cada fazenda. Para a caracterização da raça foi utilizado um painel de 25 microssatélites sugeridos pela FAO. A extração do DNA foi realizada com o uso da resina Chelex-100 (Bio-Rad) e após as amplificações, as amostras foram genotipadas em gel de acrilamida a 7%, e coradas com nitrato de prata. Foram realizadas análises de variabilidade genética, além da verificação a aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg e das análises da diversidade genética utilizando as estatísticas de Nei. O nível de estruturação genética foi avaliada, pelo programa STRUCTURE. Dos 25 locos analisados, oito foram utilizados para a caracterização da raça Anglonubiana por apresentarem amplificações consistentes (ILSTS11, ETH225, McM527, INRA23, ETH10, OarfCB304, OarfCB48 e MAF209). O número médio de alelos por loco foi de 3,88. Parte dos locos apresentaram desvios significativos para o EHW, indicando certo grau de endogamia. Porém, foi também evidenciada possível presença de alelos nulos nas análises. O coeficiente de diferenciação genética (GST’) mostrou que 11,9% da variação genética existente, está distribuída entre as populações e 88,1% dentro. O valor de GIS (27,9%) indicou deficiência de heterozigotos nas populações. O programa STRUCTURE indicou a existência de três grupos distintas (ΔK=3). Porém os resultados mostram que os rebanhos analisados ainda estão pouco estruturados. Palavras-chave: Capra hircus, caracterização molecular, diversidade genética, microssatélite VIII ABSTRACT Silvestre, E. A. Genetic characterization of Anglonubian goats in Central Northern Piaui. 2012. 53p. Dissertation presented to the Federal University of Piauí, Teresina, Piauí, 2012 in fulfillment of requirements for the Degree of Master in Genetics and Breeding. The Anglonubian goat is a resistant animal, indicated for breeding with naturalized animals to improve the production of milk and meat. This study was aimed at describing the genetic variability of Anglonubian herds in Central Northern Piauí. Hair samples were collected from 96 Anglonubian goats from four different farms located in Angical, José de Freitas, Teresina and Campo Maior, 24 animals from each farm. A panel of 25 microsatellites suggested by FAO were used for characterization. DNA extraction was performed with Chelex-100 resin (Bio-Rad). After amplification, samples were genotyped by acrylamide gel electrophoresis 7%, and stained with silver nitrate. The genetic variability and deviation from HardyWeinberg equilibrium were estimated. Nei tests were performed and the level of genetic structure was evaluated with the STRUCTURE software. Of the 25 loci analyzed, eight were used to characterize the Anglonubian breed due to consistent amplifications (ILSTS11, ETH225, McM527, INRA23, ETH10, OarfCB304, and OarfCB48 MAF209). The average number of alleles per locus was 3.88. Most loci showed significant deviations for HWE, indicating some degree of inbreeding. However, null alleles may be present in the analysis. The coefficient of genetic differentiation (GST ') showed that 11.9% of the genetic variation is distributed among and 88.1% within populations. Based on GIS (27.9%), the populations examined showed heterozygote deficiency . The program STRUCTURE indicated the existence of three distinct populations (K = 3). These results show that the herds sampled are poorly structured. Keywords: Capra hircus, genetic diversity, microsatellite, molecular characterization IX LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Exemplares de caprinos da raça Anglonubiana........................................16 Figura 2 - Mapa do estado do Piauí, destacando os locais de coleta das amostras. Fonte: modificado do Wikipédia, 2012.......................................................................24 Figura 3 - Teste para amplificação dos primers McM527 e ETH10 (10 amostras cada) em gel de agarose 1%......................................................................................30 Figura 4 - Gel de acrilamida 7% do loco INRA23 (A) e OarfCB48 (B) mostrando seus respectivos alelos (indicado pelas setas azuis) e setas vermelhas indicando o ladder 10pb............................................................................................................................30 Figura 5 - Histograma das frequências alélicas dos oito locos SSR estudados nas quatro populações de caprino Anglonubiano amostradas. O eixo Y indica as frequências alélicas e o eixo X o número de alelos alelos encontrados. Legenda: azul (Angical), vermelho (José de Freitas), verde (Teresina) e roxo (Campo Maior).........................................................................................................................33 Figura 6 - Dendrograma construído para o método UPGMA para as quatro populações de Anglonubianos estudadas..................................................................38 Figura 7 - Dendrograma dos indivíduos como unidades taxônomicas pelo método UPGMA. Cor determinada pelo programa STRUCTURE (azul = José de Freitas; vermelho = Teresina; verde = Angical + Campo Maior). a = Angical, jf = José de Freitas, t = Teresina e cm = Campo Maior.................................................................39 Figura 8 - Representação gráfica do ΔK mais provável de acordo com Evanno, et. al. (2005).........................................................................................................................40 Figura 9 - Designação das populações de Anglonubiano usando a estrutura baseada na alocação das amostras para K=3. 1- Angical, 2- José de Freitas, 3-Teresina, 4Campo Maior..............................................................................................................41 X LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Microssatélites com suas respectivas, sequências direta e reversa, tamanho em pares de base (pb) esperados, temperatura de anelamento recomendada e referência bibliográfica.....................................................................26 Tabela 2 - Número de alelos por loco (A), riqueza alélica (Ar), valor PIC, heterozigosidade esperada (HE), heterozigosidade observada (HO) e frequência de alelos nulos (θ) para os oito locos analisados............................................................31 Tabela 3: Número médio de alelos por loco (A), riqueza alélica (Ar), valor PIC, heterozigosidade esperada (HE), heterozigosidade observada (HO) e número de indivíduos amplificados (N) considerando os oito locos para as quatro populações analisadas..................................................................................................................32 Tabela 4 - Teste exato de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (p-valor) para cada loco dentro de cada população (valores não significativos encontram-se em negrito).......................................................................................................................35 Tabela 5 - Estrutura genética das populações de caprinos da raça Anglonubiana através das estatísticas de Nei (1973) para os 8 locos analisados...........................36 Tabela 6: Estrutura genética das populações de caprinos da raça Anglonubiana considerando cada população....................................................................................37 Tabela 7 - Matriz das distâncias genéticas de Rogers (1972) modificada por Wright (1978), das quatro populações. 1- Angical, 2- José de Freitas, 3- Teresina, 4- Campo maior (diagonal inferior). Distâncias geográficas em km entre os municípios (diagonal superior).....................................................................................................................37 11 1. INTRODUÇÃO A produção de caprino no Brasil é uma atividade econômica que nos últimos anos tem mostrado expansão, sendo que o efetivo de caprinos teve em 2010 um aumento de 1,6% em relação a 2009. A Região Nordeste possui o maior efetivo de animais, superando 90% do total nacional, que se destinam a produção de carne e também de leite (IBGE, 2010). Esse crescimento é em consequência de inúmeras vantagens que a criação de caprinos apresenta em relação a outras culturas, merecendo destaque à necessidade de menor área para a criação, menor consumo de alimento por animal, facilidade de manejo, além da diversidade de produção (NEVES et al., 2008). A região Nordeste se caracteriza por ser um ambiente adverso à produção de animais de grande porte, cuja limitação é devida, principalmente, à escassez de água e à ocorrência de altas temperaturas durante as épocas mais secas do ano. Assim, a criação de animais de médio porte torna-se importante para as populações de baixa renda, cuja limitação de recursos financeiros, implica na necessidade de animais com adequação a esse ambiente, que lhes sirvam em termos de produção de leite, queijo, carne e couro (SILVA e ARAÚJO, 2000; SILVA et al., 2008). Nos últimos anos a introdução de raças exóticas de caprinos no semiárido do Nordeste tem sido observada. A principal justificativa para essas importações é a busca de melhoria da produtividade, já que raças mais especializadas são apresentadas como alternativa viável para contornar o problema do baixo desempenho dos atuais rebanhos nativos no semiárido do Nordeste (SANTOS et al., 2005). Dentre as opções para esse fim, a raça Anglonubiana tem sido a mais usada pelos produtores, especialmente para a produção de leite na porção leste da região (FREITAS et al., 2004). Por outro lado, a introdução de raças exóticas pode causar a descaracterização dos rebanhos nativos, levando a extinção destes como grupo genético, razão pela qual se faz necessário controle sobre a introdução de novas raças, bem como do seu manejo genético no país. A raça Anglonubiana é originária da Inglaterra, formada a partir de cruzamentos entre caprinos ingleses comuns e reprodutores importados do norte da África (região da Núbia no Egito) (MASON, 1988). Ela foi introduzida na região Nordeste do Brasil a partir do século XIX, apresentada como raça exótica com potencial para melhoria dos índices de produção dos rebanhos da região. Hoje a raça pode ser considerada 12 como naturalizada no país. São animais que apresentam grande porte e pelagem com cores variadas, portanto, uma indicação de presença de variabilidade. É divulgada como raça de dupla aptidão (produção de carne e leite), sendo que segundo UNEB (2012) apresenta bom potencial para a produção de carne. Alem disso, apresenta adaptabilidade a regiões semiáridas, por ter na sua formação a presença de raça originária de país de clima quente (SILVA et al., 2006). O estado do Piauí, como os demais do Nordeste, apresenta um número significativo de caprinos da raça Anglonubiana, porém, em maior quantidade na forma de mestiços, razão pela qual já assume importância socioeconômica para o Estado, ao participar complementando a renda familiar no campo. Diante desse contexto, a caracterização genética da raça no Estado seria essencial para planos de melhoramento genético regional, além da utilização para fim comercial (SIDER e ZAROS, 2008). Os resultados obtidos com estudos dessa natureza levariam ao conhecimento da história da raça no país, além de contribuírem para o planejamento de programas de manejo, melhoramento genético e até mesmo de conservação. Neste contexto, as análises com marcadores moleculares têm sido consideradas fundamentais, uma vez que podem ser utilizadas na caracterização genética de populações, na estimativa das distâncias genéticas entre populações e entre indivíduos, na análise filogenética, em mapas de ligação e na identificação individual em controle de paternidade (PONSUKSILI et al., 1999). Assim, o presente trabalho teve como objetivo usar marcadores moleculares baseados em locos de microssatélites, para caracterizar a variabilidade genética em rebanhos que praticam seleção na raça Anglonubiana, localizados na parte Centro Norte do Piauí. 13 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Caprinocultura no Brasil e Nordeste A cabra doméstica (Capra hircus) foi introduzida no Brasil com a chegada dos portugueses. Acredita-se que essa introdução tenha acontecido em 1534, juntamente com os bovinos, quando Dona Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, solicitou a importação destes últimos na Capitania de São Vicente (PIRES, 1990). A presença de caprinos no Brasil foi citada primeiramente por Cardim em 1583 (MACHADO et al., 2000), sendo que esses animais vieram de Portugal e Cabo Verde, para fornecer carne (DANTAS SILVA, 1995). Desde então, o Brasil consolidou-se como criador destes animais, apresentando características edafoclimáticas apropriadas para a expansão e incremento da produção dos rebanhos caprinos. A caprinocultura no Brasil ainda é uma atividade desenvolvida de forma empírica e extensiva, com baixos níveis tecnológicos. Porém, nos últimos anos esta atividade tem recebido incentivos de ações conjuntas de governos estaduais, instituições de pesquisa e empresários rurais (SEBRAE, 2007). Essa atividade caracteriza-se, principalmente, pela sua importância sócio-econômica junto à população do semiárido nordestino (BEZERRA et al., 2001a). A maior parte do rebanho de caprino brasileiro se concentra na Região Nordeste, ocupando pequenos núcleos de criação privados e públicos (RIBEIRO et al., 2004). Segundo IBGE (2010), o Brasil possui um efetivo de 9.312.784 caprinos, dos quais 8.458.578 estão nesta região. O Estado do Piauí é o terceiro maior produtor, com um rebanho de 1.386.515 cabeças, sendo superado apenas pela Bahia e Pernambuco. Estes dados revelam o potencial que a região possui para o desenvolvimento de políticas associadas à caprinocultura. Esta região apresenta baixos índices zootécnicos por não utilizar tecnologias compatíveis com a realidade ambiental e financeira da mesma. Esses animais são explorados em sistemas de manejo extensivo utilizando grandes áreas, com o uso, principalmente, de animais mestiços e sem raça definida (SRD) e em muitos casos sem cuidados sanitários requeridos. Entretanto, ao se buscar conhecer todos os elementos que interferem nesses índices pode-se obter maior eficiência reprodutiva e produtiva dos rebanhos (PIMENTA FILHO et al., 2002). 14 Em unidades produtivas que utilizam algum nível de tecnologia, é evidente a melhoria na produção e reprodução, criando assim perspectivas de organização empresarial da atividade (COSTA et al., 2003). A esse respeito, no sistema extensivo a vegetação da caatinga é a fonte básica de alimentação, não se adotando a suplementação alimentar, a não ser no período crítico de seca. Já no sistema intensivo, a suplementação alimentar (energética, protéica e/ou mineral) é utilizada para obtenção da melhoria na produção e reprodução do rebanho. Além das fontes alimentares disponíveis na natureza, há a utilização de campos cultivados e suplementação alimentar (pastejo misto) (FERNANDES FILHO, 2007). Além da deficiência tecnológica, a população do Nordeste brasileiro enfrenta diversos desafios referentes à alimentação, desigualdades de renda, de educação, de saúde, de acesso ao trabalho e aos meios de produção (VALENTE, 1997). No estado do Piauí, a caprinocultura tem sido trabalhada visando à produção de carne, como acontece na maior parte do semiárido do Nordeste. Além do papel econômico, esta atividade também desempenha um papel social contribuindo para a melhoria da qualidade de vida no campo, onde as condições de sobrevivência são mais difíceis (SILVA SOBRINHO e GONZAGA NETO, 2002). Essa atividade vem sendo considerada um instrumento eficaz para o desenvolvimento da zona semiárida. O leite e a carne caprina são importantes fontes de proteína animal para as populações de média e baixa renda, e a pele é muito utilizada na manufatura de calçados e vestimentas gerando renda monetária a médio e longo prazo (SILVA e ARAÚJO, 2000; BEZERRA et al., 2001b). Os caprinos apresentam características peculiares que favorecem sua exploração no Nordeste em relação aos animais de grande porte, dentre as quais se destacam a adaptação à ampla variedade de condições climáticas, principalmente a escassez hídrica, são rústicos que implica requerer pouca suplementação nutricional (MEDEIROS et al., 1994). Outra característica importante é o seu comportamento reprodutivo. Em geral, as fêmeas são consideradas poliéstricas estacionais, onde os ciclos estrais acontecem em um determinado período do ano. Característica essa herdada de raças de clima temperado com fotoperíodo bem caracterizado durante o ano (GRANADOS et al., 2006). Em zonas tropicais a intensidade luminosa quase não apresenta variação durante as quatro estações, levando as fêmeas a serem poliéstricas não estacionais e, portanto, apresentando cio mais vezes no ano. A 15 estacionalidade reprodutiva dependerá principalmente de fatores como condições térmicas e alimentação (HAFEZ, 1995; FREITAS e LOPES JÚNIOR, 2002). Muitos produtores buscam a melhoria de seus rebanhos por meio de seleção dentro da raça, ou recorrendo à utilização de mais de uma raça através de cruzamentos, que é uma opção de alterar a produção e produtividade do plantel de forma mais rápida. O cruzamento entre raças especializadas e locais tem sido incentivado por proporcionar genótipos com melhor rendimento e qualidade de carcaça, razão pela qual nos últimos anos algumas raças exóticas têm sido introduzidas no país, principalmente com a perspectiva de melhorar geneticamente a produção de carne e leite das raças locais. Esses animais introduzidos são criados em rebanhos puros, onde são multiplicados reprodutores que são comercializados para uso em rebanhos de produção, geralmente em acasalamentos sem registro zootécnico (OLIVEIRA, 2006). 2.2. A raça Anglonubiana O registro da raça Anglonubiana no Brasil é datado de 1859 sendo que sua introdução ocorreu no estado da Bahia. É uma raça bem adaptada a regiões de clima tropical, com sistema de manejo intensivo, podendo ser criada em sistema de manejo extensivo e semiextensivo. São animais de grande porte apresentando peso médio de 90 kg nos machos e 70 kg nas fêmeas, porém podendo alcançar até 120 kg (OLIVEIRA, 2006), se criados em manejo intensivo. A raça Anglonubiana caracteriza-se por apresentar dupla aptidão: propícia à produção de carne e leite. As principais características raciais são: a cabeça tem chanfro com perfil convexo e é bem conformada, com cornos ou amochada. Apresenta orelhas com implantação alta e longas, espalmadas, pendentes, ultrapassando a ponta do focinho em até três centímetros, possui o pavilhão interno voltado para a face e as extremidades voltadas para frente. Machos e fêmeas podem apresentar barbela de tamanho pequeno. Apresenta a linha dorso-lombar com tendência de elevação rumo a garupa. Os pêlos são curtos de espessura regular, mas nos machos pode se apresentar mais espessos ao longo da linha dorsal. A pelagem é variada predominando as cores escuras, mas frequentemente a malhada ou tartaruga. Os cascos são escuros em combinação com a cor da pelagem. A pele é frouxa e a mucosa escura (OLIVEIRA, 2006). Apresenta facilidade de transmissão de suas 16 características, especialmente o tamanho e a forma da orelha, e o chanfro com perfil convexo, o que leva a confundi-la com seus mestiços. Estima-se que 36,4% dos rebanhos do estado do Piauí possuem animais da raça Anglonubiana (SILVA et al., 2011) . Essa raça encontra-se bem distribuída no Brasil. Com rebanhos nos estados do Piauí, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com o SEBRAE a raça é criada, sobretudo nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia (http://www.sebrae.com.br/setor/ovino-e-caprino/o-setor/racas-caprino/anglonubiana). Figura 1: Exemplares de caprinos da raça Anglonubiana (Fonte: Pollyana Oliveira) A raça Anglonubiana é indicada para cruzamentos com raças nativas ou tipos sem padrão racial definido (SRD), visando melhor produção de carcaça e leite, essa prática tem produzido resultados satisfatórios no Brasil e no mundo (SILVA e ARAÚJO, 2000). Esta raça apresenta um bom desempenho produtivo e reprodutivo aliado à rusticidade e por isso se mostra resistente às adversidades climáticas do Nordeste (PEREIRA, 1999). Medeiros et al. (1997 e 1998) apontam a raça Anglonubiana como uma das mais recomendadas para as condições do Brasil Central, por ser originária de regiões de clima tropical da África e por apresentar produção de leite e carne superior às raças nativas e tipos comuns nacionais. Segundo Borges e Gonçalves (2002), a produção leiteira da raça chega a ser de 2 a 4 kg/dia. Os cabritos vão para o abate aos três meses, com aproximadamente 21 a 22 kg, se manejados com suplementação alimentar. 17 Trabalhos de levantamento populacional realizados com caprinos no estado do Piauí mostraram que a raça Anglonubiana apresenta grande participação na formação de alguns dos grupos raciais da região, principalmente em relação à contribuição dos animais SRD (COSTA, 2010 e CASTELO BRANCO, 2001). 2.3. Uso de marcadores moleculares na caracterização genética Os marcadores moleculares podem ser qualquer fenótipo proveniente de um gene expresso ou de um segmento de DNA não expresso e devem segregar pelas gerações segundo padrões mendelianos (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). Podem diferir de várias formas: quanto ao nível de polimorfismo, ao tipo de herança, à reprodutibilidade, à abundância dentro do genoma, à especificidade dos locos, às técnicas utilizadas e ao investimento financeiro (BUSO et al., 2003). São as ferramentas mais eficazes para o estudo de Genética de populações, tornando-se importante para o melhoramento genético das espécies de interesse econômico. Assumem também importante papel nos programas de conservação “in situ” e “ex situ” de animais em vias de extinção. São úteis na determinação do nível de consaguinidade, estrutura e diversidade genética das populações. Geram informações genéticas sobre a história, a geografia e as relações ecológicas entre as espécies (HAIG, 1998; BARON, 2000). Além de identificar locos de características de interesse econômico (QTLs), mapeamento genético, estudos evolucionários, identificação de paternidade, introgressão de genes úteis, estudos diagnóstico precoce de doenças e seleção assistida por marcadores (AMARANTE e WOMACK, 2004). Dentre os marcadores moleculares estão os marcadores Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP); minissatélites ou loco Variable Number of Tandem Repeats (VNTR); Random Amplied Polymorphic DNA (RAPD); Sequence Tangged Sites (STS); Amplied Fragment Length Polymorphism (AFLP), microssatélites ou Single Sequence Repeats (SSR) e Single Nucleotide Polimorphism (SNPs). Os microssatélites apresentam algumas vantagens em relação aos outros marcadores como: elevada heterozigosidade, necessidade de pequenas amostras de DNA, fáceis de interpretar, não são afetados por variações ambientais, permitem selecionar regiões especificas dentro da molécula de DNA, mais informativos, multialélicos, codominantes, conservados entre espécies relacionadas, abundante 18 no genoma, possuírem alta reprodutibilidade e amplificarem facilmente por PCR (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998; SALLES et al., 2003). São compostos por sequências simples repetidas de nucleotídeos e menores que 100 pares de base de comprimento (TAUTZ, 1989). Geralmente, essas sequências estão localizadas em regiões não codificadoras, mas também podem ser encontradas com menor frequência em regiões codificadoras (SCHLÖTTERER e TAUTZ, 1992). Sua classificação é realizada de acordo com o tamanho e a complexidade da sequência que compõe as repetições. Nos microssatélites, as repetições dos nucleotídeos são denominadas por mono, di, tri, ou tetranucleotídeos em número variável de vezes. Tais sequências nucleotídicas podem ser produzidas por disfunção da polimerase ao copiar a mesma sequência várias vezes durante a replicação do material genético, recombinação desigual ou alinhamento incorreto das fitas de DNA (MOORE et al., 1994). Segundo Schug et al. (1998), a maioria dos microssatélites estudados são repetições do tipo dinucleotídeos. As diferentes repetições encontradas nos microssatélites são divididas em repetições perfeitas, quando não apresentam nenhuma interrupção; repetições imperfeitas, quando são interrompidas por bases não repetidas e repetições compostas, quando duas ou mais repetições de microssatélites estão dispostas adjacentemente (CAIXETA et al., 2006). De acordo com a FAO (2004), são necessários 25 marcadores microssatélites para estudo de distância genética em espécies domésticas, desde que obedeçam aos seguintes critérios: apresentar domínio público; não serem ligados; com herança mendeliana; possuírem no mínimo quatro alelos; preferivelmente que possuam homologia entre espécies relacionadas; que possam ser usados em qualquer sequenciador automático, em mutiplex e de fácil reprodutibilidade. Os alelos microssatélites são revelados pela amplificação utilizando a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) com iniciadores específicos que variam em número de pares de bases, complementares a sequências que flanqueiam a região repetitiva (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). A análise de microssatélites por PCR em relação ao uso de sondas é vantajoso devido ao tamanho pequeno do fragmento microssatélite, coamplificação por PCR (multiplex), e a simples interpretação dos resultados. Além disto, os testes são mais rápidos, padronizados e automatizados (BUROW e BLAKE, 1998). Estudos da homologia genética entre espécies 19 ruminantes mostraram que 34% e 43% dos locos de microssatélites de bovinos e ovinos, respectivamente foram polimórficos em caprinos (VAIMAN et al., 1996). Tendo em vista a expressão codominante e o multialelismo, os marcadores microssatélites são os que possuem o mais elevado conteúdo de informação. Por isso, são considerados os mais indicados para estudos de diversidade genética, mapa genético, fluxo gênico. Além de serem utilizados no esclarecimento de paternidades duvidosas, na detecção de introgressões, definição da estrutura das populações, avaliação de fontes de novos fundadores para populações pequenas e ameaçadas de extinção e poderem indicar locais para reintrodução (FRANKHAM et al., 2008). No mapeamento genético busca-se identificar polimorfismos relacionados a regiões genéticas de interesse, mesmo que não se conheça o gene diretamente envolvido no fenótipo em questão (WOMACK, 1993). Desta forma, tornam-se úteis em estudos de genética de populações e melhoramento, pois constituem uma ferramenta ideal para a associação entre o fenótipo e o genótipo monogênico ou poligênico (IHARA et al., 2004). Nos últimos anos tem-se observado o crescimento da genômica no Brasil, tendo início na década de 90. Divide-se em genômica estrutural e funcional. A genômica estrutural como o nome diz, estuda a estrutura dos genes e aborda desde as ferramentas de mapeamento genético, sequenciamento e análise estrutural e modelagem de proteínas. Já a genômica funcional, estuda a função dos genes, tendo como principal ferramenta os estudos de expressão gênica, abordando principalmente a análise de transcriptomas (SIDER e ZAROS, 2008). A produção de pequenos ruminantes tem sido beneficiada pelas ferramentas da genômica, porém, há ainda muito que ser feito. Alguns trabalhos já foram realizados com caprinos utilizando essa nova abordagem. Entre eles estão, o mapeamento genético de caprinos (VAIMAN et al.,1996), que tem assumido grande importância nos estudos de genômica e genética molecular permitindo estudar a arquitetura genética de características quantitativas (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). E o uso de bibliotecas Bacterial Artificial Chromosome (BAC) (SCHIBLER et al., 1998). A tecnologia de microarranjos para a espécie caprina ainda não foram descritos. No entanto, é comum recorrer à genômica comparativa, por exemplo, aplicando microarranjos bovinos para testar cDNAs de caprinos (SIDER et al., 2008). A genômica comparativa também tem ajudado a superar a limitação nos estudo de 20 seleção assistida por marcadores, que ainda não está sendo plenamente aplicada ao melhoramento de caprinos, em parte em função da escassez de informação genética nesta espécie (SIDER e ZAROS, 2008). O projeto brasileiro de grande porte intitulado Desenvolvimento de Biotecnologias para Promoção Socioeconômica Sustentável da Caprinocultura (BioBode) apoiado financeiramente pela FINEP, foi iniciado, visando a aplicação da Conservação da biodiversidade, a Genômica Funcional, a Proteômica, a Bioinformática e a Prospecção de genes em benefício do aumento da informação genética em caprinos. (SIDER e ZAROS, 2008). 2.4. Estimativas populacionais O estudo da diversidade genética entre e dentro de populações permite gerar informações importantes para a melhor gestão das populações analisadas. Dentre os parâmetros mais utilizados estão, a estimativa da frequência alélica, heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He), conteúdo de informação polimórfica (PIC), desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), estatística F (FST, FIT e FIS), e distâncias genéticas. A frequência alélica representa a proporção de um dado alelo em relação ao total de alelos de um mesmo loco cromossômico. Sendo estimada pela contagem direta dos alelos de um loco e considerando que a população está em equilíbrio de Hardy-Weinberg (ROCHA, 2009). A variância da frequência alélica é dada por: Sendo, x a frequência alélica e n o número de indivíduos da amostra. A heterozigosidade pode ser considerada uma medida de diversidade genética (MENEZES et al., 2006), sendo nada mais que a proporção de indivíduos heterozigotos observados, por locos, na população. A heterozigosidade de um marcador é a possibilidade de um indivíduo ser heterozigoto no loco marcado e dependerá do número de alelos e suas respectivas frequências. Para que um loco seja considerado polimórfico, o alelo mais comum deve apresentar uma frequência inferior a 95% e, para ser considerado altamente polimórfico a heterozigosidade 21 deve ser maior que 70%, implicando frequência menor do que 0,55 do alelo mais frequente (OTT, 1992). O conteúdo de informação polimórfica (PIC) indica a informatividade do marcador em estudos genéticos (BOTSTEIN et al., 1980). No entanto, o PIC apresenta dependência do número de alelos e suas respectivas frequências. Sendo assim, o PIC não deve ser o único fator utilizado para eleger um marcador ou descartá-lo (MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1994). São considerados muito informativos os valores superiores a 0,5, mediamente informativos entre 0,5 e 0,25 e pouco informativos quando inferiores a 0,25 (BOTSTEIN et al., 1980). Segundo Falconer (1987), para que uma população esteja em equilíbrio de Hardy-Weinberg é necessário que ela seja grande, com acasalamento ao acaso, com ausência de migração, mutação e seleção, sendo assim, tanto as frequências alélicas como as genotípicas são constantes de geração em geração, e as frequências genotípicas são determinadas pelas frequências alélicas. Deste modo, qualquer alteração das condições citadas acima, promove o desvio às proporções equilíbrio de Hardy-Weinberg. Esse desvio pode ser quantificado pela expressão: Qualquer desvio significativo do equilíbrio indicará que na população existe consanguinidade significativa, que a população pode estar subdividida ou com presença de fluxo gênico de outra população (MENEZES et al., 2006). Wright (1951) propôs a teoria da estatística F para medir os desvios das frequências genotípicas em populações subdivididas através de três parâmetros: FIS, FIT e FST. No qual, o FIT é o coeficiente de consanguinidade nos indivíduos do conjunto populacional, o FST é o coeficiente de consanguinidade entre populações (devido à subdivisão) e FIS é o coeficiente de consanguinidade intra-populacional (OLIVEIRA et al., 2006). O FST mede o grau de divergência entre populações, descreve a proporção de variância dentro de uma espécie devida à subdivisão populacional e é inversamente proporcional ao fluxo gênico. Os valores de FST variam de 0 (não há diferenças genéticas entre as populações) a 1 (fixação de diferentes alelos nas populações). O FIS é considerado o coeficiente de endogamia calculado como média de todos os 22 indivíduos de todos os fragmentos populacionais e o FIT corresponde à endogamia da população total. Se os valores de FIS e FIT forem negativos ou próximos de zero, existe variabilidade genética na população devido ao excesso de indivíduos heterozigotos (WRIGHT, 1965). A distância genética é a medida do grau de diferenciação entre dois grupos populacionais. Se não há diferença entre as populações a distância é considerada zero. No entanto, se as duas populações não tiverem alelos em comum em todos os locos, a distância se aproxima de um. As medidas de distâncias genéticas são úteis para reconstrução das relações históricas e filogenéticas entre grupos e no estudo da estrutura genética dentro da espécie (NEI, 1987). Na literatura encontram-se diversas medidas de distâncias genéticas, tais como as distâncias de Nei (D (distância padrão), D´(distância máxima) e Dm (distância mínima) (NEI, 1973), a distância de Rogers (ROGERS, 1972), distância de Kimura 2-parâmetros (KIMURA e OHTA, 1978), distância de Reynolds (REYNOLDS et al., 1983), Cavalli-Sforza modificada (DA) de Nei et al. (1983), distância de Tamura e Nei (TAMURA e NEI, 1993), dentre outras medidas. Uma vez estabelecidas às distâncias, as análises de grupamento podem ser utilizadas para classificar n elementos diversos (populações, indivíduos, etc.), avaliados por um conjunto de p caracteres ou variáveis, a partir de uma medida de distância entre os elementos (DIAS, 1998). As árvores de distância (dendrogramas) são representações gráficas ou mapas da matriz de distância, obtidas com estas técnicas. Existem diferentes critérios para construção de árvores a partir de uma matriz de distância. Os mais utilizados são o Unweighted pair group method with arithmetic means (UPGMA) e o Neighbor-joining (NJ) (EDING e LAVAL, 1999). O método UPGMA baseia-se no agrupamento sucessivo de pares de táxons, de acordo com o nível de similaridade. O fundamento desse método é comparar os táxons mais semelhantes (menores distâncias) e agrupá-los. Nei et al. (1983) compararam diferentes métodos para construir árvores filogenéticas, sendo observado que o UPGMA comportava-se melhor quando as taxas de substituição eram as mesmas para todas as árvores. Desta forma, deve-se assumir que as taxas de substituição sejam iguais para que o método possa ser utilizado. O método de NJ, desenvolvido por Saitou e Nei (1987), é utilizado para identificar os pares mais próximos ou vizinhos, populações ou grupos de populações (unidades taxonômicas), de forma que se minimize a longitude total da árvore. Para 23 se identificar os vizinhos é necessário reduzir o número de unidades até restarem três, assim obtém-se uma árvore sem raiz. O NJ é um método aplicado para dados puramente aditivos, onde a distância entre cada par de unidades taxonômicas é a soma das longitudes dos ramos que as unem na árvore. 24 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Amostragem Amostras de pêlo de 96 animais da raça Anglonubiana “puros de origem” (PO) foram coletadas em fazendas que se destinam a multiplicação de reprodutores para a comercialização de genética da raça Anglonubiana no entorno de Teresina, onde se localiza o centro de dispersão da raça no Piauí. Estas coletas foram realizadas no Centro Norte do Estado do Piauí (Figura 2). Visto que é maior a contribuição dos reprodutores na variabilidade genética da raça, foram amostrados preferencialmente os reprodutores dos rebanhos, bem como machos jovens destinados a reprodução. As coletas aconteceram nos municípios de Angical (7 machos e 17 fêmeas), José de Freitas (11 machos e 13 fêmeas), Teresina (10 machos e 14 fêmeas) e Campo Maior (11 machos e 13 fêmeas) totalizando 24 animais de cada localidade. Foram extraídos bulbos capilares da região dorsal e da cauda de cada animal, colocados em envelopes identificados por animal e por proprietário/município e acondicionados em freezer até o momento da extração do DNA. Figura 2: Mapa do estado do Piauí, destacando os locais de coleta das amostras. Fonte: modificado do Wikipédia, 2012. 25 3.2. Extração do DNA Para a extração do DNA recolheu-se aproximadamente 20 bulbos de pêlo de cada animal. Estes foram colocados em microtubos, onde foram adicionados 100µL de solução de extração (40 mL de água Milli-Q e 4 g de Chelex-100). Em seguida, as amostras foram incubadas a 95 ºC, durante 20 minutos, sendo posteriormente centrifugadas a 14000 g por 3 minutos. O sobrenadante contendo o DNA genômico foi transferido para um novo microtubo e as amostras foram armazenadas a -20 ºC até o momento das análises. 3.3. Marcadores Microssatélites Foi utilizado um painel com 25 marcadores microssatélites, recomendados pela FAO (2004) para estudo de diversidade genética em animais domésticos. A identificação, procedência e condições de reação de cada marcador estão descritas na Tabela 1. Dentre os marcadores descritos na Tabela 1, grande parte é de origem bovina e ovina. Apenas os marcadores CSRD247 e SRCRSP8 são de origem caprina. A conservação de sítios microssatélites entre espécies relacionadas é comum, possibilitando aproveitar primers (heterólogos), que foram desenvolvidos para uma determinada espécie e que podem ser utilizados para outra filogeneticamente próxima (FERREIRA e GRATTAPAGLIA, 1998). As reações da PCR foram preparadas de acordo com os seguintes reagentes, 3 µL de DNA, 1,5 µL de tampão para PCR (1X), 0,6 µL de MgCl2 (2 mM), 1,2 µL de dNTP (0,2 µM), 0,6 µL de BSA (0,4 mg/mL) 1,2 µL de Taq DNA-polimerase (1U), 0,3 µL de cada Primer (0,1 µM) e água ultrapura até completar o volume final de 15 µL. Os produtos foram preparados em placas para PCR de 96 poços, com as amplificações realizadas em um termociclador MJ Research PTC-100 de acordo com os seguintes ciclos: desnaturação inicial de 10 minutos a 94 ºC; 35 ciclos: desnaturação a 94 ºC por 30 segundos, seguida de anelamento do primer em temperatura de acordo com a Tabela 2 por 45 segundos e, 30 segundos a 72 ºC para extensão. Após o término dos ciclos a reação prosseguiu com um período de 10 minutos a 72 ºC para a extensão final. 26 Tabela 1: Microssatélites com suas respectivas, sequências direta e reversa, tamanho em pares de base (pb) esperados, temperatura de anelamento recomendada e referências bibliográficas. Microssatélite Sequência direta e reversa Variação de tamanho esperada (pb) Temperatura de anelamento recomendada(°C) Referências bibliográficas BM6506 D: GCACGTGGTAAAGAGATGGC R: AGCAACTTGAGCATGGCAC 190-228 55 Bishop et al.,1994 BM8125 D: CTCTATCTGTGGAAAAGGTGGG R: GGGGGTTAGACTTCAACATACG 100-128 50 Bishop et al.,1994 BM1818 D: AGCTGGGAATATAACCAAAGG R: AGTGCTTTCAAGGTCCATGC 250-290 58 Li et al., 2002 BM1329 D: TTGTTTAGGCAAGTCCAAAGTC R: AACACCGCAGCTTCATCC 153-185 55 Bishop et al.,1994 CSRD247 D: GGACTTGCCAGAACTCTGCAAT R: CACTGTGGTTTGTATTAGTCAGG 208-250 58 FAO, 2004 CSRM60 D:AAGATGTGATCCAAGAGAGAGGCA R:AGGACCAGATCGTGAAAGGCATAG 79-85 60 Moore et al., 1994 ETH10 D: GTTCAGGACTGGCCCTGCTAACA R: CCTCCAGCCCACTTTCTCTTCTC 200-230 55 Solinas et al., 1993 ETH225 D: GATCACCTTGCCACTATTTCCT R: ACATGACAGCCAGCTGCTACT 130-165 55 Barendse et al., 1994 HAUT27 D: TTTTATGTTCATTTTTTGACTGG R: AACTGCTGAAATCTCCATCTTA 125-160 57 Thieven et al., 1997 HSC D: CTGCCAATGCAGAGACACAAGA R: GTCTGTCTCCTGTCTTGTCATC 270-306 55 ISAG, 2002 INRA023 D: GAGTAGAGCTACAAGATAAACTTC R:TAACTACAGGGTGTTAGATGAACTCA 185-230 58 Li et al., 2002 INRA063 D: ATTTGCACAAGCTAAATCTAACC R: AAACCACAGAAATGCTTGGAAG 153-185 58 Vaiman et al., 1994 Continua 27 Tabela 1: Microssatélites com suas respectivas, sequências direta e reversa, tamanho em pares de base (pb) esperado, temperatura de anelamento recomendada e referências bibliográficas. (conclusão) Microssatélite Sequência direta e reversa Variação de tamanho esperada (pb) Temperatura de anelamento recomendada (°C) Referências bibliográficas INRA05 D: CTTCAGGCATACCCTACACCACATG R: AAATATTAGCCAACTGAAAACTGGG 125-155 55 Vaiman et al., 1994 INRA06 D: ATTTGCACAAGCTAAATCTAACC R: AAACCACAGAAATGCTTGGAAG 153-185 55 Bishop et al.,1994 D: GCTTGCTACATGGAAAGTGC R: CTAAAATGCAGAGCCCTACC 253-295 58 Luikart et al., 1999 MAF209 D:GATCACAAAAAGTTGGATACAACGTGG R:TCATGCACTTAAGTATGTAGGATGCTG 100-125 55 Luikart et al., 1999 MAF065 D: AAAGGCCAGAGTATGCAATTAGGAG R: CCACTCCTCCTGAGAATATAACATG 110-152 58 Luikart et al., 1999 McM527 D: GTCCATTGCCTCAAATCAATTC R: AAACCACTTGACTACTCCCCAA 150-190 58 ISAG, 2002 D: CAAGACAGGTGTTTCAATCT R: ATCGACTCTGGGGATGATGT 85-135 55 Mommens et al., 1994 D:GAGTTAGTACAAGGATGACAAGAGGCAC R: GACTCTAGAGGATCGCAAAGAACCAG 140-170 58 Yang et al., 1999 D: CCCTAGGAGCTTTCAATAAAGAATCGG R: CGCTGCTGTCAACTGGGTCAGGG 130-180 56 Yang et al., 1999 OarFCB11 D:GGCCTGAACTCACAAGTTGATATATCTATCAC R: GCAAGCAGGTTCTTTACCACTAGCACC 120-160 55 Yang et al., 1999 SRCRSP8 D: TGCGGTCTGGTTCTGATTTCAC R: CCTGCATGAGAAAGTCGATGCTTAG 210-260 55 Luikart et al., 1999 D: AAAGTGACACAACAGCTTCTCCAG R: AACGAGTGTCCTAGTTTGGCTGTG 235-265 55 Moore et al., 1994 D: CCCTCCTCCAGGTAAATCAGCR: AATCACATGGCAAATAAGTACATAC 130-180 55 Georges et al., 1992 ILSTS011 MM12 OarFCB48 OarFCB304 SPS115 TGLA122 28 3.4. Genotipagem O sucesso das PCRs foi primeiramente checado em eletroforese em gel de agarose a 1%. As amostras que obtiveram amplificações consistentes, com bandas bem definidas, foram posteriormente genotipadas por eletroforese em gel de poliacrilamida a 7%. O gel foi corado pelo método da prata seguindo procedimento que envolve fixação com ácido acético, coloração com nitrato de prata 0,1% e revelação em carbonato de sódio (CAETANO-ANOLLÉS e GRESSHOFF, 1994). O tamanho dos alelos foi determinado com o auxílio do ladder de 10pb (InvitrogenTM). Os genótipos obtidos para cada indivíduo foram avaliados e anotados manualmente. 3.5. Análise estatística O número de alelos por loco (A), frequências alélicas, heterozigosidade observada (Ho), heterozigosidade esperada (He) e Polymorphism Information Content (PIC) (BOTSTEIN et al., 1980) foram calculados pelo Excel Microsatellite Toolkit (MSTOOLS) (PARK, 2001). O programa GDA v.1.0 (LEWIS e ZAYKIN, 2012) foi utilizado para a identificação de alelos privados. A riqueza alélica corrigida para o tamanho amostral (Ar) foi calculada pelo programa FSTAT v.1.2 (GOUDET, 1995). O teste para verificar se cada loco está de acordo com as proporções esperadas para o equilíbrio de Hardy-Weinberg foram calculados por meio do programa Genepop v.3.1 (RAYMOND e ROUSSET, 1995), bem como a correção de Bonferroni com nível nominal de 5% de probabilidade. A presença e frequência de alelos nulos foram determinadas pelo programa MicroChecker 2.2.3 (VAN OOSTERHOUT et al., 2004). A estruturação genética foi verificada através das estatísticas de Nei (1973, 1987) calculadas pelo programa FSTAT v.1.2 (GOUDET, 1995). A interpretação dos resultados foi realizada como descrito para as estatísticas F de Wright (1931), por serem análogas às estatísticas de Nei (HOLSINGER e WEIR, 2009). A matriz de distância genética de Rogers (1972) modificada por Wright (1978) foi obtida pelo programa TFPGA v.1.3 (MILLER, 1997) e usada na construção de dendrograma com o programa NTSYS-pc v. 2.1 (ROHLF, 2000) pelo critério de agrupamento UPGMA (SOKAL e MICHENER, 1958). 29 Foi utilizado o programa STRUCTURE (PRITCHARD et al., 2000) para definir o número de grupos (K) mais provável nas amostras, por meio de métodos bayesianos, sem informações a priori sobre a origem das amostras, com o objetivo de visualizar a estrutura genética das mesmas. Foram usados os seguintes parâmetros: 300.000 simulações de Cadeias de Markov Monte Carlo; burn in de 500.000; modelo de ancestralidade com miscigenação (admixture); e modelo de frequências alélicas correlacionadas. O K variou de 1 a 12 e a determinação do K mais provável em relação aos propostos foi realizada utilizando valores de ΔK, proposto por Evanno et al. (2005). 30 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 25 microssatélites propostos, foram escolhidos oito locos que apresentaram amplificações mais consistentes: ILSTS11, ETH225, McM527, INRA23, ETH10, OarfCB304, OarfCB48 e MAF209 (Figuras 3 e 4), sendo estes escolhidos no estudo para a caracterização da raça nos rebanhos com seleção de reprodutores. O número de alelos por loco variou de dois a seis para estes marcadores (Tabela 2). Figura 3: Teste para amplificação dos locos McM527 e ETH10 (10 amostras cada) em gel de agarose 1%. Figura 4: Gel de acrilamida 7% do loco INRA23 (A) e OarfCB48 (B) mostrando seus respectivos alelos (indicado pelas setas azuis) e setas vermelhas indicando o ladder 10pb. 31 As medidas de riqueza alélica para cada loco também mostraram concordância com os resultados obtidos para o número absoluto de alelos (Tabela 2). Tabela 2: Número de alelos por loco (A), riqueza alélica (Ar), valor PIC, heterozigosidade esperada (HE), heterozigosidade observada (HO) e frequência de alelos nulos (θ) para os oito locos analisados. Locos A Ar (média) PIC He Ho Θ ILSTS11 3 2,159 0,1316 0,1407 0,1290 0,0094 ETH225 3 2,356 0,2025 0,2243 0,0000 0,1707 McM527 3 3,000 0,5467 0,6290 0,3516 0,1621 INRA23 5 4,942 0,7223 0,7663 0,4565 0,1901 ETH10 4 3,504 0,4454 0,5313 0,4268 0,0407 OarfCB304 6 5,501 0,6068 0,6492 0,3793 0,1660 OarfCB48 5 4,440 0,6470 0,7067 0,4194 0,1569 MAF209 2 2,000 0,3650 0,4831 0,5385 -0,0416 Média 3,88 3,4877 0,4584 0,5163 0,3376 0,1068 O número médio de alelos por loco foi 3,88, sendo que valores semelhantes já foram encontrados em outros estudos com cabras Alpina Ibex (MAUDET et al., 2002). Barker (1994), relata que, são necessários no mínimo quatro alelos para diminuir o efeito do erro padrão para o cálculo de distância genética entre as populações. No loco MAF209 foram encontrados apenas 2 alelos, sendo esse loco inicialmente descrito em ovinos. Porém, apesar do baixo nível de polimorfismo em caprinos, este marcador vem sendo citado em outros estudos com estes animais (LUIKART et al., 1999; MENEZES et al., 2006). Estes trabalhos, em conjunto com os resultados obtidos no presente estudo demonstram que esse loco deve se encontrar em uma região de baixa variabilidade genética em caprinos. Além deste loco, dos oito marcadores aqui utilizados, outros três apresentaram menos de quatro alelos (Tabela 2). Assim, estes marcadores preencheram todos os critérios estabelecidos pela FAO (2004) para o estudo de diversidade genética em animais domésticos, exceto o número mínimo de alelos, 32 refletindo a baixa diversidade entre os principais reprodutores utilizados. No entanto, um dos fatores que podem ter promovido o baixo nível de polimorfismo pode ter sido, justamente, o tamanho amostral reduzido utilizado no trabalho. Segundo Li et al. (2002) ambas as variáveis (tamanho amostral e número de alelos observado) estão correlacionadas. Outros fatores podem ter influenciado no baixo nível de polimorfismo encontrado. Dentre eles a transferibilidade dos marcadores, já que são originários de outras espécies de ruminantes. Uma alternativa viável seria o desenvolvimento de marcadores para a raça Anglonubiana, desta forma, possibilitando um alto nível de polimorfismo. De acordo com Gonela (2003), ao se trabalhar com marcadores heterólogos é de se esperar uma redução no número de alelos observados. Além disso, os animais amostrados podem ter uma base genética estreita, contribuíndo para o baixo nível de polimorfismo. Tabela 3: Número médio de alelos por loco (A), riqueza alélica (Ar), valor PIC, heterozigosidade esperada (HE), heterozigosidade observada (HO) e número de indivíduos amplificados (N) considerando os oito locos para as quatro populações analisadas. Populações A (médio) Ar (média) PIC He Ho N (amplificados) Angical do Piauí 3,38 3,352 0,383 0,436 0,295 23 José de Freitas 3,38 3,345 0,418 0,478 0,333 24 Teresina 3,00 2,876 0,364 0,432 0,382 24 Campo Maior 3,25 3,244 0,449 0,517 0,241 24 Média 3,25 3,204 0,403 0,466 0,313 23,75 A hererozigosidade média esperada e o valor de PIC foi de 0,313 e 0,403, respectivamente (Tabela 3), mostrando que os marcadores utilizados foram mediamente polimórficos considerando cada população estutada. A distribuição da frequência alélica para os oito locos comparando os genótipos das quatro populações analisadas neste estudo encontra-se ilustrada na Figura 5. As oscilações, perdas ou fixação dos alelos podem surgir a partir da ação da deriva genética ou seleção, isto é o que provavelmente está acontecendo nos rebanhos estudados, pois existe a seleção dos melhores reprodutores, como 33 Figura 5: Histograma das frequências alélicas dos oito locos SSR estudados nas quatro populações de caprino Anglonubiano amostradas. O eixo Y indica as frequências alélicas e o eixo X o número de alelos alelos encontrados. Legenda: azul (Angical), vermelho (José de Freitas), verde (Teresina) e roxo (Campo Maior). 34 também eventos como o afunilamento genético devido a doenças e a venda dos animais. Foram encontrados três alelos privados, sendo um para o loco ILSTS11 (274) que foi encontrado no rebanho de Teresina, um para o loco ETH225 (184) no rebanho de José de Freitas e um para o loco OarfCB48 no rebanho de Angical. No entanto, uma análise com amostragem mais abrangente será necessária para comprovar a ausência destes alelos nas outras populações. Os valores de PIC variaram de 0,1316 a 0,7223 (Tabela 2). Os locos McM527, INRA23, OarfCB304 e OarfCB48 tiveram PIC acima de 0,5 sendo considerados informativos, portanto, mais indicados para o estudo da diversidade genética de caprinos Anglonubianos. No entanto, como já mencionado, outros fatores devem ser considerados para a escolha do marcador (MOAZAMIGOUDARZI et al., 1994). Os demais marcadores foram considerados medianamente informativos. As proporções ao equlíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) dos locos para cada população de caprino Anglonubiano está representado na Tabela 4. Os locos ETH10, OarfCB304 e MAF209 mostraram-se em EHW em todas as populações, quando consideradas isoladamente. Menezes et al. (2006) também encontrou o loco OarfCB304 em equilíbrio de Hardy-Weinberg para todas as populações de cabras brasileiras estudadas. O número de locos que apresentaram desvios significativos do equilíbrio de Hardy-Weinberg foi reduzido, levando em conta cada população. Na população de Teresina todos os locos estão de acordo com as proporções ao EHW, podendo indicar a ocorrência de acasalamentos aleatórios na população, bem como baixo fluxo gênico (ausência de introgressão de animais geneticamente distintos oriundos de outras localidades em período recente). Segundo Menezes et al. (2006) o número pequeno de microssatélites em desvio ao EHW podem ser esperados tanto em populações comerciais, com acasalamento dirigido (o caso estudado), como para populações ameaçadas de extinção. Considerando o valor total, apenas os locos ILSTS11, ETH10 e MAF209 se encontraram em EHW. Os desvios significativos do EHW podem ter sido causados pela não amplificação ou presença de alelos nulos, por migração ou fluxo gênico, ou ainda pelo tamanho amostral das populações. Em concordância com estas hipóteses, os resultados da análise no 35 software MicroChecker indicaram evidências de alelos nulos para todos os locos que apresentaram desvios significativos para o Equilíbrio de Hardy-Weinberg. De acordo com as análises realizadas, é possível que o equilíbrio possa ser alcançado na presença dos alelos não amplificados. Tabela 4: Teste exato de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (p-valor) para cada loco dentro de cada população (valores não significativos encontram-se em negrito) Locos Angical ILSTS11 1,0000* ETH225 0,0222 José de Freitas Teresina Campo Maior Total - 1,0000* 1,0000* 0,4265* * 0,0000 - 0,0000 0,0000 McM527 0,0000 0,3729 * 0,0000 0,0000 INRA23 0,0054 * 0,0056 0,0000 ETH10 1,0000 * 1,0000 * OarfCB304 0,0264* OarfCB48 1,0000 MAF209 0,6527 * 0,6816 0, 0191 * 0,2047 * 0,6496 1,0000 * 0,1073 0,4333* 0,1027* 0,1867* 0,0000 * 0,0026 0,6666 * 0,0000 * 0,0341 * 0,5381 * 0,2829 * 0,0894 * 0,3916 * * O valor nominal a 5% de probabilidade foi 0,00625. “-“ alelo fixado; analise não realizada. Estes resultados poderiam, também, explicar os baixos valores de heterozigosidade média observada (0,3376), variando de nenhuma heterozigosidade para o loco ETH225 até 0,5385 para o loco MAF209 (Tabela 2). A estruturação genética entre as populações foi investigada pela estatística de Nei para cada loco (Tabela 5). O coeficiente de diferenciação genética corrigido (GST’) para os oito locos estudados através de bootstrapping, com intervalo de confiança de 95%, diferiu de zero, mostrando diferença significativa entre as populações estudadas. O valor de GST’ médio indicou que 11,9% da variação genética observada está estruturada entre populações e 88,1% dentro das populações analisadas (Tabela 5). Esse fato provalvelmente pode ser explicado pelo rodízio, troca ou venda dos animais (reprodutores) nas populações. De acordo com 36 Laval et al. (2000), nas populações comerciais, a migração tem efeito maior do que a mutação ou deriva genética na redução da diferenciação genética entre populações. Dos locos analisados 37,5% dos locos tivevam GST’ maior que 0,1. Os valores variaram de 0,032 no loco INRA23 e 0,309 para o loco ETH10. Tabela 5: Estrutura genética das populações de caprinos da raça Anglonubiana através das estatísticas de Nei (1973) para os 8 locos analisados. Loco GST’ GIS ILSTS11 0,080 0,023 ETH225 0,096 1,000 McM527 0,115 0,383 INRA23 0,032 0,389 ETH10 0,309 -0,089 OarfCB304 0,042 0,402 OarfCB48 0,170 0,317 MAF209 0,091 -0,198 Média 0,119 0,279 GST = estimativa de diferenciação entre as populações e GIS = deficiência ou excesso de heterozigotos. A diversidade genética entre as populações considerando cada população foi de 0,468 (Tabela 6), indicando média diferenciação entre as mesmas. O valor médio de GIS e FIS para todos os locos foi de 27% indicando deficiência de heterozigotos. Barker et al. (2001) encontrou FIS de 23% estudando raças asiáticas. Segundo esses autores, esses resultados podem ser explicados devido a subdivisão das populações, presença de alelos nulos, seleção contra heterozigoto, amostragem incorreta e fluxo de genes de uma população externa. No entanto, os locos ETH10 e MAF209 tiveram valores negativos (-0,089 e -0,198, respectivamente). O loco 37 ETH225 mostrou GIS de 100%, porém, o resultado reflete apenas o fato de que todos os indivíduos eram homozitos para o mesmo. Tabela 6: Estrutura genética das populações de caprinos da raça Anglonubiana considerando cada população. Populações DST FIS Angical do Piauí 0,437 0,329 José de Freitas 0,481 0,307 Teresina 0,433 0,118 Campo Maior 0,521 0,345 Média 0,468 0,273 DST= diversidade genética; FIS= índice de fixação Os locos que apresentaram GIS altos, também apresentaram desvios significativos do equilíbrio de Hardy-Weinberg. Caso os desvios sejam comprovados, isto pode refletir a ocorrência de seleção dirigida para essas populações ou efeitos de deriva. Tabela 7: Matriz das distâncias genéticas de Rogers (1972) modificada por Wright (1978), das quatro populações (diagonal inferior). Distâncias geográficas em km entre os municípios (diagonal superior). Angical Angical José de Freitas Teresina Campo Maior 172,5 123,8 201,3 52 70,3 José de Freitas 0,2213 Teresina 0,2747 0,2952 Campo Maior 0,2699 0,3352 80,7 0,2489 A maior distância genética foi entre os rebanhos de José de Freitas e Campo Maior (0,3352) e a menor entre os rebanhos de Angical e José de Freitas (0,2213) 38 (Tabela 7). Essas distâncias não estão de acordo com as distâncias geográficas. No entanto, os baixos valores obitidos, juntamente com os resultados mostrados para a estimativa de GST’ mostram que a diferenciação entre as populações estudadas é apenas incipiente. Este fato seria explicado pela alta frequência com que ocorrem as troca de animais ou rodizio de reprodutores entre as fazendas já que esses municípios ficam próximos uns dos outros. De acordo com as análises de UPGMA, os rebanhos de Angical e José de Freitas estão mais próximos geneticamente do que os rebanhos de Teresina e Campo Maior (Figura 6). As relações observadas na Figura 6 são semelhantes aos valores encontrados na matriz de distância genética, o que mostra a possibilidade de maior fluxo gênico entre os rebanhos de Angical e José de Freitas. Os valores de bootstrap foram baseados em 10.000 reamostragens, sendo encontrados valores menores que 0,5. Figura 6: Dendrograma construído para o método UPGMA para as quatro populações de Anglonubianos estudadas. 39 Figura 7: Dendrograma dos indivíduos como unidades taxônomicas pelo método UPGMA. Cor determinada pelo programa STRUCTURE (azul = José de Freitas; vermelho = Teresina; verde = Angical + Campo Maior). a = Angical, jf = José de Freitas, t = Teresina e cm = Campo Maior. 40 O dendrograma da Figura 7 mostra os indivíduos como unidades taxonômicas. A identificação do genótipo no dendrograma foi definida com a cor determinada pelo programa STRUCTURE para o grupo em que se enquadra o indivíduo. Observa-se a formação de três grupos (verde, azul e vermelho), no qual, verifica-se fluxo gênico entre os indivíduos das populações. E esse fato, ocorre possivelmente devido a proximidade geográfica dessas populações. O programa STRUCTURE foi utilizado com simulações de populações variando de K = 1 a K = 12 e mostrou que o melhor valor de ΔK para explicar o conjunto de dados fornecidos foi igual a 3 (ln P(X/K)= -1239,28) (Figura 8). O programa STRUCTURE possui a capacidade de inferir o número provável de subpopulações mesmo quando a diferenciação genética entre os grupos é baixa e utilizando um número de locos relativamente pequeno (LATCH et al., 2006 e SERRANO et al., 2009) (Figura 9). Figura 8: Representação gráfica do ΔK mais provável de acordo com Evanno, et. al. (2005). 41 Figura 9: Designação das populações de Anglonubiano usando a estrutura baseada na alocação das amostras para K=3. 1- Angical, 2- José de Freitas, 3-Teresina, 4- Campo Maior. Os rebanhos de José de Freitas (clusters azul) e de Teresina (clusters vermelho) apresentaram maior homogeneidade, quando comparados aos rebanhos de Angical e Campo Maior. Provavelmente devido à pequena quantidade de animais dos rebanhos, podendo resultar em alta taxa de endogamia. A proximidade geográfica entre os rebanhos levaria a uma baixa diferenciação entre as populações, fato encontrado nas populações estudadas. Desta forma houve pouca estruturação das populações estudadas. A diferenciação presente aconteceu provavelmente, devido à interferência humana através de cruzamentos dirigidos entre os animais destas populações. Nos rebanhos avaliados, por se tratar de animais puros, é comum a circulação de reprodutores entre eles, diferindo do que foi afirmado por Rocha et. al (2007) quanto a não ser prática comum no Nordeste a troca de reprodutores entre rebanhos. Outro aspecto importante, é que os rebanhos estudados comercializam animais de reprodução em Feiras Agropecuárias, logo necessitam de animais com padrão racial bem definido, ou seja, é importante a manutenção do fenótipo da raça, logo fixar alelos. Desta forma, os rebanhos são bem próximos. Castelo Branco (2011) também comenta que a maioria dos produtores de caprinos utiliza animais de reposição do próprio rebanho, ou adquirem reprodutores para reposição, provenientes de outros rebanhos, recorrendo à compra dos mesmos. Assim, a reduzida diferenciação genética entre os rebanhos pode ser explicada pela origem dos animais. Entretanto, em relação à formação dos rebanhos, convém considerar a afirmação de Silva et al. (2011), que estudando a caracterização zoosanitária da caprinocultura na microrregião de Teresina, afirmaram que para 42 formar os rebanhos de Teresina, Piauí, 93% das criações de caprinos utilizaram animais provenientes do próprio estado. Na formação dos rebanhos, também, foram usados animais provenientes de outros estados, sendo que os mais citados foram Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Sul. Em 13,3% dos casos, mostrou-se comum a aquisição dos animais de dois ou mais estados. 43 5. CONCLUSÕES Dos oito marcadores analisados neste estudo, apenas quatro apresentaram alto polimorfismo. Este fato pode ter ocorrido devido a três fatores, baixa amostragem utilizada no estudo devido a preferencia em amostrar os reprodutores e machos destinados a reprodução, da transferibilidade dos marcadores utilizados ou da base genética estreita dos animais amostrados. Foi possível observar por meio de diferentes medidas, que as populações estudadas apresentam maior variabilidade dentro dos rebanhos do que entre eles. Desvios significativos do equilíbrio de Hardy-Weinberg para alguns locos e valores de GIS positivos demonstram haver um nível de homozigose maior do que o esperado. Este resultado pode indicar a existência de acasalamentos preferenciais e seleção dirigida, tornado essas populações cada vez mais homogêneas. Mesmo nestas condições, observou-se um processo inicial de estruturação entre os reprodutores e fêmeas estudados, sendo indicado um princípio de divisão dos animais em três grupos existentes no Centro Norte do Piauí. As trocas de animais e o rodízio de reprodutores aliados à pequena distância geográfica entre as localidades amostradas explicariam tal padrão encontrado. O desenvolvimento de mais marcadores microssatélites específicos para raça Anglonubiana seria uma alternativa viável para contornar o problema de baixo polimorfismo e probabilidade de exclusão insatisfatória. 44 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARANTE, M. R. V.; WOMACK, J. E. Marcadores moleculares mapeados no cromossomo Y bovino, com emprego do painel de células somáticas híbridas irradiadas (WG-RH). In: V SIMPÓSIO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MELHORAMENTO ANIMAL. 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