A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
VIOLÊNCIA NO NORTE DO PARANÁ: HOMICÍDIOS
PEDRO HENRIQUE CARNEVALLI FERNANDES1
ANGELA MARIA ENDLICH2
Resumo: O artigo consiste de alguns resultados alcançados como Doutorando em Geografia pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM) e tem como objetivo apresentar a violência materializada
em pequenas cidades do Norte do Estado do Paraná, a partir dos casos de homicídios. O
levantamento ocorreu por meio de duas bases de dados: i) DataSUS, pelo Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde do Governo Federal, no período de 1996 a 2013, e ii)
Relatório Estatístico Criminal da Secretaria da Segurança Pública e da Administração Penitenciária
do Estado do Paraná, no período de 2012 a 2014. O Norte do Paraná representam pouco mais 30%
do território e da população paranaense e 186 municípios (46,6% do total). Os resultados comprovam
a existência de violência em pequenas cidades colaborando com a perspectiva de que o número de
habitantes não define se a cidade é segura ou não para se viver.
Palavras-chave: Norte do Paraná; Pequena cidade; Homicídios
Abstract: The paper consists of some achievements on doctorate in Geography from the State
University of Maringa (UEM) and aims to present violence materialized in small cities of Northern
Paraná, as from homicides. The search took place through two databases: i) DataSUS, the Mortality
Information System (SIM), Ministry of Health of the Federal Government, from 1996 to 2013, and ii)
Criminal Statistical Report of Secretariat of Public Security and Prison Administration of the State of
Paraná, from 2012 to 2014. Northern Paraná represents just over 30% of the territory and population
of Paraná and 186 counties (46.6% of total). The results show the existence of violence in small cities
collaborating with the prospect that the number of population does not decides whether the city is safe
or not to live.
Key-words: Northern Paraná; Small cities; Homicides
1 – Introdução
1
Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá
(UEM). E-mail de contato: [email protected].
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá
(UEM). E-mail de contato: [email protected].
279
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Este trabalho consiste de alguns resultados alcançados como Doutorando em
Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (PGE) da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), no qual desenvolve-se a pesquisa para a tese com a
finalidade de abordar a insegurança objetiva e a violência em cidades pequenas. A
perspectiva de leitura da Geografia da Violência e do Crime no recorte das
pequenas cidades procura apresentar um tema pouco explorado pela ciência
geografia que contempla, na maioria dos estudos, áreas metropolitanas e cidades
médias, como apresentado no IX Encontro Nacional da Anpege (FERNANDES;
ENDLICH,
2011),
e
realidades
conflituosas
e
socialmente
conturbadas,
desmistificando a cidade pequena como segura e tranquila para morar, como no
trabalho do X Encontro Nacional da Anpege (FERNANDES; ENDLICH, 2013).
Nesse sentido, a proposta de artigo tem como objetivo, após quase cinco
anos de pesquisas na pós-graduação, apresentar a violência concreta e
materializada em pequenas cidades do Norte do Estado do Paraná, a partir dos
casos de homicídios. São objetivos específicos deste artigo, avançar na questão
teórica da violência e debater a importância de considerar as pequenas cidades
como espaços problematizados dentro da violência e do crime.
Os procedimentos metodológicos utilizados foram: levantamento bibliográfico
acerca do tema; levantamento de indicadores sociais e demográficos sobre os
municípios do Norte do Paraná; levantamento empírico dos casos de homicídios a
partir de duas bases de dados: i) DataSUS, pelo Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, do Governo Federal, no período de 1996
a 2013 (até o mês de junho) – referenciado por Brasil (2015); ii) Relatório Estatístico
Criminal da Secretaria da Segurança Pública e da Administração Penitenciária do
Governo do Estado do Paraná, que fragmentou os dados por municípios a partir de
2012 e já disponibilizou os relatórios de 2012 a 2014 – referenciado em Paraná
(2015); elaboração de gráficos e quadros e, depois, da redação final do artigo.
O trabalho terá como foco o Norte do Paraná (Figura 1), compreendido neste
artigo por três mesorregiões (IBGE, 2008; 2010): Norte Pioneiro, Norte Central e
Noroeste, que representam pouco mais de 65 mil quilômetros quadrados (32,6% do
280
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
território paranaense), 3,26 milhões de habitantes (31,2% da população do Paraná)
e 186 municípios (46,6% do total estadual).
Figura 1. Paraná. Norte do Paraná
Fonte: Adaptado de IBGE (2008)
Nessa região do Paraná, a maioria dos municípios (92%) são polarizados por
pequenas cidades (utilizando como parâmetro cinquenta mil habitantes somado à
dinâmica na rede urbana), sendo dez municípios com mais de cinquenta mil
habitantes e outras cinco cidades (entre trinta e cinquenta mil habitantes) com
dinâmica regional na rede urbana do Norte do Paraná.
Segundo Endlich (2006, p. 23) a “presença dessas pequenas cidades é
explicada pelo processo de formação socioespacial da região, ocorrido no contexto
da economia cafeeira”. A maioria delas, com a queda dessa atividade agrícola,
enfrentaram um declínio populacional (alguns casos, inclusive, urbano) e um
verdadeiro esvaziamento dos aspectos funcionais (ENDLICH, 2006), ou seja, a
perda de serviços públicos e privados, inclusive de segurança e de laços primários
de sociabilidade.
281
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
2 – Discussão
Apesar da violência ser um campo amplamente discutido na sociedade, na
política, na imprensa e nos meios acadêmicos, ela não é algo exclusivo e oriundo da
sociedade atual. Contudo, foi com o capitalismo que ela foi ampliada. Por isso, o
debate teórico deste artigo transita, particularmente, pela violência, mesmo que
apresentado por breves discussões. A dificuldade em trabalhar com o tema, vem
gerando, recentemente, novos estudos relacionados à perspectiva da “insegurança
objetiva” e do medo, que parecem mais constante na atual fase da modernidade,
chamada por Bauman (2007, 2010), de líquida. Diante disso, o que se vem
percebendo no século XXI, é uma ampliação dos crimes em pequenas cidades e na
área rural, como mostram trabalhos acadêmicos no exterior, as mídias, os relatórios
das secretarias estaduais de segurança pública, os relatórios nacionais de
agressões (que resultam em homicídios) e os rankings de violência.
Semanticamente, o termo violência passou uma grande evolução, transitando
por perspectivas ideológicas, tipológicas e criminológica. Apesar disso, sua origem
vem do latim vis, com sentido de “força” (RIFIOTIS, 1999; MAGALHÃES, 2009).
Atualmente, assume diversos significados, sendo muito recorrente no senso comum,
e se materializando em diferentes representações sociais, dependendo da faixa
etária, do espaço habitado, da condição econômica, etc.
Uma interpretação conceitual é de que corresponde à relação social de um
indivíduo ou grupo impondo algo a outro indivíduo ou grupo (VIANA, 2002), sendo
que quando isso ocorre no espaço urbano ou como reflexo da organização do
espaço urbano, tem-se uma leitura da violência urbana (VIANA, 2002). Já nos
estudos de Silva (2004, p. 62), a violência urbana deve ser visualizada pela força
regente e organizadora das relações entre os habitantes do espaço urbano e na
imposição dele, ou seja, as cidades vivem “uma ordem social cujo princípio de
organização” é à força.
Bauman (2007) associa o tema à modernidade, especialmente pela
passagem da fase “sólida” para a “líquida”, transitando pela ineficiência do Estado
de garantir a segurança pública até o solapamento dos alicerces da solidariedade
social e do enfraquecimento das estruturas sociais. Diante disso, é provocativo o
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
conceito de “fobópole”, proposto por Souza (2008), entendido, por uma série de
motivos e argumentações, como a “cidade do medo” ou “medo da cidade” ou ainda
“uma cidade dominada pelo medo da criminalidade”.
Evidentemente, ainda se faz necessário muito debate sobre a violência na
ciência geográfica para entender – ou buscar novos caminhos teóricos e
metodológicos – a violência e suas múltiplas faces de interpretação. Numa corrente
mais simplificada, a violência pode estar relacionada pela materialização dos roubos
e furtos (inclusive em agências bancárias), das agressões e das brigas, dos
linchamentos, do tráfico de drogas ou outros vícios, dos homicídios ou banalização
da morte, entre muitos outros. Todos os citados materializam-se na sociedade. O
que deixa o debate mais complexo – e ao mesmo tempo mais desafiador – é o
campo das sensações/percepções e do medo que são diferentes entre as pessoas,
ou seja, a insegurança pode existir ainda que a violência seja irrisória ou nula.
3 – Resultados
Os levantamentos de homicídios nos 186 municípios no Norte do Paraná
mostraram que considerável parcela deles vivem em estado de emergência, com
epidemias de violência, já que superam, e muito, a taxa de dez homicídios para cada
cem mil habitantes tolerada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Inicia-se pela base de dados do Ministério da Saúde/DataSUS/SIM (BRASIL,
2015) para o período de 1996 a 2013. Nesse cenário, a taxa máxima tolerada pela
ONU foi adaptada para o período, atingindo 175,0 homicídios para cada grupo de
cem mil habitantes. Assim, 118 (63,5%) dos municípios do Norte do Paraná
apresentaram valores superiores a esse patamar tolerado. O Quadro 1 apresenta os
29 municípios (15,6%) com, no mínimo, o dobro da taxa de homicídios tolerada pela
ONU para cada grupo de cem mil habitantes no período de 1996 a 2013.
Entre os municípios listados, 11 (37,9%) têm menos de dez mil habitantes e
21
(72,4%)
se
o
patamar
máximo
passar
para
15
mil
habitantes.
O
demograficamente menor é Nova Santa Bárbara, de 3,9 mil habitantes (IBGE, 2010),
na décima quarta posição. Nova Tebas e Florestópolis, estudados em Fernandes
283
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
(2012), são os líderes do ranking, possuindo taxas 256% superiores aos valores
tolerados.
Município
Pop.
Taxa
Município
Pop.
Taxa
01 Nova Tebas
7.398
648,82
16 Cafezal do Sul
4.290
442,89
02 Florestópolis
11.222
623,77
17 Sertanópolis
15.638
434,84
6.759
577,01
18 Umuarama
100.676
422,15
04 Mariluz
10.224
567,29
19 Francisco Alves
6.418
420,69
05 Iporã
14.981
513,98
20 Londrina
506.701
415,43
06 Tamarana
12.262
513,78
21 Alto Paraíso
3.206
405,49
07 Jataizinho
11.875
513,68
22 Ibiporã
48.198
400,43
08 Sarandi
82.847
502,13
23 Xambrê
6.012
399,20
12.225
392,64
6.625
392,45
03 Itambaracá
09 São João do Caiuá
5.911
473,69
24 Jaguapitã
10 Cambé
96.733
473,47
25 Grandes Rios
11 Figueira
8.293
470,28
26 Andirá
20.610
388,16
12 Querência do Norte
11.729
468,92
27 Curiúva
13.923
380,67
13 São João do Ivaí
11.525
468,55
28 Rolândia
57.862
354,29
14 Nova Santa Bárbara
3.908
460,59
15 Mauá da Serra
8.555
455,87
29 São Jerônimo da Serra
--------------------------------
11.337
----------
352,83
---------
Quadro 1. Norte do Paraná. Municípios com maiores taxas de homicídios, 1996-2013
Fonte: Adaptado de Brasil (2015)
A violência em pequenas cidades do Norte do Paraná não representa uma
anomalia. A análise temporal no período de 1996 a 2013 mostra que os homicídios
mantém relativa constância no contexto municipal, com picos destoante em alguns
casos. A Figura 2 apresenta o histórico no número de homicídios, entre 1996 e
2013, nos cinco municípios, com menos de dez mil habitantes, com maiores taxas
de homicídios a cada cem mil habitantes, no período referenciado.
O município de Nova Tebas enfrentou homicídios em 14 anos (77,7%) da
série histórica. As exceções foram em 1997, 1998, 2007 e 2012. Entre 2000 e 2006,
a sequência de homicídios foi 2-4-2-2-6-3-8. Evidentemente, não são anomalias. É
algo constante. O mesmo modelo é observado em Itambaracá e Figueira. No
primeiro, não houve homicídio em apenas três anos e desde 2002 há homicídio na
cidade. No segundo, apenas em dois anos os valores ficaram zerados e em 14 anos
os homicídios superaram dois casos.
284
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Já a Figura 3 apresenta os dados absolutos de homicídios em três municípios
polarizados por pequenas cidades do Norte do Paraná que estão entre as trinta com
melhores indicadores de taxa de homicídios em grupo de cem mil habitantes, entre
1996 e 2013.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
Nova Tebas
Itambaracá
Figueira
Nova Santa Bárbara
07
08
09
10
11
12
13
São João do Caiuá
Figura 2. Norte do Paraná. Homicídios em algumas pequenas cidades, 1996-2013
Fonte: Brasil (2015)
285
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DE 9 A 12 DE OUTUBRO
6
5
4
3
2
1
0
96
97
98
99
00
01
02
Ariranha do Ivaí
03
04
05
06
07
Joaquim Távora
08
09
10
11
12
13
Astorga
Figura 3. Norte do Paraná. Homicídios em algumas pequenas cidades, 1996-2013
Fonte: Brasil (2015)
O município de Ariranha do Ivaí, de 2.453 habitantes (IBGE, 2010), é o que
possui a menor taxa entre todos os 186 municípios da região Norte do Paraná. A
série histórica dele revela que houve apenas um homicídio, em 1998, nos 18 anos
de dados. Outro exemplo é o de Joaquim Távora, de 10.736 (IBGE, 2010), que está
entre os 15 melhores. Nele existem anomalias, como 2007 e 2013, quando
ocorreram dois homicídios em cada ano. Finalmente, o terceiro modelo é o de
Astorga, de 24.698 habitantes (IBGE, 2010), e que enfrentou, em 2009, um surto de
violência (seis casos).
Analisando os dados oficiais divulgados pela Secretaria da Segurança Pública
e da Administração Penitenciária do Governo do Estado do Paraná, observa-se
poucas mudanças e as mesmas preocupações para uma parcela dos municípios da
região Norte do Estado. O órgão estadual passou a disponibilizar dados de
homicídios por municípios apenas a partir de 2012. O último relatório divulgado foi o
de 2014.
Para manter unidade nos procedimentos de análise dos dados, os homicídios
foram adaptados em taxas de homicídios a cada grupo de cem mil habitantes no
período, como foi realizado para a base federal. No caso dos dados estaduais, as
taxas de homicídios toleradas para o período de 2012 a 2014, em grupo de cem mil
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
habitantes, deveriam ser inferiores a trinta. No caso do Norte do Paraná, 107
municípios (57,5%) possuem valores superiores a ela – realidade melhor do que os
dados da base federal. O Quadro 2 apresenta os 42 (22,6%) municípios da região
Norte do Paraná com, no mínimo, o dobro da taxa tolerada pela ONU para cada
grupo de cem mil habitantes no período de 2012 a 2014.
Entre os municípios listados, quase metade possuem menos de dez mil
habitantes, inclusive a pequeníssima Nova Aliança do Ivaí, de 1,4 mil habitantes
(IBGE, 2010), na vigésima sétima posição. O que pode ser observado, também, é
que 18 municípios, das 29 vagas possíveis, aparecem em ambas as bases (federal
e estadual), o que atinge 62% de confluência dos dados.
Apesar disso, há uma possível sinalização na mudança do contexto de
insegurança em Nova Tebas, líder da base federal. Pelos dados do Governo do
Paraná, o município aparece apenas na 117ª posição, com dois homicídios no
período de 2012 a 2014, dado que melhora efetivamente o município no cenário da
segurança.
O Quadro 3 apresenta os municípios com maiores taxas de homicídios em
grupo de cem mil habitantes, por tipologia, em cada faixa populacional, entre 2012 e
2014. Os dois tipos apresentados são os de homicídio doloso e latrocínio. O
homicídio doloso ocorre quando “o agente quis o resultado ou assumiu o risco”
(BRASIL, 1984) de matar, ou seja, teve a intenção e não foi acidental como pode
ocorrer em alguns casos. Já o latrocínio ocorre quando a morte ocorre como um
meio (intencional) para que se alcance o roubo (BRASIL, 1996; FOLHA DE SÃO
PAULO, 2011).
287
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
Município
Mauá da Serra
Florestópolis
Santa Mônica
Tamarana
São Jerônimo da Serra
Paiçandu
Sarandi
Itambaracá
Alto Paraná
Alto Piquiri
Pres. Castelo Branco
Nova Santa Bárbara
Inajá
Iporã
Querência do Norte
Francisco Alves
Porecatu
Cruzeiro do Sul
Floresta
Paranacity
Cafeara
Pop.
8.555
11.222
3.571
12.262
11.337
35.936
82.847
6.759
13.663
10.179
4.784
3.908
2.988
14.981
11.729
6.418
14.189
4.563
5.931
10.250
2.695
Taxa
163,65
142,58
140,02
130,48
123,49
122,44
120,70
118,36
109,79
108,07
104,52
102,35
100,40
100,13
93,78
93,49
91,62
87,66
84,30
78,05
74,21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
Município
Jaguapitã
Andirá
Cambé
Cidade Gaúcha
Cafezal do Sul
Nova Aliança do Ivaí
Tapira
Santa Isabel do Ivaí
Mariluz
Manoel Ribas
Alvorada do Sul
São João do Caiuá
Ivaté
São Jorge do Patrocínio.
Cândido de Abreu
Guairaçá
Cornélio Procópio
Umuarama
Bom Sucesso
São João do Ivaí
Congonhinhas
Pop.
Taxa
12.225 73,62
20.610 72,78
96.733 72,36
11.062 72,32
4.290 69,93
1.431 69,88
5.836 68,54
8.760 68,49
10.224 68,47
13.169 68,34
10.283 68,07
5.911 67,67
7.514 66,54
6.041 66,21
16.655 66,05
6.197 64,55
46.928 63,93
100.676 63,57
6.561 60,97
11.525 60,74
8.279 60,39
Quadro 2. Norte do Paraná. Municípios com maiores taxas de homicídios, 2012-2014
Fonte: Adaptado de Paraná (2015)
Nota: Em itálico municípios que aparecem em ambas as bases de pesquisa
Faixa populacional
Até 5.000 hab.
5.000 a 10.000 hab.
10.000 a 15.000 hab.
15.000 a 25.000 hab.
Tipologia
Doloso
Latrocínio
Doloso
Latrocínio
Doloso
Latrocínio
Doloso
Latrocínio
Município
Santa Mônia (3º)
Pitangueiras (1º)
Mauá da Serra (1º)
Santo Inácio (5º)
Florestópolis (2º)
São Jerônimo da Serra (17º)
Andirá (28º)
Bela Vista do Paraíso (11º)
População total
3.571
2.814
8.555
5.269
11.222
10.678
20.610
15.079
Taxa
140,0
35,5
152,0
19,0
142,6
8,8
67,9
13,3
Quadro 3. Norte do Paraná. Municípios, por faixa populacional, com maiores taxas de
homicídios, por tipologia, 2012-2014
Fonte: Adaptado de Paraná (2015)
Os três municípios com maiores taxas de homicídios dolosos em cada grupo
de cem mil habitantes, entre 2012 e 2014, na região Norte do Paraná, são Mauá da
Serra, Florestópolis e Santa Mônica. Entre os municípios com mais de 15 mil
habitantes, Andirá é o que possui a maior taxa, apesar de aparecer em 28º lugar no
ranking geral. No quadro regional, quase cem municípios possuem taxas superiores
288
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
a trinta homicídios dolosos e, em contrapartida, apenas 38 tiveram taxa zero para o
período, ou seja, sem nenhum caso de homicídio doloso registrado pelo Paraná.
Curiosamente, não há repetição entre os líderes, por faixa populacional, para
os latrocínios. Por sinal, em apenas 36 municípios (19,3%) ocorreram esse tipo de
violência, mostrando que na relação com os homicídios dolosos, os latrocínios
possuem indicadores com valores significativamente mais baixos.
4 – Considerações Finais
As principais motivações para elaborar este artigo, dentro do universo parcial
de construção da tese, estão vinculados a preocupação com a materialização da
violência em espaços pouco contemplados pelos referencias teóricos e pelos meios
acadêmicos que estudam a Geografia da Violência e do Crime. Como já estudado
na perspectiva do sentimento de insegurança, optou-se neste artigo por falar em
violência concreta ou insegurança objetiva para fazer referência direta ao casos que
tem ocorrido em pequenas localidades. Obviamente, o aumento desses casos
implica, também, no aumento significativo da insegurança de modo geral.
Ainda que exista uma série de questionamentos acerca do conceito de
violência, sua interpretação subjetiva e de senso comum, o levantamento de dados
revelou que moradores de diversas cidades convivem com uma realidade
desagradável e preocupante: homicídios constantes.
Os resultados alcançados demonstram, por exemplo, que a primeira colocada
na base federal de dados, Nova Tebas (7,3 mil habitantes), possui indicador 56%
maior que o de Londrina (20ª lugar) e 146% maior que de Maringá (107ª lugar).
Outras também chamam a atenção, como de São João do Caiuá (5,9 mil habitantes)
em nono lugar e Nova Santa Bárbara (3,9 mil habitantes) em décimo quarto lugar. A
semelhança nos resultados da base estadual de dados foi superior a 60%. Portanto,
as pequenas cidades fazem parte desse contexto, sendo que não é o número de
habitantes que define se a cidade é segura ou não para se viver.
Numa análise mais profunda, a existência, cada vez mais da violência, tem
desdobramentos, entre outros, na sociabilidade positiva dos moradores de pequenas
cidades, reconhecidas, por sinal, como espaços de vizinhança, de confiança e
289
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
tranquilidade. Logo, os moradores tendem a se tornar mais fechados, deixam de se
falar cada vez mais e, principalmente, consomem raramente os espaços lúdicos que
deveriam ser utilizados para as manifestações da sociabilidade.
Corroboram com o debate a ausência de políticas públicas de segurança por
parte do Estado, particularmente, como equipamentos e serviços de qualidade e
suficientes para proteger a sociedade. Por isso, os resultados mostraram que há
muito que se fazer em municípios do Norte do Paraná. Há, também, necessidade da
universidade ampliar o debate acadêmico para esses espaços, contribuindo, assim
com a realidade social em totalidade.
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