GENÉTICA E EUGENIA: RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES NO ENSINO DE BIOLOGIA Eduarda Maria Schneider1 Mariana Bolake Cavalli 2 Elcidio Silva Cáceres 3 Deborah Cassiane Iansen 4 RESUMO: O subprojeto PIBID – Biologia - UNIOESTE, fundamenta-se no enfoque Ciências, Tecnologia e Sociedade (CTS). Neste subprojeto, são realizados estudos sobre temas de relevância social e formulados módulos didáticos utilizando a abordagem CTS, sendo estes aplicados em escolas de Educação Básica participantes do projeto. Este trabalho, objetiva investigar as relações interdisciplinares estabelecidas durante o desenvolvimento do módulo, na temática Engenharia Genética e Eugenia, com uma turma de terceiro ano do ensino médio de um colégio público de educação básica do oeste do Paraná, por meio da análise qualitativa de fragmentos transcritos da vídeo gravação. A análise dos resultados evidenciou que a aplicação do módulo possibilitou estabelecer relações entre conhecimentos das áreas de Biologia, Filosofia, Bioética, História, Saúde e Português, bem como contribuiu para o estudo contextualizado do tema e para formação de uma visão crítica sobre os conteúdos científicos e tecnológicos envolvidos. Palavras-Chave: PIBID; CTS; Interdisciplinaridade; Formação de professores; Ensino de Biologia. INTRODUÇÃO 1 Doutoranda em Educação para a Ciência e a Matemática (UEM). Docente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR. E-mail: [email protected]. 2 Mestranda em Educação na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR. E-mail: [email protected]. 3 Acadêmico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR. E-mail: [email protected]. 4 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR. E-mail: [email protected]. 233 Transformações políticas, econômicas, culturais e sociais na história da humanidade são determinantes para a complexa relação educação e sociedade, ao passo que, no desenvolvimento do sistema educacional, estabeleceram-se diversos setores e grupos de pesquisa que vêm discutindo acirradamente o papel da educação para a formação do cidadão contemporâneo. Apontam, ainda, a necessidade do desenvolvimento de práticas pedagógicas interdisciplinares que privilegiem a participação ativa dos alunos e que possibilitem a aproximação dos conteúdos científicos ao cotidiano do aluno, propiciando uma visão complexa da realidade (CALDEIRA; BASTOS, 2009). Ao acompanhar as tendências do ensino de ciências, fortemente influenciadas pelo contexto sócio histórico, observa-se que durante a Guerra Fria na década de 1960, com o modelo de sociedade de primeiro mundo pautado no progresso econômico da lógica capitalista de mercado de produção e consumo exacerbado e pelo impulso do desenvolvimento científico e tecnológico, houve grandes investimentos em projetos de reformas nos currículos de ciências com o objetivo de vivenciar o método científico e promover nos jovens o espírito científico que viabilizassem a formação de cientistas (SANTOS, 2011). Com uma organização social e um governo que necessitavam uma formação de recursos humanos em prol da valorização da ciência, iniciou-se de forma mais complexa e generalizada à cobrança para ampliação das escolas secundárias e também das vagas em todas as modalidades de ensino, possibilitando aguçar a formação científica (KRASILCHIK, 1988; AMARAL, 2000; VILLANI et al., 2002). Este é considerado por Santos (2011) como um dos objetivos da educação científica do século XX, onde grupos diversos defenderam tanto a formação especializada de cientistas como também a popularização científica para o público em geral. Segundo Leal e Souza (1997), a educação científica no Brasil é o reflexo do processo da globalização, Entendida como o que um público específico – o público escolar – deve saber sobre ciência, tecnologia e sociedade (CTS) com base em conhecimentos adquiridos em contextos diversos (escola, museu, revista, etc.); atitudes públicas sobre ciência e tecnologia e, informações obtidas em meios de divulgação científica e tecnológica (LEAL; SOUZA, 1997, P. 330). Se hoje a condição econômica e social de uma nação é diretamente determinada pelo seu aparato científico e tecnológico, cabe à escola a competência de formar indivíduos reflexivos e dinâmicos, aptos a compreender a realidade circundante e nela atuar. Seja na realização de tarefas rotineiras e opções de consumo, seja para incorporação no mundo do 234 trabalho, seja para interpretar e avaliar informações científicas veiculadas pela mídia, seja para interferir em decisões políticas sobre investimentos à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias e suas aplicações, ou ainda, para compartilhar a satisfação pessoal que pode produzir a compreensão do mundo natural (BRASIL, 1997), faz-se urgente uma formação científica eficaz necessária a todas as pessoas que buscam ascender e acompanhar o desenvolvimento social (CACHAPUZ, et al., 2005). Como afirmam Krasilchik e Marandino (2007), o domínio da linguagem científica é uma exigência ao cidadão do século XXI que queira compreender as mudanças por que passa a sociedade, posicionar-se perante elas e participar das decisões que a podem mudar. Assim, a escola precisa estar preparada para promover a ruptura das velhas práticas docentes baseadas tão somente na simples transmissão de conteúdos didáticos, sem conexão com o dia a dia do aluno e promover a verdadeira alfabetização científica (BATISTA FILHO et al., 2012). Segundo Santos (2011) entre as décadas de 1960-1970, com o agravamento de problemas ambientais e a obsolescência programada do modelo econômico e do consumismo exacerbado, o movimento de educação científica passou a caminhar junto com os ideais do movimento CTS em uma perspectiva de formação para a cidadania, ou seja, para o comprometimento social. O movimento CTS surgiu neste contexto, com críticas e questionamentos notórios ao modelo desenvolvimentista baseado na perspectiva salvacionista, determinista e neutra de que a maior produção científica e tecnológica seria a solução de todos os problemas sociais e ambientais. O ensino articulado ao enfoque CTS busca promover na escola o interesse dos estudantes em relacionar a ciência e a natureza do conhecimento científico com os aspectos tecnológicos e sociais, aproximando estes conhecimentos a situações cotidianas e éticas do aluno, para formar cidadãos com capacidade de tomar decisões e desenvolver seu pensamento crítico, como afirmando por Auler (2007). O mesmo autor ainda aponta que uma das dimensões almejadas entre as repercussões deste enfoque, consiste na interdisciplinaridade, cujo objetivo é romper com a excessiva fragmentação disciplinar e buscar no trabalho coletivo a superação da tradicional divisão entre as ciências humanas, naturais e exatas, bem como, auxiliar na construção do conhecimento do aluno de forma integrada, contribuindo com a formação integral do aluno e sua capacidade de integrar conhecimentos de diversas áreas para resolver problemas práticos e atuar no seu cotidiano de forma consciente e responsável. 235 O contexto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência PIBID e a proposição do subprojeto PIBID/Biologia/Unioeste O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência, iniciado no segundo semestre de 2007 tem como foco que as universidades estaduais e federais elaborem projetos voltados à articulação entre as Instituições de Ensino Superior – IES com as Escolas de Educação Básica - EEB promovendo atividades que contribuem tanto para formação inicial dos alunos, como na formação continuada de professores (SCHEIFELE, 2014). O subprojeto Biologia (PIBID/Biologia), no ano de 2014 utilizou um enfoque teórico e metodológico baseado nas relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) que visa o ensino de ciências numa perspectiva integrada, possibilitando preparar o aluno para o exercício da cidadania (SANTOS; MORTIMER, 2002). Para isso, o ensino nesta perspectiva visa proporcionar uma visão crítica de ciência e tecnologia e suas implicações no contexto social (SANTOS; MORTIMER, 2002). Segundo Santos e Mortimer (2002), para trabalhar o enfoque CTS, é necessário a utilização de um tema de relevância social que deve ser discutido pelos alunos, propiciando a tomada de decisão. Além disso, é importante buscar a interdisciplinaridade e evitar a fragmentação dos conteúdos, principalmente entre ciências naturais e ciências humanas (AULER, 2007). Segundo Auler (2007), há um direcionamento, a partir do tema social, dos conteúdos disciplinares que interagem entre si. Para isso, é necessário um trabalho coletivo entre a comunidade escolar, possibilitando que todas as áreas do conhecimento trabalhem em conjunto. Apesar da orientação das disciplinas na perspectiva CTS visarem uma integração entre ciência, tecnologia e sociedade, enfatizando os aspectos sociais e utilizando conhecimentos científicos para exercer a cidadania a partir da tomada de decisão consciente e na participação dos debates éticos, políticos e sociais, os conteúdos científicos não devem ser esquecidos. A temática social apresentada no módulo didático aplicado aos alunos da escola pública estadual participante do Subprojeto PIBID Biologia, teve como ponto inicial o tema social Engenharia Genética e Eugenia, o qual foi escolhido pelos alunos participantes do projeto por [...] ser um tema pouco abordado nas escolas e o mesmo [...] ajudaria a trabalhar com conceitos difundidos na mídia sobre uma ciência neutra e objetiva [...] 236 (MEGLHIORATTII; OLIVEIRA; SCHNEIDER, 2014), aplicando a abordagem aos alunos com a seguinte pergunta: Se existisse uma forma de melhorar biologicamente a população humana qual seria sua posição a respeito? (MEGLHIORATTII; OLIVEIRA; SCHNEIDER, 2014). Com este trabalho objetiva-se analisar as relações interdisciplinares possibilitadas na aplicação de um modulo didático elaborado na perspectiva CTS, evidenciando ainda a importância da contextualização e da interdisciplinaridade para a construção do conhecimento dos alunos sobre a temática Engenharia genética e Eugenia. METODOLOGIA A abordagem metodológica da pesquisa constitui-se da análise qualitativa dos fragmentos da transcrição da vídeo gravação do módulo didático sobre Engenharia Genética e Eugenia desenvolvido com alunos do 3º ano do ensino médio em um colégio estadual do oeste do Paraná. No tratamento e análise de dados utilizou-se a abordagem qualitativa que conforme Lüdke e André (1986) tem o ambiente natural como fonte direta de dados. A partir da transcrição da vídeo gravação do desenvolvimento do módulo didático, selecionou-se fragmentos dos diálogos interdisciplinares que são discutidos com base na literatura da área. A imagem dos alunos foram preservadas, sendo essencialmente analisado o áudio dessas gravações. Assim, objetiva-se investigar as reflexões dos alunos, os conhecimentos prévios acerca do assunto e a interdisciplinaridade entre os conteúdos. Nas transcrições os Pibidianos5 que aplicaram o módulo são identificados pela letra P seguida de numeração (P1, P2), os alunos da educação básica pela letra A seguida de numeração (A1, A2, A3...) para preservar a identidade e facilitar o entendimento nas discussões a seguir. RESULTADOS E DISCUSSÕES As atividades desenvolvidas possibilitaram diálogos entre os Pibidianos e os alunos da educação básica que correspondem à integrações interdisciplinares entre CTS que podem contribuir significativamente para a aprendizagem dos conteúdos em diferentes dimensões, 5 Acadêmicos participantes do PIBID. 237 científica, social, econômica, histórica, cultural. Trechos destes diálogos foram transcritos e discutidos a seguir. O módulo didático iniciou-se com a introdução da problemática social sobre o tema de Engenharia genética e Eugenia, que buscou incentivar a reflexão dos alunos sobre a sua opinião quanto ao melhoramento da população, causando assim curiosidade aos alunos. Fragmento 1. P1: Se existisse uma forma de melhorar a população, onde só nascessem pessoas bonitas, saudáveis, sem doenças, vocês seriam a favor ou contra? A3: Contra. Seria tudo igual. Aluno 4: Não, na saúde sim. A5: Na saúde sim, mas tudo igual não teria graça. A6: Na saúde sim, mas na beleza não. [...] A3: Por que todo mundo tem que ter olho claro? P2: Boa pergunta. Por que olho claro é melhor? A4: Mas quem disse que é melhor? Muito pelo contrário, tem mais dificuldade, principalmente mais na claridade, dói muito. Ao analisar a discussão inicial evidenciou-se que foi consenso entre os alunos a importância da heterogeneidade da população humana quando apontam que não seria viável que todos fossem iguais, ou seja, que o padrão estereótipo de beleza é pessoal, bem como, questionam o que torna uma característica melhor que outra, como por exemplo, o aluno que questiona o ideal de que o olho claro é o melhor. A conscientização da importância da diversidade biológica e a preocupação com a homogeneização da população é destacada por Zatz (2011) ao citar a fala de Craing Venter após o findo do Projeto Genoma Humano: “Isso mostra que somos substancialmente mais diferentes uns dos outros do que especulávamos, e isso é uma boa notícia para a humanidade”, acrescentando ainda a autora: “É essa variedade de aptidões físicas e mentais que confere às populações humanas suas possibilidades de responder aos desafios do ambiente, suas ferramentas para progredir em sociedade, desenvolver culturas ricas, criar e ter comportamentos diferentes” (ZATZ, 2011, p. 110), e ainda: “Portanto, todo tipo de homogeneização, destinada a contribuir para a criação de indivíduos iguais ou “normais”, ideais ou perfeitos, só tende a empobrecer a todos nós” (ZATZ, 2011, p. 110). Observa-se ainda que com relação a saúde os alunos apresentam opiniões favoráveis com relação à técnicas que poderiam proporcionar o melhoramento da população com relação 238 a doenças. No entanto, no fragmento 2 os alunos, mediados pelos questionamentos dos Pibidianos, evoluem para uma reflexão sobre questões culturais, éticas e de condições econômicas sobre o melhoramento da população humana, conforme exposto a seguir: Fragmento 2. P2: [...] Por que a gente não vê, por exemplo, um índio deficiente? A3: Por que eles matam. [...] P2: Vocês já viram um índio míope? Que usa óculos? Vários alunos: Não. [...] P2: Quem aqui já assistiu Uma Prova de Amor? P1: Aquele filme com a Cameron Diaz. Vários alunos: Ah sim. Sei. P1: Ela tem outro filho compatível pra doar tudo o que a filha doente precisar. A6: Eu acho errado. É como se fosse uma caixa de ferramenta, está precisando vai lá tira ali e pronto. Acho errado. P1: O que vocês acham sobre isso? A1: Mas é a realidade isso? P1: Existe mesmo. P2: E se, por exemplo, vocês tivessem um filho que tivesse, por exemplo, câncer igual à menina e vocês tivessem essa possibilidade de ter outro filho e selecionar esse filho pra que ele tivesse características compatíveis pra doar, por exemplo, ao outro filho para que ele sobreviva? Vários alunos: Vai matar um ou outro... P1: Seu filho que é grande que estaria vivo há dez anos com você teria uma chance de sobreviver. Vários alunos: Poderia pegar do filho dos outros? P1: Mas e se não acha compatível, por exemplo, a medula óssea. [...] P1: Mesmo da mãe, mesmo do pai, do irmão, muito difícil, até dos parentes é difícil. Por isso daí o que eles fazem? A4: Por isso que eles fazem uma fila de espera. P1: Por que daí lá você vai saber o tipo genético das pessoas do mundo todo e mesmo assim é difícil arrumar alguém compatível. [...] P2: Será que esse tipo de tratamento mesmo que fosse certo, será que todo mundo teria acesso a esse tipo de tratamento? Você por exemplo, saber que seu filho teria predisposição ao câncer, selecionar um embrião para que ele não tenha essa predisposição ao câncer. Será que todo mundo teria acesso a isso? Vários alunos: É caro isso? A5: É caro pra escolher as características do seu filho? A6: Pelo SUS ninguém faz. Vários alunos: Unimed, SUS só ricos. O início do fragmento 2 aborda o tema infanticídio, comum em várias culturas indígena, quando o bebê ao nascer com algum problema é morto/abandonado pela sua mãe 239 logo após o parto. Podemos notar a interdisciplinaridade entre o tema social do módulo e a cultura indígena mediante a reflexão dos alunos durante a aplicação do módulo. Em seguida, a partir da contextualização do filme “Uma prova de amor” entra em debate o câncer e sua predisposição, bem como transplante de órgãos, relacionando os conteúdos de biologia, saúde e ética. O desenvolvimento biotecnológico possibilitou identificar a presença de mutações germinativas em genes de susceptibilidade relacionados ao desenvolvimento de câncer. Para fazer um exame genético que possibilita identificar a predisposição do câncer, ou selecionar características em um embrião para que ele não tenha esta doença, por exemplo, tem um custo elevado, levando, assim, os alunos a discutirem sobre o SUS e que só as pessoas de classe econômica alta conseguiriam fazer estes tipos de procedimentos. No decorrer do módulo didático, foram ainda explicitados conceitos básicos da genética como gene, DNA, cromossomo, variabilidade genética e também foi abordado o projeto genoma humano, conforme visualizado no fragmento 3. Segundo Justina et al. (2011) uma boa fundamentação dos conceitos básicos da genética é fundamental para a compreensão da biologia molecular e das biotecnologias. Fragmento 3. P2: Bom dia. Bom, na aula passada a gente trabalhou com a seleção de características. A1: confirma o que foi visto na última aula. P2: Então. Essa seleção de características, na verdade é a seleção de genes. Mas na verdade, o que é um gene? Alguém sabe me dizer o que é um gene? Vocês já estudaram isso né? A1: É uma cadeia de moléculas igual aquelas que estão lá (referindo-se a imagem no slide). (outros comentários) P2: É uma cadeia? A1: Sim. P2: Mas aquele ali não é o DNA? A1: É, isso aí. A2: Mas ele quer saber o que é gene. A1: Então não sei. [...] P1: E como que acontece... a variabilidade genética? Como que acontece a fecundação? Não é o gameta do pai com o gameta da mãe? A2: É. (alguns comentários dos alunos) 240 P1: Que é alguma característica de cada um... (muita conversa dos alunos)... Então a partir do que acontece essa variabilidade genética? Através do crossing over. A2: Ah... Crossing over. P1: Como que acontece o crossing over? Vocês não lembram pessoal, isso eu expliquei pra vocês. (Conversa dos alunos) P1: Tem dois cromossomos. Como que é que eles vão... se misturar? Vai ser uma cromátide né, de um que vai passar pro outro né? E o que vai fazer... esse pequeno detalhe da genética vai fazer o que? Vai ser responsável pelo que? Pessoal, o que acontece se acontecer o crossing over? A2: O cromossomo de um vai passa pro outro. P1: Vai ficar misturado. (todos falam ao mesmo tempo) P1: Exatamente isso. Novas características. Vai ter troca... uh... de... das partes do material genético e vai surgir o que a partir disso?... surgir novas sequências de genes... entendeu? E a variabilidade genética vai aumentando por causa do crossing over. Outra atividade que evidencia a interdisciplinaridade de conhecimentos da genética, da biotecnologia, da bioética e da história foi a discussão de exemplares do Boletim de Eugenia que evidencia aspectos da história do movimento eugênico no âmbito brasileiro no final da década de 1920 e início de 1930. A eugenia muitas vezes é pouca ou nem é abordada na sala de aula, é necessário que os alunos entendam que ela aconteceu também aqui no Brasil e assim faz parte da nossa história. O principal foco desta problematização esta relacionado com os aspectos econômicos, éticos e principalmente bioético da pesquisa científica que envolve a manipulação biológica. Na continuidade das atividades foi exibido o filme “GATTACA: A Experiência Genética”, o qual aborda uma sociedade tecnológica dividida em classes de acordo com as características genéticas, permitindo vincular o filme assistido às discussões sobre o movimento eugênico realizada na aula anterior. O filme conta a história de Vincent Freeman, nascido de uma relação biológica e considerado imperfeito para os padrões da sociedade a qual pertencia. Vincent desde sua infância tinha o sonho de sair para uma viagem ao espaço, para isso desde cedo foi determinado, estipulando metas e as cumprindo cada vez com mais eficiência, igualando-se nas competições ao irmão Anton, que por ter sido geneticamente escolhido era dito como válido e perfeito. Ao longo do filme, Vincent assume outra identidade para ser aceito na empresa que faz as viagens espaciais. Com os avanços tecnológicos 241 buscamos uma forma de contextualizar os desafios da Filosofia do mundo contemporâneo com a ética e a ciência, articulando os conteúdos de Filosofia e ciências, mostrando a importância da Bioética para tecnologia e pesquisa com seres humanos. Os alunos após assistirem o filme e debaterem em sala de aula chegam à conclusão que não é justo classificar as pessoas de nenhuma forma, construindo argumentos críticos a respeito da manipulação genética. Ao final do módulo foi proposto aos alunos que produzissem um texto a respeito dos conhecimentos adquiridos durante o módulo, o qual possibilitou o posicionamento dos alunos a respeito da eugenia e a utilização da engenharia genética para melhoramentos genéticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A problemática social a qual foi inserida no âmbito escolar, Engenharia genética e Eugenia, proporcionou uma abrangente participação dos alunos com discussões e diversidade de opiniões sobre o mesmo, as quais foram analisadas por meio de vídeos gravações e transcrições das aulas. O tema se mostrou de pensamento crítico o qual leva o aluno a não depender de uma resposta pronta do professor, ou seja, resulta em uma tomada de decisão e, assim, adquirindo uma experiência nova de aprendizado e conteúdo. As relações interdisciplinares possibilitadas com a utilização da abordagem CTS na temática Engenharia Genética e Eugenia foram Biologia, Filosofia, Bioética, História, Saúde e Português. A interdisciplinaridade foi aceita pelos alunos e trabalhada de forma contextualizada fazendo com que não houvesse separação entre os conteúdos. Os conteúdos básicos trabalhados foram conceitos básicos da genética (cromossomo, DNA, gene, hereditariedade), manipulação genética, biotecnologias e Bioética, os quais foram abordados durante os debates em sala de aula em todo o desenvolvimento do módulo. Além disso, os conteúdos de ciências naturais foram abordados em seus aspectos históricos e filosóficos, o que possibilitou uma interação entre diferentes áreas do conhecimento. Para o rompimento de fronteiras entre as chamadas ciências humanas e ciências naturais, a interdisciplinaridade é importante possibilitando a interação das mesmas, contextualizando a construção do conhecimento do aluno de forma abrangente. 242 REFERÊNCIAS AMARAL, I. A. do. Currículo de Ciências: das tendências clássicas aos movimentos atuais de renovação. In: BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. (Org.). 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