3388 O ensino da competência gramatical na prática pedagógica

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O ensino da competência gramatical na prática pedagógica na aula de
Espanhol como LE
Profa. Ms. Valéria Jane Siqueira Loureiro
(UGF/ UniFOA/ FERLAGOS/ CCAA)
“La lengua es la que manda sobre las reglas que
pretenden explicarla, y nunca al revés. Si los
ejemplos no encajan en una explicación
gramatical, hay que rechazarla (o revisarla para
que los acoja). No hay otra opción” (GÓMEZ DEL
ESTAL VILLARINO, 2004, p. 776).
Introdução
Nos últimos anos se suscitou a temática sobre a necessidade ou não de
ensinar-se gramática nas aulas de línguas estrangeiras, sobre até que ponto o ensino
do conteúdo gramatical leva os estudantes a serem falantes eficazes e a
desenvolverem
a
competência
lingüístico-gramatical
suficiente
para
que
se
comuniquem na LE.
A partir do enfoque comunicativo, no âmbito do ensino de línguas
estrangeiras, os conteúdos gramaticais sofreram as repercussões dessa temática
teórica. Há os que defendam o ensino explícito da gramática e os que a reprovem,
assim essa postura afeta diretamente os programas de ensino, os materiais didáticos
e a própria prática docente. O ensino da gramática tende a ser enfocado como um
elemento a mais no desenvolvimento da habilidade comunicativa, cujo objetivo é
praticar a língua no seu uso comunicativo. Isso reflete a posição de que a gramática
está a serviço da comunicação e não deve nunca ser ensinada por si só e fora de
contexto situacional.
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Segundo alguns teóricos, por exemplo, Gelabert e outros (2002), García
García (2001) e Martín Peris (2004), a gramática1 já não protagoniza as aulas de LE,
entretanto, resulta um fator importante e indispensável que atua como um mecanismo
possibilitador pelo qual os estudantes se aproximam do sistema da língua-meta e
alcançam uma competência não só lingüística, mas também sociolingüística,
discursiva e pragmática. Sendo assim, surge a questão de como tratar o componente
gramatical nas aulas de espanhol como língua estrangeira para que não se trate de
um estudo preocupado só pela forma, desconectado do significado, sem ser um
elemento que permita compreender e manejar a comunicação.
1. Que gramática se ensina?
Freqüentemente se escuta a palavra gramática no dia-a-dia. Contudo, a
palavra “gramática” costuma se associar ao uso de três acepções muito diferentes,
entretanto não excludentes. Primeiramente se define como um conjunto de regras
implícitas de um sistema lingüístico ou princípio de organização interna própria de uma
determinada língua: o que alguns lingüistas denominam de competência lingüística.
Uma segunda acepção define-a como a argumentação explícita de normas
que respondem a um registro específico de uma língua: conhecimento reflexivo das
regularidades ou normas de uma língua. Por último, se entende por gramática como o
manual ou livro que corresponde a uma visão ou enfoque sobre a língua ou ponto de
vista particular sobre o saber gramatical próprio de uma língua: determinada escola de
pensamento, determinada teoria sobre o funcionamento interno da língua.
No âmbito do ensino/ aprendizagem de línguas estrangeiras, em particular
do espanhol, se uma análise detalhada é feita nas três acepções apresentadas, estas
nos levam a refletir sobre por que e para que se ensina gramática nas aulas de E/LE.
Ser usuário de uma língua equivale a dispor de una série de conhecimentos e
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habilidades lingüísticas de forma inconsciente. Os falantes nativos de uma língua
dispõem de um conhecimento “instrumental” ou “procedimental”, sabem usar de forma
espontânea um complexo sistema de regras gramaticais e de redes de palavras e
significados para transmitir suas mensagens no transcurso das suas inter-relações
comunicativas.
Esse conhecimento se distingue do “declarativo”, o conhecimento sobre a
língua, e nem todos os que falam uma língua possuem esse conhecimento sobre a
mesma. Ao observar os dois tipos de conhecimentos gramaticais, se estabelece a
questão do tratamento didático do componente gramatical na sala de aula de LE que
leva os professores a deslocarem o foco do conhecimento declarativo da aquisição da
competência comunicativa. A controvérsia sobre ensinar ou não gramática dá lugar a
duas interrogações que são objeto de investigação no cenário da metodologia de
E/LE: Como o ensino gramatical favorece a aprendizagem de uma língua? E como
elaborar e realizar atividades em que se conjuguem gramática e comunicação?
2. O trabalho com a gramática na aula de E/LE
A partir da chamada “revolução comunicativa” os conteúdos gramaticais
passam por uma mudança radical, e as repercussões desse debate teórico entre os
que defendem o ensino explícito da gramática e os que a rechaçam afetaram
diretamente os programas de ensino, os materiais didáticos e a própria prática
docente. A competência gramatical ainda é o foco oferecido pelos professores nas
aulas de LE, seja porque se inserem numa tradição metodológica baseada no ensino
gramatical, seja porque têm uma dependência em utilizar materiais didáticos que na
sua grande maioria se baseiam na gramática. Sabe-se que a gramática realiza a
descrição e a explicação do sistema da língua, que se ocupa dos elementos
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morfológicos e sintáticos e que deixa o léxico para a semântica e os sons para a
fonética.
[…] según algunos gramáticos, la Gramática comprende sólo la Morfología y la
Sintaxis; según otros, abarca también el plano fónico, es decir, el de los sonidos y
los fonemas. […] La Semántica, rama lingüística que se ocupa de los significados,
no es una parte de la Gramática, pero se tiene en cuenta para el control de los
procedimientos formales que se aplican en la Sintaxis y para la explicación de
muchos fenómenos sintácticos […] (GÓMEZ TORREGO, 1998, p. 14).
Nessa perspectiva de gramática, o estudo lingüístico-gramatical apresenta
um problema fundamental no momento de responder a uma concepção mais ampla
em relação ao ensino de língua, que não seja simplesmente a de um conjunto de
regras de natureza nocional, mas que também seja um instrumento de comunicação.
A análise gramatical está no nível da sintaxe oracional e, por isso, exclui todos os
elementos da língua que implicam uma análise no nível do discurso ou do texto.
3. O ensino e a aprendizagem da gramática: para quê?
Sabe-se que ensinar gramática é muito mais que explicar regras e normas
morfossintáticas. Os tempos atuais exigem que nos detenhamos em aspectos
discursivos e pragmáticos, e isso não só por fazer as devidas honras às novas
correntes metodológicas e lingüísticas, mas porque o papel desempenhado pela
gramática na aula de LE é mais amplo, depois do conceito de competência
comunicativa.
A competência comunicativa se divide em cinco outras competências: a
competência lingüística, que se define como o grau de capacidade que um aluno de
um curso de espanhol possui para interpretar e formular frases corretamente em um
sentido habitual e conveniente (uso adequado de regras gramaticais, vocabulário,
pronunciação, entonação e formação de palavras e orações); a competência
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pragmática, que se refere à habilidade para utilizar os elementos lingüísticos
corretamente num contexto situacional; a competência discursiva, que se refere à
habilidade que tem o falante para unir elementos lingüísticos soltos de forma coerente
(saber atuar em nível superior ao da frase); a competência estratégica, que se refere à
habilidade de remediar possíveis falhas nas anteriores competências; e a competência
sociocultural, que se refere ao conhecimento de mundo que vai unido à língua (gestos,
comportamento etc.).
Para o enfoque comunicativo, a gramática é um componente indispensável,
assim como são indispensáveis o componente pragmático, discursivo, estratégico e
sociocultural para o ensino/ aprendizagem da língua. A proposta do desenvolvimento
da competência gramatical, em que se considere a comunicação para descrever e
explicar as normas de funcionamento da língua, se concebe para que se integre
descrição e explicação gramatical com os distintos níveis de ensino da língua para que
resulte em mais ajuda tanto a docentes quanto a discentes da LE.
4. Proposta de prática pedagógica de gramática na aula de E/LE
No processo de ensino/ aprendizagem de LE, o conhecimento reflexivo das
normas características de uma língua desenvolve a competência lingüística, que,
entretanto, muitas vezes, leva a que não haja o desenvolvimento das habilidades
discursivas, imprescindíveis para a ampliação da competência comunicativa dos
estudantes. A tarefa de se transformar as aulas de E/LE em um espaço no qual se
proporcione estruturas gramaticais e informações metadiscursivas em atividades de
tipo processual (leitura e compreensão oral) e de tipo produtiva (expressão oral e
escrita) que capacitem o aluno para a comunicação, desde o ponto de vista
pedagógico, acontece quando se dá importância ao processo de aquisição da língua.
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No enfoque comunicativo, a importância de oferecer aos estudantes os
componentes gramaticais e os funcionais para que os leve à comunicação passa por
desenvolver as estratégias de compreensão e de expressão em LE. Nessa visão, o
uso de textos selecionados a partir de situações argumentativas, publicados nos
jornais e revistas, é o uso de um material acessível, de fácil manejo, de onde se extrai,
de uma situação discursiva, o texto, além das estruturas gramaticais, as intenções
comunicativas e seus expoentes funcionais da língua.
O trabalho com a competência gramatical na aula de LE passa pelo critério
da integração do conteúdo gramatical com as habilidades discursivas (GÓMEZ
CASAÑ, 1996, p. 45-48). Assim, a integração entre as habilidades que se desenvolve
nas atividades didáticas, nesse caso de produção oral e de produção escrita, mediada
pela compreensão leitora, tenta desenvolver as noções gramaticais nos alunos de
maneira inconsciente.
A proposta se desenvolve em três etapas. Na primeira etapa, os estudantes
sem nenhum tipo de input e sem incentivos para a negociação de significados, lêem o
texto previamente escolhido pelo professor na aula. A partir da leitura, os alunos e os
professores refletem sobre o elemento gramatical, previamente preparado pelo
professor, destacando o que se quer ensinar para os estudantes. Depois da leitura, os
estudantes inferem os aspectos semânticos e pragmáticos do tema gramatical em
questão e ativam as regras morfossintáticas, funcionais e semânticas no nível textual.
Na segunda etapa, através do debate sobre o tema oferecido pelo texto, os estudantes
tentam empregar o tópico gramatical estudado que foi levado à aula. Nessa etapa, os
estudantes têm o input dos textos selecionados que partem de situações discursivas e
têm a leitura como atividade prévia, o debate se converte em uma ferramenta para a
construção da orientação discursiva oral dos alunos.
Na terceira e última etapa, se desenvolvem as condições semelhantes às
da segunda etapa, no sentido de que se oferecem os mesmos inputs. Porém, apesar
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das semelhanças das condições pedagógicas oferecidas, os estudantes têm
indiretamente acesso às informações metadiscursivas conseguidas pelo trabalho
precedido da leitura e do debate com a integração da escrita. Na utilização da
habilidade escrita, se espera que os alunos alcancem um nível de adequação maior do
uso da competência gramatical frente ao que apresentam no debate, já que nessa
etapa os discentes tiveram a oportunidade de contornar as dúvidas e dificuldades que
apresentavam antes do trabalho baseado no texto, assim o docente verifica se houve
o fim do processo de transferência da L1 à LE.2
Nas três etapas de trabalho, durante o processo de integração das
habilidades, se objetiva desencadear um processo de inferência de informações
metadiscursivas sobre os elementos gramaticais que funcionam no texto em nível
discursivo, que os manuais de E/LE, na maioria das vezes, não descrevem ou
explicam. Sendo assim, através da situação comunicativa proposta, o texto, o
estudante infere os possíveis empregos e funções do tópico abordado, deduzindo
suas intenções comunicativas e seus expoentes funcionais.
Nessa proposta, a leitura foi o ponto de partida para a atividade de
expressão oral e escrita. Entretanto, no processo de integração entre as habilidades
para contornar as possíveis ausências de descrição e explicação gramaticais, se
possibilita ter outro tipo de habilidade como ponto de partida, como partir da expressão
escrita dos estudantes e integrá-la à oral. A integração das habilidades para o ensino
implícito de um tema gramatical permite adequar o que se quer ensinar às
necessidades apresentadas pelos distintos grupos de estudantes. A abertura dessa
proposta de trabalho leva o professor a analisar a realidade pedagógica na qual se
insere para determinar quais as habilidades integrar e como integrá-las entre si.
5. Considerações finais
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O ensino da competência gramatical é um dos desafios fundamentais que
os professores de espanhol como língua estrangeira encontram na sua prática
cotidiana. O processo de ensino/ aprendizagem dessa competência sempre recebeu e
ainda recebe um especial destaque por parte de todos os métodos de ensino de LE,
inclusive o de enfoque comunicativo. O estudante aprende as normas e o
funcionamento dos elementos da LE, contudo a questão é como proporcionar uma
aprendizagem da competência gramatical na língua estrangeira que capacite os
alunos a transferirem as estratégias gramaticais específicas que possuem na L1 à LE.
A partir das diferentes contribuições gramaticais se faz uma reflexão sobre
o papel da competência gramatical no ensino/ aprendizagem de língua estrangeira, no
caso, o espanhol. O desenvolvimento de estratégias de ensino da gramática, que
extrapole as fronteiras das informações morfossintáticas e metalingüísticas a nível
oracional, leva à inclusão do desenvolvimento das habilidades de organização
discursiva/ textual que se faz necessário para que os alunos consigam alcançar a
competência comunicativa. Proporcionar uma aprendizagem mais implícita do
conteúdo gramatical passa por ensinar aos estudantes o aspecto discursivo e textual
tanto escrito quanto oral, levando-os a reconhecer as estruturas concretas de cada
uma das destrezas através da integração da gramática e das destrezas lingüísticas.
Referências
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Investigación
y
Publicaciones
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Idiomas,
2003.
Disponible
en:
<http://www.encuentro-practico/talleres-2003.html>.
GARCÍA GARCÍA, Sonsoles. El papel y el lugar de la gramática en la enseñanza de
E/LE. Forma 1, p. 9-21, 2001.
GOMEZ CASAÑ, Pilar; MARTÍN VIAÑO, María del Mar. La expresión escrita: de la
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GÓMEZ TORREGO, Leonardo. Gramática didáctica del español. Madrid: SM, 1998.
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Notas
1
Neste trabalho se entende por gramática o raciocínio explícito de normas que respondem a
um registro específico de uma língua ou saber de caráter mais ou menos metódico sobre a
língua.
2
Característica que faz parte do processo de aquisição de língua estrangeira nos estudantes,
principalmente pelo fato de se tratar do português, língua tão semelhante ao espanhol.
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