Sem título-1

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648 ZÉLIA LOPES DA SILVA & KARINA ANHEZINI (ORGS.)
elevada consideração em políticas públicas e tratados internacionais. Esse cenário
talvez se deva ao fato de que mais da metade da população mundial já vive em
cidades, fato inédito na história da humanidade de acordo com a ONU1. É
preciso dizer que a cidade é uma realização muito antiga, desde três mil anos
antes de Cristo nos zigurates da Mesopotâmia, passando por Atenas da
democracia e por Roma dos Césares, chegando às grandes metrópoles dos
séculos XX e XXI. A urbe é tida como o espaço de sociabilidade, da mesma
forma que espaço de produção de significados sociais, ou seja, cultura por
excelência (PESAVENTO, 1995). Desta forma, escolher a cidade como plano de
observação nos confere a oportunidade de perceber como a sociedade está
organizada, além, é claro, de nos depararmos com as práticas culturais de uma
sociedade.
Sobre a origem das cidades, Raquel Rolnik (1988) explica que estas nascem
com o processo de sedentarização do homem e seu aparecimento delimita uma
nova relação homem/natureza, pois é preciso fixar-se a fim de viabilizar a
produção agrícola e, assim, garantir o domínio permanente de um território.
Desta forma percebemos a oposição entre cidade e natureza, já que a cidade
emerge pela transformação que o homem empreende na natureza, moldando-a,
adaptando-a ao seu viver. Ou seja, a cidade como fruto da imaginação e do
trabalho articulado de muitos homens, sendo, portanto, “[...] uma obra coletiva
que desafia a natureza” (ROLNIK, 1988, p.8). Esse conceito relaciona-se, desta
maneira, ao que Sergio Buarque de Holanda (2006, p.97) considerou sobre a
cidade, que esta é “[...] essencialmente anti-natural, associa-se a manifestações do
espírito e da vontade, na medida em que se opõem à natureza”. Da mesma
forma, Ulpiano Bezerra de Meneses (1984, p.199) descreve que “[...]a cidade é
1
Matéria da ONU publicada em 19/04/2007, no site em português da referida organização.
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