O Jardim Olissiponense, exemplo de uso de plantas pouco exigentes em água, no Jardim Botânico da Ajuda Marta Salazar Leite1, Cristina Oliveira1, Ana Luisa Soares2, Filipe Soares3, Dalila Espírito-Santo2 1 ARQOUT, Edifício INOVISA, Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa 2 Centro de Investigação em Agronomia, Alimentos, Ambiente e Paisagem (LEAF - Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa 3 SIGMETUM, Edifício INOVISA, Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa Tendo como ferramentas o Mapa das Séries de Vegetação e o Mapa Biogeográfico de Portugal Continental, bem como as noções da fitossociologia dinâmico-catenal, desenvolveuse um projecto que pretende que em cada território homogéneo de um determinado território biogeográfico, para qualquer intervenção na paisagem, incluindo a construção de um jardim, se utilizem as plantas próprias da série de vegetação em que se insere o território em causa. No caso dos jardins, pretende-se que não se perca o continuum com a paisagem. É também o reconhecimento de que numa comunidade, por via dos processos de competição, o óptimo ecológico de cada planta acha-se deslocado relativamente ao fisiológico. Ou seja, a presença simultânea dos diversos indivíduos na comunidade altera os óptimos de cada um deles. Assim, o comportamento global da comunidade é a resultante de todos estes óptimos ecológicos, que num plano teórico será obrigatoriamente diferente da mera soma dos óptimos fisiológicos considerados só por si e, portanto, em vez de atendermos às necessidades edáficas de cada espécie ornamental, temos de atender às necessidades de cada comunidade natural aí instalada. Deixa de ser um jardim de plantas, para passar a ser um jardim de comunidades adaptadas ao território em causa. Um jardim natural, sustentável. Motivados pela importância desta questão, surgiu em 2011 um projeto de investigação, Paisagem e Jardins Sustentáveis, uma parceria entre Arqout (Arquitetos Paisagistas), Sigmetum (viveiro de plantas nativas) e Instituto Superior de Agronomia, para o levantamento, caracterização, experimentação, produção e disseminação de espécies indígenas. O projeto teve uma forte componente de investigação e trabalho de campo, para identificação das principais séries de vegetação e espécies características, bem como o seu potencial de produção em viveiro para posterior utilização em projectos de arquitectura paisagísta e recuperação da paisagem. Simultaneamente com o trabalho de investigação desenvolveu-se uma estratégia de sensibilização, divulgação e promoção de espécies autóctones centrada na construção de modelos de jardim, exemplos de aplicação da metodologia definida, surgindo em 2015, em conformidade, um ecojardim no Jardim Botânico da Ajuda. Pretendeu-se, a recuperação da zona de mata que sempre foi destinada a ter espécies nativas, de modo a ser uma amostra de um jardim construído com plantas autótones, recriando o ambiente fitossociológico da região. Este jardim, baptizado com o nome de Jardim Olissiponense, permite que os visitantes vejam a flora indígena da região de Lisboa e quais as combinações que resultam desta metodologia, de alto valor ornamental, associada a ganhos ambientais já conhecidos. O Jardim Botânico da Ajuda ficou com um novo ponto de interesse, pretendendo-se mostrar aos técnicos e ao público em geral, de todas as idades, que temos espécies nativas muito pouco exigentes em água, que têm considerável valor ornamental e podem ser facilmente encontradas no mercado.