São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007 Grupo tenta criar "cérebro artificial" Projeto internacional tem como meta produzir modelo elétrico do sistema nervoso central humano até 2015, diz suíço Instituto Internacional de Neurociência de Natal (RN) vai participar da iniciativa; modelo de cérebro de rato fica pronto em dois anos EDUARDO GERAQUE ENVIADO ESPECIAL A NATAL Criar um "cérebro artificial" é uma idéia é visionária, mas plausível segundo Henry Markaram, professor da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça. Ontem, em Natal, o cientista apresentou o ousado projeto Blue Brain (cérebro azul, em inglês), que deve ser lançado oficialmente em 2008. A iniciativa pretende criar um modelo eletrofisiológico completo do cérebro humano até 2015. Seria uma ferramenta poderosa para entender como determinadas doenças neurológicas se comportam. No alvo estão os males de Alzheimer e de Parkinson. O recém inaugurado IINN (Instituto Internacional de Neurociência de Natal) será um dos cerca de 20 centros mundiais que vão trabalhar nessa rede internacional, que terá apoio financeiro da IBM. "Todos aqui são meio visionários. O Markaram já conseguiu montar um modelo com os componentes morfológicos, fisiológicos e moleculares que funcionou aparentemente bem", disse à Folha o neurocientista brasileiro Koichi Sameshima, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo). Essa tentativa de "desconstruir para depois construir" o cérebro dos mamíferos será feita por etapas, segundo explicou o pesquisador suíço em sua apresentação em Natal. Primeiro, serão feito modelos válidos para os roedores. Essa etapa já deverá estar pronta daqui dois anos. Em 2011, a expectativa é que os cientistas consigam montar o cérebro de um gato. Antes de chegar até o modelo humano, em 2015, também haverá a montagem de um protótipo cerebral para macacos. Velocidade genômica "A evolução tecnológica é muito grande. Os avanços nos próximos dez anos serão equivalentes aos obtidos nos últimos 150", diz Markaram. O pesquisador também vai trabalhar com a atividade cerebral dos símios no Brasil, nos laboratórios que estão sendo inaugurados na cidade de Natal. Na palestra de ontem, Markaram comparou o projeto Blue Brain ao Projeto Genoma Humano, como um exemplo de marco técnico-científico na área estudada. "Com a tecnologia computacional existente hoje, [o genoma] terminou antes do previsto", recorda. 100 milhões O desafio, porém, quando quantificado, parece grande demais e difícil de ser alçando até 2015. A estimativa é que será necessário prever como funcionam e se comunicam entre si, bilhões de neurônios e trilhões de de sinapses (as conexões entre as células do sistema nervoso humano). "Precisamos de uns 100 milhões de DVDs para gravar toda a informação do cérebro humano", calcula Markaram.