erosão genética e segurança alimentar

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EROSÃO GENÉTICA E SEGURANÇA ALIMENTAR 1
Valter Luís Barbosa
Doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Professor do curso de Agronomia
FIB - Faculdades Integradas de Bauru – SP.
[email protected]
Rosângela Cristina Vidotto
Aluna do curso de Agronomia
FIB – Faculdades Integradas de Bauru - SP.
[email protected]
Tatiane Pascoto Arruda
Aluna do curso de Agronomia
FIB – Faculdades Integradas de Bauru – SP.
[email protected]
Resumo: A erosão genética e a soberania alimentar no país, vem sendo retirada
pelas grandes empresas do setor de agrícola, das mãos de agricultores inseridos
na agricultura familiar que aplica técnicas de cultivo dentro dos conceitos da
agroecologia. A perda de muitas espécies alimentares se deve principalmente
pela modificação genética aplicada a essas cultivares com o objetivo de
transformar essas espécies em propriedade genética sob o registro de patentes
por essas empresas. O presente trabalho discute a aplicação da agroecologia e o
poder de conhecimento do agricultor que se torna necessário nas práticas
corretas de produção agrícola, onde poderá ele produzir sua própria semente e
armazenar para posterior plantio em cada ciclo de cada cultura, tornando-o
detentor de sua própria semente e da segurança alimentar de todos que estão
envolvidos em sua cadeia de produção, assegurando a biodiversidade genética
local. A partir da introdução de qualquer modelo de agricultura dentro dos
conceitos agroecológicos visa á autonomia e segurança alimentar do agricultor
familiar e de todos que se encontram inseridos no mesmo processo.
PALAVRAS CHAVE: Erosão genética. Segurança alimentar. Agricultura familiar.
Sustentabilidade.
Área de conhecimento: Outros.
1. Introdução
A agroecologia tem sua base estruturada em práticas agrícolas
relacionadas com o conhecimento agronômico, ecológico e a conhecimento
empírico acumulado por várias gerações de agricultores e comunidades
tradicionais no decorrer de anos, décadas e até mesmo séculos, mantendo o foco
sempre na preocupação com a produção de alimentos ecológicos com manejo
sustentável do agrossistema em que está inserido.
1
O presente artigo foi apresentado no SICI 2015 – Simpósio Internacional de Ciências Integradas,
realizado na UNAERP – Campus Guarujá, em 2015.
Os caminhos da agricultura sustentável que aqui, será superficialmente,
destacados, além de evidenciarem a existência de diferentes formas de
pensamento em relação à produção agrícola, apontam para a importância da
compreensão sobre as formas como a política econômica se apropria e define
aos processos produtivos afim, de fortalecer os meios do capital na agricultura
familiar sustentável. O interessante nesse processo, é que isso ocorre,
geralmente, e totalmente fora das perspectivas e reais interesses da grande
maioria dos agricultores familiares e comunidades tradicionais, os quais são os
maiores responsáveis pela produção de alimentos no país e no mundo.
Ao defender e incentivar a produção de sementes crioulas na agricultura
familiar, a meta é sempre resgatar e estimular os valores da cooperação e
solidariedade junto às comunidades rurais, onde está toda força do resgate e
produção de espécies sementeiras que estão sendo extintas. O desafio de
resgatar e manter espécies de sementes ancestrais e locais só se torna viável,
através do manejo correto das práticas agrícolas respeitando o meio ambiente e
todas as formas de vida nele envolvido, resgatando e conservando valores,
conhecimentos, a cultura e a soberania alimentar dos povos.
Neste sentido, podemos dizer que a Agroecologia não é apenas produzir
sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos e organismos geneticamente
modificados. Mas é uma nova forma de se relacionar com a natureza e com o
outro. É o resgate do agricultor como protagonista do processo produtivo. É o
reforço a uma ética de respeito à vida em todas as suas expressões e ao ser
humano, construindo uma sociedade ecológica, justa e solidária.
Segundo Primavesi (2002), a Ecologia se refere ao sistema natural de cada
local, envolvendo o solo, o clima, os seres vivos, bem como as inter-relações
entre esses três componentes. Trabalhar ecologicamente significa manejar os
recursos naturais respeitando a teia da vida. A Agroecologia depende muito da
sabedoria de cada agricultor desenvolvida a partir de suas experiências e
observações locais.
A partir desta realidade é que buscamos desenvolver um sistema de
produção, beneficiamento e que tenha em seu principal objetivo fazer com que o
homem do campo possa ter uma forma de agricultura e de organização que
garanta a sua soberania alimentar.
Para Machado, Santilli e Magalhães (2008), o manejo da diversidade
genética de plantas requer uma constante interação do homem com o ambiente,
que influencia a construção dos agroecossistemas. Em áreas tropicais, os
estresses abióticos e bióticos produzem seus efeitos sobre tais práticas. Por sua
vez, os métodos ditos “modernos” de manejo da diversidade genética acabam por
dilapidá-la, ao promover a uniformidade genética e o desenvolvimento de
materiais genéticos altamente dependentes de insumos externos.
Um dos maiores problemas da humanidade hoje com relação a produção
de alimentos e sanar a fome do mundo está na mão das grandes empresas
multinacionais que juntas são detentoras da propriedade de mais de 70% das
variedades alimentares que estão em produção no mundo, onde afirmam que
conseguem produzir muito mais em menos espaço de terra, mas não conseguem
sequer acabar com a fome nos países onde está inserida sua maior produção.
2. Objetivo
O objetivo desse trabalho é mostrar, através da prática de manejo
adequado, a agricultura familiar e comunidades rurais, responsáveis por 90% da
alimentação que vai para a mesa do brasileiro, tenham o conhecimento
necessário para produzir sua própria semente e seu armazenamento, realizando
o plantio em cada ciclo de cada cultura, tornando-o detentor de sua própria
semente e da segurança alimentar de todos que estão envolvidos em seu
processo produtivo.
3. Revisão de literatura
Apenas em meados da década de 70 começaram a surgir preocupações
com os métodos convencionais de produção agrícola que afeta todo o
ecossistema inclusive a biodiversidade genética. A partir desse momento que
Instituições ligadas a Agroecologia iniciaram o processo de conservação de
sementes locais, nativas ou também conhecidas como crioulas.
A erosão genética (redução da variabilidade genética) está ligada a
diminuição da produção agrícola e ao aumento da suscetibilidade das plantas a
pragas e doenças. E a diminuição da diversidade genética de plantas torna o
abastecimento alimentar vulnerável e insustentável para suprir a falta de alimento
no mundo.
As causas da erosão genética são os processos de transformação das
práticas e dos sistemas agropecuários tradicionais, tais transformações provocam
a perda de conhecimento sobre espécies nativas e variedades locais e bem como
seus usos tradicionais.
Com essas mudanças bruscas o acervo mantido por agricultores familiares
vai sendo reduzindo gradualmente, onde o fator de exigências de mercado induz
o agricultor a deixar de plantar suas variedades adaptadas ao meio inserido, e dar
início a produção de cultivares comercial.
Para que se inicie todo um processo de recuperação de espécies genéticas
consideradas crioulas em locais que sofreram um processo de extinção dessas
variedades, torna necessário o desenvolvimento de algumas estratégias que
futuramente não venha afetar os aspectos ambientais, culturais, sociais e
econômicos, e todos os aspectos que envolvem a agrobiodiversidade.
A primeira condição de uma agricultura que seja fonte de saúde e de
realização humana resume-se em poucas palavras: respeito pelo homem e pela
vida. Não nos esqueçamos de que o agricultor tem, em suas mãos, não só a
saúde de seus contemporâneos, mas igualmente o futuro da humanidade.
(AUBERT, 1974, citado por BONILLA, 1992).
Sementes crioulas são aquelas sementes que não sofreram modificações
genéticas por meio de técnicas, como de melhoramento genético, inclusive, nesse
contexto, a transgenia. Estas sementes são chamadas de crioulas ou nativas
porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais,
como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos, agricultores familiares, etc.
Contudo, semente crioula ou nativa é um termo, pois não é reduzido
apenas a sementes em si, mas também pode se referir a plantas produtoras de
tubérculos, como batata, cará, mandioca, entre outros alimentos conhecidos. A
semente além de ser um alimento, representa muito mais, pois retrata a cultura de
cada comunidade, já que é por meio da alimentação que um povo mais expressa
sua cultura seu modo de viver.
A conservação dos recursos genéticos é atualmente uma das questões
mais importantes e controversas da humanidade. Em plena mudança global, onde
os ecossistemas enfrentam grandes mudanças climáticas e fortes pressões
antropogénicas, a erosão e perda de diversidade genética é uma realidade cada
vez mais atual e devastadora, causando prejuízos irreparáveis para o
agrobiodiversidade.
Segundo Almeida (2004), o contínuo e acelerado processo de erosão
genética verificado nos dias atuais coloca em risco a permanência desse curso
histórico co-evolutivo. Em decorrência dos efeitos da rápida e ampla
disseminação do modelo técnico-científico da Revolução Verde, as agriculturas, e
com elas as agrobiodiversidades (também no plural), vêm sendo padronizadas.
Esse modelo opera em escala global sob a hegemonia das nações ricas e suas
companhias transnacionais que, de forma voraz, buscam o controle tecnológico e
dos mercados. Por outro lado, se eximem da responsabilidade social e ambiental
pela perda do patrimônio genético desenvolvido pela humanidade no decorrer de
milênios.
Com todo esse sistema de deterioração da biodiversidade genética, muitos
movimentos, de forma silenciosa e pouco visível para o conjunto das sociedades,
desenvolvem estratégias de resistência. Estão envolvidos nesse processo,
aldeias e grupos, ou mesmo programas de desenvolvimento agrícola orientados
pelo enfoque agroecológico, que se fundamentam na revalorização das espécies
e variedades locais para que sejam estruturados agroecossistemas altamente
diversificados e pouco dependentes de insumos externos.
São experiências que procuram resgatar e multiplicar sementes e raças de
animais ainda presentes nas áreas rurais. Preservam também as espécies
silvestres que cumprem múltiplas funções para as famílias e comunidades rurais e
que vêm sendo paulatinamente eliminadas pela tendência à especialização dos
sistemas de produção e pela destruição dos remanescentes de vegetação natural.
Durante a década de 70 e início dos anos 80, a resistência a uma
privatização generalizada desembocou na primeira solução. Os recursos
deveriam ser de livre acesso nas duas pontas, foi o que declarou em 1983 a
Resolução Internacional sobre Recursos Fitogenéticos da FAO (Organização de
Alimento e Agricultura). Quase 10 anos mais tarde, a saída dada pela CDB
(Convenção da Diversidade Biológica) foi a segunda: privatizar nas duas pontas e
trocar tecnologia por acesso a recursos genéticos. Recursos genéticos não
seriam patrimônio da humanidade e sim objeto da soberania dos países em que
se localizassem. E a compensação pelo acesso a eles seria essencialmente a
transferência de tecnologia (CUNHA, 1999).
O desenvolvimento de modelos de tecnologias disponibilizadas a produção
agroecológicas adaptadas a cada tipo de região do país, e forma de utilização
dessas tecnologias por pequenos produtores são questões que precisam ser
amadurecidas com o intuito de melhorar a produtividade e a segurança alimentar
dentro do país, uma vez que quase todo alimento consumido internamente vem
da agricultura familiar.
Quando se analisam os limites do modelo tecnológico herdado da
Revolução Verde, e se examinam as propostas orientadas ao desenvolvimento
sustentável, se evidencia que a transição a uma agricultura de base ecológica não
é um processo unilinear, mas sim de múltiplas dimensões, o que refere a própria
complexidade da noção de sustentabilidade agrária, enquanto meta a ser
alcançada á médio e logo prazos (KHATOUNIAN, 2001, p. 82).
Manter seu banco genético acaba sendo uma grande dificuldade
encontrada, pois o pequeno agricultor se torna vulnerável as facilidades
apresentadas pelo mercado convencional de sementes tratadas com química,
hibridas e transgênicas.
A situação atual se faz necessário que uma verdadeira modernização da
agricultura seja realizada, exige que os princípios de manejo dos recursos
naturais e a seleção de tecnologias usadas no processo produtivo sejam o
resultado de uma nova forma de aproximação e integração entre as ciências da
ecologia e a agronomia. Os estilos de agricultura deverão ser compatíveis com a
heterogeneidade dos agroecossistemas, levando-se em conta os conhecimentos
locais, os avanços científicos e a socialização e o uso de tecnologias menos
agressivas ao ambiente e à saúde das pessoas.
Por mais que a agricultura moderna tenha avançado em técnicas que
procurem ultrapassar os limites estabelecidos pela natureza, a prática agrícola
continua a ser uma atividade essencialmente dependente do meio ambiente,
desarmando o otimismo exagerado dos que apostaram na possibilidade do
capitalismo superar os limites naturais. Esta constatação, embasada pelo
aumento crescente de problemas de degradação ambiental, aliada à má
distribuição da riqueza gerada a partir do processo de industrialização da
agricultura, justificou um aumento crescente da demanda por práticas alternativas,
ecologicamente equilibradas, para a produção agrícola, assim como pelo também
crescente, reconhecimento científico do potencial dessas práticas (USDA,1984;
ALTIERI, 1987; ALTIERI, 1995; NRC, 1989; LAMPKIN, 1990; EHLERS, 1996).
O futuro do Brasil esta ligado à sua terra. O manejo adequado de seus
solos é a chave magica para a prosperidade e bem estar geral. A natureza em
seus caprichos e mistérios condensa em pequenas coisas, o poder de dirigir as
grandes; nas sutis, a potência de dominar as mais grosseiras; nas coisas simples,
a capacidade de reger as complexas (PRIMAVESI, 2002).
4. Conclusão
Podemos concluir com que a biodiversidade genética e segurança
alimentar esta nas mãos da agricultura familiar, por se tratar de modelos de
produção que visam formas alternativas com uma visão holística para a
propriedade rural bem como seus meios de produção dentro do contexto
sustentável.
A erosão genética é causada pelas grandes multinacionais do setor
agrícola, que tem como visão de agricultura como um ganho de capital tirando da
agricultura familiar a soberania alimentar.
A ciência agroecológica resgata, sob novas bases tecnológicas e
econômicas, a lógica da complexidade das sociedades camponesas tradicionais e
seu conhecimentos desprezados pela agricultura moderna como forma de vencer
o desafio de estabelecer uma agricultura sustentável. Integra para isto, princípios
ecológicos, agronômicos e socioeconômicos, como forma de melhor entender o
efeito das tecnologias sobre a produção agrícola e a sociedade como um todo em
manter a biodiversidade de genética vegetal, impulsionado a garantir a soberania
alimentar das comunidades.
5. Referências
ALMEIDA, P. Revalorizando a agrobiodiversidade. Agriculturas - v. 1. nº 1 novembro de 2004.
BONILLA, J. A. Fundamentos da agricultura ecológica: sobrevivência e
qualidade de vida. São Paulo. Ed. Nobel, 1992.
CUNHA, M. C. Populações tradicionais e a convenção da diversidade
biológica. Estudos avançados 13 (36). USP. São Paulo, 1999.
EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo
paradigma. São Paulo. Ed. Livros da terra, 1996.
KHATOUNIAN, C. A, A reconstrução ecológica da agricultura. Ed.
Agroecológica, 2001. Botucatu, SP.
MACHADO, A. T. et al. Agrobiodiversidade com enfoque agroecológico:
implicações conceituais e jurídicas. Brasília, DF. Embrapa Informação
Tecnológica, 2008.
PRMAVESI, A. M. Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais.
São Paulo. Nobel, 2002.
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