CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA LEIDIANA ALONSO

Propaganda
i
CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
LEIDIANA ALONSO ALVES
ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA VARIAÇÃO TEMPORO-ESPACIAL DOS
ESPELHOS D’ÁGUA DAS LAGOAS DO SISTEMA CAMPELO ENTRE OS
ANOS DE 2006 E 2015
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
2016
ii
LEIDIANA ALONSO ALVES
ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA VARIAÇÃO TEMPORO-ESPACIAL DOS
ESPELHOS D’ÁGUA DAS LAGOAS DO SISTEMA CAMPELO ENTRE OS
ANOS DE 2006 E 2015
Monografia apresentada ao Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Fluminense, Campus Campos-Centro,
como requisito parcial para conclusão do
Curso de Licenciatura em Geografia.
Orientador: José Maria Ribeiro Miro
Bacharel em Geografia/UFRJ
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
2016
iii
iii
LEIDIANA ALONSO ALVES
iv
Dedico este trabalho,
À proteção e preservação dos
corpos hídricos (lóticos e lênticos)
da Região Norte Fluminense,
principalmente àqueles localizados
na Bacia do Sistema Campelo.
v
AGRADECIMENTOS
No decorrer deste trabalho muitos foram aqueles que incentivaram e contribuíram para o seu
desenvolvimento, por isso gostaria de expressar aqui o meu reconhecimento.
Agradeço, primeiramente, a Deus por renovar minhas forças diariamente.
A todos os familiares que acompanharam o desenvolvimento deste trabalho, em particular ao
meu pai, a minha irmã e em especial a minha mãe Janete pelo apoio incondicional junto às
tomadas de decisão. Não posso esquecer-me de dirigir uma palavra sincera de agradecimento
a Cremilda Rangel pela amizade e o incentivo constante.
Ao orientador desta monografia, Professor José Maria Ribeiro Miro por cada minuto do seu
tempo cedido para ouvir minhas ideias, pelo seu incentivo contínuo, pelos ensinamentos e
trabalhos em conjunto. Percebi que tudo isso me fez crescer não só academicamente, mas na
vida pessoal também. Obrigada por tudo!
Ao Instituto Federal Fluminense que me recebeu de braços abertos. Obrigada pelas
experiências vividas e adquiridas ao longo do tempo.
A Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação na pessoa do Professor Pedro Castelo Branco.
Agradeço à concessão contínua da bolsa de Iniciação Científica, o que possibilitou
desenvolver o projeto de pesquisa O novo mapa da Ecorregião de São Tomé: lagoas que deu
subsídios este Trabalho de Conclusão de Curso.
A Coordenação do Curso de Licenciatura em Geografia, especialmente à Professora Roselene
Affonso pelo apoio, atenção e a gentileza de sempre.
Aos Professores Aristides Arthur Soffiati Netto, Claudio Henrique Reis e Ricardo Pacheco
Terra que aceitaram o convite para fizer parte da Banca Avaliadora e com suas leituras e
experiências contribuírem para elevar o nível deste trabalho. Ainda quanto ao Professor
Arthur Soffiati fica aqui o meu agradecimento pelas trocas de ideias que tanto colaboraram
para o desenvolvimento deste e de outros trabalhos.
Ao Centro de Informações e Dados de Campos (CIDAC) em especial ao Rhaniéri Siqueira e a
Patrícia Pires por todo o apoio durante os dois anos de estágio, e também, posterior a isso.
Aos Salaverdeanos fica aqui o meu agradecimento a todos.
Aos Mestres do Ensino Médio e da Graduação pelos ensinamentos diários.
Ao Diego de Oliveira Miro pelas contribuições estatísticas via Skipe.
A Professora Maria Amelia Ayd Corrêa por contribuir com seus ensinamentos que foram de
grande importância para a elaboração de diversos trabalhos.
Aos companheiros da turma “Geografia20102s”.
Em fim, a todos, os meus mais sinceros agradecimentos.
vi
Se tens que lidar com água,
consulta primeiro a experiência,
depois a razão.
Leonardo da Vinci
vii
RESUMO
ALVES, Leidiana Alonso. Análise Geossistêmica da variação temporo-espacial dos espelhos
d’água das lagoas do Sistema Campelo entre os anos de 2006 e 2015. Monografia. Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. Campos dos Goytacazes/RJ, 2016.
Orientador: Prof. José Maria Ribeiro Miro.
A conservação dos recursos hídricos é o tema central desta pesquisa. A Bacia Hidrográfica do
Sistema Campelo está localizada entre os municípios de Campos dos Goytacazes e São
Francisco de Itabapoana, no estado do Rio de Janeiro. Sua paisagem é marcada por lagoas,
brejos e canais. Este recorte espacial é composto pelos seguintes compartimentos
geomorfológicos: Tabuleiros Terciários da Formação Barreira e Planície Fluviomarinha. O
estudo destes corpos hídricos se justifica devido ao fato desta região se mostrar importante
para a produção de alimentos, abastecimento de água e geração de trabalho e renda para
aqueles que residem no referido sistema. Desta forma, objetiva-se com esta pesquisa
compreender os processos envolvidos na variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema
Campelo, correlacionando-os em função da precipitação atmosférica na sua bacia e
integrando-os à paisagem através da metodologia geossistêmica. Os pressupostos teóricometodológicos aqui empregados basearam-se na abordagem Geossistêmica, no qual foi
considerada adequada ao desenvolvimento de estudos integrados do ambiente, além disso,
buscou-se o enfoque geomorfológico ao observar a paisagem. Através do método da Análise
Ambiental buscou-se compreender o ambiente em sua totalidade, observando-se as interrelações entre os elementos que o constitui. Associado ao uso das geotecnologias e Trabalhos
de Campo foi possível correlacionar os fenômenos geográficos de localização, proximidade,
continuidade e frequência de objetos no espaço. Os resultados obtidos mostraram que o
entorno das lagoas encontram-se ocupados por agricultura, pastagem e área urbana, o que
denota elas não estão livres das interferências antrópicas; quando inferido a variação dos
espelhos d’água, observa-se eles demonstraram um comportamento, na maioria das vezes
irregular não sendo possível estabelecer um padrão na série estudada. Ao estabelecer a
correlação entre a área das lagoas como seus respectivos espelhos d’água, quantificou-se o
observado em campo e concluiu-se que as lagoas estão desaparecendo da paisagem do
Sistema Campelo.
Palavras-chave: Geossistema, Análise Ambiental, Lagoa do Campelo.
viii
ABSTRACT
ALVES, Leidiana Alonso. Geosystemic analysis of temporo-spatial variation of water
features of the Campelo System ponds between 2006 and 2015. Monograph. Federal Institute
of Education, Science and Technology Fluminense. Campos dos Goytacazes/RJ, 2016.
Advisor: José Maria Ribeiro Miro.
The conservation of water resources is the focus of this research. The Watershed Campelo
System is located between the municipalities of Campos dos Goytacazes and São Francisco
de Itabapoana in the state of Rio de Janeiro. Its landscape is marked by lagoons, swamps and
channels. This spatial area consists of the following geomorphological compartments: Trays
Tertiary Training Barrier and Plain fluviomarinha. The study of these water bodies is justified
by the fact that this region proves important for food production, water supply and generate
jobs and income for those who live in that system. Thus, if the objective of this research was
to understand the processes involved in the variation of the reflecting pools of the Campelo
System Pond, correlating them depending on rainfall in its watershed and integrating them
into the landscape through Geosystemic methodology. The theoretical and methodological
assumptions employed here were based on the geosystemic approach, which was considered
adequate to the development environment integrated study also sought to geomorphological
approach to observe the landscape. Through the method of environmental analysis sought to
understand the environment in its entirety, noting the interrelationships between the elements
that constitute it. Associated with the use of geotechnology and Fieldwork was possible to
correlate the spatial localization phenomena, proximity, continuity and frequency of objects in
space. The results showed that the areas surrounding the lakes are occupied by agriculture,
grazing and urban areas, which indicates they are not free of anthropogenic interference;
inferred when the variation of water features, there is a behavior they demonstrated, for the
most part irregular is not possible to establish patterns of this series. To establish the
correlation between the area of the lagoons as their respective reflecting pools, the observed
quantified in the field and it was concluded that the ponds are disappearing from the
landscape Campelo system.
Keywords: Geosystem, Environmental Analysis, Pond Campelo.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Perfil morfométrico da Bacia do Sistema Campelo..........................................
17
Figura 2 - Estruturação do geossistema e do sistema socioeconômico............................
26
Figura 3 - Ciclos de Milankovitch....................................................................................
27
Figura 4 - Modelo da Deriva Continental.......................................................................
28
Figura 5 - Resolução espacial de uma imagem em Sensoriamento Remoto....................
36
Figura 6 - Espectros de reflectância..................................................................................
36
Figura 7 - Identificação de elementos individuais na paisagem.......................................
37
Figura 8 - Padrão de recobrimento orbital em um dia pelo satélite Landsat com
................. resolução temporal de 16 dias..........................................................................
37
Figura 9 - Principais passos para a delimitação de bacias hidrográficas..........................
42
Figura 10 - Bacia do Sistema Campelo............................................................................
42
Figura 11 - Sub-bacias do Sistema Campelo....................................................................
43
Figura 12 - Curvas de nível..............................................................................................
45
Figura 13 - Modelo Digital de Elevação...........................................................................
45
Figura 14 - Imagem Landsat 5..........................................................................................
48
Figura 15 - Espelhos d’água vetorizados..........................................................................
48
Figura 16 - Estádio 5: Formação relativa ao período 5.100 – 4.200 A.P.........................
57
Figura 17 - Domínios Morfoclimáticos Brasileiros..........................................................
60
Figura 18 - Cena de trabalho nos engenhos de açúcar típicos do século XVII – pintura
....................de Hercule Florence.......................................................................................
68
Figura 19 - Usos da Terra no Sistema Campelo...............................................................
72
Figura 20 - Obras de engenharia no Sistema Campelo.....................................................
72
Figura 21 - Variação dos usos na FMP da lagoa do Taquaruçu.......................................
73
Figura 22 - Paisagem de algumas lagoas do Sistema Campelo........................................
76
x
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Localização da área de estudo...........................................................................
17
Mapa 2 - Precipitação das Regiões Hidrográficas............................................................
51
Mapa 3 - Geologia da Bacia do Sistema Campelo...........................................................
59
Mapa 4 - Relevo do Sistema Campelo..............................................................................
62
Mapa 5 - Vegetação Potencial do Sistema Campelo........................................................
65
Mapa 6 - Usinas de Campos dos Goytacazes na década de 1970.....................................
68
Mapa 7 - Uso da Terra no Sistema Campelo....................................................................
69
Mapa 8 - Rede Hidrográfica do Sistema Campelo...........................................................
74
Mapa 9 - Sub-bacias do Sistema Campelo.......................................................................
77
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Proposta de classificação da paisagem em níveis temporo-espaciais e a
................... relação de grandeza das unidades de paisagem.............................................
29
Quadro 2 - Categorias e Princípios Lógicos Geográficos................................................
30
Quadro 3 - Principais pressupostos teóricos utilizados no trabalho.................................
38
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Normal da precipitação para a Baixada Campista..........................................
52
Gráfico 2 - Total acumulado da precipitação para a Baixada Campista...........................
53
Gráfico 3 - Variação da precipitação acumulada..............................................................
54
Gráfico 4 - Precipitação pluviométrica em períodos úmido e seco entre 2006 e 2015....
56
Gráfico 5 - Correlação entre as áreas das lagoas e suas sub-bacias..................................
78
Gráfico 6 - Variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo.....................
80
Gráfico 7 - Variação do total dos espelhos d’água e precipitação do Sistema Campelo..
82
Gráfico 8 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período úmido.............
84
Gráfico 9 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período seco................
84
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Imagens de satélites utilizadas na pesquisa.....................................................
47
Tabela 2 - Acumulado e percentuais de precipitação.......................................................
55
Tabela 3 - Síntese da extensão das unidades geológicas..................................................
59
Tabela 4 - Síntese da Vegetação Potencial do Sistema Campelo.....................................
65
Tabela 5 - População urbana e rural da Bacia do Sistema Campelo................................
69
Tabela 6 - Síntese do Uso da Terra no Sistema Campelo.................................................
70
Tabela 7 - Identificação, localização e extensão dos principais canais............................
75
Tabela 8 - Síntese das áreas das lagoas e sub-bacias do Sistema Campelo......................
78
Tabela 9 - Coeficiente de variação dos espelhos d’água do Sistema Campelo
.................(2006-2015)......................................................................................................
83
Tabela 10 - Correlação entre as áreas das lagoas e seus espelhos d’água........................
85
xii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AP – Antes do Presente
CIDAC – Centro de Informações e Dados de Campos
DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamentos
ENE – Leste-nordeste
ETP – Evapotranspiração Potencial
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFF – Instituto Federal Fluminense
INEA – Instituto Estadual do Ambiente
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
LIFE – Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores
MDE – Modelo Digital de Elevação
MMA – Ministério do Meio Ambiente
PA – Pará (Estado)
PIs – Planos de Informações
Proálcool – Programa Nacional do Álcool
SFI – São Francisco de Itabapoana
SHP – Shapefile
SIG – Sistema de Informação Geográfica
SP – São Paulo
SRTM – Shuttle Radar Topography Mission
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
USGS – Serviço Geológico dos Estados Unidos
UTM – Universal Transversa de Mercator
WGS – World Geodetic System
WSW – Oeste-sudoeste
xiii
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................................. vii
ABSTRACT.......................................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... ix
LISTA DE MAPAS..............................................................................................................
x
LISTA DE QUADROS........................................................................................................
x
LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................................ x
LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... xi
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................. xii
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 15
1.1 Localização da área de estudo.................................................................................. 16
1.2 Justificativas.............................................................................................................. 18
1.3 Hipótese.................................................................................................................... 18
1.4 Objetivos................................................................................................................... 19
1.4.1 Objetivo geral.................................................................................................. 19
1.4.2 Objetivos específicos....................................................................................... 19
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS................................................. 20
2.1 Tipologia das fontes.................................................................................................. 21
2.2 Pressupostos Teóricos............................................................................................... 22
2.3 Síntese dos pressupostos teóricos............................................................................. 38
2.4 Método...................................................................................................................... 39
2.5 Procedimentos.......................................................................................................... 41
2.5.1 Delimitação do recorte espacial: Bacia do Sistema Campelo......................... 42
2.5.2 Elaboração dos produtos cartográficos............................................................ 43
2.5.3 Modelo Digital de Elevação............................................................................ 44
2.5.4 Análise estatística dos dados........................................................................... 45
2.5.5 Processamento das Imagens............................................................................ 47
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................... 49
3.1 Análise Geoambiental do Sistema Campelo............................................................ 50
3.1.1 Climatologia..................................................................................................... 50
3.1.2 Geologia........................................................................................................... 57
3.1.3 Geomorfologia................................................................................................. 60
3.1.4 Vegetação Potencial......................................................................................... 63
3.1.5 Uso da Terra..................................................................................................... 66
3.1.6 Hidrologia........................................................................................................ 73
3.2 Dinâmica das variações lineares dos espelhos d’água no Sistema Campelo........... 79
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 88
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 91
6. APÊNDICE....................................................................................................................... 98
xiv
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
15
1. Introdução
Esta pesquisa tem como tema a conservação dos recursos hídricos no Baixo Curso do
rio Paraíba do Sul, mais especificamente, um estudo de caso da Bacia do Sistema Campelo.
A água modela paisagens em todas as partes do mundo. Seus traços criam formas na
Terra, nas bacias oceânicas, nas cadeias montanhosas e em todas as regiões. De forma
detalhada, esculpe os contornos de colinas e vales ou desenha planícies e lagos. Nas planícies
serpeiam mais lentamente, nas áreas íngremes gastam mais energia, por unidade de
comprimento do que quando esculpem áreas em níveis mais baixos. No que tange ao uso
social, a água é utilizada para abastecimento humano e das suas atividades socioeconômicas,
sendo captada nos rios, lagos, represas e em aquíferos subterrâneos. Ela é considerada um
bem natural de fundamental importância para a sobrevivência humana e dos ecossistemas
naturais. Suas características variam quanto à qualidade e quantidade, devendo ser analisada
sob os aspectos de origem e pelo seu múltiplo uso (ALVES et al., 2014).
Apesar da importância, o seu uso inadequado ainda causa conflitos entre vizinhos no
mundo todo. A montante ou a jusante dos mananciais, frequentemente acontecem impactos
ambientais sobre os recursos hídricos, principalmente, aqueles relacionados à poluição e
redução do fluxo hídrico; construção e assoreamento de represas; salinização e erosão de
solos; e inundações agravadas pelo desflorestamento. Na Região Norte Fluminense, relata-se
mais a atuação do setor sucroalcooleiro de Campos que restringem o acesso à água a outros
usuários (TELLES e DOMINGUES, 2006, p. 345).
Com o intuito de entender as lagoas da Região Norte Fluminense, Alves et al. (2013)
inventariaram 70 corpos lênticos e os classificaram utilizando-se os seguintes critérios
geomorfológicos: formadas a partir de barras arenosas costeiras, entre cordões litorâneos,
meandros abandonados de rios, vales encaixados nos Tabuleiros de Formação Barreiras e
depressões na Planície Fluviomarinha. Dentre eles, as lagoas do Sistema Campelo aparecem
classificadas como: lagoas de Meandro Abandonado, Reliquiar e de Tabuleiros. A primeira
caracteriza-se por formar-se a partir dos processos de autorregulação de rios meandrantes; a
segunda aplica-se tanto para lagoas, quanto para lagunas, pois se formaram entre as faixas de
areia deixadas pelos processos de Regressão e Transgressão Marinha; e a terceira apresenta
lagoas encaixadas nos vales do Grupo Barreiras e esculpidas pela erosão diferencial nos
tabuleiros sedimentares.
Quando suas formas são correlacionadas ao relevo, Alves et al. (2015) destacam que
as lagoas do tipo Dendrítico predominam no sistema, tendo com exemplo as formas das
16
lagoas: Macabu, Saudade, Brejo Grande; já as lagoas Campelo e Arisco apresentam forma
Alongada e Circular/Oval, respectivamente.
Este estudo trata da variação espaço-temporal dos espelhos d’água de 17 lagoas do
Sistema Campelo, que hidrologicamente é abastecido por águas superficiais e subsuperficiais
oriundas das vertentes dos tabuleiros; e planície por rios e canais, como os do Vigário e
Cataia. Sendo drenado, principalmente, através do canal Engenheiro Antônio Resende, até
alcançar ao mar.
Nesta região, muitos autores descrevem os conflitos pela água na Baixada Campista,
relacionando-os às obras de engenharia construídas no século XX, pelo extinto Departamento
Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). As justificativas para estas intervenções foram
sanitaristas ou de combate às cheias e inundações, contudo, impactaram os recursos hídricos
regionais. Atualmente, Soffiati (1998, p. 21), Carneiro (2003, p. 138) entre outros, discutem o
tema, dizendo que a motivação destas obras, na verdade, foi para expandir as áreas
agricultáveis.
Devido à importância do tema, estudos que visem o monitoramento, preservação e
qualidade dos recursos hídricos devem ser desenvolvidos sistematicamente. Quanto a isso,
Polidório (2005, p. 4.249), Silva et al. (2012, p. 910) e Lima (2014) destacam que trabalhos
que usam técnicas de Sensoriamento Remoto organizados em SGIs vêm sendo desenvolvidos,
demonstrando que essas tecnologias são eficientes para a geração de informações qualitativas
e quantitativas sobre sistemas aquáticos impactados. Além disso, eles possibilitam realizar
análises multitemporais, com imagens de satélites e software disponibilizados gratuitamente,
possibilitando desenvolver pesquisas de baixo custo e boa qualidade.
1.1 Localização da área de estudo
A Bacia Hidrográfica do Sistema Campelo apresenta uma área total de 756,49 km² ou
75.649 ha, comprimento máximo de 37,90 km e largura máxima de 25,80 km, como se vê na
Figura 1. Ela está localizada politicamente entre os municípios costeiros de Campos dos
Goytacazes e São Francisco de Itabapoana, na região norte do estado do Rio de Janeiro/BR.
Fisicamente ela encontra-se entre as coordenadas UTM 253082.84E / 7632131.44S e
259738.91E / 7592659.87S e fuso 24S. A área de estudo está inserida entre a margem
esquerda do rio Paraíba do Sul e a bacia do rio Guaxindiba a norte. A oeste pela linha de
cumeada da bacia do rio Muriaé e a leste pelos suaves divisores da bacia do canal de
Cacimbas. Geomorfologicamente localiza-se na região do Baixo Curso do rio Paraíba do Sul
17
(Mapa 1). O recorte ocupa 62,30% do município de Campos dos Goytacazes e o restante no
município de São Francisco de Itabapoana.
Mapa 1 - Localização da área de estudo
Figura 1 - Perfil morfométrico da Bacia do Sistema Campelo
18
1.2 Justificativas
Para Christofoletti (1999, p. 45), a Geografia é o estudo da organização espacial e não
do espaço ou lugar. Desta maneira, pode-se dizer que a Geografia estuda, principalmente, as
alterações realizadas na natureza pelas sociedades humanas.
A região onde se localiza a Bacia do Sistema Campelo é composta por uma expressiva
rede hídrica. Mesmo assim, há poucos estudos geográficos que retratem sua dinâmica.
Atualmente, alguns pesquisadores, inclusive do Laboratório Sala Verde IFF Campos (Instituto
Federal Fluminense), vêm investigando e desenvolvendo estudos sobre os corpos hídricos da
região Norte Fluminense, mas é necessário aprofundar suas análises nas bacias hidrográficas
localizadas a norte do rio Paraíba do Sul.
Esse sistema apresenta uma quantidade expressiva de lagoas, localizadas na Planície
Fluviomarinha e nos Tabuleiros de Formação Barreira. Elas são objetos que tendem a
desaparecer no decorrer do tempo, podendo ser classificadas como elementos não
permanentes das paisagens. Quanto ao uso de suas águas, elas podem ser caracterizadas como
as de um manancial, pelo uso agrícola, para dessedentação de animais, pesca artesanal, lazer,
e abastecimento da população que reside nesta bacia, o que justifica esta pesquisa.
Considerada como uma região importante para produção de alimentos, abastecimento
de água, geração de trabalho e renda. Dessa forma, conclui-se que os corpos hídricos nela
encontrados, são objetos geográficos de grande relevância. Por isso, estudos sobre a variação
dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, entendendo as lagoas como indicadores
de qualidade ambiental, podem revelar aspectos que contribuam para melhorar a qualidade
ambiental da região como um todo.
1.3 Hipótese
Por se tratar da uma região composta por diversos corpos lênticos (sistema de água
parada) e lóticos (sistema de água corrente), as hipóteses formuladas foram as de que os
espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo estejam interligados; e que a lagoa do
Campelo seja um indicador do nível de água das outras lagoas do sistema. A hipótese foi
formulada a partir da contribuição do trabalho de Argento (1987, p. 468) quando diz que há
uma extraordinária diminuição do aporte de sedimentos que chegam a Baixada Campista nos
períodos úmidos para os secos, calculados na ordem de centenas de toneladas/ano. Ora, se a
metodologia utilizada pelo pesquisador se baseou no transporte de sedimentos carreados por
19
rios e canais, supõe-se que essa variação periódica na quantidade de água, altere as áreas dos
espelhos d’água das lagoas da região.
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
O objetivo central desta pesquisa consiste em compreender os processos envolvidos na
variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo, correlacionando-os em função
da precipitação atmosférica e integrando-os à paisagem da bacia, através do método da
Análise Ambiental e teorias geossistêmicas.
1.4.2 Objetivos específicos
1. Caracterizar os aspectos geoambientais do Sistema Campelo relacionando-os as
suas lagoas;
2. Analisar a variação dos espelhos d’água das lagoas entre os anos de 2006 e 2015;
3. Estabelecer uma correlação entre a precipitação atmosférica da região e a variação
dos espelhos d’água das 17 lagoas do Sistema Campelo.
99
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
E METODOLÓGICOS
21
2.1 Tipologia das fontes
A pesquisa foi desenvolvida a partir de consultas bibliográficas em livros, periódicos,
teses, dissertações, monografias, anais de congressos, dados ambientais disponibilizados por
diversas instituições públicas, informações coletadas em campo, imagens de satélites e no
Banco de Dados do projeto O novo mapa da Ecorregião de São Tomé: Lagoas, em
desenvolvimento no Instituto Federal Fluminense (IFF) desde setembro de 2011. Ressalta-se
que a pesquisa foi organizada segundo o que recomenda a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT, 2015).
As consultas se deram em obras específicas acerca do tema trabalhado,
principalmente, ao que se refere à teoria geossistêmica, desenvolvida na obra Modelagem de
Sistemas Ambientais, de autoria do professor Antonio Christofoletti. Pesquisas adicionais
foram realizadas via Rede Mundial de Computadores (Internet), por meio de sites
especializados e de órgãos oficiais.
O material cartográfico digital foi adquirido gratuitamente em sites do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), Instituto Estadual do Ambiente do estado Rio de Janeiro (INEA); e no Centro de
Informações e Dados de Campos (CIDAC).
As informações não organizadas pelos órgãos acima citados (por exemplo, disponível
na forma de ortofotos) foram vetorizadas com o auxílio do Software ArcGIS 10.1. Os
arquivos em formato Shapefile das lagoas do Sistema Campelo foram produzidos a partir das
Ortofotos do projeto RJ-25 produzidas pelo IBGE (2008) numa escala de 1:25.000; já para a
criação dos shapefiles dos seus espelhos d’água utilizou-se de imagens de satélites.
As imagens orbitais dos Satélites Landsat 5, 7 e 8, utilizadas neste trabalho, foram
adquiridas gratuitamente no site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Desta
forma, ao analisar os fenômenos por meio de imagens aéreas, foi possível lançar um olhar
abrangente sobre a paisagem da área estudada.
Os dados climatológicos foram obtidos no site da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ) e em entrevista realizada com o professor Hamilton Jorge de Azevedo,
responsável pelos dados pluviométricos da Estação Meteorológica do campus Leonel Miranda
da instituição, situada na Estada do Açúcar, km 5 – Bairro da Penha na cidade de Campos dos
Goytacazes. Nesta seleção, consideraram-se os intervalos de precipitação entre os anos de
1976 a 2015.
22
Por fim, o Software Excel 2013, contido no Pacote Office, foi utilizado para gerar
informações estatísticas acerca dos dados mencionados acima, o que possibilitou sua Análise
Exploratória. Vale destacar que todos os Softwares e dados selecionados foram de relevante
importância para o desenvolvimento da pesquisa.
2.2 Pressupostos teóricos
O desenvolvimento desta pesquisa ocorreu a partir da abordagem sistêmica. Esta linha
teórica foi adotada por ser considerada adequada para a realização do estudo integrado dos
aspectos envolvidos na variação dos espelhos d’água das dezessete lagoas do Sistema
Campelo. Para isso, buscou-se o enfoque geomorfológico no estudo de suas paisagens.
A Geomorfologia, enquanto ciência estuda as formas de relevo por meio de suas
expressões no espaço geográfico: as diferentes paisagens. Este objeto de estudo faz com que
os geomorfólogos sejam capazes entender os processos de construção e modificação do relevo
em diferentes escalas. Inicialmente, admitia-se que o relevo tivesse origem somente nas forças
endógenas ou exógenas, mas atualmente, também se considera a participação biológica e da
sociedade humana, pela capacidade de interferir, controlar e destruir as formas de relevo. Na
verdade, os componentes do ambiente agem de forma interligada na construção de paisagens,
onde as características geológicas, climáticas, pedológicas, hidrológicas, biológicas,
topográficas e altimétricas são aspectos importantes a se investigar para entender a dinâmica
dos processos que modelam o relevo (MARQUES, 2009, p. 25).
Para a realização deste trabalho, foram utilizadas concepções elaboradas ao longo do
desenvolvimento da disciplina Geomorfologia, onde uma pequena revisão histórica e
epistemológica os pretende resgatar. A partir da História Contemporânea se firmaram as
teorias que estão na base do conhecimento geomorfológico atual. Pode-se dizer que as
primeiras foram organizadas por James Hutton (1726-1797) e seguidores, ao discutirem o
Princípio do Atualismo, que propõem “o presente como base para se conhecer o passado”.
Mas foi William Morris Davis (1850-1934), com a teoria do Ciclo Geográfico, que se teve a
primeira concepção coerente de gênese e sequência evolutiva das formas de relevo. Depois
deles, os trabalhos de Emmanuel de Martonne (1893-1955): com estudos de Geomorfologia
Climática e Henri Baulig (1877-1962): com as implicações da variação do nível do mar na
estruturação do relevo merecem destaque. Além desses, a teoria do Equilíbrio Dinâmico de
Grove Karl Gilbert (1843-1918), contribuiu para o estabelecimento das relações entre os
processos e as resistências dos materiais na formação do relevo. Mais recentemente, podem-se
23
citar os trabalhos na perspectiva climática de Andrew Chorlley (1886-1968) e Jean Tricart
(1920-2003). No Brasil, Antonio Christofoletti (1936-1999): por incorporar a Teoria Geral
dos Sistemas aos estudos geomorfológicos e Alberto Ribeiro Lamego (1896-1985): pelos
estudos sistemáticos sobre as lagoas do estado do Rio de Janeiro, merecem destaque (op. cit.,
p. 32). Estes trabalhos foram importantes para interpretação da evolução das formas de relevo,
utilizados nesta pesquisa.
Por último, destaca-se a obra de Aziz Nacib Ab'Sáber (1924-2012), que ganhou
notoriedade nacional e internacional por seus estudos no Brasil sob a óptica dos processos
climáticos intertropicais na formação de relevos e sua compartimentação, utilizando técnicas
modernas, como as de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), divulgando a ciência
geomorfologia de forma coloquial e a relacionando politicamente com os temas da
modernidade, como os de Impactos Ambientais e o Aquecimento Global (op. cit., p. 40).
No século XX, com o desenvolvimento de novas técnicas de análise científica, como a
Teoria do Caos Determinístico1, o Efeito Borboleta2 e as técnicas de Geometria Fractal3,
proporcionaram quebras de paradigmas das pesquisas científicas que eram baseadas em
axiomas inquestionáveis, como a geometria Euclidiana, o mecanicismo Newtoniano etc.
Neste contexto, surge o “pensamento sistêmico dinâmico de base holística” com a pretensão
de superar teorias reducionistas lineares, pois nem sempre as respostas a fenômenos da
natureza, assim como os socioeconômicos, se explicariam sem considerar sua diversidade de
interação e grau de liberdade no comportamento de seus elementos constituintes
(CHRISTOFOLETTI, 2012, p. 89).
Aplicada à Geografia, a Teoria Sistêmica não estudaria o espaço e sim as organizações
espaciais, como sistema funcional e estruturado, de abordagem holística que concebe o
mundo integrado em que “o todo” é mais que a soma das suas partes, ou seja, é maior do que
se cada uma fosse somada isoladamente. Por outro lado, permite analises das partes isoladas,
desde que respeitado seu nível hierárquico de relacionamento (op. cit., p. 92).
1
Prevê os desdobramentos no tempo de fenômenos em Sistemas Complexos (com muitas variáveis e interações),
desde que se conheçam as causas iniciais é possível formular uma equação com poucas variáveis e generalizar
seu comportamento. Por exemplo, mudanças no regime de precipitação acarreta alteração no balanço hídrico,
quebra de safra agrícola, êxodo rural-urbano etc. É a oposição de Estocástico que significa aleatório.
2
Faz parte da Teoria do Caos, propondo que Sistemas Dinâmicos evoluem no tempo, indicando que há
dependência estreita entre os sistemas, seus elementos e atributos; e entre suas condições finais em relação às
iniciais.
3
Descreve a rugosidade do mundo, sua energia, mudanças e transformações dinâmicas, passando a representar
melhor a complexidade da natureza e das relações tradicionais da Geometria Euclidiana, composta por linhas,
planos, círculos e outras formas “perfeitas”, pois montanhas, rios e lagoas não seriam descritas por ela.
24
Nos dias atuais, a Teoria Geral dos Sistemas tem sido considerada como um
instrumento de ação da Geografia Física, que desde os anos de 1950 vem utilizando a visão
sistêmica em pesquisas voltadas para geomorfologia, hidrologia e climatologia. A sua
aplicação se iniciou nas primeiras décadas do século XX nos Estados Unidos, pari passu com
o avanço da cibernética (SALES, 2004, p. 2). Inicialmente enunciada e defendida por Ludwig
Von Bertalanffy em 1947, ela aborda de modo interdisciplinar a organização de fenômenos
abstratos e complexos, independente de sua formação, ordem de grandeza ou entrosamento.
Historicamente, na obra intitulada Gestalten Físicas de Kohler (1924), ela já havia sido
referida como teoria, mas limitava-se somente a tratar de problemas relacionados à física, e
não para as ciências forma geral (BERTALANFFY, 2015, p. 25).
A Teoria Geral dos Sistemas se identifica com a cibernética e a Teoria do Controle, ao
utilizar conceitos fundamentados na informação e retroação. Outra ciência que se apoia nessa
teoria é a Biologia, por empregar o modelo para descrever a estrutura dos organismos por
meio de diagramas e fluxogramas. Desta forma, pode-se dizer que a proposta geral dessa
teoria é a de que os fenômenos sejam organizados como sistemas, baseando-se na troca de
matéria e energia, em busca do entendimento da sua natureza e por meio das inter-relações
entre seus elementos (op. cit., p. 43).
Introduzido na Geomorfologia por Chorley em 1962, o conceito de sistema foi por ele
brevemente definido como:
[...] uma totalidade que é criada pela integração de um conjunto estruturado de
partes componentes, cujas inter-relações estruturais e funcionais criam uma inteireza
que não se encontra implicada por aquelas partes componente quando desagregadas
(CHORLEY, 1962 apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 5).
Ao conceituar fenômenos sistêmicos, ele nos conta que haverá dificuldades para
identificar com clareza a extensão que abrange o sistema pesquisado, pois são compostos por
vários elementos, atributos e relações estabelecidas entre eles. Além disso, ao analisar e,
posteriormente, modelar o ambiente, deve-se ter o discernimento para distinguir a
multiplicidade dos fenômenos que serão apresentados. Por isso, é necessário estabelecer uma
ação mental que irá abstrair as imagens da realidade que a envolve (op. cit., p. 5).
Com o intuito de reduzir a subjetividade que envolve estas decisões, Campbell (1958
apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 5) estabeleceu algumas normas para estudar áreas,
especificando que o pesquisador deve observar os seguintes aspectos:
25
a) a proximidade espacial;
b) a similaridade;
c) o objetivo comum;
d) a padronagem distinta ou reconhecível das unidades.
O autor ressalta que estas regras não necessitam serem todas seguidas rigorosamente e,
que ao serem desobedecidas, não acarretará prejuízos para o entendimento do funcionamento
do sistema. Por exemplo, nem sempre os elementos estarão próximos uns dos outros ou serão
de rápida classificação.
Ele enfatiza, ainda, que os sistemas podem ser classificados por um número variado de
critérios e que para realizar uma análise do ambiente, deve-se observar o caráter e a
integração dos seus elementos. Assim, propõe as seguintes classes de organização funcional:
a) sistemas isolados - são aqueles que, dada as condições iniciais, não sofrem mais
nenhuma perda nem recebem energia ou matéria do ambiente que os circundam, assim,
identificando-se a quantidade inicial de energia e as características da matéria que o compõe,
torna-se possível calcular sua evolução e o tempo que transcorrerá até o seu final;
b) sistemas não isolados - se caracterizam por manter relações com os demais sistemas
do universo no qual funcionam. Estes últimos são subdivididos em:
- fechados - quando há permuta de energia (recebimento e perda), mas não de
matéria;
- abertos – quando ocorrem constantes trocas de energia e matéria, tanto
recebendo quanto perdendo.
Quanto à classificação estrutural dos sistemas, Chorley e Kennedy (1971 apud
CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 6) distinguiram e definiram alguns tipos, sendo eles
identificados como: morfológicos; em sequência ou encadeantes (considerando a entrada e
saída – caixas branca, cinza e preta); processos-respostas; controlados (simples ou
complexos, mas desorganizados) e; complexos e organizados. Para o desenvolvimento da
pesquisa, considerou-se que o sistema estrutural morfológico, definido como “aqueles
compostos somente pela associação das propriedades físicas dos sistemas e de elementos
componentes, ligados com os aspectos geométricos e de composição, constituindo os sistemas
menos complexos das estruturas naturais”, como aquele mais adequado para a análise
proposta, pois com ele é possível correlacionar aspectos dos sistemas morfológico, climático e
lagunar da área pesquisada.
Atualmente está em voga estudar o espaço geográfico de forma integrada. Na busca de
um enfoque holístico sobre o ambiente natural, diversos autores (Bertrand, 1968; Sotchava,
26
1977 - 1978, Christofoletti, 1999, entre outros), dedicaram-se a discutir a teoria denominada
como Geossistema para classificar a natureza das formas espaciais e sua organização em
termos hierárquicos. Na Geografia a ideia de Geossistema foi inserida por Sotchava em 1960,
quando buscou destacar e sistematizar o meio natural como importante requisito para
solucionar problemas de cunho geográfico, tais como: planejamento e gestão do espaço e a
elaboração de mapas síntese e cartas sistemáticas, ou mesmo utilizando-se das palavras do
autor “[...] mapas panorâmicos do Geossistema russo-asiático” (SOTCHAVA, 1978, p. 2).
A Teoria do Geossistema foi formulada com o intuito de aplicar a Teoria Geral dos
Sistemas em pesquisas com enfoque geográfico. Ao defini-la, ele irá dizer que:
É uma classe particular de sistemas dirigidos, sendo o espaço terrestre de todas as
dimensões, onde os componentes individuais da natureza se encontram numa
relação sistêmica uns com os outros e, com uma determinada integridade, interatuam
com a esfera cósmica e com a sociedade humana (SOTCHAVA, 1978).
Ressalta-se que o Geossistema é uma dimensão do espaço terrestre onde os mais diversos
componentes naturais se encontram em conexões sistêmicas uns com os outros, e que através dele
os fenômenos naturais são caracterizados. Desta forma, até mesmos os fatores econômicos e
sociais influenciam suas estruturas, por isso, devem ser levados em consideração, como
mostra o modelo, da Figura 2, elaborado por (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 41).
Figura 2 - Estruturação do geossistema e do sistema socioeconômico
Fonte: Christofoletti, 1999.
Um exemplo de uso da Teoria de Geossistema é o trabalho do professor Carlos
Augusto Frederico Monteiro, que na década de 1970 buscou para a Geografia correlações
entre os parâmetros climatológicos, de base meteorológica de valores médios, com aspectos
sociais e dinâmicos. Para isso, foi buscar inspiração nos trabalhos dos geógrafos Max Sorre e
Jean Tricart. Ele observou que pela classificação de Köppen, os valores médios e o tipo
27
climático para as cidades de Belém do Pará (PA) e Santos (SP) estariam na categoria Af4,
apesar da primeira nunca receber uma Frente Polar Sul e a segunda recebe frequentemente.
Sistematizando suas diferenças, foi buscar novos paradigmas geográficos para diferenciá-los.
Desta forma, trabalhando com a visão Geossistêmica, formulou que para analisar a sucessão
habitual climática numa área é preciso procurar seu ritmo climático, que é variado, pois o
fluido atmosférico (gasoso) é extremamente dinâmico, mas suas consequências ambientais
são periódicas, modificam paisagens e a vida social, podendo provocar desde secas até
inundações (MONTEIRO, 2006, p. 101).
Esta teoria é bastante utilizada para estudar fenômenos temporo-espaciais periódicos
em escalas curtas e médias, como no trabalho de Galvani e Luchiari (2012, p. 19), que
propõem Critérios para classificação de anos com regime pluviométrico normal, seco e
úmido.
Além disso, Moura (2009, p. 336) e Tassinari (2003, p. 101), para explicarem a
regularidade e frequência das oscilações climáticas no período Quaternário e seus impactos
nas paisagens, concordam que é mais adequado entendê-las através de duas teorias:
1. Ciclos de Milankovitch (1941), que explicaria as grandes variações na temperatura
terrestre, as relacionando a modificações de três ciclos de chegada de energia solar a
Terra: mudanças na excentricidade da órbita; na obliquidade e precessão do eixo de
rotação do planeta (ver Figura 3);
Figura 3 - Ciclos de Milankovitch
Fonte: Página Greenprojeto5.
4
A classificação de Köppen é relativamente simples e popular, pois se baseia em cinco grupos climáticos
principais com base na temperatura do ar, o que define bem regiões de vegetação. Neste caso, o “A” significa
que o mês mais frio do ano tem temperatura média superior a 18ᵒ C e “f” que não há estação seca durante o ano
(AYOADE, 2002, p. 231).
5
Disponível em: <https://sites.google.com/site/greenprojectcom/Pgina-inicial/alteracoes-climaticas-antropogeni
cas>. Acesso em jan.2016.
28
2. Deriva Continental (1962), de Harry Hess e colaboradores quando propõem que
processos originados pelo alto fluxo calorífico emanado do interior do planeta (correntes
de convecção) movimentariam lateralmente o fundo oceânico e as placas da litosfera
provocando a Deriva Continental (ver Figura 4).
Figura 4 - Modelo da Deriva Continental
Fonte: Página do Mundo Educação6.
Esses fenômenos consorciados provocariam períodos de Glaciação e Interglaciação no
planeta, com significativas mudanças ambientais e espaciais das suas formas topográficogeométricas, através das alterações nos processos de erosão, transporte e deposição fluvial,
fluviolacustre e oceânicas.
Contudo, extensões territoriais menores, como a Bacia do Sistema Campelo analisada
a luz da teoria do Geossistema, seria o resultado da combinação de diversos fatores
ambientais e escalas de análise, tais como: declividade, clima, litologia, hidrologia etc. Como
forma de identificar e classificá-las, Bertrand (1968) as define utilizando-se de seis níveis
temporo-espaciais: zona, domínio, região, geossistema, geofáceis e geótopo, como se vê no
Quadro 1.
6
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/deriva-continental.htm>. Acesso em jan.
2016.
29
Quadro 1 - Proposta de classificação da paisagem em níveis temporo-espaciais e a
relação de grandeza das unidades de paisagem
G – Ordem de Grandeza Temporo-espacial.
Fonte: Bertrand, 1968, p. 145.
Sendo assim, pode-se considerar a paisagem como uma entidade de análise, composta
de elementos integrados temporo-espacialmente e constituintes de uma dinâmica comum –
um Sistema Geral de Evolução da Paisagem. Para isso, é preciso considerar três conjuntos
diferentes no interior de cada nível de análise (Grandeza):
1. Sistema geomorfogenético – o relevo tem caráter dinâmico e bioclimático;
2. Cobertura vegetal – é determinada por uma cadeia de reações ecofisiológicas 7;
3. Uso antrópico – ativa e acelera processos que modificam os geossistemas.
Desta forma, a interação homem-natureza volta a ser um assunto abordado no âmbito
da geografia. No entanto, para adquirir um aspecto geográfico a relação deve ser construída
sob uma combinação entre paisagem, território e espaço. E ao se trabalhar com representação
espacial dos fenômenos, o ponto de partida deve ser a categoria “paisagem”. Christofoletti
(1999, p. 41) diz que é conceito que descreve a maneira no qual o espaço se materializa. Por
isso, recomenda que ao iniciar uma análise espacial acerca de um fenômeno, antes de tudo
deve-se descrevê-lo na paisagem, para depois territorializá-lo, e assim: contribuir para
compreender o mundo espacialmente.
7
O conceito de ecofisiologia envolve o conhecimento dos mecanismos de competição entre plantas individuais
dentro de uma comunidade e suas consequências sobre a dinâmica estrutural; os mecanismos morfogenéticos
adaptativos das plantas à desfolhação e suas consequências sobre a morfologia e estrutura do ambiente; e as
interações entre esses dois mecanismos para o entendimento da dinâmica da vegetação em comunidade (SILVA
e NASCIMENTO JÚNIOR, 2007, p. 6).
30
Na intenção de promover o melhor entendimento sobre as principais categorias de
análise em Geografia, Moreira (2007, p. 116) as organizou num quadro correlacionando-as
com os Princípios Lógicos Geográficos, como se vê abaixo.
Quadro 2 - Categorias e Princípios Lógicos Geográficos
Categorias
Princípios Lógicos Geográficos (Atributos das Categorias)
Espaço
Localização, Distribuição, Distância, Extensão, Posição, Escala
Território
Região, Lugar, Rede
Paisagem
Arranjo, Configuração
Fonte: Adaptado de Moreira (2007).
Os geógrafos costumam utilizar métodos para análises espaciais baseados em
mapeamentos de distribuição e densidades de determinadas características isoladas e
agregadas da paisagem; delimitando e comparando regiões; executando mapeamentos do
arranjo e a organização espacial de características relacionadas ou conectadas; mapeando
fluxos; e fazendo zoneamentos diversos. Assim, busca-se revelar padrões ordenados e
regulares das características espaciais. Se materialidade do espaço é a paisagem, que na
perspectiva de apropriação cultural pelas sociedades integra uma comunidade humana,
abrangendo certas preferências e potenciais culturais a um conjunto de circunstâncias
naturais, podem-se identificar padrões naturais no espaço, como colinas e vales; rios e lagos;
o clima e o litoral. Mas também aqueles que sofreram influência humana, como os rios
represados, por meio de obras de engenharia; entulhos de minas; e atmosferas enfumaçadas.
Contudo, deve-se observar que é na cobertura vegetal que se percebem as maiores alterações
humanas na paisagem, quando áreas de cobertura “selvagem” foram substituídas por espaços
abertos ao cultivo e criação de animais (WAGNER e MIKESELL, 2003, p. 35).
Por isso, muitas questões podem ser levantadas utilizando-se a observação das
paisagens, tais como: o que é imposto pelo homem e o que foi “dado” pela natureza? O que é
conjuntural e o que é estrutural? O que é acidental e o que é intencional? Enfim, processos
que marcam as mudanças geográficas na paisagem (op. cit., p. 37).
O conceito de região, Princípio Lógico Geográfico que dá base para o recorte espacial
aqui proposto, vem sendo discutido epistemologicamente há bastante tempo. Os geógrafos
Bernhardus Varenius (em meados do século XVIII), Immanuel Kant (no final do século
XVIII) e Carl Ritter (na primeira metade do século XIX) já se debruçavam sobre sua
sistematização. Contudo, é nos Estados Unidos da América na década de 1940 que o conceito
ganha notoriedade nos estudos de áreas. Isto se deve ao geógrafo estadunidense Hartshorne,
31
que através da linha teórica Geografia Regional, propôs a região como sendo uma área que
apresenta individualidades, resultado da integração, de natureza única, entre fenômenos
espaciais heterogêneos.
Assim, o instrumento de análise da proposta do pesquisador não seria uma região
previamente identificada, mas uma área de integração construída no decorrer do processo de
investigação, ou seja, estabelecida como resultado do trabalho (SERPA, 2001, p. 4). Um bom
exemplo da regionalização enquanto método é o trabalho de Souza e Marçal (2015), quando
segmentam a bacia do rio Macaé em quatro sub-regiões, ou trechos fluviais, em função de
suas características hidrossedimentológicas.
Para a Geografia Regional, entendida como a “ciência” da diferenciação de áreas, não
deve ser vista apenas a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da conexão
dos fenômenos heterogêneos numa dada porção da superfície terrestre. Esta linha teórica
enfoca o estudo de áreas não apenas construindo uma afinidade causal ou a paisagem
regional, mas a sua distinção seria um dos objetos da Geografia (CORREA, 2000, p. 14).
Sobre isso, Milton Santos (1994, p. 46-47) destaca que ao estudar uma região é
necessário se aprofundar num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas etc.
Observando os seus mais distintos níveis de interação e condição. Ele diz que: “[...] a região
torna-se uma importante categoria de análise, importante para que possa captar a maneira
como uma mesma forma de produzir se realiza em pontos específicos do planeta ou dentro de
um país, associando a nova dinâmica às condições preexistentes”, ou seja, fica demonstrado
que existem várias possibilidades de se consumir o espaço.
Guerra e Guerra (2008, p. 77) discutem a possibilidade de regionalização de áreas por
meio do recorte espacial físico de uma bacia hidrográfica. Eles a definem como “[...] um
conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes até uma foz comum”. A ideia
de bacia hidrográfica está relacionada à existência de nascentes, divisores de água, cursos
d’água principais, afluentes e subafluentes. Assim, bacias de diferentes extensões articular-seiam a partir de seus divisores, direcionando seu fluxo e organizando-os hierarquicamente,
sendo a água escoada dos pontos mais elevados para os mais baixos.
De acordo com Buache (1752 apud GOMES, 2012, p. 55), as bacias hidrográficas
podem ser vistas como uma maneira natural para demarcar uma região, e Cunha (2009, p.
223), diz que, quando uma bacia de drenagem possui seu escoamento direcionado para uma
lagoa, ela pode ser classificada como endorréica, ou seja, drena matéria e energia para
depressões continentais e não para o mar. Além disso, propõe técnicas descritivas e
quantitativas para diferenciar uma das outras.
32
Brigante e Espíndola (2003, p. 1); Botelho e Silva (2012, p. 151) entre outros, a
definem como área delimitada a partir de divisores de água, drenadas por canais e ravinas
para um curso d’água principal até uma saída comum. Acrescentam que o recorte espacial
corresponde a uma unidade natural da superfície da Terra; com limites criados pelo próprio
escoamento superficial e subsuperficial ao longo do tempo; que suas águas são recursos
naturais; tem origem nas rochas; drenam o lençol freático; ultrapassam topografias; interagem
com a vegetação; e movimentam o ciclo climático, enquanto resultado da interação de vários
elementos espacializáveis.
Botelho e Silva (2012, p. 153) analisaram os vários aspectos que contribuem para uma
discussão sobre a qualidade ambiental de bacias hidrográficas. Sugerem que elas devem ser
entendidas como células básicas de reflexão “[...] permitindo conhecer e avaliar os diversos
componentes, processos e interações que nelas ocorrem”. Para isso, admitem a importância da
visão sistêmica e integrada no seu estudo. Para os autores, ao identificar os elementos que
compõem o sistema hidrológico (solo, água, ar, vegetação etc.) e os processos aos quais estão
relacionados (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação e contaminação) é
possível avaliar o equilíbrio do sistema/bacia, ou até mesmo dimensionar sua qualidade
ambiental.
Segundo Horberry o conceito de qualidade ambiental “[...] é o estado do ar, da água,
do solo, e dos ecossistemas, em relação aos efeitos da ação humana”. No entanto, é preciso
compreender que a qualidade do ambiente é um reflexo da ação humana sobre o espaço,
considerando os atributos do uso da terra. Vale lembrar que a qualidade do ambiente deve ser
considerada não só como o somatório das qualidades de cada componente do meio, mas sim,
como condição necessária ligada à qualidade de vida das populações (HORBERRY, 1984
apud BOTELHO, SILVA, 2012, p. 153).
Botelho e Silva mostram, ainda, que os estudos sobre erosão, manejo e conservação
do solo, da água e o planejamento ambiental, são temas utilizados no recorte espacial de uma
bacia hidrográfica como unidade de análise. Para eles, as bacias podem conter áreas
florestadas, rurais e urbanas, e relatam que “A bacia hidrográfica em ambientes florestados,
ou mesmo com atividades agrárias, apresentam funcionamento que muito difere das áreas
urbanas” (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 155).
Quando tratam de sistema hídrico, os autores descrevem que: “O ciclo hidrológico no
ambiente rural ainda é próximo, ou mesmo semelhante ao das áreas florestadas, não havendo
grande redução na entrada de água no solo”. Contudo, são diferentes nos ambientes urbanos,
onde a impermeabilização da superfície dificulta que água infiltre no solo. No ambiente de
33
pastagem a infiltração de água derivada da chuva é favorecida, mas pode agravar as perdas de
solo e água através do escoamento superficial. Nas áreas plantadas com cana-de-açúcar
podem apresentar problemas maiores, pois parte do solo fica exposto às gotas de chuva,
devido à ausência da cobertura vegetal, o que pode causar problemas como voçorocas e
erosão laminar (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 165).
Vale lembrar que, para a análise do comportamento de uma bacia hidrográfica, a
infiltração no solo é de grande importância, pois propicia a permanência de água no sistema,
alimentando o lençol freático e permitindo que o ciclo hidrológico seja eficiente. Nos espaços
urbanos, os autores ressaltam que:
A água da chuva, impedida de infiltrar-se, escoa sobre a superfície pavimentada,
seguindo diretamente para os canais fluviais, alimentando-os rapidamente e podendo
causar [...] enchentes de proporções alarmantes (BOTELHO e SILVA, 2012, p. 173).
Neste caso, pode-se entender que à medida que aumenta a pavimentação, acentua-se a
ocorrência dos casos de erosão urbana, enchentes e inundações.
Para que o ambiente esteja equilibrado os autores propõem que ações mitigadoras e
medidas técnicas preventivas sejam adotadas e incorporadas ao manejo do uso da terra,
considerando os seguintes aspectos: “O aumento da cobertura vegetal, melhoria da
estruturação do solo, aumento da infiltração da água, diminuição do escoamento superficial e
dos processos erosivos e por consequência, melhor produtividade da terra”. Já nas áreas
urbanas, devido à falta de planejamento, as medidas tomadas normalmente são “curativas”,
sobressaindo às preventivas, pois são tomadas apenas após os acontecimentos catastróficos
(BOTELHO e SILVA, 2012, p. 180).
Portanto, o conceito (recorte espacial) de bacia hidrográfica mostra-se compatível para
a realização de uma análise integrada da região de estudo, que possui vários corpos lagunares,
rios, canais artificiais, brejos e áreas que periodicamente se alagam, além de se mostrar
compatível com a linha teórica empregada nesta pesquisa.
Sobre o conceito de lagoas, destaca-se a obra Lagos: origem, classificação e
distribuição geográfica da linminóloga Mariuza Trindade, onde aborda a origem desses
corpos lênticos mundo a fora, especificando suas características naturais e de usos. Ao utilizar
uma escala ampla, ela emprega os termos lagos e lagoas para designar as depressões do
relevo cercadas por terras e composta por água doce, e lagunas para o caso das lagoas
costeiras que pelo contato com o mar tem águas doce ou salobra. Seu trabalho sobre as lagoas
é bastante complexo, pois esses objetos espaciais têm origens diversas, dependentes de
34
fenômenos geológicos, geomorfológicos ou antrópicos, como as represas artificiais.
Acrescenta que sua gênese ultrapassa o domínio do planeta Terra, como aquelas originadas a
partir da queda de meteoritos (TRINDADE, 1996, p. 28).
A autora, ao referir-se sobre o período de existência de corpos lênticos, relata que:
Todos os lagos/lagoas são transitórios no registro geológico, porque a natureza
variada das bacias, a topografia suave inteiramente envolta pelas áreas altas assegura
sua inevitável destruição. Assim, muitas bacias, têm frequentemente curta duração,
isto é, abrangendo a duração da vida humana, passando através de um reconhecível
ciclo de destruição, de lago para lagoa ou lago menor, para pântano ou brejo, com
vegetação aquática e gramínea, mas sem árvores, para pântanos, com árvores, em
seguida para terra firme ou seca (TRINDADE, 1996, p. 115).
Ainda considerando o aspecto temporo-espacial, Esteves (1998, p. 63) diz que esses
corpos hídricos não são elementos permanentes das paisagens, e que numa escala geológica
de análise, eles se caracterizam como fenômenos de curta duração, pois pelo seu caráter
lêntico acumulativo, recebe sedimentos das áreas subjacentes, tende a desaparecer no decorrer
do tempo por processos de colmatação biológicos e assoreamento físico natural ou acelerado
por ações antrópicas.
Já numa escala mais regional, Amador (1986, p. 1) refere-se ao Rio de Janeiro, como
um dos estados do Brasil que possuem os corpos lagunares mais expressivos, tanto em
quantidade, quanto em extensão. Ele classifica as lagoas da região de acordo com sua origem
idade, estágio de evolução, geometria, natureza da troca de água etc.
Para a análise e estruturação geográfica de corpos hídricos, enquanto objetos na
paisagem (objeto alvo), como as lagoas e suas bacias de contribuição, atualmente, utilizam-se
métodos e técnicas de Sensoriamento Remoto, associados à interpretação de imagens
produzidas por satélites e de outros dados espacializáveis, o que alimentam bancos de dados
geoespaciais em Sistemas Geográficos de Informação (SIG). Sobre isso, Lang e Blaschke
dizem que:
O desafio metodológico consiste na extração de informações relevantes a partir de
uma imensidão de informações genéricas, os dados brutos. Para isso, são necessários
procedimentos de redução da complexidade, ou seja, da regionalização. A análise de
imagens baseada em objetos está na interface do sensoriamento remoto e SIG. [...]
permite uma modelagem de classes-fim estruturalmente definidas. [...] Além disso,
definições de classes podem ser alteradas ou ajustadas, quando uma opinião de
especialista o exigir (LANG e BLASCHKE, 2009, p. 156).
Em Geografia pode considerar-se a paisagem como “uma olhada pela janela sobre um
contínuo temporo-espacial”, onde as estruturas espaciais são como manifestações em vários
35
setores de escalas. Dessa forma, mostra um comportamento de frequência constante. Isso
resulta em continuidades e descontinuidades, de modo que geram um número finito de
padrões e estruturas que estão ordenadas num sistema de ajustamento hierárquico ou numa
rede detectável de objetos integrados no espaço (CAPRA, 1996 apud LANG e BLASCHKE,
2009, p. 159).
Contudo, quando se utiliza de análises em diferentes escalas, recomenda-se a busca de
informações através das imagens de satélites, como é o caso deste trabalho, sendo necessário,
neste momento definir a ciência do Sensoriamento Remoto como aquela que visa à obtenção
de imagens da superfície terrestre por meio da detecção e a medição quantitativa das respostas
das interações da radiação eletromagnética com os materiais terrestres. Essas imagens podem
ser obtidas através de satélites, fotografias aéreas e por radar, o que permite a medida da
interação da radiação eletromagnética com a superfície dos objetos alvo (op. cit., p. 160).
Segundo o modelo físico ondulatório, as características das imagens são explicadas
tendo-se em conta a relação entre o tamanho da onda e o tamanho do objeto detectado. Esse
modo de interação é denominado de Macroscópica entre o objeto foco e a radiação
eletromagnética (REM) que incidente nele (MENESES, 2012, p. 4). Por isso, é importante
conhecer alguns parâmetros para obtenção e classificação de imagens, que são descritos
abaixo:
1. Resolução Espacial (ou tamanho do pixel) - é o local onde estão armazenados os
dados, já determinado na aquisição da imagem. Isso faz com que as análises
ambientais partam de pequenas áreas para que depois sejam generalizadas e
classificadas como atributos das paisagens. A resolução espacial é um parâmetro do
sensor, que determina o tamanho do menor objeto que pode ser identificado em uma
imagem. Por definição, um objeto foco somente pode ser detectado quando o seu
tamanho for no mínimo igual ao tamanho do elemento de resolução no terreno (pixel),
exemplos expostos na Figura 5 (op. cit., p. 25);
36
1
2
3
Figura 5 - Resolução espacial de uma imagem em Sensoriamento Remoto
1. Landsat - resolução espacial de 30m; 2. Spot - resolução espacial de 10m; 3.
Ikonos - resolução espacial de 1m. Fonte: Meneses, 2012.
2. Resolução Espectral – é a capacidade de obtenção simultânea de imagens em
múltiplas bandas espectrais, considerando que será maior a resolução espectral quanto
maior for o número de bandas que o satélite pode oferecer; situadas em diferentes
regiões espectrais; e com larguras estreitas de comprimentos de onda banda a banda. É
importante porque, materiais de diferentes composições, com diferentes constituições
de elementos químicos de átomos e moléculas, têm absorções e reflectâncias
diferentes, resultando em imagens de diferentes tons de cinza. Ela deve ser
determinada em função do objeto foco que se deseja identificar no terreno ou da
combinação de bandas que se pretende utilizar, ver Figura 6 (op. cit., p. 27);
Figura 6 - Espectros de reflectância
Fonte: Meneses, 2012.
3. Resolução Radiométrica – é a sensibilidade que os detectores dispõem de diferenciar
a intensidade de radiância na área de cada pixel unitário. Ela será maior quanto for à
capacidade do detector para medir as diferenças de intensidades dos níveis de
radiância dos objetos alvo. É definida em função da intensidade da radiação de entrada
no sensor, ou da resposta de saída dos detectores convertida eletronicamente em um
37
número digital discreto. Em termos práticos, a quantização do sinal é medida pelo
intervalo de número de valores digitais usados para expressar os valores de radiância
medidos pelo detector. É normalmente expressa em termos de números de dígitos
binários (bits). Quanto maior for à quantização, maior será a qualidade visual da
imagem (11, 8, 6, 4, 2 bits) como observado na Figura 7 (op. cit., p. 30);
1
2
Figura 7 - Identificação de elementos individuais na paisagem
1. Imagem IKONOS (11 bits) 2. Landsat (8bits)
Fonte: Meneses, 2012.
4. Resolução Temporal – Refere-se à frequência que o sensor revisita uma área e obtém
imagens periódicas ao longo de sua vida útil. Isso só é possível porque os satélites de
Sensoriamento Remoto executam uma órbita heliossíncrona, onde o plano de órbita é
sempre fixo e ortogonal ao sentido de rotação da Terra. Assim, o satélite passa sobre o
mesmo ponto observado na mesma hora (Figura 8). A resolução temporal é
fundamental para acompanhar a evolução que ocorre na superfície, principalmente
para alvos mais dinâmicos, como o ciclo fenológico de culturas, desmatamentos,
desastres ambientais, tendo forte impacto na monitoração ambiental (op. cit., p. 32).
Figura 8 - Padrão do recobrimento orbital em um dia pelo satélite Landsat
com resolução temporal de 16 dias
Fonte: Meneses, 2012.
38
2.3 Síntese dos pressupostos teóricos
Quadro 3 - Principais pressupostos teóricos utilizados no trabalho
Conceito
Síntese
Autores
Consultados
Sensoriamento
Remoto
Ciência que visa à obtenção de
informações geográficas através de
imagens de satélites, se utilizando das
interações físicas entre a radiação
eletromagnética e os objetos alvo.
Stefan Lang, Thomas
Blaschke e Paulo Roberto
Meneses
Geomorfologia
Disciplina que estuda as formas de relevo,
sua gênese e desenvolvimento.
Jorge Soares Marques
Equilíbrio
Dinâmico
Teoria Geral dos
Sistemas
Ritmo Climático
Atualismo
Geossistema
Bacia
Hidrográfica
Região
Paisagem
Princípios
Lógicos
Geográficos
Teoria que estabelece as relações entre
processos e as resistências dos materiais na
formação do relevo.
Teoria que relaciona fenômenos naturais
abstratos e complexos com sua formação e
entrosamento.
Teoria que relaciona os extremos
climáticos
às
suas
consequências
ambientais no espaço geográfico.
Grove Karl Gilbert
Ludwig Von Bertalanffy,
Andrew Chorlley e
Antonio Christofoletti
Carlos Augusto Frederico
Monteiro
Teoria que propõem o presente como base
para se conhecer o passado.
Teoria que relaciona de forma sistêmica o
meio natural aos processos antrópicos.
Organiza as paisagens em níveis de análise
em função da escala dos fenômenos.
Conceito de região formada por um
conjunto de terras drenadas desde um
divisor de águas, por um rio principal e
seus afluentes, até uma foz comum.
Conceito
de área que apresenta
individualidades, resultado da integração,
de natureza única, entre fenômenos
espaciais heterogêneos.
Conceito e entidade de análise geográfica,
composta de elementos integrados
temporo-espacialmente, constituindo uma
dinâmica comum entre eles.
As principais categorias de análise do
Espaço Geográfico são: localização,
distribuição, distância, extensão, posição e
escala.
James Hutton
Viktor Borisovich
Sotchava, Georges
Bertrand e Antonio
Christofoletti
Antônio José Teixeira
Guerra e Rosangela
Garrido Machado Botelho
Richard Hartshorne e
Roberto Lobato Corrêa
Georges Bertrand, Stefan
Lang e Thomas Blaschke
Fonte: Organizado pela autora a partir das fontes consultadas.
Rui Moreira
39
2.4 Método
O embasamento teórico-metodológico empregado para o desenvolvimento desta
pesquisa pautou-se no método da Análise Ambiental, entendendo que ele busca a totalidade
do ambiente, principalmente, quando são observadas as inter-relações entre os elementos
dispostos na paisagem através da articulação de escalas.
Esta metodologia parte da certeza de que fenômenos espaciais (entidade ou evento)
têm localização, extensão, evolução e correlação com outros acontecimentos. Desta forma,
eles podem ser logicamente estudados. De acordo com esta síntese é possível identificar e
classificar fenômenos espaciais com base em suas particularidades, diferenças, semelhanças e
afinidades, o que permite sua categorização, ou seja, analisar de forma mais complexa os
fenômenos por meio de seus atributos físicos, relações funcionais, espaciais e temporais
(MIRO, 2009, p. 64).
O método de Análise Ambiental, aqui proposto, utiliza um conjunto de técnicas e
procedimentos que devem ser divididos em etapas ordenadas para obter informações,
formular hipóteses e responder questões propostas numa pesquisa de cunho ambiental. Para
Xavier da Silva (2009, p. 406), o espaço geográfico é contínuo e complexo. Sua representação
e generalização podem ser estruturadas na forma de objetos, apresentados nos mapas
geometricamente, em forma de linhas, pontos ou polígonos. A partir dessa estrutura
primordial, as análises e modelagens espaciais entre entidades podem ser identificadas através
de seus atributos contidos num Banco de Dados alfanuméricos geocodificados. Essas
operações permitem que dados contendo definições de áreas, proximidade entre os fenômenos
e suas conexões, sejam organizados em Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para
serem tratados analiticamente.
Desta maneira, adotar uma estrutura orientada para objetos identificáveis na paisagem
significa considerá-los como unidades geométricas mensuráveis, que podem ser incluídas
num SIG, para serem executados levantamentos de suas correlações espaciais e taxonômicas.
A gestão de base de dados orientada a objetos requer um conjunto de procedimentos de
armazenamento, recuperação, atualização e análise dos atributos dessas entidades (op. cit., p.
407).
O estudo integrado e analítico de transformações, distribuição, dinâmicas e conexões
de elementos componentes de uma área, que podem ser territórios, regiões ou lugares, se
iniciam por meio de uma obtenção de dados. Esta etapa da pesquisa pode ser denominada
como pré-processamento. Para que esses dados sejam validados, eles devem estar
40
geocodificados, podendo ser obtidos de forma direta, através de inspeção específica em
trabalhos de campo; indiretas, por meio de imagens de satélites no qual os dados serão
interpolados; e intermediários, que devem obtidos em instituições reconhecidas ou em
trabalhos correlatos (op. cit., p. 52).
Os dados ambientais, considerados como elementos primários de qualquer Análise
Ambiental, não são estáticos, ou seja, são pontos (pixels) que podem ser coletados em
diferentes escalas. Sobre isso, Xavier da Silva (1992, p. 51) destaca que esta variabilidade
impõe uma homogeneização dos dados a serem armazenados em ambientes SIG, para que
seja possível realizar análises e sínteses posteriormente.
Ao referir-se a escalas taxonômicas voltadas ao mapeamento geomorfológico, Argento
(2009, p. 367-383) ressalta que elas devem estar aferidas ao agrupamento do modelado que
permita identificar o objeto representado. Ele sugere três níveis de escalas cartográficas que
irão resultar em manchas poligonais nos mapas sínteses. No primeiro nível são identificados,
por exemplo, grandes depósitos sedimentares, cadeias cristalinas etc. (escalas pequenas); no
segundo nível aparecem feições com maiores detalhamentos, como
marcas de
paleodrenagens, colmatagens lacustres, áreas inundadas etc. (escalas médias); no terceiro
nível, compatível com as microescalas, oferece subsídios ao planejamento ambiental em
escala local. Com este, são descritos nas legendas dos mapas: meandros abandonados, nível
de base local, depósitos torrenciais, aterros de origens antrópica etc. (escalas grandes).
Outro problema fundamental referente à captura e manipulação de dados
geocodificados diz respeito à resolução das imagens selecionadas. De modo que seja possível
dimensionar, identificar ou envolver objetos alvo em imagens de satélites, SRTM e
fotografias aéreas. Por isso, imagens com diferentes resoluções levam a incompatibilidades de
dimensionamento de áreas, texturas, tonalidades, formas, tamanhos e padrões (JENSEN,
2009, p. 50).
Um aspecto importante para compreender a diversidade de dados ambientais é
observar como eles se comportam em relação às escalas de mensuração a que estão aferidos.
Isto é função dos instrumentos e procedimentos utilizados para obtê-los. Existem dois tipos de
medidas ou nível de mensuração:
1. Qualitativas, que se dividem em: a) nominais: em que os valores das variáveis
são nomes ou rótulos, não havendo relação de intensidade entre eles, por
exemplo, filiação partidária e tipos de solo; b) ordinal: na qual os valores das
variáveis são nomes ou rótulos relacionados entre si, mas de maneira que eles
41
possam ser colocados em ordem ou direção, segundo alguma categoria de
análise, por exemplo, pesquisas de opinião ou escala de dureza dos minerais;
2. Quantitativas em que as variáveis medidas são expressas por uma quantidade,
através de números. Elas se dividem em: c) intervalar: na qual a mensuração se
dá através de números discretos (inteiros) ou o intervalo entre eles é fixo (ou
igual), por exemplo, latitude e longitude e o número de alunos numa sala de
aula; d) razão: onde os valores atribuídos as variáveis apresentam-se como
contínuos (Reais), ou seja, admitem seu fracionamento, por exemplo, medidas
de comprimento, temperatura ou quantidade da população de uma cidade
(XAVIER DA SILVA, 1992, p. 51).
Desta forma, ao realizar operações com as variáveis obtidas na pesquisa, faz-se
necessário, conhecer em que escalas de mensuração elas se apresentam, ou criar critérios para
sua ordenação, para realizar uma classificação ambiental.
Por fim, a apreensão da escala geográfica deve ser considerada como parte de uma
reflexão para analisar o ambiente. Ela envolve um “processo de esquecimento coerente” do
que não é possível se observar na paisagem, ou seja, é uma estratégia de apreensão da
realidade pela impossibilidade de compreendê-la como um todo. Desse modo, a observação
do fenômeno é o resultado de uma escala escolhida para melhor observá-lo, dimensioná-lo e
mensurá-lo. Além disso, a articulação de escalas é uma apropriação específica do pensamento
geográfico, onde na síntese devem-se fazer considerações em escalas maiores e menores,
daquela que foi trabalhada para integrar os fenômenos espaciais pesquisados (CASTRO,
2012, p. 127).
O Método de Análise Ambiental é entendido nesta pesquisa como um conjunto de
procedimentos lógicos que possibilitam integrar dados ambientais em diferentes escalas de
análise, a partir de dados georreferenciados, elevando-os a um nível de síntese de informações
ou da representação de fenômenos no espaço geográfico.
2.5 Procedimentos
As lagoas localizadas no Baixo Curso e a norte do rio Paraíba do Sul foram definidas
como o principal objeto de estudo desta pesquisa. Para que o recorte espacial fosse
determinado, inicialmente foram delimitados os limites do sistema, dando origem à área
central trabalhada. Os procedimentos de delimitação foram executados através da caixa de
ferramenta ArcHydro, no ambiente ArcMap do Software ArcGIS 10.1.
42
2.5.1 Delimitação do recorte espacial: Bacia do Sistema Campelo
Para desenvolver esta etapa do trabalho, alguns procedimentos foram adotados. Partiuse da aquisição e configuração (Sistema de Coordenadas Planas, Datum e Fuso), do Shuttle
Radar Topography Mission (SRTM), disponibilizado gratuitamente no site do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2011). O processo de delimitação iniciou-se ao
acessar o menu Terrian Preprocessing, no ArcHydro e em seguida executar os comandos,
conforme descritos na Figura 9, para que a bacia fosse delimitada. Após cumprir todas as
etapas estabelecidas na figura abaixo, o processo foi finalizado e a Bacia Hidrográfica do
Sistema Campelo delimitada, como se vê na Figura 10.
Figura 9 - Principais passos para a delimitação de bacias hidrográficas
Organizado pela autora a partir da delimitação da bacia do Sistema Campelo.
Figura 10 - Bacia do Sistema Campelo
Organizado pela autora.
43
Após a delimitação da área do sistema foi possível identificar que nele haviam 17
lagoas de variadas extensões e características. Com o intuito de compreendê-las
individualmente,
suas bacias também
foram delimitadas utilizando
dos mesmos
procedimentos relatados acima. A Figura 11 apresenta as sub-bacias do Sistema Campelo.
Figura 11 - Sub-bacias do Sistema Campelo
Organizado pela autora.
2.5.2 Elaboração dos produtos cartográficos
Os produtos cartográficos que compõem esta pesquisa encontram-se apresentados na
forma de mapas temáticos, que foram elaborados com a intenção de representar os aspectos
Geoambientais da Bacia do Sistema Campelo. Isto foi possível, a partir da aquisição dos
Planos de Informações (PIs) de Geologia, Climatologia, Vegetação Potencial e Uso da Terra,
no formato Shapefile (shp) em escala de 1:100. 000, sendo todos os arquivos disponibilizados
no site do Instituto Estadual do Ambiente (INEA, 2011).
Com auxílio das Ortofotos do Projeto RJ-25 (escala de 1:25.000), acessíveis no site do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), os corpos hídricos foram
vetorizados em ambiente SIG em escala de 1:3.000, pois a resolução destas ortofotos permite
utilizar uma resolução final de aproximadamente 1 metro no terreno. Desta forma, o produto
teve como resultado final, a escala de 1:5.000. Estes arquivos encontram-se alojados no site
do Centro de Informações e Dados da Prefeitura de Campos dos Goytacazes (CIDAC).
Ao reunir todas as informações necessárias, foi possível elaborar os produtos
cartográficos que compõem a Análise Geoambiental do Sistema Campelo com o auxílio do
Software ArcGIS 10.1. Todos os dados cartográficos compostos nos mapas foram ajustados
para a projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), Datum Vertical WGS 84 e Fuso
44
24S. Estas configurações foram estabelecidas para que todos os mapas tivessem o mesmo
padrão cartográfico.
Nesta pesquisa, os mapas são considerados como elementos de grande importância,
sendo o objeto que simboliza um modo específico de imaginar as feições encontradas na
superfície da Terra, com seus aspectos físicos e sociais, o que compõe a estrutura deste
conhecimento específico (GIRARDI, 2009, p. 151). Assim, a informação cartográfica,
entendida no sentido de sua utilização prática, leitura, interpretação e, sobretudo, o de
construção de mapas, se torna indispensável para se compreender fenômenos que ocorrem no
espaço geográfico. Portanto, neste trabalho, os mapas podem ser entendidos como um
instrumento de percepção visual, e por ser rico em detalhes, mostra o entrelace das relações
espaciais de forma contundente; e as técnicas de Cartografia: um misto de arte e tecnologia de
organização de dados e produção de informações.
2.5.3 Modelo Digital de Elevação
O Modelo Digital de Elevação (MDE) consiste em um modelo matemático (uma
matriz) que restitui a superfície do terreno por meio da interpolação linear de valores
altimétricos e pontos georreferenciados, o que permite obter às curvas de nível do terreno
(OLIVEIRA, 2006, p. 134). Para criar o MDE da área estudada, foi necessário gerar suas
curvas de nível. Elas foram originadas a partir do mesmo recorte SRTM utilizado na
delimitação da Bacia do Sistema Campelo. Para isso, foi preciso acionar na caixa de
ferramenta Arc toolbox, do Software ArcGIS 10.1, seguidas de: 3D Analyst Tools, Raster
Surface, Countour, para obter o resultado demonstrado na Figura 12. Após esta etapa, o MDE
foi produzido pelo mesmo Software, através das ferramentas: 3D Analyst Tools, seguida de
Data Manegement, Tin, e por fim, Create Tin para criar o modelo, como se vê na Figura 13.
45
Figura 12 - Curvas de nível
Organizado pela autora.
Figura 13 - Modelo Digital de Elevação
Organizado pela autora.
Após gerar o modelo do terreno para a Bacia do Sistema Campelo, foi possível
conhecer os valores altimétricos da área. Ressalta-se que para gerar as curvas de nível foi
determinado um intervalo de dois metros de equidistâncias, com o intuito de melhor detalhar a
altimetria da planície e de seus limites com os tabuleiros. Terminado estes procedimentos,
deu-se início a elaboração do Mapa 4 (p. 62), no qual revelou as altitudes do relevo,
ratificando as quatro classes de elevação, descritas por Geiger (1956), ao estudar de forma
detalhada a região.
2.5.4 Análise estatística dos dados
A pesquisa procurou estabelecer correlações entre dados de precipitação pluviométrica
(mm/mês) entre de anos de 2006 a 2015 e áreas dos espelhos d’água de lagoas (ha ou
46
km2/100) em períodos considerados como “úmido” e “seco” em cada ano, ou seja, a pesquisa
é estratificada, não aleatória, pois considerou a sazonalidade anual das precipitações
atmosféricas (chuva). Os dados foram classificados de acordo com a Escala de Razão. Para
isso, foi necessário utilizar algumas fórmulas estatísticas, conforme estabelecido por Bussab e
Morettin (1987):
Média = Somatório dos valores observados no mês,
dividido pelo número de meses.
2.1
S2 = É o somatório das diferenças quadráticas dos
valores observados no mês em relação à média do
mês, dividido pelo número de meses menos um.
2.2
S = É a raiz quadrada da Variância.
2.3
C.V. = É o Desvio Padrão dividido pela média
aritmética da série observada.
2.4
As fórmulas 2.2, 2.3 e 2.4, observadas acima, demonstram Medidas de Dispersão ou
sumarização, que podem representar a variabilidade do conjunto de dados observados, sendo
valores úteis para encontrar a tendência das séries. Para isso, são utilizadas as fórmulas: 2.1
Média ( ); 2.2 Variância (S2), definida como “os quadrados dos desvios em relação à
média”; 2.3 Desvio Padrão (S) é a média da variabilidade da série na mesma unidade
dimensional do conjunto observado, sendo definido como a “raiz quadrada da Variância”; e a
2.4 Coeficiente de Variação (C.V.), como o percentual de variação da série em relação às
médias.
Após a análise dos dados organizados em séries temporais e observado o
comportamento correlacionado entre os dados, calculou-se sua associabilidade. Para isso,
utilizou-se o conceito de Coeficiente de Correlação, conforme se vê na fórmula 2.5.
𝐶𝑜𝑣 (𝑥, 𝑦) =
1
𝑛−1
∑𝑛𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ ) (𝑦𝑖 − 𝑦̅)
2.5
O coeficiente de correlação entre duas variáveis (X e Y) é a média dos seus valores
reduzidos, que é expressa com números entre -1 e 1, entendendo que quanto mais próximo de
zero, mais fraca é a correlação. A partir destas análises foi possível estabelecer uma
47
organização dos dados na forma de tabelas e gráficos para serem analisados posteriormente.
Desta forma, procurou-se verificar os seguintes aspectos:
1° - Dados de precipitação:
1.1 – Frequência da precipitação no período 2006-2015;
1.2 – Os períodos “úmido” e “seco” para a escolha das imagens de satélites.
2° - Dados dos espelhos d’água das lagoas:
2.1 – A variação do espelho d’água das lagoas no tempo e correlação das lagoas com
suas sub-bacias (individualmente e integradas);
2.2 – A variação das áreas dos espelhos d’água com relação à área total das lagoas.
3° - A tendência do comportamento dos espelhos d’água das lagoas junto à precipitação, nos
períodos “úmido” e “seco”.
2.5.5 Processamento das imagens
Após definir os períodos úmido e seco, a pesquisa prosseguiu com a aquisição de
dados indiretos de vinte imagens de satélites (Landsat 5, 7 e 8), referentes aos períodos úmido
e seco, que compreendem aos anos de 2006 a 2015, como se observa na Tabela 1. A escolha
das imagens se deu após a análise das precipitações que ocorreram no período estudado.
Tabela 1 - Imagens de satélites utilizadas na pesquisa
Data
Satélite
26/04/2006
08/08/2006
12/03/2007
28/09/2007
22/03/2008
29/08/2008
26/04/2009
03/10/2009
21/04/2010
04/09/2010
02/05/2011
23/09/2011
06/02/2012
03/10/2012
21/04/2013
14/10/2013
02/01/2014
17/10/2014
01/08/2015
29/11/2015
Landsat 7
Landsat 5
Landsat 7
Landsat 5
Landsat 7
Landsat 5
Landsat 5
Landsat 5
Landsat 7
Landsat 5
Landsat 5
Landsat 5
Landsat 7
Landsat 7
Landsat 8
Landsat 8
Landsat 8
Landsat 8
Landsat 8
Landsat 7
Sensor
Órbita/Ponto
Resolução
ETM
TM
ETM
TM
ETM
TM
TM
TM
ETM
TM
216/75
30 x30 m
TM
TM
ETM
ETM
OLI
OLI
OLI
OLI
OLI
ETM
Fonte: Organizado pela autora.
Estação
Úmida
Seca
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
48
Para a manipulação e o processamento destas imagens utilizou-se o Software ArcGIS
10.1. Nele as imagens foram compostas com a falsa cor RGB 5,4,3 para as imagens
adquiridas nos satélites Landsat 5 e 7 e o RGB 6,5,4 para as imagens Landsat 8. Estas
composições se mostraram adequadas, pois exibiram os alvos analisados de forma nítida,
como, por exemplo, o delineamento dos espelhos d’água, como se observa um exemplo na
Figura 14. Em seguida os espelhos d’água foram vetorizados, como se vê na Figura 15.
Figura 14 - Imagens Landsat 5, composição RGB 5,4,3
Organizados pela autora.
Figura 15 - Espelhos d’água vetorizados
Organizados pela autora.
Esta pesquisa foi estruturada em 5 etapas, demostrando integração lógica entre elas:
1ª - Revisão em bibliografia especializada;
2ª - Obtenção de dados diretos (Trabalhos de Campo), Indiretos (Imagens de satélites);
Intermediários (UFRRJ);
3ª - Elaboração dos produtos cartográficos;·.
4ª - Análise exploratória dos dados;
5ª - Análise Ambiental.
49
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO DOS
RESULTADOS E
DISCUSSÕES
50
3.1 Análise Geoambiental do Sistema Campelo
O objetivo central dessa pesquisa consiste em compreender os processos relacionados
à variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo em função da precipitação
atmosférica. Para isso, levou-se em consideração, primeiramente, a análise Geoambiental da
área de estudo, realizada através da Teoria Sistêmica e do método de Análise Ambiental, para
identificar suas principais unidades. Para isso, foi elaborada uma coleção de mapas que
representam as dimensões do sistema, tais como: Clima, Geologia, Relevo, Hidrografia,
Vegetação Potencial e o Uso da Terra para facilitar a interpretação das informações.
Como forma de estabelecer um padrão gráfico, todos os mapas foram projetados
utilizando-se dos mesmos princípios cartográficos de projeção, datum, fuso e escalas. Para
esta pesquisa, o Banco de Dados de cada tema corresponde a um conjunto de dados digitais
em formato Shapefile disponibilizados pelo INEA, onde consta todo o recorte espacial do
estado do Rio de Janeiro, numa escala de 1:100.000 (INEA, 2011). Já a escala de saída dos
mapas produzidos para pesquisa foi definida como 1:220.000, de modo a compatibilizar os
dados em papel no formato A4. Todas as feições identificadas como lagoas e canais foram
vetorizadas a partir das Ortofotos do Projeto RJ-25 (escala de 1:25.000) e resolução final de 1
metro (IBGE, 2008).
3.1.1 Climatologia
O Brasil tem uma dimensão continental que se estende desde a latitude 5°N até 35°S,
apresenta elevado gradiente topográfico e desenvolvimento meridional (continentalidade e
maritimidade); assim como é afetado, frequentemente, pela entrada de Anticiclones do
Atlântico Sul, as Altas Pressões do Polo, as variações da Zona de Convergência Intertropical
como os principais fatores estáticos e dinâmicos que condicionam os mais variados climas e
paisagens do país (VIANELLO E ALVES, 2004, p. 425).
Ao estudar a Climatologia Regional, verifica-se que o Sudeste brasileiro apresenta a
maior diversificação climática, exatamente por ser influenciado por diversos fatores que
definem o seu clima. Contudo, Nimer (1977, p. 86) destaca o regime de chuvas no tempo (e
não no espaço) como um fator que diferencia os climas intra-regionais, ou seja, é sempre
importante saber quantos “meses secos” apresentam a sub-região para classificá-las. Já no que
toca as temperaturas médias, são bastante variadas, mas melhor previstas no tempo e no
espaço.
51
Bernardes (1952, p. 57) diz que são os fatores de altitude e relevo que definem as
diferenciações climáticas no estado do Rio de Janeiro.
Mapa 2 - Precipitação das Regiões Hidrográficas - RJ
Em seus estudos sistemáticos do clima, ela verificou que:
[...] o estado do Rio de Janeiro é atravessado de WSW para ENE pelo alinhamento
montanhoso da Serra do Mar, de encostas quase escarpadas e altitudes variáveis,
frequentemente superiores, em seus cumes, a 1.000 metros, alcançando mesmo mais
de 2.000 metros, em trechos mais elevados. [...] Isola, do lado do oceano, uma
baixada litorânea quente e úmida, com uma estação seca e outra chuvosa, que
desaparece a oeste, onde a escarpa da serra alcança o litoral e se alarga a noroeste,
na planície campista (op. cit., p. 57).
Essa análise foi ratificada pelo Mapa 2, elaborado a partir de dados disponibilizados
pelo INEA (2011). Nele se observa que as maiores precipitações correspondem às posições
que ocupa a Serra do Mar, além disso, mostra a uniformidade na Baixada Campista, que ela
classifica como Aw8, pela proposta de Köppen.
Pelos dados do INEA (2011) os valores precipitados na região de estudo estão em
torno de 812 a 1.169 mm/ano, o que denota uma uniformidade espacial da precipitação. Mas
8
Pela classificação de Köppen a região corresponderia ao Clima de Savana: A – Clima tropical chuvoso; w –
Chuvas concentradas no verão (AYOADE, 2002, p. 233).
52
Bernardes (1952) relata que as chuvas são concentradas nos meses de verão, com precipitação
de até 80% do total anual em dezembro. Por outro lado, no mês mais seco a precipitação varia
entre 15 e 20% do mês mais úmido. Quanto à temperatura média anual do mês mais quente
seria 26,7°C no mês de fevereiro, e mínima média de 18,5°C no mês de julho.
Com base nas propostas dos estudos do ritmo climático de Monteiro e na perspectiva
da Climatologia Geográfica, Barros e Zavattini dizem que deve-se levar em consideração a
sucessão de tempos num ponto da superfície terrestre, acrescentando que:
[...] em nosso país as características climáticas predominantes são do tipo tropical ou
subtropical, é compreensível que a chuva seja o elemento climático com melhor
capacidade de traduzir as variações rítmicas presentes num dado ano, ou as que se
alternam de um ano para outro, seja ele um ano civil, agrícola, ou relativo a qualquer
outra convenção periódica. Explica-se, assim, a preponderância de temas ligados à
pluviosidade na maioria dos estudos de climatologia geográfica realizados no Brasil
(BARROS E ZAVATTINI, 2009, p. 258).
Dessa forma, utilizando-se dados pluviométricos da região, disponibilizados pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi estabelecido uma média padrão
anual de precipitação para a região (ano padrão de precipitação), com base em 40 anos
observados, no valor de 919,44 mm/ano. No Gráfico abaixo, observa-se a média mensal
acumulada, entre os anos de 1976 e 2015.
Gráfico 1 - Normal da precipitação para a Baixada Campista
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
53
Os dados acima ratificam as médias pluviométricas registradas para a Baixada
Campistas, pelo INEA (2011); assim como os de Bernardes (1952), quando diz que o mês
mais chuvoso é dezembro (média de 149,95 mm/ano), que corresponde a 21% do mês mais
seco (junho com 31,71 mm/ano), e que as precipitações do verão somam, aproximadamente,
35% do total anual; e os de Nimer (1977), quando mostra que há presenças de meses secos
bem definidos no ano pluviométrico padrão. Acrescenta-se que a média das precipitações
anuais somam 68% para os meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril; e
o restante para os meses de maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro, o que configura
duas estações pluviométricas bem marcadas.
Contudo, após esta apresentação da classificação genérica da precipitação na região,
observou-se que nos últimos 10 anos (de 2006 a 2015) algumas alterações ocorreram, o que
reforça a hipótese principal deste trabalho, que mudanças na área dos espelhos d’água das
lagoas podem ter ocorrido. Desta maneira, será apresentado um estudo mais detalhado da
precipitação deste período. No Gráfico 2 são exibidos os dados de precipitação acumulada.
Gráfico 2 - Total acumulado da precipitação para a Baixada Campista
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
Ao realizar uma análise temporal da precipitação nos últimos dez anos (2006 - 2015),
nota-se que sua média anual é maior que a Normal de Precipitação dos últimos 40 anos,
alcançando 970,64 mm/ano, ou seja, 5% acima da média. Além disso, ressalta-se que durante
os dez anos observados, quatro ultrapassaram a média, das quais três foram em anos
54
consecutivos (2007, 2008 e 2009). Destaque-se que os excedentes foram de 264,06 mm
(27%), 665,16 mm (59%) e 56,46 mm (6%), respectivamente, o que causou enchentes e
inundações na região. Por outro lado, ocorreram seis anos de precipitação abaixo da média,
com destaque para o ano de 2014 registrando 412,24 mm de déficit (42%), seguido de 2015
com déficit de 245,04 mm (25%), de forma que, estes dois anos de precipitação muito abaixo
da média levaram a região a passar por problemas ambientais sentidos por distintos segmentos
da população.
Ao analisar os gráficos acima, para encontrar o mês mais seco ou mais úmido dentro
de cada ano da série estudada, observou-se que em quantos meses ocorreram totais de
precipitação abaixo ou acima da Normal de Precipitação e da média dos últimos dez anos.
Este tipo de classificação visa encontrar o período dentro do ano que acumulou maiores
índices de precipitações sucessivas para encontrar aquele mês que representa um maior
acúmulo de água no terreno e, consequentemente, em que momento os corpos hídricos
ocupariam um maior espelho d’água. Da mesma forma, os meses sucessivos, com índices
pluviométricos abaixo das médias esperadas, tomou-se por hipótese, que os corpos hídricos
estariam com seus espelhos d’água mais reduzido. Este procedimento foi realizado com a
intenção de encontrar o mês mais adequado para a obtenção de imagens de satélites que
pudessem representar os momentos extremos dos espelhos d’água das lagoas da Bacia do
Sistema Campelo.
Gráfico 3 - Variação da precipitação observada
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
Considerando a periodicidade anual pluviométrica (sazonalidade) foi estabelecido o
Ano Padrão Pluviométrico, como se vê no Gráfico 3. A partir disto, foi sumarizada na Tabela
2 a concentração de precipitação para os períodos “seco” e “úmido”. Nela observa-se que em
média 72% da precipitação anual ocorrem entre os meses de novembro e abril (período
úmido), e 28% entre os meses de maio e outubro (período seco).
55
Tabela 2 - Acumulado e percentuais de precipitação (Ano Padrão)
Total do Ano Período Úmido Período Úmido
Ano
Padrão
(Nov/Abr)
(%)
2006
1.068,7
808,1
76
2007
1.200,3
817,1
68
2008
1.198,5
1.006,8
84
2009
1.599,0
1.196,7
75
2010
2011
2012
2013
2014
667,0
785,9
885,5
1.024,2
900,6
438,6
612,4
546,4
761,6
665,2
66
78
62
74
74
2015
578,2
274,8
48
9.907,9
7.127,7
72
Totais
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
Nos gráficos abaixo são apresentados esses totais ano a ano, com destaque para o mês
considerado em que as lagoas estariam mais cheias ou mais vazias, para a seleção das
imagens de satélites. O critério utilizado para esta determinação foi o de quatro meses
consecutivos abaixo ou acima da média precipitada no ano.
Acrescenta-se que foram assinalados com setas os meses que efetivamente se
obtiveram as imagens. Observa-se que ocorreram alterações eventuais na aquisição das
imagens em meses selecionados, isso se deu devido à quantidade de nuvens presentes nas
imagens, impossibilitando a visualização dos corpos hídricos. Isso aconteceu em 20% dos
casos, nos quais selecionou-se a imagem do mês seguinte.
56
Gráfico 4 - Precipitação pluviométrica em períodos úmido e seco entre 2006 e 2015
Obs.: As setas indicam os meses no qual as imagens foram adquiridas.
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
57
3.1.2 Geologia
O Sistema Campelo é marcado geologicamente pela Formação Barreiras, que são
depósitos compostos por sedimentos de origem terrestre datados da Era Cenozóica, do
Período Terciário (aproximadamente, entre 65 e 2 milhões de anos A.P.). Estes sedimentos
teriam sido ancorados por pequenas serras isoladas componentes do alinhamento da Serra do
Mar. O material da Formação Barreira tem sido associado a leques aluviais entrelaçados
compostos por diversos materiais descritos como conglomerados muito grossos, em corpos
lenticulares, intercalados como arenitos de matriz lamosa, quase sempre recoberta por
sedimentos arenoargilosos, com nível de cascalho na base e fragmentos de crosta ferruginosa
(BRÊDA et al., 2011, p. 2). De acordo com Lamego (1955, p. 22), materiais desta natureza
foram depositados a sul do rio Itabapoana, numa depressão pretérita, que naquele momento
ainda alcançava o mar.
Para Martin et al. (1997, p. 27) as sucessivas flutuações no nível do mar no Período
Quaternário foram as principais causas da formação e alteração das planícies litorâneas no
delta do rio Paraíba do Sul. Este modelo de construção do relevo costeiro da região foi divido
pelos autores em sete Estádios de evolução, no qual o Estádio 5 está associado à formação da
Baixada Campista, como se vê na Figura 16. Estes terraços marinhos de origem holocênica
podem conter grandes quantidades de conchas e exibir alinhamentos de cristas praiais mais ou
menos espaçadas. Nas zonas mais baixas, entre as cristas, podem ocorrer lagoas que se
estabeleceram nas depressões deixadas pelas sucessivas flutuações do nível do mar e áreas
pantanosas mais recentes de até 2.500 anos A.P. (op. cit., p. 22).
Figura 16 - Estádio 5: Formação relativa ao período 5.100 – 4.200 anos A.P.
Fonte: MARTIN et al., 1997, p.75.
58
As feições geológicas que compreendem a Bacia do Sistema Campelo estão
distribuídas em cinco unidades distintas, que foram discutidas com base nos trabalhos de
Ramalho (2005) e Costa et al. (2008), que serão apresentadas a seguir.
Sedimentos Fluviais (Qp) datados do Período Quaternário (2 milhões de anos A.P.)
foram depositados entre o rio Paraíba do Sul e a lagoa do Campelo. Esta unidade ocupa uma
extensão de 5.509,35 ha, o que corresponde a 7,28% da área total do Sistema Campelo. Ela se
caracteriza por conter sedimentos compostos por argila, argila-síltica e siltes, nela também são
encontradas areias e aglomerados quartzosos, gerados de matrizes argilosas originadas a partir
dos depósitos aluviares do rio Paraíba do Sul.
Os Sedimentos Litorâneos (Qc) foram depositados por processos de Transgressão e
Regressão Marinha, formando cristas de praias, que em sua maior parte apresentam-se
paralelas a linha de conta. Nesta unidade os sedimentos são formados por areias quartzosas,
algumas vezes de coloração amarelada ou esbranquiçada. Esta formação ocorre de modo
contínuo, ocupando uma área de 8.422,91 ha, o que representa 11,13% da área total de estudo.
A Formação Barreiras (Tb) datada do Período Terciário (Época Miocênica –
aproximadamente entre 23 e 12 milhões de anos A.P.) é caracterizada por apresentar relevos
de topos aplainados, que de acordo com Geiger (1956, p. 22), são constituídos de rochas
sedimentares que podem alcançar entre 50 e 70 metros de altitude. Ela encontra-se entre a
planície quaternária e os patamares cristalinos mais elevados. Esta feição é fragmentada pelas
unidades São Fidélis e Bela Joana, e se destaca por ocupar a maior porção da bacia do
Sistema Campelo, com área de 50.626,21 ha, o que equivale a 66,92% do recorte espacial
adotado.
A Unidade São Fidélis (pCIIsf), datada do Pré-Cambriano, encontra-se localizada a
noroeste da sede do município de Campos dos Goytacazes. Esta unidade apresenta-se na bacia
como a maior extensão pré-cambriana e, são caracterizadas, predominantemente, por rochas
gnáissicas e migmatitos. Sua porção ocupa 3.202,91 ha de extensão no recorte pesquisado,
somando 4,23% de ocupação.
A Unidade Bela Joana (pCIbj) se apresenta como a menor unidade entre todas as
feições geológicas representada no Mapa 3. Datada do Período Pré-Cambriano, ela é
caracterizada por suas rochas charnockitos, no qual apresentam vários minerais, entre eles:
plagiocálsio, andesina, lambradorita (em menor quantidade), k-feldspato, biotita, apatita,
zircão, quartzo e hornblenda. A área ocupada por esta unidade é de 2.070,67 ha, o que
configura 2,74% da área pesquisada.
59
Os corpos hídricos, identificados no recorte, encontram-se presentes em três das
feições descritas acima: Sedimentos Fluviais, Sedimentos Litorâneos e a Formação Barreira.
A categoria lagoas está em maior parte localizada na Formação Barreira. Para melhor
entendimento da Geologia desta região, segue abaixo a Tabela 3 e o mapa síntese.
Tabela 3 - Síntese da extensão das unidades geológicas
Unidades
Sedimentos Fluviais (Qp)
Sedimentos Litorâneos (Qc)
Formação Barreiras (Tb)
Unidade São Fidélis (pCllsf)
Unidade Bela Joana (pClbj)
Lagoas
ha
5.509,35
8.422,91
50.626,21
3.202,91
2.070,67
5.824,84
Fonte: Organizado pela autora a partir de dados extraídos no Mapa 3.
Mapa 3 - Geologia da Bacia do Sistema Campelo
%
7,28
11,13
66,92
4,23
2,74
7,70
60
3.1.3 Geomorfologia
O relevo da região sudeste do Brasil foi modelado por sucessões de períodos úmidos e
secos, datados do Quaternário. Isso permitiu caracterizar suas formas como possuidoras de
certa paleogeografia recente. Essas rupturas climática e biológica propiciaram a instalação de
processos mecânicos de erosão, transporte e deposição de materiais em períodos úmidos e
entulhamento das calhas aluvias com materiais subtraídos das encostas. Esta morfogênese
permite individualizar geossistemas morfoclimáticos na transição dos Domínios de Mares de
Morros em direção à linha de costa (MOREIRA e CAMELIER, 1977, p. 2).
Sobre está extensão territorial Ab’Sáber (2003, p. 16) relata que é a maior região de
áreas vertentes policonvexas e de processos de mamelonização das terras intertropicais do
mundo. Na Figura 17 é possível observar os domínios de Mares Morros proposto pelo autor.
Figura 17 - Domínios Morfoclimáticos Brasileiros
Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Ab’Sáber, 2003.
Na região norte do estado do Rio de Janeiro as formações Pré-Cambianas da Serra do
Mar encontram-se afastadas do litoral em até 60 km de distância, onde são observados em
patamares contínuos, os Tabuleiros de Formação Barreiras. Estes são esculpidos por rios que
transportam sedimentos para as planícies costeiras, tais como as dos rios Itabapoana, Paraíba
do Sul e Macaé, que formaram o terceiro patamar, a grande Planície Fluviomarinha da
Baixada dos Goitacazes, onde se assenta um delta fóssil, que forma uma unidade
hidrogeomorfológica conhecida como Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul. (op. cit., p. 17)
61
A partir da cidade de Campos dos Goytacazes, na porção norte do rio Paraíba, a
formação do relevo é proveniente dos depósitos Cristalinos e Barreiras, e próximo à costa, da
Planície Deltaica. Segundo Argento (1987, p. 47) estas formações apresentam ao alto nível de
dependência e integração entre seus componentes. Para o autor, o material responsável pela
construção da Planície Fluviomarinha tem origem cristalina, na parte interior, e oceânica
próxima ao litoral. Ele chegou a esta conclusão a partir das análises dos materiais siltosos e
argilosos que alcançam à Baixada Campista através de seus canais fluviais. Os resultados
destas análises mostraram que os rios Paraíba do Sul e Muriaé são os que mais contribuem
para o transporte desses materiais continentais.
Nesta região, primeiro destacam-se corpos hídricos orientados na direção oeste-leste,
depois em direção aos limites da Bacia do rio Guaxindiba, e outros orientados na direção
noroeste-sudeste, todos barrados na foz por processos de Regressão e Transgressão Marinha.
Durante estes movimentos formou-se a lagoa do Campelo, que atualmente é drenada pelo
canal Engenheiro Antônio Resende até alcançar o litoral, no município de São Francisco de
Itabapoana (MIRO et al., 2013, p. 6).
Estes corpos hídricos estão localizados numa bacia denominada de Bacia do Sistema
Campelo, já mencionada nos trabalhos do INEA (2007) e por Coelho Netto (2008). Ela é
marcada por compartimentos geomorfológicos bem definidos, que foram condicionados pelo
seu material de origem e também pela dinâmica climática existente na região. A combinação
desses fatores resultou em distintas formas de relevo, ocasionadas por processos atuais e por
aqueles ocorridos no passado. Estes processos que deram origem a sua formação são
condicionados por agentes endógenos (ações internas de origem tectônica e geológica),
exógenos (causadas por fatores climático, pedológico e biológico) e antrópicos (como a
construção de canais, diques e a substituição da vegetação natural).
Como forma de representar o relevo que abarca a área de estudo, o Mapa 4 foi
elaborado com o intuito de promover um melhor entendimento acerca de suas formas,
acompanhado de seus valores altimétricos determinados a partir da extração das curvas de
nível com equidistância de dois metros, que revelaram a topografia dos compartimentos. Para
isso, foram estabelecidas quatro classes de cotas com intervalos entre 0-8, 9-60, 61-120 e 121160 metros, estimadas a luz das discussões de Geiger (1956) e Silva (2009), quando
caracterizam a referida região.
62
Mapa 4 - Relevo do Sistema Campelo
Deste modo, foram identificados quatro tipos de compartimentos distintos, sendo eles
classificados como:
1. Planície Fluviomarinha – caracterizada por possuir superfícies regulares e com
altitudes máximas de aproximadamente 8 metros, até o contato com os Tabuleiros do
Grupo Barreiras. Nela observam-se depressões rasas e, por vezes, arredondadas que
formaram lagoas e alagadiços, como no caso das lagoas do Campelo e Arisco;
2. Tabuleiros de Formação Barreiras – É o compartimento de maior representatividade
no Sistema Campelo. Nas baixas altitudes ele se configura como uma topografia suave
e quase plana em alguns trechos próximos a Planície Fluviomarinha, mas no total pode
variar entre 9 e 60 metros de altitude. Nele encontram-se distribuídas a maior
quantidade de lagoas da bacia, que, de acordo com Alves et al. (2015), predominam a
Forma Dendrítica, ou seja, “lagoas que apresentam longos “braços” que se
assemelham a raízes por toda a sua extensão principal”. Ressalta-se, ainda, que é neste
compartimento que se concentram as ocupações de origem urbana e rural;
3. Morros Isolados – Esta feição geomorfológica encontra-se moldada entre os
Tabuleiros de Formação Barreiras e os Patamares Cristalinos. Eles apresentam
altitudes que variam entre 61 e 120 metros, que segundo Geiger (1956, p. 22), há um
63
declive de oeste para leste, o que o faz perder altitudes em direção do oceano. São
caracterizados por formarem superfícies fracionadas, entalhadas por vales, com
predominância de encostas côncavas, e observa-se que nas proximidades não há
presença de lagoas.
4. Serras – São caracterizadas na área de estudo por apresentarem-se como fragmentos
cristalinos, de feições íngremes, que podem alcançar cerca de 160 metros de altitude.
À medida que estas rochas cristalinas se afastam do litoral em direção ao contínuo da
Serra do Mar da qual pertence, se tornam mais energéticas (patamar de maiores
variações altimétricas), que, para Geiger (1956, p. 28), é um relevo formado por
rochas mais resistentes aos processos de meteorização. Ressalta-se que neste
compartimento também não há ocorrência de lagoas, como se vê no mapa acima.
3.1.4 Vegetação Potencial
A grande diversidade de formações vegetais encontradas no território brasileiro,
relativa à sua extensão territorial, variedade morfoclimáticas, importância biológica e
potencial de uso, justificou o seu agrupamento em biomas classificados de forma normativa
como: Amazônico, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal. Entende-se bioma
como: “[...] um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em
escala regional, com flora e fauna similares, definidas pelas condições físicas predominantes
nas regiões” (MMA, 2009).
O bioma Mata Atlântica é considerado no Brasil como:
[...] as formações florestais e os ecossistemas associados inseridos no domínio Mata
Atlântica, com as respectivas delimitações estabelecidas pelo Mapa de Vegetação do
Brasil, do IBGE 1988: Floresta Ombrófila Densa Atlântica; Floresta Ombrófila
Mista; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; Floresta
Estacional Decidual; manguezais; restingas; campos de altitude; brejos interioranos
e encraves florestais do Nordeste (Lei 11.428/2006).
Ao refletir-se, historicamente, sobre a vegetação encontrada no território brasileiro
Conti e Furlan (2000, p. 170) destacam que quando os colonizadores europeus chegaram à
América, no século XVI, as florestas que acompanhavam a Serra do Mar, próximas ao litoral,
eram densas e adentravam o interior da região Sudeste, mas o que atualmente se vê é a sua
devastação nas porções mais baixas do relevo. Apesar da sua importância ambiental essas
florestas que ocupavam originalmente cerca de 1,1 milhão de km2, hoje não chegam a 5%
deste total.
64
Sua conhecida diversidade tem sido atribuída à distribuição da umidade pluviométrica
advinda da Massa Polar Atlântica e de ventos Alísios, barrados por diversos acidentes
orográficos costeiros, que concentram grandes volumes de água, como nos contrafortes da
Serra do Mar na região Sudeste do Brasil. Além do seu vasto desenvolvimento latitudinal, sua
biodiversidade é garantida através da capacidade de produzir matéria orgânica, fazendo com
que o ambiente seja fértil e garantindo sua riqueza vegetal e animal (op. cit., p. 172).
Em qualquer estudo geográfico sobre os ambientes de matas tropicais, de posição
azonal marcante, como é o caso da Mata Atlântica, torna-se indispensável compreender sua
biodiversidade regional in situ. Elas derivam primeiro da faixa de contato com outros
domínios de natureza (que não é o caso da região analisada) e também das diferenciações
intra regionais complexas, relativas ao desenvolvimento morfoclimático na história da
construção destes ambientes. Na bacia do Sistema Campelo configurou-se como um conjunto
de transsectos fitogeográfico sub-regional, onde se podem destacar os litorâneos de restinga,
os ondulados tabuleiros, e no contato com regiões de serras, uma mata mais orográfica
(AB’SÁBER, 2003, p. 46-47).
O termo Vegetação Potencial pode ser definido a partir da Teoria do Geossistema
como um instrumento de valorização da vegetação futura e do mapeamento da vegetação
natural. É baseado no conhecimento coerente da vegetação atual, nas suas tendências de
desenvolvimento e relações nos ambientes locais. O conceito surge como resultado de um
exercício de encadeamento causal que permite a previsão para realizar o diagnóstico da
situação futura, levando em conta sua evolução de médio ou longo prazo (FÁVERO et al.,
2004, p. 61).
Ao relatar aspectos sobre a vegetação da região Veloso et al. (1991 apud SOFFIATI,
2013, p. 15), dizem que ocorrem de dois tipos: Formação Decidual – quando tem como
característica perderem mais de 50% de suas folhas na estação seca; e Formação
Semidecidual – como as perdem cerca de 20 a 50% na mesma estação. Além disso, observam
que a segunda ocorre nos Tabuleiros do Grupo Barreiras. Ressalta-se que este estudo não se
refere à vegetação aquática e nem da mata ciliar, por isso, elas não aparecem nesta
quantificação, mas que num trabalho em escalas maiores seriam importantes para entender a
qualidade ambiental de lagoas, rios e canais tratados individualmente.
Sobre isto, o INEA (2010), ao estudar os aspectos geoambientais com base na
classificação realizada pelo IBGE (1992), mostra que a vegetação potencial do estado do Rio
de Janeiro se espacializa de acordo com as características altimétricas do relevo. Assim, entre
5 e 50 metros de altitude predominaria a Formação de Terras Baixas; e entre 50 e 500 metros
65
a Formação Submontana. A Tabela 4 sintetiza as informações extraídas no Mapa 5 sobre a
vegetação potencial da bacia.
Tabela 4 - Síntese da Vegetação Potencial do Sistema Campelo
Unidades
ha
Vegetação de Restinga
1.136,81
Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas
48.675,80
Floresta Estacional Decidual de Terras Baixas
29,02
Floresta Estacional Semidecidual Submontana
12.025,05
Vegetação de Brejos
1.864,65
%
1,50
64,34
0,04
15,90
2,46
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados extraídos no mapa de Vegetação Potencial.
Mapa 5 - Vegetação Potencial do Sistema Campelo
O mapa acima mostra que há dois tipos predominantes de vegetação na bacia: a
Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, que ocuparia uma área de 48.675,80 ha,
o equivalente a 64,34% do sistema, seguida da vegetação de Floresta Estacional
Semidecidual Submontana, apresentando uma extensão de 12.025,05 ha, o que corresponde a
15,90% do total da área. De forma menos expressiva, aparecem à vegetação de Restinga com
1.136,81 ha, representando 1,50%; e por fim, a Floresta Estacional Decidual de Terras
Baixas, com somente, 29,02 ha de área (0,04% da extensão) localizada no município de São
66
Francisco de Itabapoana. Observa-se ainda, que as vegetações ocorreriam em porções bem
definidas ou de forma concentrada no sistema e que as lagoas ocorrem, quase que totalmente
na Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, com exceção para a lagoa do
Campelo.
3.1.5 Uso da Terra
A acentuada degradação dos ambientes tropicais, ou erosão da sua biodiversidade,
vem sendo registrada em diversos trabalhos científicos desde a segunda metade do século XX.
Veiga e Ehlers (2003, p. 274) conceituam Biodiversidade como “[...] toda a variedade
de organismos vivos em todos os ecossistemas do planeta”. Já o termo Diversidade Biológica
significa dizer que há uma variabilidade de organismos vivos e integrados num determinado
território, assim como os complexos ecológicos de que fazem parte. Os autores destacam que
pode haver diversidade dentro das espécies e entre elas.
Na história natural da Terra, houve episódios que provocaram a redução das espécies.
Especialistas consideram a atual pressão antrópica sobre ecossistemas naturais como uma das
causas para a extinção de espécies na atualidade. Veiga e Ehlers (2003, p. 275) dizem que em
condições naturais uma espécie poderia ser extinta por ano no planeta, mas nos relatos atuais
estimam que, aproximadamente, 10.000 espécies desaparecem a cada ano. Isso pode ser
causado por: “destruição e alteração de habitats; exploração de espécies ‘selvagens’;
introdução de espécies exóticas; homogeneização; poluição e as mudanças ambientais
globais”, ou seja, alterações antrópicas podem causar inúmeros impactos sobre a flora e a
fauna nos sistemas naturais.
Quando o assunto tratado é o Uso da Terra, ressalta-se que os impactos visíveis na
paisagem se originam a partir dos desmatamentos das florestas, da drenagem de áreas úmidas,
da construção de estradas e do desenvolvimento dos aglomerados urbanos, o que, quando não
leva à extinção, resulta na fragmentação espacial de espécies nativas. Outro fator impactante é
sua homogeneização, que leva à perda da biodiversidade quando há padronização nos
sistemas agropecuários, o que corroe a base genética das espécies cultivadas, prejudicando o
que levou milhares de anos para evoluir (op. cit., p. 275).
As alterações causadas por atividades antrópicas podem alcançar as águas superficiais
e subterrâneas. Para Veiga e Elhers (2003, p. 276), a contaminação dos corpos hídricos ocorre
tanto pelo uso excessivo de insumos agrícolas (fertilizantes químicos e agrotóxicos), quanto
pela concentração das atividades pecuárias, o que compromete a resistência e a resiliência dos
67
agroecossistemas, podendo acarretar sucessivos problemas ambientais e aumento dos custos
de produção.
O processo de ocupação antrópica há tempos vem sendo associado à degradação dos
ambientes naturais, que, na região Sudeste, devastou a Mata Atlântica. Vários ciclos
caracterizaram os estágios de degradação, marcadamente a exploração do pau-brasil, seguido
pelo plantio da cana-de-açúcar, da cultura do café, das indústrias e da malha ferroviária, que
utilizava-se do carvão vegetal como matriz energética. Todos estes processos estão
envolvidos na derrubada das florestas. Posterior a isso, as matas continuaram sendo
aniquiladas para dar lugar à expansão da fronteira agrícola, com os produtos tradicionais e
atuais, como a produção de soja e celulose, além da extração ilegal de madeira para diversos
fins (op. cit., p. 276). Vale destacar que, com a diminuição da biodiversidade das florestas
brasileiras, diversos ambientes foram impactados negativamente, o que causou prejuízos a
comunidades por todo país.
Na Região Norte Fluminense os relatos de ocupação e degradação não aconteceram de
forma diferente. Ao refletir sobre ela, Soffiati Netto (1998, p. 13) relata que desde o século
XVIII as baixadas e os tabuleiros da região de Campos estavam ocupados por agricultura e
pastagem. Ele ressalta que o desenvolvimento econômico acerca destas atividades levou ao
desmatamento acelerado dos ambientes, que já naquela época só permanecia preservada
apenas a zona cristalina, pelo seu relevo acidentado e de difícil acesso.
O uso e ocupação de uma região explicam suas características gerais, como se vê na
Figura 18 e no Mapa 6, mas antes de espacializá-la é relevante analisar alguns aspectos de sua
população atual. A Tabela 5 mostra que na área de estudo mais de 80% da população tem
residência em área urbana, com destaque para o subdistrito de Guarus, que pertence à cidade
de Campos, apesar de que, em termos de área ocupada, corresponda a um pequeno percentual
da área total da bacia, demonstrando uma densidade populacional bem menor na área rural.
68
Figura 18 - Cena de trabalho nos engenhos de açúcar típicos do século XVII:
pintura de Hercule Florence
Fonte: Carelle, 1988, p. 69.
Mapa 6 - Usinas de Campos dos Goytacazes na década de 1970
Fonte: LIFE, 2014.
69
Tabela 5 - População urbana e rural da Bacia do Sistema Campelo
Localização
População
Bairro Parque Prazeres
Subdistrito de Guarus*
Moro do Coco
Travessão
Vila Nova de Campos
São Francisco do Itabapoana
(1° Distrito)
Total
Percentual
População
(%)
Urbana
Rural
6.685
85.796
1.083
23.917
6.125
4,85
62,23
0,79
17,35
4,44
6.685
84.704
0
15.126
1.628
0
1.092
1.083
8.791
4.497
20.955
15,20
10.823
10.132
137.876
100,00
112.281
81,44%
25.595
18,56%
Obs.: *Parte do subdistrito que pertence à bacia hidrográfica do Sistema Campelo
Fonte: MIRO et al., 2013.
O mapa de Uso da Terra da área de estudo foi elaborado a partir da base de dados do
INEA numa escala de 1:100.000, tal qual os demais. O intuito deste mapeamento foi
identificar os principais usos da terra para analisar os potenciais impactos nos recursos
naturais. Adverte-se que nesta síntese podem apresentar equívocos quanto ao detalhamento da
área mapeada devido à escala utilizada.
Mapa 7 - Uso da Terra no Sistema Campelo
70
Observa-se na Tabela 6, que a classe Cana-de-açúcar predomina na área da pesquisa,
que preenche aproximadamente 45.000 ha, ou seja, cerca de 60% da área da bacia. O
contrário acontece com a classe Agricultura, onde ocorrem apenas pequenas manchas
fragmentadas ao longo do sistema, somando 21,52 ha, ou seja, 0,04% da área.
Tabela 6 - Síntese do Uso da Terra no Sistema Campelo
Unidades
Agricultura
Agricultura (cana)
Pastagem
Cordões arenosos
Floresta
Restinga
Lagoas
Brejos
Área Urbana
ha
21,52
45.336,01
14.792,04
3.629,56
575,70
1.136,81
5.825,84
1.954,65
2.377,02
%
0,04
59,93
19,55
4,80
0,76
1,50
7,70
2,56
3,16
Fonte: Organizado pela autora a partir dos dados extraídos do Mapa 7.
Quando é analisada a ocorrência de área florestada, tratada aqui como a cobertura
vegetal remanescente, de vegetação natural e sua distribuição, o que chama a atenção é que
não alcança 1% de ocorrência na bacia e se apresenta bastante fragmentada. A segunda
categoria que mais se destaca é a Pastagem, com 14.792,04 ha de uso, o equivalente a 19,55%
da área. Nota-se, também, que, no entorno dos corpos hídricos, há predomínio do cultivo de
cana-de-açúcar e pastagem. Isso provavelmente ocorre devido à fertilidade natural dos solos
originados a partir dos depósitos de sedimentos de origem lacustre e fluvial.
Nesta análise, observa-se que na classe Cordões Arenosos, característicos das
Planícies Costeiras, predomina a vegetação pioneira de Restinga. Esta vegetação está
posicionada a leste da lagoa do Campelo, acompanhando a extensão do canal Engenheiro
Antônio Resende, até os limites da bacia. Eles (Cordões arenosos e Restingas) se espacializam
na forma de “arco contínuo”, ocupando área de 4.766,37 ha, o que representa 6,3% do
sistema. Acrescenta-se que nas áreas “entre os cordões” são encontradas pequenas manchas
da classe Cultura. Provavelmente, isso ocorre devido às fragilidades do solo pouco fértil das
planícies arenosas.
Ao espacializar o uso da terra no Sistema Campelo, ressalta-se que a ocupação urbana
abrange uma área de 2.377,02 ha de extensão, o que significa 3,16% da bacia. Esta classe se
apresenta de forma concentrada, fragmentada ou alinhada: a primeira se caracteriza por estar
71
nas áreas dos Distritos Sede de ambos os municípios e no Distrito de Travessão, que mostra
uma urbanização em linha contínua que acompanha a direção da antiga estrada de ferro e a
atual BR 101; e a segunda por ser população dispersa espacialmente, devido as suas
características de economia agrícola, onde predominam as pequenas comunidades da zona
rural. Um espaço que chama atenção na bacia é o Assentamento Zumbi dos Palmares, que
teve o início de suas atividades em dezembro de 1997. Ele se estende pelo território dos dois
municípios, principalmente no de Campos dos Goytacazes; e ocupa uma extensão de
aproximadamente 8.000 ha, se configurando como o maior assentamento de Reforma Agrária
do estado do Rio de Janeiro.
Ross (2006, p. 13) define a Geografia como a ciência que integra questões físicobiológicas e socioeconômicas num espaço territorial e, a partir daí, pode-se compreender as
relações entre sociedade-natureza, acentuadas principalmente, após as novas possibilidades de
intervenção antrópica advindas das modernidades técnico-científicas da atualidade.
Neste trabalho, procurou-se analisar a relação dos usos sociais junto aos corpos
hídricos nesta região, admitindo-se que projetos relacionados ao setor sucroalcooleiro foram
os responsáveis pelas maiores alterações ambientais implementadas no local que tinham como
objetivos: expandir as fronteiras agrícolas (da monocultura da cana); promover o aumento da
produção por meio de investimentos em mecanização; e irrigação. Isto ganha força a partir de
meados dos anos 70 do século passado. Vários projetos desta natureza foram financiados com
recursos do extinto Programa Nacional do Álcool (Proálcool) (CARNEIRO, 2003, p.138).
Para isso, foram construídos canais artificiais para drenar áreas naturais, como os brejos e
lagoas da bacia. Aliado a isso, foram instaladas comportas para o controle da vazão desses
canais, que regulam o fluxo hídrico de acordo com as necessidades do setor sucroalcooleiro.
Após estas intervenções no sistema hídrico regional, desencadearam-se conflitos pelo uso da
água entre os atores que residem e desenvolvem suas atividades na região, pois as obras de
“controle das águas” foram construídas pelo também extinto Departamento Nacional de Obras
e Saneamento (DNOS).
Nas Figuras 19 e 20, é possível observar os principais usos da terra e algumas obras
de engenharia que marcam a paisagem desta região.
72
Figura 19 - Usos da Terra no Sistema Campelo
Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos
Figura 20 - Obras de Engenharia no Sistema Campelo
Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos
Acrescentar-se que, apesar da área da bacia apresentar uma pequena ocupação urbana,
as atividades nela desenvolvidas causam impactos negativos aos corpos hídricos. Esses
impactos podem ser percebidos no conjunto de lagoas localizadas na área urbana do
subdistrito de Guarus (Cantagalo, Vigário e Taquaruçu). Sobre isso, Alves e Miro (2014, p.
1), ao discutirem a ocupação da Faixa Marginal de Proteção da lagoa do Taquaruçu
demonstraram que, apesar de sua demarcação ter sido realizada no ano de 2004 pelo Estado,
73
ela encontra-se com suas margens edificadas de forma irregular e o corpo hídrico apresenta-se
eutrofizado e assoreado. A Figura 21 demonstra a evolução de seu uso ao longo do tempo.
Figura 21 - Variação dos usos na FMP da lagoa do Taquaruçu
Fonte: ALVES e MIRO, 2014.
3.1.6 Hidrologia
O estudo de Bacias Hidrográficas tornou-se muito utilizado no Brasil a partir da
década de 1980. Trabalhos empregando o conceito são comuns, como nas obras Argento
(1987), INEA (2007), Coelho Netto (2008), Cunha (2009), Botelho (2012), entre outros.
Desta forma, considerou-se que este recorte espacial é eficiente para integrar dados espaciais
e buscar correlações entre os elementos da paisagem.
A Bacia do Sistema Campelo apresenta duas classes de corpos hídricos relevantes para
esta escala de análise: as lagoas e os canais, naturais ou artificiais. As lagoas ocupam uma
área de 5.824,84 ha, o que corresponde a 7,70% do total da bacia. Foram identificadas 17
lagoas, com áreas que variam entre 15,59 ha (Pedras - SFI), para a menor e 1.922,94 ha
(Saudade), para a maior. A maioria localiza-se sobre o relevo de Tabuleiro (15 lagoas),
estando somente as do Campelo e Arisco localizadas na Planície Fluviomarinha.
Observa-se no Mapa 8 que as lagoas do sistema distribuem-se nos municípios de
Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana: nove no primeiro; seis no segundo; e
74
duas que dividem os municípios (Campelo e Saudade). Acrescenta-se que há lagoas em áreas
urbanas da cidade de Campos (Vigário, Maria do Pilar, Cantagalo e Taquaruçu) e de São
Francisco (Macabu). O conjunto de lagoas localizadas em Guarus (cidade de Campos) está
completamente inserido no aglomerado urbano e apresentam-se muito degradas. As demais
estão localizadas em áreas rurais, afastadas da concentração urbana, havendo somente,
contato com pequenas comunidades.
As lagoas do Sistema Campelo apresentam formas geométricas variadas que Alves et
al. (2015), ao dissertarem sobre elas, destacaram que na região as lagoas Cantagalo, Vigário
(Norte/Sul), Maria do Pilar, Olaria, Taquaruçu, Brejo Grande, São Gregório, Santa Maria,
Saudade, Saco, Funil, Grande, Salgada – SFI (III), Pedras – SFI e Macabu apresentam Forma
Dendrítica, ou seja, são semelhantes a “raízes”; a lagoa do Campelo apresenta Forma
Alongada, caracterizada assim por apresentar um diâmetro de comprimento algumas vezes
maior que o diâmetro de largura; e por fim a lagoa do Arisco, que possui Forma
Circular/Oval, no qual os raios medidos a partir de um ponto central até as margens seriam
semelhantes entre si. No mapa 8, observa-se a distribuição dessas lagoas nos territórios.
Mapa 8 - Rede Hidrográfica do Sistema Campelo
75
Outro elemento marcante na paisagem do Sistema Campelo são os canais de
drenagem. De origem natural ou fruto das obras de engenharia executadas pelo DNOS na
região em décadas passadas, os canais fluviais são os principais responsáveis por direcionar
fluxos hídricos de áreas mais elevadas da bacia (serras e tabuleiros) para a Planície. Nas áreas
de baixada, esses fluxos hídricos encontram as lagoas do Campelo e Arisco, ou seus brejos
periféricos, e depois seguem pelo canal Engenheiro Antônio Resende, até desaguarem no mar
em São Francisco de Itabapoana.
Na verdade, o que acontece é que houve um direcionamento artificial de excedentes
hídricos da margem esquerda do rio, colhidos pelos canais do Vigário e Cataia, em direção à
lagoa do Campelo, para depois suas águas serem levadas ao oceano Atlântico pelo cana
Engenheiro Antônio Resende. É importante lembrar que muitos canais (aproximadamente
1.300 km), foram construídos para drenar o excedente hídrico do rio Paraíba do Sul na
Baixada Campista e lança-los no mar, e que no mapa só estão representados os de grande
dimensão do Sistema Campelo, descritos na tabela abaixo.
Tabela 7 - Identificação, localização e extensão dos principais canais
Município
Extensão
Unidades
Cataia
São Francisco de Itabapoana
7,64
Engenheiro Antônio Resende
São Francisco de Itabapoana
21,02
Campos dos Goytacazes e São
Valão da Ponte
5,32
Francisco de Itabapoana
Vigário
Campos dos Goytacazes
14,28
Fonte: Organizado pela autora.
Destaca-se ainda, que semelhante ao que ocorre com o canal Coqueiros (na margem
direita do rio), estudado por Miro et al. (2014, p. 12), verificou-se por meio de Trabalhos de
Campo, em período de seca, que há inversão do sentido dos fluxos hídricos dos canais da
margem esquerda, ou seja, as águas que deveriam seguir pelos canais do Vigário e Cataia na
direção da lagoa do Campelo e dela para o canal Engenheiro Antônio Resende. Contudo,
observou-se que eles invertem a direção do fluxo, os dois primeiros desaguando no rio
Paraíba e o outro trazendo águas no sentido da lagoa do Campelo.
Na Figura 22 visualizam-se algumas lagoas do Sistema Campelo, localizadas nas áreas
urbana e rural. Nas duas primeiras cenas, a lagoa do Campelo é apresentada em períodos
úmido e seco; a terceira mostra a lagoa do Vigário bastante eutrofizada e edificações da
cidade de Campos ao fundo; na quarta a lagoa do Taquaruçu servindo para a dessedentação de
animais; a quinta mostra a lagoa do Brejo Grande como muitas taboas (Thypha domingensis)
76
na coluna d’água; na sexta imagem observa-se a lagoa de São Gregório em período de seca e
com vegetação queimada na planície de inundação; a sétima mostra as estacas de demarcação
por onde passa o mineroduto que chega ao Porto do Açu, no município de São João da Barra;
por fim, mostra-se a lagoa da Saudade também servindo para a dessedentação de bovinos.
Figura 22 – Paisagem de algumas lagoas do Sistema Campelo
Organizado pela autora. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos
77
A Bacia do Sistema Campelo apresenta uma área total de 756,49 km² ou 75.649 ha,
um perímetro de 189,56 km e 17 lagoas. Nela foram delimitadas 16 sub-bacias, no qual as
lagoas do Campelo e Arisco encontram-se localizadas na mesma sub-bacia. Observa-se que
com as técnicas utilizadas nesta regionalização não foi possível estabelecer o limite
diferencial entre as duas sub-bacias devido a sua posição no relevo e à proximidade entre elas.
Botelho (1999, p. 272) diz que as bacias hidrográficas podem conter um número
variado de sub-bacias, determinado em função das características da área, dos recursos
disponíveis e dos objetivos dessa subdivisão. Ela recomenda, por exemplo que, para realizar
estudos hidrológicos devem ser consideradas escalas que permitam determinar sub-bacias de
aproximadamente 25 km² de área e para planejamento conservacionista, entre 10 e 50 km².
Observa-se ainda que ao delimitar as sub-bacias do Sistema Campelo, alcançou-se um
nível de escala maior do que o estabelecido nesta pesquisa, o que garante maior confiabilidade
das análises realizadas.
Mapa 9 - Sub-bacias do Sistema Campelo
Como disposto no mapa acima, as maiores lagoas apresentam as maiores áreas de
bacia (Macabu, Saudade, Brejo Grande e Campelo/Arisco) e que as formas das bacias
correspondem às formas de suas lagoas (índice de forma). Além disso, observa-se que todas
78
as bacias revelam um fluxo preferencial na direção da bacia do Campelo/Arisco, ocasionado
pela diferença de declividade no qual os fluxos hídricos são direcionados dos tabuleiros em
direção à planície.
A partir dessas informações, foi possível construir uma tabela síntese com dados para
o próximo nível de análise.
Tabela 8 - Síntese das áreas das lagoas e sub-bacias do Sistema Campelo
Cód.
Lagoa
27
28
29
30
31
32
33
47
48
49
50
51
56
57
58
59
60
Macabu
Pedras - SFI
Salgada – SFI (III)
Grande
Funil
Saco
Saudade
Santa Maria
São Gregório
Campelo
Arisco
Brejo Grande
Cantagalo
Olaria
Taquaruçu
Maria do Pilar
Vigário – Norte/Sul
Total
Área da
lagoa (ha)
571,03
15,59
29,37
336,04
22,40
61,58
1.922,94
232,45
180,87
1.262,35
134,97
829,92
31,40
43,59
77,81
23,67
49,86
5.825,84
Perímetro (m)
76.482,22
3.354,71
4.311,06
36.623,05
4.045,38
10.849,34
172.747,16
24.938,94
18.056,44
20.047,75
4.865,54
95.142,89
3.820,13
6.984,51
11.302,28
3.549,39
6.412,71
Áreas da Subbacia (ha)
13.759,86
568,11
330,74
7.773,14
405,05
733,46
26.056,30
2.625,33
1.766,16
4,15
2,74
8,88
4,32
5,53
8,40
7,38
8,85
10,24
10.385,84
13,45
9.035,45
133,14
478,94
787,35
304,29
506,14
75.648,72
9,19
23,58
9,10
9,88
7,78
9,85
7,70
%
Fonte: Organizado pela autora.
Gráfico 5 - Correlação entre as áreas das lagoas e suas sub-bacias
Sub-bacias (ha)
30.000
20.000
10.000
y = 11,797x + 432,78
S² = 0,8572
S = 0,93
0
0
500
1000
1500
Lagoas (ha)
Fonte: Organizado pela autora.
2000
2500
79
Os dados demostrados na tabela acima foram organizados num gráfico de dispersão
(Gráfico 5), no qual mostra a correlação entre as áreas das lagoas e das sub-bacias do Sistema
Campelo. Nele, observa-se que há uma forte correlação (93%) entre as variáveis, o que
reforça a ideia de integração entre os elementos (sub-bacias) contidos na Bacia do Sistema
Campelo. O valor revelado mostra, também, uma consistência do método de demarcação das
lagoas e suas sub-bacias, e consequentemente, do sistema como um todo.
3.2 Dinâmica das variações lineares dos espelhos d’água no Sistema Campelo
A análise multitemporal de elementos da paisagem tem sido realizada por diversos
pesquisadores, dentre os quais podem ser citados os trabalhos recentes de Silva et al. (2012)
que, ao realizarem uma análise temporal do espelho d’água da lagoa Parnaguá, localizada no
estado do Piauí, concluíram que ocorreu uma correlação direta entre a variação do seu espelho
d’água e os fenômenos climáticos El niño e La niña. No primeiro, registraram-se maiores
áreas e no segundo menores, sempre em função da variação da precipitação promovida pelos
eventos ocorridos entre os anos 1989 e 2010.
Lima (2014), ao estudar a variação do espelho d’água da lagoa Feia, utilizou imagens
de satélites e dados históricos, para apontar que sua variação se deu em virtude das atividades
socioeconômicas desenvolvidas no entorno da lagoa, com destaque para as intervenções
(obras de engenharia) promovidas por órgãos públicos como o DNOS.
Enquanto que Vaz (2014), ao pesquisar 36 lagos no Vale do rio Doce, destaca que a
variação das áreas dos espelhos dos lagos mostrou-se pequenas. Registrando maiores
diferenças no período seco, do que no período úmido. Estes trabalhos serviram de apoio ao
desenvolvimento do estudo da variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo,
além de validar o método e as técnicas empregadas.
Esta pesquisa teve como base o uso de imagens de satélites na obtenção de dados
indiretos para, em seguida, organizá-los sob uma lógica teórico-metodológica previamente
definida. Ressalta-se que, além de dados indiretos, também utilizou-se dados climatológicos
obtidos de modo intermediário (precipitação atmosférica disponibilizada pela UFRRJ) e
incursões à campo, para estabelecer as correlações propostas para este trabalho.
Como apresentado nos gráficos abaixo, inicialmente analisou-se a variação dos
espelhos d’água das lagoas individualmente, entre os períodos úmido e seco, seguindo os
critérios de Ano Padrão, descrito no item 3.1.1 deste trabalho.
80
Gráfico 6 - Variação dos espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo
81
Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015.
Ao analisar o comportamento da variação dos espelhos d’água no conjunto de gráficos
acima, verificou-se que as lagoas Pedras – SFI, Salgada – SFI (III), Funil, Campelo e Arisco
mostraram um comportamento semelhante, quando observado que no período úmido seus
espelhos d’água se mantiveram maiores que no período seco (comportamento esperado),
somente apresentando uma queda acentuada no ano de 2015. Por outro lado, a lagoa do Saco
mostrou uma variação contrária do esperado, quando apresenta um espelho d’água maior no
período seco. As demais denotaram um comportamento irregular quando observado os
períodos úmido e seco, não sendo possível estabelecer um padrão na série estudada.
A lagoa Macabu mostrou maior variação no período úmido no ano de 2007, seguida
da lagoa Grande que apresentou dois picos de variação nos anos de 2007 e 2014. Já a lagoa do
Saco mostrou-se bastante irregular, quando mantém seu espelho d’água em período seco
acima daquele considerando úmido. Observa-se, também, que as lagoas do Arisco e do
82
Campelo estiveram secas no ano de 2015. Por fim, vale lembrar que a lagoa Maria do Pilar
não aparece nas análises, pois não apresentou espelho d’água nos períodos estudados.
Ao analisar os espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo de forma integrada,
como exposto no Gráfico 7, notou-se que eles apresentam um comportamento regular e
esperado, com pequena variação quando considerado a média para o período úmido (1.152,41
ha) e seco (1.081,99 ha), porém, com decréscimo importante para o período seco de 2014 e
mais significativo nos dois períodos de 2015, o que determinou uma grande variação quando
considerados os valores mínimo e máximo em relação à média, com Desvio Padrão de 365%
para o período úmido e 305% para o período seco. Chama-se a atenção, ainda, para a
semelhança entre as curvas do Sistema Campelo e o da lagoa do Campelo.
Gráfico 7 - Variação do total dos espelhos d’água do Sistema Campelo
Sistema Campelo
Área Total (ha)
1600
1200
800
400
0
2006
2007
2008
2009
2010
Úmido
2011
2012
2013
2014
2015
Seco
Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015.
Na Tabela 9 Observa-se o Coeficiente de Variação, que é uma medida de tendência
central para mostrar o quanto os espelhos d’água variaram em torno da média no período
estudado. Observa-se que as maiores variações ficaram com as lagoas de Macabu (158%) e
Grande com (185%) no período úmido e (144%) no seco. As menores variações ocorreram na
lagoa de Santa Maria com (14%) no período seco e (11%) no úmido. Ressalta-se ainda, que as
lagoas da Saudade e Campelo mantiveram o mesmo coeficiente de variação para os períodos
úmido e seco, com totais de (25%) e (33%), respectivamente.
83
Tabela 9 - Coeficiente de Variação dos espelhos d’água do Sistema Campelo (2006-2015)
Cód.
Lagoa
C.V. % (Úmido) C.V. % (Seco)
27
Macabu
158
85
28
Pedras - SFI
28
44
29
Salgada – SFI (III)
27
21
30
Grande
185
144
31
Funil
23
41
32
Saco
68
34
33
Saudade
25
25
47
Santa Maria
14
11
48
São Gregório
53
50
49
Campelo
33
33
50
Arisco
49
50
51
Brejo Grande
34
24
56
Cantagalo
80
61
57
Olaria
87
60
58
Taquaruçu
25
22
59
Maria do Pilar
Não há
Não há
60
Vigário – Norte/Sul
21
12
Total
31,69
28,22
Fonte: Organizado pela autora.
De acordo com Coelho Netto (2008), a área que compreende o Sistema Campelo
apresenta déficit hídrico durante todo o ano, sendo menores entre os meses de dezembro,
janeiro e fevereiro, quando pode apresentar um pequeno excedente hídrico que varia entre 0 –
100 mm/mês. Por outro lado, nos meses de período seco apresentam um déficit hídrico de no
mínimo 20 mm/mês. Para ela, a região do Baixo Curso do rio Paraíba do Sul, da sua margem
esquerda até o rio Itabapoana, apresenta uma alta taxa de evapotranspiração potencial (ETP),
motivo pelo qual, os excedentes hídricos sejam pequenos. Assim, ao analisar os espelhos
d’água das lagoas desta região em função dos índices pluviométricos é recomenda-se
considerar esta variável, pois caso contrário, os resultados da pesquisa poderiam ser
mascarados. Desta forma, ao correlacionar as áreas dos espelhos d’água com a precipitação
efetiva é necessário considerar as altas taxas de ETP.
Ao estabelecer correlações entre os espelhos d’água das lagoas do Sistema Campelo é
possível observar no Gráfico 8, que no período úmido as correlações se mostraram mais
positivas do que no seco. Contudo, no período seco (Gráfico 9) as correlações que prevalecem
são as negativas. Esta informação parece nos dizer que no período úmido mais lagoas
aumentam suas áreas de espelhos d’água em função da precipitação. Em contrapartida, no
período seco, as lagoas não diminuem suas áreas de espelhos d’água na mesma proporção que
diminuem os índices pluviométricos. Isso nos leva a entender que o processo é derivado da
84
flutuação do lençol freático, que pelo fato das lagoas estarem numa depressão relativa (vales
encaixados nos Tabuleiros ou Planície Fluviomarinha) o lençol freático estaria mais elevado,
mesmo considerando a alta evapotranspiração na região.
Destaca-se ainda, a correlação positiva (71%) que a lagoa de Santa Maria apresenta no
período úmido, ou seja, conforme aumenta a precipitação, aumenta o seu espelho d’água,
apesar de no período seco ela não apresentar correlação significativa. Por outro lado, a lagoa
do Funil apresenta uma forte correlação negativa no período seco, isto significa dizer que o
seu espelho d’água não decresce em área conforme diminui a precipitação atmosférica, além
disso, não apresenta correlação significativa para o período úmido.
Gráfico 8 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período úmido
71%
80%
41%
39%
39%
40%
48%
40%
33%
27% 28%
20%
12%
0%
0%
-7%
-7%
-18%
-22%
-40%
-38%
-80%
Arisco
Brejo
Grande
Campelo Cantagalo
Funil
Grande
Macabu
Maria do
Pilar
Olaria
Pedras SFI
Saco
Salgada –
SFI (III)
Santa
Maria
São
Saudade Taquaruçu Vigário
Gregório
Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015 e dados
disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
Gráfico 9 - Correlação entre espelhos d’água e precipitação em período seco
80%
39%
40%
27%
1%
4%
9%
0%
5%
0%
-7%
-40%
-22%
-1%
-15% -17%
-35%
-39%
-56%
-58%
-71%
-80%
Arisco
Brejo
Grande
Campelo Cantagalo
Funil
Grande
Macabu Maria do
Pilar
Olaria
Pedras SFI
Saco
Salgada –
SFI (III)
Santa
Maria
São
Saudade Taquaruçu Vigário
Gregório
Fonte: Organizado pela autora a partir de imagens de satélites disponibilizadas pelo USGS, 2015 e dados
disponibilizados pela UFRRJ, 2015.
Para encerrar as discussões propostas neste trabalho, podemos tentar definir melhor o
conceito de lagoas. Elas foram aqui consideradas sob os parâmetros geográfico-
85
geomorfológicos como depressões no relevo cobertas ou não por águas. O que acontece, é que
frequentemente, suas áreas totais são confundidas com seus espelhos d’água. Sobre isso, Lima
et al. (2014) dizem que as lagoas são “[...] tal como um ‘copo’ que pode estar totalmente
preenchido ou não com água”. Acrescenta-se que geomorfologicamente elas devem ser entendidas
através de seus atributos de forma, espelhos d’água, áreas de inundação e vegetação de entorno
(mata ciliar), quando vistas em planta; e calha, margem e planície de inundação quando observada
suas dimensões tridimensionais. Além disso, por serem depressões relativas do relevo, denunciam
o nível do lençol freático local, que é função da precipitação atmosférica e de sua posição no
relevo. Por isso, frequentemente, se tornam mananciais para os diversos usos ecológicos e
socioeconômicos, e assim esses atributos devem ser considerados no seu manejo.
A Tabela 10 mostra uma correlação atual entre as lagoas do Sistema Campelo e seus
respectivos espelhos d’água.
Tabela 10 - Correlação entre a área das lagoas e seus espelhos d’água
Área
Média do Espelho
Média do Espelho
Cód.
Lagoa
(ha)
d’água – úmido (%) d’água – seco (%)
28
Pedras - SFI
15,59
66,36
46,70
31
Funil
22,40
66,42
45,40
59
Maria do Pilar
23,67
0
0
29 Salgada – SFI (III)
29,37
52,65
42,67
56
Cantagalo
31,40
5,47
6,36
57
Olaria
43,59
6,70
5,78
60
Vigário
49,86
28,91
28,83
32
Saco
61,58
10,50
20,32
58
Taquaruçu
77,81
15,01
14,82
50
Arisco
134,97
40,57
32,40
48
São Gregório
180,87
14,35
16,15
47
Santa Maria
232,45
4,44
4,37
30
Grande
336,04
2,33
1,52
27
Macabu
571,03
1,92
1,02
51
Brejo Grande
829,92
4,22
4,09
49
Campelo
1.262,35
61,63
57,68
33
Saudade
1.922,94
7,89
7,96
Total
5.825,84
6,68
5,77
Fonte: Organizado pela autora.
86
O que se percebe ao analisá-las, com base nas informações apresentadas na tabela
anterior é que: no sistema existe uma lagoa que não tem espelho d’água aparente (Maria do
Pilar), ou seja, sua superfície está coberta por vegetação; que lagoas pequenas (até 30 ha),
como as Pedras – SFI, Funil e Salgada – SFI (III) apresentam em média até 66% de espelho
d’água; e as maiores apresentam espelhos d’água pequenos, quando analisados seus tamanhos
em relação à área total da lagoa, podendo ser consideradas quase secas, como por exemplo, as
lagoas da Saudade, Brejo Grande e Macabu. Contudo, o dado que mais chamou a atenção na
Tabela 10 é a pequena média apresentada para os períodos úmido e seco em todas as lagoas e,
que na atualidade há menos águas nas lagoas do Sistema Campelo do que sua geomorfologia
revela.
87
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
88
4. Considerações Finais
A Bacia do Sistema Campelo pode ser entendida como um Geossistema, pois é
possível individualizá-la, classificá-la em conjunto com outras e ser subdividida de acordo
com critérios geomorfológicos de acordo com suas paisagens locais. Para isso, existem
diferentes métodos de distinção e cartografar paisagens em geoambientes, o que permitiu
realizar análises respeitando e distinguindo os níveis de escalas apropriados a cada discussão
(RODRIGUES, et al., 2013, p. 65).
Os processos de regionalização de ambientes abrangem componentes complexos da
dimensão geográfica (climáticos, pedológicos etc.). Este trabalho baseou-se num tipo de
levantamento semi-detalhado, ou seja, utilizou-se de dados climáticos regionais, imagens de
satélites com resolução média e outros dados de ordem regional. Além disso, a obtenção dos
dados foi validada por meio de Trabalhos de Campo, quando se realizou levantamentos
fotográficos e aferições altimétricas, para melhor representação. Dessa maneira, os métodos e
técnicas empregados na pesquisa garantem as informações inferidas nas escalas declaradas.
O tema central do trabalho está relacionado à questão da água. Em que a
vulnerabilidade à sua falta pode parecer episódica, mas é comum observar na paisagem rios
que reduziram o seu volume, principalmente, como foi observado no biênio 2014 – 2015 em
muitas regiões do Brasil, inclusive no Baixo Curso do rio Paraíba do Sul.
Modelos, abordagens e indicadores têm sido empregados para caracterizar e
quantificar a escassez da água, onde conflitos pela água podem ser identificados mundo a
fora. Usando o que relata Richter (2015, p. 41), isto pode indicar um acréscimo significativo
no custo de se obter água; impactos econômicos devastadores, como se observam nas cidades
as margens do rio Doce, atingidas pelo evento da mineradora Samarco; prejuízos no
funcionamento de infraestrutura, como na produção hidroelétrica. A partir disso, pode-se
concluir que a qualidade de vida das populações diminui e a subsistência humana fica
prejudicada com a falta d’água.
As análises acerca do Uso da Terra na Bacia do Sistema Campelo mostraram que as
intervenções realizadas na região fizeram diminuir a quantidade de água na sua bacia, e que o
processo de modernização agrícola na região, levou a abertura de canais e outras obras de
infraestrutura (como comportas e diques), e não em investimentos de implementos agrícolas,
transgênicos e outras “modernidades” da chamada Revolução Verde.
Na Bacia do Sistema Campelo foi identificado, predominantemente o uso agropastoril
(cana e pasto), onde a vegetação nativa foi removida quase que totalmente e a Vegetação
89
Potencial tornou-se apenas uma ideia. O entorno das lagoas também estão ocupados por
pastagens e cana-de-açúcar, atividades altamente dependente de recursos hídricos, pois a
agricultura utiliza cerca de 70% da água consumida pela humanidade. Já nas áreas urbanas do
sistema, as lagoas encontram-se bastante degradadas devido ao tratamento inadequado dos
efluentes líquidos que nelas são lançados diariamente. Tudo isso, denota que não há corpo
hídrico no sistema livre das interferências antrópicas negativas.
Quanto ao clima, foi possível estabelecer um Ano Padrão de Precipitação para a
região. A partir dele, observou-se que ocorrem duas estações bem marcadas e, que na estação
seca chove em seis meses apenas 28% do total anual. Quando se considera o déficit hídrico
regional e a precipitação média de 900 mm/ano, percebe-se que o fenômeno de seca não é
episódico.
Ao observar a estrutura geológico-geomorfológica da bacia, vê-se que os fluxos
hídricos são direcionados: drenam os Tabuleiros na direção da Planície Fluviomarinha, onde
alcançam as lagoas do Campelo e Arisco. Mas apesar disso, nos últimos dois anos elas
estiveram com seus espelhos d’água reduzidos, pois os pequenos excedentes hídricos
regionais são drenados da bacia, pelo canal Engenheiro Antônio Resende, em direção ao mar,
ou seja, o estoque hídrico é descartado. Ressalta-se ainda que o relevo, condicionado pela
estrutura geológica, é que faz mover matéria e energia neste modelo, composto fisicamente
pelos tabuleiros, planície, lagoas e canais, responsáveis por direcionarem as águas do
continente para o mar.
As inferências sobre a variação dos espelhos d’água em função da precipitação no
Sistema Campelo mostraram-se insuficientes (as correlações foram pouco significativas),
onde se percebeu a necessidade de inclusão de outras variáveis para o modelo se tornar mais
representativo, como por exemplo: o Balanço Hídrico e a Variação do Nível Freático.
Contudo, chamou à atenção o fato da curva de variação na série temporal da lagoa do
Campelo, apresentar-se semelhante à do Sistema como um todo, o que pode em estudos
futuros, mostrá-la como um indicador hidrológico de todas as outras.
Por fim, ao estabelecer a correlação entre a área das lagoas com seus respectivos
espelhos d’água, quantificou-se o observado em campo e concluiu-se que as lagoas estão
desaparecendo da paisagem do Sistema Campelo.
90
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
91
5. Referências bibliográficas
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo, Ateliê, 2003.
AMADOR, Elmo da Silva. Lagunas fluminenses: classificação com base na origem, idade e
processos da evolução. SEMINÁRIO SOBRE CONSERVAÇÃO DE RECURSOS
PESQUEIROS, 1., 1986, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: SUDEPE RJ, 1986. p. 1112.
ALVES, Leidiana Alonso; LIMA, Vinícius Santos; MIRO, José Maria Ribeiro; COELHO,
André Luiz Nascente. Classificação Geomorfológica das lagoas da Região Hidrográfica do
Baixo Paraíba do Sul-RJ. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA
APLICADA, 15., 2013, Vitória, ES. Anais... Vitória, 2013, p. 1200-1208. CD-ROM. ISSN:
2236-5311.
______. Os múltiplos usos das águas das lagoas da Região Norte Fluminense/RJ. In: VII
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 2014, Vitória (ES). Anais do VII CBG.
Disponível em: <http://www.cbg2014.agb.org.br/resources/anais/1/1404306354_ARQUIVO
_OsmultiplosusosdasaguasdaslagoasdaRegiaoNorteFluminense.pdf>. Acesso em: 02 de fev.
2015, 13h 30min.
ALVES, Leidiana Alonso; MIRO, José Maria Ribeiro. O novo mapa da Região de São Tomé:
o estudo de caso da Faixa Marginal de Proteção da lagoa do Taquaruçu. V CONGRESSO
FLUMINENSE DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, 2014, Campos dos
Goytacazes/RJ.
ALVES, Leidiana Alonso; MIRO, Diego de Oliveira; LIMA, Vinícius Santos; MIRO, José
Maria Ribeiro. O Pantanal Fluminense: um estudo da correlação entre suas lagoas e o relevo
da Região Norte do estado do Rio de Janeiro. XV ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS DE
AMÉRICA LATINA: POR UMA AMÉRICA LATINA UNIDA Y SUSTENTETABLE,
2015, La Habana, Cuba.
ARGENTO, Mauro Sérgio Fernandes. A contribuição dos sistemas cristalino e barreira na
formação da Planície Deltaica do Paraíba do Sul. Tese (Doutorado em Geografia) –
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio
Claro/SP, 1987.
______. Mapeamento Geomorfológico. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA,
Sandra Baptista da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 9. ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informações e documentos –
trabalhos acadêmicos – apresentação, 2015.
AYOADE, Johnson Olaniyi. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 8. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
BARROS, Juliana Ramalho; ZAVANTTINI, João Afonso. Bases conceituais em climatologia
geográfica. In: Mercator – Revista de geografia da UFC, ano 08, n. 16, 2009.
92
BERNARDES, Lísia Maria Cavalcanti. Tipos de clima do estado do Rio de Janeiro. In:
Revista Brasileira de Geografia. Ano XIV. n. 1. p. 57-80. Janeiro a Março de 1952.
BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas: fundamentos, desenvolvimento e
aplicações. Tradução de Francisco M. Guimarães. 8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. In: Revista
RA´E GA, Curitiba, n. 8, p. 141-152, 1968. Editora UFPR.
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biomas brasileiros. Disponível em:<http://
www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2009/10/biomas-brasileiros>. Acesso: em: 10 dez. 2015,
11h 00min.
BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Planejamento ambiental em microbacia
hidrográfica. In: GUERRA, José Teixeira; SILVA, Antônio Soares da; BOTELHO,
Rosangela Garrido Machado (Org.). Erosão e conservação dos solos: conceito, temas e
aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
______; SILVA, Antônio Soares da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE,
Antônio Carlos; GUERRA, Antônio José Teixeira (Org.). Reflexões sobre a geografia física
no Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
BRÊDA, Thaís Coelho; MELLO, Claudio Limeira; GOMES, Bruno Lopes. Paleoambiente
deposicional da Formação Barreiras na porção centro-sul da área emersa da Bacia de Campos
(Rio de Janeiro). In: XII CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS
DO QUATERNÁRIO – ABEQUA; III ENCONTRO DO QUATERNÁRIO
SULAMERICANO; XIII ABEQUA CONGRESS – THE SOUTH AMERICAM
QUATERNARY: CHALLENGES AND PERSPECTIVES, 9 a 14 out. 2011, Armação dos
Búzios-RJ.
BRIGANTE, Janete; Espíndola, Evaldo Luiz Gaeta. Limnologia Fluvial: um estudo no Rio
Mogi-Guaçu. São Carlos: RiMa, 2003.
BUSSAB, Wilton de Oliveira; MORRETIN, Pedro Alberto. Estatística Básica: métodos
quantitativos. 4. ed. São Paulo: Atual, 1987.
CARELLE, Mário. Brasil-França: cinco séculos de sedução. Rio de Janeiro: Espaço e
Tempo, 1988.
CARNEIRO, Paulo Roberto Ferreira. Dos pântanos à escassez: uso da água e conflito na
Baixada dos Goytacazes. Rio de Janeiro: Annablume, Coppe/UFRJ, 2003.
CASTRO, Iná Elias de. O problema da escala. In: ______; GOMES, Paulo Cesar da Costa;
Corrêa, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e temas. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2012.
CENTRO DE INFORMAÇÕES E DADOS DE CAMPOS. Lagoas, rios e canais da Região
de São Tomé, 2015.
93
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Editora
Edgard Blücher, 1999.
CHRISTOFOLETTI, Anderson Luís Hebling. Sistemas Dinâmicos: as abordagens da Teoria
do Caos e da Geometria Fractal em Geografia. In: VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T. (Org.).
Reflexões sobre a geografia Física do Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
COELHO NETTO, Ana Luiza. Análise e qualidade socioambiental das Regiões Hidrográficas
de Macaé e Rio das Ostras (RH-VII), Baixo Paraíba do Sul (RH-IX) e Itabapoana (RH-X),
Volume 01. Rio de Janeiro [s.n.], 2008.
CONTI, José Bueno; FURLAN, Sueli Angelo. Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In:
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geografia do Brasil. 3. ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2000.
CORREA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
COSTA, Aline Nogueira, POLIVANOV, Helena; ALVES, Maria da Glória. Mapeamento
Geológico-Geotécnico preliminar, utilizando Geoprocessamento, no município de Campos
dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro. In: ANUÁRIO DO INSTITUTO DE
GEOCIÊNCIAS – UFRJ. v. 31 - 1 / 2008, p. 50-64. (ISSN 0101-9759 e-ISSN 1982-3908)
CUNHA, Sandra Baptista da. Bacias Hidrográficas. In: _____; GUERRA, Antônio José
Teixeira (Org.). Geomorfologia do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
ESTEVES, Francisco de Assis. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro: Interciência,
1998.
FÁVERO, Oriana Aparecida; NUCCI, João Carlos; BIASI, Mário de. Vegetação Natural
Potencial e mapeamento da vegetação e usos atuais das terras da Floresta Nacional de
Ipanema, Iperó/SP: conservação e gestão ambiental. In: Revista RA´E GA, Curitiba, n. 8, p.
55-68, 2004. Editora UFPR.
GALVANI, Emerson; LUCHIARI, Ailton. Critérios para classificação de anos com regime
pluviométrico normal, seco e úmido. In: ______; LIMA, Nádia Gilma Beserra de (Org.).
Climatologia aplicada: resgate aos estudos de caso. Curitiba: EDITORA CRV, 2012.
GEIGER, Pedro Pinchas. A Região Setentrional da Baixada Fluminense. In: Revista
Brasileira de Geografia. Ano XVIII. n. 1. p. 3-67. Janeiro a Março de 1956.
GIRARDI, Gisele. Mapas desejantes: uma agenda para a Cartografia Geográfica. In: Revista
Pro-Posições, Campinas, v. 20, n. 3 (60), p. 147-157, set./dez. 2009.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias
de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; Corrêa, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e
temas. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
GUERRA, Antônio Teixeira; GUERRA, Antônio José Teixeira. Novo dicionário GeológicoGeomorfológico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
94
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ortofotos: Projeto RJ
escala 1: 25.000. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/imagens_aereas/ortofoto/projeto_rj
_escala_25mil/tif/>. Acesso em: 20 mar. 2013, 15h 35min.
INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE. Base Temática – O Estado do Ambiente:
indicadores ambientais do Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br
/Portal/MegaDropDown/EstudosePublicacoes/Publicaes/EstadodoAmbiente/index.htm&lang
=PT-BR>. Acesso em: 10 set. 2013, 19h 50min.
______. O Estado do Ambiente: indicadores ambientais do Rio de Janeiro 2010. Disponível
em: <http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/documents/document/zwew/mde1/~edisp/in
ea0015448.pdf>. Acesso em: 10 set. 2013, 21h 00min.
______. Regiões Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.udop.com.br/download/mapas/bacias_hidrográficas/rj.p
df>. Acesso em: 10 set. 2014.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Topodata: Banco de Dados
Geomorfométricos do Brasil, 2011.
JENSEN, John R. Sensoriamento remoto do ambiente: uma perspectiva em recursos
terrestres. São José dos Campos: Parêntese, 2009.
LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES – LIFE. Um
olhar interdisciplinar sobre a Campos de José Cândido de Carvalho: de Olha para o céu,
Frederico! À contemporaneidade. Campos dos Goytacazes, 2014.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. Geologia das Quadrículas de Campos, São Tomé, Lagoa Feia e
Xexé. Boletim nº 154 da Divisão de Geologia e Mineralogia. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 1955.
LANG, Stefan; BLASCHKE, Thomas. Análise da Paisagem com SIG. São Paulo: Oficina de
Textos, 2009.
LIMA, Vinícius Santos. Variação Espaço-Temporal do Espelho D’água da Lagoa Feia, RJ.
2014. 130 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Espírito Santo,
Vitória/ES. 2014.
______; ALVES, Leidiana Alonso; MIRO, José Maria Ribeiro; COELHO, André Luiz
Nascentes. Contribuição a Geografia Lacustre no Brasil: estudo de caso da lagoa Feia/RJ. In:
Revista Geonorte, Edição Especial 4, v.10, n. 1, p. 245-250, 2014. (ISSN 2237-1419).
MARQUES, Jorge Soares. Ciência Geomorfológica. In: GUERRA, Antônio José Teixeira;
CUNHA, Sandra Baptista da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 9.
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
MARTIN, Louis; SUGUIO, Kenitiro; DOMINGUEZ, José Maria Landim; FLEXOR, JeanMarie. Geologia do Costeiro do litoral norte do Rio de Janeiro. Belo Horizonte: CPRM,
1997.
95
MENESES, Paulo Roberto. Princípios de Sensoriamento Remoto. In: ______; ALMEIDA,
Tati de. (Org.). Introdução ao processamento de imagens de Sensoriamento Remoto. Brasília:
[s.n.], 2012.
MIRO, Janaína Santos Lima. Metodologia para a elaboração do zoneamento das áreas
sujeitas à inundação na Baixada Campista/Norte Fluminense – Rio de Janeiro. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Ambiental) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Fluminense. Campos dos Goytacazes-RJ, 2009.
MIRO, José Maria Ribeiro; ALVES, Leidiana Alonso, LIMA, Vinícius Santos; MIRO, Diego
de Oliveira. Gestão participativa dos recursos hídricos da Bacia da Lagoa do Campelo. In: VI
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA; VII SIMPÓSIO
NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA; 1ạ JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS,
22 a 26 set. 2013, João Pessoa-PB.
MIRO, José Maria Ribeiro; ALVES, Leidiana Alonso; SOUZA, Victor dos Santos. A
dinâmica dos fluxos dos canais artificiais e a qualidade das águas no Baixo Curso do rio
Paraíba do Sul. In: VI CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ESTUDIOS
TERRITORIALES Y AMBIENTALES, 8 a 12 set. 2014, São Paulo-SP.
MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Entrevista [nov. 2006]. ASSIS, Eleonora Sad
de. Entrevista concedida a Revista Rua. Campinas, 2006.
MOREIRA, Amélia Alba Nogueira; CAMELIER, Celestina. Relevo. In: Geografia do Brasil.
Rio de Janeiro: SERGRAF – IBGE, 1977.
MOREIRA, Ruy Conceitos, Categorias e Princípios Lógicos para o Método e o Ensino da
Geografia. In: ______. Pensar e ser em Geografia: Ensaios de história, epistemologia e
ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007.
MOURA, Josilda Rodrigues da Silva de. Geomorfologia do Quaternário. In: GUERRA,
Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização
de bases e conceitos. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
NIMER, Edmon. Clima. In: Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: SERGRAF – IBGE, 1977.
OLIVEIRA, Fabiano Antonio de. Estudo do aporte sedimentar em suspensão na baía da
Babitonga sob a ótica da Geomorfologia. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2006.
POLIDÓRIO, Airton Marco; IMAI, Nilton Nobuhiro; TOMMASELLI, Antonio Maria
Garcia. Indicadores de corpos d’água para imagens multiespectrais. Disponível em:
<https://www.ufpe.br/cgtg/ISIMGEO/CD/html/Fotogrametria%20e%20Sensoriamento%20Re
moto/Artigos/f027.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2016, 18h 25min.
RAMALHO, Roberta de Sousa. Diagnóstico do meio físico como contribuição ao
planejamento do uso da terra do Município de Campos dos Goytacazes. Tese (Doutorado em
Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Campos dos Goytacazes-RJ, 2005.
96
RICHTER, Brian D. Em busca da água: um guia para passar da escassez à sustentabilidade.
Tradução de Maria Beatriz de Medina. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da; CAVALCANTE, Agostinho
Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 4. ed.
Fortaleza: Edições UFC, 2013.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento
ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
SALES, Vanda de Claudino. Geografia, Sistemas e Análise Ambiental: abordagem crítica. In:
GEOUSP – Espaço e Tempo. São Paulo, nº 16, p. 125 – 141, 2004.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço habitado. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1994.
SERPA, Ângelo. E qual é o lugar da Geografia Regional no contexto da Geografia. Cadernos
de Geociências, v. 6, 2001. Disponível em:<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/cadgeoc
/article/view/3768/2741>. Acesso em: 14 ago. 2013, 15h 05min.
SERVIÇO GEOLÓGICO DOS ESTADOS UNIDOS. Imagens de satélites. Disponível em:
<http://glovis.usgs.gov/>. Acesso em: 23 nov. 2015, 14h 20min.
SILVA, Sila Carneiro; NASCIMENTO JÚNIOR, Domicio do. Avanços na pesquisa com
plantas forrageiras tropicais em pastagens: características morfofisiológicas e manejo do
pastejo. In: Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, suplemento especial, p. 121-138, 2007.
SILVA, Telma Mendes. Geomorfologia do estado do Rio de Janeiro: distribuição espacial das
feições morfológicas e contexto evolutivo. In: BICALHO, Ana Maria de Souza Mello;
GOMES, Paulo Cesar da Costa. Questões metodológicas e novas temáticas na pesquisa
geográfica. Rio de Janeiro: Publit, 2009.
SILVA, Claudionor Ribeiro; LIMA, Evaldo de Paiva; MACHADO, Jailson Silva. Análise
temporal do espelho d’água da lagoa Parnaguá (PI) usando imagens digitais. In: Ambiência –
Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais, Paraná, v. 8, n. 3, p. 909-919, Set./Dez.
2012.
SOFFIATI NETTO, Aristides Arthur. Histórico Sócio-ecológico: Aspectos históricos das
lagoas do norte do estado do Rio de Janeiro In: ESTEVES, Francisco de Assis. Ecologia das
lagoas costeiras. Macaé: NUPEM/UFRJ, 1998.
______. São Francisco de Itabapoana – RJ: ecossistemas nativos, problemas ambientais e
perspectivas futuras. I ENCONTRO CIENTÍFICO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE
GUAXINDIBA, 2013. Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/docum.en
tes/document/dgfs/mdex/~edisp/producao_portal011873.pdf>. Acesso: 10 nov. 2014, 20h
35min.
SOTCHAVA, Viktor Borisovich. Por uma Teoria de Classificação de Geossistemas de Vida
Terrestre. Série Biogeografia nº 14, IG, USP, São Paulo, 1978.
97
SOUZA, Pilar Amadeu de; MARÇAL, Mônica dos Santos. Hidrossedimentologia e
conectividade do rio Macaé, norte do estado do Rio de Janeiro, Brasil. In: Geo UERJ, Rio de
Janeiro, n. 27, 2015, p. 176-201.
TASSINARI, Colombo Celso Gaeta. Tectônica Global. In: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO,
Maria Cristina Motta de; FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fabio (Org.). Decifrando a
Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003.
TELLES, Dirceu D’Alkimin; DOMINGUES, Antônio Félix. Água na agricultura e pecuária.
In: REBOUÇAS, da Cunha; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galizia (Org.). Águas doces
no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 3. ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.
TRINDADE, Mariuza. Lagos: origem, classificação e distribuição geográfica. 4. ed. São
Carlos: UFSCAR, 1996.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO. Precipitação pluviométrica.
Disponível em: <http://campuscg.ufrrj.br/precipitacao-pluviometrica/>. Acesso em: 29 dez.
2015, 20h 35min.
VAZ, Ciro Lotfi. Análise da dinâmica de variação das áreas de lagos do alto vale do rio
Doce/MG. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) –
Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, 2014.
VEIGA, José Eli da; EHLERS, Eduardo. Diversidade biológica e dinamismo econômico no
meio rural. In: MAY, Peter Herman; LUSTOSA, Maria Cecília; VINHA, de Valéria (Org.).
Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
VIANELLO Rubens Leite; ALVES Adil Rainier. Meteorologia básica e aplicada. Viçosa:
UFV, 2004.
WAGNER, Philip L.; MIKESELLL, Marvin W. Os temas da Geografia Cultural. In:
CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDHAL, Zeny (Org.). Introdução à Geografia Cultural.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
XAVIER DA SILVA, Jorge. Geoprocessamento e Análise Ambiental. Revista Brasileira de
Geografia, v. 54, n. 3. 2 set. 1992.
______. Geomorfologia e Geoprocessamento. In: GUERRA, Antônio José Teixeira;
CUNHA, Sandra Baptista da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 9.
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
98
APÊNDICE
99
Área total das lagoas do Sistema Campelo com seus espelhos d’água entre os anos de 2006 e 2015
Obs.: Unidade de medida utilizada (ha).
Download