distribuição e abundância de organismos e das - ufam

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DISCIPLINA: IBB603– ECOLOGIA PARA CIÊNCIAS NATURAIS / UFAM
MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO / CURSO DE FÉRIAS - 2011
ECOLOGIA – CONCEITOS E ASPECTOS HISTÓRICOS
A palavra ecologia
foi definida pela primeira vez em
1866, pelo zoólogo alemão Ernst Haeckel (aluno de Charles Darwin).
Segundo ele, e de maneira sintetizada se trata do estudo de todas as
inter-relações complexas denominadas por Darwin como as condições
da luta pela existência.
Outras definições foram propostas para distinguir a
ecologia vegetal da ecologia animal, e outras propostas tratavam de
relacionar com aspectos fisiológicos ou mesmo de distribuição e
abundância. Krebs em 1972 a definiu como o “estudo científico da
distribuição e abundância de organismos e das interações que
determinam
a
distribuição
e
abundância”.
O
conceito
mais
amplamente difundido em publicações acadêmicas pode ser assim
definido: “Ecologia é a ciência pela qual estudamos como os
organismos (animais, plantas e micróbios) interagem entre si e com o
mundo natural ”.
Entretanto, deixando de lado o conflito gerado pelas
inúmeras definições, e centrando o foco na questão principal,
veremos que a simples pergunta “O que é ecologia?”, poderia ser
substituída por questões mais objetivas: “O
que
fazem
os
ecólogos?”, “Em que os ecólogos estão interessados?” e “Onde a
ecologia emerge em primeiro plano?”. Mas antes de buscar as
respostas para estas indagações devemos procurar compreender os
caminhos para o pensamento ecológico, que está fortemente ligado ao
desenvolvimento do conhecimento humano. Estes caminhos que a
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humanidade vem trilhando, ao longo dos séculos. Essa história, que
ficou conhecida como história natural, envolve tanto estudos das
origens dos seres vivos, quanto das formações das terras e rochas no
nosso planeta. A ciência emanada dessa história é a ferramenta com
a qual contamos para responder a perguntas que intrigam a
humanidade desde os primórdios de sua existência, Que mundo é
este? De onde viemos? Em que direção devemos construir nosso
futuro? Sempre que indagamos sobre a essência, a origem e o destino
das coisas, acabamos nos reportando a Grécia antiga, onde se plantou
a semente das modernas discussões ocorridas no mundo ocidental e
das principais teorias científicas.
Os gregos não foram os primeiros a construir
explicações para os fenômenos da natureza: todos os povos o
fizeram, cada um a seu modo. A diferença é que as explicações
propostas pelos gregos baseavam-se na razão, isto é, na investigação
racional dos fenômenos naturais. Por isso, muitos conceitos criados
por eles estão presentes ainda hoje nos modernos debates
científicos. Muitos filósofos gregos se debruçaram sobre os enigmas
da natureza na tentativa de decifrá-los.
Tales de Mileto (624-558 a.C.), foi o primeiro filósofo
ocidental de que se tem notícia, representa o marco inicial da
filosofia ocidental. Na linha evolutiva, desenvolveu o seguinte
pensamento: “O mundo evoluiu da água por processos naturais”. Ele
foi seguido por Empédocles (490-435 a.C.), um filósofo, médico,
legislador, professor, mítico e profeta, que defendia a democracia e
sustentava a idéia de que o mundo seria constituído por quatro
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princípios: água, ar, fogo e terra. No naturalismo esboçou o que
podemos citar como os primeiros passos do pensamento Teórico
Evolucionista “Sobrevive aquele que está mais bem capacitado”,
aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin (mencionado
mais adiante).
No entanto, Platão
(428-347 a.C.) e Aristóteles
(384-322 a.C.) influenciaram
profundamente os rumos da
história natural. Discípulo de
Sócrates (470-399 a.C.), um
dos
mais
filósofos
da
importantes
Antiguidade,
Platão, além da dedicação
Foto em preto e branco da obra renascentista "A Escola de
Atenas", de Rafael Sanzio (1483-1520), pintada no Vaticano entre
1509 e 1510 para o Papa Júlio II.
pela divulgação das idéias do mestre, que se tornaram a base da
filosofia, também desenvolveu uma obra vastíssima, abrangendo
diversos ramos do conhecimento. Desta, a teoria das idéias foi sua
maior contribuição para a compreensão da ordem existente no
universo. Para Platão, existem dois níveis de compreensão do
universo: o mundo das idéias, que é perfeito e imutável, e o
mundo dos sentidos, uma cópia cheia de imperfeições desse
mundo das idéias, e que está em constante transformação. Assim,
todas as formas de vida conhecidas, no mundo dos sentidos, nascem,
crescem e morrem. Mas a idéia padrão daquela forma permanece
imutável. Ao considerar o mundo das idéias superior ao mundo dos
sentidos e afirmar que o verdadeiro conhecimento deve ser o do
mundo das idéias, Platão estava tentando resolver um antigo
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problema da filosofia grega: como os seres humanos podem chegar ao
conhecimento da verdade, se o mundo a sua volta está em constante
transformação? Por isso, a filosofia de Platão (assim como a de todas
as correntes de pensamento que surgiram a partir dele) foi
denominada idealista. Aristóteles, durante aproximadamente vinte
anos, estudou filosofia em Atenas, na escola fundada por Platão para
difusão e discussão de seu pensamento filosófico. Mais tarde
desenvolveu um trabalho filosófico próprio, no qual discordava em
muitos aspectos do pensamento de seu mestre. Para ele, acreditar
num mundo das idéias independente do mundo dos sentidos
significava duplicar a realidade – isto é, haveria sempre dois mundos,
um real e outro ideal. Segundo Aristóteles, tudo que existe no
universo
é
composto
de
matéria
e
forma,
e
essas
duas
características são inseparáveis (BRAGA, M. et. al., 2003).
Muito posteriormente Santo Agostinho (354-430 d.C),
fundamentado nestes conceitos, e conciliando razão e fé, constituiu
segundo a filosofia cristã, as bases do fixismo, que, como o próprio
nome sugere, defende a idéia de que as espécies são fixas, isto é,
imutáveis, independente do transcurso do tempo. Estes conceitos
foram posteriormente consolidados durante a Idade Média, por
outro filósofo de grande importância no mundo cristão - São Tomás
de Aquino (1225-1274).
No século XVIII, um novo movimento filosófico, o
iluminismo, teve repercussões em todas as áreas do conhecimento,
principalmente na França, onde alcançou maior amplitude: O ideal de
progresso apontava para a crença numa evolução da humanidade. A
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partir deste conceito, alguns naturalistas começaram a pensar: se as
sociedades humanas são capazes de evoluir, é possível imaginar
que a natureza possa se comportar de forma semelhante.
Ainda sob influência do fixismo, Car
von Linné (1707-
1778) (um médico sueco), desenvolveu um método de classificação
dos seres vivos, que se tornou a base da moderna taxonomia. O
trabalho de Linné, denominado Systema Naturae (Sistema Natural),
foi publicado em 1775 e depois completado em 1758. Criou também
um processo bastante prático de identificação, conhecido como
nomenclatura binomial (Gênero e espécie). Apesar de ter criado seu
sistema a partir de uma visão fixista (atualmente considerada
obsoleta) dos seres vivos, sua nomenclatura binomial é ainda nos
tempos atuais, uma importante ferramenta na identificação das
espécies.
Jean-Baptiste Pierre de Monet (Cavaleiro de Lamarck /
1744-1829), desenvolveu o primeiro modelo evolucionista, rompendo
com o fixismo. Seu modelo aceitava a existência de uma cadeia de
seres, alguns mais evoluídos e outros menos evoluídos. Três aspectos
podem ser usados para sintetizar o evolucionismo de Lamarck:
■ As espécies interagem com o meio ambiente;
■ Ao interagirem, se transformam definitivamente, passando a
utilizar com maior freqüência determinados órgãos, e deixando de
lado outros, de modo que, a longo prazo, os órgãos mais utilizados
se desenvolvem mais e outros sem uso atrofiam.
■ Os caracteres adquiridos são herdados pelos descendentes;
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Charles Darwin (1809 – 1882),
fundou as bases da teoria moderna da
evolução. Ele embarcou em 1831, na
condição
de
naturalista,
em
uma
expedição marítima a bordo do veleiro
Beagle,
organizada
britânico
com
o
pelo
intuito
de
almirantado
de
realizar
medições
geográficas
auxílio
à
navegação
por todos os continentes.
Durante os cinco anos de viagem ao redor do mundo, conseguiu
registrar uma vasta quantidade de informações sobre uma enorme
variedade de ambientes. No entanto foi nas ilhas Galápagos onde
realizou as observações mais evidentes para a fundamentação de
seus estudos, desenvolvidos durante as duas décadas seguintes ao
seu regresso.
Darwin
contou
com
a
colaboração
de
outro
naturalista, Alfred Russel Wallace (1823-1913), que no período de
1847 a 1852 explorou e realizou coletas na bacia do Amazonas
(Townsend, 2010), este escreveu para Darwin, descrevendo em toda
a sua essência, a mesma teoria da evolução, na qual, o primeiro vinha
trabalhando desde 1842. Darwin apresentou em 1º de junho de
1858,
na Sociedade Lineense de
Londres os resultados de seus
estudos: “A ORIGEM DAS ESPÉCIES através da seleção natural”.
A publicação da sua obra no ano seguinte, teve grande repercussão,
esgotando-se rapidamente.
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Ao colocar o homem em pé de igualdade com todos os
outros seres vivos, o evolucionismo rompeu com um pensamento
secular. Mesmo os iluministas franceses do século XVIII, que
procuraram romper com as abordagens místicas da natureza,
acreditavam que o homem tinha um papel central dentro da nova
ordem racionalista que pretendia difundir. Já o evolucionismo
colocava em dúvida essa supremacia humana. Por isso, as conclusões
de Darwin foram impactantes, para muitos teólogos, naturalistas e
filósofos (BRAGA, M. et. al., 2003, pg. 50).
Apesar da complexidade de todos os aspectos abordados
pelos trabalhos de Darwin, o processo de seleção natural por ele
proposto pode ser sintetizado em dois pontos:
● Adversidades produzidas por alterações ambientais, poderiam
levar a uma luta pela vida e, como conseqüência, a uma seleção
natural, na qual, os indivíduos mais aptos tenderiam a sobreviver, e
os menos aptos, morreriam sem deixar descendentes ou deixariam
poucos descendentes. Assim, depois de certo tempo, a maioria dos
indivíduos ou mesmo todos eles apresentariam as características
mais adequadas às condições do meio;
● As transformações das espécies ocorrem lenta e gradualmente,
formando ramificações derivadas de seres primários (árvore da
vida de Darwin).
Após a publicação da obra de Darwin, os debates em torno
do evolucionismo se ampliaram e logo ultrapassaram o âmbito
puramente científico. Os seus livros foram proibidos em diversas
bibliotecas de Universidades (principalmente as inglesas) que
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tinham forte influência religiosa [...] (BRAGA, M. et. al., 2003, pg.
53).
Até mesmo entre os simpatizantes do evolucionismo, havia
uma importante corrente ideológica que rejeitava a idéia da
seleção natural, aceitando as propostas formuladas por Lamarck
sobre a herança dos caracteres adquiridos, como principal
mecanismo do processo de evolução das espécies. Os historiadores
da
ciência
denominaram
esta
corrente
ideológica
de
neolamarckismo, sendo o pensamento mais difundido entre os
estudiosos das ciências naturais, pelo menos até o final do século
XIX.
No entanto novas idéias evolucionistas começaram a surgir
no início do século XX, como resultado da divulgação dos trabalhos
de Gregor Johann Mendel (1822 – 1884), que realizou diversos
experimentos sobre hereditariedade e cujos resultados se
tornaram a base da genética moderna, e pela colaboração de
outros pesquisadores como Auguste Weismann (1834-1914) e Hugo
de Vries (1848-1935). Muitos historiadores da ciência consideram
que os trabalhos destes pesquisadores, forneceram os elementos
sobre a hereditariedade, que faltavam para a fundamentação
desta nova corrente de pensamento evolucionista, denominada de
neodarwinismo.
Esse
conjunto
de
teorias
auxiliares
ao
evolucionismo de Darwin formou um poderoso modelo explicativo
que foi se consolidando ao longo do século XX.
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Bibliografia
BRAGA, M.; GUERRA A.; REIS, J. C. Darwin e o pensamento evolucionista. São Paulo:
Atual, 2003.
TOWNSEND, C.R. Fundamentos em ecologia. 3a ed., Porto Alegre: Artmed, 2010.
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