XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 A APLICAÇÃO DA GESTÃO DE PROCESSOS EM UMA ORGANIZAÇÃO TIPICAMENTE FUNCIONAL Adriana Erler Vaccari (Fiocruz) [email protected] Daniele Alves de Oliveira (Fiocruz) [email protected] Rosane Cuber Guimarães (Fiocruz) [email protected] Rafael Paim Cunha Santos (Cefet-RJ) [email protected] O presente trabalho analisa uma organização e suas limitações frente à gestão funcional. Expõe os pontos positivos e negativos deste modelo e propõe a gestão de processos como forma de ampliar, melhorar e uniformizar o fluxo das informaçõess e tomadas de decisão em um processo produtivo, bem como a forma de priorização das atividades a serem executadas otimizando tempos e equipamentos. Na organização em questão, as atividades produtivas ocorrem mediante o recebimento de programações de produção, onde cada área coordena apenas as suas atividades, sem se preocupar com o antes e o depois. Desta forma ocorrem a formação de feudos e a dificuldade de priorização dos processos, visando apenas os ótimos locais. Com o acompanhamento das atividades e processos por áreas, percebeu-se que as particularidades mencionadas não eram factíveis e que a gerência de processos poderia auxiliar na melhoria dos desempenhos. Desta forma propõem-se a coordenação das áreas, não mais por linhas de produto, mas sim por processos, acompanhando particularidades existentes. Palavras-chaves: processos, gestão de processos, produção. XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 1. Introdução A essência da gestão de processo é a coordenação das atividades realizadas na empresa, em particular aquelas executadas por diversas equipes em diversas unidades organizacionais (GONÇALVES, 2000B). Lidar com a interdependência entre estas atividades e os recursos da organização tem sido um desafio diante das estruturas organizacionais centrada em silos funcionais e em lógicas hierárquicas (RUMMLER & BRACE, 1995; GALBRAITH, 2000; PAIM, 2002; HARMON, 2003; SMITH & FINGAR, 2003; PAIM, 2007). A estrutura organizacional faz parte do projeto organizacional e influencia sobremaneira a forma como os processos são gerenciados, uma vez que representa como a organização divide e coordena o trabalho para atingir um dado propósito. Assim, é uma representação de quais são as unidades organizacionais existentes e como estas se desdobram ao longo dos níveis hierárquicos da organização. É através de um organograma que a instituição comunica, aos seus funcionários e às pessoas externas, como o trabalho é dividido ao longo das unidades organizacionais – ou simplesmente “quem faz o que” – e também quais são as linhas de autoridade, - ou seja, “quem manda em quem”. (PAIM, 2007). Segundo Hammer (2007), a transformação a partir de processos hoje é usada rotineiramente por empresas em todo mundo. Em praticamente todo setor, empresas de vários portes registram significativos avanços em custo, qualidade, velocidade, rentabilidade e outras áreas vitais ao focar, medir e reformular processos internos e de interação com o cliente. Embora projetos de mudança sejam difíceis de implementar, a mudança baseada em processos é especialmente difícil (HAMMER, 2007). Paim (2001) destaca que a gestão tradicionalmente funcional pode ser mudada para uma gestão orientada por processos, no sentido da agregação de valor que ocorre horizontalmente nas organizações. Com base nas informações sobre gestão de processos, avaliou-se a forma de coordenação das atividades em uma organização com modelo de gestão funcional e propôs mudanças nos direitos de decisão e fluxo de atividades. Para elaboração do trabalho observou-se o fluxo dos processos produtivos na organização em questão e sua forma de coordenação das atividades, o que resultou em conclusões rápidas: formação de feudos, dificuldades de priorização de processos, falhas na comunicação e quebra na hierarquia de decisão, entre outras. As atividades das áreas são programadas após o recebimento das programações de produção, realizadas pela assessoria responsável. Com base no que foi programado, cada área inicia a condução dos seus processos, sem se preocupar com o antes e o depois, visando apenas seu ótimo local. Esta sistemática vem trazendo conflitos de interesses e dificuldades na priorização dos processos, uma vez que se observa apenas cada parte e não o todo. Com o acompanhamento das atividades e processos por áreas, percebeu-se que as particularidades mencionadas não eram factíveis e que a gerência de processos poderia auxiliar na melhoria dos desempenhos. As linhas de envases poderiam ser separadas por produtos líquidos e liofilizados, diferenciando-se por tipo de embalagem - frascos ou ampolas. Com este alinhamento a proposta é coordenar os processos 2 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 vislumbrando o ótimo global, com um responsável para esta tarefa, o qual haverá maior facilidade em dissipar as dificuldades e priorizar o que deve ser priorizado. 2. Processos Dentre as diversas definições lidas sobre processo, foram descritas as que mais facilitaram o entendimento sobre o que a organização em foco neste trabalho realiza. Na concepção mais freqüente, processo é qualquer atividade ou conjunto de atividades que toma um input, adiciona valor a ele e fornece um output a um cliente específico. Os processos utilizam recursos da organização para oferecer resultados objetivos a seus clientes (HARRINGTON, 1993). Mais formalmente, um processo é um grupo de atividades realizadas numa seqüência lógica com o objetivo de produzir um bem ou serviço que tem valor para um grupo específico de clientes (HAMMER & CHAMPY, 1994). Em outra definição, os processos empresariais são atividades coordenadas que envolvem pessoal, procedimentos e tecnologia (MALHORTA, 1998 e GONÇALVES, 2000A). Um processo é, portanto, uma específica ordenação de atividades de trabalho através, do tempo e do espaço, com um início, um fim e um conjunto claramente definido de entradas e saídas: uma estrutura para a ação (DAVENPORT, 1993). Para compreender melhor os tipos de processos, é interessante separar os destinados a produzir bens e serviços oferecidos dos demais processos que ocorrem na empresa: os processos relacionados com a gestão da empresa e os de apoio aos processos produtivos (HARRINGTON, 1991), bem como os processos gerenciais e os operacionais. Conforme Paim (2007), os processos gerenciais resultam em capacitações de gestão e os processos operacionais resultam em capacitações operacionais que, em conjunto, resultam ou explicam o desempenho da empresa. Os processos de gestão estão relacionados com o gerenciamento da organização e visam promover com que atividades e recursos sejam, hoje e no futuro, realizados da forma mais adequada possível. Os processos finalísticos são relacionados com a produção e/ou entrega dos produtos e/ou serviços finais que a organização oferece. Os processos de suporte ou apoio dão suporte aos processos finalísticos e aos processos de gestão. Seguem uma lógica de viabilizar ou apoiar a realização dos demais processos. Os processos são a fonte das capacitações “específicas da empresa” que fazem a diferença em termos de concorrência, além da influência que podem ter a estratégia, os produtos, a estrutura e a indústria (KEEN, 1997). São ativos da organização e sincronizam outros ativos e aspectos de mudanças. Segundo Paim (2007) são considerados um framework para os demais componentes organizacionais. Para Netto (2006), a visão por macroprocessos de uma organização envolve três elementos necessários para descrever um negócio: o cliente, o produto e o fluxo de trabalho. Além destes, Paim (2007) propõe como necessário para “ver” os macroprocessos e chegar a uma orientação horizontal os seguintes pontos: ver como são realmente feitas as atividades que adicionam valor ao cliente, de forma independente das fronteiras funcionais; os colaboradores devem “ver” como seu trabalho se alinha com o processo transversal e como favorece o trabalho em equipe e, por fim; ver os relacionamentos internos e externos entre cliente-fornecedor, por meio dos quais são gerados produtos e serviços. Netto (2006) define gestão por processos como “enfoque sistêmico de projetar e melhorar continuamente os processos organizacionais, por pessoas potencializadas e 3 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 trabalhando em equipe, combinando capacidades tecnológicas emergentes e sob uma postura filosófica para a qualidade objetivando a entrega de valor ao cliente”. 2.1 Reengenharia de Processos Uma das abordagens para gestão de processos pode assumir uma lógica radical. Para criar um processo de alto desempenho a empresa precisa oferecer um ambiente propício (HAMMER, 2007). O projeto ou reprojeto das organizações deve considerar estratégias, competências, estrutura organizacional, indicadores de desempenho, de forma alinhada com os processos. A reengenharia de processos exige vastas mudanças organizacionais que costumam enfrentar resistência (HAMMER, 2007). Para que estas mudanças consigam ser implementadas também é preciso haver forte interesse da alta direção das organizações. Toda empresa precisa assegurar que seus processos sejam capazes de atingir um desempenho superior com o passar do tempo. Para que isso ocorra à empresa precisa desenvolver dois tipos de atributos: viabilizadores de processos, que são ligados ao processo em si, isoladamente, e capacitações organizacionais, que valem para toda a organização. Os cinco viabilizadores são: Desenho/projeto - abrangência da especificação de como o processo deve ser executado, de forma que o executante saiba o que está fazendo ou quando deve fazer; Executores - quem realiza o processo, sobretudo no tocante a sua capacitação e conhecimento devem ser adequados para evitar que sejam incapazes de implementar o desenho; Responsável - alto executivo com responsabilidade pelo processo e seus resultados, com autoridade para garantir que o processo dê resultados, de forma a não perder o rumo; Infra-estrutura - sistemas de informação e gestão que dão apoio ao processo, deve alinhar sua infra-estrutura (como tecnologia da informação e sistemas de RH) para respaldar o processo; Indicadores/métricas – medidas usadas pela empresa para monitorar/acompanhar o desempenho do processo ao longo do tempo, de forma a produzir os resultados corretos (PAIM, 2006 e HAMMER, 2007). Deve possuir ou adquirir capacitações organizacionais em quatro áreas: Liderança (altos executivos que apóiam a criação de processos); Cultura (valores como foco no cliente, trabalho em equipe, imputabilidade pessoal e disposição a mudar); Conhecimento/Expertise (capacitação e metodologias para a reengenharia de processos) e Governança (mecanismos para gestão de projetos complexos e iniciativas de mudança). Conforme Paim (2006) uma ação de redesenho da estrutura organizacional, a fim de buscar agilidade, flexibilidade e integração, deve ser baseada nas seguintes premissas: orientação de diretrizes estratégicas que estejam desdobradas na estrutura organizacional (GALBRAITH, 2000); entendimento da organização como um sistema, através de macroprocessos e seus respectivos processos detalhados (RUMMLER & BRACHE, 1995); identificação do cliente final, para o qual são gerados os produtos/serviços da organização (DAVENPORT, 1993, HAMMER & CHAMPY, 1994); estruturação transversal (por processos) complementar a estruturação funcional (CAULLIRAUX & CAMEIRA, 2000). Paim (2006) propõe uma separação entre melhoria de processos, redesenho e reengenharia, utilizando como critério o tamanho e a estabilidade do processo. Quando maior e menos instável o processo, mais a “reengenharia” seria adequada e o oposto para melhoria de processos, com o redesenho de processos ficando entre estes extremos. Para atuar sobre estes processos, são apresentadas algumas técnicas e ferramentas, tais como gestão e mensuração de processos, 4 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 redenho de cargos, automação por ERP (Enterprise Resources Planning) ou workflow, seis sigma, desconexões e carências, simplificação de processos e modelagem de processos. No redesenho dos processos, o modelo para análise de Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades (SWOT), proposto por Andrews (1971), reforça a relação estratégia-processo e a necessidade de análise externa e interna. Não há formalmente indicação que os processos transversais são elementos centrais para a identificação de forças e fraquezas internas, entretanto, a ferramenta pode seguir o paradigma da gestão de processos e incorporar a orientação dos processos e assim orientar e auxiliar na realização da tarefa e entendimento do ambiente interno e externo e desdobramento de orientações sobre o desenho de processos (PAIM, 2007). Com a intenção de olhar a organização internamente e identificar vantagens competitivas, Porter (1985) propôs a ferramenta “Cadeia de Valor Agregado”. Segundo Paim (2007), esta ferramenta sem dúvida se constitui como a principal forma de relacionamento entre a estratégia e os processos, e ainda que tenha suas limitações, permite a consolidação de uma trajetória que possibilita relacionar a macroeconomia com a microeconomia e depois a microeconomia com o ambiente interno da empresa, objeto principal da engenharia de produção e da gestão de processos. 2.2 Gestão de processos Tradicionalmente, as empresas ignoram seus processos, mas elas têm muito a ganhar ao se dedicarem a conhecê-los melhor (HAMMER, 1998). Segundo Paim (2006), a gestão de processos se divide em três grupos de tarefas: projetar, gerir no dia a dia e promover aprendizado. Estas incluem mensurar ou medir e melhorar os processos, com o interesse principal de usar metas e métricas para assegurar que funcionem como deveriam. Entender como funcionam os processos e quais são os tipos existentes é importante para determinar como eles devem ser gerenciados para a obtenção do máximo resultado. Afinal, cada tipo de processo tem características específicas e deve ser gerenciado de maneira específica (MARTIN, 1996). A gestão de processos pode alcançar e influenciar o projeto ou reprojeto de organizações orientadas numa lógica de processos, quando associada à compreensão da organização e suas relações, por exemplo, divisão do trabalho, alcance de controle, direitos decisórios, cultura, fluxos, natureza e complexidade do trabalho (SALERNO, 1999). O redesenho organizacional, orientado por processos, terá um corte horizontal, complementando o habitual corte funcional das estruturas muito hierarquizadas. Apoiará o dimensionamento de alocação de recursos humanos às etapas dos processos e, também, de forma simultânea, pode habilitar esforços para redução do tempo de atravessamento (lead time) para produção de produtos e serviços. Mudar a estrutura funcional da empresa para uma estrutura por processos implica definir a responsabilidade pelo andamento do processo, minimizar as transferências (para reduzir esperas, erros e fronteiras), maximizar o agrupamento de atividades e diminuir o gasto de energia (reunir as partes da empresa em menor número de locais ou empregar maciçamente os recursos de tecnologia de informação para diminuir gastos com transporte, armazenagem e deslocamento) (HAMMER, 1998). 5 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 A adoção do ponto de vista dos processos na gestão das empresas desenvolve e salienta a importância dos papéis ligados a processos, que incluem a liderança do grupo, a ligação entre as pessoas, a facilitação dos mecanismos grupais, o desenvolvimento de conhecimento, o gerenciamento das agendas de compromissos e o suporte ao funcionamento das equipes (GRAHAM, 1994). Isso implica treinamento e desenvolvimento das habilidades básicas em relações interpessoais, polivalência (multiskilling), treinamento interfuncional, solução de problemas, criatividade, coordenação e planejamento (MOHRMAN, 1995). O emprego do conceito de processos na estruturação das empresas também leva ao desenvolvimento da função do dono do processo, cujas atribuições essenciais são: garantir o andamento adequado ao fluxo do processo (pumping), a facilitação do relacionamento dos recursos aplicados ao processo (facilitating), a avaliação do funcionamento da empresa da perspectiva do processo e o aperfeiçoamento do funcionamento do processo (HAMMER, 1998). 2.3 Tecnologia da informação Basicamente, a tecnologia de informação dá suporte à coordenação das atividades dos processos, mas seu papel tem sido continuamente ampliado para apoiar o projeto ou desenho de processos, a criação e registro de conhecimento sobre os processos e a própria gestão dos processos no dia-adia (PAIM, 2007). A Tecnologia da Informação, em especial sistemas que integrem as informações que fluem nos processos, deve ser amplamente utilizada para facilitar a coordenação lateral entre as atividades (HAMMER, 1990; DAVENPORT, 1993 e GALBRAITH, 2000). A premissa do sistema de informação estar orientado pelos processos traz vantagens como a possibilidade de evitar sistemas redundantes, utilização de base de dados integrada e maior eficiência nos processos (PAIM, 2007). Cameira (2006) apresenta os vários impactos das redes de comunicação sobre os processos: Horizontalização da organização e, no limite, da cadeia de suprimentos, pela integração dos Sistemas Integrados de Gestão (SIG); Redução dos problemas advindos da separação geográfica de clientes, fornecedores, em outras unidades da empresa, governos, etc.; Facilidade de disponibilização da informação, auxiliando e descentralizando o processo de tomada de decisão; Aumento substancial da capacidade de comunicação da empresa, das pessoas, das comunidades; Disponibilização em tempo real (ou quase) da informação por todo o sistema de produção, integrado, do fornecedor ao cliente; Acompanhamento dos sinalizadores e da evolução dos indicadores importantes para a organização, apoiado pelos sistemas de Inteligência do Negócio; Montagem de estruturas ágeis de suporte a clientes e estruturas de marketing e vendas mais ágeis, mais eficientes, atuando de forma compatível com a capacidade de produção da empresa. Segundo Paim (2007), atualmente já é possível utilizar, associados aos sistemas de informação, aplicativos de acompanhamento automático do desempenho dos processos. As informações utilizadas para controle, quando formam um histórico, podem e são utilizadas para tomada de decisões inteligentes. Outra forma de acompanhamento e conhecimento dos processos é a modelagem de processos, na qual é possível identificar eventos que disparam e encerram a mensuração de indicadores de desempenho da organização. 6 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Os propósitos da modelagem de processos são: Melhor representar ou entender como uma organização funciona (ou alguma parte dela); Usar/explicar o conhecimento adquirido e a experiência para usos futuros; Racionalizar e assegurar o fluxo de informações; Projetar ou reprojetar e especificar uma parte da organização (aspecto funcional, comportamental, informacional, organizacional ou estrutural); Analisar alguns aspectos da organização (análise econômica, organizacional, quantitativa, qualitativa, layout e outras); Simular o comportamento de algumas partes da organização; Realizar melhores decisões sobre as operações e organização da empresa; Controlar, coordenar ou monitorar algumas partes da organização (isto é, alguns processos) (PAIM, 2007). Segundo Smith & Fingar (2003), os sistemas de gestão de processos possibilitam que as organizações modelem, disponibilizem e gerenciem processos críticos para sua missão, que podem estar distribuídos entre múltiplos aplicativos da empresa, departamentos corporativos e parceiros de negócio. 3. A Gestão de Processos na Organização A organização analisada tem foco na produção de imunobiológicos e realizada suas atividades finalísticas seguindo um fluxo básico de recebimento de pedidos - previsão da demanda, seguida das etapas de compras e análise dos insumos, ocorre a produção conforme o tipo de produto desejado e por fim a entrega ao cliente. Mudanças na estrutura da organização já aconteceram recentemente, o que mostra que a empresa busca melhoria contínua na coordenação e desempenho dos seus processos, embora tenham mantido um modelo funcional. A nova estrutura possibilitou enxergar que embora alguns processos apresentem particularidades, eles podem ser agrupados para melhorar a coordenação dos processos. Os processos produtivos nesta organização ainda não tinham sido modelados e com isso havia a dificuldade de observar as interfaces e os pontos de tomadas de decisão. Uma vez a elaborado o modelagem dos processos, observaram-se alguns cruzamentos durante as etapas de produção, por isso a intenção de coordená-los através da gestão de processos, uma vez que será possível avaliar quais situações são prioritárias para tomada de decisões, quais as mais corretas, ou de menos impacto. 4. A Coordenação das Atividades na Organização através da Gestão de Processos Para coordenar as etapas de produção segundo a gestão de processos, será proposta uma matriz forte para a área de produção. A idéia principal segue o modelo de uma estrutura matricial, na qual combina as características da estrutura funcional e por processos. A estrutura matricial forte se parece muito com uma estrutura processual e o gerente de processos possui grande autoridade, podendo alocar recursos de outras áreas ou mesmo contratar recursos externos para realizar o processo. A Figura 1 explicita a visão dos processos por função (A, B e C) e a gestão de processos, na qual existe um coordenador para o processo 1 e 2, que perpassa pelas funções da estrutura organizacional. 7 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Figura 1: A Visão dos Processos. Fonte: Adaptação de Rummler e Brache (1995) Para realizar a gestão de processos na organização em questão estruturou-se a Figura 2. As etapas realizadas na área de produção possuem semelhanças, conforme já mencionado, assim sendo foram montados dois processos: Produtos Liofilizados, considerado como Processo 1 e Produtos Líquidos, considerado como Processo 2. No Processo 1 – Produtos Liofilizados, cabe ressaltar que o Setor 4 não deve ser incluído no fluxo e, no Processo 2 – Produtos Líquidos as áreas que não devem ser incluídas no fluxo são os Setores 1 e 2. Para coordenação dos Processos 1 e 2, serão necessários gerentes de processos. Conforme uma organização matricial, os supervisores das linhas de envase se reportaram tanto ao gerente funcional quanto aos gerentes dos processos. O gerente de processo contribuirá para a construção de uma organização mais eficiente, melhorando as relações entre setores através do trabalho em equipe. Fica também com a responsabilidade de contratar e avaliar o desempenho dos “seus” profissionais. Um aspecto que será acentuado devido ao gerenciamento de processos é possibilitar um meio de soluções de problemas, de forma que as pessoas que fazem parte desta equipe possam identificar e definir a melhor estratégia de solução. Este último será a instância principal para monitorar a satisfação das áreas, acompanharão os processos de produção de líquidos e liofilizáveis, diferente dos supervisores que irão monitorar as linhas de envase. 8 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Figura 2: A organização e sua gestão de processos Visando um bom desempenho dentro da área em questão, avaliou-se que o gerente deve apresentar as seguintes responsabilidades principais: identificar metas a serem alcançadas, informar aos supervisores os encaminhamentos realizados na unidade, organizar atividades para alcançar estas metas, dar feedback, monitorar os resultados das atividades para assegurar que elas atinjam as metas definidas e, ainda, diagnosticar problemas e resolvê-los quando um resultado for inadequado. Nesta organização as áreas possuem supervisores diretos, a fim de acompanhar o dia-a-dia do trabalho garantindo que a programação de produção ocorra conforme planejada, auxiliem no atingimento das metas e na resolução dos problemas, garantir que as normas aos quais são subordinados sejam cumpridas e realizar melhorias nos processos, entre outros. Os supervisores têm foco local e a última palavra em caso de conflito entre as áreas funcionais fica com o gestor de processo. O alinhamento das metas fica sob responsabilidade da alta gestão. A criação de comitês estratégicos auxilia na definição de metas de alto nível, que são repassadas a unidade de processo, responsável pela cadeia de valor. Esta repassa metas para a equipe de processo. Os mecanismos de coordenação lateral promovem a comunicação e a integração entre as diversas áreas para o bom desenvolvimento das atividades. Além da montagem de uma estrutura matricial percebe-se que a área de produção precisa melhorar os mecanismos existentes tornando-os oficiais. Considerar-se-ão como coordenadores os supervisores de linha, para coleta e consolidação de informações, definição de planos de ação para solução de problemas e cumprimento das normas vigentes, e acompanhamento das atividades diárias de produção, entre outras. Entendem-se como times formais, as equipes dos processos, já estruturadas e treinadas para execução das atividades na área de produção. Com a nova visão de processos, estes funcionários, 9 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 se treinados e capacitados em outras áreas, poderão ser redirecionados conforme a necessidade, seguindo uma das características da multifuncionalidade. Em uma utilização correta da comunicação formal, todos os dados importantes da produção devem estar disponíveis para toda a organização, mas como as mudanças dentro da área de produção ocorrem freqüentemente, esta questão precisa ser mais bem estruturada. Nesta organização a mensagem eletrônica (e-mail) já está sendo considerada um veículo de informação formal, mas com a dimensão empregada, ela tem sido mais um fator complicador do que facilitador. E como isso se tornando uma comunicação formal induzida a informal. 4. Conclusões Com a gestão de processos as melhorais esperadas possivelmente serão alcançadas se outros fatores como os habilitadores de processo e as capacitações organizacionais também acompanharem esta mudança. Da forma como a área de produção está sendo coordenada atualmente (funcionalmente), as supervisões visam apenas o ótimo local e esquecem de ver o processo como um todo para atingir um ótimo global. Desta formam os problemas estão passíveis de acontecer e na realidade realmente acontecem, como gargalos na produção, sobrecarga de câmaras frias na produção e expedição, sobrecargas de equipes devido deficiência de pessoal, e até mesmo ausência de insumos, devida debilidade na comunicação entre a interface com as áreas de planejamento e compras de materiais. Para agilizar e melhorar o encaminhamento de certas atividades vinculadas à produção, a organização está implementando Postos Avançados das áreas de controle de qualidade e planejamento da produção, de forma que os funcionários destas áreas possuam atuar diretamente na produção, otimizando tempos e circulações de amostras e informações. Também para melhorar o desempenho das atividades realizadas nesta organização, como também a comunicação e gestão de informações e serviços (manutenção, validações e calibrações), a própria está modelando seus processos no âmbito do Projeto AIS (Arquitetura Integrada de Sistemas), que irá subsidiar as atividades de: Reprojeto Organizacional; Definição do escopo dos sistemas em aquisição (Sistemas de Intervenções, ERP (Enterprise Resource Planning), Atendimento ao Cliente, Planejamento Estratégico, etc.); Implantação de sistemas (Sistemas de Intervenções e ERP) e Avaliação de gaps de conhecimentos. A área interna de informática também está participando deste processo de melhoria através do desenvolvimento de sistemas. Escolher um dos processos mencionados neste trabalho e colocar um gestor de processo para coordenação do mesmo auxiliaria a organização em questão na melhoria de diversas dificuldades enfrentadas e discutidas. Este seria o início de uma mudança muito positiva e serviria como exemplo para futuras mudanças necessárias. O coordenador do processo teria as responsabilidades já mencionadas e tomaria ações com foco mais direcionado para o melhor global. Outro ponto que auxiliará a organização nesta melhoria está relacionado ao fato dela estar oferecendo para seus colaboradores cursos na área de gestão industrial, de forma a ampliar o nível de conhecimento das suas equipes, facilitando este processo de mudança. 10 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 5. Bibliografia ANDREWS, K., The concept of corporate strategy, Dow-Jones, Irwin, 1971. CAMEIRA, R., Aulas do Curso de Gestão de Processos de Negócios, COPPE/UFRJ, 2006. CAULLIRAUX, H. & CAMEIRA, R., A Consolidação da Visão por Processos na Engenharia de Produção e Possíveis Desdobramentos, Grupo de Produção Integrada/COPPE-EE//UFRJ, Rio de Janeiro, 2000. DAVENPORT, T., Natureza da Reengenharia de Processos. In: Reengenharia de Processos, Harvard Business School Press, Boston, 1993. GALBRAITH, J.R., Design the Global Corporation, Jossey-Bass, San Francisco, 2000. GONÇALVES, J.E.L., As empresas são grandes coleções de processos, RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, Vol.40 n.1, pp 6-19, Janeiro-Março, 2000A. GONÇALVES, J.E.L., Processo, Que Processo?, RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, Vol.40 n.4, pp 8-19, Outubro-Dezembro, 2000B. GRAHAM, M. & LEBARON, M. The horizontal revolution. 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