Thaila Coradassi Formas Farmacêuticas utilizadas em Fitoterapia Entre as muitas formas farmacêuticas que a Fitoterapia disponibiliza, podemos citar: Pós Os pós são geralmente incorporados a outras formas galênicas como cápsulas. Após a eliminação de corpos estranhos e partes inertes, as ervas devem ser secas a uma temperatura de 25 a 45ºC. As ervas são trituradas em moinhos de diversos modelos e peneiradas tendo sua granulometria padronizada. O pó fornece uma administração segura e ainda um ajuste ou concentração dos princípios ativos do vegetal, além se ser de manipulação simples e possibilitar misturas. (Compêndio Herbarium) Extratos Os extratos podem ser líquidos, sólidos ou semi-sólidos e são obtidos através de vários métodos de extração e dissolução com solventes adequados, retirando dessa maneira os princípios ativos do vegetal. São preparações de base, uma vez que os extratos vegetais podem ser incorporados a outras formas farmacêuticas, como xaropes, suspensões e pomadas. A extração pode ser realizada por maceração, que consiste na dissolução dos ativos em frasco tampado e apresenta menor rendimento em relação à percolação, cujo líquido extrator atravessa o fármaco vegetal até o seu esgotamento. Depois dessa etapa, é feita uma filtração de qualquer componente sólido, seguida de uma evaporação para retirar excesso de líquido extrator. Finalmente depura-se o extrato, eliminando compostos contaminantes (mucilagens, albumina, etc.) para dosar e padronizar os princípios ativos do vegetal ligados ao efeito terapêutico.(FARAGO, 2005) Cápsulas As cápsulas são formas farmacêuticas sólidas, compostas de um fármaco, excipiente (amido de milho ou lactose), um agente molhante, que favorece a dissolução do fármaco e um agente absorvente da umidade. Essas preparações são muito utilizadas na Fitoterapia e podem ser preenchidas com o pó ou o extrato seco da planta desejada. O pó é empregado quando o vegetal é rico em princípios ativos e de baixa toxicidade e os extratos secos quando é necessário purificar e retirar contaminantes e substâncias tóxicas da planta. (FARAGO, 2005) Fitoterápico Boldo (pó) Peumus boldus Cavalinha (extrato seco) Equisetum arvense Princípio ativo Alcalóides totais (0,25-0,7%) Sílica 10% Guaraná (pó) Paullinia cupana Cafeína 3,25 – 5% Parte usada Folhas Dosagem 60 – 200 mg 3 x/dia Shoots 300 mg 3 x/dia Sementes 0,5 – 1,5 g Usos Colerético, colagogo, constipação. Diurético, suplemento nutricional para osteporose Adaptógeno, estimulante das funções cognitivas Um inconveniente de cápsulas fitoterápicas é a ocorrência freqüente de hipodosagem, levando à administração de várias unidades ao paciente e com isso podendo diminuir a sua adesão ao tratamento. Uma alternativa a esse problema são os extratos secos padronizados cujo teor de ativos já foi analisado e sua segurança e eficácia terapêutica comprovadas. (FERREIRA, 2002) Xaropes Os xaropes são formas farmacêuticas que possuem na maioria das vezes a água por veículo, um conservante, um açúcar (como a sacarose e seus substituintes), que serve como corretivo da viscosidade e um edulcorante que dificulta o crescimento de microrganismos. Podem ser utilizados ainda na formulação corantes e flavorizantes. Na Fitoterapia, os xaropes são empregados geralmente como expectorantes, no tratamento de tosses em há produção excessiva de muco no trato respiratório. As plantas são aplicadas no xarope a partir de um extrato fluido ou de uma tintura. (FARAGO, 2005) Algumas plantas utilizadas em xaropes são mostradas no quadro abaixo: FITOTERÁPICOS Eucalipto (Eucalyptus globulus L.) Extrato fluido Tintura Guaco (Mikania glomerata S.) Extrato fluido Tintura Ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha R. Extrato fluido Tintura DOSAGEM DIÁRIA USUAL 1,0 – 4,0 mL 10,0 – 15,0 mL 1,0 – 4,0 mL 15,0 – 20,0 mL 0,05 – 0,2 mL 0,5 – 1,0 mL O guaco (foto) pode ser utilizado em xaropes como expectorante Devem ser tomados cuidados com a dosagem dessa forma farmacêutica, por se tratar de uma preparação aquosa. É preferível que haja copos medidores, mas se não houver tal possibilidade, deve ser feita uma orientação ao paciente sobre qual colher (café, chá, sobremesa ou sopa) deve ser utilizada. (LISBOA, 2000) Pomadas São formas farmacêuticas de uso tópico, que podem conter uma tintura ou um extrato vegetal incorporado num excipiente adequado (graxos, como vaselina e lanolina ou hidrossolúveis, como polietilenoglicóis de baixo peso molecular) que é um dos responsáveis pelo nível de absorção de uma pomada. As pomadas podem ser subdivididas em cremes, onde ocorre a presença de um agente emulsionante estabilizando as fases aquosa e oleosa ou géis, onde o excipiente é constituído por um polímero. Além disso, ainda existem as pastas dérmicas, com 25% ou mais de sólidos insolúveis e os ungüentos que apresentam a mesma porcentagem de resinas.(FARAGO, 2005) A babosa (foto) é muito usada no tratamento de afecções cutâneas em pomadas Infusões e Decocções Ambos são métodos usuais no preparo de chás de plantas medicinais. Em uma infusão, a água é fervida e depositada em um outro recipiente contendo a planta (fresca ou seca) geralmente em pedaços bem pequenos. O recipiente deve ser tampado e deixado em repouso em contato com a água fervente por um período que pode variar de 20 a 30 minutos. Já nas decocções, a planta é colocada em um recipiente com água fria e esse sistema é colocado no fogo até a sua fervura. Após a ebulição, deixa-se no fogo ainda por um tempo que varia com a parte da planta utilizada. Se forem raízes ou talos, pode chegar a até 30 minutos; se forem partes mais tenras, como folhas e flores, o tempo geralmente não ultrapassa os 10 minutos. Depois do cozimento, o frasco deve ser tampado, deixado em repouso e o seu conteúdo coado. (Compêndio Herbarium) Tinturas As tinturas são preparações alcoólicas ou hidroalcoólicas resultantes da extração ou da diluição de um extrato de um fármaco. O fármaco pulverizado geralmente é extraído com álcool a 75ºGL, sendo que graduações mais baixas são apropriadas para princípios ativos hidrofílicos (taninos, heterosídeos e sais alcaloídicos) e graduações mais altas para ativos lipofílicos (óleos essenciais, alcalóides e agliconas). É importante salientar que nas tinturas o fármaco é utilizado em concentrações de 20% normalmente. A exceção seria os vegetais heróicos, cujos componentes (alcalóides, em geral) são muito potentes e por isso as concentrações não passam de 10%. (FARAGO, 2005) Dentifrícios e Enxaguatórios São preparações farmacêuticas que contêm abrasivos (fornecem a limpeza mecânica dos dentes), tensoativos (responsáveis pela limpeza química) e materiais aromáticos, que podem apresentar extratos, tinturas e óleos essenciais vegetais. Além desses componentes básicos, podem aparecer flavorizantes, edulcorantes, espessantes e fluoretos, esses últimos prevenindo cáries. Exemplos de extrato são o de curcuma (ação antiinflamatória), calêndula (cicatrizante), hamamélis (adstringente) e o se sanguinária (previne placa bacteriana). Já óleos essenciais incluem eucaliptol, eugenol e mentol, todos com ação anti-séptica. (FARAGO, 2005) O hortelã (esq.) e a curcuma (dir.) são plantas muito utilizadas no preparo de dentifrícios e enxaguatórios Outra forma farmacêutica usada na Odontologia é o enxaguatótio, que possui ação coadjuvante na higiene bucal e no tratamento de afecções orais. Tinturas, extratos e óleos essenciais podem melhorar a atividade dos fármacos, por suas características analgésicas e anti-sépticas. (International Journal of Pharmaceutical Compounding, 1999) Supositórios e Óvulos Os supositórios e óvulos são formas farmacêuticas sólidas destinadas à aplicação retal e vaginal, respectivamente. São aplicadas com o objetivo de permitir a dissolução, suspensão e emulsificação do fármaco. Os excipientes (por exemplo, manteiga de cacau, gelatina glicerinada e polietilenoglicóis) e as características físico-químicas do fármaco determinam a velocidade de absorção. Se um fármaco hidrossolúvel estiver num excipiente graxo, ficará disperso no meio, apresentando maior cedência e conseqüentemente absorção mais rápida. O contrário ocorre se um fármaco hidrossolúvel se um fármaco hidrossolúvel for colocado em um excipiente de mesmo caráter. Os supositórios podem conter fitofármacos e terem efeitos semelhantes com as formas farmacêuticas destinadas ao uso oral, mas sem passar pelo trato gastrointestinal. Os óvulos são destinados apenas ao uso local e podem apresentar tinturas e extratos no tratamento de afecções vaginais Cataplasma As ervas são trituradas junto a um óleo vegetal (utilizado normalmente como veículo) e são aplicadas quentes sobre a região afetada. : Aplicação de ervas sobre parte externa do corpo machucada, inchada ou dolorida. Pode ser feita: A partir de plantas frescas: Aplicadas diretamente na área afetada do corpo, sem preparação prévia. Ervas secas: Colocadas no interior de um saquinho e aplicadas frias ou quentes, de acordo com o caso. Estas cataplasmas são recomendados para combater câimbras, nevralgias, dores de ouvidos,etc. Forma de pasta: ervas socadas até formarem uma papa, que deve ser aplicada diretamente ou entre dois panos, no local afetado. Quando não se tem erva fresca, usa-se a seca. Aí é preciso água fervendo sobre as ervas, para auxiliar formação da papa. Compressas: Cozinhar ervas indicadas até se obter líquido bem forte (3 ou 4 vezes mais que o chá). A seguir mergulha-se pano no líquido, que é torcido e aplicado diretamente na parte dolorida ou afetada. Pode ser fria ou quente. Proporção 5 g de erva para cada 100 ml de água. Tampar e repousar de 10 a 15 minutos. (CORREA, 2000) O cataplasma de valeriana (foto) pode ser usado em contusões e dores musculares Óleos Medicinais São óleos fixos ou ceras líquidas que contêm soluções ou extratos de drogas vegetais. Eles são usados tanto interna quanto externamente. São utilizados principalmente em massagens e também na aromaterapia.(SCHULZ, 2002) Suspensões São sistemas heterogêneos em que existe um fármaco insolúvel disperso numa fase líquida. A suspensão deve apresentar maior viscosidade e facilidade de redispersão para uma correta administração. Para isso são utilizados umectantes (como tensoativos, polímeros e eletrólitos), que fornecem tais características e agentes suspensores. Na Fitoterapia, tinturas e extratos são incorporados nessa forma farmacêutica, com uma ação coadjuvante à do fármaco Comprimidos Os comprimidos são feitos pela compressão de material em pó ou granulado. Além dos ingredientes ativos, podem somar apenas alguns miligramas, eles contêm diluentes, ligantes, lubrificantes, corantes, aromatizantes e desintegrantes que ajudam o comprimido a se dissolver em meio aquoso. Podem ainda apresentar revestimento, feito de açúcar, corantes, gordura e cera. A sua função é proteger a parte central medicinal, para uma liberação controlada e retardada do componente ativo, aumento do prazo de validade e para mascarar sabores desagradáveis. (SCHULZ, 2002) Grânulos São agregados de material em pó mantidos juntos por ligantes. Sua produção envolve o uso de vários excipientes, como metilcelulose, lactose, sacarose e solução de gelatina. Os granulados são geralmente transformados em comprimidos, mas podem ser utilizados como formas farmacêuticas em si, principalmente no tratamento de problemas gastrointestinais.(SCHULZ, 2002) Formas farmacêuticas inovadoras Várias outras formas farmacêuticas vêm sendo utilizadas em Fitoterapia, com o objetivo de aumentar a adesão de pacientes ao tratamento, principalmente crianças. Alguns exemplos são pirulitos, chocolates, balas, gomas de mascar, onde são incorporados extratos vegetais que viabilizam um efeito terapêutico que pode ser local ou até mesmo sistêmico. FARAGO, P. V. Aulas de Farmacotécnica. Ponta Grossa, 2005. CORRÊA, A D., BATISTA, R. S. & QUINTAS, L. E. M., -Plantas Medicinais - do cultivo a terapêutica - São Paulo: Vozes, 2000. Enxaguatórios, pastas e géis dentais como veículos farmacêuticos. International Journal of Pharmaceutical Compounding. Edição brasileira v. 1, n. 3, 1999. LISBOA, S. M. & GRABE-GUIMARÃES, A. O emprego de colheres domésticas para medir xaropes e suspensões medicamentosas. Infarma. V. 12, n. 9/10, 2000. SCHULZ, V., HANSEL, R. & TYLER, V.E. Fitoterapia racional – um guia de fitoterapia para ciências da saúde. Barueri: Manole, 2002 TESKE, M. & TRENTINI, A M. M. Herbarium compêndio de fitoterapia FERREIRA, A O. Aspectos críticos na manipulação de fitoterápicos na forma de cápsulas e comprimidos para uso oral. Revista Anfarmag v. 1, n. 35, p. 32-36, 2002.