EDUCAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO GRACCHO CARDOSO

Propaganda
A TRIBUNA CULTURAL,
Estância(SE), 05 de março de 2014.
http://www.atribunacultural.com.br/modules/xnews/article.php?storyid=6554
Cultura: EDUCAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO GRACCHO CARDOSO
(1922-26) – PROPOSTAS E AÇÕES
Crislane B. Azevedo*
A atenção aos assuntos educacionais no governo Graccho Cardoso
podia ser vista nos gastos com o ensino público. Estes apareciam
em crescimento constante na administração Graccho. Cresceu
aproximadamente 34,66% em um período de cinco anos, de 1916 a
1921. Tais despesas aumentaram em 44,03% nos quatro anos
seguintes, de 1921 a 1925.
O aumento pode ser compreendido ao considerarmos a inauguração de novas
instituições de ensino, destacando-se as de ensino profissionalizante e, no que se refere
especialmente ao ensino primário, a expansão dos grupos escolares construídos e inaugurados
entre 1923 e 1925.
Também contribuíram para a elevação das despesas relativas ao ensino público a
compra de casas para melhor instalar as escolas isoladas e o aumento dos salários dos
professores. Durante a administração Graccho Cardoso, os sergipanos conviveram com um
considerável aumento do custo de vida, que forçou o aumento dos salários dos funcionários
públicos. Os professores, com diferenças devidas ao nível de ensino em que atuavam, tiveram
ampliação salarial a ponto de, em certos casos, aproximarem-se a 100% no período
compreendido entre 1917 e 1924.
O fato é que o governo Graccho Cardoso, em relação ao ensino primário, encontrou
construídos em Sergipe quatro grupos escolares, sendo três deles na capital, e, em seguida,
deu prosseguimento à construção dessas instituições, ao inaugurar, a partir de 1923, grupos
escolares em Estância, Simão Dias, Propriá, Neópolis, São Cristóvão, Lagarto e em Aracaju.
A preocupação com a construção dos edifícios escolares representava relações entre
educação e modernidade e isso para além dos muros das instituições, uma vez que havia toda
uma preocupação com as características arquitetônicas dos prédios. A arquitetura deveria
abarcar valores de ordem e disciplina, constituindo-se em signo de modernização do ensino.
Devido à reprovação do governo quanto à estrutura de determinados prédios escolares,
foi determinada a construção de novos também para instituições já existentes, a exemplo do
Grupo Escolar Coelho e Campos. Criado em 1918 e posto em funcionamento em prédio
adaptado (antiga residência do Desembargador Coelho e Campos), apresentava em 1924,
alguns problemas de acordo com o regulamento da instrução. Assim, em 1926 o Grupo teve a
sua sede transferida. O novo prédio atendia às necessidades do ensino primário público e
graduado. Segundo o delegado do ensino do período, Ascendino Argollo, localizado no centro
da cidade, o prédio oferecia fácil acesso à população escolar e possuía características de
higiene, conforto, luz e boas condições de aeração.
A preocupação do governo com o provimento de prédios adequados para as escolas
materializou-se em obras também no que se refere ao ensino secundário. A administração
Graccho dedicou-se à construção, na linguagem do jornal “Gazeta do Povo” de 08/01/1926, do
“suntuoso edifício que vai servir para a instalação do Ateneu Pedro II”, estabelecimento
marcado por grandes diretores, entre eles o professor Abdias Bezerra, Diretor da Instrução
Pública na administração Graccho.
O edifício do Atheneu era grandioso. Suas dimensões, inclusive, excediam as
necessidades do ensino secundário no período que contava, por exemplo, com matrícula total
de setenta e cinco alunos em 1925 e de apenas quarenta e sete em 1926 (vinte e um no 1º
ano, quinze no 2º ano, oito no 3º ano, um no 4º ano e dois no 5º ano). Tal desproporção entre
a grandiosidade do edifício e o público a ser atendido por ele era um fato consciente para o
administrador, que na Assembleia Legislativa do Estado a reconhecia e a justificava afirmando
que a instituição corresponderia aos seus fins por mais de um século.
As muitas iniciativas do governo Graccho e em diferentes setores da sociedade refletiamse também no que se refere à educação, pois neste campo as ações atingiram os vários níveis
de ensino. O ensino profissionalizante, por exemplo, que até então contava apenas com a
Escola de Aprendizes Artífices (1910), cresceu com a construção da Escola de Comércio
Conselheiro Orlando (1923), do Instituto Profissional Coelho e Campos (1923) e do Instituto de
Química Industrial (1926).
Outro exemplo de atenção à formação dos sergipanos ocorreu no ensino superior,
inaugurado em Sergipe em 1924 com a criação da Faculdade de Direito Tobias Barreto. Esse
ensino foi estendido, em 1925, com a implantação da Faculdade de Farmácia e Odontologia. Os
projetos do ensino superior, no entanto, não foram adiante, apesar do entusiasmo inicial dos
planos e do caráter cerimonial que motivava a população para uma ideia de progresso da
sociedade sergipana daquele início de século XX.
A trajetória política bem-sucedida de Graccho Cardoso levava o governante sergipano a
ser concebido como um fator de renovação para o povo sergipano, rumo a situações e práticas
mais modernas, promovendo um ambiente progressista no estado. A criação do ensino superior
significaria o refinamento da vida sergipana, euforicamente celebrado, imortalizando o
administrador.
Nos relatórios oficiais, a política educacional estava sempre presente. Outros governos
dedicaram-se ao ensino público. Seus antecessores, Oliveira Valladão (1914-1918) e Pereira
Lobo (1918-1922), por exemplo, decretaram novos regulamentos para o ensino – Decreto n.
587 de 09/01/1915 e Decreto n. 724 de 29/10/1921, respectivamente. Contudo, o presidente
Graccho Cardoso os superou, quantitativa e qualitativamente.
Exemplo do que foi afirmado acerca da produção legal no governo Graccho foi a
promulgação da Lei n. 852 de 30/10/1923. Tal diploma legal estabelecia as bases para a
reforma do ensino primário e normal do estado. A lei estabelecia definições e diretrizes
essenciais para a reformulação do ensino. Vemos, assim, que em meio a diversas ações um
projeto de reforma começava a ser gerado.
As diversas iniciativas do governo no campo da instrução demonstravam preocupação
também com a formação dos professores, uma vez que regulamentou, por duas vezes, o
ensino normal (Decreto n. 867, de 11/031924; Decreto n. 934, de 04/051926). Essa e outras
ações demonstram que o governo Graccho investiu em educação, ampliando consideravelmente
os gastos com a instrução pública no seu quadriênio (1922-1926).
--------------
* Licenciada e Bacharel em História, Mestre e Doutora em Educação.
Fonte: AZEVEDO, Crislane B. A modernidade no Governo Graccho Cardoso (1922-1926) e a
reforma educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EdUFRN, 2013.
Download