de Federico Fellini

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apresenta
Filmografia de Federico fellini (1920-1993)
1950
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1973
1976
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1980
1983
1986
1987
1990
Mulheres e Luzes
Abismo de um Sonho
Os Boas-Vidas
O Amor na Cidade
A Estrada da Vida
A Trapaça
As Noites de Cabíria
A Doce Vida
Boccaccio 70
Fellini Oito e Meio
Julieta dos Espíritos
Histórias Extraordinárias
Block-notes di un Regista (TV)
Fellini – Satyricon
Os Palhaços
Roma de Fellini
Amarcord
Casanova de Fellini
Ensaio da Orquestra
Cidade das Mulheres
E la Nave Va
Ginger & Fred
Entrevista
A Voz da Lua
o
3 - Edição n 35
20 de Dezembro de 200
Roma
de Federico Fellini
Convidado: Carlos Augusto Brandão
(pesquisador e crítico de cinema)
Mediação do Debate: Eduardo Valente e Ruy Gardnier
Programação e Produção: Grupo Estação e Contracampo.
Realização
www.estacaovirtual.com
Colaboração
www.contracampo.he.com.br
Sinopse
Um passeio pela capital italiana ao encontro de sua arquitetura, de suas personalidades, de
seus moradores e seus hábitos, de seus mistérios subterrâneos, de sua vida noturna
trepidante. Tudo sob o olhar clínico e peculiar do famoso diretor, que mistura passagens
autobiográficas com cenas da Roma de 1972.
Roma - Itália, 1972, cor, 128'
Direção e Roteiro: Federico Fellini Fotografia: Giuseppe Rotunno Montagem: Ruggero Mastroianni
Música: Nino Rota Produção: Turi Vasile Elenco: Peter Gonzáles (Fellini aos 18 anos), Fiona Florence (jovem
prostituta), Britta Barnes, Pia De Doses (Princesa Domitilla), Marne Maitland, Renato Giovannoli, Elisa Mainardi,
Raout Paule, Anna Magnani, Dennis Christopher, Gore Vidal, Alberto Sordi, Marcello Mastroianni, Federico Fellini.
A ROMA IMAGINÁRIA DE FEDERICO FELLINI
O filme de 1972, que dá
continuidade
ao
trabalho
memorialístico do cineasta, está de
volta. O título oficial em inglês
ficou sendo Fellini's Rome – a Roma
de Fellini – e
há algo de
depreciativo nele. Quer dizer que a
visão do diretor sobre sua cidade é
tão pessoal, tão extravagante que
talvez nada tenha a ver co a Roma
real. Como os latinos (ainda) não
fomos totalmente contaminados
pelo ideal objetivista anglo-saxão,
podemos tomar a crítica deles
como elogio para nosso uso. E, de
fato, nesse falso documentário de
1972, Fellini viu mesmo a sua
Roma. Ela é tanto mais verdadeira
e universal quanto mais subjetiva
for a maneira de retratá-la.
Roma não é a cidade natal do
cineasta, originário de Rimini. É sua
cidade de adoção. Foi para lá que
ele se mudou, jovem provinciano
dotado de imaginação privilegiada,
tentando ser jornalista, depois
caricaturista de jornal, até se
encontrar em Cinecittà. Assim, a
cidade é aquele depósito imaginário
das aspirações de alguém de fora,
que lá chegou e foi adotado.
Roma é a mãe cruel. Nessa Roma de
Fellini há ecos dos tempos do
fascismo e da época contemporânea
do filme, isto é, início dos anos 70.
O diretor, como de hábito, alterna o
sublime e o grotesco, como se essas
duas categorias, isoladas, não
fizessem
sentido
para
ele.
Relembra,
de
forma
quase
alucinatória, os famosos bordéis
romanos dos tempos da guerra.
Sente-se, de maneira quase carnal,
o caráter intimidatório daquelas
prostitutas desbocadas e poderosas.
É como o rapaz do interior, tímido e
deslocado, deve ter se sentido
naquelas
notórias
casas
de
tolerância. Casas do pecado na terra
do papa, na sede da religião.
Pecado, luxúria, e, por outro lado, a
onipresença da fé, como ele já havia
registrado na primeira (e genial)
cena de A Doce Vida, com a estátua
de Cristo sobrevoando a cidade. É o
lugar do sagrado e do profano. Mas
mesmo o sagrado pode cair na
derrisão como no desfile de moda
eclesiástica, que tanta dor de
cabeça custou a Fellini. De fato,
ficava difícil explicar que aquela
gozação nada tinha de anticlerical,
ainda mais porque substituía, com
vantagem, mais de mil discursos
sobre a riqueza, a vaidade, a pompa
e a circunstância da Igreja. Rindo, se
castiga melhor os costumes, como
sabiam os antigos.
A Roma de Fellini é um objeto
estranho, pousado entre as sete
colinas, construída sobre diversas
camadas superpostas de civilização,
dos etruscos aos romanos de hoje,
malucos clínicos no trânsito. Há um
dado real: a dificuldade de o metrô
romano avançar, pois a cada vez que
se fura um túnel dá-se de cara com
novo tesouro arqueológico. Fellini vê
essa Roma antiga com infinita
ternura naquela que seja, talvez, a
mais bela e a mais triste das cenas
do filme quando os murais
belíssimos, pintados há dois
milênios, começam a se desvanecer
no contato com o ar. É como se o
mundo antigo finalmente fosse
sendo apagado da memória coletiva
da cidade, ainda que em Roma, mais
do que em qualquer outra cidade do
mundo, eles continuem como signos
visíveis para qualquer pedestre.
Fellini fala um pouco dessa
sobrevivência do paganismo que
avança sobre a civilização cristã e se
apaga na medida em que tudo vai
sendo laicizado. Tanto o resto pagão
quanto a poderosa Igreja Católica,
que cedem lugar para a suposta
racionalidade da vida moderna. A
Roma imaginária, múltipla, secreta
em seus subterrâneos e suas
lembranças, entra em ritmo
contemporâneo
com
seus
motoqueiros correndo pelas ruas e
hippies sendo espancados em Santa
Maria de Trastevere.
É curioso como esta Roma, de 1972,
se conecta com aquela outra, de
1969, o mundo pagão de Satyricon,
baseado em Petrônio. Neste filme,
Fellini ia em busca daquela cultura
desaparecida e que só tem
existência para os modernos por
meio de traços: ruínas ou o próprio
texto de Petrônio, escrito no
primeiro século da era cristã. Numa
das cenas, os personagens que o
espectador havia acompanhado
durante a história, Ascilto, Giton,
Trimaxião, são representados por
afrescos numa parede em ruínas. Em
Roma, é o próprio mundo moderno
que se propõe como ruína potencial.
Por isso o filme é tanto homenagem
como exéquias de uma cidade. Nada
menos que brilhante.
Luiz Zanin Oricchio
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