diagnostico - Adivaldo Fonseca

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1-Dengue clássico
O nome Dengue Clássico se refere à infecção provocada, na pessoa, por qualquer um
dos quatro tipos de dengue. Já o dengue hemorrágico é uma síndrome - ou seja, um
estado mórbido caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas (definição do
Aurélio). As pessoas que já tiveram dengue e são infectadas pela segunda vez podem
(ou não) desenvolver o dengue hemorrágico.
Sintetizando: É errado dizer que o dengue 2 é o hemorrágico. Só há relação de causa
e efeito em alguns casos, quando a pessoa já teve Dengue I.
SINTOMAS DO DENGUE CLÁSSICO: de três a 15 dias após a picada do mosquito, a
pessoa começa a ter febre, dor de cabeça (na região ocular, principalmente), nas
juntas (dor nos ossos), prostação, vômitos, diarréia, falta de apetite e erupções na
pele. Os sintomas iniciais são os mesmos, independentemente do tipo de vírus ou do
número de vezes em que se contraiu a doença.
DIAGNOSTICO
Nem todo paciente com febre e dor muscular está com dengue. Há outras doenças
que podem ser confundidas com dengue, como febre amarela, malária, leptospirose.
E várias doenças podem causar choque. Na síndrome do choque da dengue, que é
uma doença virótica, o número de leucócitos não aumenta - e as vezes até diminui ao contrário do que ocorre no choque bacteriano, causado, por exemplo, por uma
meningite meningocócica.
A confirmação da dengue hemorrágica é feita através de três exames: a prova do
laço, contagem de plaquetas e hematócrito (ambos obtidos através do exame de
sangue). O isolamento e classificação do vírus demoram cerca de 15 dias. Quando
positiva, a prova do laço revela a existência de alta concentração de pontinhos
avermelhados (petéquias) no braço. Nos pacientes com dengue, o hematócrito revela
uma alta concentração de glóbulos vermelhos (hemoglobina). E o número de
plaquetas fica abaixo do normal.
Leptospirose: Nos pacientes com leptospirose, o branco dos olhos fica com uma
tonalidade róseo-avermelhada; os pacientes têm icterícia, que é raríssima na dengue,
e podem apresentar insuficiência renal. As bases para o diagnóstico são dadas pela
história epidemiológica (contato com água de enchentes, limpeza de fossa) e por
exames complementares.
Infecções respiratórias: No resfriado comum, o paciente tem coriza, espirros, dor de
garganta, tosse e não tem febre.
Já na gripe, os sintomas podem evoluir com febre alta de início súbito, calafrios e
dores musculares, sugerindo dengue ou leptospirose. O diagnóstico diferencial é feito
pela análise de sintomas respiratórios (tosse, dor de garganta, coriza, no caso da
gripe).
Nas pneumonias bacterianas, as dores são mais intensas no tórax, há tosse e
expectoração, que não ocorrem no dengue.
Sarampo: Pode ser confundido com dengue quando apresenta manchas
avermelhadas. No sarampo, no entanto, antes de surgirem as manchas o doente tem
tosse, coriza e conjuntivite, o que não ocorre no dengue. Além disso, as manchas do
sarampo começam na face e vão descendo para o resto do corpo. Na dengue, elas
surgem no tronco e progridem para os braços. As manifestações respiratórias, como
rinite catarral, são acentuadas no sarampo e não ocorrem na dengue.
Rubéola: Manchas vermelhas e febre podem ocorrer na rubéola. Mas a febre é mais
branda do que na dengue e as manchas começam pela face, como no sarampo. As
dores musculares são discretas, o estado geral é melhor. O diagnóstico de rubéola
exige confirmação por exames de laboratório.
Malária: Inicialmente, a febre na malária é diária (e não intermitente) na maioria dos
casos. As formas graves podem evoluir com choque, sangramento e eventualmente,
coma. A icterícia (pele amarelada) é comum. A exclusão deste diagnóstico é
obrigatória para todo paciente proveniente de área endêmica (estados da Região
Amazônica, países da América do Sul e Central, África) e se faz través de exames de
laboratório.
Febre amarela: Como a dengue, o principal transmissor da febre amarela urbana é o
Aedes aegypti. O quadro clínico inicial é indistinguível da dengue, com febre alta de
início súbito e fortes dores musculares. A maioria dos casos não apresenta icterícia
(pele amarelada). Nas formas graves, são comuns os sangramentos, geralmente
digestivos. A distinção do diagnóstico pode ser epidemiológica: se o paciente viajou
para área endêmica (Região Amazônica, incluindo Colômbia, Bolívia e Peru, e África)
e o período de incubação não excede a seis dias, deve-se suspeitar de febre amarela.
Meningoencefalites: Dor de cabeça intensa, presença de lesões purpúricas, choque
precoce, instalado em menos de 24 a 48 horas de evolução (o que, nas formas
graves do dengue, ocorre a partir do terceiro dia) indicam a necessidade de exclusão
de meningococcemia ou meningite meningocóccica. Nestas doenças, as lesões
purpúricas, com o passar das horas, assumem aspecto semelhante ao de
queimaduras por cigarro. Ao contrário do que se passa com a meningite, porém, a
percepção sensorial do paciente com dengue (no qual são incomuns as manifestações
neurológicas) tende a estar conservado. A punção lombar é indicada – na dengue o
líquor geralmente não está alterado. Na impossibilidade de exclusão do diagnóstico
de meningite, o paciente deve ser imediatamente medicado com antibióticos.
Pielonefrite: As dores, muitas vezes descritas pelo paciente como dores musculares,
estão restritas à região lombar. É preciso fazer exames de laboratório para um
diagnóstico diferencial.
Faringites: A dengue pode evoluir com dor de garganta. A presença deste sintoma
em crianças, somado à dor abdominal, pode sugerir o diagnóstico de faringite
estreptocócica. É preciso fazer exames para um diagnóstico diferencial.
Septicemia: As septicemias (infecção generalizada) têm instalação mais lenta. É
preciso fazer exames para dar um diagnóstico diferencial.
TRATAMENTO
Não há vacina contra a dengue, pois a imunidade prévia contra um determinado
sorotipo do vírus aumenta, em vez de diminuir, a possibilidade de formas graves da
doença.
Para a dengue clássica, não há tratamento específico, além de repouso e ingestão de
bastante líquido.
Nem sempre uma segunda infecção, por um outro tipo de vírus, é seguida de dengue
hemorrágica. Entretanto, se houver qualquer anormalidade, deve-se levar o doente a
um posto de saúde ou hospital mais próximo, onde ele deve ficar em observação.
Deve-se evitar a ingestão de anti-térmicos e analgésicos compostos por ácido acetil
salicílico (aspirina), que têm ação anti-coagulante, irritam a mucosa gástrica, e
podem levar à confusão de diagnóstico.
Com tratamento precoce e adequado, a recuperação do choque é rápida. Há casos,
porém, de reincidência da doença após dois ou três dias.
Na dengue hemorrágica, o tratamento é feito basicamente com a aplicação de soro e
plasma, mas às vezes também é necessário a transfusão de sangue.
EVOLUCAO
A dengue é uma doença infecciosa aguda, causada por um vírus e transmitida por
mosquitos do gênero Aedes. Conhecida há cerca de 200 anos, a dengue era
considerada até 1953 uma virose benigna, que causava desconforto sem ser letal.
Naquele ano, a eclosão, nas Filipinas, de uma epidemia da doença na sua forma mais
grave, a dengue hemorrágica, mudou radicalmente o conceito que se tinha sobre ela.
Hoje, a dengue hemorrágica está entre as dez principais causas de hospitalização e
morte de crianças em países da Ásia tropical. Nas Américas, a primeira epidemia de
dengue hemorrágica que se tem notícia ocorreu em Cuba, em 1981.
No Brasil, onde fora erradicado no início do século, o dengue ressurgiu em 1982,
quando uma epidemia atingiu um quinto da população de Boa Vista, Roraima. Em
1986, irromperam epidemias no Estado do Rio, Alagoas e Ceará que se alastraram,
nos anos seguintes, para outros estados da União.
Há quatro tipos de vírus da dengue conhecidos. O responsável pelas epidemia de
1986 foi o sorotipo 1 do vírus da dengue. Nos anos subseqüentes, o vírus 2 também
foi detectado no país, causando nova epidemia. Em janeiro de 2001, um terceiro tipo
de vírus, o 3 – que há quatro anos fora identificado na Venezuela – foi isolado em
Nova Iguaçu. Coincidentemente, a epidemia de 1986 também começou em Nova
Iguaçu.
O fato de haver um novo tipo de vírus de dengue circulando no meio ambiente traz
não só o risco de nova epidemia pelo tipo 3 como aumenta a probabilidade de
ocorrerem casos de dengue hemorrágica. Com base no que foi observado em outras
epidemias, principalmente em Cuba, os especialistas afirmam que uma pessoa
infectada fica imune ao tipo de vírus de dengue que causou a infecção. E, por um
período de três meses, ela também fica protegida contra os outros três tipos.
Passado esse tempo, porém, acredita-se que se a pessoa for novamente infectada
por um dos três tipos, num período de cinco a sete anos, ela poderá ter dengue
hemorrágica. Os epidemiologistas não descartam a possibilidade de ocorrerem casos
de dengue hemorrágica mesmo quando há apenas um tipo de vírus circulando. Em
1987, cinco pessoas com quadro clínico de dengue hemorrágica morreram em
Niterói. O número de notificações da doença, contudo, cresceu quando o tipo 2
também passou a circular no meio ambiente.
TRANSMISSAO
O principal transmissor da dengue é o Aedes aegypti, mas há outra espécie de
mosquito, o Aedes albopictus, que também é encontrado em áreas urbanas e pode
transmitir a doença. A principal fonte de infecção, contudo, é o homem. Se alguém
estiver doente e for picado por um mosquito são, vai transmitir a doença ao inseto –
e este, por sua vez, irá infectar outra pessoa, fechando a cadeia de transmissão. Não
há transmissão de uma pessoa para outra. O homem é capaz de infectar o mosquito
durante seis dias – um dia antes do início dos sintomas até cinco dias depois. O
deslocamento de pessoas infectadas ou mosquitos transportados em veículos e
cargas é que fazem a doença se alastrar.
O aegypti é um mosquito com hábitos bastante conhecidos. Ele é um inseto
essencialmente doméstico: a fêmea prefere depositar seus ovos em recipientes
artificiais ou naturais contendo água limpa, tais como o interior de vasos de plantas,
latas vazias, pneus velhos, calhas de telhado, garrafas e cacos de vidro sobre muros.
Se a fêmea estiver infectada, seus ovos também estarão. Depositados a alguns
milímetros acima da linha d'água, os ovos são muito resistentes: se a água secar,
eles se fixam às paredes dos reservatórios, onde podem resistir, ressecados, por até
450 dias. Assim que entrarem novamente em contato com água, o ciclo evolutivo do
inseto é reiniciado.
PREVENCAO
O uso de repelentes acarreta o risco de tornar o inseto imune ao veneno. A borrifação
ambiental com inseticida é útil apenas no controle dos mosquitos adultos – e, por
isso, é indicada apenas em casos de surtos ou epidemias. Seu efeito é paliativo, pois
os mosquitos eliminados serão rapidamente substituídos por outros recém saídos dos
criadouros. Para combater o mosquito, é preciso eliminar os ovos.
As medidas indicadas para a erradicação do mosquito são:
• Esvaziar bem e guardar as garrafas, latas e vidros de boca para baixo, para evitar o
acúmulo
de
água
estagnada.
• Fazer furos no fundo de vasilhas de latão, plástico ou outro material antes de jogálas
fora.
• Tampar as bocas dos poços artesianos, caixas d’água, cisternas, barris e tonéis que
ficam
ao
relento.
• Limpar periodicamente calhas e tubulações por onde a água da chuva é escoada.
• Transferir plantas aquáticas para vasos de terra ou então trocar a água a cada três
dias,
lavando
o
vaso
com
sabão.
• Evitar pratos com água embaixo dos vasos, e plantas como bromélias e gravatás,
que
acumulam
água
em
suas
folhas.
• Guardar os pneus em locais protegidos da chuva. Pneus usados como balanço
devem
ser
furados
para
que
a
água
não
fique
acumulada.
• Depois de despejar a água, deve-se passar uma lixa ou esponja áspera por dentro
dos recipientes para garantir a remoção dos ovos do mosquito. Os ovos podem
sobreviver.
Aedes albopictus
O Aedes albopictus tem maior tolerância ao frio, utilizando criadouros naturais e
artificiais, águas limpas ou poluídas, podendo reproduzir-se nas cidades, no campo e
nas florestas. Assim como o Aedes aegypti, o albopictus também transmite a febre
amarela – mas, por se adaptar tanto na floresta como na cidade, este último
representa um risco maior de atuar como ponte biológica entre a febre amarela
silvestre e a urbana.
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