Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 REFLEXÃO SOBRE SUBSTANTIVO E ADJETIVO SOB PERSPECTIVA MORFOSSINTÁTICA E SEMÂNTICA Cybele Maria Martins UNICASTELO (DESCALVADO) Cíntia Lidiane Pizetta UNICASTELO (DESCALVADO) RESUMO O trabalho analisou as classes gramaticais: substantivos e adjetivos. Realizou-se um levantamento das definições delas em gramáticas tradicionais e em outros estudiosos e, tendo-as por base, discutiu-se sua aplicação em contextos de usos. Foram analisados principalmente exemplos de situações não referidos em algumas das obras citadas os quais requerem um conhecimento e uma visão mais amplos sobre a língua. A análise mostrou, então, substantivos e adjetivos que podem trocar de ‘classificação’ em virtude da função deles dentro de frases e de palavras compostas. Observou-se que, dependendo do contexto em que estão inseridos, as definições dadas pelas gramáticas não se aplicam a todos os casos. Palavras- chave: Definições; Contexto; Classes Nominais. REFLECTION ABOUT NOUN AND ADJECTIVE UNDER PERSPECTIVE MORFOSSYNTACTIC AND SEMANTICS ABSTRACT This research will analyze two grammatical classes: nouns and adjectives in use context. Realized it will be made a survey of existing definitions in traditional grammar and other studious of the language to after, having them as base, to argue its application in use of language contexts. It will be pointed and argued mainly examples of their use not referred in traditional grammar and in didactic participation in compound forms. Depending of the context in which they are inserted, we can observe that the tight definitions managed by the grammar don’t apply and thus are incompatible for these cases. Keywords: Definitions; Context; Nominal Classes. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página adjectives that can change from classification in virtue of function inside of a phrase and its 211 books of which request a wider knowledge and vision. The analyzes will show then nouns and Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 INTRODUÇÃO A pesquisa verificou as classes de palavras, substantivos e adjetivos, levando-se em consideração o uso delas em contextos, no intuito de se dar uma visão mais ampla já que em um ato de fala podem ocupar funções diversas das previstas em definições estanques que são encontradas em gramáticas tradicionais, geralmente na parte destinada à morfologia. Estas partem, na maioria das vezes, de palavras em frases escritas de autores consagrados para definirem e exemplificarem classes gramaticais e não propriamente do uso cotidiano delas na língua. Neste contexto, podem passar a ser consideradas de forma diversa do previsto já que há mutabilidade de função das categorias gramaticais na sua utilização no discurso; daí a importância de uma visão mais abrangente sobre o tema em questão. A elaboração deste estudo se deve justamente ao fato de que há pouca inclusão de dados a respeito de alguns usos dessas em gramáticas tradicionais, que são, geralmente, o material de trabalho e de pesquisa da maioria dos docentes pertencentes à rede de ensino fundamental e médio (de 1º e 2º graus). Desta forma, este artigo pretendeu aprofundar um pouco o conteúdo sobre o tema, fazendo-se uma análise de textos existentes em obras de estudiosos diversos e, a partir da averiguação de dados, fazer uma apreciação sobre usos que normalmente não constam em gramáticas e que merecem ser considerados como possibilidades da língua, pois estes fazem parte, também, do cotidiano do falante que os usa para se comunicar em quaisquer situações da sua vida, seja na modalidade escrita ou na oral. Inicialmente foi feito um levantamento do estudo diacrônico das classes gramaticais, verificando-se as vigentes no latim e no português, comparando-se, ainda, as mudanças na sua evolução principalmente em relação à classe dos nomes. A seguir, fez-se um levantamento das definições sobre as classes a partir de estudiosos, principalmente dos tradicionais. Após esse estudo, foi iniciada uma análise, constatando-se semelhanças e divergências entre elas. feita, ainda, análise da formação de compostos com substantivos+adjetivos e discutida a visão de estudiosos a respeito deles; estes podem ser considerados como sendo um único “termo” ou como palavras usadas juntas em frases. No final, foi feita uma reflexão sobre todos os resultados para, assim, se chegar a uma visão mais completa do objeto de estudo analisado nesta pesquisa. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página língua; a mudança de classe de um mesmo item lexical quando em funções diferentes. Foi 212 A partir daí, foram averiguadas possibilidades de mudanças dessas classes no uso da Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 DESENVOLVIMENTO Qualquer campo de conhecimento envolve um conjunto de entidades que tem função e se organiza em classes. Estabelecer categorias é uma das mais básicas capacidades do ser humano e é devido a isso que ele consegue diferenciar entidades linguísticas referentes a elementos da realidade de formas diferentes. Por esta razão, as chamadas palavras de uma língua se agrupam em categorias (MOURA NEVES, 2002). Os vocábulos são distribuídos em classes de acordo com a idéia que expressam. Desde a Antiguidade havia essa preocupação. A classificação de Aristóteles, dividia as palavras em nome, verbo e partícula e esse estudo tem, de certa forma, influenciado reflexões sobre o assunto ao longo do tempo. (BIDERMAN, 2001) A autora diz, ainda, que a gramática latina já as separava em oito “partes orationes”, conforme segue: “nomina = nomes; pronomina = pronomes; verba = verbos; adverbia = advérbio; participia = particípio; coniutiones = conjunção; praepositiones = preposições; interienctiones = interjeições” (op.cit., p. 218). Também afirma que os gramáticos latinos medievais incluíram na listagem novas classes ao distinguir os adjetivos dos substantivos na dos nomes. Desde essa época, porém, substantivos e adjetivos, embora separados pela significação/função, ainda mantiveram alguma relação. Devido à evolução histórica da língua portuguesa, duas novas classes foram, mais tarde, introduzidas: numerais e artigos. A nomenclatura oficial brasileira, datada de 1958, tem servido de apoio à terminologia empregada pelas gramáticas normativas. A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) (Portaria Ministerial de 28/1/1959- apud BIDERMAN,2001, p.246) atualmente reconhece dez classes de palavras: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção,interjeição. Hoje, os estudos a respeito das classes de palavras estão cada vez mais avançados deixando de ser apenas foco dos gramáticos que veem, na maioria das vezes , por exemplo, Estudiosos reconhecem alguns critérios na identificação das categorias gramaticais. Moura Neves (2002 ) se refere inicialmente à classificação de acordo com a forma e com a distribuição que, às vezes, é insuficiente para reconhecê-las. Outro critério é o da verificação da função das palavras na oração; este é previsto quando o anterior leva à ambiguidade. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página as no ‘uso’ da língua, isto é, no comportamento dessas palavras em contextos. 213 substantivos e adjetivos como estanques e limitadas. Alguns já se preocupam com elas vendo- Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Acrescenta, ainda, que há estudos que consideram o sentido como meio de identificar uma palavra, unindo, na verdade, forma e função ( visão morfo-sintática); porém parece ser este um critério que leva a generalizações excessivas. De modo geral, os substantivos e os adjetivos praticamente se identificam no plano morfológico, pois ambos são afetados pelas categorias de gênero, de número e de caso, sendo obrigatória a concordância entre eles; neste caso, já entra o plano sintático, pois os relaciona. Biderman (2001) diz que substantivo e adjetivo são divididos apenas por uma questão sintática acrescida de características semânticas; isso ocorre no português e em outras línguas que também os possuem. Perini (2001, p. 40) diz que: “Em lingüística, [....] falamos de adjetivos, verbos, preposições, orações e sintagmas nominais: todos esses nomes designam classes de formas lingüísticas. Ora, veremos que nem sempre os limites entre essas classes são claros e bem definidos: a lingüística também tem seus ornitorrincos”. Admite , portanto, a não limitação de classes conforme o fazem outros estudiosos; porém justifica a existência da classificação pelo fato de que outras áreas do conhecimento também a efetuam para o estudo ser mais eficiente e mais fácil. Embora a admita, acrescenta que, geralmente, torna rígida uma classe. Daí a classificação também ocorrer na língua: ela existe principalmente para fins didáticos e para facilitar o estudo. Leitão (2000) se refere à dificuldade que estudiosos têm para organizarem as palavras da língua. Diz, ainda, que a terminologia oficial, reconhecida por autores como Cunha e Cintra, Rocha Lima e Bechara, divide-as em 10 classes gramaticais. Embora prevaleça a natureza morfológica, a descrição convencional se vale de outros critérios. Acrescenta que Os aspectos semânticos muitas vezes não se coadunam com os formais, enquanto que estes se confundem com os morfossintáticos, ensejando definições longas, pouco precisas, que não apreendem a essência do conceito descrito. (LEITÃO, 2000, p.65). dedicada à morfologia; além disso, na maioria das vezes, as definições não abrangem todos os casos de contextos de usos da língua. Elas seguem, na maior parte das vezes, o que foi imposto pela NGB: uniformização do ensino da língua portuguesa. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página dependendo do ponto de vista do autor, apesar de constarem, de modo geral, na parte 214 As gramáticas tradicionais normalmente levam em conta critérios diversos, Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Então, para efeitos didáticos, já que é a referência usada como exigência em concursos, ainda prevalecem os dados da NGB, apesar das impropriedades que têm sido relatadas por estudos mais específicos baseados em uma reflexão sobre a língua em uso. DEFINIÇÕES DE SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS A seguir serão analisadas algumas definições de substantivo e de adjetivo para ilustrarem as reflexões que serão feitas sobre o assunto, em especial as referentes ao uso dos termos em contextos. Bechara (1999, p.112) considera o substantivo como: [...] a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substância, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrada, aceitação). Já o adjetivo, ele conceitua como “[...]a classe de lexema que se caracteriza por constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo, orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado” (op.cit., p.142). Para Cunha e Cintra (2001, p.177) o “Substantivo: é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral”. Ainda na parte referente ao substantivo, os autores dizem que ele pode formar uma locução adjetiva e, portanto, ter a função de um adjunto adnominal, como, por exemplo, em uma vontade de ferro. Ainda se refere aos exemplos: um riso canalha, uma recepção monstro, em que os substantivos assinalados têm a função de adjunto adnominal ao se referirem a outro substantivo. Também mostram o uso do substantivo como modificador do adjetivo em casos como: amarelo-canário, verde-garrafa (op.cit., p. 201). O adjetivo é, para eles (op.cit., p.245), “[...] essencialmente um modificador do substantivo”. Mais adiante (p. 246) afirmam que palavras variam de acordo com o contexto, conforme se pode ver nos exemplos: A preta velha vendia laranjas. A velha preta vendia laranjas. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página substantivos, indicando-lhes: uma qualidade, modo, aspecto ou estado. 215 Acrescentam que ele serve para caracterizar os seres, os objetos ou as noções nomeadas pelos Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 No primeiro exemplo, preta é substantivo e velha, adjetivo; já no segundo caso, elas trocam de classificação passando velha a substantivo e preta a adjetivo, constatando-se que , algumas vezes há uma única forma para as duas classes de palavras. Isto mostra como é estreita a relação entre o substantivo e o adjetivo; aquele é o termo determinado e este, o determinante, segundo os autores. Exemplos simples, então, podem mostrar a fragilidade das definições dadas por gramáticos, uma vez que também admitem outras funções, além das consideradas próprias das classes, conforme especificadas ao defini-las. Para Rocha Lima (2005, p.66), “Substantivo é a palavra com que nomeamos os seres em geral, e as qualidades, as ações, ou estados, considerados em si mesmos, independentemente dos seres com que se relacionam”. Para ele, adjetivo é “[...] a palavra que restringe a significação ampla e geral do substantivo” (op.cit., p.96). Segundo Almeida (1999, p. 80), substantivo é considerado como sendo “[...] palavras que designam coisa, ser, substância. Toda a palavra que encerra essa idéia denomina-se substantivo”. Por adjetivo o autor entende que são “[...] todas as palavras que se referem ao substantivo para indicar-lhe um atributo”. Mais adiante (op.cit., p. 137), diz que pelo fato de “[...] vir o adjetivo qualificando o substantivo, resulta muitas vezes que, tirando-se o substantivo, continua sendo este facilmente subentendido, sem prejuízo para o sentido”. Este estudioso define de forma ‘limitada’ as classes, mas, adiante, admite usos diversos dos previstos nas conceituações delas. Isto significa que o adjetivo pode assumir a ‘função’ do substantivo. Dá como exemplos: o cego, um avarento, aquele perverso, em que os adjetivos assumiram o caráter de substantivo; daí serem adjetivos substantivados. Também admite que isto pode ocorrer com o substantivo: mudar de função. Dá como exemplos: menino prodígio, homem máquina, laranja lima, filho homem, comício monstro, em que o 2º elemento assume a função de qualificador do 1º. Outro gramático que se refere a substantivo é Infante (2001, p. 282), afirmando que é “[...] a palavra que nomeia os seres”. Conceitua também adjetivo (op.cit., p.312) como diz que “[...] substantivos e adjetivos apresentam muitas características semelhantes e, em muitas situações, a distinção entre ambos só é possível a partir de elementos fornecidos pelo contexto”. Dá ainda como exemplos: jovem brasileiro / brasileiro jovem para evidenciar a mudança de classe gramatical e diz que: “Ser adjetivo ou ser substantivo não decorre, Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página de ser, ou indicando-lhes o aspecto ou estado. Assim como alguns estudiosos já citados, ele 216 a “[...] palavra que caracteriza o substantivo, atribuindo-lhe qualidades (ou defeitos) e modos Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 portanto, de características morfológicas da palavra, mas de sua atuação efetiva numa frase da língua”( op.cit., p. 312). Azeredo (2008, p.155) diz que o substantivo reúne características como: dar nome às parcelas do conhecimento representadas por seres; ser núcleo de expressões referenciais do texto; ter gênero e número próprios e desempenhar funções sintáticas de sujeito e de objeto direto. Sobre adjetivos, afirma que são “[...] os lexemas que se empregam tipicamente para significar atributos ou propriedades dos seres e coisas nomeadas pelos substantivos” (op.cit., p.169). Ele também limita as caracterizações do substantivo e do adjetivo, semelhante a outros estudiosos, embora as suas definições sejam abrangentes, uma vez que, por exemplo, na do substantivo abrange sentido, relação com outras palavras, função, envolvendo, desta forma, o aspecto semântico, o sintático além do morfológico. Na realidade, sabe-se que há muitas outras possibilidades de uso. Macambira (2001) analisa substantivo sob o aspecto mórfico inicialmente dividindoo em: quadriforme, biforme e uniforme, embora apenas isto não o classifique, já que outras classes também as têm: artigo, adjetivo, numeral, pronome. Usa, então, o critério de “oposições formais”, isto é, como classe variável que admite sufixos aumentativos e diminutivos. Estes também são usados por adjetivos e advérbios, segundo o autor. Daí, acrescenta o aspecto sintático, dizendo que “[...] pertence à classe do substantivo toda palavra que se deixar preceder por artigo ou pronome adjetivo, especialmente possessivo, demonstrativo e indefinido” (op.cit., p.34). Sob o aspecto semântico, para ele, o substantivo é a palavra que “serve para designar os seres” (op.cit., p.34). Ainda segundo Macambira (2001), adjetivo, sob aspecto mórfico, é toda palavra que “[...] produz oposições formais, correspondentes ao grau positivo e ao grau superlativo...” (op.cit., p. 36). Sob aspecto sintático é toda “[...] palavra variável que se deixar preceder pelos advérbios correlativos tão ou quão, de preferência o primeiro, pertencente ao dialeto coloquial” (op.cit., p.37). Sob aspecto semântico, é a palavra que exprime qualidade, (op.cit., p.38). Estes são alguns dos estudiosos que fazem referência aos substantivos e aos adjetivos. De modo geral, atribuem a designação àqueles como a classe que nomeia os seres e a estes como sendo os termos que acrescentam atributos aos substantivos. Ao se tentar aplicar as definições a determinadas palavras no uso da língua, chega-se à conclusão de que Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página defini-lo como: “Adjetivo é a palavra variável que serve para modificar o substantivo” 217 conceituação semelhante a muitos outros estudiosos. Mais adiante acrescenta que é melhor Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 elas parecem ser incoerentes e incompletas, pois não explicam o uso de certas palavras em contextos especiais. Há de se considerar a possibilidade de uma certa mudança de função/classificação de adjetivos e substantivos da língua quando em uso por falantes, inclusive considerando-se a sua inclusão na ‘formação’ de palavras. Eles não são termos fixos com contextos definidos, mas, apesar disto, se admite ser necessária uma definição, pelo menos para fins didáticos, pois ela é a garantia de que se está falando de ‘classes’ que funcionam dentro da língua, assim como há classificações em outras áreas do conhecimento para se poder entender a realidade e, principalmente, facilitar o estudo. Daí a categorização feita por estudiosos e gramáticos tradicionais a respeito de palavras do português. CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFINIÇÕES A análise pretendeu evidenciar que as classes gramaticais, em especial a dos substantivos e adjetivos, não são estanques e limitadas conforme conceituações dadas por alguns estudiosos, pois, na maioria das vezes, são definidas tendo por base critérios variados, tais como: morfológico, sintático e semântico para a mesma categoria, o que comprova a complexidade da classificação das palavras na língua. Além disso, elas podem mudar de categoria no uso em frases, como ainda serem componentes de palavras nas quais adquirem função diversa da que são classificadas, possibilidades que serão consideradas a seguir. O aspecto morfológico destaca especialmente as categorias de gênero e de número que se aplicam a substantivos e a adjetivos, embora de formas diversas. O gênero, por exemplo, é imanente ao substantivo, enquanto no adjetivo é decorrente da concordância com o termo a que se refere: o substantivo é o determinante; o adjetivo é, então, o termo determinado. Pelo critério sintático, leva-se em consideração a distribuição da palavra na frase, isto é, em que posição pode ser encontrada nela e também a função que desempenha seres, enquanto o adjetivo é a palavra que indica qualidade desses seres. As considerações feitas por estudiosos em torno das classes analisadas, de modo geral, levam em conta esses aspectos. Isto configura a dificuldade em se definir de maneira satisfatória substantivos e adjetivos como ocorre, principalmente, em gramáticas tradicionais. Outro fator é a distinção entre substantivos e adjetivos pois, originalmente, no latim, Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página baseando-se no significado. Desta forma, o substantivo é definido como palavra que designa 218 em relação aos outros termos que compõem a oração. O critério semântico determina a classe Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 ambos pertenciam a uma única classe: a dos nomes; por isso percebem-se até hoje afinidades entre eles. Este é mais um motivo para que haja ‘troca’ de funções e, por consequência, mudança de classe de substantivos e de adjetivos quando em contextos de uso. Um fato relevante a ressaltar nas conceituações de gramáticos normativos é o de que a definição dada por eles toma isoladamente a palavra e, ainda, esta é restrita ao uso escrito da língua. Na maioria das vezes, usam como exemplos frases de escritores, em vez de analisá-la em sua existência real dentro da língua, isto é, vê-la inserida em um contexto, incluindo outros níveis, variações linguísticas e a modalidade oral. Desta forma é que a palavra adquirirá sua identidade funcional, sendo substantivo, adjetivo ou verbo. Ela terá sua marca funcional e será diferente de todas as outras no uso. ANÁLISE DAS CLASSES EM USOS Para comprovar tais afirmações, uma análise de exemplos variados de substantivos e adjetivos, inclusive os de alguns estudiosos, pode evidenciar que contextos de uso determinam, em boa parte dos casos, a classificação de uma palavra. Serão, então, analisados vocábulos em alguns contextos de usos em frases do cotidiano, não mais considerando-os isoladamente como faz a maioria dos gramáticos ao classificar esses termos. Mais adiante, estas classes também serão analisadas em usos nos quais aparecem como pertencentes a compostos. Em alguns exemplos, porém, há dúvidas se a ocorrência delas, nesses casos, pode ser considerada como formando palavras compostas ou se apenas se trata de palavras juntas em um contexto de uso da língua. SUBSTANTIVOS OU ADJETIVOS: USOS EM CONTEXTOS Assim, há casos nos quais uma mesma palavra pode desempenhar a função de (2004, p. 80): (1) Este bolo está muito doce. (2) Este doce está uma delícia! Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página como exemplo a ocorrência da palavra doce como nas seguintes orações citadas por Basílio 219 substantivo ou de adjetivo dependendo do contexto em que está inserida. Pode-se tomar Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Observa-se que em (1) a palavra doce está funcionando como adjetivo, pois está atribuindo algo ao substantivo bolo: o de ter sabor como o de açúcar. Já em (2), a mesma palavra está funcionando como substantivo, pois está nomeando algo e não atribuindo uma característica como na frase anterior; significa: produto culinário. Pode-se perceber que existe uma relação semântica entre as duas orações,uma vez que como substantivo designa produto culinário; qualificado como ‘doce, com gosto de açúcar’ é adjetivo. Mas essa relação semântica não é absoluta, porque nem todo produto comestível ou culinário “predicável” pelo adjetivo doce pode ser designado pelo substantivo doce, como se pode confirmar nas orações: (3) Pudins e compotas são doces. (4) Comi biscoitos doces. Observa-se que, aqui,o adjetivo denota uma propriedade atribuída que é própria do pudim e da compota: ‘ser doce’, enquanto em (4) denota um produto ‘específico’, já que nem todos os biscoitos são doces. Neste caso identifica o tipo de biscoito. A diferença entre eles também pode ser notada em uma frase possível na língua: Este doce está doce demais, em que a significação e categorização se devem à função de cada emprego de doce na frase. Daí se pode concluir que uma palavra não deve ser considerada como sendo um substantivo ou um adjetivo antes de ser analisada em um contexto específico, já que, como se pôde constatar, em muitos casos, a classificação dela depende de sua posição, função dentro de uma frase; portanto em uso na língua. Há palavras que são essencialmente, por exemplo, “adjetivos” como belo, que, conforme consta em dicionários, é assim considerada. Porém em um uso específico, pode-se dizer ‘o belo’ no lugar de se usar o substantivo correspondente beleza. Houve, neste caso, uma substantivação do adjetivo, que, segundo Basílio (2004), ocorre quando ele passa a ser ‘aflito’ que são considerados adjetivos, mas que, em um emprego determinado, torna-se ‘substantivo’ devido à função que passam a ter no contexto, como nas frases dadas por Basílio (2004, p. 85): (5) Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra. (6) Consolai os aflitos. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página não possa ser considerado como substantivo pleno. É o que ocorre com os adjetivos ‘manso’ e 220 usado como um substantivo, denotando ser e acionando mecanismos de concordância, embora Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Nestes usos, em vez de qualificar o ser, o adjetivo está funcionando como se fosse um substantivo, isto é, designando seres; o significado dele se assemelha ao do próprio adjetivo. Em (5) mansos, plural do adjetivo manso, denota todos os seres que tenham a propriedade de mansidão; já em (6), aflitos está denotando todos os seres que possam ser qualificados como tendo aflição. Há, também, construções inversas em que os substantivos ‘qualificam, caracterizam e ou especificam substantivos’; nestes casos, diz-se que houve uma adjetivação do substantivo, como se pode constatar nos exemplos: (7) Fui vítima de um sequestro-relâmpago. (8) Ele era a testemunha-chave da polícia. Nessas construções, direta ou metaforicamente, o elemento central do significado do composto é tomado como um predicado qualificando o outro substantivo. Nestes casos, o segundo substantivo está exercendo a função de um adjetivo ao especificar o ser a que se refere. A palavra relâmpago está especificando o substantivo sequestro dentro do composto, assim como chave , a palavra testemunha. Outra reflexão a ser feita em torno dessas classes de palavras é a que Borba faz no seu livro Organização de dicionários (2003, p.26) a respeito de exemplos como: “a. Velhos utensílios de copa e cozinha. b. Era amigo de copa e cozinha da mistura demissionária.” Conforme o autor explica, no nível fonético e no morfológico parece não haver diferença entre as formas grifadas. A diferença estaria no nível sintático e no semântico. Sintaticamente, em ambos os casos, o grupo sintático incide sobre um N(nome), mas de subclasses diferentes. E é no nível semântico que a diferença se torna evidente: em (a) há considerado uma lexia complexa. Por lexia complexa entende-se: formas aglutinadas que parecem “[...] algumas vezes perfeitamente soldadas e outras com forte índice de coesão interna” (BIDERMAN, 2001, p.170). Perini (2001,p 42) questiona como fazer para tratar de adjetivos e de substantivos como classes. Ainda indaga: “O que é que faz de uma palavra um adjetivo ou um Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página um valor específico equivalente a “amigo íntimo”. Assim percebido pelo falante, é 221 autonomia dos elementos ‘copa e cozinha’; já em (b) isto não ocorre: é o conjunto que tem Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 substantivo?” Considera essas duas classes como difíceis de distinguir, embora sejam tratadas como classes distintas; daí separadas na classificação: os substantivos dão “nomes às coisas, seres,..”, enquanto os adjetivos expressam “qualidades, atributos,..”; é o que se resume a partir de dados de gramáticas. Porém “se as palavras forem João e paternal, a aplicação é razoavelmente fácil”. João é nome de uma coisa (uma pessoa) e paternal exprime apenas uma qualidade; logo, João é substantivo e paternal um adjetivo. Acrescenta outro exemplo em que a facilidade não é tão evidente. Quando se trata da palavra maternal, o autor afirma que: Mas como classificar maternal? Essa palavra parece, à primeira vista, ser idêntica a paternal, com a única diferença de que se refere à mãe, não ao pai. Assim, dizemos atitudes maternais do mesmo jeito que dizemos atitudes paternais. Mas na verdade há uma diferença: maternal (mas não paternal) é também o nome de uma coisa, ou seja, designa um tipo de escola infantil: meu menino ainda está no maternal. E agora? Maternal é adjetivo, porque expressa uma qualidade; e é substantivo, porque é o nome de uma coisa. Ou será um caso, com certeza excepcionalíssimo, de palavra que está no limite das duas classes e tem as propriedades de ambas? Nem isso, porque o caso de maternal não é raro nem excepcional. Há milhares de palavras que se comportam de maneira semelhante. (PERINI, 2001, p. 43) Casos de palavras como os exemplos dados, levam à reflexão de que definições e conceituações limitadas e estanques não procedem, uma vez que, no uso da língua, as palavras se comportam diferentemente das proposições teóricas. Assim, adjetivos e substantivos podem ter comportamentos diversos dos previstos por definições de gramáticos. O autor referido ainda dá outros exemplos , como os que seguem : “(1 )a. Uma palavra amiga (qualidade) b. Um amigo fiel (nome de coisa) (2) a. Uma menina magrela (qualidade) b. Essa magrela (nome de coisa) (4) a. O carro verde (qualidade) b. O verde está na moda (nome de coisa) “ (Perini, 2001, p.43) Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página b. Os trabalhadores (nome de coisa) 222 (3) a. Um homem trabalhador (qualidade) Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Nessas frases, as palavras amigo, magrela, trabalhador, verde são consideradas na letra (a) adjetivos e na (b) substantivos pela função que exercem nos contextos. Muitas são as palavras que têm o mesmo comportamento desses exemplos. A respeito disto, Biderman ( 2001, p.258) explica que, às vezes, “ [...] ocorre uma recategorização de um lexema como substantivo, sem que o vocábulo-base desapareça do uso. Nesses casos, surge a homonímia”. Para tal, dá como exemplos os que seguem: homem português português cidadão americano americano indivíduo brasileiro brasileiro. Nos exemplos, o que ocorre é a mudança em que os adjetivos assumem a função dos substantivos, omitindo-se, então, homem, cidadão, indivíduo. Porém, os três lexemas constam como sendo ‘adjetivo’ e ‘substantivo’ no Michaëlis (1998). Isto significa que, de acordo com o dicionário, as palavras pertencem às duas classes e daí o uso ser normal. Há, no entanto, palavras com as quais realmente há uma recategorização dos lexemas, cuja ocorrência é válida e recorrente na língua em uso. Devido à necessidade de renovação da língua, algumas palavras já existentes acabam por trocar de classificação em função do contexto em que estão inseridas, passando a adquirir um novo significado, como se observa nas seguintes orações: (9) Este livro é muito velho. (10) O velho atravessou a rua. Nas duas orações está sendo utilizada a mesma palavra velho, mas, no primeiro caso, pode-se classificá-la como adjetivo, pois está atribuindo um estado ao substantivo livro; já, no segundo caso, ocorre a utilização dela como substantivo, indicando ‘uma pessoa com certa idade’. Através de exemplos como estes, pode-se constatar que o contexto é determinante para a classificação da palavra, pois, se vista isoladamente, não se teria como identificar se “relativo a algo antigo” e como substantivo, tendo o sentido de “ pessoa de mais idade”. Outro exemplo evidenciando a ocorrência é o uso de “marinheiro” no contexto marinheiro brasileiro em que marinheiro é considerado substantivo e brasileiro é o adjetivo que a ele se refere indicando nacionalidade. Também se pode usar brasileiro marinheiro, contexto este em que há uma ‘troca’ de classes das palavras: marinheiro passa a adjetivo Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página (2001) o verbete velho evidencia que a palavra pode ser usada como adjetivo, significando 223 está exercendo a função de substantivo ou de adjetivo. Se se recorrer ao dicionário Houaiss Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 referente ao substantivo brasileiro. O que ocorre é que elas podem tanto ter a função de substantivos como adjetivos; mais uma vez se constata que a classificação dessas palavras vai depender do contexto no qual estão inseridas. Outra ocorrência dessa possibilidade da língua é a palavra referente à nacionalidade: ‘mexicano’ que pode ter duas classificações como nos contextos: mexicano diplomata/diplomata mexicano. No 1º caso, a palavra é substantivo; no 2º, adjetivo. Segundo Basílio (2004, p.82) “Os nomes pátrios, como adjetivos, atribuem uma caracterização de proveniência ou origem aos substantivos com que se combinam; usados isoladamente, denotam seres humanos por sua origem”, como nos exemplos dados por ela: a) Os vinhos brasileiros estão melhorando. b) Os marinheiros brasileiros se emocionam facilmente. c) Os brasileiros gostam de feijoada. (op.cit., p.82) Levando-se em consideração a explicação dada pela autora, pode-se perceber que em ‘a’ brasileiro é um adjetivo que está caracterizando vinhos de acordo com sua procedência; em ‘b’ caracteriza marinheiros também pela sua proveniência; já em ‘c’ é um substantivo usado no plural para denominar qualquer pessoa nascida no Brasil. Como já se constatou pelos exemplos dados, o termo tem a função de substantivo, conforme previsto no verbete do dicionário Michaëlis (1998). Nos casos referentes a nomes de cores, o que ocorre é um pouco diferente como diz Basílio (2004, p.82): “Como adjetivos, atribuem cores específicas aos referentes dos substantivos que acompanham. Quando usados isoladamente, denotam a cor em si e apresentam propriedades plenas de substantivos”. Mais adiante diz que “Substantivos são frequentemente utilizados em composições com outros substantivos para fim de especificação” (BASÍLIO, 2004, p.90) e a autora ainda utiliza, como exemplos, as cores café, areia, cereja que querem especificar os próprios concordância em gênero e número em usos como: sapatos café (e não sapatos cafés); bolsas areia (não areias) e blusas cereja ( não cerejas), não havendo, portanto, concordância com os vocábulos a que se referem. Isto se dá em exemplos como estes nos quais foram usados substantivos, pela semelhança da cor, para designar ‘cores’ de outros elementos. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página cores, não adquirem as propriedades mórficas dos adjetivos, pois não apresentam 224 objetos caracterizados; porém, nestes casos, apesar desses substantivos passarem a designar Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Na maioria dos casos, os substantivos em composições são utilizados para fins de especificação; o caso mais comum é o de cor que acaba incidindo com frequência no próprio nome da cor, como em verde alface, verde limão, azul turquesa, vermelho rubi, cinza chumbo, rosa bebê, como diz Basílio (2004, p. 91). A referência à cor é especificada, por exemplo, pelo substantivo alface, isto é, da cor de alface. Esta ocorrência é semelhante à dada no parágrafo anterior. Um caso que pode ser citado para evidenciar o uso das classes analisadas em contextos diversos dos previstos por gramáticas normativas é o de assassino impiedoso/instinto assassino em que “[...] uma mesma forma pode ter a categoria N ou a categoria Adj...” (MOURA NEVES, 2002, p.137) em que N=substantivo e adj.= adjetivo. Assassino está sendo definido pela posição ocupada na oração: no 1º caso, é um substantivo; no 2º, um adjetivo. Uma palavra que passa a ter um novo significado, fato este comum na língua, pode mudar a categoria gramatical por ter, também, uma nova função. Por exemplo, na frase: Aquela garota é um avião, a palavra avião, tida como substantivo por denominar o nome de um meio de transporte, neste caso passa a ser usada como um adjetivo, pois está qualificando e não simplesmente nomeando um ser. Este é um processo metafórico que ocorre na mudança da significação do termo, além da classe gramatical em virtude de ter havido uma comparação que foi omitida, o que é próprio da metáfora. Ocorre, também, com o uso do substantivo touro tendo sentido de ‘forte’ e função de adjetivo na frase: Aquele homem é um touro. Touro, classificado como substantivo, passa a ser adjetivo quando caracterizando, por exemplo, homem. Esta ocorrência da palavra é devida à metáfora, que é um recurso estilístico em que o vocábulo adquire sentido conotativo. É, então, outra possibilidade de mudança de classe gramatical, comum na utilização da língua, embora nem sempre prevista em gramáticas tradicionais no estudo das referidas classes. As palavras que acabam por mudar de classe são somente percebidas dentro de um derivações impróprias ou conversão. Alguns autores observam que esse processo pertence à área da semântica e não à da morfologia, pois existem traços formais caracterizadores que não o torna exclusivo da semântica (KHEDI, 2000). Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página suma importância dentro do estudo da língua, pois são ocorrências que figuram como 225 contexto de uso e essa consideração é, muitas vezes, descartada por estudiosos, embora de Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 SUBSTANTIVO OU ADJETIVO? Há também casos em que há dúvidas quanto à formação da palavra, principalmente no aspecto relacionado à composição: trata-se de uma locução, de um substantivo composto ou de substantivo e adjetivo lado a lado na frase? Este é outro ‘problema’ referente às classes pesquisadas que tem sido alvo de reflexões por parte de estudiosos na tentativa de diferenciá-las. Por exemplo, médico veterinário é um substantivo composto ou se trata de um substantivo + adjetivo? No Dicionário Michaëlis (1998), há referência a médico (p.1342) como adjetivo e também há referência a tipos de médico (= substantivos ), mas não considera entre eles o de médico veterinário. Já na p.2196, no verbete “veterinário”, inclui este termo como ‘s.m.’(substantivo masculino) sendo “aquele que exerce a veterinária, médico veterinário.” No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP, 2009), aparece o termo médico como substantivo e veterinário, como adjetivo. O dicionário eletrônico Houaiss (2001) inclui o verbete veterinário como: adjetivo e significa: relativo à ou próprio da medicina veterinária. Ex.: Clínica veterinária, tratamento veterinário; substantivo masculino e significa: médico especialista em veterinária; médico dos animais, zooiatra. Já médico aparece como um substantivo masculino no mesmo dicionário. Desta forma, percebe-se a diversidade de consideração das palavras ‘médico’ e ‘veterinário’. Há, também, a palavra engenheiro (=s.m.) e há a inclusão de: engenheiro agrônomo, civil, de automóveis, elétrico, eletrônico, industrial, mecânico (e subdivisões desta modalidade), entre outros, no dicionário Michaëlis (1998, p.809). Como, então, devem ser consideradas essas ‘palavras’ quando passam a ser em outro caso, aparece engenheiro civil como um substantivo considerado composto. Serão analisados, a seguir, alguns usos que causam também, de certa forma, dúvidas na sua consideração. Há criação de novas palavras pelo processo de formação lexical que se dá através de combinações de vocábulos já existentes como ocorre nos exemplos: amor-próprio, festaBrazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página apenas como substantivos simples como a palavra médico, seguida do adjetivo veterinário; 226 dicionarizadas ou dentro da classificação gramatical? Há situações em que são consideradas Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 surpresa, escola-padrão, sofá-cama, guarda-florestal, entre outros, nos quais aparecem dois radicais. Na palavra composta, os elementos primitivos podem perder a significação própria em benefício de um único conceito, novo, global como em alguns dos exemplos ou conservar algo do significado básico dos elementos formadores. Para a formação de compostos há dois processos; um deles é o processo por composição que resulta na justaposição de bases autônomas ou não-autônomas. Esta constituição de vocábulos ocorre quando os termos associados permanecem com a sua individualidade, tais como nos exemplos: passatempo, sempre-viva usados ou não com hífen, (KEHDI, 2000). Há também, segundo o autor, formas compostas por aglutinação em que os vocábulos se fundem num todo fonético, com um único acento, como em pernalta, por exemplo. Nos substantivos compostos constituídos por justaposição com adjetivo e substantivo, ou vice-versa, pode ser verificado um tipo de subordinação lexical, que acaba sendo motivado pelo determinante adjetivo que especifica o substantivo determinado, salientando que a ordem dos elementos, determinado e determinante, não é fixa, pois existe a possibilidade de troca de posição entre eles. Há exemplos em que a ordem não altera o produto, isto é, se se inverterem os elementos, os conjuntos manterão o mesmo significado: “O controle da pinta-preta em cítricos”/ “ O controle da preta-pinta em cítricos” (ALVES, 1994, p.42). Outros exemplos que se pode citar a respeito da questão de compostos reafirmando a questão de determinante e determinado são os casos citados por Alves (1994, p. 42): enredodenúncia, operação-desmonte e político-galã, em que os substantivos determinantes denúncia, desmonte e galã desempenham uma função adjetival. Funcionando diferentemente do que dizem as gramáticas, o segundo elemento, o determinante, não é flexionado quanto à categoria de número, própria de substantivo. Em muitos casos, podem-se encontrar alguns substantivos que estão direta ou (2004, p.89): festa-monstro, engarrafamento-monstro, testemunha-chave, pergunta-chave, funcionário-fantasma, escola-padrão, sessão-relâmpago.Assim, percebe-se que o segundo elemento que, também, é um substantivo está como qualificador do primeiro, tendo um caráter estilístico, já que não se utilizou um adjetivo, pois a força daquele é maior do que a deste. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página considerados qualificadores deste, como se percebe nos exemplos utilizados por Basílio 227 metaforicamente ligados a elementos centrais do substantivo e, desta forma, sendo Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Em alguns usos, pode-se observar que juntos, “substantivo+adjetivo”, têm comportamentos diversos dependendo do contexto em que estão inseridos e daí serem considerados como itens lexicais diferentes. Pode-se constatar esse fenômeno nas frases: (11) Fui convidado para participar de uma mesa-redonda. (12) Comprei uma mesa redonda para minha cozinha. Nota-se que, no primeiro exemplo (11), o termo mesa-redonda tem o sentido de uma roda de discussão; daí ser considerado termo composto. Tem sentido e classificação diferente daquele do ‘original’ apresentado na frase (12), que está com o seu sentido literal de ser realmente uma mesa em formato redondo e que se trata de apenas um substantivo modificado por um adjetivo. Biderman (2001) cita exemplos como: guarda-roupa, dor de cabeça, capa de chuva, Santa Casa e outros em que a grafia levaria a induzir a conclusão de que se trata de lexias complexas. “De fato, porém, elas estão categorizadas em língua como lexemas” (op.cit., p.171). Ainda afirma que “a gramática persiste em considerar palavras como guarda-chuva, terça-feira como compostas por aglutinação quando, de fato, os seus elementos componentes já se aglutinaram há muito” (op.cit., p.171). Assim, segundo a autora, deveriam ser consideradas como sintagmas simples. Borba (2003) discute a formação de palavras como: elefante branco, mosca morta, boca livre,... (= N+ adj.) como sendo um sintagma fixo (SF) constituído por sintagma nominal (SN). Para um leigo, a formação referida poderia ser considerada como apenas um substantivo junto a um adjetivo e não um sintagma fixo como ele considera. Na análise de usos de substantivos e de adjetivos, foram encontrados casos de formações de palavras com eles que geram dúvidas em relação ao fato de se considerar como realmente um composto ou meramente duas palavras que, juntas, têm um único significado. Para explicar tais ocorrências foram dadas algumas justificativas e recursos que HOUAISS da Língua Portuguesa, de Azeredo (2008), há referência a esta palavra como não se tratando de um composto, assim como, entre outros exemplos, funcionário público, secretária bilingue, terno e gravata, noite de lua, embora sejam “construções sintáticas estáveis” (op.cit., p.444) e “combinações regulares de lexemas do discurso” (op.cit., p.444), Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página É, por exemplo, a ocorrência de barriga de aluguel na língua. Na GRAMÁTICA 228 estudiosos se servem para saber como os considerar: compostos ou locuções? Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 pois apresentam características gramaticais e semânticas diferentes dos compostos, segundo o autor. Para diferenciar construcões com substantivos e adjetivos, estudiosos lançam mão de vários artifícios para tentar identificá-los. Por exemplo, no caso de se ter o que se chama de ‘composto’, uma prova está em se omitir um dos elementos. Se interferir na significação da palavra, isto é, mudar o sentido, então não se trata de composto. O autor referido explica que o composto não pode ter um dos elementos omitidos nem acrescentar adjetivação: seria outra forma de tentar explicar a composição ou não da palavra. Se se fala de um carro com minúsculo porta-malas, não se pode tirar ‘porta’ da composição da palavra, pois o sentido será outro :* um carro com minúsculo malas (*= agramatical) Matttoso Câmara Jr.(2001, p.70) também diferencia locuções e compostos alegando que naquelas se pode omitir um dos termos, enquanto nestes não há a mesma possibilidade sem alterar a significação. No exemplo: “Apanhei uma grande chuva” ou apenas “chuva” não ocorre mudança de significação. Já em “Apanhei um guarda-chuva” é diferente de “Apanhei uma chuva”, pois naquela não dá para omitir o termo ‘guarda’ sem alterar o sentido ; nela há inclusive mudança de gênero na omissão de um termo. No primeiro exemplo, tratase de uma locução e no segundo, composto.Ainda acrescenta que a locução se refere “exclusivamente ao plano mórfico” enquanto a justaposição (composto) “está no plano fonológico posto em relação com o plano mórfico”. Locução seria o “uso como unicidade formal superior de dois vocábulos mórficos” (op.cit., p.71). Outra possibilidade de verificar se é um composto ou se apenas são palavras ‘juntas’ em uma frase é colocar adjetivos atribuindo-lhes qualidades. No caso de noite de lua pode-se inserir, de forma independente, adjetivo a qualquer um dos componentes: noite clara de lua ou noite de lua cheia (AZEREDO, 2008). Diferentemente, a palavra barriga de aluguel não consta como uma possibilidade dentro do verbete barriga que traz como significado gravidez no Michaёlis (1998) nem no gestação. Não se percebe, também no exemplo de barriga de aluguel, a possibilidade de acrescentar um adjetivo semelhante ao que se fez com noite de lua , pois seria estranho o uso de: * barriga bonita de aluguel ou * barriga de aluguel barato. O mesmo ocorre com outros exemplos dados por Azeredo (2008): secretária bilingue e funcionário público. Estes Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página simplesmente ‘barriga’ (=gravidez), pois acrescenta a significação de uma forma especial de 229 VOLP (2009). O vocábulo, porém, é visto pelo falante da língua como diverso de Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 exemplos, normalmente, são considerados como substantivos acompanhados de adjetivos que o especificam e lhe atribuem um sentido novo; daí a restrição de inserção de adjetivos entre os elementos. Outro aspecto considerado por estudiosos na tentativa de diferenciação de substantivos e adjetivos é verificar se a ‘unidade lexical’ é uma ‘unidade significativa’. Em alguns casos, observa-se que um constituinte do composto não apresenta qualquer relação significativa com o todo. Basta verificar-se nos exemplos amor-perfeito ou pé-demeia em que o sentido dos elementos não permite deduzir a significação do todo, conforme Kehdi (2000). Por outro lado, pode-se ver que, em alguns exemplos, a composição por aglutinação tem o significado igual a dos seus termos quando isolados como, por exemplo: fidalgo ( filho de algo). Mais adiante, Azeredo (2008, p. 444) diz que “Uma palavra composta é vista como uma estrutura fixa, um sintagma bloqueado gramaticalmente reinterpretado como uma unidade lexical nova”. Ainda afirma que o significado novo pode ser entendido, muitas vezes, como a soma dos significados particulares dos lexemas componentes. Dá como exemplo navio-escola que se refere a um navio em que se efetua aprendizado a tripulantes. Basílio (2004, p.92) diz que essa formação se trata de uma sequência de substantivo-substantivo em que o segundo elemento especifica a função do primeiro componente da palavra. Outro fator relevante na diferenciação entre ser ou não considerado como composto um contexto em que duas palavras estão juntas levando à percepção de um único item lexical é a ordem delas que, no caso de ser realmente uma forma composta, não há possibilidade de troca na ordem dos itens formadores da palavra. Nos exemplos cachorro amigo / amigo cachorro, citados por Monteiro (2002), ao se mudar a ordem dos elementos, muda-se o sentido e também a classificação; daí percebe-se que não se trata de composto. O entendimento se dá pela ordem no contexto e, neste caso, ela é essencial ao significado. Segundo Kehdi (2001, p.40), que estuda a unidade morfossintática do sintagma fixo, perfeito em que não se pode trocar a organização dos elementos nem acrescentar nada entre eles, pois, se isso ocorrer, torna-o inaceitável como representativo de flor; também, o significado mudaria. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página eles não se pode introduzir nenhum outro elemento”, citando como exemplo a palavra amor 230 diz que “é preciso observar que a ordem de sucessão dos termos do composto é rígida e entre Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 O mesmo autor diz que “o composto funciona sintaticamente como uma só palavra: sempre pode ser substituído por um único vocábulo”; como se pode constatar no exemplo apresentado: Admiro a estrada de ferro./ Admiro a pista. (KEHDI, 2001, p. 42) Segundo Monteiro (2002, p. 183) “Denomina-se composto o vocábulo formado pela união de dois ou mais semantemas. Os componentes podem estar graficamente ligados (aguardente, passatempo), hifenizados (vira-lata, franco-suíço) ou soltos (Porto Alegre, Mato Grosso)”. Em exemplos destes tipos, encontram-se muitas dificuldades em distingui-lo de uma locução, em que, de modo geral, os compostos não permitem a troca de posição de seus componentes. Convém ressaltar que, muitas vezes, a troca de posição muda também o significado e a função dos termos de uma expressão e isso não ocorre em nomes compostos, pois o significado é mantido, mesmo com a inversão dos componentes como em: francoitaliano / ítalo-francês. Analisando a discussão sobre “formação de palavras”, pode-se definir que o sintagma fixo não admite inversão de seus componentes, substituição ou omissão de itens, inserção de adjetivos, sem que fique totalmente diverso o significado. Observa-se que cada autor trata de estudar os casos citados de um ponto de vista diferente, seja ele morfológico, sintático ou semântico para comprovar as suas teorias a respeito do assunto mencionado neste artigo. Como uma tentativa de se diferenciarem as classes analisadas, buscou-se, através do estudo sobre substantivo e adjetivo, identificar quais foram os recursos dados por estudiosos para tentarem mostrar quando se trata de um substantivo composto ou quando são meras palavras (substantivo e adjetivo) colocadas uma ao lado da outra. Porém nenhuma forma de argumentação foi suficiente para distinguir possibilidades de contextos em que elas se encontram e, também, para tornar clara a diferença entre elas, devido a pouca abrangência de cada explicação em relação a muitas probabilidades de se encontrarem “compostos” ou não. as classes, substantivos e adjetivos, assim como os usos possíveis de palavras dessas classes em contextos, as informações coletadas foram organizadas e interpretadas, tendo como objetivo discutir perspectivas diferentes ou semelhantes sobre o assunto em questão para aclarar dúvidas que se encontram sobre o assunto. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página A partir do material pesquisado envolvendo concepções diversas de estudiosos sobre 231 CONCLUSÃO Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Constatou-se que, nos casos analisados, fica muito difícil definir quais critérios têm primazia sobre os outros na classificação de palavras da língua. Uma dificuldade constante vem do próprio significado de unidade lexical e das funções que ela pode desempenhar na frase, razão pela qual é improvável se estabelecer classes com limites, como são obtidas a partir de estudos distantes da realidade de uso da língua. Admite-se, ainda, que há casos em que significado e função (critérios mais fluidos do que forma e distribuição) são os que têm primazia; em outros, o critério utilizado tem por base outros aspectos, o que leva a se constatar que as classes de palavras não podem ser pensadas como compartimentos de fronteiras absolutamente rígidas, estanques, fechadas e impermeáveis e com conteúdo imutavelmente estabelecido. Pode-se observar a ‘fragilidade’ das definições apresentadas nas gramáticas tradicionais, pois apresentam, na maioria das vezes, exemplos ‘convencionais’ da modalidade escrita, não questionam e não discutem alguns usos, como os da modalidade oral, por exemplo, em que não há tanta rigidez na utilização da língua. Encontram-se nelas, na maioria das vezes, exemplos da literatura clássica e não retirados do uso cotidiano de um falante no ato de comunicação. Reflexões sobre casos como os citados por Biderman e Borba a respeito de serem os exemplos dados palavras compostas (substantivos+adjetivos) ou não (=lexema), sintagmas fixos ou apenas união de substantivos com adjetivos, além de outras observações sobre procedimentos das classes nominais na língua portuguesa, são importantes para constatar que, em alguns casos, não há possibilidade de se limitar o uso das palavras de uma língua baseado em conceitos distantes do uso normal em atos de fala, nem de tomá-las como pertencentes a classes definidas e imutáveis. A reflexão feita na análise teve o fim especial de se fazer um estudo mais aprofundado sobre a questão e, assim, poder contribuir com o aprimoramento de conhecimentos na área de estudo, uma vez que se pretendeu abranger casos normalmente não encontrados sobre substantivos e adjetivos em gramáticas tradicionais. Outros estudiosos, fazem análises de usos de uma forma mais profunda e abrangente, embora ainda o resultado não leve a dar uma resposta convincente à questão. Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página uso da língua. Daí, foram observadas algumas inconsistências e impropriedades nos dados 232 relacionados em gramáticas, material básico usado por professores, mas que fazem parte do Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010 Há necessidade, então, de se fazerem mais pesquisas referentes a possibilidades de ocorrência dessas categorias em contextos que abrangessem inclusive novos aspectos. Assim, poderiam, talvez, esclarecer as dúvidas ainda existentes sobre o tema. . REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. M. Gramática Metódica da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999 ALVES, I. M. Neologismo-criação lexical. 2ed. São Paulo: Ática, 1994 AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2ed. São Paulo: Publifolha, 2008 BASÍLIO, M. 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São Paulo: Global, 2009 Cíntia Lidiane Pizetta: Graduação em Letras pela Unicastelo – Descalvado, 2009; Iniciação Científica na área em 2009. e-mail: [email protected] Brazilian Cultural Studies v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010 Página Cybele Maria Martins: Mestrado em Letras, área de Linguística; Especialização em Letras e em Didática; Graduação em Letras e em Pedagogia. Docente da Unicastelo - Descalvado e-mail: cybmartins@ yahoo.com.br 234 Sobre os autores: