UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR SUBDIVISÃO POPULACIONAL: UMA ABORDAGEM PARA CONSERVAÇÃO Discente: Gislaine Mendes Coelho Orientadora: Drª Fernanda Amato Gaiotto RESUMO (Seminário de Tema Livre) A conservação da diversidade biológica incluindo, o nível genético, só é eficaz quando relacionada à visão evolutiva de que espécies são entidades dinâmicas capazes de se adaptar a mudanças ambientais. Atualmente diversas espécies e populações estão ameaçadas de extinção devido à perda de habitat, sobrexploração e poluição. Portanto a mitigação de fatores que contribuem para o declínio das populações é fundamental para manutenção da biodiversidade [1]. Para uma ação eficaz na minimização desses fatores, tal como a endogamia, necessita-se do conhecimento da diversidade genética através da quantificação e caracterização do modo de distribuição da variabilidade dentro das populações [2]. A endogamia causa a redução da variabilidade genética mantida na forma de heterozigotos. Esta perda de variabilidade genética natural pode ser responsável pela redução dos níveis de fertilidade e viabilidade de indivíduos da população frente a mudanças ambientais. A endogamia pode ocorrer devido a dois fatores principais: i) pelos desvios de panmixia ou ii) pela subdivisão populacional. A principal maneira de detectar desvios de acasalamento ao acaso é através da aderência dos locos ao Teorema de Hardy-Weinberg. Porém este teorema não engloba populações em que a autofecundação seja natural. Para incluir as espécies que efetuem autofecundação natural em análises de equilíbrio genético, Sewall Wright postulou novo teorema de equilíbrio adicionando a endogamia relacionada ao sistema reprodutivo. Além disso, publicou as Estatísticas – F que descrevem a distribuição da variação genética em populações, medindo o déficit de heterozigotos em relação ao esperado em Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Essa medida é feita em três níveis hierárquicos: análise de endogamia dentro da população relacionada ao sistema reprodutivo (FIS); análise de endogamia causada pela subdivisão populacional (FST); análise de endogamia total (FIT). A análise da estrutura genética, ou seja, da perda de diversidade causada pela subdivisão populacional é feita através do FST, o qual avalia a divergência das frequências alélicas entre duas ou mais populações. A perda de heterozigotos e conseqüente excesso de homozigotos que ocorre em casos de subdivisão é designada Efeito Wahlund. A partir deste princípio é possível demonstrar como ocorre a redução de heterozigotos, mesmo que as subpopulações se mantenham sob panmixia. Estimativas elevadas de FST evidenciam uma elevada estrutura das populações devido à grande diferenciação genética entre elas. O adequado para manter a capacidade adaptativa das espécies seria uma maior variabilidade genética dentro das populações e uma menor diferença entre elas. A estimativa de sub-estruturação em relação ao local ou região dentro de populações pode também ser realizada através das Estatísticas - F hierárquicas, que podem fornecer informações interessantes para planos de manejo e conservação [3]. O FST, entretanto, tem certas limitações como: i) resultados enviesados quando aplicados a locus multi-alélicos de evolução rápida; ii) não identificação de relação genealógica; iii) resultados enviesados em casos de populações ameaçadas[4]; iv) deve ser utilizado apenas sobre locos neutros. Devido aos avanços computacionais e tecnológicos, estatísticas análogas ao FST têm sido desenvolvidas para diminuir suas limitações. Dentre elas destacam-se: GST que é aplicação desta abordagem em locus multi-alélicos; ΦST utilizado em dados de marcadores moleculares dominantes e haplótipos; RST que corrige a elevada taxa de mutação de marcadores microssatélites, seguindo o modelo mutacional de Stepwise; e QST que avalia dados de características quantitativas distinguindo a ação de seleção e deriva sobre esses locos. Mesmo havendo diferenças de aplicação desses análogos ao FST, todos podem ser interpretados biologicamente como perda de diversidade pela subdivisão populacional, ou seja, podem ser usados como métodos de estimar a estrutura genética da população [5, 6]. A magnitude da subdivisão populacional acarretando prejuízo sobre a variabilidade genética da população pode ser estimada através do Tamanho efetivo populacional (Ne). Este parâmetro representa o número de indivíduos capazes de manter a variabilidade genética. Uma de suas estimativas é baseada no FST [3]. Outros fatores que aceleram a diferenciação entre as populações são isolamento (ausência de fluxo gênico) e redução do tamanho populacional. Ambos favorecem a ação da deriva genética e endocruzamento. O afunilamento populacional é outro processo que pode ampliar a ação da deriva. Quando isto ocorre, embora a população possa se restabelecer, em tamanho, sua diversidade não será mais a mesma da população original graças ao “efeito fundador”. A manutenção da diversidade entre as populações pode ocorrer através do fluxo gênico, que possibilita a troca gênica entre subpopulações parcialmente isoladas, aumentando a variabilidade genética e promovendo, a capacidade adaptativa. O fluxo gênico também pode ser estimado através da estimativa de FST [7]. O restabelecimento de fluxo gênico entre populações de espécies ameaçadas é um dos métodos de tentar diminuir os impactos causados pela fragmentação populacional, ampliando assim, a diversidade genética intrapopulacional e auxiliando na adequação adaptativa das populações às mudanças ambientais. Palavras-chave: Conservação, diversidade genética, subdivisão populacional e FST Referências Bibliográficas [1] FRANKHAM, R.; BALLOU, J. D. ; BRISCOE, D. A. Fundamentos da genética da Conservação. Editora da Sociedade Brasileira de genética, 280 p. 2008. [2] FUTUYMA, D. J. Biologia evolutiva. FUNPEC-RP, 2º edição Ribeirão Preto, 630p, 2002. [3] JEFFREY, K.; HARTL, D. L. A primer of Ecological Genetics. Editora Sinauer, 304p. 2004. [4] PEARSE, D. E et al. Beyond FST: analysis of population genetic data for conservation. Conservation Genetics, v.5, p.585-602, 2004. [5] CAVERS, S. et al. Targeting genetic resource conservation in widespread species: a case study of Cedrela odorata L. Forest Ecology and Management, v.197, p.285-294, 2004. [6] EVANS, B. S. et al. Population genetic structure of the perlemoen Haliotis midae in South Africa: evidence of range expansion and founder events. Marine Ecology Progress series, v.270, p.163-172, 2004 [7] ALLENDORF, F. W.; LUIKART, G. Conservation and the Genetics of Populations. Editora Blackwell Publishing, 642p. 2007.