i CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA LEIDIANA ALONSO ALVES ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA VARIAÇÃO TEMPORO-ESPACIAL DOS ESPELHOS D’ÁGUA DAS LAGOAS DO SISTEMA CAMPELO ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2015 CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ 2016 ii LEIDIANA ALONSO ALVES ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA VARIAÇÃO TEMPORO-ESPACIAL DOS ESPELHOS D’ÁGUA DAS LAGOAS DO SISTEMA CAMPELO ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2015 Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Campus Campos-Centro, como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia. Orientador: José Maria Ribeiro Miro Bacharel em Geografia/UFRJ CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ 2016 iii iii LEIDIANA ALONSO ALVES iv Dedico este trabalho, À proteção e preservação dos corpos hídricos (lóticos e lênticos) da Região Norte Fluminense, principalmente àqueles localizados na Bacia do Sistema Campelo. v AGRADECIMENTOS No decorrer deste trabalho muitos foram aqueles que incentivaram e contribuíram para o seu desenvolvimento, por isso gostaria de expressar aqui o meu reconhecimento. Agradeço, primeiramente, a Deus por renovar minhas forças diariamente. A todos os familiares que acompanharam o desenvolvimento deste trabalho, em particular ao meu pai, a minha irmã e em especial a minha mãe Janete pelo apoio incondicional junto às tomadas de decisão. Não posso esquecer-me de dirigir uma palavra sincera de agradecimento a Cremilda Rangel pela amizade e o incentivo constante. Ao orientador desta monografia, Professor José Maria Ribeiro Miro por cada minuto do seu tempo cedido para ouvir minhas ideias, pelo seu incentivo contínuo, pelos ensinamentos e trabalhos em conjunto. Percebi que tudo isso me fez crescer não só academicamente, mas na vida pessoal também. Obrigada por tudo! Ao Instituto Federal Fluminense que me recebeu de braços abertos. Obrigada pelas experiências vividas e adquiridas ao longo do tempo. A Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação na pessoa do Professor Pedro Castelo Branco. Agradeço à concessão contínua da bolsa de Iniciação Científica, o que possibilitou desenvolver o projeto de pesquisa O novo mapa da Ecorregião de São Tomé: lagoas que deu subsídios este Trabalho de Conclusão de Curso. A Coordenação do Curso de Licenciatura em Geografia, especialmente à Professora Roselene Affonso pelo apoio, atenção e a gentileza de sempre. Aos Professores Aristides Arthur Soffiati Netto, Claudio Henrique Reis e Ricardo Pacheco Terra que aceitaram o convite para fizer parte da Banca Avaliadora e com suas leituras e experiências contribuírem para elevar o nível deste trabalho. Ainda quanto ao Professor Arthur Soffiati fica aqui o meu agradecimento pelas trocas de ideias que tanto colaboraram para o desenvolvimento deste e de outros trabalhos. Ao Centro de Informações e Dados de Campos (CIDAC) em especial ao Rhaniéri Siqueira e a Patrícia Pires por todo o apoio durante os dois anos de estágio, e também, posterior a isso. Aos Salaverdeanos fica aqui o meu agradecimento a todos. Aos Mestres do Ensino Médio e da Graduação pelos ensinamentos diários. Ao Diego de Oliveira Miro pelas contribuições estatísticas via Skipe. A Professora Maria Amelia Ayd Corrêa por contribuir com seus ensinamentos que foram de grande importância para a elaboração de diversos trabalhos. Aos companheiros da turma “Geografia20102s”. Em fim, a todos, os meus mais sinceros agradecimentos. vi Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão. Leonardo da Vinci vii RESUMO ALVES, Leidiana Alonso. Análise Geossistêmica da variação temporo-espacial dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo entre os anos de 2006 e 2015. Monografia. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. Campos dos Goytacazes/RJ, 2016. Orientador: Prof. José Maria Ribeiro Miro. A conservação dos recursos hídricos é o tema central desta pesquisa. A Bacia Hidrográfica do Sistema Campelo está localizada entre os municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana, no estado do Rio de Janeiro. Sua paisagem é marcada por lagoas, brejos e canais. Este recorte espacial é composto pelos seguintes compartimentos geomorfológicos: Tabuleiros Terciários da Formação Barreira e Planície Fluviomarinha. O estudo destes corpos hídricos se justifica devido ao fato desta região se mostrar importante para a produção de alimentos, abastecimento de água e geração de trabalho e renda para aqueles que residem no referido sistema. Desta forma, objetiva-se com esta pesquisa compreender os processos envolvidos na variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, correlacionando-os em função da precipitação atmosférica na sua bacia e integrando-os à paisagem através da metodologia geossistêmica. Os pressupostos teóricometodológicos aqui empregados basearam-se na abordagem Geossistêmica, no qual foi considerada adequada ao desenvolvimento de estudos integrados do ambiente, além disso, buscou-se o enfoque geomorfológico ao observar a paisagem. Através do método da Análise Ambiental buscou-se compreender o ambiente em sua totalidade, observando-se as interrelações entre os elementos que o constitui. Associado ao uso das geotecnologias e Trabalhos de Campo foi possível correlacionar os fenômenos geográficos de localização, proximidade, continuidade e frequência de objetos no espaço. Os resultados obtidos mostraram que o entorno das lagoas encontram-se ocupados por agricultura, pastagem e área urbana, o que denota elas não estão livres das interferências antrópicas; quando inferido a variação dos espelhos d’água, observa-se eles demonstraram um comportamento, na maioria das vezes irregular não sendo possível estabelecer um padrão na série estudada. Ao estabelecer a correlação entre a área das lagoas como seus respectivos espelhos d’água, quantificou-se o observado em campo e concluiu-se que as lagoas estão desaparecendo da paisagem do Sistema Campelo. Palavras-chave: Geossistema, Análise Ambiental, Lagoa do Campelo. viii ABSTRACT ALVES, Leidiana Alonso. Geosystemic analysis of temporo-spatial variation of water features of the Campelo System ponds between 2006 and 2015. Monograph. Federal Institute of Education, Science and Technology Fluminense. Campos dos Goytacazes/RJ, 2016. Advisor: José Maria Ribeiro Miro. The conservation of water resources is the focus of this research. The Watershed Campelo System is located between the municipalities of Campos dos Goytacazes and São Francisco de Itabapoana in the state of Rio de Janeiro. Its landscape is marked by lagoons, swamps and channels. This spatial area consists of the following geomorphological compartments: Trays Tertiary Training Barrier and Plain fluviomarinha. The study of these water bodies is justified by the fact that this region proves important for food production, water supply and generate jobs and income for those who live in that system. Thus, if the objective of this research was to understand the processes involved in the variation of the reflecting pools of the Campelo System Pond, correlating them depending on rainfall in its watershed and integrating them into the landscape through Geosystemic methodology. The theoretical and methodological assumptions employed here were based on the geosystemic approach, which was considered adequate to the development environment integrated study also sought to geomorphological approach to observe the landscape. Through the method of environmental analysis sought to understand the environment in its entirety, noting the interrelationships between the elements that constitute it. Associated with the use of geotechnology and Fieldwork was possible to correlate the spatial localization phenomena, proximity, continuity and frequency of objects in space. The results showed that the areas surrounding the lakes are occupied by agriculture, grazing and urban areas, which indicates they are not free of anthropogenic interference; inferred when the variation of water features, there is a behavior they demonstrated, for the most part irregular is not possible to establish patterns of this series. To establish the correlation between the area of the lagoons as their respective reflecting pools, the observed quantified in the field and it was concluded that the ponds are disappearing from the landscape Campelo system. Keywords: Geosystem, Environmental Analysis, Pond Campelo. ix LISTA DE FIGURAS Figura 1- Perfil morfométrico da Bacia do Sistema Campelo.......................................... 17 Figura 2 - Estruturação do geossistema e do sistema socioeconômico............................ 26 Figura 3 - Ciclos de Milankovitch.................................................................................... 27 Figura 4 - Modelo da Deriva Continental....................................................................... 28 Figura 5 - Resolução espacial de uma imagem em Sensoriamento Remoto.................... 36 Figura 6 - Espectros de reflectância.................................................................................. 36 Figura 7 - Identificação de elementos individuais na paisagem....................................... 37 Figura 8 - Padrão de recobrimento orbital em um dia pelo satélite Landsat com ................. resolução temporal de 16 dias.......................................................................... 37 Figura 9 - Principais passos para a delimitação de bacias hidrográficas.......................... 42 Figura 10 - Bacia do Sistema Campelo............................................................................ 42 Figura 11 - Sub-bacias do Sistema Campelo.................................................................... 43 Figura 12 - Curvas de nível.............................................................................................. 45 Figura 13 - Modelo Digital de Elevação........................................................................... 45 Figura 14 - Imagem Landsat 5.......................................................................................... 48 Figura 15 - Espelhos d’água vetorizados.......................................................................... 48 Figura 16 - Estádio 5: Formação relativa ao período 5.100 – 4.200 A.P......................... 57 Figura 17 - Domínios Morfoclimáticos Brasileiros.......................................................... 60 Figura 18 - Cena de trabalho nos engenhos de açúcar típicos do século XVII – pintura ....................de Hercule Florence....................................................................................... 68 Figura 19 - Usos da Terra no Sistema Campelo............................................................... 72 Figura 20 - Obras de engenharia no Sistema Campelo..................................................... 72 Figura 21 - Variação dos usos na FMP da lagoa do Taquaruçu....................................... 73 Figura 22 - Paisagem de algumas lagoas do Sistema Campelo........................................ 76 x LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização da área de estudo........................................................................... 17 Mapa 2 - Precipitação das Regiões Hidrográficas............................................................ 51 Mapa 3 - Geologia da Bacia do Sistema Campelo........................................................... 59 Mapa 4 - Relevo do Sistema Campelo.............................................................................. 62 Mapa 5 - Vegetação Potencial do Sistema Campelo........................................................ 65 Mapa 6 - Usinas de Campos dos Goytacazes na década de 1970..................................... 68 Mapa 7 - Uso da Terra no Sistema Campelo.................................................................... 69 Mapa 8 - Rede Hidrográfica do Sistema Campelo........................................................... 74 Mapa 9 - Sub-bacias do Sistema Campelo....................................................................... 77 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Proposta de classificação da paisagem em níveis temporo-espaciais e a ................... relação de grandeza das unidades de paisagem............................................. 29 Quadro 2 - Categorias e Princípios Lógicos Geográficos................................................ 30 Quadro 3 - Principais pressupostos teóricos utilizados no trabalho................................. 38 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Normal da precipitação para a Baixada Campista.......................................... 52 Gráfico 2 - Total acumulado da precipitação para a Baixada Campista........................... 53 Gráfico 3 - Variação da precipitação acumulada.............................................................. 54 Gráfico 4 - Precipitação pluviométrica em períodos úmido e seco entre 2006 e 2015.... 56 Gráfico 5 - Correlação entre as áreas das lagoas e suas sub-bacias.................................. 78 Gráfico 6 - Variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo..................... 80 Gráfico 7 - Variação do total dos espelhos d’água e precipitação do Sistema Campelo.. 82 Gráfico 8 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período úmido............. 84 Gráfico 9 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período seco................ 84 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Imagens de satélites utilizadas na pesquisa..................................................... 47 Tabela 2 - Acumulado e percentuais de precipitação....................................................... 55 Tabela 3 - Síntese da extensão das unidades geológicas.................................................. 59 Tabela 4 - Síntese da Vegetação Potencial do Sistema Campelo..................................... 65 Tabela 5 - População urbana e rural da Bacia do Sistema Campelo................................ 69 Tabela 6 - Síntese do Uso da Terra no Sistema Campelo................................................. 70 Tabela 7 - Identificação, localização e extensão dos principais canais............................ 75 Tabela 8 - Síntese das áreas das lagoas e sub-bacias do Sistema Campelo...................... 78 Tabela 9 - Coeficiente de variação dos espelhos d’água do Sistema Campelo .................(2006-2015)...................................................................................................... 83 Tabela 10 - Correlação entre as áreas das lagoas e seus espelhos d’água........................ 85 xii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AP – Antes do Presente CIDAC – Centro de Informações e Dados de Campos DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamentos ENE – Leste-nordeste ETP – Evapotranspiração Potencial IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFF – Instituto Federal Fluminense INEA – Instituto Estadual do Ambiente INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais LIFE – Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores MDE – Modelo Digital de Elevação MMA – Ministério do Meio Ambiente PA – Pará (Estado) PIs – Planos de Informações Proálcool – Programa Nacional do Álcool SFI – São Francisco de Itabapoana SHP – Shapefile SIG – Sistema de Informação Geográfica SP – São Paulo SRTM – Shuttle Radar Topography Mission UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro USGS – Serviço Geológico dos Estados Unidos UTM – Universal Transversa de Mercator WGS – World Geodetic System WSW – Oeste-sudoeste xiii SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................................. vii ABSTRACT.......................................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... ix LISTA DE MAPAS.............................................................................................................. x LISTA DE QUADROS........................................................................................................ x LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................................ x LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... xi LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................. xii 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 15 1.1 Localização da área de estudo.................................................................................. 16 1.2 Justificativas.............................................................................................................. 18 1.3 Hipótese.................................................................................................................... 18 1.4 Objetivos................................................................................................................... 19 1.4.1 Objetivo geral.................................................................................................. 19 1.4.2 Objetivos específicos....................................................................................... 19 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS................................................. 20 2.1 Tipologia das fontes.................................................................................................. 21 2.2 Pressupostos Teóricos............................................................................................... 22 2.3 Síntese dos pressupostos teóricos............................................................................. 38 2.4 Método...................................................................................................................... 39 2.5 Procedimentos.......................................................................................................... 41 2.5.1 Delimitação do recorte espacial: Bacia do Sistema Campelo......................... 42 2.5.2 Elaboração dos produtos cartográficos............................................................ 43 2.5.3 Modelo Digital de Elevação............................................................................ 44 2.5.4 Análise estatística dos dados........................................................................... 45 2.5.5 Processamento das Imagens............................................................................ 47 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................... 49 3.1 Análise Geoambiental do Sistema Campelo............................................................ 50 3.1.1 Climatologia..................................................................................................... 50 3.1.2 Geologia........................................................................................................... 57 3.1.3 Geomorfologia................................................................................................. 60 3.1.4 Vegetação Potencial......................................................................................... 63 3.1.5 Uso da Terra..................................................................................................... 66 3.1.6 Hidrologia........................................................................................................ 73 3.2 Dinâmica das variações lineares dos espelhos d’água no Sistema Campelo........... 79 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 88 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 91 6. APÊNDICE....................................................................................................................... 98 xiv CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 15 1. Introdução Esta pesquisa tem como tema a conservação dos recursos hídricos no Baixo Curso do rio Paraíba do Sul, mais especificamente, um estudo de caso da Bacia do Sistema Campelo. A água modela paisagens em todas as partes do mundo. Seus traços criam formas na Terra, nas bacias oceânicas, nas cadeias montanhosas e em todas as regiões. De forma detalhada, esculpe os contornos de colinas e vales ou desenha planícies e lagos. Nas planícies serpeiam mais lentamente, nas áreas íngremes gastam mais energia, por unidade de comprimento do que quando esculpem áreas em níveis mais baixos. No que tange ao uso social, a água é utilizada para abastecimento humano e das suas atividades socioeconômicas, sendo captada nos rios, lagos, represas e em aquíferos subterrâneos. Ela é considerada um bem natural de fundamental importância para a sobrevivência humana e dos ecossistemas naturais. Suas características variam quanto à qualidade e quantidade, devendo ser analisada sob os aspectos de origem e pelo seu múltiplo uso (ALVES et al., 2014). Apesar da importância, o seu uso inadequado ainda causa conflitos entre vizinhos no mundo todo. A montante ou a jusante dos mananciais, frequentemente acontecem impactos ambientais sobre os recursos hídricos, principalmente, aqueles relacionados à poluição e redução do fluxo hídrico; construção e assoreamento de represas; salinização e erosão de solos; e inundações agravadas pelo desflorestamento. Na Região Norte Fluminense, relata-se mais a atuação do setor sucroalcooleiro de Campos que restringem o acesso à água a outros usuários (TELLES e DOMINGUES, 2006, p. 345). Com o intuito de entender as lagoas da Região Norte Fluminense, Alves et al. (2013) inventariaram 70 corpos lênticos e os classificaram utilizando-se os seguintes critérios geomorfológicos: formadas a partir de barras arenosas costeiras, entre cordões litorâneos, meandros abandonados de rios, vales encaixados nos Tabuleiros de Formação Barreiras e depressões na Planície Fluviomarinha. Dentre eles, as lagoas do Sistema Campelo aparecem classificadas como: lagoas de Meandro Abandonado, Reliquiar e de Tabuleiros. A primeira caracteriza-se por formar-se a partir dos processos de autorregulação de rios meandrantes; a segunda aplica-se tanto para lagoas, quanto para lagunas, pois se formaram entre as faixas de areia deixadas pelos processos de Regressão e Transgressão Marinha; e a terceira apresenta lagoas encaixadas nos vales do Grupo Barreiras e esculpidas pela erosão diferencial nos tabuleiros sedimentares. Quando suas formas são correlacionadas ao relevo, Alves et al. (2015) destacam que as lagoas do tipo Dendrítico predominam no sistema, tendo com exemplo as formas das 16 lagoas: Macabu, Saudade, Brejo Grande; já as lagoas Campelo e Arisco apresentam forma Alongada e Circular/Oval, respectivamente. Este estudo trata da variação espaço-temporal dos espelhos d’água de 17 lagoas do Sistema Campelo, que hidrologicamente é abastecido por águas superficiais e subsuperficiais oriundas das vertentes dos tabuleiros; e planície por rios e canais, como os do Vigário e Cataia. Sendo drenado, principalmente, através do canal Engenheiro Antônio Resende, até alcançar ao mar. Nesta região, muitos autores descrevem os conflitos pela água na Baixada Campista, relacionando-os às obras de engenharia construídas no século XX, pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). As justificativas para estas intervenções foram sanitaristas ou de combate às cheias e inundações, contudo, impactaram os recursos hídricos regionais. Atualmente, Soffiati (1998, p. 21), Carneiro (2003, p. 138) entre outros, discutem o tema, dizendo que a motivação destas obras, na verdade, foi para expandir as áreas agricultáveis. Devido à importância do tema, estudos que visem o monitoramento, preservação e qualidade dos recursos hídricos devem ser desenvolvidos sistematicamente. Quanto a isso, Polidório (2005, p. 4.249), Silva et al. (2012, p. 910) e Lima (2014) destacam que trabalhos que usam técnicas de Sensoriamento Remoto organizados em SGIs vêm sendo desenvolvidos, demonstrando que essas tecnologias são eficientes para a geração de informações qualitativas e quantitativas sobre sistemas aquáticos impactados. Além disso, eles possibilitam realizar análises multitemporais, com imagens de satélites e software disponibilizados gratuitamente, possibilitando desenvolver pesquisas de baixo custo e boa qualidade. 1.1 Localização da área de estudo A Bacia Hidrográfica do Sistema Campelo apresenta uma área total de 756,49 km² ou 75.649 ha, comprimento máximo de 37,90 km e largura máxima de 25,80 km, como se vê na Figura 1. Ela está localizada politicamente entre os municípios costeiros de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana, na região norte do estado do Rio de Janeiro/BR. Fisicamente ela encontra-se entre as coordenadas UTM 253082.84E / 7632131.44S e 259738.91E / 7592659.87S e fuso 24S. A área de estudo está inserida entre a margem esquerda do rio Paraíba do Sul e a bacia do rio Guaxindiba a norte. A oeste pela linha de cumeada da bacia do rio Muriaé e a leste pelos suaves divisores da bacia do canal de Cacimbas. Geomorfologicamente localiza-se na região do Baixo Curso do rio Paraíba do Sul 17 (Mapa 1). O recorte ocupa 62,30% do município de Campos dos Goytacazes e o restante no município de São Francisco de Itabapoana. Mapa 1 - Localização da área de estudo Figura 1 - Perfil morfométrico da Bacia do Sistema Campelo 18 1.2 Justificativas Para Christofoletti (1999, p. 45), a Geografia é o estudo da organização espacial e não do espaço ou lugar. Desta maneira, pode-se dizer que a Geografia estuda, principalmente, as alterações realizadas na natureza pelas sociedades humanas. A região onde se localiza a Bacia do Sistema Campelo é composta por uma expressiva rede hídrica. Mesmo assim, há poucos estudos geográficos que retratem sua dinâmica. Atualmente, alguns pesquisadores, inclusive do Laboratório Sala Verde IFF Campos (Instituto Federal Fluminense), vêm investigando e desenvolvendo estudos sobre os corpos hídricos da região Norte Fluminense, mas é necessário aprofundar suas análises nas bacias hidrográficas localizadas a norte do rio Paraíba do Sul. Esse sistema apresenta uma quantidade expressiva de lagoas, localizadas na Planície Fluviomarinha e nos Tabuleiros de Formação Barreira. Elas são objetos que tendem a desaparecer no decorrer do tempo, podendo ser classificadas como elementos não permanentes das paisagens. Quanto ao uso de suas águas, elas podem ser caracterizadas como as de um manancial, pelo uso agrícola, para dessedentação de animais, pesca artesanal, lazer, e abastecimento da população que reside nesta bacia, o que justifica esta pesquisa. Considerada como uma região importante para produção de alimentos, abastecimento de água, geração de trabalho e renda. Dessa forma, conclui-se que os corpos hídricos nela encontrados, são objetos geográficos de grande relevância. Por isso, estudos sobre a variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, entendendo as lagoas como indicadores de qualidade ambiental, podem revelar aspectos que contribuam para melhorar a qualidade ambiental da região como um todo. 1.3 Hipótese Por se tratar da uma região composta por diversos corpos lênticos (sistema de água parada) e lóticos (sistema de água corrente), as hipóteses formuladas foram as de que os espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo estejam interligados; e que a lagoa do Campelo seja um indicador do nível de água das outras lagoas do sistema. A hipótese foi formulada a partir da contribuição do trabalho de Argento (1987, p. 468) quando diz que há uma extraordinária diminuição do aporte de sedimentos que chegam a Baixada Campista nos períodos úmidos para os secos, calculados na ordem de centenas de toneladas/ano. Ora, se a metodologia utilizada pelo pesquisador se baseou no transporte de sedimentos carreados por 19 rios e canais, supõe-se que essa variação periódica na quantidade de água, altere as áreas dos espelhos d’água das lagoas da região. 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo geral O objetivo central desta pesquisa consiste em compreender os processos envolvidos na variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, correlacionando-os em função da precipitação atmosférica e integrando-os à paisagem da bacia, através do método da Análise Ambiental e teorias geossistêmicas. 1.4.2 Objetivos específicos 1. Caracterizar os aspectos geoambientais do Sistema Campelo relacionando-os as suas lagoas; 2. Analisar a variação dos espelhos d’água das lagoas entre os anos de 2006 e 2015; 3. Estabelecer uma correlação entre a precipitação atmosférica da região e a variação dos espelhos d’água das 17 lagoas do Sistema Campelo. 99 CAPÍTULO 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 21 2.1 Tipologia das fontes A pesquisa foi desenvolvida a partir de consultas bibliográficas em livros, periódicos, teses, dissertações, monografias, anais de congressos, dados ambientais disponibilizados por diversas instituições públicas, informações coletadas em campo, imagens de satélites e no Banco de Dados do projeto O novo mapa da Ecorregião de São Tomé: Lagoas, em desenvolvimento no Instituto Federal Fluminense (IFF) desde setembro de 2011. Ressalta-se que a pesquisa foi organizada segundo o que recomenda a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2015). As consultas se deram em obras específicas acerca do tema trabalhado, principalmente, ao que se refere à teoria geossistêmica, desenvolvida na obra Modelagem de Sistemas Ambientais, de autoria do professor Antonio Christofoletti. Pesquisas adicionais foram realizadas via Rede Mundial de Computadores (Internet), por meio de sites especializados e de órgãos oficiais. O material cartográfico digital foi adquirido gratuitamente em sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Estadual do Ambiente do estado Rio de Janeiro (INEA); e no Centro de Informações e Dados de Campos (CIDAC). As informações não organizadas pelos órgãos acima citados (por exemplo, disponível na forma de ortofotos) foram vetorizadas com o auxílio do Software ArcGIS 10.1. Os arquivos em formato Shapefile das lagoas do Sistema Campelo foram produzidos a partir das Ortofotos do projeto RJ-25 produzidas pelo IBGE (2008) numa escala de 1:25.000; já para a criação dos shapefiles dos seus espelhos d’água utilizou-se de imagens de satélites. As imagens orbitais dos Satélites Landsat 5, 7 e 8, utilizadas neste trabalho, foram adquiridas gratuitamente no site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Desta forma, ao analisar os fenômenos por meio de imagens aéreas, foi possível lançar um olhar abrangente sobre a paisagem da área estudada. Os dados climatológicos foram obtidos no site da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e em entrevista realizada com o professor Hamilton Jorge de Azevedo, responsável pelos dados pluviométricos da Estação Meteorológica do campus Leonel Miranda da instituição, situada na Estada do Açúcar, km 5 – Bairro da Penha na cidade de Campos dos Goytacazes. Nesta seleção, consideraram-se os intervalos de precipitação entre os anos de 1976 a 2015. 22 Por fim, o Software Excel 2013, contido no Pacote Office, foi utilizado para gerar informações estatísticas acerca dos dados mencionados acima, o que possibilitou sua Análise Exploratória. Vale destacar que todos os Softwares e dados selecionados foram de relevante importância para o desenvolvimento da pesquisa. 2.2 Pressupostos teóricos O desenvolvimento desta pesquisa ocorreu a partir da abordagem sistêmica. Esta linha teórica foi adotada por ser considerada adequada para a realização do estudo integrado dos aspectos envolvidos na variação dos espelhos d’água das dezessete lagoas do Sistema Campelo. Para isso, buscou-se o enfoque geomorfológico no estudo de suas paisagens. A Geomorfologia, enquanto ciência estuda as formas de relevo por meio de suas expressões no espaço geográfico: as diferentes paisagens. Este objeto de estudo faz com que os geomorfólogos sejam capazes entender os processos de construção e modificação do relevo em diferentes escalas. Inicialmente, admitia-se que o relevo tivesse origem somente nas forças endógenas ou exógenas, mas atualmente, também se considera a participação biológica e da sociedade humana, pela capacidade de interferir, controlar e destruir as formas de relevo. Na verdade, os componentes do ambiente agem de forma interligada na construção de paisagens, onde as características geológicas, climáticas, pedológicas, hidrológicas, biológicas, topográficas e altimétricas são aspectos importantes a se investigar para entender a dinâmica dos processos que modelam o relevo (MARQUES, 2009, p. 25). Para a realização deste trabalho, foram utilizadas concepções elaboradas ao longo do desenvolvimento da disciplina Geomorfologia, onde uma pequena revisão histórica e epistemológica os pretende resgatar. A partir da História Contemporânea se firmaram as teorias que estão na base do conhecimento geomorfológico atual. Pode-se dizer que as primeiras foram organizadas por James Hutton (1726-1797) e seguidores, ao discutirem o Princípio do Atualismo, que propõem “o presente como base para se conhecer o passado”. Mas foi William Morris Davis (1850-1934), com a teoria do Ciclo Geográfico, que se teve a primeira concepção coerente de gênese e sequência evolutiva das formas de relevo. Depois deles, os trabalhos de Emmanuel de Martonne (1893-1955): com estudos de Geomorfologia Climática e Henri Baulig (1877-1962): com as implicações da variação do nível do mar na estruturação do relevo merecem destaque. Além desses, a teoria do Equilíbrio Dinâmico de Grove Karl Gilbert (1843-1918), contribuiu para o estabelecimento das relações entre os processos e as resistências dos materiais na formação do relevo. Mais recentemente, podem-se 23 citar os trabalhos na perspectiva climática de Andrew Chorlley (1886-1968) e Jean Tricart (1920-2003). No Brasil, Antonio Christofoletti (1936-1999): por incorporar a Teoria Geral dos Sistemas aos estudos geomorfológicos e Alberto Ribeiro Lamego (1896-1985): pelos estudos sistemáticos sobre as lagoas do estado do Rio de Janeiro, merecem destaque (op. cit., p. 32). Estes trabalhos foram importantes para interpretação da evolução das formas de relevo, utilizados nesta pesquisa. Por último, destaca-se a obra de Aziz Nacib Ab'Sáber (1924-2012), que ganhou notoriedade nacional e internacional por seus estudos no Brasil sob a óptica dos processos climáticos intertropicais na formação de relevos e sua compartimentação, utilizando técnicas modernas, como as de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), divulgando a ciência geomorfologia de forma coloquial e a relacionando politicamente com os temas da modernidade, como os de Impactos Ambientais e o Aquecimento Global (op. cit., p. 40). No século XX, com o desenvolvimento de novas técnicas de análise científica, como a Teoria do Caos Determinístico1, o Efeito Borboleta2 e as técnicas de Geometria Fractal3, proporcionaram quebras de paradigmas das pesquisas científicas que eram baseadas em axiomas inquestionáveis, como a geometria Euclidiana, o mecanicismo Newtoniano etc. Neste contexto, surge o “pensamento sistêmico dinâmico de base holística” com a pretensão de superar teorias reducionistas lineares, pois nem sempre as respostas a fenômenos da natureza, assim como os socioeconômicos, se explicariam sem considerar sua diversidade de interação e grau de liberdade no comportamento de seus elementos constituintes (CHRISTOFOLETTI, 2012, p. 89). Aplicada à Geografia, a Teoria Sistêmica não estudaria o espaço e sim as organizações espaciais, como sistema funcional e estruturado, de abordagem holística que concebe o mundo integrado em que “o todo” é mais que a soma das suas partes, ou seja, é maior do que se cada uma fosse somada isoladamente. Por outro lado, permite analises das partes isoladas, desde que respeitado seu nível hierárquico de relacionamento (op. cit., p. 92). 1 Prevê os desdobramentos no tempo de fenômenos em Sistemas Complexos (com muitas variáveis e interações), desde que se conheçam as causas iniciais é possível formular uma equação com poucas variáveis e generalizar seu comportamento. Por exemplo, mudanças no regime de precipitação acarreta alteração no balanço hídrico, quebra de safra agrícola, êxodo rural-urbano etc. É a oposição de Estocástico que significa aleatório. 2 Faz parte da Teoria do Caos, propondo que Sistemas Dinâmicos evoluem no tempo, indicando que há dependência estreita entre os sistemas, seus elementos e atributos; e entre suas condições finais em relação às iniciais. 3 Descreve a rugosidade do mundo, sua energia, mudanças e transformações dinâmicas, passando a representar melhor a complexidade da natureza e das relações tradicionais da Geometria Euclidiana, composta por linhas, planos, círculos e outras formas “perfeitas”, pois montanhas, rios e lagoas não seriam descritas por ela. 24 Nos dias atuais, a Teoria Geral dos Sistemas tem sido considerada como um instrumento de ação da Geografia Física, que desde os anos de 1950 vem utilizando a visão sistêmica em pesquisas voltadas para geomorfologia, hidrologia e climatologia. A sua aplicação se iniciou nas primeiras décadas do século XX nos Estados Unidos, pari passu com o avanço da cibernética (SALES, 2004, p. 2). Inicialmente enunciada e defendida por Ludwig Von Bertalanffy em 1947, ela aborda de modo interdisciplinar a organização de fenômenos abstratos e complexos, independente de sua formação, ordem de grandeza ou entrosamento. Historicamente, na obra intitulada Gestalten Físicas de Kohler (1924), ela já havia sido referida como teoria, mas limitava-se somente a tratar de problemas relacionados à física, e não para as ciências forma geral (BERTALANFFY, 2015, p. 25). A Teoria Geral dos Sistemas se identifica com a cibernética e a Teoria do Controle, ao utilizar conceitos fundamentados na informação e retroação. Outra ciência que se apoia nessa teoria é a Biologia, por empregar o modelo para descrever a estrutura dos organismos por meio de diagramas e fluxogramas. Desta forma, pode-se dizer que a proposta geral dessa teoria é a de que os fenômenos sejam organizados como sistemas, baseando-se na troca de matéria e energia, em busca do entendimento da sua natureza e por meio das inter-relações entre seus elementos (op. cit., p. 43). Introduzido na Geomorfologia por Chorley em 1962, o conceito de sistema foi por ele brevemente definido como: [...] uma totalidade que é criada pela integração de um conjunto estruturado de partes componentes, cujas inter-relações estruturais e funcionais criam uma inteireza que não se encontra implicada por aquelas partes componente quando desagregadas (CHORLEY, 1962 apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 5). Ao conceituar fenômenos sistêmicos, ele nos conta que haverá dificuldades para identificar com clareza a extensão que abrange o sistema pesquisado, pois são compostos por vários elementos, atributos e relações estabelecidas entre eles. Além disso, ao analisar e, posteriormente, modelar o ambiente, deve-se ter o discernimento para distinguir a multiplicidade dos fenômenos que serão apresentados. Por isso, é necessário estabelecer uma ação mental que irá abstrair as imagens da realidade que a envolve (op. cit., p. 5). Com o intuito de reduzir a subjetividade que envolve estas decisões, Campbell (1958 apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 5) estabeleceu algumas normas para estudar áreas, especificando que o pesquisador deve observar os seguintes aspectos: 25 a) a proximidade espacial; b) a similaridade; c) o objetivo comum; d) a padronagem distinta ou reconhecível das unidades. O autor ressalta que estas regras não necessitam serem todas seguidas rigorosamente e, que ao serem desobedecidas, não acarretará prejuízos para o entendimento do funcionamento do sistema. Por exemplo, nem sempre os elementos estarão próximos uns dos outros ou serão de rápida classificação. Ele enfatiza, ainda, que os sistemas podem ser classificados por um número variado de critérios e que para realizar uma análise do ambiente, deve-se observar o caráter e a integração dos seus elementos. Assim, propõe as seguintes classes de organização funcional: a) sistemas isolados - são aqueles que, dada as condições iniciais, não sofrem mais nenhuma perda nem recebem energia ou matéria do ambiente que os circundam, assim, identificando-se a quantidade inicial de energia e as características da matéria que o compõe, torna-se possível calcular sua evolução e o tempo que transcorrerá até o seu final; b) sistemas não isolados - se caracterizam por manter relações com os demais sistemas do universo no qual funcionam. Estes últimos são subdivididos em: - fechados - quando há permuta de energia (recebimento e perda), mas não de matéria; - abertos – quando ocorrem constantes trocas de energia e matéria, tanto recebendo quanto perdendo. Quanto à classificação estrutural dos sistemas, Chorley e Kennedy (1971 apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 6) distinguiram e definiram alguns tipos, sendo eles identificados como: morfológicos; em sequência ou encadeantes (considerando a entrada e saída – caixas branca, cinza e preta); processos-respostas; controlados (simples ou complexos, mas desorganizados) e; complexos e organizados. Para o desenvolvimento da pesquisa, considerou-se que o sistema estrutural morfológico, definido como “aqueles compostos somente pela associação das propriedades físicas dos sistemas e de elementos componentes, ligados com os aspectos geométricos e de composição, constituindo os sistemas menos complexos das estruturas naturais”, como aquele mais adequado para a análise proposta, pois com ele é possível correlacionar aspectos dos sistemas morfológico, climático e lagunar da área pesquisada. Atualmente está em voga estudar o espaço geográfico de forma integrada. Na busca de um enfoque holístico sobre o ambiente natural, diversos autores (Bertrand, 1968; Sotchava, 26 1977 - 1978, Christofoletti, 1999, entre outros), dedicaram-se a discutir a teoria denominada como Geossistema para classificar a natureza das formas espaciais e sua organização em termos hierárquicos. Na Geografia a ideia de Geossistema foi inserida por Sotchava em 1960, quando buscou destacar e sistematizar o meio natural como importante requisito para solucionar problemas de cunho geográfico, tais como: planejamento e gestão do espaço e a elaboração de mapas síntese e cartas sistemáticas, ou mesmo utilizando-se das palavras do autor “[...] mapas panorâmicos do Geossistema russo-asiático” (SOTCHAVA, 1978, p. 2). A Teoria do Geossistema foi formulada com o intuito de aplicar a Teoria Geral dos Sistemas em pesquisas com enfoque geográfico. Ao defini-la, ele irá dizer que: É uma classe particular de sistemas dirigidos, sendo o espaço terrestre de todas as dimensões, onde os componentes individuais da natureza se encontram numa relação sistêmica uns com os outros e, com uma determinada integridade, interatuam com a esfera cósmica e com a sociedade humana (SOTCHAVA, 1978). Ressalta-se que o Geossistema é uma dimensão do espaço terrestre onde os mais diversos componentes naturais se encontram em conexões sistêmicas uns com os outros, e que através dele os fenômenos naturais são caracterizados. Desta forma, até mesmos os fatores econômicos e sociais influenciam suas estruturas, por isso, devem ser levados em consideração, como mostra o modelo, da Figura 2, elaborado por (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 41). Figura 2 - Estruturação do geossistema e do sistema socioeconômico Fonte: Christofoletti, 1999. Um exemplo de uso da Teoria de Geossistema é o trabalho do professor Carlos Augusto Frederico Monteiro, que na década de 1970 buscou para a Geografia correlações entre os parâmetros climatológicos, de base meteorológica de valores médios, com aspectos sociais e dinâmicos. Para isso, foi buscar inspiração nos trabalhos dos geógrafos Max Sorre e Jean Tricart. Ele observou que pela classificação de Köppen, os valores médios e o tipo 27 climático para as cidades de Belém do Pará (PA) e Santos (SP) estariam na categoria Af4, apesar da primeira nunca receber uma Frente Polar Sul e a segunda recebe frequentemente. Sistematizando suas diferenças, foi buscar novos paradigmas geográficos para diferenciá-los. Desta forma, trabalhando com a visão Geossistêmica, formulou que para analisar a sucessão habitual climática numa área é preciso procurar seu ritmo climático, que é variado, pois o fluido atmosférico (gasoso) é extremamente dinâmico, mas suas consequências ambientais são periódicas, modificam paisagens e a vida social, podendo provocar desde secas até inundações (MONTEIRO, 2006, p. 101). Esta teoria é bastante utilizada para estudar fenômenos temporo-espaciais periódicos em escalas curtas e médias, como no trabalho de Galvani e Luchiari (2012, p. 19), que propõem Critérios para classificação de anos com regime pluviométrico normal, seco e úmido. Além disso, Moura (2009, p. 336) e Tassinari (2003, p. 101), para explicarem a regularidade e frequência das oscilações climáticas no período Quaternário e seus impactos nas paisagens, concordam que é mais adequado entendê-las através de duas teorias: 1. Ciclos de Milankovitch (1941), que explicaria as grandes variações na temperatura terrestre, as relacionando a modificações de três ciclos de chegada de energia solar a Terra: mudanças na excentricidade da órbita; na obliquidade e precessão do eixo de rotação do planeta (ver Figura 3); Figura 3 - Ciclos de Milankovitch Fonte: Página Greenprojeto5. 4 A classificação de Köppen é relativamente simples e popular, pois se baseia em cinco grupos climáticos principais com base na temperatura do ar, o que define bem regiões de vegetação. Neste caso, o “A” significa que o mês mais frio do ano tem temperatura média superior a 18ᵒ C e “f” que não há estação seca durante o ano (AYOADE, 2002, p. 231). 5 Disponível em: <https://sites.google.com/site/greenprojectcom/Pgina-inicial/alteracoes-climaticas-antropogeni cas>. Acesso em jan.2016. 28 2. Deriva Continental (1962), de Harry Hess e colaboradores quando propõem que processos originados pelo alto fluxo calorífico emanado do interior do planeta (correntes de convecção) movimentariam lateralmente o fundo oceânico e as placas da litosfera provocando a Deriva Continental (ver Figura 4). Figura 4 - Modelo da Deriva Continental Fonte: Página do Mundo Educação6. Esses fenômenos consorciados provocariam períodos de Glaciação e Interglaciação no planeta, com significativas mudanças ambientais e espaciais das suas formas topográficogeométricas, através das alterações nos processos de erosão, transporte e deposição fluvial, fluviolacustre e oceânicas. Contudo, extensões territoriais menores, como a Bacia do Sistema Campelo analisada a luz da teoria do Geossistema, seria o resultado da combinação de diversos fatores ambientais e escalas de análise, tais como: declividade, clima, litologia, hidrologia etc. Como forma de identificar e classificá-las, Bertrand (1968) as define utilizando-se de seis níveis temporo-espaciais: zona, domínio, região, geossistema, geofáceis e geótopo, como se vê no Quadro 1. 6 Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/deriva-continental.htm>. Acesso em jan. 2016. 29 Quadro 1 - Proposta de classificação da paisagem em níveis temporo-espaciais e a relação de grandeza das unidades de paisagem G – Ordem de Grandeza Temporo-espacial. Fonte: Bertrand, 1968, p. 145. Sendo assim, pode-se considerar a paisagem como uma entidade de análise, composta de elementos integrados temporo-espacialmente e constituintes de uma dinâmica comum – um Sistema Geral de Evolução da Paisagem. Para isso, é preciso considerar três conjuntos diferentes no interior de cada nível de análise (Grandeza): 1. Sistema geomorfogenético – o relevo tem caráter dinâmico e bioclimático; 2. Cobertura vegetal – é determinada por uma cadeia de reações ecofisiológicas 7; 3. Uso antrópico – ativa e acelera processos que modificam os geossistemas. Desta forma, a interação homem-natureza volta a ser um assunto abordado no âmbito da geografia. No entanto, para adquirir um aspecto geográfico a relação deve ser construída sob uma combinação entre paisagem, território e espaço. E ao se trabalhar com representação espacial dos fenômenos, o ponto de partida deve ser a categoria “paisagem”. Christofoletti (1999, p. 41) diz que é conceito que descreve a maneira no qual o espaço se materializa. Por isso, recomenda que ao iniciar uma análise espacial acerca de um fenômeno, antes de tudo deve-se descrevê-lo na paisagem, para depois territorializá-lo, e assim: contribuir para compreender o mundo espacialmente. 7 O conceito de ecofisiologia envolve o conhecimento dos mecanismos de competição entre plantas individuais dentro de uma comunidade e suas consequências sobre a dinâmica estrutural; os mecanismos morfogenéticos adaptativos das plantas à desfolhação e suas consequências sobre a morfologia e estrutura do ambiente; e as interações entre esses dois mecanismos para o entendimento da dinâmica da vegetação em comunidade (SILVA e NASCIMENTO JÚNIOR, 2007, p. 6). 30 Na intenção de promover o melhor entendimento sobre as principais categorias de análise em Geografia, Moreira (2007, p. 116) as organizou num quadro correlacionando-as com os Princípios Lógicos Geográficos, como se vê abaixo. Quadro 2 - Categorias e Princípios Lógicos Geográficos Categorias Princípios Lógicos Geográficos (Atributos das Categorias) Espaço Localização, Distribuição, Distância, Extensão, Posição, Escala Território Região, Lugar, Rede Paisagem Arranjo, Configuração Fonte: Adaptado de Moreira (2007). Os geógrafos costumam utilizar métodos para análises espaciais baseados em mapeamentos de distribuição e densidades de determinadas características isoladas e agregadas da paisagem; delimitando e comparando regiões; executando mapeamentos do arranjo e a organização espacial de características relacionadas ou conectadas; mapeando fluxos; e fazendo zoneamentos diversos. Assim, busca-se revelar padrões ordenados e regulares das características espaciais. Se materialidade do espaço é a paisagem, que na perspectiva de apropriação cultural pelas sociedades integra uma comunidade humana, abrangendo certas preferências e potenciais culturais a um conjunto de circunstâncias naturais, podem-se identificar padrões naturais no espaço, como colinas e vales; rios e lagos; o clima e o litoral. Mas também aqueles que sofreram influência humana, como os rios represados, por meio de obras de engenharia; entulhos de minas; e atmosferas enfumaçadas. Contudo, deve-se observar que é na cobertura vegetal que se percebem as maiores alterações humanas na paisagem, quando áreas de cobertura “selvagem” foram substituídas por espaços abertos ao cultivo e criação de animais (WAGNER e MIKESELL, 2003, p. 35). Por isso, muitas questões podem ser levantadas utilizando-se a observação das paisagens, tais como: o que é imposto pelo homem e o que foi “dado” pela natureza? O que é conjuntural e o que é estrutural? O que é acidental e o que é intencional? Enfim, processos que marcam as mudanças geográficas na paisagem (op. cit., p. 37). O conceito de região, Princípio Lógico Geográfico que dá base para o recorte espacial aqui proposto, vem sendo discutido epistemologicamente há bastante tempo. Os geógrafos Bernhardus Varenius (em meados do século XVIII), Immanuel Kant (no final do século XVIII) e Carl Ritter (na primeira metade do século XIX) já se debruçavam sobre sua sistematização. Contudo, é nos Estados Unidos da América na década de 1940 que o conceito ganha notoriedade nos estudos de áreas. Isto se deve ao geógrafo estadunidense Hartshorne, 31 que através da linha teórica Geografia Regional, propôs a região como sendo uma área que apresenta individualidades, resultado da integração, de natureza única, entre fenômenos espaciais heterogêneos. Assim, o instrumento de análise da proposta do pesquisador não seria uma região previamente identificada, mas uma área de integração construída no decorrer do processo de investigação, ou seja, estabelecida como resultado do trabalho (SERPA, 2001, p. 4). Um bom exemplo da regionalização enquanto método é o trabalho de Souza e Marçal (2015), quando segmentam a bacia do rio Macaé em quatro sub-regiões, ou trechos fluviais, em função de suas características hidrossedimentológicas. Para a Geografia Regional, entendida como a “ciência” da diferenciação de áreas, não deve ser vista apenas a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da conexão dos fenômenos heterogêneos numa dada porção da superfície terrestre. Esta linha teórica enfoca o estudo de áreas não apenas construindo uma afinidade causal ou a paisagem regional, mas a sua distinção seria um dos objetos da Geografia (CORREA, 2000, p. 14). Sobre isso, Milton Santos (1994, p. 46-47) destaca que ao estudar uma região é necessário se aprofundar num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas etc. Observando os seus mais distintos níveis de interação e condição. Ele diz que: “[...] a região torna-se uma importante categoria de análise, importante para que possa captar a maneira como uma mesma forma de produzir se realiza em pontos específicos do planeta ou dentro de um país, associando a nova dinâmica às condições preexistentes”, ou seja, fica demonstrado que existem várias possibilidades de se consumir o espaço. Guerra e Guerra (2008, p. 77) discutem a possibilidade de regionalização de áreas por meio do recorte espacial físico de uma bacia hidrográfica. Eles a definem como “[...] um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes até uma foz comum”. A ideia de bacia hidrográfica está relacionada à existência de nascentes, divisores de água, cursos d’água principais, afluentes e subafluentes. Assim, bacias de diferentes extensões articular-seiam a partir de seus divisores, direcionando seu fluxo e organizando-os hierarquicamente, sendo a água escoada dos pontos mais elevados para os mais baixos. De acordo com Buache (1752 apud GOMES, 2012, p. 55), as bacias hidrográficas podem ser vistas como uma maneira natural para demarcar uma região, e Cunha (2009, p. 223), diz que, quando uma bacia de drenagem possui seu escoamento direcionado para uma lagoa, ela pode ser classificada como endorréica, ou seja, drena matéria e energia para depressões continentais e não para o mar. Além disso, propõe técnicas descritivas e quantitativas para diferenciar uma das outras. 32 Brigante e Espíndola (2003, p. 1); Botelho e Silva (2012, p. 151) entre outros, a definem como área delimitada a partir de divisores de água, drenadas por canais e ravinas para um curso d’água principal até uma saída comum. Acrescentam que o recorte espacial corresponde a uma unidade natural da superfície da Terra; com limites criados pelo próprio escoamento superficial e subsuperficial ao longo do tempo; que suas águas são recursos naturais; tem origem nas rochas; drenam o lençol freático; ultrapassam topografias; interagem com a vegetação; e movimentam o ciclo climático, enquanto resultado da interação de vários elementos espacializáveis. Botelho e Silva (2012, p. 153) analisaram os vários aspectos que contribuem para uma discussão sobre a qualidade ambiental de bacias hidrográficas. Sugerem que elas devem ser entendidas como células básicas de reflexão “[...] permitindo conhecer e avaliar os diversos componentes, processos e interações que nelas ocorrem”. Para isso, admitem a importância da visão sistêmica e integrada no seu estudo. Para os autores, ao identificar os elementos que compõem o sistema hidrológico (solo, água, ar, vegetação etc.) e os processos aos quais estão relacionados (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação e contaminação) é possível avaliar o equilíbrio do sistema/bacia, ou até mesmo dimensionar sua qualidade ambiental. Segundo Horberry o conceito de qualidade ambiental “[...] é o estado do ar, da água, do solo, e dos ecossistemas, em relação aos efeitos da ação humana”. No entanto, é preciso compreender que a qualidade do ambiente é um reflexo da ação humana sobre o espaço, considerando os atributos do uso da terra. Vale lembrar que a qualidade do ambiente deve ser considerada não só como o somatório das qualidades de cada componente do meio, mas sim, como condição necessária ligada à qualidade de vida das populações (HORBERRY, 1984 apud BOTELHO, SILVA, 2012, p. 153). Botelho e Silva mostram, ainda, que os estudos sobre erosão, manejo e conservação do solo, da água e o planejamento ambiental, são temas utilizados no recorte espacial de uma bacia hidrográfica como unidade de análise. Para eles, as bacias podem conter áreas florestadas, rurais e urbanas, e relatam que “A bacia hidrográfica em ambientes florestados, ou mesmo com atividades agrárias, apresentam funcionamento que muito difere das áreas urbanas” (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 155). Quando tratam de sistema hídrico, os autores descrevem que: “O ciclo hidrológico no ambiente rural ainda é próximo, ou mesmo semelhante ao das áreas florestadas, não havendo grande redução na entrada de água no solo”. Contudo, são diferentes nos ambientes urbanos, onde a impermeabilização da superfície dificulta que água infiltre no solo. No ambiente de 33 pastagem a infiltração de água derivada da chuva é favorecida, mas pode agravar as perdas de solo e água através do escoamento superficial. Nas áreas plantadas com cana-de-açúcar podem apresentar problemas maiores, pois parte do solo fica exposto às gotas de chuva, devido à ausência da cobertura vegetal, o que pode causar problemas como voçorocas e erosão laminar (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 165). Vale lembrar que, para a análise do comportamento de uma bacia hidrográfica, a infiltração no solo é de grande importância, pois propicia a permanência de água no sistema, alimentando o lençol freático e permitindo que o ciclo hidrológico seja eficiente. Nos espaços urbanos, os autores ressaltam que: A água da chuva, impedida de infiltrar-se, escoa sobre a superfície pavimentada, seguindo diretamente para os canais fluviais, alimentando-os rapidamente e podendo causar [...] enchentes de proporções alarmantes (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 173). Neste caso, pode-se entender que à medida que aumenta a pavimentação, acentua-se a ocorrência dos casos de erosão urbana, enchentes e inundações. Para que o ambiente esteja equilibrado os autores propõem que ações mitigadoras e medidas técnicas preventivas sejam adotadas e incorporadas ao manejo do uso da terra, considerando os seguintes aspectos: “O aumento da cobertura vegetal, melhoria da estruturação do solo, aumento da infiltração da água, diminuição do escoamento superficial e dos processos erosivos e por consequência, melhor produtividade da terra”. Já nas áreas urbanas, devido à falta de planejamento, as medidas tomadas normalmente são “curativas”, sobressaindo às preventivas, pois são tomadas apenas após os acontecimentos catastróficos (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 180). Portanto, o conceito (recorte espacial) de bacia hidrográfica mostra-se compatível para a realização de uma análise integrada da região de estudo, que possui vários corpos lagunares, rios, canais artificiais, brejos e áreas que periodicamente se alagam, além de se mostrar compatível com a linha teórica empregada nesta pesquisa. Sobre o conceito de lagoas, destaca-se a obra Lagos: origem, classificação e distribuição geográfica da linminóloga Mariuza Trindade, onde aborda a origem desses corpos lênticos mundo a fora, especificando suas características naturais e de usos. Ao utilizar uma escala ampla, ela emprega os termos lagos e lagoas para designar as depressões do relevo cercadas por terras e composta por água doce, e lagunas para o caso das lagoas costeiras que pelo contato com o mar tem águas doce ou salobra. Seu trabalho sobre as lagoas é bastante complexo, pois esses objetos espaciais têm origens diversas, dependentes de 34 fenômenos geológicos, geomorfológicos ou antrópicos, como as represas artificiais. Acrescenta que sua gênese ultrapassa o domínio do planeta Terra, como aquelas originadas a partir da queda de meteoritos (TRINDADE, 1996, p. 28). A autora, ao referir-se sobre o período de existência de corpos lênticos, relata que: Todos os lagos/lagoas são transitórios no registro geológico, porque a natureza variada das bacias, a topografia suave inteiramente envolta pelas áreas altas assegura sua inevitável destruição. Assim, muitas bacias, têm frequentemente curta duração, isto é, abrangendo a duração da vida humana, passando através de um reconhecível ciclo de destruição, de lago para lagoa ou lago menor, para pântano ou brejo, com vegetação aquática e gramínea, mas sem árvores, para pântanos, com árvores, em seguida para terra firme ou seca (TRINDADE, 1996, p. 115). Ainda considerando o aspecto temporo-espacial, Esteves (1998, p. 63) diz que esses corpos hídricos não são elementos permanentes das paisagens, e que numa escala geológica de análise, eles se caracterizam como fenômenos de curta duração, pois pelo seu caráter lêntico acumulativo, recebe sedimentos das áreas subjacentes, tende a desaparecer no decorrer do tempo por processos de colmatação biológicos e assoreamento físico natural ou acelerado por ações antrópicas. Já numa escala mais regional, Amador (1986, p. 1) refere-se ao Rio de Janeiro, como um dos estados do Brasil que possuem os corpos lagunares mais expressivos, tanto em quantidade, quanto em extensão. Ele classifica as lagoas da região de acordo com sua origem idade, estágio de evolução, geometria, natureza da troca de água etc. Para a análise e estruturação geográfica de corpos hídricos, enquanto objetos na paisagem (objeto alvo), como as lagoas e suas bacias de contribuição, atualmente, utilizam-se métodos e técnicas de Sensoriamento Remoto, associados à interpretação de imagens produzidas por satélites e de outros dados espacializáveis, o que alimentam bancos de dados geoespaciais em Sistemas Geográficos de Informação (SIG). Sobre isso, Lang e Blaschke dizem que: O desafio metodológico consiste na extração de informações relevantes a partir de uma imensidão de informações genéricas, os dados brutos. Para isso, são necessários procedimentos de redução da complexidade, ou seja, da regionalização. A análise de imagens baseada em objetos está na interface do sensoriamento remoto e SIG. [...] permite uma modelagem de classes-fim estruturalmente definidas. [...] Além disso, definições de classes podem ser alteradas ou ajustadas, quando uma opinião de especialista o exigir (LANG e BLASCHKE, 2009, p. 156). Em Geografia pode considerar-se a paisagem como “uma olhada pela janela sobre um contínuo temporo-espacial”, onde as estruturas espaciais são como manifestações em vários 35 setores de escalas. Dessa forma, mostra um comportamento de frequência constante. Isso resulta em continuidades e descontinuidades, de modo que geram um número finito de padrões e estruturas que estão ordenadas num sistema de ajustamento hierárquico ou numa rede detectável de objetos integrados no espaço (CAPRA, 1996 apud LANG e BLASCHKE, 2009, p. 159). Contudo, quando se utiliza de análises em diferentes escalas, recomenda-se a busca de informações através das imagens de satélites, como é o caso deste trabalho, sendo necessário, neste momento definir a ciência do Sensoriamento Remoto como aquela que visa à obtenção de imagens da superfície terrestre por meio da detecção e a medição quantitativa das respostas das interações da radiação eletromagnética com os materiais terrestres. Essas imagens podem ser obtidas através de satélites, fotografias aéreas e por radar, o que permite a medida da interação da radiação eletromagnética com a superfície dos objetos alvo (op. cit., p. 160). Segundo o modelo físico ondulatório, as características das imagens são explicadas tendo-se em conta a relação entre o tamanho da onda e o tamanho do objeto detectado. Esse modo de interação é denominado de Macroscópica entre o objeto foco e a radiação eletromagnética (REM) que incidente nele (MENESES, 2012, p. 4). Por isso, é importante conhecer alguns parâmetros para obtenção e classificação de imagens, que são descritos abaixo: 1. Resolução Espacial (ou tamanho do pixel) - é o local onde estão armazenados os dados, já determinado na aquisição da imagem. Isso faz com que as análises ambientais partam de pequenas áreas para que depois sejam generalizadas e classificadas como atributos das paisagens. A resolução espacial é um parâmetro do sensor, que determina o tamanho do menor objeto que pode ser identificado em uma imagem. Por definição, um objeto foco somente pode ser detectado quando o seu tamanho for no mínimo igual ao tamanho do elemento de resolução no terreno (pixel), exemplos expostos na Figura 5 (op. cit., p. 25); 36 1 2 3 Figura 5 - Resolução espacial de uma imagem em Sensoriamento Remoto 1. Landsat - resolução espacial de 30m; 2. Spot - resolução espacial de 10m; 3. Ikonos - resolução espacial de 1m. Fonte: Meneses, 2012. 2. Resolução Espectral – é a capacidade de obtenção simultânea de imagens em múltiplas bandas espectrais, considerando que será maior a resolução espectral quanto maior for o número de bandas que o satélite pode oferecer; situadas em diferentes regiões espectrais; e com larguras estreitas de comprimentos de onda banda a banda. É importante porque, materiais de diferentes composições, com diferentes constituições de elementos químicos de átomos e moléculas, têm absorções e reflectâncias diferentes, resultando em imagens de diferentes tons de cinza. Ela deve ser determinada em função do objeto foco que se deseja identificar no terreno ou da combinação de bandas que se pretende utilizar, ver Figura 6 (op. cit., p. 27); Figura 6 - Espectros de reflectância Fonte: Meneses, 2012. 3. Resolução Radiométrica – é a sensibilidade que os detectores dispõem de diferenciar a intensidade de radiância na área de cada pixel unitário. Ela será maior quanto for à capacidade do detector para medir as diferenças de intensidades dos níveis de radiância dos objetos alvo. É definida em função da intensidade da radiação de entrada no sensor, ou da resposta de saída dos detectores convertida eletronicamente em um 37 número digital discreto. Em termos práticos, a quantização do sinal é medida pelo intervalo de número de valores digitais usados para expressar os valores de radiância medidos pelo detector. É normalmente expressa em termos de números de dígitos binários (bits). Quanto maior for à quantização, maior será a qualidade visual da imagem (11, 8, 6, 4, 2 bits) como observado na Figura 7 (op. cit., p. 30); 1 2 Figura 7 - Identificação de elementos individuais na paisagem 1. Imagem IKONOS (11 bits) 2. Landsat (8bits) Fonte: Meneses, 2012. 4. Resolução Temporal – Refere-se à frequência que o sensor revisita uma área e obtém imagens periódicas ao longo de sua vida útil. Isso só é possível porque os satélites de Sensoriamento Remoto executam uma órbita heliossíncrona, onde o plano de órbita é sempre fixo e ortogonal ao sentido de rotação da Terra. Assim, o satélite passa sobre o mesmo ponto observado na mesma hora (Figura 8). A resolução temporal é fundamental para acompanhar a evolução que ocorre na superfície, principalmente para alvos mais dinâmicos, como o ciclo fenológico de culturas, desmatamentos, desastres ambientais, tendo forte impacto na monitoração ambiental (op. cit., p. 32). Figura 8 - Padrão do recobrimento orbital em um dia pelo satélite Landsat com resolução temporal de 16 dias Fonte: Meneses, 2012. 38 2.3 Síntese dos pressupostos teóricos Quadro 3 - Principais pressupostos teóricos utilizados no trabalho Conceito Síntese Autores Consultados Sensoriamento Remoto Ciência que visa à obtenção de informações geográficas através de imagens de satélites, se utilizando das interações físicas entre a radiação eletromagnética e os objetos alvo. Stefan Lang, Thomas Blaschke e Paulo Roberto Meneses Geomorfologia Disciplina que estuda as formas de relevo, sua gênese e desenvolvimento. Jorge Soares Marques Equilíbrio Dinâmico Teoria Geral dos Sistemas Ritmo Climático Atualismo Geossistema Bacia Hidrográfica Região Paisagem Princípios Lógicos Geográficos Teoria que estabelece as relações entre processos e as resistências dos materiais na formação do relevo. Teoria que relaciona fenômenos naturais abstratos e complexos com sua formação e entrosamento. Teoria que relaciona os extremos climáticos às suas consequências ambientais no espaço geográfico. Grove Karl Gilbert Ludwig Von Bertalanffy, Andrew Chorlley e Antonio Christofoletti Carlos Augusto Frederico Monteiro Teoria que propõem o presente como base para se conhecer o passado. Teoria que relaciona de forma sistêmica o meio natural aos processos antrópicos. Organiza as paisagens em níveis de análise em função da escala dos fenômenos. Conceito de região formada por um conjunto de terras drenadas desde um divisor de águas, por um rio principal e seus afluentes, até uma foz comum. Conceito de área que apresenta individualidades, resultado da integração, de natureza única, entre fenômenos espaciais heterogêneos. Conceito e entidade de análise geográfica, composta de elementos integrados temporo-espacialmente, constituindo uma dinâmica comum entre eles. As principais categorias de análise do Espaço Geográfico são: localização, distribuição, distância, extensão, posição e escala. James Hutton Viktor Borisovich Sotchava, Georges Bertrand e Antonio Christofoletti Antônio José Teixeira Guerra e Rosangela Garrido Machado Botelho Richard Hartshorne e Roberto Lobato Corrêa Georges Bertrand, Stefan Lang e Thomas Blaschke Fonte: Organizado pela autora a partir das fontes consultadas. Rui Moreira 39 2.4 Método O embasamento teórico-metodológico empregado para o desenvolvimento desta pesquisa pautou-se no método da Análise Ambiental, entendendo que ele busca a totalidade do ambiente, principalmente, quando são observadas as inter-relações entre os elementos dispostos na paisagem através da articulação de escalas. Esta metodologia parte da certeza de que fenômenos espaciais (entidade ou evento) têm localização, extensão, evolução e correlação com outros acontecimentos. Desta forma, eles podem ser logicamente estudados. De acordo com esta síntese é possível identificar e classificar fenômenos espaciais com base em suas particularidades, diferenças, semelhanças e afinidades, o que permite sua categorização, ou seja, analisar de forma mais complexa os fenômenos por meio de seus atributos físicos, relações funcionais, espaciais e temporais (MIRO, 2009, p. 64). O método de Análise Ambiental, aqui proposto, utiliza um conjunto de técnicas e procedimentos que devem ser divididos em etapas ordenadas para obter informações, formular hipóteses e responder questões propostas numa pesquisa de cunho ambiental. Para Xavier da Silva (2009, p. 406), o espaço geográfico é contínuo e complexo. Sua representação e generalização podem ser estruturadas na forma de objetos, apresentados nos mapas geometricamente, em forma de linhas, pontos ou polígonos. A partir dessa estrutura primordial, as análises e modelagens espaciais entre entidades podem ser identificadas através de seus atributos contidos num Banco de Dados alfanuméricos geocodificados. Essas operações permitem que dados contendo definições de áreas, proximidade entre os fenômenos e suas conexões, sejam organizados em Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para serem tratados analiticamente. Desta maneira, adotar uma estrutura orientada para objetos identificáveis na paisagem significa considerá-los como unidades geométricas mensuráveis, que podem ser incluídas num SIG, para serem executados levantamentos de suas correlações espaciais e taxonômicas. A gestão de base de dados orientada a objetos requer um conjunto de procedimentos de armazenamento, recuperação, atualização e análise dos atributos dessas entidades (op. cit., p. 407). O estudo integrado e analítico de transformações, distribuição, dinâmicas e conexões de elementos componentes de uma área, que podem ser territórios, regiões ou lugares, se iniciam por meio de uma obtenção de dados. Esta etapa da pesquisa pode ser denominada como pré-processamento. Para que esses dados sejam validados, eles devem estar 40 geocodificados, podendo ser obtidos de forma direta, através de inspeção específica em trabalhos de campo; indiretas, por meio de imagens de satélites no qual os dados serão interpolados; e intermediários, que devem obtidos em instituições reconhecidas ou em trabalhos correlatos (op. cit., p. 52). Os dados ambientais, considerados como elementos primários de qualquer Análise Ambiental, não são estáticos, ou seja, são pontos (pixels) que podem ser coletados em diferentes escalas. Sobre isso, Xavier da Silva (1992, p. 51) destaca que esta variabilidade impõe uma homogeneização dos dados a serem armazenados em ambientes SIG, para que seja possível realizar análises e sínteses posteriormente. Ao referir-se a escalas taxonômicas voltadas ao mapeamento geomorfológico, Argento (2009, p. 367-383) ressalta que elas devem estar aferidas ao agrupamento do modelado que permita identificar o objeto representado. Ele sugere três níveis de escalas cartográficas que irão resultar em manchas poligonais nos mapas sínteses. No primeiro nível são identificados, por exemplo, grandes depósitos sedimentares, cadeias cristalinas etc. (escalas pequenas); no segundo nível aparecem feições com maiores detalhamentos, como marcas de paleodrenagens, colmatagens lacustres, áreas inundadas etc. (escalas médias); no terceiro nível, compatível com as microescalas, oferece subsídios ao planejamento ambiental em escala local. Com este, são descritos nas legendas dos mapas: meandros abandonados, nível de base local, depósitos torrenciais, aterros de origens antrópica etc. (escalas grandes). Outro problema fundamental referente à captura e manipulação de dados geocodificados diz respeito à resolução das imagens selecionadas. De modo que seja possível dimensionar, identificar ou envolver objetos alvo em imagens de satélites, SRTM e fotografias aéreas. Por isso, imagens com diferentes resoluções levam a incompatibilidades de dimensionamento de áreas, texturas, tonalidades, formas, tamanhos e padrões (JENSEN, 2009, p. 50). Um aspecto importante para compreender a diversidade de dados ambientais é observar como eles se comportam em relação às escalas de mensuração a que estão aferidos. Isto é função dos instrumentos e procedimentos utilizados para obtê-los. Existem dois tipos de medidas ou nível de mensuração: 1. Qualitativas, que se dividem em: a) nominais: em que os valores das variáveis são nomes ou rótulos, não havendo relação de intensidade entre eles, por exemplo, filiação partidária e tipos de solo; b) ordinal: na qual os valores das variáveis são nomes ou rótulos relacionados entre si, mas de maneira que eles 41 possam ser colocados em ordem ou direção, segundo alguma categoria de análise, por exemplo, pesquisas de opinião ou escala de dureza dos minerais; 2. Quantitativas em que as variáveis medidas são expressas por uma quantidade, através de números. Elas se dividem em: c) intervalar: na qual a mensuração se dá através de números discretos (inteiros) ou o intervalo entre eles é fixo (ou igual), por exemplo, latitude e longitude e o número de alunos numa sala de aula; d) razão: onde os valores atribuídos as variáveis apresentam-se como contínuos (Reais), ou seja, admitem seu fracionamento, por exemplo, medidas de comprimento, temperatura ou quantidade da população de uma cidade (XAVIER DA SILVA, 1992, p. 51). Desta forma, ao realizar operações com as variáveis obtidas na pesquisa, faz-se necessário, conhecer em que escalas de mensuração elas se apresentam, ou criar critérios para sua ordenação, para realizar uma classificação ambiental. Por fim, a apreensão da escala geográfica deve ser considerada como parte de uma reflexão para analisar o ambiente. Ela envolve um “processo de esquecimento coerente” do que não é possível se observar na paisagem, ou seja, é uma estratégia de apreensão da realidade pela impossibilidade de compreendê-la como um todo. Desse modo, a observação do fenômeno é o resultado de uma escala escolhida para melhor observá-lo, dimensioná-lo e mensurá-lo. Além disso, a articulação de escalas é uma apropriação específica do pensamento geográfico, onde na síntese devem-se fazer considerações em escalas maiores e menores, daquela que foi trabalhada para integrar os fenômenos espaciais pesquisados (CASTRO, 2012, p. 127). O Método de Análise Ambiental é entendido nesta pesquisa como um conjunto de procedimentos lógicos que possibilitam integrar dados ambientais em diferentes escalas de análise, a partir de dados georreferenciados, elevando-os a um nível de síntese de informações ou da representação de fenômenos no espaço geográfico. 2.5 Procedimentos As lagoas localizadas no Baixo Curso e a norte do rio Paraíba do Sul foram definidas como o principal objeto de estudo desta pesquisa. Para que o recorte espacial fosse determinado, inicialmente foram delimitados os limites do sistema, dando origem à área central trabalhada. Os procedimentos de delimitação foram executados através da caixa de ferramenta ArcHydro, no ambiente ArcMap do Software ArcGIS 10.1. 42 2.5.1 Delimitação do recorte espacial: Bacia do Sistema Campelo Para desenvolver esta etapa do trabalho, alguns procedimentos foram adotados. Partiuse da aquisição e configuração (Sistema de Coordenadas Planas, Datum e Fuso), do Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), disponibilizado gratuitamente no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2011). O processo de delimitação iniciou-se ao acessar o menu Terrian Preprocessing, no ArcHydro e em seguida executar os comandos, conforme descritos na Figura 9, para que a bacia fosse delimitada. Após cumprir todas as etapas estabelecidas na figura abaixo, o processo foi finalizado e a Bacia Hidrográfica do Sistema Campelo delimitada, como se vê na Figura 10. Figura 9 - Principais passos para a delimitação de bacias hidrográficas Organizado pela autora a partir da delimitação da bacia do Sistema Campelo. Figura 10 - Bacia do Sistema Campelo Organizado pela autora. 43 Após a delimitação da área do sistema foi possível identificar que nele haviam 17 lagoas de variadas extensões e características. Com o intuito de compreendê-las individualmente, suas bacias também foram delimitadas utilizando dos mesmos procedimentos relatados acima. A Figura 11 apresenta as sub-bacias do Sistema Campelo. Figura 11 - Sub-bacias do Sistema Campelo Organizado pela autora. 2.5.2 Elaboração dos produtos cartográficos Os produtos cartográficos que compõem esta pesquisa encontram-se apresentados na forma de mapas temáticos, que foram elaborados com a intenção de representar os aspectos Geoambientais da Bacia do Sistema Campelo. Isto foi possível, a partir da aquisição dos Planos de Informações (PIs) de Geologia, Climatologia, Vegetação Potencial e Uso da Terra, no formato Shapefile (shp) em escala de 1:100. 000, sendo todos os arquivos disponibilizados no site do Instituto Estadual do Ambiente (INEA, 2011). Com auxílio das Ortofotos do Projeto RJ-25 (escala de 1:25.000), acessíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), os corpos hídricos foram vetorizados em ambiente SIG em escala de 1:3.000, pois a resolução destas ortofotos permite utilizar uma resolução final de aproximadamente 1 metro no terreno. Desta forma, o produto teve como resultado final, a escala de 1:5.000. Estes arquivos encontram-se alojados no site do Centro de Informações e Dados da Prefeitura de Campos dos Goytacazes (CIDAC). Ao reunir todas as informações necessárias, foi possível elaborar os produtos cartográficos que compõem a Análise Geoambiental do Sistema Campelo com o auxílio do Software ArcGIS 10.1. Todos os dados cartográficos compostos nos mapas foram ajustados para a projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), Datum Vertical WGS 84 e Fuso 44 24S. Estas configurações foram estabelecidas para que todos os mapas tivessem o mesmo padrão cartográfico. Nesta pesquisa, os mapas são considerados como elementos de grande importância, sendo o objeto que simboliza um modo específico de imaginar as feições encontradas na superfície da Terra, com seus aspectos físicos e sociais, o que compõe a estrutura deste conhecimento específico (GIRARDI, 2009, p. 151). Assim, a informação cartográfica, entendida no sentido de sua utilização prática, leitura, interpretação e, sobretudo, o de construção de mapas, se torna indispensável para se compreender fenômenos que ocorrem no espaço geográfico. Portanto, neste trabalho, os mapas podem ser entendidos como um instrumento de percepção visual, e por ser rico em detalhes, mostra o entrelace das relações espaciais de forma contundente; e as técnicas de Cartografia: um misto de arte e tecnologia de organização de dados e produção de informações. 2.5.3 Modelo Digital de Elevação O Modelo Digital de Elevação (MDE) consiste em um modelo matemático (uma matriz) que restitui a superfície do terreno por meio da interpolação linear de valores altimétricos e pontos georreferenciados, o que permite obter às curvas de nível do terreno (OLIVEIRA, 2006, p. 134). Para criar o MDE da área estudada, foi necessário gerar suas curvas de nível. Elas foram originadas a partir do mesmo recorte SRTM utilizado na delimitação da Bacia do Sistema Campelo. Para isso, foi preciso acionar na caixa de ferramenta Arc toolbox, do Software ArcGIS 10.1, seguidas de: 3D Analyst Tools, Raster Surface, Countour, para obter o resultado demonstrado na Figura 12. Após esta etapa, o MDE foi produzido pelo mesmo Software, através das ferramentas: 3D Analyst Tools, seguida de Data Manegement, Tin, e por fim, Create Tin para criar o modelo, como se vê na Figura 13. 45 Figura 12 - Curvas de nível Organizado pela autora. Figura 13 - Modelo Digital de Elevação Organizado pela autora. Após gerar o modelo do terreno para a Bacia do Sistema Campelo, foi possível conhecer os valores altimétricos da área. Ressalta-se que para gerar as curvas de nível foi determinado um intervalo de dois metros de equidistâncias, com o intuito de melhor detalhar a altimetria da planície e de seus limites com os tabuleiros. Terminado estes procedimentos, deu-se início a elaboração do Mapa 4 (p. 62), no qual revelou as altitudes do relevo, ratificando as quatro classes de elevação, descritas por Geiger (1956), ao estudar de forma detalhada a região. 2.5.4 Análise estatística dos dados A pesquisa procurou estabelecer correlações entre dados de precipitação pluviométrica (mm/mês) entre de anos de 2006 a 2015 e áreas dos espelhos d’água de lagoas (ha ou 46 km2/100) em períodos considerados como “úmido” e “seco” em cada ano, ou seja, a pesquisa é estratificada, não aleatória, pois considerou a sazonalidade anual das precipitações atmosféricas (chuva). Os dados foram classificados de acordo com a Escala de Razão. Para isso, foi necessário utilizar algumas fórmulas estatísticas, conforme estabelecido por Bussab e Morettin (1987): Média = Somatório dos valores observados no mês, dividido pelo número de meses. 2.1 S2 = É o somatório das diferenças quadráticas dos valores observados no mês em relação à média do mês, dividido pelo número de meses menos um. 2.2 S = É a raiz quadrada da Variância. 2.3 C.V. = É o Desvio Padrão dividido pela média aritmética da série observada. 2.4 As fórmulas 2.2, 2.3 e 2.4, observadas acima, demonstram Medidas de Dispersão ou sumarização, que podem representar a variabilidade do conjunto de dados observados, sendo valores úteis para encontrar a tendência das séries. Para isso, são utilizadas as fórmulas: 2.1 Média ( ); 2.2 Variância (S2), definida como “os quadrados dos desvios em relação à média”; 2.3 Desvio Padrão (S) é a média da variabilidade da série na mesma unidade dimensional do conjunto observado, sendo definido como a “raiz quadrada da Variância”; e a 2.4 Coeficiente de Variação (C.V.), como o percentual de variação da série em relação às médias. Após a análise dos dados organizados em séries temporais e observado o comportamento correlacionado entre os dados, calculou-se sua associabilidade. Para isso, utilizou-se o conceito de Coeficiente de Correlação, conforme se vê na fórmula 2.5. 𝐶𝑜𝑣 (𝑥, 𝑦) = 1 𝑛−1 ∑𝑛𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ ) (𝑦𝑖 − 𝑦̅) 2.5 O coeficiente de correlação entre duas variáveis (X e Y) é a média dos seus valores reduzidos, que é expressa com números entre -1 e 1, entendendo que quanto mais próximo de zero, mais fraca é a correlação. A partir destas análises foi possível estabelecer uma 47 organização dos dados na forma de tabelas e gráficos para serem analisados posteriormente. Desta forma, procurou-se verificar os seguintes aspectos: 1° - Dados de precipitação: 1.1 – Frequência da precipitação no período 2006-2015; 1.2 – Os períodos “úmido” e “seco” para a escolha das imagens de satélites. 2° - Dados dos espelhos d’água das lagoas: 2.1 – A variação do espelho d’água das lagoas no tempo e correlação das lagoas com suas sub-bacias (individualmente e integradas); 2.2 – A variação das áreas dos espelhos d’água com relação à área total das lagoas. 3° - A tendência do comportamento dos espelhos d’água das lagoas junto à precipitação, nos períodos “úmido” e “seco”. 2.5.5 Processamento das imagens Após definir os períodos úmido e seco, a pesquisa prosseguiu com a aquisição de dados indiretos de vinte imagens de satélites (Landsat 5, 7 e 8), referentes aos períodos úmido e seco, que compreendem aos anos de 2006 a 2015, como se observa na Tabela 1. A escolha das imagens se deu após a análise das precipitações que ocorreram no período estudado. Tabela 1 - Imagens de satélites utilizadas na pesquisa Data Satélite 26/04/2006 08/08/2006 12/03/2007 28/09/2007 22/03/2008 29/08/2008 26/04/2009 03/10/2009 21/04/2010 04/09/2010 02/05/2011 23/09/2011 06/02/2012 03/10/2012 21/04/2013 14/10/2013 02/01/2014 17/10/2014 01/08/2015 29/11/2015 Landsat 7 Landsat 5 Landsat 7 Landsat 5 Landsat 7 Landsat 5 Landsat 5 Landsat 5 Landsat 7 Landsat 5 Landsat 5 Landsat 5 Landsat 7 Landsat 7 Landsat 8 Landsat 8 Landsat 8 Landsat 8 Landsat 8 Landsat 7 Sensor Órbita/Ponto Resolução ETM TM ETM TM ETM TM TM TM ETM TM 216/75 30 x30 m TM TM ETM ETM OLI OLI OLI OLI OLI ETM Fonte: Organizado pela autora. Estação Úmida Seca X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 48 Para a manipulação e o processamento destas imagens utilizou-se o Software ArcGIS 10.1. Nele as imagens foram compostas com a falsa cor RGB 5,4,3 para as imagens adquiridas nos satélites Landsat 5 e 7 e o RGB 6,5,4 para as imagens Landsat 8. Estas composições se mostraram adequadas, pois exibiram os alvos analisados de forma nítida, como, por exemplo, o delineamento dos espelhos d’água, como se observa um exemplo na Figura 14. Em seguida os espelhos d’água foram vetorizados, como se vê na Figura 15. Figura 14 - Imagens Landsat 5, composição RGB 5,4,3 Organizados pela autora. Figura 15 - Espelhos d’água vetorizados Organizados pela autora. Esta pesquisa foi estruturada em 5 etapas, demostrando integração lógica entre elas: 1ª - Revisão em bibliografia especializada; 2ª - Obtenção de dados diretos (Trabalhos de Campo), Indiretos (Imagens de satélites); Intermediários (UFRRJ); 3ª - Elaboração dos produtos cartográficos;·. 4ª - Análise exploratória dos dados; 5ª - Análise Ambiental. 49 CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES 50 3.1 Análise Geoambiental do Sistema Campelo O objetivo central dessa pesquisa consiste em compreender os processos relacionados à variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo em função da precipitação atmosférica. Para isso, levou-se em consideração, primeiramente, a análise Geoambiental da área de estudo, realizada através da Teoria Sistêmica e do método de Análise Ambiental, para identificar suas principais unidades. Para isso, foi elaborada uma coleção de mapas que representam as dimensões do sistema, tais como: Clima, Geologia, Relevo, Hidrografia, Vegetação Potencial e o Uso da Terra para facilitar a interpretação das informações. Como forma de estabelecer um padrão gráfico, todos os mapas foram projetados utilizando-se dos mesmos princípios cartográficos de projeção, datum, fuso e escalas. Para esta pesquisa, o Banco de Dados de cada tema corresponde a um conjunto de dados digitais em formato Shapefile disponibilizados pelo INEA, onde consta todo o recorte espacial do estado do Rio de Janeiro, numa escala de 1:100.000 (INEA, 2011). Já a escala de saída dos mapas produzidos para pesquisa foi definida como 1:220.000, de modo a compatibilizar os dados em papel no formato A4. Todas as feições identificadas como lagoas e canais foram vetorizadas a partir das Ortofotos do Projeto RJ-25 (escala de 1:25.000) e resolução final de 1 metro (IBGE, 2008). 3.1.1 Climatologia O Brasil tem uma dimensão continental que se estende desde a latitude 5°N até 35°S, apresenta elevado gradiente topográfico e desenvolvimento meridional (continentalidade e maritimidade); assim como é afetado, frequentemente, pela entrada de Anticiclones do Atlântico Sul, as Altas Pressões do Polo, as variações da Zona de Convergência Intertropical como os principais fatores estáticos e dinâmicos que condicionam os mais variados climas e paisagens do país (VIANELLO E ALVES, 2004, p. 425). Ao estudar a Climatologia Regional, verifica-se que o Sudeste brasileiro apresenta a maior diversificação climática, exatamente por ser influenciado por diversos fatores que definem o seu clima. Contudo, Nimer (1977, p. 86) destaca o regime de chuvas no tempo (e não no espaço) como um fator que diferencia os climas intra-regionais, ou seja, é sempre importante saber quantos “meses secos” apresentam a sub-região para classificá-las. Já no que toca as temperaturas médias, são bastante variadas, mas melhor previstas no tempo e no espaço. 51 Bernardes (1952, p. 57) diz que são os fatores de altitude e relevo que definem as diferenciações climáticas no estado do Rio de Janeiro. Mapa 2 - Precipitação das Regiões Hidrográficas - RJ Em seus estudos sistemáticos do clima, ela verificou que: [...] o estado do Rio de Janeiro é atravessado de WSW para ENE pelo alinhamento montanhoso da Serra do Mar, de encostas quase escarpadas e altitudes variáveis, frequentemente superiores, em seus cumes, a 1.000 metros, alcançando mesmo mais de 2.000 metros, em trechos mais elevados. [...] Isola, do lado do oceano, uma baixada litorânea quente e úmida, com uma estação seca e outra chuvosa, que desaparece a oeste, onde a escarpa da serra alcança o litoral e se alarga a noroeste, na planície campista (op. cit., p. 57). Essa análise foi ratificada pelo Mapa 2, elaborado a partir de dados disponibilizados pelo INEA (2011). Nele se observa que as maiores precipitações correspondem às posições que ocupa a Serra do Mar, além disso, mostra a uniformidade na Baixada Campista, que ela classifica como Aw8, pela proposta de Köppen. Pelos dados do INEA (2011) os valores precipitados na região de estudo estão em torno de 812 a 1.169 mm/ano, o que denota uma uniformidade espacial da precipitação. Mas 8 Pela classificação de Köppen a região corresponderia ao Clima de Savana: A – Clima tropical chuvoso; w – Chuvas concentradas no verão (AYOADE, 2002, p. 233). 52 Bernardes (1952) relata que as chuvas são concentradas nos meses de verão, com precipitação de até 80% do total anual em dezembro. Por outro lado, no mês mais seco a precipitação varia entre 15 e 20% do mês mais úmido. Quanto à temperatura média anual do mês mais quente seria 26,7°C no mês de fevereiro, e mínima média de 18,5°C no mês de julho. Com base nas propostas dos estudos do ritmo climático de Monteiro e na perspectiva da Climatologia Geográfica, Barros e Zavattini dizem que deve-se levar em consideração a sucessão de tempos num ponto da superfície terrestre, acrescentando que: [...] em nosso país as características climáticas predominantes são do tipo tropical ou subtropical, é compreensível que a chuva seja o elemento climático com melhor capacidade de traduzir as variações rítmicas presentes num dado ano, ou as que se alternam de um ano para outro, seja ele um ano civil, agrícola, ou relativo a qualquer outra convenção periódica. Explica-se, assim, a preponderância de temas ligados à pluviosidade na maioria dos estudos de climatologia geográfica realizados no Brasil (BARROS E ZAVATTINI, 2009, p. 258). Dessa forma, utilizando-se dados pluviométricos da região, disponibilizados pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi estabelecido uma média padrão anual de precipitação para a região (ano padrão de precipitação), com base em 40 anos observados, no valor de 919,44 mm/ano. No Gráfico abaixo, observa-se a média mensal acumulada, entre os anos de 1976 e 2015. Gráfico 1 - Normal da precipitação para a Baixada Campista Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. 53 Os dados acima ratificam as médias pluviométricas registradas para a Baixada Campistas, pelo INEA (2011); assim como os de Bernardes (1952), quando diz que o mês mais chuvoso é dezembro (média de 149,95 mm/ano), que corresponde a 21% do mês mais seco (junho com 31,71 mm/ano), e que as precipitações do verão somam, aproximadamente, 35% do total anual; e os de Nimer (1977), quando mostra que há presenças de meses secos bem definidos no ano pluviométrico padrão. Acrescenta-se que a média das precipitações anuais somam 68% para os meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril; e o restante para os meses de maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro, o que configura duas estações pluviométricas bem marcadas. Contudo, após esta apresentação da classificação genérica da precipitação na região, observou-se que nos últimos 10 anos (de 2006 a 2015) algumas alterações ocorreram, o que reforça a hipótese principal deste trabalho, que mudanças na área dos espelhos d’água das lagoas podem ter ocorrido. Desta maneira, será apresentado um estudo mais detalhado da precipitação deste período. No Gráfico 2 são exibidos os dados de precipitação acumulada. Gráfico 2 - Total acumulado da precipitação para a Baixada Campista Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. Ao realizar uma análise temporal da precipitação nos últimos dez anos (2006 - 2015), nota-se que sua média anual é maior que a Normal de Precipitação dos últimos 40 anos, alcançando 970,64 mm/ano, ou seja, 5% acima da média. Além disso, ressalta-se que durante os dez anos observados, quatro ultrapassaram a média, das quais três foram em anos 54 consecutivos (2007, 2008 e 2009). Destaque-se que os excedentes foram de 264,06 mm (27%), 665,16 mm (59%) e 56,46 mm (6%), respectivamente, o que causou enchentes e inundações na região. Por outro lado, ocorreram seis anos de precipitação abaixo da média, com destaque para o ano de 2014 registrando 412,24 mm de déficit (42%), seguido de 2015 com déficit de 245,04 mm (25%), de forma que, estes dois anos de precipitação muito abaixo da média levaram a região a passar por problemas ambientais sentidos por distintos segmentos da população. Ao analisar os gráficos acima, para encontrar o mês mais seco ou mais úmido dentro de cada ano da série estudada, observou-se que em quantos meses ocorreram totais de precipitação abaixo ou acima da Normal de Precipitação e da média dos últimos dez anos. Este tipo de classificação visa encontrar o período dentro do ano que acumulou maiores índices de precipitações sucessivas para encontrar aquele mês que representa um maior acúmulo de água no terreno e, consequentemente, em que momento os corpos hídricos ocupariam um maior espelho d’água. Da mesma forma, os meses sucessivos, com índices pluviométricos abaixo das médias esperadas, tomou-se por hipótese, que os corpos hídricos estariam com seus espelhos d’água mais reduzido. Este procedimento foi realizado com a intenção de encontrar o mês mais adequado para a obtenção de imagens de satélites que pudessem representar os momentos extremos dos espelhos d’água das lagoas da Bacia do Sistema Campelo. Gráfico 3 - Variação da precipitação observada Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. Considerando a periodicidade anual pluviométrica (sazonalidade) foi estabelecido o Ano Padrão Pluviométrico, como se vê no Gráfico 3. A partir disto, foi sumarizada na Tabela 2 a concentração de precipitação para os períodos “seco” e “úmido”. Nela observa-se que em média 72% da precipitação anual ocorrem entre os meses de novembro e abril (período úmido), e 28% entre os meses de maio e outubro (período seco). 55 Tabela 2 - Acumulado e percentuais de precipitação (Ano Padrão) Total do Ano Período Úmido Período Úmido Ano Padrão (Nov/Abr) (%) 2006 1.068,7 808,1 76 2007 1.200,3 817,1 68 2008 1.198,5 1.006,8 84 2009 1.599,0 1.196,7 75 2010 2011 2012 2013 2014 667,0 785,9 885,5 1.024,2 900,6 438,6 612,4 546,4 761,6 665,2 66 78 62 74 74 2015 578,2 274,8 48 9.907,9 7.127,7 72 Totais Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. Nos gráficos abaixo são apresentados esses totais ano a ano, com destaque para o mês considerado em que as lagoas estariam mais cheias ou mais vazias, para a seleção das imagens de satélites. O critério utilizado para esta determinação foi o de quatro meses consecutivos abaixo ou acima da média precipitada no ano. Acrescenta-se que foram assinalados com setas os meses que efetivamente se obtiveram as imagens. Observa-se que ocorreram alterações eventuais na aquisição das imagens em meses selecionados, isso se deu devido à quantidade de nuvens presentes nas imagens, impossibilitando a visualização dos corpos hídricos. Isso aconteceu em 20% dos casos, nos quais selecionou-se a imagem do mês seguinte. 56 Gráfico 4 - Precipitação pluviométrica em períodos úmido e seco entre 2006 e 2015 Obs.: As setas indicam os meses no qual as imagens foram adquiridas. Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. 57 3.1.2 Geologia O Sistema Campelo é marcado geologicamente pela Formação Barreiras, que são depósitos compostos por sedimentos de origem terrestre datados da Era Cenozóica, do Período Terciário (aproximadamente, entre 65 e 2 milhões de anos A.P.). Estes sedimentos teriam sido ancorados por pequenas serras isoladas componentes do alinhamento da Serra do Mar. O material da Formação Barreira tem sido associado a leques aluviais entrelaçados compostos por diversos materiais descritos como conglomerados muito grossos, em corpos lenticulares, intercalados como arenitos de matriz lamosa, quase sempre recoberta por sedimentos arenoargilosos, com nível de cascalho na base e fragmentos de crosta ferruginosa (BRÊDA et al., 2011, p. 2). De acordo com Lamego (1955, p. 22), materiais desta natureza foram depositados a sul do rio Itabapoana, numa depressão pretérita, que naquele momento ainda alcançava o mar. Para Martin et al. (1997, p. 27) as sucessivas flutuações no nível do mar no Período Quaternário foram as principais causas da formação e alteração das planícies litorâneas no delta do rio Paraíba do Sul. Este modelo de construção do relevo costeiro da região foi divido pelos autores em sete Estádios de evolução, no qual o Estádio 5 está associado à formação da Baixada Campista, como se vê na Figura 16. Estes terraços marinhos de origem holocênica podem conter grandes quantidades de conchas e exibir alinhamentos de cristas praiais mais ou menos espaçadas. Nas zonas mais baixas, entre as cristas, podem ocorrer lagoas que se estabeleceram nas depressões deixadas pelas sucessivas flutuações do nível do mar e áreas pantanosas mais recentes de até 2.500 anos A.P. (op. cit., p. 22). Figura 16 - Estádio 5: Formação relativa ao período 5.100 – 4.200 anos A.P. Fonte: MARTIN et al., 1997, p.75. 58 As feições geológicas que compreendem a Bacia do Sistema Campelo estão distribuídas em cinco unidades distintas, que foram discutidas com base nos trabalhos de Ramalho (2005) e Costa et al. (2008), que serão apresentadas a seguir. Sedimentos Fluviais (Qp) datados do Período Quaternário (2 milhões de anos A.P.) foram depositados entre o rio Paraíba do Sul e a lagoa do Campelo. Esta unidade ocupa uma extensão de 5.509,35 ha, o que corresponde a 7,28% da área total do Sistema Campelo. Ela se caracteriza por conter sedimentos compostos por argila, argila-síltica e siltes, nela também são encontradas areias e aglomerados quartzosos, gerados de matrizes argilosas originadas a partir dos depósitos aluviares do rio Paraíba do Sul. Os Sedimentos Litorâneos (Qc) foram depositados por processos de Transgressão e Regressão Marinha, formando cristas de praias, que em sua maior parte apresentam-se paralelas a linha de conta. Nesta unidade os sedimentos são formados por areias quartzosas, algumas vezes de coloração amarelada ou esbranquiçada. Esta formação ocorre de modo contínuo, ocupando uma área de 8.422,91 ha, o que representa 11,13% da área total de estudo. A Formação Barreiras (Tb) datada do Período Terciário (Época Miocênica – aproximadamente entre 23 e 12 milhões de anos A.P.) é caracterizada por apresentar relevos de topos aplainados, que de acordo com Geiger (1956, p. 22), são constituídos de rochas sedimentares que podem alcançar entre 50 e 70 metros de altitude. Ela encontra-se entre a planície quaternária e os patamares cristalinos mais elevados. Esta feição é fragmentada pelas unidades São Fidélis e Bela Joana, e se destaca por ocupar a maior porção da bacia do Sistema Campelo, com área de 50.626,21 ha, o que equivale a 66,92% do recorte espacial adotado. A Unidade São Fidélis (pCIIsf), datada do Pré-Cambriano, encontra-se localizada a noroeste da sede do município de Campos dos Goytacazes. Esta unidade apresenta-se na bacia como a maior extensão pré-cambriana e, são caracterizadas, predominantemente, por rochas gnáissicas e migmatitos. Sua porção ocupa 3.202,91 ha de extensão no recorte pesquisado, somando 4,23% de ocupação. A Unidade Bela Joana (pCIbj) se apresenta como a menor unidade entre todas as feições geológicas representada no Mapa 3. Datada do Período Pré-Cambriano, ela é caracterizada por suas rochas charnockitos, no qual apresentam vários minerais, entre eles: plagiocálsio, andesina, lambradorita (em menor quantidade), k-feldspato, biotita, apatita, zircão, quartzo e hornblenda. A área ocupada por esta unidade é de 2.070,67 ha, o que configura 2,74% da área pesquisada. 59 Os corpos hídricos, identificados no recorte, encontram-se presentes em três das feições descritas acima: Sedimentos Fluviais, Sedimentos Litorâneos e a Formação Barreira. A categoria lagoas está em maior parte localizada na Formação Barreira. Para melhor entendimento da Geologia desta região, segue abaixo a Tabela 3 e o mapa síntese. Tabela 3 - Síntese da extensão das unidades geológicas Unidades Sedimentos Fluviais (Qp) Sedimentos Litorâneos (Qc) Formação Barreiras (Tb) Unidade São Fidélis (pCllsf) Unidade Bela Joana (pClbj) Lagoas ha 5.509,35 8.422,91 50.626,21 3.202,91 2.070,67 5.824,84 Fonte: Organizado pela autora a partir de dados extraídos no Mapa 3. Mapa 3 - Geologia da Bacia do Sistema Campelo % 7,28 11,13 66,92 4,23 2,74 7,70 60 3.1.3 Geomorfologia O relevo da região sudeste do Brasil foi modelado por sucessões de períodos úmidos e secos, datados do Quaternário. Isso permitiu caracterizar suas formas como possuidoras de certa paleogeografia recente. Essas rupturas climática e biológica propiciaram a instalação de processos mecânicos de erosão, transporte e deposição de materiais em períodos úmidos e entulhamento das calhas aluvias com materiais subtraídos das encostas. Esta morfogênese permite individualizar geossistemas morfoclimáticos na transição dos Domínios de Mares de Morros em direção à linha de costa (MOREIRA e CAMELIER, 1977, p. 2). Sobre está extensão territorial Ab’Sáber (2003, p. 16) relata que é a maior região de áreas vertentes policonvexas e de processos de mamelonização das terras intertropicais do mundo. Na Figura 17 é possível observar os domínios de Mares Morros proposto pelo autor. Figura 17 - Domínios Morfoclimáticos Brasileiros Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Ab’Sáber, 2003. Na região norte do estado do Rio de Janeiro as formações Pré-Cambianas da Serra do Mar encontram-se afastadas do litoral em até 60 km de distância, onde são observados em patamares contínuos, os Tabuleiros de Formação Barreiras. Estes são esculpidos por rios que transportam sedimentos para as planícies costeiras, tais como as dos rios Itabapoana, Paraíba do Sul e Macaé, que formaram o terceiro patamar, a grande Planície Fluviomarinha da Baixada dos Goitacazes, onde se assenta um delta fóssil, que forma uma unidade hidrogeomorfológica conhecida como Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul. (op. cit., p. 17) 61 A partir da cidade de Campos dos Goytacazes, na porção norte do rio Paraíba, a formação do relevo é proveniente dos depósitos Cristalinos e Barreiras, e próximo à costa, da Planície Deltaica. Segundo Argento (1987, p. 47) estas formações apresentam ao alto nível de dependência e integração entre seus componentes. Para o autor, o material responsável pela construção da Planície Fluviomarinha tem origem cristalina, na parte interior, e oceânica próxima ao litoral. Ele chegou a esta conclusão a partir das análises dos materiais siltosos e argilosos que alcançam à Baixada Campista através de seus canais fluviais. Os resultados destas análises mostraram que os rios Paraíba do Sul e Muriaé são os que mais contribuem para o transporte desses materiais continentais. Nesta região, primeiro destacam-se corpos hídricos orientados na direção oeste-leste, depois em direção aos limites da Bacia do rio Guaxindiba, e outros orientados na direção noroeste-sudeste, todos barrados na foz por processos de Regressão e Transgressão Marinha. Durante estes movimentos formou-se a lagoa do Campelo, que atualmente é drenada pelo canal Engenheiro Antônio Resende até alcançar o litoral, no município de São Francisco de Itabapoana (MIRO et al., 2013, p. 6). Estes corpos hídricos estão localizados numa bacia denominada de Bacia do Sistema Campelo, já mencionada nos trabalhos do INEA (2007) e por Coelho Netto (2008). Ela é marcada por compartimentos geomorfológicos bem definidos, que foram condicionados pelo seu material de origem e também pela dinâmica climática existente na região. A combinação desses fatores resultou em distintas formas de relevo, ocasionadas por processos atuais e por aqueles ocorridos no passado. Estes processos que deram origem a sua formação são condicionados por agentes endógenos (ações internas de origem tectônica e geológica), exógenos (causadas por fatores climático, pedológico e biológico) e antrópicos (como a construção de canais, diques e a substituição da vegetação natural). Como forma de representar o relevo que abarca a área de estudo, o Mapa 4 foi elaborado com o intuito de promover um melhor entendimento acerca de suas formas, acompanhado de seus valores altimétricos determinados a partir da extração das curvas de nível com equidistância de dois metros, que revelaram a topografia dos compartimentos. Para isso, foram estabelecidas quatro classes de cotas com intervalos entre 0-8, 9-60, 61-120 e 121160 metros, estimadas a luz das discussões de Geiger (1956) e Silva (2009), quando caracterizam a referida região. 62 Mapa 4 - Relevo do Sistema Campelo Deste modo, foram identificados quatro tipos de compartimentos distintos, sendo eles classificados como: 1. Planície Fluviomarinha – caracterizada por possuir superfícies regulares e com altitudes máximas de aproximadamente 8 metros, até o contato com os Tabuleiros do Grupo Barreiras. Nela observam-se depressões rasas e, por vezes, arredondadas que formaram lagoas e alagadiços, como no caso das lagoas do Campelo e Arisco; 2. Tabuleiros de Formação Barreiras – É o compartimento de maior representatividade no Sistema Campelo. Nas baixas altitudes ele se configura como uma topografia suave e quase plana em alguns trechos próximos a Planície Fluviomarinha, mas no total pode variar entre 9 e 60 metros de altitude. Nele encontram-se distribuídas a maior quantidade de lagoas da bacia, que, de acordo com Alves et al. (2015), predominam a Forma Dendrítica, ou seja, “lagoas que apresentam longos “braços” que se assemelham a raízes por toda a sua extensão principal”. Ressalta-se, ainda, que é neste compartimento que se concentram as ocupações de origem urbana e rural; 3. Morros Isolados – Esta feição geomorfológica encontra-se moldada entre os Tabuleiros de Formação Barreiras e os Patamares Cristalinos. Eles apresentam altitudes que variam entre 61 e 120 metros, que segundo Geiger (1956, p. 22), há um 63 declive de oeste para leste, o que o faz perder altitudes em direção do oceano. São caracterizados por formarem superfícies fracionadas, entalhadas por vales, com predominância de encostas côncavas, e observa-se que nas proximidades não há presença de lagoas. 4. Serras – São caracterizadas na área de estudo por apresentarem-se como fragmentos cristalinos, de feições íngremes, que podem alcançar cerca de 160 metros de altitude. À medida que estas rochas cristalinas se afastam do litoral em direção ao contínuo da Serra do Mar da qual pertence, se tornam mais energéticas (patamar de maiores variações altimétricas), que, para Geiger (1956, p. 28), é um relevo formado por rochas mais resistentes aos processos de meteorização. Ressalta-se que neste compartimento também não há ocorrência de lagoas, como se vê no mapa acima. 3.1.4 Vegetação Potencial A grande diversidade de formações vegetais encontradas no território brasileiro, relativa à sua extensão territorial, variedade morfoclimáticas, importância biológica e potencial de uso, justificou o seu agrupamento em biomas classificados de forma normativa como: Amazônico, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal. Entende-se bioma como: “[...] um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna similares, definidas pelas condições físicas predominantes nas regiões” (MMA, 2009). O bioma Mata Atlântica é considerado no Brasil como: [...] as formações florestais e os ecossistemas associados inseridos no domínio Mata Atlântica, com as respectivas delimitações estabelecidas pelo Mapa de Vegetação do Brasil, do IBGE 1988: Floresta Ombrófila Densa Atlântica; Floresta Ombrófila Mista; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; Floresta Estacional Decidual; manguezais; restingas; campos de altitude; brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste (Lei 11.428/2006). Ao refletir-se, historicamente, sobre a vegetação encontrada no território brasileiro Conti e Furlan (2000, p. 170) destacam que quando os colonizadores europeus chegaram à América, no século XVI, as florestas que acompanhavam a Serra do Mar, próximas ao litoral, eram densas e adentravam o interior da região Sudeste, mas o que atualmente se vê é a sua devastação nas porções mais baixas do relevo. Apesar da sua importância ambiental essas florestas que ocupavam originalmente cerca de 1,1 milhão de km2, hoje não chegam a 5% deste total. 64 Sua conhecida diversidade tem sido atribuída à distribuição da umidade pluviométrica advinda da Massa Polar Atlântica e de ventos Alísios, barrados por diversos acidentes orográficos costeiros, que concentram grandes volumes de água, como nos contrafortes da Serra do Mar na região Sudeste do Brasil. Além do seu vasto desenvolvimento latitudinal, sua biodiversidade é garantida através da capacidade de produzir matéria orgânica, fazendo com que o ambiente seja fértil e garantindo sua riqueza vegetal e animal (op. cit., p. 172). Em qualquer estudo geográfico sobre os ambientes de matas tropicais, de posição azonal marcante, como é o caso da Mata Atlântica, torna-se indispensável compreender sua biodiversidade regional in situ. Elas derivam primeiro da faixa de contato com outros domínios de natureza (que não é o caso da região analisada) e também das diferenciações intra regionais complexas, relativas ao desenvolvimento morfoclimático na história da construção destes ambientes. Na bacia do Sistema Campelo configurou-se como um conjunto de transsectos fitogeográfico sub-regional, onde se podem destacar os litorâneos de restinga, os ondulados tabuleiros, e no contato com regiões de serras, uma mata mais orográfica (AB’SÁBER, 2003, p. 46-47). O termo Vegetação Potencial pode ser definido a partir da Teoria do Geossistema como um instrumento de valorização da vegetação futura e do mapeamento da vegetação natural. É baseado no conhecimento coerente da vegetação atual, nas suas tendências de desenvolvimento e relações nos ambientes locais. O conceito surge como resultado de um exercício de encadeamento causal que permite a previsão para realizar o diagnóstico da situação futura, levando em conta sua evolução de médio ou longo prazo (FÁVERO et al., 2004, p. 61). Ao relatar aspectos sobre a vegetação da região Veloso et al. (1991 apud SOFFIATI, 2013, p. 15), dizem que ocorrem de dois tipos: Formação Decidual – quando tem como característica perderem mais de 50% de suas folhas na estação seca; e Formação Semidecidual – como as perdem cerca de 20 a 50% na mesma estação. Além disso, observam que a segunda ocorre nos Tabuleiros do Grupo Barreiras. Ressalta-se que este estudo não se refere à vegetação aquática e nem da mata ciliar, por isso, elas não aparecem nesta quantificação, mas que num trabalho em escalas maiores seriam importantes para entender a qualidade ambiental de lagoas, rios e canais tratados individualmente. Sobre isto, o INEA (2010), ao estudar os aspectos geoambientais com base na classificação realizada pelo IBGE (1992), mostra que a vegetação potencial do estado do Rio de Janeiro se espacializa de acordo com as características altimétricas do relevo. Assim, entre 5 e 50 metros de altitude predominaria a Formação de Terras Baixas; e entre 50 e 500 metros 65 a Formação Submontana. A Tabela 4 sintetiza as informações extraídas no Mapa 5 sobre a vegetação potencial da bacia. Tabela 4 - Síntese da Vegetação Potencial do Sistema Campelo Unidades ha Vegetação de Restinga 1.136,81 Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas 48.675,80 Floresta Estacional Decidual de Terras Baixas 29,02 Floresta Estacional Semidecidual Submontana 12.025,05 Vegetação de Brejos 1.864,65 % 1,50 64,34 0,04 15,90 2,46 Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados extraídos no mapa de Vegetação Potencial. Mapa 5 - Vegetação Potencial do Sistema Campelo O mapa acima mostra que há dois tipos predominantes de vegetação na bacia: a Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, que ocuparia uma área de 48.675,80 ha, o equivalente a 64,34% do sistema, seguida da vegetação de Floresta Estacional Semidecidual Submontana, apresentando uma extensão de 12.025,05 ha, o que corresponde a 15,90% do total da área. De forma menos expressiva, aparecem à vegetação de Restinga com 1.136,81 ha, representando 1,50%; e por fim, a Floresta Estacional Decidual de Terras Baixas, com somente, 29,02 ha de área (0,04% da extensão) localizada no município de São 66 Francisco de Itabapoana. Observa-se ainda, que as vegetações ocorreriam em porções bem definidas ou de forma concentrada no sistema e que as lagoas ocorrem, quase que totalmente na Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, com exceção para a lagoa do Campelo. 3.1.5 Uso da Terra A acentuada degradação dos ambientes tropicais, ou erosão da sua biodiversidade, vem sendo registrada em diversos trabalhos científicos desde a segunda metade do século XX. Veiga e Ehlers (2003, p. 274) conceituam Biodiversidade como “[...] toda a variedade de organismos vivos em todos os ecossistemas do planeta”. Já o termo Diversidade Biológica significa dizer que há uma variabilidade de organismos vivos e integrados num determinado território, assim como os complexos ecológicos de que fazem parte. Os autores destacam que pode haver diversidade dentro das espécies e entre elas. Na história natural da Terra, houve episódios que provocaram a redução das espécies. Especialistas consideram a atual pressão antrópica sobre ecossistemas naturais como uma das causas para a extinção de espécies na atualidade. Veiga e Ehlers (2003, p. 275) dizem que em condições naturais uma espécie poderia ser extinta por ano no planeta, mas nos relatos atuais estimam que, aproximadamente, 10.000 espécies desaparecem a cada ano. Isso pode ser causado por: “destruição e alteração de habitats; exploração de espécies ‘selvagens’; introdução de espécies exóticas; homogeneização; poluição e as mudanças ambientais globais”, ou seja, alterações antrópicas podem causar inúmeros impactos sobre a flora e a fauna nos sistemas naturais. Quando o assunto tratado é o Uso da Terra, ressalta-se que os impactos visíveis na paisagem se originam a partir dos desmatamentos das florestas, da drenagem de áreas úmidas, da construção de estradas e do desenvolvimento dos aglomerados urbanos, o que, quando não leva à extinção, resulta na fragmentação espacial de espécies nativas. Outro fator impactante é sua homogeneização, que leva à perda da biodiversidade quando há padronização nos sistemas agropecuários, o que corroe a base genética das espécies cultivadas, prejudicando o que levou milhares de anos para evoluir (op. cit., p. 275). As alterações causadas por atividades antrópicas podem alcançar as águas superficiais e subterrâneas. Para Veiga e Elhers (2003, p. 276), a contaminação dos corpos hídricos ocorre tanto pelo uso excessivo de insumos agrícolas (fertilizantes químicos e agrotóxicos), quanto pela concentração das atividades pecuárias, o que compromete a resistência e a resiliência dos 67 agroecossistemas, podendo acarretar sucessivos problemas ambientais e aumento dos custos de produção. O processo de ocupação antrópica há tempos vem sendo associado à degradação dos ambientes naturais, que, na região Sudeste, devastou a Mata Atlântica. Vários ciclos caracterizaram os estágios de degradação, marcadamente a exploração do pau-brasil, seguido pelo plantio da cana-de-açúcar, da cultura do café, das indústrias e da malha ferroviária, que utilizava-se do carvão vegetal como matriz energética. Todos estes processos estão envolvidos na derrubada das florestas. Posterior a isso, as matas continuaram sendo aniquiladas para dar lugar à expansão da fronteira agrícola, com os produtos tradicionais e atuais, como a produção de soja e celulose, além da extração ilegal de madeira para diversos fins (op. cit., p. 276). Vale destacar que, com a diminuição da biodiversidade das florestas brasileiras, diversos ambientes foram impactados negativamente, o que causou prejuízos a comunidades por todo país. Na Região Norte Fluminense os relatos de ocupação e degradação não aconteceram de forma diferente. Ao refletir sobre ela, Soffiati Netto (1998, p. 13) relata que desde o século XVIII as baixadas e os tabuleiros da região de Campos estavam ocupados por agricultura e pastagem. Ele ressalta que o desenvolvimento econômico acerca destas atividades levou ao desmatamento acelerado dos ambientes, que já naquela época só permanecia preservada apenas a zona cristalina, pelo seu relevo acidentado e de difícil acesso. O uso e ocupação de uma região explicam suas características gerais, como se vê na Figura 18 e no Mapa 6, mas antes de espacializá-la é relevante analisar alguns aspectos de sua população atual. A Tabela 5 mostra que na área de estudo mais de 80% da população tem residência em área urbana, com destaque para o subdistrito de Guarus, que pertence à cidade de Campos, apesar de que, em termos de área ocupada, corresponda a um pequeno percentual da área total da bacia, demonstrando uma densidade populacional bem menor na área rural. 68 Figura 18 - Cena de trabalho nos engenhos de açúcar típicos do século XVII: pintura de Hercule Florence Fonte: Carelle, 1988, p. 69. Mapa 6 - Usinas de Campos dos Goytacazes na década de 1970 Fonte: LIFE, 2014. 69 Tabela 5 - População urbana e rural da Bacia do Sistema Campelo Localização População Bairro Parque Prazeres Subdistrito de Guarus* Moro do Coco Travessão Vila Nova de Campos São Francisco do Itabapoana (1° Distrito) Total Percentual População (%) Urbana Rural 6.685 85.796 1.083 23.917 6.125 4,85 62,23 0,79 17,35 4,44 6.685 84.704 0 15.126 1.628 0 1.092 1.083 8.791 4.497 20.955 15,20 10.823 10.132 137.876 100,00 112.281 81,44% 25.595 18,56% Obs.: *Parte do subdistrito que pertence à bacia hidrográfica do Sistema Campelo Fonte: MIRO et al., 2013. O mapa de Uso da Terra da área de estudo foi elaborado a partir da base de dados do INEA numa escala de 1:100.000, tal qual os demais. O intuito deste mapeamento foi identificar os principais usos da terra para analisar os potenciais impactos nos recursos naturais. Adverte-se que nesta síntese podem apresentar equívocos quanto ao detalhamento da área mapeada devido à escala utilizada. Mapa 7 - Uso da Terra no Sistema Campelo 70 Observa-se na Tabela 6, que a classe Cana-de-açúcar predomina na área da pesquisa, que preenche aproximadamente 45.000 ha, ou seja, cerca de 60% da área da bacia. O contrário acontece com a classe Agricultura, onde ocorrem apenas pequenas manchas fragmentadas ao longo do sistema, somando 21,52 ha, ou seja, 0,04% da área. Tabela 6 - Síntese do Uso da Terra no Sistema Campelo Unidades Agricultura Agricultura (cana) Pastagem Cordões arenosos Floresta Restinga Lagoas Brejos Área Urbana ha 21,52 45.336,01 14.792,04 3.629,56 575,70 1.136,81 5.825,84 1.954,65 2.377,02 % 0,04 59,93 19,55 4,80 0,76 1,50 7,70 2,56 3,16 Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados extraídos do Mapa 7. Quando é analisada a ocorrência de área florestada, tratada aqui como a cobertura vegetal remanescente, de vegetação natural e sua distribuição, o que chama a atenção é que não alcança 1% de ocorrência na bacia e se apresenta bastante fragmentada. A segunda categoria que mais se destaca é a Pastagem, com 14.792,04 ha de uso, o equivalente a 19,55% da área. Nota-se, também, que, no entorno dos corpos hídricos, há predomínio do cultivo de cana-de-açúcar e pastagem. Isso provavelmente ocorre devido à fertilidade natural dos solos originados a partir dos depósitos de sedimentos de origem lacustre e fluvial. Nesta análise, observa-se que na classe Cordões Arenosos, característicos das Planícies Costeiras, predomina a vegetação pioneira de Restinga. Esta vegetação está posicionada a leste da lagoa do Campelo, acompanhando a extensão do canal Engenheiro Antônio Resende, até os limites da bacia. Eles (Cordões arenosos e Restingas) se espacializam na forma de “arco contínuo”, ocupando área de 4.766,37 ha, o que representa 6,3% do sistema. Acrescenta-se que nas áreas “entre os cordões” são encontradas pequenas manchas da classe Cultura. Provavelmente, isso ocorre devido às fragilidades do solo pouco fértil das planícies arenosas. Ao espacializar o uso da terra no Sistema Campelo, ressalta-se que a ocupação urbana abrange uma área de 2.377,02 ha de extensão, o que significa 3,16% da bacia. Esta classe se apresenta de forma concentrada, fragmentada ou alinhada: a primeira se caracteriza por estar 71 nas áreas dos Distritos Sede de ambos os municípios e no Distrito de Travessão, que mostra uma urbanização em linha contínua que acompanha a direção da antiga estrada de ferro e a atual BR 101; e a segunda por ser população dispersa espacialmente, devido as suas características de economia agrícola, onde predominam as pequenas comunidades da zona rural. Um espaço que chama atenção na bacia é o Assentamento Zumbi dos Palmares, que teve o início de suas atividades em dezembro de 1997. Ele se estende pelo território dos dois municípios, principalmente no de Campos dos Goytacazes; e ocupa uma extensão de aproximadamente 8.000 ha, se configurando como o maior assentamento de Reforma Agrária do estado do Rio de Janeiro. Ross (2006, p. 13) define a Geografia como a ciência que integra questões físicobiológicas e socioeconômicas num espaço territorial e, a partir daí, pode-se compreender as relações entre sociedade-natureza, acentuadas principalmente, após as novas possibilidades de intervenção antrópica advindas das modernidades técnico-científicas da atualidade. Neste trabalho, procurou-se analisar a relação dos usos sociais junto aos corpos hídricos nesta região, admitindo-se que projetos relacionados ao setor sucroalcooleiro foram os responsáveis pelas maiores alterações ambientais implementadas no local que tinham como objetivos: expandir as fronteiras agrícolas (da monocultura da cana); promover o aumento da produção por meio de investimentos em mecanização; e irrigação. Isto ganha força a partir de meados dos anos 70 do século passado. Vários projetos desta natureza foram financiados com recursos do extinto Programa Nacional do Álcool (Proálcool) (CARNEIRO, 2003, p.138). Para isso, foram construídos canais artificiais para drenar áreas naturais, como os brejos e lagoas da bacia. Aliado a isso, foram instaladas comportas para o controle da vazão desses canais, que regulam o fluxo hídrico de acordo com as necessidades do setor sucroalcooleiro. Após estas intervenções no sistema hídrico regional, desencadearam-se conflitos pelo uso da água entre os atores que residem e desenvolvem suas atividades na região, pois as obras de “controle das águas” foram construídas pelo também extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Nas Figuras 19 e 20, é possível observar os principais usos da terra e algumas obras de engenharia que marcam a paisagem desta região. 72 Figura 19 - Usos da Terra no Sistema Campelo Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos Figura 20 - Obras de Engenharia no Sistema Campelo Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos Acrescentar-se que, apesar da área da bacia apresentar uma pequena ocupação urbana, as atividades nela desenvolvidas causam impactos negativos aos corpos hídricos. Esses impactos podem ser percebidos no conjunto de lagoas localizadas na área urbana do subdistrito de Guarus (Cantagalo, Vigário e Taquaruçu). Sobre isso, Alves e Miro (2014, p. 1), ao discutirem a ocupação da Faixa Marginal de Proteção da lagoa do Taquaruçu demonstraram que, apesar de sua demarcação ter sido realizada no ano de 2004 pelo Estado, 73 ela encontra-se com suas margens edificadas de forma irregular e o corpo hídrico apresenta-se eutrofizado e assoreado. A Figura 21 demonstra a evolução de seu uso ao longo do tempo. Figura 21 - Variação dos usos na FMP da lagoa do Taquaruçu Fonte: ALVES e MIRO, 2014. 3.1.6 Hidrologia O estudo de Bacias Hidrográficas tornou-se muito utilizado no Brasil a partir da década de 1980. Trabalhos empregando o conceito são comuns, como nas obras Argento (1987), INEA (2007), Coelho Netto (2008), Cunha (2009), Botelho (2012), entre outros. Desta forma, considerou-se que este recorte espacial é eficiente para integrar dados espaciais e buscar correlações entre os elementos da paisagem. A Bacia do Sistema Campelo apresenta duas classes de corpos hídricos relevantes para esta escala de análise: as lagoas e os canais, naturais ou artificiais. As lagoas ocupam uma área de 5.824,84 ha, o que corresponde a 7,70% do total da bacia. Foram identificadas 17 lagoas, com áreas que variam entre 15,59 ha (Pedras - SFI), para a menor e 1.922,94 ha (Saudade), para a maior. A maioria localiza-se sobre o relevo de Tabuleiro (15 lagoas), estando somente as do Campelo e Arisco localizadas na Planície Fluviomarinha. Observa-se no Mapa 8 que as lagoas do sistema distribuem-se nos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana: nove no primeiro; seis no segundo; e 74 duas que dividem os municípios (Campelo e Saudade). Acrescenta-se que há lagoas em áreas urbanas da cidade de Campos (Vigário, Maria do Pilar, Cantagalo e Taquaruçu) e de São Francisco (Macabu). O conjunto de lagoas localizadas em Guarus (cidade de Campos) está completamente inserido no aglomerado urbano e apresentam-se muito degradas. As demais estão localizadas em áreas rurais, afastadas da concentração urbana, havendo somente, contato com pequenas comunidades. As lagoas do Sistema Campelo apresentam formas geométricas variadas que Alves et al. (2015), ao dissertarem sobre elas, destacaram que na região as lagoas Cantagalo, Vigário (Norte/Sul), Maria do Pilar, Olaria, Taquaruçu, Brejo Grande, São Gregório, Santa Maria, Saudade, Saco, Funil, Grande, Salgada – SFI (III), Pedras – SFI e Macabu apresentam Forma Dendrítica, ou seja, são semelhantes a “raízes”; a lagoa do Campelo apresenta Forma Alongada, caracterizada assim por apresentar um diâmetro de comprimento algumas vezes maior que o diâmetro de largura; e por fim a lagoa do Arisco, que possui Forma Circular/Oval, no qual os raios medidos a partir de um ponto central até as margens seriam semelhantes entre si. No mapa 8, observa-se a distribuição dessas lagoas nos territórios. Mapa 8 - Rede Hidrográfica do Sistema Campelo 75 Outro elemento marcante na paisagem do Sistema Campelo são os canais de drenagem. De origem natural ou fruto das obras de engenharia executadas pelo DNOS na região em décadas passadas, os canais fluviais são os principais responsáveis por direcionar fluxos hídricos de áreas mais elevadas da bacia (serras e tabuleiros) para a Planície. Nas áreas de baixada, esses fluxos hídricos encontram as lagoas do Campelo e Arisco, ou seus brejos periféricos, e depois seguem pelo canal Engenheiro Antônio Resende, até desaguarem no mar em São Francisco de Itabapoana. Na verdade, o que acontece é que houve um direcionamento artificial de excedentes hídricos da margem esquerda do rio, colhidos pelos canais do Vigário e Cataia, em direção à lagoa do Campelo, para depois suas águas serem levadas ao oceano Atlântico pelo cana Engenheiro Antônio Resende. É importante lembrar que muitos canais (aproximadamente 1.300 km), foram construídos para drenar o excedente hídrico do rio Paraíba do Sul na Baixada Campista e lança-los no mar, e que no mapa só estão representados os de grande dimensão do Sistema Campelo, descritos na tabela abaixo. Tabela 7 - Identificação, localização e extensão dos principais canais Município Extensão Unidades Cataia São Francisco de Itabapoana 7,64 Engenheiro Antônio Resende São Francisco de Itabapoana 21,02 Campos dos Goytacazes e São Valão da Ponte 5,32 Francisco de Itabapoana Vigário Campos dos Goytacazes 14,28 Fonte: Organizado pela autora. Destaca-se ainda, que semelhante ao que ocorre com o canal Coqueiros (na margem direita do rio), estudado por Miro et al. (2014, p. 12), verificou-se por meio de Trabalhos de Campo, em período de seca, que há inversão do sentido dos fluxos hídricos dos canais da margem esquerda, ou seja, as águas que deveriam seguir pelos canais do Vigário e Cataia na direção da lagoa do Campelo e dela para o canal Engenheiro Antônio Resende. Contudo, observou-se que eles invertem a direção do fluxo, os dois primeiros desaguando no rio Paraíba e o outro trazendo águas no sentido da lagoa do Campelo. Na Figura 22 visualizam-se algumas lagoas do Sistema Campelo, localizadas nas áreas urbana e rural. Nas duas primeiras cenas, a lagoa do Campelo é apresentada em períodos úmido e seco; a terceira mostra a lagoa do Vigário bastante eutrofizada e edificações da cidade de Campos ao fundo; na quarta a lagoa do Taquaruçu servindo para a dessedentação de animais; a quinta mostra a lagoa do Brejo Grande como muitas taboas (Thypha domingensis) 76 na coluna d’água; na sexta imagem observa-se a lagoa de São Gregório em período de seca e com vegetação queimada na planície de inundação; a sétima mostra as estacas de demarcação por onde passa o mineroduto que chega ao Porto do Açu, no município de São João da Barra; por fim, mostra-se a lagoa da Saudade também servindo para a dessedentação de bovinos. Figura 22 – Paisagem de algumas lagoas do Sistema Campelo Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos 77 A Bacia do Sistema Campelo apresenta uma área total de 756,49 km² ou 75.649 ha, um perímetro de 189,56 km e 17 lagoas. Nela foram delimitadas 16 sub-bacias, no qual as lagoas do Campelo e Arisco encontram-se localizadas na mesma sub-bacia. Observa-se que com as técnicas utilizadas nesta regionalização não foi possível estabelecer o limite diferencial entre as duas sub-bacias devido a sua posição no relevo e à proximidade entre elas. Botelho (1999, p. 272) diz que as bacias hidrográficas podem conter um número variado de sub-bacias, determinado em função das características da área, dos recursos disponíveis e dos objetivos dessa subdivisão. Ela recomenda, por exemplo que, para realizar estudos hidrológicos devem ser consideradas escalas que permitam determinar sub-bacias de aproximadamente 25 km² de área e para planejamento conservacionista, entre 10 e 50 km². Observa-se ainda que ao delimitar as sub-bacias do Sistema Campelo, alcançou-se um nível de escala maior do que o estabelecido nesta pesquisa, o que garante maior confiabilidade das análises realizadas. Mapa 9 - Sub-bacias do Sistema Campelo Como disposto no mapa acima, as maiores lagoas apresentam as maiores áreas de bacia (Macabu, Saudade, Brejo Grande e Campelo/Arisco) e que as formas das bacias correspondem às formas de suas lagoas (índice de forma). Além disso, observa-se que todas 78 as bacias revelam um fluxo preferencial na direção da bacia do Campelo/Arisco, ocasionado pela diferença de declividade no qual os fluxos hídricos são direcionados dos tabuleiros em direção à planície. A partir dessas informações, foi possível construir uma tabela síntese com dados para o próximo nível de análise. Tabela 8 - Síntese das áreas das lagoas e sub-bacias do Sistema Campelo Cód. Lagoa 27 28 29 30 31 32 33 47 48 49 50 51 56 57 58 59 60 Macabu Pedras - SFI Salgada – SFI (III) Grande Funil Saco Saudade Santa Maria São Gregório Campelo Arisco Brejo Grande Cantagalo Olaria Taquaruçu Maria do Pilar Vigário – Norte/Sul Total Área da lagoa (ha) 571,03 15,59 29,37 336,04 22,40 61,58 1.922,94 232,45 180,87 1.262,35 134,97 829,92 31,40 43,59 77,81 23,67 49,86 5.825,84 Perímetro (m) 76.482,22 3.354,71 4.311,06 36.623,05 4.045,38 10.849,34 172.747,16 24.938,94 18.056,44 20.047,75 4.865,54 95.142,89 3.820,13 6.984,51 11.302,28 3.549,39 6.412,71 Áreas da Subbacia (ha) 13.759,86 568,11 330,74 7.773,14 405,05 733,46 26.056,30 2.625,33 1.766,16 4,15 2,74 8,88 4,32 5,53 8,40 7,38 8,85 10,24 10.385,84 13,45 9.035,45 133,14 478,94 787,35 304,29 506,14 75.648,72 9,19 23,58 9,10 9,88 7,78 9,85 7,70 % Fonte: Organizado pela autora. Gráfico 5 - Correlação entre as áreas das lagoas e suas sub-bacias Sub-bacias (ha) 30.000 20.000 10.000 y = 11,797x + 432,78 S² = 0,8572 S = 0,93 0 0 500 1000 1500 Lagoas (ha) Fonte: Organizado pela autora. 2000 2500 79 Os dados demostrados na tabela acima foram organizados num gráfico de dispersão (Gráfico 5), no qual mostra a correlação entre as áreas das lagoas e das sub-bacias do Sistema Campelo. Nele, observa-se que há uma forte correlação (93%) entre as variáveis, o que reforça a ideia de integração entre os elementos (sub-bacias) contidos na Bacia do Sistema Campelo. O valor revelado mostra, também, uma consistência do método de demarcação das lagoas e suas sub-bacias, e consequentemente, do sistema como um todo. 3.2 Dinâmica das variações lineares dos espelhos d’água no Sistema Campelo A análise multitemporal de elementos da paisagem tem sido realizada por diversos pesquisadores, dentre os quais podem ser citados os trabalhos recentes de Silva et al. (2012) que, ao realizarem uma análise temporal do espelho d’água da lagoa Parnaguá, localizada no estado do Piauí, concluíram que ocorreu uma correlação direta entre a variação do seu espelho d’água e os fenômenos climáticos El niño e La niña. No primeiro, registraram-se maiores áreas e no segundo menores, sempre em função da variação da precipitação promovida pelos eventos ocorridos entre os anos 1989 e 2010. Lima (2014), ao estudar a variação do espelho d’água da lagoa Feia, utilizou imagens de satélites e dados históricos, para apontar que sua variação se deu em virtude das atividades socioeconômicas desenvolvidas no entorno da lagoa, com destaque para as intervenções (obras de engenharia) promovidas por órgãos públicos como o DNOS. Enquanto que Vaz (2014), ao pesquisar 36 lagos no Vale do rio Doce, destaca que a variação das áreas dos espelhos dos lagos mostrou-se pequenas. Registrando maiores diferenças no período seco, do que no período úmido. Estes trabalhos serviram de apoio ao desenvolvimento do estudo da variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, além de validar o método e as técnicas empregadas. Esta pesquisa teve como base o uso de imagens de satélites na obtenção de dados indiretos para, em seguida, organizá-los sob uma lógica teórico-metodológica previamente definida. Ressalta-se que, além de dados indiretos, também utilizou-se dados climatológicos obtidos de modo intermediário (precipitação atmosférica disponibilizada pela UFRRJ) e incursões à campo, para estabelecer as correlações propostas para este trabalho. Como apresentado nos gráficos abaixo, inicialmente analisou-se a variação dos espelhos d’água das lagoas individualmente, entre os períodos úmido e seco, seguindo os critérios de Ano Padrão, descrito no item 3.1.1 deste trabalho. 80 Gráfico 6 - Variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo 81 Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015. Ao analisar o comportamento da variação dos espelhos d’água no conjunto de gráficos acima, verificou-se que as lagoas Pedras – SFI, Salgada – SFI (III), Funil, Campelo e Arisco mostraram um comportamento semelhante, quando observado que no período úmido seus espelhos d’água se mantiveram maiores que no período seco (comportamento esperado), somente apresentando uma queda acentuada no ano de 2015. Por outro lado, a lagoa do Saco mostrou uma variação contrária do esperado, quando apresenta um espelho d’água maior no período seco. As demais denotaram um comportamento irregular quando observado os períodos úmido e seco, não sendo possível estabelecer um padrão na série estudada. A lagoa Macabu mostrou maior variação no período úmido no ano de 2007, seguida da lagoa Grande que apresentou dois picos de variação nos anos de 2007 e 2014. Já a lagoa do Saco mostrou-se bastante irregular, quando mantém seu espelho d’água em período seco acima daquele considerando úmido. Observa-se, também, que as lagoas do Arisco e do 82 Campelo estiveram secas no ano de 2015. Por fim, vale lembrar que a lagoa Maria do Pilar não aparece nas análises, pois não apresentou espelho d’água nos períodos estudados. Ao analisar os espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo de forma integrada, como exposto no Gráfico 7, notou-se que eles apresentam um comportamento regular e esperado, com pequena variação quando considerado a média para o período úmido (1.152,41 ha) e seco (1.081,99 ha), porém, com decréscimo importante para o período seco de 2014 e mais significativo nos dois períodos de 2015, o que determinou uma grande variação quando considerados os valores mínimo e máximo em relação à média, com Desvio Padrão de 365% para o período úmido e 305% para o período seco. Chama-se a atenção, ainda, para a semelhança entre as curvas do Sistema Campelo e o da lagoa do Campelo. Gráfico 7 - Variação do total dos espelhos d’água do Sistema Campelo Sistema Campelo Área Total (ha) 1600 1200 800 400 0 2006 2007 2008 2009 2010 Úmido 2011 2012 2013 2014 2015 Seco Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015. Na Tabela 9 Observa-se o Coeficiente de Variação, que é uma medida de tendência central para mostrar o quanto os espelhos d’água variaram em torno da média no período estudado. Observa-se que as maiores variações ficaram com as lagoas de Macabu (158%) e Grande com (185%) no período úmido e (144%) no seco. As menores variações ocorreram na lagoa de Santa Maria com (14%) no período seco e (11%) no úmido. Ressalta-se ainda, que as lagoas da Saudade e Campelo mantiveram o mesmo coeficiente de variação para os períodos úmido e seco, com totais de (25%) e (33%), respectivamente. 83 Tabela 9 - Coeficiente de Variação dos espelhos d’água do Sistema Campelo (2006-2015) Cód. Lagoa C.V. % (Úmido) C.V. % (Seco) 27 Macabu 158 85 28 Pedras - SFI 28 44 29 Salgada – SFI (III) 27 21 30 Grande 185 144 31 Funil 23 41 32 Saco 68 34 33 Saudade 25 25 47 Santa Maria 14 11 48 São Gregório 53 50 49 Campelo 33 33 50 Arisco 49 50 51 Brejo Grande 34 24 56 Cantagalo 80 61 57 Olaria 87 60 58 Taquaruçu 25 22 59 Maria do Pilar Não há Não há 60 Vigário – Norte/Sul 21 12 Total 31,69 28,22 Fonte: Organizado pela autora. De acordo com Coelho Netto (2008), a área que compreende o Sistema Campelo apresenta déficit hídrico durante todo o ano, sendo menores entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando pode apresentar um pequeno excedente hídrico que varia entre 0 – 100 mm/mês. Por outro lado, nos meses de período seco apresentam um déficit hídrico de no mínimo 20 mm/mês. Para ela, a região do Baixo Curso do rio Paraíba do Sul, da sua margem esquerda até o rio Itabapoana, apresenta uma alta taxa de evapotranspiração potencial (ETP), motivo pelo qual, os excedentes hídricos sejam pequenos. Assim, ao analisar os espelhos d’água das lagoas desta região em função dos índices pluviométricos é recomenda-se considerar esta variável, pois caso contrário, os resultados da pesquisa poderiam ser mascarados. Desta forma, ao correlacionar as áreas dos espelhos d’água com a precipitação efetiva é necessário considerar as altas taxas de ETP. Ao estabelecer correlações entre os espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo é possível observar no Gráfico 8, que no período úmido as correlações se mostraram mais positivas do que no seco. Contudo, no período seco (Gráfico 9) as correlações que prevalecem são as negativas. Esta informação parece nos dizer que no período úmido mais lagoas aumentam suas áreas de espelhos d’água em função da precipitação. Em contrapartida, no período seco, as lagoas não diminuem suas áreas de espelhos d’água na mesma proporção que diminuem os índices pluviométricos. Isso nos leva a entender que o processo é derivado da 84 flutuação do lençol freático, que pelo fato das lagoas estarem numa depressão relativa (vales encaixados nos Tabuleiros ou Planície Fluviomarinha) o lençol freático estaria mais elevado, mesmo considerando a alta evapotranspiração na região. Destaca-se ainda, a correlação positiva (71%) que a lagoa de Santa Maria apresenta no período úmido, ou seja, conforme aumenta a precipitação, aumenta o seu espelho d’água, apesar de no período seco ela não apresentar correlação significativa. Por outro lado, a lagoa do Funil apresenta uma forte correlação negativa no período seco, isto significa dizer que o seu espelho d’água não decresce em área conforme diminui a precipitação atmosférica, além disso, não apresenta correlação significativa para o período úmido. Gráfico 8 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período úmido 71% 80% 41% 39% 39% 40% 48% 40% 33% 27% 28% 20% 12% 0% 0% -7% -7% -18% -22% -40% -38% -80% Arisco Brejo Grande Campelo Cantagalo Funil Grande Macabu Maria do Pilar Olaria Pedras SFI Saco Salgada – SFI (III) Santa Maria São Saudade Taquaruçu Vigário Gregório Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015 e dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. Gráfico 9 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período seco 80% 39% 40% 27% 1% 4% 9% 0% 5% 0% -7% -40% -22% -1% -15% -17% -35% -39% -56% -58% -71% -80% Arisco Brejo Grande Campelo Cantagalo Funil Grande Macabu Maria do Pilar Olaria Pedras SFI Saco Salgada – SFI (III) Santa Maria São Saudade Taquaruçu Vigário Gregório Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015 e dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015. Para encerrar as discussões propostas neste trabalho, podemos tentar definir melhor o conceito de lagoas. Elas foram aqui consideradas sob os parâmetros geográfico- 85 geomorfológicos como depressões no relevo cobertas ou não por águas. O que acontece, é que frequentemente, suas áreas totais são confundidas com seus espelhos d’água. Sobre isso, Lima et al. (2014) dizem que as lagoas são “[...] tal como um ‘copo’ que pode estar totalmente preenchido ou não com água”. Acrescenta-se que geomorfologicamente elas devem ser entendidas através de seus atributos de forma, espelhos d’água, áreas de inundação e vegetação de entorno (mata ciliar), quando vistas em planta; e calha, margem e planície de inundação quando observada suas dimensões tridimensionais. Além disso, por serem depressões relativas do relevo, denunciam o nível do lençol freático local, que é função da precipitação atmosférica e de sua posição no relevo. Por isso, frequentemente, se tornam mananciais para os diversos usos ecológicos e socioeconômicos, e assim esses atributos devem ser considerados no seu manejo. A Tabela 10 mostra uma correlação atual entre as lagoas do Sistema Campelo e seus respectivos espelhos d’água. Tabela 10 - Correlação entre a área das lagoas e seus espelhos d’água Área Média do Espelho Média do Espelho Cód. Lagoa (ha) d’água – úmido (%) d’água – seco (%) 28 Pedras - SFI 15,59 66,36 46,70 31 Funil 22,40 66,42 45,40 59 Maria do Pilar 23,67 0 0 29 Salgada – SFI (III) 29,37 52,65 42,67 56 Cantagalo 31,40 5,47 6,36 57 Olaria 43,59 6,70 5,78 60 Vigário 49,86 28,91 28,83 32 Saco 61,58 10,50 20,32 58 Taquaruçu 77,81 15,01 14,82 50 Arisco 134,97 40,57 32,40 48 São Gregório 180,87 14,35 16,15 47 Santa Maria 232,45 4,44 4,37 30 Grande 336,04 2,33 1,52 27 Macabu 571,03 1,92 1,02 51 Brejo Grande 829,92 4,22 4,09 49 Campelo 1.262,35 61,63 57,68 33 Saudade 1.922,94 7,89 7,96 Total 5.825,84 6,68 5,77 Fonte: Organizado pela autora. 86 O que se percebe ao analisá-las, com base nas informações apresentadas na tabela anterior é que: no sistema existe uma lagoa que não tem espelho d’água aparente (Maria do Pilar), ou seja, sua superfície está coberta por vegetação; que lagoas pequenas (até 30 ha), como as Pedras – SFI, Funil e Salgada – SFI (III) apresentam em média até 66% de espelho d’água; e as maiores apresentam espelhos d’água pequenos, quando analisados seus tamanhos em relação à área total da lagoa, podendo ser consideradas quase secas, como por exemplo, as lagoas da Saudade, Brejo Grande e Macabu. Contudo, o dado que mais chamou a atenção na Tabela 10 é a pequena média apresentada para os períodos úmido e seco em todas as lagoas e, que na atualidade há menos águas nas lagoas do Sistema Campelo do que sua geomorfologia revela. 87 CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 88 4. Considerações Finais A Bacia do Sistema Campelo pode ser entendida como um Geossistema, pois é possível individualizá-la, classificá-la em conjunto com outras e ser subdividida de acordo com critérios geomorfológicos de acordo com suas paisagens locais. Para isso, existem diferentes métodos de distinção e cartografar paisagens em geoambientes, o que permitiu realizar análises respeitando e distinguindo os níveis de escalas apropriados a cada discussão (RODRIGUES, et al., 2013, p. 65). Os processos de regionalização de ambientes abrangem componentes complexos da dimensão geográfica (climáticos, pedológicos etc.). Este trabalho baseou-se num tipo de levantamento semi-detalhado, ou seja, utilizou-se de dados climáticos regionais, imagens de satélites com resolução média e outros dados de ordem regional. Além disso, a obtenção dos dados foi validada por meio de Trabalhos de Campo, quando se realizou levantamentos fotográficos e aferições altimétricas, para melhor representação. Dessa maneira, os métodos e técnicas empregados na pesquisa garantem as informações inferidas nas escalas declaradas. O tema central do trabalho está relacionado à questão da água. Em que a vulnerabilidade à sua falta pode parecer episódica, mas é comum observar na paisagem rios que reduziram o seu volume, principalmente, como foi observado no biênio 2014 – 2015 em muitas regiões do Brasil, inclusive no Baixo Curso do rio Paraíba do Sul. Modelos, abordagens e indicadores têm sido empregados para caracterizar e quantificar a escassez da água, onde conflitos pela água podem ser identificados mundo a fora. Usando o que relata Richter (2015, p. 41), isto pode indicar um acréscimo significativo no custo de se obter água; impactos econômicos devastadores, como se observam nas cidades as margens do rio Doce, atingidas pelo evento da mineradora Samarco; prejuízos no funcionamento de infraestrutura, como na produção hidroelétrica. A partir disso, pode-se concluir que a qualidade de vida das populações diminui e a subsistência humana fica prejudicada com a falta d’água. As análises acerca do Uso da Terra na Bacia do Sistema Campelo mostraram que as intervenções realizadas na região fizeram diminuir a quantidade de água na sua bacia, e que o processo de modernização agrícola na região, levou a abertura de canais e outras obras de infraestrutura (como comportas e diques), e não em investimentos de implementos agrícolas, transgênicos e outras “modernidades” da chamada Revolução Verde. Na Bacia do Sistema Campelo foi identificado, predominantemente o uso agropastoril (cana e pasto), onde a vegetação nativa foi removida quase que totalmente e a Vegetação 89 Potencial tornou-se apenas uma ideia. O entorno das lagoas também estão ocupados por pastagens e cana-de-açúcar, atividades altamente dependente de recursos hídricos, pois a agricultura utiliza cerca de 70% da água consumida pela humanidade. Já nas áreas urbanas do sistema, as lagoas encontram-se bastante degradadas devido ao tratamento inadequado dos efluentes líquidos que nelas são lançados diariamente. Tudo isso, denota que não há corpo hídrico no sistema livre das interferências antrópicas negativas. Quanto ao clima, foi possível estabelecer um Ano Padrão de Precipitação para a região. A partir dele, observou-se que ocorrem duas estações bem marcadas e, que na estação seca chove em seis meses apenas 28% do total anual. Quando se considera o déficit hídrico regional e a precipitação média de 900 mm/ano, percebe-se que o fenômeno de seca não é episódico. Ao observar a estrutura geológico-geomorfológica da bacia, vê-se que os fluxos hídricos são direcionados: drenam os Tabuleiros na direção da Planície Fluviomarinha, onde alcançam as lagoas do Campelo e Arisco. Mas apesar disso, nos últimos dois anos elas estiveram com seus espelhos d’água reduzidos, pois os pequenos excedentes hídricos regionais são drenados da bacia, pelo canal Engenheiro Antônio Resende, em direção ao mar, ou seja, o estoque hídrico é descartado. Ressalta-se ainda que o relevo, condicionado pela estrutura geológica, é que faz mover matéria e energia neste modelo, composto fisicamente pelos tabuleiros, planície, lagoas e canais, responsáveis por direcionarem as águas do continente para o mar. As inferências sobre a variação dos espelhos d’água em função da precipitação no Sistema Campelo mostraram-se insuficientes (as correlações foram pouco significativas), onde se percebeu a necessidade de inclusão de outras variáveis para o modelo se tornar mais representativo, como por exemplo: o Balanço Hídrico e a Variação do Nível Freático. Contudo, chamou à atenção o fato da curva de variação na série temporal da lagoa do Campelo, apresentar-se semelhante à do Sistema como um todo, o que pode em estudos futuros, mostrá-la como um indicador hidrológico de todas as outras. Por fim, ao estabelecer a correlação entre a área das lagoas com seus respectivos espelhos d’água, quantificou-se o observado em campo e concluiu-se que as lagoas estão desaparecendo da paisagem do Sistema Campelo. 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91 5. Referências bibliográficas AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo, Ateliê, 2003. AMADOR, Elmo da Silva. 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