Tempo exterior Nº 31, Vol. XVI (I), 2015, páxinas 33-45 Brasil: do “apogeu” à “crise” Wagner Iglecias Introdução Uma rápida mirada sobre a conjuntura política, social e econômica do Brasil na atualidade mostra a necessidade de se olhar para os principais fatos históricos ocorridos do país nas duas últimas décadas, pois foram nelas que o Brasil consolidou a transição para a democracia, estabilizou sua economia e avançou no combate à pobreza. Desta forma se pode entender um pouco melhor como chegamos até aqui, quando a impressão é a de que o país tem vivido um ciclo pendular de perdas e conquistas, avanços e retrocessos, tanto na política quanto na economia e na sociedade. De fato, o Brasil adentrou à década de 1990 com o duplo desafio de consolidar suas instituições democráticas, reestabelecidas desde 1985 após o fim do regime militar, e estabilizar sua economia, com vistas a debelar a inflação e a desordem das contas públicas, retomar o crescimento e promover a melhoria das condições de vida da população. Àquela época a América Latina estava sendo varrida pela onda neoliberal e seu receituário de redefinição do papel do Estado no desenvolvimento: privatizações de empresas públicas, desregulamentações de toda ordem e abertura comercial, com vistas a diminuir os custos de produção, criar oportunidades de negócios para o setor privado e atrair investimentos internacionais. Após o malogrado governo de Fernando Collor (1990-1992) e o breve interregno do governo de Itamar Franco (1992-1994), o país teve em Fernando Henrique Cardoso (19952002) o representante brasileiro de uma geração de líderes latino-americanos comprometidos com a estabilização da economia a partir da adoção das medidas preconizadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial e do ideário do chamado “Consenso de Washington”. Cardoso fez parte da geração de presidentes latino-americanos que aplicaram o pacote clássico de medidas de choque nas economias da região, como Carlos Andrés Pérez (Venezuela), Carlos Ménem (Argentina), Carlos Salinas de Gortari (México) e Alberto Fujimori (Peru), entre outros. Suas medidas tiveram impacto positivo sobre o processo inflacionário, mas a um custo alto para as contas públicas e para a sociedade, especialmente em relação ao nível de emprego e de renda das classes médias e dos mais pobres. Sob o governo de Cardoso avançou-se na consolidação das instituições democráticas, com a realização periódica de eleições, a completa normalização do funcionamento dos Poderes e a consolidação da Constituição que havia sido promulgada em 1988. Mas a grande marca de seu governo, indubitavelmente, foi o Plano Real, de 1994, pelo qual estabilizou-se a moeda após duas décadas de tentativas por meio de planos econômicos fracassados. O modelo de desenvolvimento puramente neoliberal, no entanto, esgotou-se na virada para o século XXI, não apenas no Brasil mas também nos países vizinhos. E em alguns destes países foi substituído por outro, a partir da ascensão de líderes latino-americanos com Tempo Exterior / 31 (segunda etapa) - xullo/decembro 2015 33 Para acceder á publicación completa prégase cumprimentar o formulario de subscrición: http://www.igadi.org/web/publicacions/tempo-exterior