Avaliação biofarmacêutica do diazepam visando subsidiar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas
Área de concentração: Fármacos e Medicamentos
Sub-área: Análise e Controle de Medicamentos
Universidade Federal
de Ouro Preto
Lorena Barbosa Arrunátegui
Avaliação biofarmacêutica do diazepam visando subsidiar
discussão sobre bioisenção
Ouro Preto
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas
Área de concentração: Fármacos e Medicamentos
Sub-área: Análise e Controle de Medicamentos
Lorena Barbosa Arrunátegui
Avaliação biofarmacêutica do diazepam visando subsidiar
discussão sobre bioisenção
Dissertação submetida ao Programa de PósGraduação em Ciências Farmacêuticas da
Universidade Federal de Ouro Preto para
obtenção do grau de Mestre
Orientadora: Profa. Dra. Jacqueline de Souza
Co-orientadora: Profa. Dra. Neila Márcia Silva Barcellos
Ouro Preto
2013
Dedico este trabalho...
Aos meus pais, que me deram apoio e ensinaram o valor do conhecimento
Ao meu querido Lucas que me ajudou a percorrer o caminho
Aos familiares que de alguma forma estiveram ao meu lado
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me ajudado a chegar até aqui.
Aos meus pais, familiares e ao meu querido Lucas pelo carinho, incentivo e companheirismo.
Ao Programa de Ciências Farmacêuticas (CiPharma) pela oportunidade.
À professora Dra. Jacqueline de Souza, minha orientadora, pela oportunidade, amizade, e
paciência. Ao meu lado eu tive não só uma madrinha nas Ciências Farmacêuticas, mas
também uma amiga.
À professora Neila Márcia Silva Barcellos, minha co-orientadora, pelas contribuições no
trabalho e experiências sugeridas que colaboraram para meu direcionamento e formação
profissional.
À aluna de iniciação científica Gabriella Gonzaga Dutra que, além de ter sido uma grande
amiga, contribuiu ativamente para a obtenção dos resultados, com muita competência.
Aos professores Carmen Aparecida de Paula, Dênia Antunes Saúde Guimarães, Gerson
Antônio Pianetti, José Mário Barrichelo, Márcio Galvão, Mônica Cristina Teixeira e Orlando
David Henrique dos Santos, que de alguma forma colaboraram.
À Patrícia Capelari, Patrícia Monteiro, Thaïs Certo, Pollyana Rodrigues e Karime Bellavinha,
que além dos bons momentos, ofereceram contribuições para meu conhecimento técnicocientífico e aos demais amigos e funcionários do CiPharma que fizeram parte desta trajetória.
Aos mestres que, ao longo da minha vida escolar e acadêmica, foram uma inspiração para o
aprimoramento do conhecimento.
À Fundação Ezequiel Dias na pessoa da Farmacêutica Amália pela doação de matéria prima
utilizada nos experimentos.
À FAPEMIG, ANVISA/MS, CAPES e UFOP pelo apoio financeiro
RESUMO
ARRUNÁTEGUI, L.B. Avaliação biofarmacêutica do diazepam visando subsidiar
discussão sobre bioisenção. 2013. 112p. Dissertação (Mestrado). Escola de Farmácia.
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2013.
A Biofarmácia é a ciência que estuda como as características físico-químicas de fármacos e
formas farmacêuticas influenciam nos efeitos dos medicamentos. A bioisenção é um assunto
inserido nessa ciência e pode ser entendida como a isenção ou substituição do estudo in vivo
de bioequivalência por testes in vitro, quando determinados medicamentos atendem a
parâmetros pré-estabelecidos em legislações e/ou regulamentações. Para que seja possível
bioisentar um fármaco veiculado em formas farmacêuticas sólidas orais de liberação imediata
(FFSOLI) é necessário pesquisar o comportamento do mesmo em relação à solubilidade,
permeabilidade intestinal e dissolução a partir da FFSOLI. Uma ferramenta muito utilizada
para as discussões de bioisenção é o Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB) que
correlaciona a velocidade e a extensão da absorção de fármacos, biodisponibilidade, contidos
em FFSOLI, às características de solubilidade e permeabilidade intestinal. Dados
controversos sobre a solubilidade do diazepam são encontrados na literatura, assim, a
elucidação da classificação biofarmacêutica deste fármaco foi o objetivo central deste
trabalho. Um método analítico para a quantificação do diazepam foi desenvolvido e validado
para possibilitar a realização de estudos de solubilidade e dissolução. O método por
cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) apresentou-se adequado para o objetivo,
sendo linear, preciso e exato na faixa de concentração aplicada aos referidos estudos. Visando
inferir sobre a permeabilidade intestinal do composto, foram avaliados dados na literatura os
quais sugerem alta permeabilidade do diazepam. Os estudos de solubilidade apontaram o
diazepam como um fármaco de alta solubilidade. Em contrapartida, o estudo de dissolução
esclareceu que os três produtos avaliados apresentam uma dissolução insatisfatória em relação
aos parâmetros de dissolução exigidos em bioisenção. Assim, embora o diazepam tenha sido
classificado como pertencente à classe I no SCB, quanto à bioisenção, é necessário avaliar o
risco da recomendação de acordo com a velocidade de dissolução da forma farmacêutica, uma
vez que nos lotes avaliados não foram cumpridos os parâmetros recomendados.
Palavras-chave: diazepam, bioisenção, SCB, solubilidade, dissolução, permeabilidade.
ABSTRACT
ARRUNÁTEGUI, L.B. Biopharmaceutical evaluation of diazepam aiming to support
biowaiver discussion. 2013. 112 p. [Master´s Degree Dissertation]. School of Pharmacy.
Federal University of Ouro Preto, Ouro Preto, 2013.
Biopharmaceutics is the science that studies how physical and chemical characteristics of
drugs and dosage forms influence the effects of drugs. The biowaiver is a subject inserted in
this science and can be understood as the exemption or replacement of in vivo bioequivalence
tests for in vitro evaluation when certain drugs meet pre-established parameters in legislation.
To be possible to biowaive one drug employed in immediate release solid oral dosage forms is
necessary to investigate the behavior of the same with respect to solubility and intestinal
permeability of the drug and dissolution of the tablets. A very useful tool for the discussion of
biowaiver is the Biopharmaceutics Classification System (BCS) that correlates the rate and
extent of absorption of drug, bioavailability, contained in the oral solid dosage forms with
solubility characteristics and intestinal permeability. There are controversial results in the
literature about its solubility, so the elucidation of the biopharmaceutical classification of
diazepam was part of that work. An analytical method for the quantification of diazepam was
developed and validated to enable studies of solubility and dissolution. A High Pressure
Liquid Chromatography (HPLC) method showed to be adequate for the purpose, being linear,
precise and accurate in a concentration range suitable for such studies. In order to infer the
intestinal permeability of the compound were evaluated data in the literature which suggest a
high permeability of diazepam. The solubility studies showed diazepam as a high solubility
drug. In contrast, the dissolution study stated that all three evaluated products have a poor
dissolution compared with the parameters required for biowaiver. Therefore, diazepam drug
was classified as belonging to class I on the BCS. Regarding biowaiver, is necessary to
evaluate the risk of recommendation according to the dissolution rate of the dosage form,
since the products evaluated have not met the recommended parameters.
Keywords: diazepam, biowaiver, BSC, solubility, dissolution, permeability
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Estrutura molecular do diazepam ...................................................................
33
Figura 2
Diazepam - suas principais vias metabólicas e produtos ativos com
respectivos tempos de meia-vida de eliminação ............................................ 35
Figura 3
Gráfico de absorbância (Abs.) versus concentração do diazepam: 0,11 a
13,0 µg/mL nos meios pH 1,2 (a), pH 4,5 (b) e pH 6,8 (c), obtidos por
leitura espectrofotométrica a 284 nm ............................................................. 62
Figura 4
Gráfico de absorbância (Abs.) versus concentração do diazepam: 13,0 a
150,0 µg/mL em meio pH 1,2 (a), 13,0 a 80 µg/mL em meio pH 4,5 (b) e
13,0 a 50,0 µg/mL em meio pH 6,8 (c), obtidos por leitura
espectrofotométrica a 284 nm ........................................................................ 63
Figura 5
Gráficos de Absorbância em função do tempo para amostras contendo
diazepam em tampões: pH 1,2 comprimentos de onda 240 nm (a) e 285 nm
(b); pH 4,5 (c) e pH 6,8 (d) em comprimento de onda 230 nm com e sem
exposição à luz ............................................................................................... 64
Figura 6
Cromatograma do fármaco diazepam na concentração de 15,0 µg/mL em
(a) suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2, (b) tampão pH 4,5, (c)
tampão pH 6,8, obtido por meio de detector DAD em 254nm ..................... 66
Figura 7
Comparação dos gráficos das amostras de 0 e 24 horas e 0 e 48 horas
apresentando a área versus concentração do diazepam na faixa de 0,5 a
170,0 µg/mL nos meios pH 1,2, (a) e (b), pH 4,5 (c) e (d) e pH 6,8 (e) e (f),
obtidos por leitura em detector DAD em 254 nm........................................... 67
Figura 8
Cromatograma da mistura de excipientes comumente utilizados nas
unidades de diazepam, diluídos em a) suco gástrico simulado sem enzimas
pH 1,2; b) meio acetato pH 4,5; c) meio fosfato pH 6,8, pesquisado em 254
nm em detector DAD...................................................................................... 69
Figura 9
Cromatogramas das amostras elaboradas com solução estoque submetida a
diferentes condições de estresse, diluídas em meio pH 1,2. a) SE submetida
à presença de luz; b) calor a 45 °C; c) presença de ácido clorídrico 0,2M; d)
presença de hidróxido de sódio 0,2 M; e) amostra de SE recém preparada,
sem condição de estresse................................................................................ 71
Figura 10
Curva analítica obtida por meio da média de três determinações de soluções
na faixa de concentração de 0,3 a 15,0 µg/mL de diazepam em meio fluido
gástrico simulado sem enzimas (a); 0,3 a 15,0 µg/mL em meio acetato pH
4,5 (b) e 0,3 a 30,0 µg/mL em meio fosfato pH 6,8 (c); quantificadas por
CLAE-DAD em 254nm .................................................................................. 72
Figura 11
Gráficos de resíduos obtidos por meio dos resultados da linearidade em
meios fluido gástrico simulado sem enzimas (a); acetato pH 4,5 (b) e
fosfato pH 6,8 (c) ........................................................................................... 74
Figura 12
Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades do produto
referência (a), genérico (b) e similar (c) em cada um dos meios, suco
gástrico simulado sem enzimas pH 1,2, tampão acetato pH 4,5 e tampão
fosfato pH 6,8 ................................................................................................. 82
Figura 13
Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio suco gástrico simulado sem enzimas
pH 1,2.............................................................................................................. 83
Figura 14
Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio tampão acetato pH 4,5 ..................... 84
Figura 15
Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio tampão fosfato pH 6,8 ..................... 85
Figura 16
Gráficos apresentando estatística descritiva (Box Plot) para dissolução dos
produtos em cada um dos meios: suco gástrico simulado sem enzimas pH
1,2 (a), tampão acetato pH 4,5 (b) e tampão fosfato pH 6,8 .......................... 89
Figura 17
Média da solubilidade do fármaco diazepam (n=3, em cada meio) nos
meios pH 1,2, pH 4,5 e pH 6,8 ....................................................................... 90
Figura 18
Gráficos de concentração versus tempo obtido no estudo de solubilidade de
diazepam em suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2 (a), acetato pH
4,5 (b) e fosfato pH 6,8 (c) e a comparação entre o perfil de solubilidade e o
limite entre alta e baixa solubilidade em cada um dos meios ....................
92
LISTA DE QUADROS
Descrição do modo de preparo dos meios biorrelevantes suco gástrico
simulado sem enzimas pH 1,2; tampão acetato 4,5 e tampão fosfato 6,8
(UNITED, 2010) ............................................................................................
50
Quadro 2
Condições analíticas relativas ao experimento de especificidade ..................
52
Quadro 3
Excipientes presentes nos produtos A (referência), B (genérico) e C
(similar) ................................................................................................
78
Quadro 4
Resultados dos medicamentos referência (A), genérico (B) e similar(C)
após ensaios farmacopéicos ...........................................................................
Quadro 1
80
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Principais requisitos exigidos pra obtenção da bioisenção baseada no SCB ... 27
Tabela 2
Solubilidade do diazepam encontrada na literatura em diferentes meios
mantidos a temperatura de 37°C ...................................................................... 41
Tabela 3
Dados da literatura sobre a permeabilidade do diazepam, obtidos por
diferentes autores e métodos com valores limites de alta permeabilidade
distintos ............................................................................................................ 44
Tabela 4
Excipientes presentes em FFSOLI contendo diazepam (10mg) no Brasil e as
quantidades mínimas e máximas dos excipientes presentes em forma
farmacêutica sólida oral com Autorização de Comercialização (AC) nos
EUAa .........................................................................................................
46
Tabela 5
Intervalos de concentração de diazepam em µg/mL visando avaliar a
linearidade do método espectrofotométrico para sua quantificação nos
tampões pH 1,2; 4,5 e 6,8................................................................................. 51
Tabela 6
Concentrações estabelecidas para triagem do intervalo adequado ..................
Tabela 7
Volumes de solução estoque (SE), 1000 µg/mL, diluídos em tampão pH 1,2;
4,5 e 6,8, para a obtenção das concentrações da curva analítica ..................... 55
Tabela 8
Massa de fármaco adicionada a um volume de 50 mL de cada meio para
realização do teste de solubilidade .................................................................. 59
Tabela 9
Dados de diluição das amostras obtidas durante o estudo de solubilidade ...... 60
Tabela 10
Concentrações estabelecidas para o intervalo validado ...................................
Tabela 11
Equação da reta, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de
correlação (r), para as retas obtidas na determinação da linearidade do
método nos três meios avaliados ..................................................................... 73
Tabela 12
Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental
(CME) e desvio padrão relativo (DPR), referentes à determinação da
repetibilidade do método para a quantificação do diazepam nos três meios ... 75
Tabela 13
Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental
(CME) e desvio padrão relativo (DPR), referentes à determinação em três
dias, da precisão intermediária do método, para a quantificação do diazepam
nos três meios .................................................................................................. 75
Tabela 14
Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental
(CME) e exatidão, expressa em porcentagem, referentes à exatidão do
método para a quantificação do diazepam nos três meios, utilizando
triplicata em três concentrações ....................................................................... 76
53
68
Tabela 15
Resultado do perfil de dissolução em suco gástrico simulado sem enzimas
pH 1,2: média da porcentagem dissolvida de 12 unidades de cada um dos
três medicamentos avaliados (Referência, Genérico e Similar), o desvio
padrão (DP) e a eficiência de dissolução (ED%) ............................................. 83
Tabela 16
Resultado do perfil de dissolução em meio acetato pH 4,5: média da
porcentagem dissolvida de 12 unidades de cada um dos três medicamentos
avaliados (Referência, Genérico e Similar), o desvio padrão (DP) e a
eficiência de dissolução (ED%)........................................................................ 84
Tabela 17
Resultado do perfil de dissolução em meio fosfato pH 6,8: média da
porcentagem dissolvida de 12 unidades de cada um dos três medicamentos
avaliados (Referência, Genérico e Similar), o desvio padrão (DP) e a
eficiência de dissolução (ED%) ....................................................................... 85
Tabela 18
Eficiência de dissolução (ED%) de 12 unidades dos produtos referência,
genérico e similar em cada um dos meios: pH1,2, pH 4,5 e pH 6,8 ................ 88
Tabela 19
Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio fluido
gástrico simulado sem adição de enzima pH 1,2 ............................................. 91
Tabela 20
Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio acetato
pH 4,5 .............................................................................................................. 92
Tabela 21
Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio fosfato
pH 6,8 .............................................................................................................. 92
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abs.
absorbância
AC
autorização de Comercialização
ANOVA
análise de variância
ANVISA
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ASC
área Sob a Curva de concentração plasmática em função do tempo
BDDCS
Biopharmaceutics Drug Disposition Classification System (Sistema de
Classificação Biofarmacêutica Baseado na Disposição dos Farmácos)
CONCIFOP
Congresso de Ciências Farmacêuticas de Ouro Preto
BZDs
benzodiazepínicos
Caco-2
células de adenocarcinoma de cólon humano
CIVIV
correlação in vivo-in vitro
CLAE
cromatografia a Líquido de Alta Eficiência
CLogP
coeficiente de partição óleo/água calculado
C max
concentração plasmática máxima do fármaco
CMD
concentração média determinada
CME
concentração média experimental
CT
concentração teórica
CV
coeficiente de variação
DAD
detector de arranjo de diodos
DCB
denominação comum brasileira
DCI
denominação comum internacional
DP
desvio padrão
DPR
desvio padrão relativo
ED
Eficiência de Dissolução
EMA/EMEA
European Medicines Agency (Agência Europeia de Medicamentos)
FA
fração absorvida
FaSSIF
suco intestinal em jejum simulado
FaSSIFc
suco intestinal em jejum simulado com adição de taurocolato
FDA
Food and Drug Administration
FeSSIF
suco intestinal em estado pós-prandial simulado
FeSSIFc
suco intestinal em estado pós-prandial simulado com adição de taurocolato
FFSOLI
Formas Farmacêuticas Sólidas Orais de Liberação Imediata
FIH
suco intestinal humano
FIP
International Pharmaceutical Federation (Federação Farmacêutica
Internacional)
GABA
ácido gama aminobutírico
HPLC
high pressure liquid chromatography
IUPAC
International Union of Pure and Applied Chemistry
LogD
coeficiente de partição óleo/tampão aquoso
LogP
coeficiente de partição óleo/água
MDCK
Madin-Darbey Canine Kidney (cells)
ND
não declarado
NQ
não quantificável
OMS
Organização Mundial de Saúde
OPAS
Organização Pan-americana da Saúde
P-gp
glicoproteína P
pH
potencial hidrogeniônico
r
coeficiente de correlação linear
R2
coeficiente de determinação
RENAME
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
rpm
rotações por minuto
SCB
Sistema de Classificação Biofarmacêutica
SE
solução estoque
SGFsp
suco gastrintestinal simulado sem pepsina
SIG
Special Interest Group (Grupo de Interesse Especial)
SINPOSPq
V Simpósio Internacional de Pós-graduação e pesquisa
SQR
Substância Química de Referência
t
tempo
TGI
trato gastrintestinal
Tmáx.
tempo que marca a obtenção de Cmax.
TMD
tempo médio de dissolução
TMR
tempo médio de residência
TPGS
D-α-tocoferol polietilenoglicol 1000
USP
United States Pharmacopeia
UV
ultravioleta
WHO
World Health Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................
17
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 19
2.1
Biofarmácia .......................................................................................................... 19
2.2
Conceitos gerais ...................................................................................................
19
2.2.1
Equivalência terapêutica ......................................................................... 19
2.2.2
Equivalência Farmacêutica ..................................................................... 20
2.2.3
Biodisponibilidade absoluta ...................................................................
20
2.2.4
Biodisponibilidade relativa / Bioequivalência .......................................
20
2.3
Medicamentos genéricos ...................................................................................... 21
2.4
Sistema de Classificação Biofarmacêutica ..........................................................
2.5
Bioisenção ............................................................................................................ 24
2.6
SCB e a pesquisa científica .................................................................................. 28
2.7
Dissolução ............................................................................................................ 29
2.8
Solubilidade .........................................................................................................
30
2.9
Permeabilidade intestinal .....................................................................................
30
2.10 Diazepam .............................................................................................................
31
2.10.1 Mecanismo de ação ................................................................................
32
22
2.10.2 Características físico-químicas ............................................................... 33
2.10.3 Farmacocinética ...................................................................................... 34
2.10.4 Estudos de bioequivalência ....................................................................
36
2.10.5 Estudos de dissolução ............................................................................. 37
2.10.6 Estudos de solubilidade ..........................................................................
38
2.10.7 Permeabilidade do diazepam ................................................................
42
2.10.8 Formas Farmacêuticas Sólidas Orais de Liberação Imediata (FFSOLI)
contendo diazepam na dosagem de 10 mg ............................................ 44
3 OBJETIVOS .................................................................................................................
47
3.1
Objetivo geral ......................................................................................................
47
3.2
Objetivos específicos ...........................................................................................
47
4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................
4.1
4.2
48
Materiais ............................................................................................................... 48
4.1.1
Substância Química de Referência (SQR) .............................................
48
4.1.2
Medicamentos ........................................................................................
48
4.1.3
Matéria - prima ......................................................................................
49
4.1.4
Solventes e reagentes .............................................................................
49
4.1.5
Equipamentos .........................................................................................
49
Métodos ................................................................................................................ 50
4.2.1
Desenvolvimento de método para a quantificação de diazepam ............ 50
4.2.1.1 Método Espectrofotométrico ...................................................
51
4.2.1.2 Método Cromatográfico ........................................................... 52
4.2.2
Validação de método cromatográfico para a quantificação de
diazepam ................................................................................................. 53
4.2.2.1 Especificidade e seletividade ..................................................
54
4.2.2.2 Linearidade ..............................................................................
55
4.2.2.3 Precisão .................................................................................... 56
4.2.2.4 Exatidão ...................................................................................
56
4.2.3
Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus excipientes .... 57
4.2.4
Ensaios Farmacopéicos ..........................................................................
57
4.2.5
Estudo de dissolução da forma farmacêutica comprimidos ...................
58
4.2.6
Estudo de solubilidade do fármaco diazepam .......................................
59
4.2.7
Coleta de dados bibliográficos sobre a permeabilidade intestinal do
diazepam .................................................................................................
60
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 61
5.1
5.2
Desenvolvimento de método para a quantificação de diazepam .........................
61
5.1.1
Método Espectrofotométrico .................................................................. 61
5.1.2
Método Cromatográfico .........................................................................
65
Validação de método cromatográfico para a quantificação de diazepam ............
69
5.2.1
Especificidade e seletividade .................................................................. 69
5.2.2
Linearidade ............................................................................................. 72
5.2.3
Precisão ..................................................................................................
74
5.2.4
Exatidão .................................................................................................. 76
5.3
Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus excipientes .................
76
5.4
Ensaios Farmacopéicos .......................................................................................
80
5.5
Estudo de dissolução da forma farmacêutica comprimidos ...............................
81
5.6
Estudo de solubilidade do fármaco diazepam .....................................................
89
5.7
Discussão sobre a permeabilidade intestinal do diazepam ..................................
93
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................
95
APÊNDICE
Apêndice A
Resultado do teste de uniformidade de conteúdo do diazepam em dez
unidades de cada produto ...................................................................... 105
Apêndice B
Teor de diazepam nos produtos A, B e C, obtidos por CLAE, com
detecção no DAD a 254 nm .................................................................
106
Determinação de peso de 20 unidades de cada produto (A, B e C),
peso médio e desvios porcentuais em relação à média .........................
107
Apêndice D
Resultado do teste de friabilidade (n=20, 20 rpm, t=5 minutos)...........
108
Apêndice E
Resultado do teste de dureza com resultados em Newtons (N)
realizado com 10 unidades de cada produto .........................................
109
Apêndice C
ANEXOS
Anexo A
Resumo submetido ao Simpósio Internacional de Pós-graduação
pesquisa (SINPOSPq) 2012 ................................................................
110
Anexo B
Resumo de resultados parciais apresentado em IV CONCIFOP 2013..
Anexo C
Submissão do artigo científico intitulado “Sistema de Classificação
Biofarmacêutica: Importância e Inclusão nas Legislações sobre
Bioisenção” à Revista Panamericana de Salud Pública ........................ 112
111
17
1 – INTRODUÇÃO
A Biofarmácia é uma ciência que estuda como as características físico-químicas dos
fármacos e formas farmacêuticas influenciam nos efeitos dos medicamentos. A atividade
intrínseca do fármaco é fator fundamental para a ação terapêutica, porém não é o único, sendo
o desenvolvimento farmacotécnico igualmente essencial (STORPIRTIS; GAI, 2009).
A ocorrência de ineficácia clínica e toxicidade são preocupações das entidades
regulatórias que ganharam amplo espaço no âmbito científico. Isto pode ser exemplificado
pela importância dada aos estudos de segurança, eficácia e bioequivalência, e pela elaboração
de guias, criação de grupos de estudo e entidades regulatórias pelos Estados Unidos desde
1938 e no Brasil, a partir de 1999. Estas ações deram origem à inclusão de estudos de
bioequivalência e biodisponibilidade relativa às regulamentações para registro de genéricos e
adequação de similares (STORPIRTIS; GAI, 2009).
A Biofarmácia, como um segmento dos estudos farmacêuticos que estão intimamente
ligados à segurança dos medicamentos, esteve presente neste processo e nos últimos anos
colabora com as entidades regulatórias visando o desenvolvimento de normas de registro por
meio dos seus parâmetros auxiliares (OLIVEIRA; MANZO, 2009). Paralelamente ao
desenvolvimento dos guias que definem os critérios de aceitação de genéricos, similares e
modificação de registros, se desenvolveram importantes conceitos, correlacionados e
inseridos nas questões biofarmacêuticas, como o de Sistema de Classificação Biofarmacêutica
(SCB) e o de bioisenção.
O SCB consiste em um esquema científico elaborado por Amidon e colaboradores
(1995), que divide os fármacos em quatro classes, de acordo com a sua solubilidade e
permeabilidade. De acordo com o guia Release Solid Oral Dosage Forms Based on a
Biopharmaceutics Classification System da Agência Regulatória Americana (Food and Drug
Administration – FDA), o SCB considera dissolução, solubilidade e permeação intestinal
como sendo três fatores que possibilitam a previsão da velocidade e extensão da absorção de
Formas Farmacêuticas Sólidas Orais de Liberação Imediata (FFSOLI) (FDA, 2000). Logo,
esses parâmetros podem prever a biodisponibilidade e os efeitos farmacológicos.
A bioisenção pode ser definida como a isenção ou substituição de testes in vivo de
bioequivalência por avaliação in vitro da equivalência farmacêutica, quando determinados
medicamentos atendem a parâmetros pré-estabelecidos (BRASIL, 2003a). Bioisentar um
fármaco acarreta em alguns benefícios, como se pode observar no ramo industrial, por meio
da simplificação no registro de novos produtos, além dos benefícios para a sociedade em geral
18
ocasionando menor demanda por ensaios em voluntários humanos, menor número de análises
laboratoriais e diminuição dos custos que seriam repassados à população (LENNERNÄS;
ABRAHAMSSON, 2005; COOK et al., 2010). Apesar dessas várias vantagens, a avaliação
dos riscos inerentes a bioisenção deve ser conduzida com responsabilidade, avaliando-se os
resultados e relevância dos dados, visto ser um risco bioisentar um produto que não cumpre
criteriosamente os requisitos.
A correlação entre o Sistema de Classificação Biofarmacêutica e a bioisenção ocorre na
medida em que o SCB agrupa os fármacos em classes que, devido às suas características,
poderiam apresentar um perfil farmacocinético em avaliações in vivo comparáveis ao perfil in
vitro e desta forma poderia indicar aqueles passíveis de bioisenção.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulga a listagem de medicamentos
essenciais para cuidados básicos da saúde. O Grupo de Interesse Especial (SIG), que pertence
à Federação Farmacêutica Internacional (FIP) criou a partir desta listagem, edição de 2010,
uma relação de fármacos veiculados nas formas farmacêuticas sólidas orais, possíveis
candidatos à bioisenção. A partir desta lista o SIG visa realizar estudos biofarmacêuticos ou
compilar informações científicas que possibilitem a redação de monografias para os referidos
fármacos visando subsidiar a decisões de bioisenção ou não de novos produtos. O fármaco
diazepam foi sugerido por este grupo como fármaco que necessita de estudos que subsidiem
decisão segura de bioisenção.
No Brasil, de maneira semelhante à OMS, o Ministério da Saúde publica uma Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), contendo os fármacos que são mais
utilizados pela população do país para combater as doenças comuns, sendo fonte de
informação para que os estados elaborem suas listas de assistência farmacêutica básica
(BRASIL, 2010d). O fármaco diazepam, além de estar presente na lista de medicamentos
essenciais da OMS e do SIG, se encontra incluído na Rename.
O diazepam é um fármaco da classe dos benzodiazepínicos, amplamente consumido em
todo o mundo, com importante aplicação terapêutica. É mais utilizado como ansiolítico,
relaxante muscular e anticonvulsivante (CORREIA; ALVES, 2010), sendo também útil para
controlar insônia e aliviar alucinações (RIBEIRO et al., 2010). Neste contexto buscou-se, com
esse trabalho, a elucidação das características biofarmacêuticas do diazepam, bem como,
avaliar os impactos que os excipientes comumente utilizados nos comprimidos podem
ocasionar na sua absorção, com o objetivo de gerar informações que pudessem corroborar
para uma decisão segura em se considerar novos medicamentos contendo este fármaco, como
bioisentos.
19
2
- REVISÃO DA LITERATURA
2.1- Biofarmácia
A Biofarmácia ou Biofarmacotécnica é um ramo dos estudos farmacêuticos que
investiga a influência dos constituintes da formulação nos efeitos farmacológicos. Os estudos
biofarmacêuticos revelam que a qualidade de um medicamento está relacionada não só às
características técnicas fundamentais como teor, pureza, potência e identidade, mas também
aos excipientes, de forma quantitativa e qualitativa, e ao perfil de liberação de fármacos a
partir da forma farmacêutica. As características biofarmacêuticas revelaram-se parâmetros de
comprovação de equivalência farmacêutica, biodisponibilidade relativa, bioequivalência e
consequentemente, equivalência terapêutica (STORPIRTIS; GAI, 2009). No caso de formas
farmacêuticas sólidas orais, as características dos processos de desintegração, dissolução e
liberação do fármaco geram impacto relevante sobre a absorção (LANGENBUCHER, 1978
apud PORTA et al., 2002).
Um exemplo de como a formulação é diretamente relacionável à biodisponibilidade é o
caso de intoxicação por fenitoína na Austrália, em 1968-1969. Pacientes epiléticos
apresentaram sintomas de intoxicação submetidos ao tratamento com cápsulas de 100 mg.
Primeiramente, foi sugerido que houve erro da empresa quanto ao teor do medicamento,
porém, após uma pesquisa acerca de outros fatores, foi verificado que a troca do excipiente
sulfato de cálcio por lactose interferiu drasticamente no processo de biodisponibilidade
(TYRER et al., 1970). Esse foi um caso enquadrado dentro dos estudos biofarmacêuticos
devido à modificação na constituição da formulação alterar o efeito medicamentoso.
2. 2– Conceitos gerais
2.2.1 - Equivalência terapêutica
Dois
medicamentos
são
equivalentes
terapêuticos
quando
são
equivalentes
farmacêuticos e após a administração na mesma dose molar, seus efeitos são semelhantes
quanto à segurança e eficácia (STORPIRTIS; GAI, 2009).
20
2.2.2 – Equivalência farmacêutica
Equivalentes farmacêuticos são medicamentos apresentando a mesma forma
farmacêutica e dose, que são administrados pela mesma via e contém o mesmo fármaco, isto
é, mesmo sal ou éster da mesma substância ativa, podendo ou não conter excipientes
idênticos, desde que os mesmos estejam bem estabelecidos para a função. Os equivalentes
farmacêuticos devem cumprir as especificações das monografias farmacopéicas e, na ausência
dessas, devem cumprir as especificações de outros compêndios oficiais (MARQUES, 2009;
BRASIL, 2010b).
2.2.3 – Biodisponibilidade absoluta
A biodisponibilidade absoluta é o cálculo da comparação da área sob a curva da dose do
fármaco após a administração extravascular de um medicamento e a administração do mesmo
fármaco por via intravascular, que possui por definição, a biodisponibilidade igual a 100%.
(BRASIL, 2002; ARAÚJO et al., 2010).
2.2.4 – Biodisponibilidade relativa / Bioequivalência
Os estudos de biodisponibilidade relativa e bioequivalência atestam a segurança e
qualidade terapêutica dos medicamentos (TAKAGI et al., 2006). O estudo para medicamentos
administrados pela mesma via extravascular deve ser conduzido pela comparação de
parâmetros farmacocinéticos entre os medicamentos referência e teste, visando verificar a
semelhança da biodisponibilidade, ou seja, a intensidade e velocidade de absorção entre eles
(BRASIL, 2002; FDA, 2003).
Primeiramente, para os medicamentos serem considerados bioequivalentes, devem ser
equivalentes farmacêuticos, ou seja, apresentarem a mesma forma farmacêutica a mesma
quantidade e princípio ativo. Quando administrados na mesma dose molar e nas mesmas
condições experimentais, não devem apresentar diferenças estatísticas significativas referentes
à biodisponibilidade (BRASIL, 2002).
Quando a biodisponibilidade relativa é igual a 1 significa que a biodisponibilidade da
produto A é 100% igual ao produto B e implica que os dois medicamentos foram absorvidos
21
na mesma extensão. Porém não indica uma absorção sistêmica completa (ARAÚJO et al.,
2010). Isso porque a biodisponibilidade relativa de 100 % é referente à comparação de dois
produtos equivalentes farmacêuticos administrados pela mesma via extravascular obtendo a
mesma extensão e intensidade de absorção, diferentemente do valor de 100% da
biodisponibilidade absoluta que significa a semelhança estatística entre administração
extravascular e intravascular do mesmo produto e, portanto, indicando absorção sistêmica
completa do produto administrado por via extravascular.
Os estudos de biodisponibilidade relativa e bioequivalência são úteis em casos de
alteração de formulações e processos de fabricação e desenvolvimento de produtos genéricos
(TAKAGI et al., 2006).
2.3 - Medicamentos genéricos
A implantação dos medicamentos genéricos ocorreu no Brasil em 1999, inserida na
política nacional de medicamentos, em um cenário de reorganização da saúde pública
promovida pelo Ministério da Saúde e foi uma das primeiras iniciativas da ANVISA, criada
nesse mesmo ano com o objetivo de proporcionar essa organização. Logo, poderiam ser
geradas maiores garantias de qualidade e segurança para a população (STORPIRTIS;
BUENO, 2008). Objetivou-se, com essa política, estimular a concorrência comercial,
melhorar a qualidade dos medicamentos e facilitar o acesso da população ao tratamento
medicamentoso devido à ampliação das opções de compra do paciente (BRASIL, 1999;
STORPIRTIS; BUENO, 2008). A resposta foi positiva e apresentou benefícios notáveis para
a população. Após três anos dos primeiro registros de genéricos, o preço do medicamento
genérico se apresentava por volta de 40% menor que o preço do medicamento referência e
houve redução de 37 a 65% dos custos para o tratamento de patologias comuns, como por
exemplo, hipertensão, diabetes e colesterol alto (HASENCLAVER, 2004).
Medicamentos genéricos devem ser bioequivalentes ao medicamento referência ou
inovador, ou seja, devem ser equivalentes farmacêuticos e apresentar biodisponibilidade
semelhante a estes, para que possam ser intercambiáveis, com comprovada eficácia e
segurança. É designado pela DCB ou, na sua ausência, pela DCI e geralmente produzido após
expiração ou renúncia da proteção patentária. O medicamento referência é, geralmente, o
inovador que, durante o desenvolvimento, foi submetido a ensaios clínicos que atestaram sua
eficácia e segurança para que lhe fosse concedido o registro (BRASIL, 2001; BRASIL, 2002).
22
Quando um medicamento inovador é desenvolvido, os estudos clínicos que se seguem
durante o processo de pesquisa da nova substância com atividade farmacológica descoberta
envolvem um expressivo tempo de realização, grande número de voluntários e alto
investimento financeiro. De acordo com o “Manual de Boas Práticas em Biodisponibilidade e
Bioequivalência”, os estudos clínicos de biodisponibilidade são divididos em quatro fases e
contam com a avaliação do medicamento em um somatório de 320 a 4350 voluntários nas
fases I, II e III. A fase IV não apresenta um número determinado de pacientes tratados, pois se
enquadra após a obtenção do registro, ou seja, quando o novo medicamento já está disponível
no comércio (BRASIL, 2002).
No processo de desenvolvimento de um medicamento genérico há maior simplicidade.
Estudos de bioequivalência necessitam menos tempo, voluntários e recursos financeiros em
comparação aos estudos clínicos referentes ao lançamento de um medicamento inovador,
porém, ainda assim, continuam representando um grande investimento. Em geral, o período
médio de tempo em que as empresas recebem o resultado do estudo de bioequivalência pode
levar de 3 a 7 meses (MELO, 2005). São necessários um mínimo de 12 voluntários dentro dos
padrões da legislação (BRASIL, 2006). No Brasil, em 2008, foi determinada uma média anual
de 400 estudos de bioequivalência para o registro de genéricos, envolvendo um número
mínimo de 12.000 voluntários (CRISTOFOLETTI, 2012).
2.4 - Sistema de Classificação Biofarmacêutica
O Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB) é um esquema científico, proposto
em 1995 por Amidon e colaboradores, no qual a classificação dos fármacos é dependente dos
parâmetros de solubilidade e permeabilidade, sendo possível separá-los em quatros classes.
As classes de fármacos segundo o SCB se dividem da seguinte forma:
Classe I: Fármacos altamente solúveis; altamente permeáveis;
Classe II: Fármacos pouco solúveis; altamente permeáveis;
Classe III: Fármacos altamente solúveis; pouco permeáveis;
Classe IV: Fármacos pouco solúveis; pouco permeáveis;
A velocidade e a extensão da absorção, biodisponibilidade, são dependentes das
características físico-químicas do fármaco, uma vez que este, normalmente só é absorvido se
for capaz de permear através do lúmen intestinal, o que acontece apenas se estiver
23
solubilizado. Assim, os principais parâmetros limitantes da absorção do fármaco são a sua
solubilidade aquosa e a permeabilidade intestinal. Além desses, fatores como a desintegração
e dissolução da forma farmacêutica sólida também estão relacionados à biodisponibilidade,
conseqüentemente, gerando impacto sobre os efeitos farmacológicos (BALIMANE et
al.,2000; MARTINEZ; AMIDON, 2002; SOUZA et al., 2007). Portanto, conhecendo as
características biofarmacêuticas do medicamento, é possível classificá-lo e saber o que
esperar do seu comportamento referente à biodisponibilidade.
A importância do SCB é evidentemente notável já que sua aplicação se estende aos
guias de algumas das agências regulatórias mais importantes em âmbito mundial, como o
FDA (2000), EMEA (2008) e WHO (2006) e tem beneficiado às indústrias por meio da
concessão de bioisenção a novos produtos. Além disso, sua aplicação tem se mostrado útil em
momentos prévios ao produto final, como no período do estudo da formulação, colaborando
para a otimização da mesma (COOK et al, 2008).
Um dos objetivos com o SCB é auxiliar as decisões regulatórias quanto à substituição
dos estudos de bioequivalência por testes in vitro. Os benefícios incluem a diminuição da
exposição de voluntários, redução da demanda de tempo e custo no desenvolvimento de um
novo medicamento (LENNERNÄS; ABRAHAMSSON, 2005). O uso do SCB como
ferramenta para bioisenção vem sendo de grande utilidade na oferta de medicamentos de
qualidade em países em desenvolvimento, visto que, para realizar um estudo de
bioequivalência é necessária infra-estrutura, muitas vezes, não disponíveis nos referidos locais
(BENET et al, 2008).
Wu e Benet (2005) propuseram o Sistema de Classificação Biofarmacêutica baseado na
Disposição dos Farmácos (BDDCS – Biopharmaceutics Drug Disposition Classification
System), uma versão modificada do SCB que além de considerar solubilidade e
permeabilidade, também se preocupa com o comportamento metabólico do fármaco, como as
vias de eliminação e efeitos de transportadores de efluxo e influxo. O BDDCS não é ainda
válido para fins regulatórios, porém é uma proposta sob avaliação, não como uma substituição
ao SCB e sim, como uma adição aos requisitos visando estabelecer informações mais
fidedígnas sobre os fármacos (BENET et al., 2008). A classificação de fármacos pelo BDDCS
pode representar um grande avanço, uma vez que o fato de desconsiderar o metabolismo dos
fármacos pode gerar falsos dados, por exemplo, um fármaco pode ser classificado como
altamente permeável no SCB, mas seu metabolismo pode não corresponder às expectativas e
isso ocorre principalmente devido às características de hidrofilicidade, peso molecular e o tipo
24
de transporte através de membranas, características intrínsicas ao fármaco (CHEN; YU,
2008).
2.5- Bioisenção
Bioisenção
é
a
isenção
ou
substituição
de
estudos
in
vivo
de
bioequivalência/biodisponibilidade relativa para regularizar o registro de medicamentos,
quando um ensaio in vitro é capaz de substituir o ensaio in vivo de maneira confiável
(STORPIRTIS; GAI, 2009; ARAÚJO et al., 2010).
Para considerar um fármaco como candidato à bioisenção deve-se levar em conta não
apenas as propriedades físicas, químicas e de absorção, mas executar uma análise de riscobenefício do uso de cada produto (WHO, 2006).
A bioisenção colabora com o lançamento de medicamentos genéricos e similares.
Dentro da política de medicamentos vigente no País, as regulamentações sobre genéricos,
similares e os estudos de bioisenção têm como meta final o aumento das opções terapêuticas
disponíveis, com menor custo e segurança comprovada (ARAÚJO et al., 2010).
A diminuição dos investimentos necessários ao desenvolvimento de um novo produto,
sendo este um genérico ou similar, e a menor demanda de tempo devido a não realização dos
estudos in vivo são um incentivo para as indústrias lançarem medicamentos. A economia que
pode ser gerada com a isenção dos estudos in vivo é significativa. De acordo com as
estimativas de Cook e colaboradores em 2010, a cada ano, seria possível economizar cerca de
66 a 76 milhões de dólares caso compostos classe I (alta solubilidade e alta permeabilidade)
fossem bioisentos e 62 a 71 milhões de dólares caso a bioisenção se estendesse à fármacos
pertencentes à classe III (alta solubilidade e baixa permeabilidade). E além desse alívio
econômico, os medicamentos aprovados por este processo oferecem um alto padrão de
qualidade, apresentando vantagem para o consumidor e para a saúde pública e possibilitando
eliminar a exposição desnecessária de indivíduos saudáveis aos fármacos por não requerer
voluntários para os estudos in vivo (LENNERNÄS; ABRAHAMSSON, 2005; COOK et al.,
2010).
Uma vez que o medicamento referência, quando inovador, foi submetido a uma extensa
avaliação nos estudos clínicos para atestar sua eficácia e segurança, é compreensível que
sejam adotados métodos para a isenção de estudos in vivo, uma vez que o medicamento teste
apresente o mesmo fármaco, dose e forma farmacêutica e não apresente excipientes que
25
possam gerar impacto sobre a sua absorção. Vale ressaltar que os estudos in vitro devem
oferecer um perfil de comportamento do medicamento fidedigno ao observado in vivo. Cook e
colaboradores (2010) inclusive relatam indícios de que os testes in vitro têm se mostrado tão
bons quanto testes in vivo para determinar a bioequivalência de formas farmacêuticas sólidas
orais de liberação imediata.
A bioisenção baseada no SCB e nos estudos de dissolução tem sido reconhecida por
algumas agências regulatórias como FDA (2000), EMEA (2008), WHO (2006), ANVISA
(BRASIL, 2011a). Porém é um assunto ainda polêmico e outras agências não a reconhecem,
como por exemplo, a agência regulatória japonesa (YAMASHITA; TACHIKI, 2008).
No Brasil, a bioisenção começou a ser discutida por meio da Resolução nº 897 de 2003,
que declara as formas farmacêuticas que podem ser bioisentas e aquelas nas quais é admitida
a substituição de testes in vivo nas menores dosagens por teste in vitro de equivalência
farmacêutica (BRASIL, 2003a). Em 2010 foi iniciada uma discussão, por meio da consulta
pública nº91 de agosto de 2010, sobre possível aplicação do Sistema de Classificação
Biofarmacêutica para subsidiar decisões de bioisenção (BRASIL, 2010c) e em 2011, a RDC
nº 37 de 3 de agosto foi instituída trazendo os critérios de bioisenção baseados no SCB.
De acordo com o Guia para isenção e substituição de estudos de biodisponibilidade
relativa/bioequivalência, pertencente à legislação brasileira, a possibilidade da bioisenção está
ligada a três diferentes abordagens. Primeiramente, a bioisenção pode ser concedida de acordo
com a forma farmacêutica. Um exemplo seria a concessão para soluções aquosas
caracterizadas como equivalentes farmacêuticos ao medicamento de referência, que
apresentam excipientes de mesma função e que devem ser bem estabelecidos para a forma
farmacêutica em questão, via de administração e em concentrações adequadas à função
pretendida. O segundo tipo de concessão de bioisenção seria a isenção de estudos in vivo para
formas farmacêuticas sólidas orais de liberação imediata (FFSOLI) em dosagens menores de
um mesmo produto cuja maior dosagem, apresentou-se bioequivalente ao referência, desde
que os perfis de dissolução dos fármacos, entre todas as dosagens, sejam semelhantes. Cabe
ressaltar que as formulações devem apresentar quantidade de excipientes proporcionais e
produzidos pelo mesmo fabricante, e farmacocinética linear. E por fim, a terceira
possibilidade que é baseada no Sistema de Classificação Biofarmacêutica, sendo possível
realizar estudos para fármacos candidatos inclusos na Instrução Normativa nº 2 de 14 de
março de 2013 (BRASIL, 2013), que revoga a instrução normativa nº 4 de 3 de agosto de
2011 (BRASIL, 2011b), exigindo formulações com excipientes que não apresentem impacto
sobre a biodisponibilidade, estudos de solubilidade do fármaco, comparação do perfil de
26
dissolução entre medicamento teste e referência, devendo estes perfis apresentarem rápida
dissolução in vitro (BRASIL, 2011a; BRASIL, 2011b; BRASIL, 2013).
Nos guias publicados pelo FDA (2000) e EMEA (2008) é aplicado o critério de
bioisenção para formas farmacêuticas de liberação imediata para fármacos pertencentes à
classe I, que apresentam alta solubilidade e alta permeabilidade e características de dissolução
in vitro rápida (85% em 30 minutos) e os excipientes não ocasionam impacto sobre a
biodisponibilidade. A EMA considera também a bioisenção baseada no SCB para fármacos
classe III (alta solubilidade e baixa permeabilidade) se apresentarem características de
dissolução in vitro muito rápida (85% em 15 minutos) e que possuam excipientes
qualitativamente e quantitativamente similares. Na Tabela 1 estão descritos, resumidamente,
os requisitos exigidos pela ANVISA, FDA, EMA e OMS para a obtenção da bioisenção
baseada no SCB.
Para minimizar os riscos de uma decisão incorreta de bioisenção é necessário
responsabilidade e atenção aos detalhes. O SCB deve ser seletivamente utilizado,
considerando cuidadosamente os riscos de uma decisão equivocada versus os benefícios
inerentes ao desenvolvimento de cada projeto (COOK et al., 2008).
A aceitação da bioisenção se depara com certa resistência por parte das indústrias
farmacêuticas. Há relutância histórica pelas companhias farmacêuticas para prosseguir com a
bioisenção devido à incerteza da aceitação de suas petições pelas agências regulatórias. Isto é
decorrente da ausência de harmonia entre estas o que prejudica a aceitação pelos laboratórios
farmacêuticos (COOK et al., 2010). As agências regulatórias devem universalizar seus
critérios e avaliar as petições rapidamente para possibilitar maior aceitação pelas indústrias
farmacêuticas. O tempo entre a apresentação de um requerimento de bioisenção e o
recebimento de uma aprovação formal não deve demorar.
27
Tabela 1 -Principais requisitos exigidos pra obtenção da bioisenção baseada no SCB
REQUISITOS
Candidatos
segundo SCB
Características
para classificação
de fármacos de alta
solubilidade
Classificação de
fármacos de alta
permeabilidade
AGÊNCIA REGULATÓRIA
ANVISA
FDA
EMA
OMS
Classe I
Classe I
Classe I e III
Classe I, II e III
Maior dose
solúvel em
volume ≤250
mL, pH 1,26,8, 37⁰C.
Maior dose
solúvel em
volume ≤250
mL, pH 1-7,5,
37⁰C.
Maior dose
solúvel em
volume ≤250
mL, pH 1-6,8,
37⁰C.
Maior dose
solúvel em
volume ≤250
mL, pH 1,2-6,8,
37⁰C.
Absorção
≥85%
Absorção ≥ 90
%
Meios de
dissolução
Volume de meio
Aparato e
agitação
Perfil de dissolução
Absorção ≥85% Absorção ≥85%
tampão pH 1,2, 4,5 e 6,8; 37⁰C
900 mL
900 mL
500 mL
900 mL
Pá: 50 rpm/
cesto: 100 rpm
Pá: 50 rpm/
cesto: 100 rpm
Pá: 50 rpm/
cesto: 100 rpm
Pá: 75 rpm/
cesto: 100 rpm
I: dissolução
rápida
III: dissolução
muito rápida
I: dissolução
rápida
II: dissolução
rápida em pH
6,8
III: dissolução
muito rápida
Dissolução
rápida
Fonte: adaptado de BELLAVINHA (2012)
Dissolução
rápida
28
2.6 - SCB e a pesquisa científica
A partir da criação do Sistema de Classificação Biofarmacêutica e a proposta de
bioisenção, se tornou fundamental na área biofarmacêutica a pesquisa capaz de elucidar as
características dos fármacos visando à criação desse conhecimento que, como relatado nesse
trabalho, fornece apoio ético e econômico justificado pela não requisição dos voluntários,
geração de produto de qualidade em pouco tempo e menor demanda de recurso financeiro.
A necessidade da pesquisa científica pode ser exemplificada pelas atividades da
Federação Farmacêutica Internacional (FIP), onde está inserido o Grupo de Interesse Especial
(SIG). Este visa realizar estudos biofarmacêuticos ou compilar informações científicas que
possibilitem a redação de monografias para os fármacos contidos nesta listagem que
subsidiem a indicação para a bioisenção. Vários pesquisadores de diferentes instituições de
pesquisa ao redor do mundo já colaboraram na criação de dados para compor essas
monografias e essas participações são apresentadas no site da FIP. Outras informações, as
monografias já publicadas e os fármacos que requerem mais informações estão disponíveis
em http://www.fip.org/bcs.
Existem trabalhos científicos que objetivam a avaliação do perfil de vários fármacos
disponíveis no comércio. Dentre estes pode-se citar o artigo elaborado por Kasim e
colaboradores no qual foram classificados, provisoriamente, 123 fármacos integrantes de
Formas Farmacêuticas Sólidas de Liberação Imediata, relatados na 12ª lista de medicamentos
essenciais da Organização Mundial de Saúde. Uma parcela de 67% apresentou alta
solubilidade. Quanto à permeabilidade foram sugeridos que 43,1% (valor obtido por LogP) ou
50,4% (valor obtido por CLogP) apresentam alta permeabilidade. A classificação provisória
indica que a porcentagem de fármacos pertencentes à classe I do SCB pode chegar a 23,6%
(baseado em LogP) ou 28,5% (baseado em CLogP). Os fármacos classe III, que são outra
classe com possibilidade de bioisenção, no caso da EMA, apresentaram valores de: 31,7%
(baseado em LogP) ou 35% (baseado em CLogP) (KASIM et al., 2004).
Lindenberg e colaboradores, em 2004, realizaram um estudo com o mesmo objetivo, a
partir da mesma edição da lista de medicamentos essenciais da OMS. Um total de 130
fármacos foi selecionado. Uma parcela de 61 foi classificada com certeza. A divisão desses 61
fármacos entre as classes do SCB se deu da seguinte forma: Classe I: 34%; Classe II: 17%;
classe III: 39%, classe IV: 10% (LINDENBERG et al., 2004). Também com o objetivo de
gerar uma classificação provisória, Takagi e colaboradores, em 2006, coletaram a informação
dos 200 medicamentos mais vendidos nos Estados Unidos, Espanha, Grã-Bretanha e Japão e
29
os classificaram segundo o SCB. Identificaram que cerca de 55% desses medicamentos
continham fármacos que se comportavam como altamente solúveis (classe I e classe III).
Outro dado relevante obtido foi que aproximadamente 30% de todos os fármacos contidos em
Formas Farmacêuticas Sólidas de Liberação Imediata podem ser classificados como altamente
solúveis e altamente permeáveis (classe I) (TAKAGI et al., 2006).
2.7 - Dissolução
A dissolução é um ensaio físico que prevê a quantidade da liberação do fármaco a partir
da forma farmacêutica e o tempo necessário para que isto ocorra (MANADAS et al., 2002). O
resultado é expresso em porcentagem da quantidade declarada no rótulo do produto (BRASIL,
2010a). Esse ensaio é útil no desenvolvimento e otimização das formulações, controle de
etapas críticas da produção, controle de qualidade do produto final e estabelecimento de
correlações in vivo - in vitro (MANADAS et al., 2002).
O estudo de dissolução de medicamentos de liberação imediata se subdivide em três
tipos: (a) coleta em um único tempo (utilizado em controle de qualidade rotineiro), (b) coleta
em dois tempos distintos (aplicado em teste de rotina de controle de qualidade para certos
tipos de medicamentos, por exemplo, medicamentos que apresentam dissolução lenta ou que
são pouco solúveis, como a carbamazepina), (c) perfil de dissolução, que inclui vários pontos
temporais (utilizado para comparar os perfis de liberação dos fármacos sendo aceito como
parte dos requisitos em estudos de bioisenção e alteração pós-registro) (FDA, 1997; BRASIL,
2010b).
A legislação determina que as condições do ensaio devem incluir utilização do Aparelho
I (cesta) em 100 rpm ou aparelho II (pá) em 50 rpm em um volume de 900mL em cada um
dos seguintes meios: (1) HCl 0,1M ou suco gástrico simulado sem enzimas, (2) tampão pH
4,5; e (3) tampão pH 6,8 ou suco intestinal simulado sem enzimas, na temperatura de 37 ±
1ºC. Para que o resultado do ensaio colabore com a decisão de bioisenção, os medicamentos
teste e referência devem demonstrar semelhança no perfil de dissolução (FDA, 2000;
BRASIL, 2011a). O valor de pH deve ser registrado no início e no final do experimento
(BRASIL, 2011a).
O medicamento classificado como de rápida dissolução é aquele que apresenta
quantidade dissolvida superior a 85% da quantidade declarada do fármaco, dentro de 30
minutos. O medicamento de dissolução muito rápida é aquele em que 85% do fármaco se
30
dissolve em até 15 minutos usando os três meios de dissolução biorrelevantes e neste caso, a
comparação do perfil usando o fator de semelhança F2, nem mesmo é necessária (FDA,
2000).
2.8 - Solubilidade
Para que ocorra a absorção do fármaco, o mesmo deve se encontrar em solução no sítio
ativo, independente do mecanismo de transporte. A solubilidade é uma característica que
impacta diretamente a biodisponibilidade, uma vez que a liberação do fármaco é dependente
deste parâmetro (PANCHAGNULA; THOMAS, 2000).
É interessante que o fármaco seja solúvel em água, porém não em excesso. Se ele
apresenta alta solubilidade, caso a formulação não prejudique, apresentará boa dissolução. No
entanto, a alta solubilidade pode gerar baixa permeabilidade, devido à alta polaridade da
molécula e pobre lipofilicidade. Uma característica que permite que o fármaco tenha a
tendência de ser mais solúvel em água é o perfil ionizado, em vez de não ionizado
(MARTINEZ; AMIDON, 2002).
O fármaco é considerado altamente solúvel quando a maior dose administrada em uma
única vez é solúvel em 250 ml ou menos de meio aquoso com faixa de pH entre 1–7,5 em
37°C (FDA, 2000). EMA (2008), ANVISA (2011) e WHO (2006) apresentam os mesmos
parâmetros, com exceção da faixa de pH 1-6,8. Um procedimento referencial para a
determinação da solubilidade é realizado por meio do método que engloba adição de um
excesso do fármaco ao meio biorrelevante, agitação durante um determinado período,
filtração ou centrifugação da suspensão e quantificação da parcela dissolvida (ROY et al.,
2001 apud MANADAS, 2002).
2.9 - Permeabilidade intestinal
Para atingir concentrações terapêuticas adequadas, um dos fatores que devem ser
levados em conta quando se administra um fármaco por via oral é sua capacidade de
apresentar boa permeabilidade intestinal. A absorção de fármacos é um processo dinâmico e
complexo onde se deve considerar, além das características intrínsecas do fármaco como peso
e tamanho molecular, pka, lipofilicidade (logP/ logD), carga/ionização e solubilidade, também
31
a capacidade de absorção por mecanismos de transporte ativo ou passivo, a ocorrência de
influxo e efluxo das substâncias (BALIMANE et al., 2000) e as condições fisiológicas do
indivíduo (MARTINEZ; AMIDON, 2002).
É
necessário
lembrar
que
solubilidade,
permeabilidade
e
dissolução
estão
correlacionadas. Um exemplo disso é que no caso de um fármaco altamente solúvel e
altamente permeável, o aumento da dose pode gerar maior absorção. Entretanto, se o fármaco
for pouco solúvel, o aumento da dose não ocasionará maior absorção, podendo inclusive
prejudicá-la (MARTINEZ; AMIDON, 2002).
Existem diferentes modelos desenvolvidos para a determinação da permeabilidade, os
quais podem ser classificados como in vivo, in situ, in vitro e in silico (BALIMANE et
al.,2000; SOUZA et al.,2007). O uso de células em monocamada Caco-2, gera resultados in
vitro mais aceitos hoje em dia no meio científico e são muito utilizadas devido à similaridade
com as células intestinais, capacidade de expressar alguns transportadores (JUNG et al, 2006)
e por ser proveniente de célula humana (BALIMANE et al., 2000).
Conforme citado anteriormente, os estudos de biodisponibilidade apresentam como
ponto negativo o custo de realização (MELO, 2005) e por isso, os métodos que estabelecem
correlações in vivo - in vitro confiáveis são uma alternativa significativamente apreciável para
determinação das características do fármaco.
2.10 –Diazepam
Os benzodiazepínicos (BZDs) lançados no mercado na década de 1960 apresentam uma
contribuição significativa para a farmacoterapia da população mundial, principalmente nos
transtornos da ansiedade e do sono. Dentre outras propriedades farmacológicas é possível
incluir efeitos sedativos, de relaxamento muscular, hipnóticos e anticonvulsivantes. Dentre as
maiores vantagens clínicas dos BZDs estão à elevada eficácia clínica, rápido início de ação e
toxicidade reduzida, atributos estes comparáveis a poucos fármacos (RISS et al., 2008).
O diazepam é um fármaco da classe dos benzodiazepínicos, sendo uma substância
psicotrópica pertencente à lista B1 da Portaria 344/98 (BRASIL, 1998). É mais utilizado
como ansiolítico, relaxante muscular e anticonvulsivante que propriamente como hipnótico
(CORREIA; ALVES, 2010) e também é útil no controle de insônia e alívio de alucinações.
Pode ser usado para aliviar a agitação, tremores e alucinações durante a abstinência ao álcool.
32
Atualmente compõe medicamentos amplamente consumidos em todo o mundo (RIBEIRO et
al., 2010). Seus efeitos adversos mais comuns são sedação, sonolência, ataxia, vertigem, dor
de cabeça e confusão (RANG et al., 2001). Pode causar dependência e por isso recomenda-se
que a dosagem seja a menor possível, com uma redução gradual ao término do tratamento.
Em caso de abstinência, os efeitos mais comuns incluem ansiedade, insônia, dor de cabeça,
zumbido, perda de apetite, tremor, vertigem, irritabilidade, distúrbios tais como
hipersensibilidade visual e auditiva, dentre outros (MARTINDALE, 1993).
O diazepam é um fármaco que está no mercado há muitos anos, uma vez que sua síntese
se deu por volta de 1961 e sua comercialização iniciou-se em 1963 nos Estados Unidos. Sua
utilização pela população foi ampla e continua até os dias atuais. De 1990 a 1995 apresentava
altas taxas de vendas principalmente nos Estados Unidos, Brasil, Japão, Itália, Espanha e
Reino Unido (IARC, 1996). No ano de 2012, foram encontrados cerca de 580 produtos
contendo diazepam comercializados ao redor do mundo (ILAE).
Ele é distribuído pela rede pública de saúde no Brasil. Pertence à Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (Rename) do Brasil (BRASIL, 2010d), assim como a lista de
medicamentos essenciais da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2010). Além disso, o
Grupo de Interesse Especial (SIG), que pertence à Federação Farmacêutica Internacional
(FIP) criou a partir da listagem da WHO, edição de 2010, uma relação de fármacos veiculados
nas formas farmacêuticas sólidas orais, possíveis candidatos à bioisenção, incluindo-se o
diazepam.
2.10.1 – Mecanismo de ação
Sendo um benzodiazepínico, o diazepam age no organismo atuando sobre o GABA,
principal neurotransmissor inibitório no cérebro, localizado nas membranas neuronais do
sistema nervoso central. Benzodiazepínicos se ligam com elevada afinidade a um sítio
acessório sobre o receptor GABAA das células de modo que a ligação do GABA fica
facilitada e o efeito do neurotransmissor inibitório é potencializado. Sua ligação a uma das
subunidades do complexo, afeta a condutância de cloreto para dentro de fibras longas dos
neurônios e inter-neurônios no sistema nervoso central, aumentando a eficiência da
transmissão GABAérgica (RISS et al., 2008).
33
2.10.2 – Características físico-químicas
As características físico-químicas de um fármaco são importantes, pois exercem
influência sobre seus efeitos farmacológicos e parâmetros farmacocinéticos, uma vez que é
possível prever a velocidade de absorção e eliminação, tempo para atingir a concentração
plasmática máxima, biodisponibilidade e tempo de permanência no organismo, dentre outros
fatores, por meio da comparação de características físico-químicas entre fármacos novos e
fármacos análogos, que apresentam dados farmacocinéticos e farmacológicos conhecidos
(LITVIN et al., 2004).
O diazepam é um benzodiazepínico de ação longa. Sua fórmula química é
C16H13ClN2O,
denominada
(7-cloro-1,3-dihidro-1-metil-S-fenil-2H-1,4-benzodiazepin-2-
ona). Sua estrutura molecular está representada na Figura 1. O fármaco pode ser considerado
uma molécula pequena, cujo peso corresponde a 284,7 Da. Seu ponto de fusão está entre 125
e 126 ºC (MARTINDALE, 1993) e o pKa é 3,4 sendo o LogP (log D) em pH 7,4 é 2,58.
(LINDENBERG, 2006). O logP também pode ser encontrado como 3,2 (ZAKI et al., 2010).
O diazepam apresenta lipofilicidade intermediária, visto que é solubilizado em solventes
como metanol e etanol. É praticamente insolúvel em água, solúvel em álcool e livremente
solúvel em clorofórmio, da seguinte forma: a 25°C, 1g diazepam é solúvel em 333 ml de
água, 2 ml de clorofórmio, 16 ml de etanol e 39 mL de éter (MARTINDALE, 1993;
GENNARO, 1995). O fármaco, em sua forma de matéria-prima, pode ser encontrado como
um pó cristalino amarelo ou branco, sem odor ou com mínimo odor. Deve ser armazenado em
recipiente hermético e protegido da luz (MARTINDALE, 1993). Possui sabor ligeiramente
amargo (GENNARO, 1995).
Figura 1 - Estrutura molecular do diazepam
Fonte: ROUINI et al., 2008
34
2.10.3 – Farmacocinética
Compostos altamente lipofilicos, como o diazepam, possuem rápido inicio de ação.
Quando administrado por via oral e por via intravenosa, seus efeitos iniciam-se em torno de
30-90 minutos e 8 minutos, respectivamente. Ele apresenta modelo de distribuição
bicompartimental, com rápida distribuição pelo sangue e perfusão pelos tecidos. Uma longa
fase de eliminação é observada para esse fármaco (HORN; NESBIT, 2004).
O diazepam apresenta rápida e completa absorção no trato gastrintestinal (TGI) quando
administrado por via oral, sendo esta influenciada por fatores inter-individuais, como por
exemplo, a idade, que reduz a sua biodisponibilidade (HORN; NESBIT, 2004). Por essa via, o
fármaco é rapidamente absorvido apresentando picos de concentração de 30 a 90 minutos
após administração (RISS et al., 2008).
O diazepam é um fármaco lipofílico que atua no sistema nervoso central, apresentando
uma considerável capacidade de passagem através da barreira hematoencefálica (RISS et al.,
2008). Considerando a existência de elevada expressão de P-gp, que são transportadores de
efluxo, modulando essa passagem na barreira hematoencefálica, Feng e colaboradores (2007)
avaliaram a interação de fármacos com P-gp. Para tal foram utilizados modelos contendo
células MDCK, MDR1-MDCK humano e Mdr1a-MDCK de rato. Foram obtidos resultados
de que o uso de Mdr1a-MDCK é confiável para prever a absorção de diazepam em humanos
uma vez que este não é substrato da P-gp. Zhao e colaboradores (2009) realizaram uma
avaliação da permeabilidade do diazepam através da barreira hematoencefálica usando técnica
in situ de perfusão em cérebro de ratos para verificar a diferença provocada pela P-gp, usando
modelos animais com e sem expressão do referido transportador. Os autores encontraram o
mesmo valor de permeabilidade entre os grupos mostrando que a influência de P-gp foi
inexistente.
O volume de distribuição do diazepam é 0,95–2,0 l/Kg (RISS et al. 2008). Apresenta
alta ligação às proteínas plasmáticas, sendo descritos valores em torno de 96-99% (HORN;
NESBIT, 2004).
O principal métabólito do diazepam, o N-desmetildiazepam (nordiazepam) é menos
ativo que o diazepam e pode comportar-se como agonista parcial (MCNAMARA, 2010). Os
efeitos do diazepam são atribuídos também a outros metabólitos, como o 3-hidroxidiazepam
(temazepam) e oxazepam (RISS, 2008). Se sabe que seus metabólitos são excretados no leite
materno (HORN; NESBIT, 2004). O tempo de meia vida de eliminação do diazepam é por
35
volta de 20 a 50 horas, podendo chegar até 100 horas e de seu principal metabólito, 36 a 40
horas, podendo chegar a 200 horas (ASHTON, 1994; RISS et al., 2008).
Figura 2- Diazepam - suas principais vias metabólicas e produtos ativos com respectivos
tempos de meia-vida de eliminação (Adaptado de RISS et al., 2008)
Fonte: adaptado de RISS et al., 2008
Interações medicamentosas potencialmente relevantes entre diazepam e compostos que
inibem ou induzem as enzimas hepáticas do citocromo P450, CYP3A4 e CYP2C19 devem ser
consideradas. Efeitos de natureza farmacodinâmica, farmacocinética ou combinadas do
diazepam são influenciados diretamente por esses compostos. Devido à possibilidade de
consequências decorrentes de interações medicamentosas devem ser tomados cuidados
quando se torna necessária a administração conjunta de diazepam com outros fármacos.
Alguns medicamentos atuam como inibidores do metabolismo do diazepam, como a
cimetidina, diltiazem, fluvoxamina, omeprazol, oxcarbazepina, ticlopidina e topiramato.
Exemplos de indutores do seu metabolismo são a carbamazepina, fenobarbital e rifampicina
(FLOCKAHART, 2007).
36
Os parâmetros farmacocinéticos observados durante administração aguda do diazepam
podem ser diferentes e determinantes nos efeitos clínicos comparados com o tratamento a
longo prazo, uma vez que a biotransformação parece ser mais expressiva em pacientes
submetido ao tratamento por mais de três anos (GREENBLATT et al., 1981). O diazepam e
seus
metabólitos
são
eliminados
principalmente
pela
urina
(cerca
de
70%),
predominantemente sob a forma conjugada (HORN; NESBIT, 2004). A via de eliminação
principal é a excreção renal, sendo 75% do fármaco eliminado dessa forma (RISS,2008).
2.10.4 - Estudos de bioequivalência
Um pequeno número de trabalhos sobre estudos de bioequivalência do diazepam está
presente na literatura e conclusões de bioequivalência e bioinequivalência foram encontradas.
Locniskar e colaboradores, em 1989, realizaram um estudo de bioequivalência entre o
medicamento referência (Valium®) e um medicamento genérico, na dosagem de 10
mg/comprimido com a participação de 26 homens adultos saudáveis. A dosagem foi única e a
quantificação de diazepam e desmetildiazepam se deu até 264 horas após a administração, em
cada período. Os valores de ASC e Cmax do medicamento referência foram
significativamente
maiores
em relação
ao
medicamento
teste.
Foi concluída
a
bioinequivalência entre ambos. Nesse mesmo experimento foi realizado teste de dissolução
em Ácido Clorídrico 0,1N e tampão acetato pH 4,5. O resultado da dissolução em pH ácido
foi satisfatório, porém em pH 4,5 a dissolução do medicamento genérico obteve um perfil de
dissolução mais lento em relação ao medicamento referência. Portanto é possível sugerir que
a bioinequivalência possa ter sido causada devido às características da formulação do
genérico que podem ter ocasionado dissolução lenta em determinados locais do TGI com pH
próximo a 4,5. Os excipientes usados nos medicamentos referência e genérico podem ter sido
diferentes (BORGHERINI, 2003), o que pode ter ocasionado o perfil de liberação
diferenciado, e consequentemente, comprometer a segurança e eficácia do medicamento teste.
Outro estudo de bioequivalência foi realizado por Domínguez e colaboradores (1994)
utilizando três produtos diferentes na forma de comprimidos de 5 mg, comparando com o
medicamento referência (Valium®). O estudo contou com a participação de 8 pacientes
psiquiátricos em um estudo cruzado, com múltiplas doses. Amostras de sangue
foram coletadas após o fármaco ter alcançado o estado de equilíbrio. Não foram encontradas
diferenças estatísticas nas concentrações plasmáticas dos indivíduos com a administração das
37
quatro formulações no regime de múltipla doses, confirmando equivalência entre os
tratamentos (DOMÍNGUEZ et al., 1994).
2.10.5 –Estudos de dissolução
Os métodos e objetivos de estudos de dissolução encontrados para o diazepam são
variáveis. Alguns artigos abordam o desenvolvimento farmacotécnico com a preocupação em
detectar a influência de variáveis críticas de fabricação, seja a respeito dos excipientes na
formulação ou na técnica de compressão empregada, bem como os efeitos que diferentes
meios de dissolução podem provocar no perfil de liberação do fármaco (VRANIC et al., 2002;
SEO et al., 2003; DOKOUMETZIDIS; MACHERAS, 2006). O número de dados relativos a
estudos de dissolução realizados em meios biorrelevantes com o objetivo de avaliar a
equivalência entre uma formulação já estabelecida e um medicamento genérico é pequeno,
visto que os trabalhos publicados se concentram mais na avaliação das variáveis
farmacotécnicas.
Locniskar e colaboradores (1989) e Domínguez e colaboradores (1994) tiveram como
objetivo, avaliar a formulação já presente do mercado por métodos farmacopéicos e com o
uso de meios convencionais. Nos estudos referentes às diferentes formulações genéricas e o
medicamento referência houve um bom resultado de dissolução em tampão pH 1,2
(LOKNISKAR et al.,1989; DOMÍNGUEZ et al., 1994) e resultado de dissolução
insatisfatório em tampão pH 4,5 quanto a um genérico selecionado (LOKNISKAR et al.,
1989).
Um trabalho com parâmetros mais próximos aos necessários em bioisenção foi
realizado por Bonissatto (2010) que avaliou o perfil de dissolução de comprimidos de
diazepam, medicamento referência, similar e genérico, em ácido clorídrico pH 1,2, tampões
acetato pH 4,4 e fosfato pH 6,8, visando avaliar a classificação biofarmacêutica, porém
usando o aparato cesta a 100 rpm conforme a monografia da farmacopeia americana 27ª ed..
Foi identificado que a velocidade de dissolução em pH 1,2 foi satisfatória conforme os guias
de bioisenção, uma vez que todas as marcas atingiram mais de 85% em menos de 30 minutos
e também conforme a monografia farmacopéica (mais de 75% em até 45 minutos). Nos
demais meios se apresentou lenta e dependendo do produto farmacêutico, insatisfatória, pois
em meio acetato pH 4,4 e fosfato pH 6,8, nenhum medicamento atingiu 85% em até 30
minutos, enquanto no ponto de vista farmacopéico, o medicamento genérico não atingiu 75%
38
de dissolução em até 45 minutos nos meios pH 4,4 e 6,8 e o medicamento similar não atingiu
a referida cedência em pH 6,8. Para enquadrar as expectativas da dissolução nas requisições
da bioisenção seriam necessários mais dados e ensaios em meios biorrelevantes, para que a
equivalência farmacêutica pudesse ser prevista em ao menos três meios com diferentes
valores de pH considerados para o TGI e nas devidas condições.
O perfil de dissolução de um fármaco de baixa solubilidade e alta permeabilidade pode
ser um passo limitante para a absorção do fármaco (FDA, 1997). Como existia a
probabilidade do diazepam apresentar esse comportamento, foi muito importante que a
dissolução da forma farmacêutica fosse bem avaliada. Um perfil de dissolução de múltiplos
pontos é recomendado para medicamentos nesta categoria (FDA, 1997).
2.10.6 –Estudos de solubilidade
Os resultados controversos sobre a solubilidade do diazepam geram dúvidas sobre sua
classificação, sendo encontrada de forma variada nos artigos científicos. A revisão da
literatura retrata a incerteza se o fármaco diazepam é classe I (alta solubilidade e alta
permeabilidade) ou classe II (baixa solubilidade e alta permeabilidade). É possível encontrar o
diazepam classificado como classe I SCB (LINDENBERG et al., 2004; KORTEJARVI et al.,
2010; RAVINDRAN, 2011) e classe II (KASIM et al., 2004; WILSON et al.,2005;
CLARYSSE et al., 2009; ANNAERT et al., 2010). No BDDCS, o diazepam foi classificado
como classe I, apresentando alta solubilidade e metabolismo elevado (WU; BENET, 2005).
Lindenberg e colaboradores (2006) comentam que, de acordo com a literatura, o
diazepam em suas formulações com dosagem de 2 e 5 mg é considerado altamente solúvel,
pertencendo a classe I (LINDENBERG, 2006). Na avaliação experimental da solubilidade,
Lindenberg considera a dose máxima conforme a Organização Mudial de Saúde, ou seja, 10
mg, em diferentes meios. O diazepam apresentou maior solubilidade nos meios SGFsp (suco
gastrintestinal simulado sem pepsina) USP 1,2, FeSSIF(suco intestinal em estado pós-prandial
simulado) e FaSSIF(suco intestinal em jejum simulado), sendo a condição de temperatura do
teste 37 ºC. Um detalhe foi a diminuição na solubilidade após duas horas em meio ácido
SGFsp USP pH 1,2, que pode ser explicada pela hidrólise ácida do diazepam. Portanto, o
fármaco se comportou como altamente solúvel, se mantendo na classe I do SCB
(LINDENBERG, 2006).
39
Annaert e colaboradores (2010) realizaram aspiração e caracterização de suco intestinal
humano de jovens e idosos afim de aplicá-lo em estudo de solubilidade de fármacos para
verificar a depêndencia da solubilidade em relação à idade do indivíduo. Esse experimento foi
realizado, por haver indícios de absorção e permeação intestinal diferenciadas e relacionadas à
idade, o que pode ser explicado por alteração na atividade ou expressão da glicoproteína P e
constituição dos líquidos corpóreos. O diazepam não apresentou diferenças estatísticas na
solubilidade nas diferentes faixas etárias. Além dessa avaliação, o ensaio de solubilidade do
diazepam foi realizado sob a temperatura de 37 ºC em meio FaSSIF, onde o valor encontrado
foi de 369 ± 2 µM e em FaSSIF (branco) isento de sais biliares e fosfolipídios, com valor de
242 ± 11 µM. Dentre 10 fármacos considerados pouco solúveis, o diazepam se apresentou
como um dos mais solúveis no suco intestinal humano (ANNAERT et al., 2010).
Zaki e colaboradores (2010) encontraram o resultado de que o diazepam, se
considerando a dose máxima como 10 mg, se comportou como classe I no SCB empregando
os meios tampão FaSSIF pH 6,5 e FeSSIF pH 5,0 e como classe II no SCB utilizando tampão
fosfato 6,5 nos estudos de solubilidade realizados a 37 ºC (330 rpm). Logo, percebe-se que a
predictibilidade pode não ser fidedigna se o meio mimetizar apenas o valor de pH de
determinado trecho do TGI, como um tampão fosfato 6,5. A exposição do fármaco ao FaSSIF
(suco intestinal em jejum simulado) e ao FeSSIF (suco intestinal em estado pós-prandial
simulado) pode mimetizar o TGI de forma diferenciada. Diante dessa informação, é possível
refletir que, para tais compostos, os guias referentes à isenção dos estudos de bioequivalência
podem ser considerados demasiadamente rígidos. Embora o guia FDA considere o pH
gradiente no trato gastrintestinal, a capacidade de solubilização no suco intestinal é
negligenciada (ZAKI et al, 2010).
Clarysse e colaboradores (2011) avaliaram a solubilidade do diazepam sob a condição
de 37 ºC (130 rpm), considerando-o como fármaco classe II (altamente permeável e com
baixa solubilidade), avaliando o perfil de solubilização nos meios com objetivo de se
aproximar do observado in vivo. O suco intestinal humano (FIH) sob estado de jejum e pósprandial foi usado como referência, e os meios adicionais nos quais a solubilidade foi avaliada
foram o tampão fosfato com diferentes proporções de succinato de D-α-tocoferol
polietilenoglicol 1000 (TPGS), FaSSIF e FeSSIF branco, FaSSIFc e FeSSIFc (adição de
taurocolato). Tampão com TPGS, FaSSIFc e FeSSIFc foram considerados biorrelevantes. O
diazepam se solubilizou com maior sucesso nos meios contendo maior proporção de
surfactante e meios com taurocolato (CLARYSSE et al., 2011).
40
O diazepam é relatado como fármaco significativamente lipofílico na literatura. Na
comparação da solubilidade do diazepam a 25 ºC em água e meio lipídico, Sila-on e
colaboradores (2008) descreveram que, considerando as estruturas moleculares e coeficientes
de partição, na comparação de quatro fármacos lipossolúveis, a lipossolubilidade
do diazepam foi de aproximadamente 13, 20, e 35 vezes maior do que de lorazepam,
alprazolam e clonazepam, respectivamente.
Os trabalhos da área farmacotécnica com o objetivo de melhorar a capacidade de
solubilização do diazepam para a forma farmacêutica oral expõem uso de sistemas de micelas
mistas e/ou a presença de surfactantes (HAMMAD; MULLER, 1998; ASHOK et al., 2004;
CWIERTNIA, 2006; RUPP, et al., 2010; CLARYSSE et al., 2011). Entretanto é necessário
lembrar que uma grande quantidade de surfactante pode modificar significativamente a
biodisponibilidade, podendo inclusive prejudicar a requisição de bioisenção (FDA, 2000).
Uma vez que as condições de rotação, meios e método de agitação foram diferentes
entre os trabalhos e não foi encontrada uma diversidade de dados sob as condições
estabelecidas pelos guias referentes a bioisenção, foi considerada relevante a proposta de um
estudo que avaliasse as corretas características do diazepam em um estudo de solubilidade sob
parâmetros definidos conforme a bioisenção.
Na Tabela 2 estão resumidos os dados obtidos em ensaios de solubilidade do diazepam
em diferentes meios.
41
Tabela 2 - Solubilidade do diazepam encontrada na literatura em diferentes meios mantidos a
temperatura de 37°C
Referência
Meio
Fluído intestinal humano (FIH) sob
jejum
Fluído intestinal humano (FIH) pósprandial
Dados de
solubilidade
520 µM
1687 µM
Tampão fosfato + TPGS (0,02%)
163 µM
Tampão fosfato + TPGS (0,1%)
219 µM
Clarysse et al.,
Tampão fosfato + TPGS (0,5%)
687 µM
2011
Tampão fosfato + TGPS (1%)
965 µM
Tampão fosfato + TGPS (2%)
2621 µM
Tampão fosfato + TGPS (5%)
6331 µM
Tampão FaSSIF branco
114 µM
Tampão FeSSIF branco
123 µM
FaSSIFc (com taurocolato)
195 µM
SIF FeSSIFc (com taurocolato)
727 µM
Fosfato pH 6,5
123 +/- 20 µM
FaSSIF
1265 +/- 100 µM
FeSSIF
443 +/- 59 µM
Annaert et al.,
FaSSIF
369 ± 2 µM
2010
FaSSIF branco
242 ± 11 µM
FaSSIF branco
272 ± 6 µM
FaSSIF
355 ± 4 µM
FeSSIF
909 ± 4 µM
Sila-on et al.,
Água
0.05 ±0.00mg/mL
2008
Meio lipídico
13.72 ± 0.05 mg/g
SGFsp USP pH 1,2
0.25 mg/mL
Tampão fosfato pH 4,5 (Farm.Européia)
0.06 mg/mL
Lindenberg,
SIFsp USP pH 6.8
0.06 mg/mL
2006
Água deionizada
0.05 mg/mL
FaSSIF
0,085 mg/mL
FeSSIF
0,188 mg/mL
Zaki et al.,
2010
Clarysse et al.,
2009
NI – não informada
Fonte: elaborada pela autora
Rotação
130 rpm
330 rpm
NI
NI
NI
NI
42
2.10.7 –Permeabilidade do diazepam
Alguns estudos envolvendo a determinação da permeabilidade intestinal do diazepam
foram encontrados na literatura. Há dados da utilização dos modelos celulares Caco-2 (YEE,
1997; YAZDANIAN et al.,1998; NORDQVIST et al., 2004; THOMAS et al., 2008;
HASLAM et al., 2011), Caco-2/TC7 (TURCO et al, 2011), células 2/4/A1 (ZAKI et al.,
2010), células LLC-PK1, utilização de segmentos jejunal de ratos e humano (segmento
humano proveniente de pancreatoduodenectomia) (HASLAM et al., 2011) e perfusão
intestinal in situ (ADACHI et al., 2003). O diazepam foi empregado no desenvolvimento de
métodos de previsão da permeabilidade por modelos matemáticos computadorizados (PALM
et al., 1997; STENBERG et al., 2001; HOU et al., 2004; CASTILLO-GARIT et al., 2007;
PAIXÃO et al., 2010) onde se mostra importante para o desenvolvimento, na maior parte das
vezes, constituindo um conjunto de compostos de treinamento (“compound in the Training
Set”). O composto de treinamento é usado para construir o modelo apresentando sua
permeabilidade experimental e o conjunto de teste avalia a capacidade de previsão,
colaborando para o desenvolvimento, validação e confiabilidade do modelo matemático.
O número encontrado de dados de permeabilidade intestinal do diazepam foi pequeno e
os valores são divergentes. Um motivo para esta variabilidade poderia ser a falta de
padronização entre os métodos e o recente desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas
(MIRET et al., 2004). Por outro lado, os valores entre diferentes técnicas podem não ser
comparáveis, visto que cada uma delas obtém a linearidade relacionando a fração absorvida
conhecida com os valores obtidos pelo método, porém estes são discrepantes em relação a
outros métodos ou utilizando outras unidades de medida (MATSSON et al., 2005). Além do
mais, é necessário refletir o impacto das diferenças morfológicas e funcionais do modelo em
relação aos enterócitos (BALIMANE et al., 2000; PUTNAM et al., 2002; MIRET et al.,
2004).
Os dados obtidos demonstraram que o diazepam tem pouca influência do mecanismo de
efluxo via glicoproteína-P, apresentando-se como um substrato fraco, com valores
estatisticamente semelhantes entre grupos com e sem expressão de P-gp, por métodos de
perfusão intestinal in situ em camundongos normais e MDR1a/1b (-/-) e in vitro através de
células em monocamadas do tipo LLC-PK1 (ADACHI et al., 2003). Em um estudo de
permeabilidade por meio do uso de intestinos de ratos, Genty e colaboradores (2001)
relataram que a permeabilidade do diazepam não se dá por transporte ativo e sim, passivo,
uma vez que os transportadores estão presentes no lado da mucosa da membrana intestinal e a
43
passagem desse fármaco se apresenta indiferente à inversão ou não do intestino, na técnica do
intestino invertido.
Haslam e colaboradores (2011) avaliaram a permeabilidade aparente, encontrando para
o diazepam valores de 127,9 cm/s x 10-6 através do segmento jejunal de ratos e 89,0 para o
segmento jejunal humano proveniente de pancreatoduodenectomia e 27,0 cm/s x 10-6 obtido
em células Caco-2. No estudo foi possível notar que os valores de permeabilidade gerados em
jejuno de ratos e humanos se correlacionam bem e a relação entre a permeabilidade no
segmento humano e células Caco-2 foi comparativamente fracas (R2 = 0,58). Entretanto,
mesmo com essa divergência na correlação dos métodos, todos os dados apontam a alta
permeabilidade do diazepam (HASLAM et al., 2011). Usando o modelo de monocamadas de
células Caco-2/TC7, Turco e colaboradores (2011) avaliaram a correlação dos dados de fração
absorvida encontrados na literatura e permeabilidade aparente com o objetivo de verificar se o
modelo é confiável, obtendo boa correlação entre a maioria dos dados. O diazepam
apresentou permeabilidade igual a 16,98 ± 1,58 x 10-6 cm/s. Esse valor de Papp foi bem
correlacionado com o dado de FA de 100%, utilizado pelos autores, informando alta
permeabilidade (TURCO et al., 2011). Thomas e colaboradores (2008), também objetivando
avaliar um modelo de previsão de absorção intestinal para fármacos em desenvolvimento,
realizaram ensaios de permeabilidade de diversas moléculas já conhecidas por meio de cultura
de células Caco-2, dentre elas, o diazepam. Foi encontrado o valor de 97,6 x 10-6 cm/s e
apesar do estudo de permeabilidade não ter apresentado referência entre alta e baixa
permeabilidade, o diazepam foi um dos fármacos que apresentou valores altos de
permeabilidade em um grupo contendo cerca de 80 fármacos. Yazdanian e colaboradores
(1998), Yee (1997) e Nordqvist e colaboradores (2004) encontraram valores condizentes com
fármaco altamente permeável, também usando cultura de células Caco-2.
Os dados relativos à permeabilidade do diazepam obtidos por diferentes modelos estão
sumarizados na Tabela 3.
44
Tabela 3 - Dados da literatura sobre a permeabilidade do diazepam, obtidos por diferentes
autores e métodos com valores limites de alta permeabilidade distintos
Valores
referência de
-6
Referência
Método
Peff (10 cm/s)
alta
Permeabilidade
permeabilidade
(10-6 cm/s)
Segmento jejunal de
127,9
Alta
ratos
Haslam et
Segmento jejunal
al., 2011
89,0
Alta
humano
Caco -2
27,0
Alta
Turco et al.,
Caco – 2/TC7
16,98 ± 1,58
Alta
2011
Zaki et al.,
2/4/A1
229,0+/- 7,8
>55,0
Alta
2010
Thomas et
Caco-2
97,6
Alta
al.,2008
Nordqvist
Caco-2
48,0 ± 8,0
> 12,0
Alta
et al., 2004
Yazdanian
Caco-2
33,4 ± 2,5
> 7,0
Alta
et al., 1998
Yee, 1997
Caco-2
70,79
> 10,0
Alta
Fonte: elaborada pela autora
2.10.8. Formas Farmacêuticas Sólidas Orais de Liberação Imediata (FFSOLI)
contendo diazepam na dosagem de 10 mg
O diazepam, na forma farmacêutica comprimido, está disponível para ser
comercializado no Brasil nas concentrações de 5 e 10 mg (BRASIL, 2011c). Já em outros
países pode ser encontrado em outras concentrações. Um exemplo é o registro das formas
farmacêuticas de 2, 5 e 10 mg segundo o “Aproved Drug Products”, comumente conhecido
como o Orange Book, que apresenta a lista do FDA de todos os medicamentos aprovados nos
Estados Unidos como seguros e eficazes (FDA, 2012a, FDA, 2012b).
Para esse estudo, é interessante avaliar a maior concentração do fármaco disponível no
comércio uma vez que, se seus resultados de perfil de dissolução e solubilidade forem
45
favoráveis, o emprego de concentrações dos excipientes dentro da faixa pré estabelecida não
apresenta risco para o paciente.
Os excipientes apresentam diversas propriedades e aplicações, por exemplo, podem
proporcionar o aumento da compressibilidade do fármaco, proteção do ativo, prevenção de
irritação do estômago, controle de velocidade de absorção e o local da mesma, etc.
(CRISTOFOLETTI, 2012). Existem excipientes que afetam a biodisponibilidade de fármacos
e/ou as características de solubilidade que devem ser destacados e discutidos, definindo-se a
função, quantidade e necessidade para a via de administração, dentro da faixa considerada
permitida (EMEA, 2008; BRASIL, 2011a).
O guia da EMEA expõe o problema do impacto que determinados excipientes podem
causar na absorção por meio de influência na motilidade gastrintestinal, na permeabilidade do
fármaco, interação com os transportadores e susceptibilidade de interação envolvendo o
fármaco (ex.: complexação). Esses excipientes são chamados de excipientes ativos e alguns
exemplos são: sorbitol, manitol, laurilsulfato de sódio e surfactantes em geral. Quando a
presença de um excipiente ativo é indispensável, recomenda-se que o medicamento teste
apresente o componente na mesma proporção que o medicamento referência (EMEA, 2008).
Na Tabela 4 está a lista dos excipientes identificados como presentes em medicamentos
sob Formas Farmacêuticas Sólidas Orais de Liberação Imediata (FFSOLI) contendo
diazepam na dosagem de 10 mg com Autorização de Comercialização (AC) no Brasil, cujas
formulações foram encontradas. Também são apresentados os valores do banco de dados
americano das quantidades mínimas e máximas dos excipientes presentes por unidade de
dosagem em forma farmacêutica sólida oral com AC nos Estados Unidos (EUA)a, como uma
referência para os constituintes dos medicamentos encontrados.
46
Tabela 4 - Excipientes presentes em FFSOLI contendo diazepam (10mg) no Brasil e as
quantidades mínimas e máximas dos excipientes presentes em forma farmacêutica sólida oral
com Autorização de Comercialização (AC) nos EUAa
Excipientes
Água deionizada
Álcool Etílico
Amido
Celulose Microcristalina
Croscarmelose Sódica
Dióxido de Silício
Estearato de Magnésio
Fosfato de Cálcio Dibásico
Fosfato de Cálcio Tribásico
Glicolato Sódico de Amido
Goma Arábica
Indigocarmin*
Lactose
Lactose Monoidratada
Laurilsulfato de Sódio
Manitol
Polissorbato 80
Polividona 30
Sacarose
Talco
Medicamento contendo
estes excipientes com AC
concedida pelo Brasil
(4)
(10)
(1, 2, 4, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 14)
(1, 3, 4, 5, 6, 7, 13, 14)
(1, 3, 5, 7, 13)
(1, 2, 3, 5, 6, 7 13)
(TODOS)
(3, 5, 13)
(2)
(2,6)
(11)
(10)
(3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13)
(1)
(1)
(2, 4)
(2)
(10)
(2)
(1, 2, 3, 4, 5, 7, 10, 11, 13, 14)
Nome fantasia do medicamento (Laboratório)
(1)
Calmociteno (Medley)
(2)
Compaz (Cristália)
(3)
Diazepam (Legrand)
(4)
Diazepam (Indústria Química do Estado de Goiás)
(5)
Diazepam NQ (EMS Sigma Pharma)
(6)
Dienzepax (Neo química)
(7)
Uni Diazepax (União Química)
(8)
Valium (Roche)
(9)
Dienpax (Sanofi aventis)
(10)
Kiatrium (Gross)
(11)
Noan (Farmasa)
(12)
Dienpax (SanofisSynthelabor)
(13)
Diazepam (Germed)
(14)
Diazepam (FURP)
a
Banco de dados dos excipientes (FDA, 2010)
ND – não declarado
Fonte: elaborada pela autora
Faixa Presente nas
FFSO com AC nos
EUA (mg)
ND
4,4-792
0,44-1135
4,6-1385
2,0-180
0,65-99
0,15-401
ND
ND
2-876
ND
23-1020
35,2-587
0,65–52
33–454
2,2–418
0,17-75
12–900
0,26-220
47
3
– OBJETIVOS
3.1 -
Objetivo geral
Avaliação biofarmacêutica do fármaco diazepam veiculado em formas farmacêuticas sólidas
orais de liberação imediata visando gerar dados que possam subsidiar uma discussão segura
sobre sua bioisenção.
3.2
– Objetivos específicos

Desenvolver e validar método analítico para quantificação do diazepam;

realizar estudo sobre os medicamentos contendo diazepam comercializados no Brasil e
os excipientes empregados;

realizar estudo da solubilidade do fármaco em meios suco gástrico simulado pH 1,2,
tampão acetato pH 4,5 e tampão fosfato pH6,8;

realizar estudos de dissolução do diazepam a partir de medicamentos sob a forma
farmacêutica sólida oral de liberação imediata;

discutir os dados de permeabilidade intestinal e biodisponibilidade do diazepam
encontrados na literatura;

elucidar a classificação biofarmacêutica do diazepam visando subsidiar a decisão
sobre bioisenção de novos produtos.
48
4 - MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 - Materiais
4.1.1 - Substância Química de Referência (SQR)
Diazepam FB (Farmacopeia Brasileira) (99,9%)
Lote: 1044
Ministério da Saúde/ANVISA
Farmacopeia Brasileira
Fiocruz / INCQS
4.1.2 – Medicamentos
Valium® – Produto A
Fabricante: Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.
Apresentação: embalagem com 30 comprimidos
Lote: RJ0412
Data de fabricação: 11/2012 Data de validade: 11/2017
Diazepam – Produto B
Fabricante: GERMED FARMACÊUTICA LTDA.
Apresentação: embalagem com 30 comprimidos
Lote: 461300
Data de fabricação: 06/2012 Data de validade: 06/2014
Dienpax® – Produto C
Fabricante: Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda.
Apresentação: embalagem com 20 comprimidos
Lote: 231459
Data de fabricação: 07/2012 Data de validade: 06/2015
49
4.1.3 – Matéria-prima
Diazepam MP 2010100230
Globe Química S.A.
Lote 10G5008
Data de validade: 31/07/15
4.1.4 - Solventes e reagentes
Acetato de sódio triidratado grau analítico Vetec
Acetonitrila grau HPLC J. T. Baker
Ácido acético glacial grau analítico Impex
Ácido clorídrico grau analítico ISOFAR
Cloreto de sódio grau analítico Sulfal química limitada
Fosfato de potássio monobásico grau analítico Vetec
Hidróxido de sódio grau analítico Vetec
Metanol grau HPLC J. T. Baker
4.1.5 – Equipamentos
EspectrofotômetroVarian Cary 50 UV-Vis.
HPLC Waters Alliance e2695, com detector arranjos de fotodiodos
Coluna C18 Macherey-Nagel (150 x 4,6mm; 3um)
Coluna C18 Macherey-Nagel (150 x 4,6mm; 5um)
Pré-coluna C18 Macherey-Nagel (8 x 4 mm; 5 µm)
Balança analítica Shimadzu AUX 220
Lavadora ultra-sônica UNIQUE
pHmetro HANNA
Bomba de vácuo Marconi MA057/2
Incubadora Shaker SPLabor SP-222-CF-135
Dissolutor Nova Ética 299
Durômetro 298/DGP
Friabilômetro Ética modelo 3001
Desintegrador Ética modelo 0120
50
4.2 - Métodos
4.2.1-Desenvolvimento de método para a quantificação de diazepam
Compêndios oficiais e artigos foram investigados com o objetivo de avaliar um método
analítico apropriado para a adaptação da quantificação do fármaco nos meios biorrelevantes
aplicados nos ensaios de solubilidade e dissolução.
No Quadro 1 estão descritos os modos de preparo dos meios utilizados.
Quadro 1 - Descrição do modo de preparo dos meios biorrelevantes suco gástrico simulado
sem enzimas pH 1,2; tampão acetato 4,5 e tampão fosfato 6,8 (UNITED, 2010).
Tampão
pH 1,2
pH 4,5
-2,0g de cloreto de sódio -2,99g de acetato de sódio
foram pesados
triidratado foram pesados e
transferidos para um balão
-adicionaram-se 7,0 mL de volumétrico de 1L
ácido clorídrico.
-adicionaram-se 14,0 mL de
-transferiu-se para balão ácido acético 2N
volumétrico de 1L.
-completou-se o volume com
-completou-se o volume com água ultrapurificada e a
água ultrapurificada e a solução foi homogeneizada
solução foi homogeneizada
pH 6,8
-250 mL de uma solução de
fosfato
de
potássio
monobásico 0,2M foram
preparados e vertidos em um
balão volumétrico de 1L
-adicionaram-se 112 mL de
uma solução de hidróxido de
sódio 0,2M
-completou-se o volume com
água ultrapurificada e a
solução foi homogeneizada
Fonte: adaptado da Farmacopeia USP, p. 3168 (UNITED, 2010).
A escolha das concentrações inseridas em todos os intervalos considerou os resultados
previstos para os ensaios de dissolução, visando monitorar a dissolução de 10 a 100% de
cedência e a solubilidade prevista de acordo com a revisão da literatura.
51
4.2.1.1 – Método Espectrofotométrico
A triagem no método espectrofotométrico adaptado da Farmacopeia Brasileira 5ªed.,
foi realizada, primeiramente, por meio da avaliação da linearidade com leitura a 284 nm. A
solução estoque 1 (SE1) de diazepam foi preparada diluindo a SQR em solução de HCl 0,1 M,
e alíquotas foram transferidas para balões volumétricos sendo o volume final ajustado com os
tampões pH 1,2; 4,5 e 6,8, sendo estas, as soluções estoque 2 (SE2). Alíquotas de SE2 foram
transferidas para balões volumétricos, compondo as amostras com as concentrações de acordo
com a Tabela 5. Nela são apresentados dois intervalos de concentração, com valores menores
adequando ao estudo de dissolução e valores mais elevados adequando ao estudo de
solubilidade. O intervalo 2 possui valores diferentes de concentração de diazepam para cada
um dos meios. Essas concentrações foram estabelecidas de acordo com os valores de
solubilidade esperados para o diazepam a partir dos dados presentes na literatura informando
uma probabilidade de o fármaco ser mais solúvel no suco gástrico simulado sem enzimas pH
1,2, em seguida em tampão acetato pH 4,5 e tampão fosfato pH 6,8.
Tabela 5 – Intervalos de concentração de diazepam em µg/mL visando avaliar a linearidade
do método espectrofotométrico para sua quantificação nos tampões pH 1,2; 4,5 e 6,8
Tampão
Intervalo 1
Intervalo 2
Concentração em µg/mL
Concentração em µg/mL
pH 1,2
0,11
1,1
4,4
7,7
11,0
13,0
30,0
60,0
90,0
120,0
150,0
pH 4,5
0,11
1,1
4,4
7,7
11,0
13,0
10,0
20,0
40,0
60,0
80,0
pH 6,8
0,11
1,1
4,4
7,7
11,0
13,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
Fonte: elaborada pela autora
A verificação da interferência de possíveis produtos de degradação no método
espectrofotométrico foi pesquisada por meio da exposição das SE2 à luz, por até 50 horas, e
leitura das amostras preparadas a partir das SE2, contendo 11 µg/mL de diazepam em cada
um dos meios. Esse ponto foi selecionado aleatoriamente a partir do primeiro intervalo. As
amostras compostas de alíquotas das soluções estoque 2, expostas a luz foram comparadas a
amostras compostas de SE2 recém preparadas. Foi realizada uma varredura na faixa de 200 a
52
400 nm, conforme apresentado no Quadro 2, e comprimentos de onda que representaram
máximos de absorção foram selecionados para se comparar absorbância versus tempo.
Quadro 2 - Condições analíticas relativas ao experimento de especificidade
Tempo de exposição (horas)
Tampão pH
1,2
Condição da SE2
Protegida da luz
Exposta à luz
Protegida da luz
0
2
18
24
42
50
4,5
6,8
Exposta à luz
Protegida da luz
Exposta à luz
Fonte: elaborado pela autora
4.2.1.2 – Método Cromatográfico
Posteriormente, um método adaptado da Farmacopeia Brasileira 5ªed., por
Cromatografia a Líquido de Alta Eficiência (CLAE) foi aplicado. Sendo utilizados os
parâmetros temperatura para a coluna de 30 ºC, detector de arranjos de fotodiodos, fase móvel
composta por água, acetonitrila e metanol (40:40:20) e fluxo de 0,8 mL/ minuto. Os
cromatogramas foram extraídos em 254 nm.
A SE proposta foi feita pesando-se 25 mg de diazepam e transferindo para balão
volumétrico de 25 mL completando o volume com metanol. Logo, a concentração da SE foi
1000 µg/mL. As amostras foram preparadas diluindo alíquotas da SE nos meios
biorrelevantes contendo os tampões pH 1,2; 4,5 e 6,8, em balões volumétricos de 5 ou 10 mL.
No guia para validação é recomendado que a curva analítica deve conter no mínimo 5
concentrações. A triagem inicial partiu de um número maior de pontos visando obter o
intervalo linear.
Duas triagens de intervalos foram avaliadas visando verificar qual seria o mais
confiável, por meio da avaliação das equações das retas, desvio entre concentração teórica e
experimental fornecido pelas referentes retas, valores de linearidade, exatidão, precisão e
estabilidade da amostra final pela comparação das leituras de amostras recém preparadas e
amostras preparadas 24 horas e 48 horas antes da leitura. Na primeira triagem de intervalo foi
utilizada uma coluna C18 Macherey-Nagel® (150 x 4,6mm; 3um) e as seguintes
53
concentrações: 0,5; 1,0; 7,5; 15,0; 30,0; 70,0; 110,0; 170,0 µg/mL. Para o segundo, foi
utilizada a coluna C18 Macherey-Nagel® (150 x 4,6mm; 5um) e o intervalo de: 3,0; 5,0; 8,0;
10,0; 12,0; 15,0; 30,0 µg/mL para os tampões pH 1,2, 4,5 e 6,8. Esses diferentes intervalos se
devem ao fato de que primeiramente foi analisada a qualidade do método em intervalo amplo
(0,5 a 170,0 µg/mL) empregando uma coluna com tamanho de partícula menor e
posteriormente um intervalo com pontos mais próximos entre si e partículas de 5 um. Colunas
de tamanho de partícula menor apresentam maior eficiência no processo de separação dos
analitos e maior resistência à vazão.
O método e os intervalos de concentração que apresentaram melhores resultados foram
encaminhados para a fase de validação.
Tabela 6- Concentrações estabelecidas para triagem do intervalo adequado
Tampões pH 1,2; 4,5; 6,8
Concentração (µg/mL)
Primeira triagem
Segunda triagem
0,5
3,0
1,0
5,0
7,5
8,0
15,0
10,0
30,0
12,0
70,0
15,0
110,0
30,0
170,0
-
Fonte: elaborada pela autora
4.2.2-Validação de método cromatográfico para a quantificação de diazepam
O objetivo com a validação é o de demonstrar que o método é apropriado para a
finalidade pretendida, ou seja, a determinação qualitativa, semi-quantitativa e/ou quantitativa
de fármacos e outras substâncias em produtos farmacêuticos. Para tanto, deve apresentar
especificidade, linearidade, intervalo, precisão, sensibilidade, limite de quantificação,
exatidão, adequados à análise (BRASIL, 2003b).
54
De acordo com a RE 899, de 29 de maio de 2003, Guia para validação de métodos
analíticos e bioanalíticos, a classificação do método proposto remete à categoria de testes
quantitativos para a determinação do fármaco em produtos farmacêuticos ou matérias–primas.
Nesse caso em questão, devem ser avaliados: especificidade, seletividade, linearidade,
intervalo, precisão e exatidão.
4.2.2.1-Especificidade e seletividade
Em um primeiro momento, as recomendações de como verificar a seletividade foram
realizadas. Uma das formas de se avaliar a seletividade é pela comparação do resultado da
amostra contendo a substância de interesse e amostra isenta da mesma, verificando se não há
interferência do meio (RIBANI et al., 2004, BRASIL, 2003b). Portanto, os cromatogramas de
amostras contendo meio, analito e matriz em meios biorrelevantes foram comparados. O
mesmo teste foi realizado para verificar a influência de excipientes comuns da forma
farmacêutica, com o objetivo de verificar a ausência de interferência no pico do fármaco
diazepam. A interferência dos excipientes foi avaliada por meio da seleção dos adjuvantes
comuns determinados no tópico 5.3 “Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus
excipientes”. Os excipientes amido, celulose microcristalina, estearato de magnésio, lactose
monoidratada, lactose, talco, sacarose foram analisados empregando o método desenvolvido.
Quantidades dos excipientes referentes a uma unidade na FFSOLI foram pesadas (conforme a
faixa apresentada na Tabela 4), reunidas, transferidas para um balão de 50 mL, completando o
volume com fase móvel. A solução foi filtrada e alíquotas de 5 mL foram transferidas para
balões de 5 mL e os volumes completados com os meios biorrelevantes, pH 1,2, pH 4,5 e pH
6,8.
Na ausência de padrões disponíveis de produtos de degradação, a especificidade foi
avaliada por meio da comparação do cromatograma da amostra preparada na concentração de
10,0 µg/mL, com solução estoque da SQR 1000 µg/mL, recém-preparada, e amostras
preparadas com soluções estoque submetidas a diferentes condições de estresse causadoras de
produtos de degradação, em um período de 24 horas:
55
a) SE submetida à presença de luz
b) presença de calor em uma temperatura de 45 °C
c) presença de ácido - ácido clorídrico 0,2 M na SE (1:2)
d) presença de base - hidróxido de sódio 0,2 M na SE (1:2)
As condições de ácido e base passaram por um procedimento de diluição diferenciado,
sendo: 1 mL de substância ácida a 2 mL de SE, mais 1 mL de substância básica minutos antes
de compor a amostra para a leitura ou 1 mL de substância básica a 2 mL de SE, mais 1 mL de
substância ácida minutos antes de compor a amostra e leitura. Esse procedimento teve por
objetivo retornar ao pH inicial da amostra. Como conseqüência, a concentração das SEs,
analisadas, nas condições ácido e base foi 5,0 µg/mL.
4.2.2.2 -Linearidade
Foram obtidos resultados da curva analítica em triplicata. Para se determinar o intervalo
em que foi obtida uma relação linear, foram considerados os resultados esperados para os
estudos de dissolução e solubilidade.
O intervalo selecionado para a validação é apresentado na Tabela 7.
Tabela 7 - Volumes de solução estoque (SE), 1000 µg/mL, diluídos em tampão pH 1,2; 4,5 e
6,8, para a obtenção das concentrações da curva analítica
Concentração final obtida (µg/mL)
Volume de SE 1 (µL)
Volume do balão
volumétrico (mL)
pH 1,2 e 4,5
pH 6,8
3,0
3,0
30
10
5,0
5,0
50
10
8,0
8,0
80
10
10,0
10,0
50
5
-
12,0
60
5
15,0
15,0
150
10
-
30,0
150
5
Fonte: elaborada pela autora
56
4.2.2.3 - Precisão
Nesse experimento foram avaliadas a precisão no nível de repetibilidade e precisão
intermediária.
Repetibilidade (precisão intra-corrida):
Foi verificada por 9 determinações, sendo 3 na concentração baixa, 3 na concentração
média e 3 na concentração alta do intervalo escolhido.
Precisão intermediária (precisão inter-corridas):
As determinações se referem à quantificação das concentrações baixa, média e alta,
sendo uma triplicata para cada concentração. Foi avaliada por meio da análise da
concordância entre os resultados obtidos em três dias diferentes.
Onde,
DPR: desvio padrão relativo
DP: desvio padrão
CMD: concentração média determinada
Valor máximo aceitável para o DPR: 5%
4.2.2.4-Exatidão
Foi verificada por 9 determinações, sendo 3 na concentração baixa, 3 na concentração
média, e 3 na concentração alta do intervalo escolhido.
57
A exatidão foi calculada pela relação entre a concentração média determinada
experimentalmente e a concentração teórica correspondente (BRASIL, 2003b):
Onde,
CME: concentração média experimental
CT: Concentração teórica
Intervalo aceitável para a exatidão: 95%-105%
4.2.3-Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus excipientes
Foi feita uma pesquisa dos medicamentos disponíveis no comércio que apresentam
apenas o diazepam como substância ativa, na forma farmacêutica de comprimidos de 10 mg.
Àqueles cujos excipientes das formulações estavam disponibilizados em meio eletrônico ou
com o acesso à bula foram listados e os excipientes foram discutidos, destacando-se
representantes críticos, inertes, função na formulação, a existência de relatos sobre o impacto
na absorção de fármacos além da inclusão das concentrações preconizadas dos constituintes,
para utilização em formas farmacêuticas comprimidos.
4.2.4 - Ensaios Farmacopéicos
A avaliação da qualidade dos três produtos contendo diazepam 10mg/comprimido
utilizados neste trabalho foi efetuada conforme a Farmacopeia Brasileira 5ª edição. Para tal,
foram realizados os ensaios: determinação de peso, teste de dureza, teste de friabilidade, teste
de desintegração, uniformidade de doses unitárias e doseamento.
58
4.2.5-Estudo de dissolução da forma farmacêutica comprimidos
Nesse estudo, os perfis de dissolução de três produtos de diferentes laboratórios do
comércio nacional, sob a forma de comprimidos contendo 10 mg de diazepam, foram
avaliados. As condições do perfil de dissolução dos medicamentos foram estabelecidas
conforme os ensaios propostos pela legislação (FDA, 2000; BRASIL, 2011a).
O estudo foi realizado com o uso do aparato pá sob velocidade de 50 rpm e volume de
meio de 900 mL (FDA, 2000; Brasil, 2011a) e coleta de alíquotas de 5 mL dos meios de
dissolução. Os tempos de coleta selecionados foram: 1, 5, 10, 15, 30, 45, 65 minutos em todos
os meios. Um ponto adicional aos 95 minutos, sob a condição de 150 rpm foi adicionado,
visando verificar a dissolução sob o “tempo infinito”, que é descrito nos capítulos gerais da
Farmacopeia americana, na sessão “The dissolution procedure: development and validation”,
<1092>.
O perfil de dissolução foi estabelecido a partir da análise de doze unidades
farmacotécnicas de cada produto, em cada meio de dissolução. A amostra coletada foi filtrada
e quantificada por CLAE, método validado neste trabalho.
As porcentagens de fármaco dissolvido foram encontradas a partir do emprego de
balanço de massas nas concentrações encontradas a partir das áreas geradas pelas amostras. A
avaliação do perfil de dissolução prosseguiu com a análise da eficiência de dissolução (ED).
A ED é a razão entre a área sob a curva de dissolução do fármaco (A1) obtida no tempo t, e a
área do retângulo traçado ligando a linha correspondente a 100% de dissolução ao tempo t
correspondente (AR). A ED expressa em porcentagem pode ser definida por:
% ED = (A1/AR) x 100
Os tempos utilizados para o cálculo da ED foram distintos entre os meios, sendo em
meio pH 1,2: 10 minutos para o produto A (t=10), 15 minutos para o produto B (t=15), 30
minutos para o produto C e 95 minutos para os meios pH 4,5 e 6,8 (t=95) em todos os
produtos.
Os resultados obtidos para os produtos foram comparados por análise de variância
(ANOVA) (comparação dos perfis de dissolução entre os produtos em cada um dos meios),
através do programa GraphPad Prism versão 6.0, em um intervalo de confiança de 95% e
valores de P<0,05 foram considerados estatisticamente significativos.
59
4.2.6- Estudo de solubilidade do fármaco diazepam
Os guias do FDA, Brasil, EMA e WHO recomendam que a solubilidade da substância
seja determinada empregando técnica da solubilidade em equilíbrio (método da agitação
orbital em frasco - shake-flask ou diagrama de fases) em meios biorrelevantes, ou seja, meios
capazes de mimetizar condições fisiológicas. Os tampões utilizados foram o ácido clorídrico
pH 1,2, acetato pH 4,5 e fosfato pH 6,8 (WHO, 2006; EMEA, 2008; BRASIL, 2011a).
O procedimento foi realizado por meio da adição do diazepam matéria-prima aos meios,
agitados em Incubadora com agitação orbital (tipo Shaker), na temperatura de 37⁰C ± 1⁰C e
50 rpm, por 54 horas. Em um primeiro momento, o cálculo da quantidade de diazepam foi
estabelecido a partir do
maior dado de solubilidade encontrado na literatura,
independentemente do meio, que seria 0,25 mg/mL (LINDENBERG, 2006). Esse valor
recebeu uma adição de 10% de excesso do fármaco, obtendo uma concentração de
0,275mg/mL. Por conseguinte, em 50 mL deveriam ser adicionados 13,75 mg de fármaco.
Entretanto, durante a realização do procedimento em tampão fosfato, apesar dos resultados
condizentes, verificou-se que seria prudente diminuir o excesso na etapa seguinte, que seria o
ensaio em tampão acetato. Os cálculos foram realizados com o mesmo raciocínio que o valor
anterior, porém com um dado de solubilidade menor. As massas adicionadas nos três meios
empregados no estudo de solubilidade estão apresentadas na Tabela 8.
Tabela 8 - Massa de fármaco adicionada a um volume de 50 mL de cada meio para realização
do teste de solubilidade
Meio
Massa de fármaco (mg)
Fluido Gástrico Simulado pH 1,2
13,75
Tampão acetato pH 4,5
3,3
Tampão fosfato pH 6,8
13,75
Fonte: elaborada pela autora
As alíquotas (2 mL) foram coletadas em suco gástrico simulado nos intervalos de tempo
0, 0,5, 1, 2, 4, 8 e 20 horas e nos demais meios em 0, 1, 2, 4, 8, 20, 32, 44 e 56 horas. Foram
filtradas com auxílio de unidades filtrantes Millex com poro de 0,45 µm. O meio foi reposto
imediatamente. As amostras coletadas foram diluídas para emprego do método
cromatográfico desenvolvido.
60
Tabela 9 – Dados de diluição das amostras obtidas durante o estudo de solubilidade
Volume de amostra
Volume de meio
(mL)
(mL)
0, 0,5, 1, 2, 4, 8, 20
0,1
1,9
0
2,0
-
2,4
0,5
1,5
8, 20, 32, 44, 56
0,4
1,6
0
2,0
-
2, 4
0,5
1,5
8, 20, 32, 44, 56
0,4
1,6
Meio
Tempo (horas)
Fluido Gástrico
Simulado sem adição
de enzima pH 1,2
Tampão acetato pH
4,5
Tampão fosfato pH
6,8
Fonte: elaborada pela autora
Para cada meio, devem ser usadas, no mínimo três replicatas e o coeficiente de variação
(CV%) deve ser menor que 5% (cinco por cento). O pH foi registrado no início e no final do
experimento (BRASIL, 2011a).
4.2.7- Coleta de dados bibliográficos sobre a permeabilidade intestinal do
diazepam
A discussão sobre a permeabilidade intestinal é diferenciada nesse trabalho uma vez
que, a permeabilidade é uma das três características fundamentais para se subsidiar a
bioisenção, colaborando como uma pesquisa especial para atender o objetivo. Os dados de
permeabilidade encontrados na literatura e expostos no tópico 2.10.7, “Permeabilidade do
diazepam” são comentados. As informações no referido tópico foram coletadas por meio de
busca
nas
seguintes
bases
(http://periodicos.capes.gov.br/),
de
dados
PubMed
bibliográficos:
Periódicos
(www.ncbi.nlm.nih.gov),
Capes
Scopus
(www.scopus.com/home.url) e SciELO (www.scielo.org), bem como consulta a legislações e
compêndios oficiais, no período de março de 2011 à junho de 2013, utilizando os seguintes
termos de busca: bioisenção, diazepam, SCB, permeabilidade, solubilidade, dissolução.
61
5- RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1-Desenvolvimento de método para a quantificação de diazepam
O desenvolvimento de um método analítico visa selecionar as melhores condições para
a análise inequívoca de um composto, visando maior rapidez, menor custo e geração de
resíduos (CAUSON, 1997).
Primeiramente, foi realizada a pesquisa dos métodos para quantificação do diazepam em
compêndios oficiais: Farmacopeia Brasileira 5ª ed. (2010), United States Pharmacopeia 33ª
ed. (2010), Farmacopeia Japonesa 16ª ed. (2011). Posteriormente, os métodos por
espectrofotometria UV e cromatografia a líquido de alta eficiência (CLAE) presentes na
Farmacopeia Brasileira 5° edição, foram submetidos à avaliação após as adaptações
necessárias à quantificação do analito diluído nos meios biorrelevantes: tampões ácido
clorídrico pH 1,2, acetato pH 4,5 e fosfato pH, 6,8. Estes meios são aplicados nos estudos de
solubilidade e dissolução exigidos nas legislações, em vez dos meios descritos nos métodos
oficiais, que não são satisfatórios para o presente estudo. Sendo assim, se tornou necessário o
desenvolvimento de um método que atendesse essa necessidade seguida da validação que gera
confiabilidade
para
a
determinação
quantitativa
do
diazepam.
Os
métodos
espectrofotométrico e cromatográfico foram avaliados.
5.1.1 - Método Espectrofotométrico
Alguns autores utilizaram a espectrofotometria UV para realizar a quantificação do
diazepam em meios biorrelevantes como Lindenberg (2006), que realizou um estudo de
solubilidade com leituras em 276 nm e Domínguez e colaboradores (1994) que avaliaram a
dissolução de formas farmacêuticas submetendo as amostras à análise em leitura de 242 nm.
Já Américo e colaboradores (2008), encontraram em varredura de 190 a 400 nm, um pico de
absorbância em 207,8 nm, afirmando ser a espectrofotometria uma técnica simples e rápida,
quando não há necessidade de grande de seletividade. A Farmacopeia Brasileira 5ª edição
apresenta um método espectrofotométrico, entretanto, o mesmo não descreve a quantificação
do analito em meios biorrelevantes, com diferentes valores de pH, os quais são requeridos nas
legislações vigentes para estudos de bioisenção. Portanto, o método farmacopéico foi
62
adaptado e submetido à experiência para esse estudo. Na triagem do método de quantificação,
foi utilizado um espectrofotômetro Varian Cary® 50 UV-Vis.
Nas Figuras 3 e 4 estão os gráficos de absorbância versus concentração nos intervalos
0,11 a 13,0 µg/mL em todos os meios (Figura 3) e em intervalos de concentração específicos:
13,0 a 150,0 µg/mL (pH 1,2) ; 13,0 a 80 µg/mL (pH 4,5) e 13,0 a 50,0 µg/mL (pH 6,8)
(Figura 4). Os coeficientes de determinação se apresentaram com valores superiores a 0,996,
com exceção da linearidade em pH 4,5 no intervalo 0,11 a 13,0 µg/mL, que apontou R2 igual
a 0,987. Entretanto, todos os coeficientes de determinação (R2) se mostraram satisfatórios,
uma vez que proporcionam um coeficiente de correlação (r) adequado, superior a 0,99,
conforme o que recomenda o “Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos”.
Figura 3 - Gráfico de absorbância (Abs.) versus concentração do diazepam: 0,11 a 13,0
µg/mL nos meios pH 1,2 (a), pH 4,5 (b) e pH 6,8 (c), obtidos por leitura espectrofotométrica a
284 nm
R² = 0,999 (a)
Abs.
0.8
Abs.
0.6
0.4
0.3
R² = 0,987 (b)
0
0
0
5
10
Concentração (µg/mL)
0
15
5
Concentração (µg / mL)
R² = 0,999 (c)
Abs.
0.4
0.2
0
0
10
5
10
15
Concentração (µg/mL)
Fonte: elaborada pela autora
15
63
Figura 4 - Gráfico de absorbância (Abs.) versus concentração do diazepam: 13,0 a 150,0
µg/mL em meio pH 1,2 (a), 13,0 a 80 µg/mL em meio pH 4,5 (b) e 13,0 a 50,0 µg/mL em
meio pH 6,8 (c), obtidos por leitura espectrofotométrica a 284 nm
(a)
Abs.
R² = 0,999
0.3
(b)
Abs.
R² = 0.996
0.05
0.15
0.025
0
0
0
100
Concentração (µg/mL)
200
0
50
Concentração (µg/mL)
100
(c)
Abs.
R² = 0,996
0.07
0.035
0
0
30
Concentração (µg/mL)
60
Fonte: elaborada pela autora
Para dar início à verificação da especificidade, foi realizada a varredura no intervalo de
200 a 400 nm de amostras, na concentração de 11 µg/mL, preparadas com alíquotas de
diazepam SE (diazepam em meio HCl) diluídas nos três meios. Essas soluções se dividiram
entre expostas e não expostas à luz. Na Figura 5 estão apresentados os gráficos de variação da
absorbância em função do tempo elaborados a partir dos comprimentos de onda que
apresentaram maior absorbância (240 e 285 nm para tampão pH 1,2 e 230 nm para pH 4,5 e
6,8). Nos gráficos a e b, referentes à amostra em meio ácido seria esperado o aparecimento de
produtos de degradação, pois de acordo com Lindenberg (2006), o diazepam é passível de
hidrólise ácida. Nos experimentos de solubilidade realizados observou-se um pequeno
decaimento da concentração do fármaco após duas horas de exposição ao meio ácido.
Lindenberg (2006) informa ainda que essa situação foi encontrada com o estudo de
solubilidade do diazepam em meio ácido (suco gástrico simulado pH 1,2) e a mesma queda
nas concentrações quantificadas não ocorreram em meios tampão fosfato pH 4,5, água
deionizada e suco intestinal simulado pH 6,8. Entretanto, pôde-se observar que em torno de
18 horas após o preparo das soluções em ambas as condições de exposição foram
evidenciados sinais de degradação significativa do diazepam em todos os meios. Vale
64
ressaltar que, nessa etapa de desenvolvimento de método analítico, a SE1 foi composta de
fármaco e HCl 0,1M, conforme a solução estoque do método espectrofotométrico
farmacopéico. Portanto, como as SE2 foram compostas de alíquotas de SE1, todas as
amostras detiveram uma porcentagem de solução ácida. Logo, foi inferido que a SE1
preparada conforme o método espectrofotométrico sequer seria adequada para realizar este
estudo de especificidade.
Figura 5 – Gráficos de Absorbância em função do tempo para amostras contendo diazepam
em tampões: pH 1,2 comprimentos de onda 240 nm (a) e 285 nm (b); pH 4,5 (c) e pH 6,8 (d)
em comprimento de onda 230 nm com e sem exposição à luz
(a)
Abs.
1.4
(b)
Abs.
1.4
0.8
0.8
0.2
0.2
0
20
0
40
20
Tempo (h)
40
Tempo (h)
(c)
Abs.
1.4
Abs.
1.4
0.8
0.8
(d)
0.2
0.2
0
20
40
Tempo (h)
0
20
40
Tempo (h)
Protegida da luz
Exposta à luz
Fonte: elaborada pela autora
É sabido que o diazepam pode sofrer degradação por exposição à luz, com formação de
benzofenonas (ALBINI; FASANI, 1998, GÖRÖG, 2000). Nos gráficos a e b da Figura 5
ainda é possível observar pequena acentuação da degradação em decorrência da exposição das
amostras à luz, o que não é detectado nos demais meios. Nesta etapa do trabalho ficou
65
caracterizado que houve aparecimento de produtos de degradação, provavelmente por
colaboração do modo de preparo da solução estoque recomendada pelo método
espectrofotométrico e este, não foi seletivo para o diazepam na presença dos prováveis
produtos de degradação.
Sendo esta a técnica indicada no estudo de dissolução contido na monografia para
diazepam comprimidos da Farmacopeia Brasileira 5° edição (BRASIL, 2010a) é necessário
salientar que seu emprego na rotina de controle de qualidade e em experimentos de curto
prazo pode se justificar, mas que a espectrofotometria na região do UV não pode ser
empregada para quantificação do fármaco em estudos de solubilidade que demandam maior
tempo de contato entre o analito e os diferentes meios.
Logo, apesar do método ter apresentado coeficientes de correlação (r) adequados,
sugerindo boa linearidade, não possibilitou a quantificação do analito de interesse em
detrimento dos produtos de degradação. Esses resultados parciais permitiram a elaboração do
resumo, ANEXO 1, apresentado no evento SINPOSPq 2012.
5.1.2 - Método Cromatográfico
Para desenvolver um método cromatográfico confiável e capaz de quantificar o
diazepam solubilizado em meios biorrelevantes específicos, as informações da literatura
foram consultadas. Foram consultados três trabalhos que descrevem a quantificação do
diazepam nos referidos meios, por CLAE. Sendo um utilizando CLAE acoplada a detector de
massas e fase móvel composta por água e acetonitrila (ZAKI et al.,2010), outro CLAE-UV e
fase móvel composta por tampão acetato de sódio pH 3,5/acetonitrila (50:50 v/v)
(CLARYSSE et al., 2009) e CLAE-UV e fase móvel composta por tampão fosfato pH 6,0
(45:55 v/v) (ANNAERT et al., 2010). A monografia do diazepam na Farmacopeia Brasileira
5ª ed. (2010) apresenta um método de quantificação por CLAE, com detector UV, fase móvel
composta de água, acetonitrila e metanol e solução estoque de diazepam diluído em metanol.
Optou-se por avaliar a resposta do método sob as condições farmacopéicas (com
exceção do detector UV, que foi substituído por DAD com o sinal extraído no comprimento
de onda referente ao método UV), como o ponto inicial para o planejamento de um novo
método. O perfil dos cromatogramas apresentou resultados satisfatórios quanto à forma do
pico e o tempo de retenção do diazepam, que se apresentou por volta de 8,0 minutos (suco
gástrico simulado sem enzimas pH 1,2), 8,1 minutos (meio acetato pH 4,5) e 8,2 minutos
66
(meio fosfato pH 6,8) conforme Figura 6. Prosseguiu-se com testes de linearidade do método
em diferentes intervalos de concentração do analito.
O intervalo 1 proposto (concentrações de 0,5 a 170,0 µg/mL) apresentou linearidade,
porém as equações geradas forneceram valores reais das concentrações com um grande desvio
em relação à teórica, além de não haver precisão e exatidão nas concentrações 0,5 e
1,0µg/mL. A conclusão alcançada foi que as equações geradas pelos pontos desse intervalo
não foram representativas e que os pontos citados eram detectáveis, porém estavam abaixo do
limite de quantificação.
Figura 6 - Cromatograma do fármaco diazepam na concentração de 15,0 µg/mL em (a) suco
gástrico simulado sem enzimas pH 1,2, (b) tampão pH 4,5, (c) tampão pH 6,8, obtido por
meio de detector DAD em 254nm
0.10
(a)
0.08
AU
0.06
0.04
0.02
0.00
0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 5.50 6.00 6.50 7.00 7.50 8.00 8.50 9.00
Minutes
0.10
(b)
0.08
AU
0.06
0.04
0.02
0.00
0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 5.50 6.00 6.50 7.00 7.50 8.00 8.50 9.00
Minutes
0.10
(c)
0.08
AU
0.06
0.04
0.02
0.00
0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 5.50 6.00 6.50 7.00 7.50 8.00 8.50 9.00
Minutes
Fonte: elaborada pela autora
O dado relevante das análises realizadas no intervalo 1 foi referente à estabilidade da
amostra final. Na Figura 7 estão ilustrados os gráficos de área do cromatograma versus
concentração analítica de amostras recém-preparadas e amostras preparadas 24 e 48 horas
antes da quantificação.
67
Figura 7 - Comparação dos gráficos das amostras de 0 e 24 horas e 0 e 48 horas apresentando
a área versus concentração do diazepam na faixa de 0,5 a 170,0 µg/mL nos meios pH 1,2, (a)
e (b), pH 4,5 (c) e (d) e pH 6,8 (e) e (f), obtidos por leitura em detector DAD em 254 nm
Área
(a)
Área
20000000
20000000
15000000
15000000
(b)
10000000
10000000
0 hora
5000000
24 horas
0
0 hora
48 horas
5000000
0
0
100
200
0
Concentração (µg/mL)
Área
Área
20000000
20000000
15000000
15000000
0 hora
5000000
200
Concentração (µg/mL)
(c)
10000000
100
24 horas
0
(d)
10000000
0 hora
48 horas
5000000
0
0
100
200
0
Concentração (µg/mL)
Área
100
200
Concentração (µg/mL)
(e)
Área
20000000
20000000
15000000
15000000
(f)
10000000
10000000
0 hora
5000000
24 horas
0
0 hora
48 horas
5000000
0
0
100
200
Concentração (µg/mL)
0
100
200
Concentração (µg/mL)
Fonte: elaborada pela autora
Avaliando a Figura 7 é possível notar que nos tampões pH 4,5 e 6,8 os perfis das
amostras preparadas e recentemente e após 24 e 48 horas antes da leitura não apresentam
divergência de valores das áreas tão intensa quanto a diferença entre as áreas das leituras das
amostras no meio pH 1,2. Um motivo para essa observação seria a hidrólise ácida do
68
diazepam que gera produtos de degradação como 2-metilamino-5-cloro-benzofenona e glicina
(NUDELMAN; WAISBAUM, 1995; LINDENBERG, 2006).
Por meio dos resultados obtidos nesse ensaio é possível notar que a amostra não
apresenta estabilidade após 24 ou 48 horas, delimitando assim o tempo do ensaio. Cabe
ressaltar também que pelo método cromatográfico foi possível identificar o decaimento do
sinal em relação ao tempo. No método espectrofotométrico houve queda da resposta, seguido
pelo aumento da mesma após algumas horas indicando a não diferenciação entre o analito e os
produtos de degradação, o que não foi observado no método por CLAE resguardando-o da
não diferenciação entre o analito e os produtos.
A respeito da segunda triagem para estabelecimento das curvas analíticas
(concentrações variando de 5,0 a 30,0 µg/mL em meios pH 1,2 e 6,8 e 5,0 a 15,0 µg/mL em
meio pH 4,5) , foram encontrados indícios satisfatórios de linearidade, precisão e exatidão no
método para quantificação do diazepam, com equações representativas e desvio pequeno entre
a concentração real e teórica, por meio da utilização das concentrações conforme Tabela 10.
Devido ao fato de quanto menor o tamanho de partícula da coluna maior é a resistência à
vazão, optou-se por utilizar na validação a coluna com partículas maiores (5µm) que gerou
pressão compatível com a vazão e os limites do cromatógrafo, uma vez que o cromatograma
gerado por ambas as colunas apresentaram qualidade similar.
Tabela 10- Concentrações estabelecidas para o intervalo validado
Concentração (µg/mL)
Tampão pH 1,2
Tampão pH 4,5
Tampão pH 6,8
3,0
5,0
8,0
10,0
15,0
-
3,0
5,0
8,0
10,0
15,0
-
3,0
5,0
8,0
10,0
12,0
15,0
30,0
Fonte: elaborada pela autora
Durante o desenvolvimento de método, os resultados obtidos com a cromatografia
apresentaram bons indícios de conformidade em relação aos parâmetros de validação,
prosseguindo-se com as etapas de validação, que originaram resultados parciais apresentados
no evento IV CONCIFOP, conforme o ANEXO 2.
69
5.2-Validação de método cromatográfico para a quantificação de diazepam
5.2.1-Especificidade e seletividade
A seletividade foi avaliada por meio da comparação entre os cromatogramas de
amostras compostas de meio e analito e amostra com apenas meio em sua composição. Nos
cromatogramas de amostras contendo meio fluido gástrico simulado sem enzimas pH1,2,
acetato pH4,5 e fosfato não houve indício relevante de interferente no tempo de retenção
relativo ao diazepam. Os cromatogramas de 11 minutos de corrida da Figura 8 mostram que
no ensaio estabelecido para avaliar a influência dos excipientes não há picos que poderiam
prejudicar a quantificação do fármaco.
Figura 8: Cromatograma da mistura de excipientes comumente utilizados nas unidades de
diazepam, diluídos em a) suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2; b) meio acetato
pH 4,5; c) meio fosfato pH 6,8, pesquisado em 254 nm em detector DAD
0.10
(a)
0.08
AU
0.06
0.04
0.02
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
Minutes
7.00
8.00
9.00
0.10
10.00
11.00
(b)
AU
0.08
0.06
0.04
0.02
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
Minutes
7.00
8.00
9.00
10.00
11.00
0.10
(c)
0.08
AU
0.06
0.04
0.02
0.00
1.00
2.00
3.00
Fonte: elaborada pela autora
4.00
5.00
6.00
Minutes
7.00
8.00
9.00
10.00
11.00
70
O início da avaliação da especificidade se deu pela submissão da amostra à variável
tempo conforme demonstrado na Figura 7, em desenvolvimento de método. O método
analítico foi melhor avaliado, para a confirmação da especificidade do método em quantificar
o analito na presença de produtos de degradação gerados por calor, tempo, presença de ácido
e base.
Não houve aparecimento de outros picos ou diferenças nas áreas obtidas entre amostras
constituídas de SE sob estresse e SE recém preparada. Sugere-se que não houve aparecimento
de produtos de degradação na SE sob essas condições. A Figura 9 apresenta os
cromatogramas obtidos pelo analito em fluido gástrico simulado sem enzimas pH 1,2. O
padrão apresentado se extende aos resultados encontrados nos demais meios, tampão acetato
pH 4,5 e tampão fosfato pH 6,8.
É possível observar que as áreas do analito submetido a exposição a luz e calor se
mantiveram próximas a área da amostra recém preparada. As amostras submetidas a estresse
ácido e alcalino foram condizentes porque os valores das áreas dos picos representaram a
metade da concentração da amostra sem estresse, situação essa causada pela diluição, aplicada
primeiramente pela adição de substância degradante e uma segunda solução para neutralizar o
pH da primeira, antes da leitura. Embora seja uma via comum ao diazepam transformar-se em
2-amino(n-metil)-clorobenzofenona ou 2-amino-clorobenzofenona quando submetido a meio
ácido, esta observação só foi realizada por Gomes (1997) quando associou-se a condição de
100 ºC e o contato com HCl 6mol/L. Mas, uma vez sendo submetido ao contato com suco
gástrico simulado sem enzimas pH 1,2, separadamente de calor de 45ºC, os cromatogramas
não se mostraram diferentes dos referentes às amostras não submetidas ao estresse.
Todas essas observações estiveram de acordo nos meios acetato pH 4,5 e fosfato pH
6,8, como no suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2.
71
Figura 9 - Cromatogramas das amostras elaboradas com solução estoque submetida a
diferentes condições de estresse, diluídas em meio pH 1,2. a) SE submetida à presença de luz;
b) calor a 45 °C; c) presença de ácido clorídrico 0,2M; d) presença de hidróxido de sódio 0,2
M; e) amostra de SE recém preparada, sem condição de estresse
0.06
AU
(a)
0.03
0.00
1.50
3.00
4.50
Minutes
6.00
7.50
9.00
0.06
AU
(b)
0.03
0.00
1.50
3.00
4.50
Minutes
6.00
7.50
9.00
0.06
AU
(c)
0.03
0.00
0.00
1.50
3.00
4.50
6.00
7.50
9.00
Minutes
0.06
AU
(d)
0.03
0.00
0.00
1.50
3.00
4.50
Minutes
6.00
7.50
9.00
0.06
AU
(e)
0.03
0.00
1.50
3.00
Fonte: elaborada pela autora
4.50
Minutes
6.00
7.50
9.00
72
5.2.2-Linearidade
Para avaliar a linearidade foram preparadas diluições a partir da solução estoque
diazepam SQR. Os resultados dos testes devem ser tratados por métodos estatísticos
apropriados para determinação do coeficiente de correlação, interseção com o eixo Y,
coeficiente angular, soma residual dos quadrados mínimos da regressão linear e desvio padrão
relativo. O coeficiente de correlação (r) deve ser, no mínimo 0,99 (BRASIL, 2003b). Os
resultados da linearidade obtidos estão apresentados na Figura 10 e Tabela 11.
Figura 10 - Curva analítica obtida por meio da média de três determinações de soluções na
faixa de concentração de 0,3 a 15,0 µg/mL de diazepam em meio fluido gástrico simulado
sem enzimas (a); 0,3 a 15,0 µg/mL em meio acetato pH 4,5 (b) e 0,3 a 30,0 µg/mL em meio
fosfato pH 6,8 (c); quantificadas por CLAE-DAD em 254nm
Fonte: elaborada pela autora
73
A reta representa a média de três determinações em cada ponto. Foi satisfatória devido
ao coeficiente de correlação (r) maior que 0,99, assim como exige a legislação. Os valores de
inclinação e interseção estão presentes na Tabela 11, implícitos na equação da reta. O desvio
foi calculado a partir da obtenção da diferença, em porcentagem, entre as concentrações
teóricas e as concentrações experimentais encontradas pelas equações das retas geradas.
Tabela 11 - Equação da reta, coeficiente de determinação (R2) e coeficiente de correlação (r),
para as retas obtidas na determinação da linearidade do método nos três meios avaliados
Coeficiente de
Coeficiente de
determinação (R2)
correlação (r)
y = 87996x + 1436
0,999
0,999
pH 4,5
y = 86745x - 1845
0,999
0,999
pH 6,8
y = 90018x - 2965
0,999
0,999
Tampão
Equação da reta
pH 1,2
O método dos quadrados mínimos foi utilizado para estabelecer os resíduos da
regressão linear. Gráficos exploratórios de resíduo foram elaborados no programa
GraphPadPrism 6.0 a partir dos dados da triplicata da curva analítica em cada um dos meios.
Na figura 11 estão apresentados os resíduos devido à linearidade nos meios: suco gástrico
simulado sem enzimas pH 1,2 (a), tampão acetato pH 4,5 (b) e tampão fosfato pH 6,8. Os
resíduos se apresentaram aleatórios e bem distribuídos nos três gráficos indicando não haver
tendência para o cálculo da linearidade.
74
Figura 11 – Gráficos de resíduos obtidos por meio dos resultados da linearidade em meios
fluido gástrico simulado sem enzimas (a); acetato pH 4,5 (b) e fosfato pH 6,8 (c)
Fonte: elaborada pela autora
5.2.3-Precisão
Repetibilidade
O método apresentou repetibilidade adequada devido aos valores inferiores a 5% no
desvio padrão relativo em concentração baixa (CB), concentração média (CM) e concentração
alta (CA).
75
Tabela 12- Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental (CME) e
desvio padrão relativo (DPR), referentes à determinação da repetibilidade do método para a
quantificação do diazepam nos três meios
Tampão
Concentração
CT(µg/mL)
CME (µg/mL)
DPR(%)
CB
3,0
3,00
2,59
CM
10,0
9,98
2,03
CA
15,0
14,84
3,08
CB
3,0
3,03
2,11
CM
10,0
10,27
2,91
CA
15,0
15,23
1,84
CB
3,0
2,90
1,03
CM
15,0
14,90
3,47
CA
30,0
30,07
0,10
pH 1,2
pH 4,5
pH 6,8
Fonte: elaborada pela autora
Precisão Intermediária
O método apresentou repetibilidade devido aos valores inferiores a 5% no desvio padrão
relativo em concentração baixa (CB), concentração média (CM) e concentração alta (CA).
Tabela 13 - Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental (CME) e
desvio padrão relativo (DPR), referentes à determinação em três dias, da precisão
intermediária do método, para a quantificação do diazepam nos três meios
Tampão
pH 1,2
pH 4,5
pH 6,8
Fonte: elaborada pela autora
Concentração
CT(µg/mL)
CME (µg/mL)
DPR(%)
CB
3,0
3,07
3,45
CM
10,0
9,85
2,80
CA
15,0
14,88
0,69
CB
3,0
3,02
0,91
CM
10,0
10,22
3,00
CA
15,0
15,39
2,43
CB
3,0
3,04
4,06
CM
15,0
15,16
3,37
CA
30,0
30,33
2,38
76
5.2.4-Exatidão
O método mostrou-se exato na faixa de concentração avaliada indicando que os
resultados experimentais oscilam em relação ao valor real em porcentagem inferior a 5%, ou
seja, com exatidão entre 95,0 e 105,0%.
Tabela 14 - Valores de concentração teórica (CT), concentração média experimental (CME) e
exatidão, expressa em porcentagem, referentes à exatidão do método para a quantificação do
diazepam nos três meios, utilizando triplicata em três concentrações
Tampão
Concentração
CT (µg/mL)
CME (µg/mL)
DPR (%)
CB
3,0
3,00
100,26
CM
10,0
9,98
99,82
CA
15,0
14,84
98,97
CB
3,0
3,03
101,00
CM
10,0
10,27
102,68
CA
15,0
15,23
101,54
CB
3,0
2,90
96,74
CM
15,0
14,90
99,37
CA
30,0
30,07
100,23
pH 1,2
pH 4,5
pH 6,8
Fonte: elaborada pela autora
De acordo com os dados experimentais encontrados nos parâmetros da validação, é
possível verificar que todos eles se enquadraram nos respectivos limites e demonstram-se
adequados como um método confiável para a quantificação de diazepam em meios
biorrelevantes por CLAE-DAD, apresentando linearidade, especificidade, exatidão e precisão.
5.3. -Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus excipientes
Para que sejam bioisentos novos produtos baseando-se no SCB, estes devem conter
fármacos com alta permeabilidade intestinal (fração de dose absorvida ≥ 85% da dose
administrada, demonstrada com base em dados provenientes de estudos em seres humanos),
ampla faixa terapêutica e ausência de evidências documentadas de bioinequivalência ou
problemas de biodisponibilidade devido à formulação. Recomenda-se ainda que, para o
77
pedido de bioisenção, a formulação teste empregue os mesmos excipientes presentes na
formulação do medicamento de referência (BRASIL, 2011a).
Visto que é de suma importância avaliar a formulação, verificou-se na relação de
excipientes dos medicamentos contendo diazepam (Tabela 4 – tópico 2.10.8), que o
medicamento referência no mercado brasileiro, produto 8, não apresenta excipientes
considerados ativos em sua composição. No entanto, na composição dos outros
medicamentos, há a presença de laurilsulfato de sódio, manitol e polissorbato 80 em três
produtos, sendo que o medicamento 2 apresenta dois dos excipientes ativos. O laurilsulfato de
sódio e polissorbato 80 são sustâncias tensoativas e sabe-se que esses compostos são
componentes críticos tanto em baixa concentração como em alta, uma vez que em pequena
quantidade podem diminuir a tensão superficial do meio de dissolução aumentando a
velocidade de dissolução do fármaco e em grandes quantidades podem formar micelas com o
fármaco, dificultando a dissolução (SHARGEL et al., 2005). Em geral, a função primária do
manitol é como composto diluente. Este não é absorvido significativamente no trato
gastrintestinal, mas em doses elevadas, interfere na motilidade intestinal, podendo inclusive
causar diarréia osmótica (ROWE et al., 2009).
Uma vez que vários produtos encontrados no mercado nacional não apresentam
excipientes ativos, podemos supor que não são substâncias indispensáveis e já que o produto
referência não apresenta nenhum deles, um novo produto candidato à bioisenção não deve
conter esses componentes críticos.
No quadro 3 é apresentada a lista de excipientes dos três medicamentos selecionados
nesse estudo, bem como a faixa usual dos excipientes de acordo com o banco de dados do
FDA e tendo clara a função na forma farmacêutica. É possível notar que em termos de tipos
de excipientes usados, o produto A (referência) faz uso de apenas 4 compostos além do
princípio ativo, em seguida o produto C (similar) apresenta um número maior de excipientes
e, por final, o produto B (genérico) se destaca na variedade dos mesmos.
Dentre
as
funções
encontramos
lubrificante,
corante,
diluente,
agludinante,
desintegrante, espessante e antiaderente. Assim como o tipo do excipiente pode influenciar na
absorção do fármaco, a quantidade de excipientes inertes, da mesma forma, pode modificá-la.
Um exemplo disso é o fato de que lubrificantes em grandes quantidades podem apresentar um
comportamento hidrofóbico e prejudicar a dissolução (SHARGEL et al., 2005). Portanto, a
quantidade de estearato de magnésio e talco nos produtos avaliados deve respeitar os limites
para beneficiar a dissolução. Para o estearato de magnésio, é inclusive recomendado que seja
usada a menor quantidade possível na formulação, devido à sua natureza hidrofóbica que
78
pode retardar a dissolução, além de formar camadas hidrofóbicas que não se dispersam após
dissolução. O talco não é tão comumente utilizado atualmente, entretanto o seu uso é amplo
no desenvolvimento de produtos de liberação controlada, uma vez que é capaz de retardar a
dissolução (ROWE et al., 2009). De acordo com resultados obtidos em ensaio de dissolução, é
possível supor se algum excipiente, tido como inerte, estaria alterando a velocidade de
dissolução e consequentemente, a absorção. O estearato de magnésio está presente nos três
medicamentos e o produto B apresenta um lubrificante adicional, o talco. A composição das
formulações não é acessível em dados quantitativos, mas pode-se sugerir que, se algum
medicamento apresentasse velocidade de dissolução lenta, ou seja, não atingir 85% do
declarado em até 30 minutos, os lubrificantes poderiam estar em quantidades maiores que a
necessária, mesmo dentro da faixa usual (inclusa na Tabela 4), que pode ser ampla.
Quadro 3 – Excipientes presentes nos produtos A (referência), B (genérico) e C (similar)
Excipientes
Produtos
A (Referência)
Amido de milho
x
Estearato de magnésio
x
Indigocarmin
x
Lactose
x
B (Genérico)
C (Similar)
x
x
x
x
Celulose microcristalina
x
Corante alumínio laca vermelho eritrozina 3
x
Croscarmelose sódica
x
Dióxido de silício
x
Fosfato de cálcio dibásico
x
Lactose monoidratada
x
Talco
x
Amido de milho pré-gelatinizado
x
Corante amarelo tartrazina
x
Fonte: elaborado pela autora
De acordo com Rowe e colaboradores (2009), o amido de milho é usado como um
desintegrante, diluente e espessante e geralmente se usa na formulação de comprimidos 320% p/p (5-10%, dependendo do tipo de amido) como um aglutinante para granulação a
79
úmido e testes de friabilidade, dureza, desintegração e dissolução colaboram verificando se a
quantidade deste excipiente está apropriada para a devida liberação do fármaco. Logo caso as
velocidades de dissolução dos produtos A e C se apresentassem diferentes da velocidade de
dissolução de B, poderia ser atribuído à presença do amido, ou sua quantidade, que não está
incluído na formulação B.
O amido de milho pre-gelatinizado é empregado também como aglutinante e autolubrificante. Porém, quando é usado com outros excipientes, pode ser necessário adicionar um
lubrificante à formulação. Embora o estearato de magnésio 0,25% p/p seja comumente
utilizado para este fim, as concentrações superiores a essa podem ter efeitos prejudiciais sobre
a dissolução do fármaco. No caso de se utilizar um lubrificante com o amido de milho pregelatinizado, uma boa alternativa seria não usar o estearato de magnésio, como é o caso do
produto C, e sim, o ácido esteárico (ROWE et al., 2009).
A celulose microcristalina e croscarmelose sódica podem em grandes quantidades, ter
um efeito laxativo. Entretanto, é pouco provável a intercorrência de um problema no TGI
quando usada como excipiente em formulações farmacêuticas, em quantidades usuais para as
formas farmacêuticas sólidas orais (ROWE et al., 2009). Quanto à formulação, a presença da
celulose microcristalina desempenha um papel importante como um diluente, mas também
como um modificador da liberação. A ausência ou quantidade inferior à necessária pode
prejudicar a liberação do fármaco, uma vez que facilita a penetração do meio aquoso
(BRAVO et al., 2002). Apenas o produto B apresenta celulose microcristalina e sua presença
poderia causar maior liberação e dissolução do fármaco e consequentemente divergências
entre os resultados dos três produtos estudo de dissolução.
A lactose é um composto comumente utilizado como diluente em cápsulas e
comprimidos. No estado sólido pode ser encontrada em diferentes formas isoméricas.
Diferentes qualidades de lactose, que variam nas suas propriedades físicas, estão
disponíveis no comércio, em suas várias formas cristalinas e amorfas. O tamanho da partícula
influencia a velocidade de dissolução. Cristais grosseiros se dissolvem mais lentamente que
finas partículas de lactose (ROWE et al., 2009, DFE PHARMA, 2011).
5.4 – Ensaios Farmacopéicos
Os ensaios farmacopéicos tiveram por objetivo avaliar se as especialidades
farmacêuticas empregadas nos ensaios de dissolução apresentavam qualidade, conforme as
80
especificações. Os procedimentos foram realizados conforme os métodos da Farmacopeia
brasileira 5ªed. Como exposto no Quadro 4, os três produtos apresentaram resultados
conformes.
Testes de friabilidade, dureza e desintegração são fundamentais para verificar se o
produto tem uma formulação de qualidade, uma vez que quantidades inadequadas de
excipientes podem ser avaliadas por esses experimentos (ROWE et al., 2009).
Quadro 4 – Resultados dos medicamentos referência (A), genérico (B) e similar(C) nos
ensaios farmacopeicos
Produto
A
B
C
Parâmetro de
aceitação
Uniformidade de doses
unitárias (valor de
aceitação)
5,0
6,3
11,5
<15
Cumpre o teste
Determinação de peso
-
-
-
± 7,5%
Cumpre o teste
Teste de friabilidade
(%)
0,42
0,40
0,18
<1,5%
Cumpre o teste
Doseamento (%)
106,2
99,3
96,6
92,5% a 107,5%
Cumpre o teste
Teste de dureza (N)
39,7
37,4
29,0
-
Informativo
-
desintegração
em até 30
minutos (água a
37 °C)
Cumpre o teste
Teste
Teste de desintegração
-
-
Resultado
Apesar de todos os resultados expressos no Quadro 4 (dados na íntegra expostos nos
APÊNDICES, A a E) cumprirem os requisitos foi possível isolar algumas características
diferentes entre eles. O doseamento informa que há maior quantidade de diazepam no
medicamento referência, seguido pelo genérico e por fim o similar, sendo a diferença de
teores superior a 5% entre os produtos similar e genérico comparativamente ao referência e de
acordo com a RDC nº 31 (BRASIL, 2010b), para as formas farmacêuticas não isentas do
estudo de biodisponibilidade relativa/bioequivalência, a diferença de teor da substância ativa
entre os medicamentos teste e referência não deve ser superior a 5%.
81
A dureza é maior no referência em relação aos demais e a friabilidade inferior no
similar em relação aos outros, ou seja, há uma diferença física entre eles. O estudo de
dissolução é capaz de avaliar o impacto dessa diferença física na liberação do fármaco.
5.5 - Estudo de dissolução da forma farmacêutica comprimidos
Para que os resultados corroborem um parecer favorável à bioisenção, os guias da
ANVISA (BRASIL, 2011a) e FDA (2000) esclarecem que 85% do fármaco deve se dissolver
em até 30 minutos, sob as condições de uso do aparato II a 50 rpm (ou aparato I a 100 rpm),
em um volume de 900 mL nos meios Fluido Gástrico Simulado sem enzimas pH 1,2, tampões
acetato pH 4,5 e fosfato pH 6,8.
De acordo com as Figuras 12, 13, 14 e 15 e as Tabelas 16, 17 e 18 verificou-se que
nenhum dos produtos avaliados apresentou a rápida dissolução, ou seja, dissolução de 85%
em até 30 minutos (BRASIL, 2011a). Logo, o resultado obtido com esses medicamentos não
leva a um parecer favorável sobre a bioisenção, conforme os guias.
Foi possível verificar que, até mesmo nos tempos que excedem o parâmetro de 30
minutos, não houve liberação de 85% do fármaco declarado, a partir da forma farmacêutica.
Vale ressaltar que, nesse experimento despertou-se o interesse de avaliar o resultado da
dissolução sob uma condição mais extrema, que seria o tempo infinito, além do resultado sob
as condições padrão para a bioisenção. O ponto infinito se refere a uma condição mais
extrema ao final do estudo de dissolução, onde é utilizada uma rotação do aparato, superior a
condição estabelecida para os primeiros pontos do perfil (comumente 150 ou 200 rpm de 15 a
60 minutos) para se obter uma informação complementar sobre a uniformidade de
distribuição da dose e desempenho da formulação (UNITED, 2010). Nesse trabalho,
estabeleceu-se para o último ponto do perfil, referente a 95 minutos, 150 rpm por 30 minutos
e ainda sim, não foi possível encontrar dissolução superior a 85%.
Nas Figuras 13, 14 e 15, é demonstrado nos gráficos que a velocidade de liberação do
fármaco nos primeiros 30 minutos no medicamento referência, é maior em relação aos outros
produtos em todos os meios, sendo que logo em seguida estão as velocidades de dissolução do
medicamento genérico e por fim o medicamento similar, com dissolução menor em todos os
meios, mas principalmente em tampão acetato pH 4,5 e fosfato pH 6,8. Os valores médios da
porcentagem dissolvida em cada um dos oito pontos que compõem os perfis de dissolução
foram avaliados por ANOVA, que indicou que os perfis de dissolução no suco gástrico
82
simulado apresentaram diferenças entre os produtos genérico e similar. Em tampão pH 4,5 e
pH 6,8, os produtos que apresentaram diferenças foram o referência e genérico, referência e
similar e similar e genérico.
Figura 12 - Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades do produto referência
(a), genérico (b) e similar (c) em cada um dos meios, suco gástrico simulado sem enzimas pH
1,2, tampão acetato pH 4,5 e tampão fosfato pH 6,8
(a)
% dissolução
100
80
60
40
20
0
pH 1,2
pH 4,5
pH 6,8
0
30
60
90
120
Tempo (minutos)
(b)
% dissolução
100
80
60
pH1,2
40
pH 4,5
20
pH 6,8
0
0
30
60
90
120
Tempo (minutos)
(c)
% dissolução
100
80
60
pH 1,2
40
pH 4,5
20
pH 6,8
0
0
30
60
90
120
Tempo (minutos)
Fonte: elaborada pela autora
83
Nas Tabelas 15, 16 e 17 estão expressos os dados da porcentagem de fármaco
dissolvida de acordo com o tempo, conforme os cálculos de balanço de massa e os valores de
Eficiência de Dissolução (ED%) da média (n=12) da porcentagem de fármaco dissolvido.
Tabela 15 - Resultado do perfil de dissolução em suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2:
média da porcentagem dissolvida de 12 unidades de cada um dos três medicamentos avaliados
(Referência, Genérico e Similar), o desvio padrão (DP) e a eficiência de dissolução (ED%)
Medicamento
Tempo
0
1
5
10
15
30
45
65
95
ED (%)
Suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2
Referência
Genérico
Similar
%
%
%
DP
DP
dissolvida
dissolvida
dissolvida
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
55,64
14,32
15,02
4,61
6,24
83,21
4,06
81,78
4,98
62,77
81,67
3,27
83,43
4,94
70,53
81,09
3,50
81,77
4,90
72,49
79,04
3,12
79,78
4,23
75,87
77,36
2,70
78,30
3,54
75,71
76,64
3,15
76,66
2,90
74,32
74,43
1,81
74,94
2,34
74,36
87,88
84,00
86,13
DP
0,00
2,92
4,07
4,21
2,56
1,97
1,91
1,66
2,61
-
Fonte: elaborada pela autora
Figura 13 - Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2
%dissolução
100
80
60
Referência
Genérico
Similar
40
20
0
0
25
50
75
100
Tempo( minutos)
Fonte elaborada pela autora
84
Tabela 16 - Resultado do perfil de dissolução em meio acetato pH 4,5: média da porcentagem
dissolvida de 12 unidades de cada um dos três medicamentos avaliados (Referência, Genérico
e Similar), o desvio padrão (DP) e a eficiência de dissolução (ED%)
Medicamento
Tempo
0
1
5
10
15
30
45
65
95
ED (%)
Meio acetato pH 4,5
Referência
Genérico
%
%
DP
DP
dissolvida
dissolvida
0,00
0,00
0,00
0,00
15,66
3,91
5,60
1,71
43,61
7,22
22,90
3,86
55,73
4,43
35,12
3,89
62,86
2,40
42,30
4,06
75,69
2,39
58,05
2,15
78,65
4,91
66,45
1,96
82,53
4,72
74,22
1,71
85,81
4,25
82,14
1,65
85,93
74,77
-
Similar
%
dissolvida
0,00
4,90
20,67
27,96
29,16
38,94
43,93
49,10
56,54
73,79
DP
0,00
1,49
2,29
2,13
3,68
2,31
1,91
1,92
1,88
-
Fonte: elaborada pela autora
Figura 14 - Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio tampão acetato pH 4,5
%dissolução
100
80
60
Referência
40
Genérico
20
Similar
0
0
25
50
75
100
Tempo (minutos)
Fonte: elaborada pela autora
85
Tabela 17 - Resultado do perfil de dissolução em meio fosfato pH 6,8: média da porcentagem
dissolvida de 12 unidades de cada um dos três medicamentos avaliados (Referência, Genérico
e Similar), o desvio padrão (DP) e a eficiência de dissolução (ED%)
Medicamento
Tempo
0
1
5
10
15
30
45
65
95
ED (%)
Meio fosfato pH 6,8
Referência
Genérico
%
%
DP
DP
dissolvida
dissolvida
0,00
0,00
0,00
0,00
14,15
8,51
8,25
3,89
41,25
4,17
20,42
3,83
53,94
3,33
31,95
3,87
61,90
4,03
43,89
4,98
73,41
2,65
56,86
5,00
78,57
3,59
58,51
2,53
84,23
2,16
65,75
3,15
88,22
1,67
72,98
2,45
83,70
76,36
-
Similar
%
dissolvida
0,00
5,31
20,72
28,17
31,24
42,41
48,26
55,32
64,87
71,32
DP
0,00
0,79
2,85
3,69
2,66
2,97
1,68
0,83
1,17
-
Fonte: elaborada pela autora
Figura 15 - Representação do perfil de dissolução médio de 12 unidades dos produtos
referência, genérico e similar em meio tampão fosfato pH 6,8
%dissolução
100
80
Referência
Genérico
Similar
60
40
20
0
0
25
50
75
100
Tempo (minutos)
Fonte: elaborada pela autora
Quanto aos estudos de dissolução encontrados na literatura, Bonissatto (2010) realizou
ensaios de dissolução da forma farmacêutica comprimidos de diazepam em meios com valor
de pH 1,2; 4,4 e 6,8 utilizando o aparato cesto a 100 rpm e 37 ºC. De acordo com seus
86
resultados, a dissolução do comprimido em meio pH 1,2 é mais rápida que em pH 4,4 e 6,8, e
a mesma tendência foi apontada nesse trabalho, mesmo sob outra condição de aparato e
rotação. Nos gráficos é evidenciado que a velocidade de dissolução foi dependente do pH,
uma vez que a dissolução é maior em tampão pH 1,2 comparado aos demais meios. Essa
informação foi condizente com os resultados do estudo de solubilidade deste trabalho.
Lokniskar e colaboradores (1989) realizaram um estudo de dissolução (aparato cesto a
100 rpm, 37º) comparando os medicamentos referência e genérico em meio HCL 0,1N e
tampão acetato pH 4,5. Não foi realizado tratamento estatístico para comparar os perfis, mas
claramente foi possível verificar que em pH 1,2, ambos os medicamentos apresentaram alta
velocidade de dissolução, com valores por volta de 100% da quantidade declarada dissolvidos
em 30 minutos. Já em pH 4,5, o valor médio de dissolução foi inferior: 87,1% (referência) e
37,5% (genérico) aos 30 minutos, sendo que o genérico não alcança 85% aos 90 minutos.
Apesar das condições de aparato e velocidade serem diferentes, os resultados deste trabalho
são condizentes com os de Lokniskar e colaboradores, devido a melhor dissolução em pH 1,2
e a diferença da velocidade de dissolução em pH 4,5 em medicamentos de marcas diferentes.
Domínguez e colaboradores (1994) também encontraram 100% de fármaco dissolvido
em HCl pH 1,2 em quatro produtos diferentes aos 30 minutos. Foi realizada a diferença
estatística entre a média dos produtos (<0,05) em 1 e 15 minutos. Foram encontradas
diferenças, porém a porcentagem final de dissolução entre eles não foi comprometida e não
apresentou diferenças relevantes. Neste trabalho, apesar da análise de variância ter apontado
diferenças entre os produtos genérico e similar em pH 1,2, é possível notar nas Figuras 13, 14
e 15, que o meio pH 1,2 é aquele onde a dissolução das diferentes especialidades
farmacêuticas se dá de maneira mais semelhante, uma vez que ocorre tão rapidamente, devido
a influência do pH, que as diferenças entre as formulações se tornam menores em relação a
dissolução em meios mais alcalinos.
Este trabalho e os comentados anteriormente sugerem que as diferentes formulações
podem gerar diferenças nos perfis de dissolução menos ou mais expressivas, porém há o fator
pH dependente, que impacta sobre a dissolução do fármaco a partir da forma farmacêutica e
sobrepõe-se às características da formulação.
No Quadro 3, no tópico 5.3, “Avaliação dos medicamentos contendo diazepam e seus
excipientes”, verifica-se que a diferença qualitativa entre as formulações do medicamento A
(referência) e C (similar) não é tão significativa, enquanto que B (genérico) apresenta uma
formulação que se distingue das demais. A diferença entre A e C é basicamente o corante
(indigocarmin em A e amarelo tartrazina em C) e adição de amido de milho pré-gelatinizado
87
em C. A diferença do perfil de dissolução de A e C identificada nas Figuras 13,14 e 15 pode
ser atribuída a diferenças qualitativas e quantitativas entre os excipientes ou/e o processo de
formulação (ROWE et al.,2009; STORPIRTIS; GAI, 2009).
A partir dos dados individuais de ED% dos comprimidos (n=12) empregados no ensaio
de dissolução (Tabela 18), foi aplicada a ANOVA one-way para verificar diferenças
estatisticamente significas entre os produtos (α=0,05). A comparação dos perfis é importante
para saber se os produtos liberam o fármaco na mesma quantidade e na mesma velocidade,
enquanto que, a comparação das eficiências de dissolução permite quantificar o fármaco
liberado em determinado tempo, podendo ser correlacionada com os dados in vivo de
esvaziamento gástrico. Dessa forma, é possível prever ou supor se o fármaco estará
solubilizado e consequentemente disponível para permear as membranas do TGI, antes de
passar para o compartimento posterior ou ser eliminado (OLIVEIRA; MANZO, 2009).
Esta informação é de suma importância para os estudos de bioisenção. Se houver a
liberação do fármaco em uma porção do TGI que ocasione inativação ou não possibilite sua
dissolução, a absorção pode ser prejudicada. No caso do diazepam que é um ácido fraco, e por
isso, não é ionizado no estômago, na condição de pH de jejum, ele se dissolverá e permeará
adequadamente se estiver dissolvido nesta porção do TGI, ressaltando que o tempo de
esvaziamento gástrico geralmente é inferior a 30 minutos e nesta caso a absorção ocorreria
antes do início da degradação.
A ED% no meio suco gástrico simulado pH 1,2 foi obtida em tempos diferentes para
cada fármaco, sendo 10 minutos para o referência, 15 minutos para genérico e 30 minutos
para o similar, devido às diferentes velocidades de dissolução que impactaram sobre o tempo
necessário para alcançar o platô. Os resultados possibilitaram verificar diferenças
estatisticamente significativas entre os produtos referência e genérico.
Nos meios acetato pH 4,5 e fosfato pH 6,8, a ED% foi obtida considerando o mesmo
tempo para todos os medicamentos (t=95 min.) e ainda sim, as diferenças estatísticas foram
mais acentuadas: no tampão pH 4,5 entre os produtos referência e genérico e referência e
similar; em tampão pH 6,8 entre os produtos referência e genérico, referência e similiar, e
genérico e similar.
Pelo teste da ED% verifica-se que o desempenho da dissolução não é semelhante entre
os produtos referência e genérico em todos os meios. Os medicamentos referência e similar
também não têm eficiência de dissolução semelhantes em pH 4,5 e pH 6,8. E em pH 6,8, até
genérico e similar não obtiveram ED% semelhantes.
88
Tabela 18 – Eficiência de dissolução (ED%) de 12 unidades dos produtos referência, genérico
e similar em cada um dos meios: pH1,2, pH 4,5 e pH 6,8
ED%
Referência
Genérico
Similar
pH 1,2a pH 4,5d pH 6,8d pH 1,2b pH 4,5d pH 6,8d pH 1,2c pH 4,5d pH 6,8d
84,54
81,91
86,10
80,66
73,32
75,05
85,06
73,96
73,96
90,93
82,86
80,10
83,11
73,33
75,18
86,39
71,67
71,67
78,86
83,02
81,73
83,13
73,32
73,92
87,92
72,33
72,33
90,69
87,46
82,76
85,73
73,55
74,04
87,12
70,92
70,92
91,56
88,44
84,94
84,11
73,70
73,81
84,46
72,12
72,12
81,24
88,85
83,29
87,42
75,68
73,72
86,26
74,67
74,67
89,37
88,27
83,75
86,64
76,21
72,17
86,77
70,06
70,06
92,31
86,65
84,44
82,41
77,04
77,90
85,53
69,44
69,44
82,67
86,83
84,79
84,09
75,15
79,53
88,66
69,08
69,08
89,68
86,35
86,10
84,19
75,01
84,46
82,19
70,02
70,02
90,68
87,52
86,00
84,43
75,41
79,14
85,13
71,12
71,12
92,03
85,57
86,10
82,61
75,39
79,53
82,19
70,58
70,58
a
ASC (0-10 min.)
b
ASC
(0-15 min.)
c
ASC
(0-30 min.)
d
ASC (0-95 min.)
Fonte: elaborada pela autora
Na Figura 16 estão apresentados os gráficos com a estatística descritiva (Box Plot) dos
dados de ED%, presentes na Tabela 18, demonstrando os valores médios, medianas e desvio
padrão dos grupos dos comprimidos dos três produtos em cada um dos meios. É possível
notar que, assim como nos perfis de dissolução, os resultados de eficiência de dissolução
apresentados na Figura 16 sugerem maior liberação do fármaco no suco gástrico simulado
sem enzimas e maior eficiência de dissolução do medicamento referência em todos os três
meios.
Esses vários resultados corroboram para a conclusão de que as diferenças entre essas
formulações ou seu processo de produção, características essas estudadas pela biofarmácia,
podem ocasionar alteração na velocidade de dissolução das apresentações farmacêuticas
avaliadas. Outra observação que os resultados são capazes de subsidiar é que, atualmente,
estão disponíveis no comércio nacional, medicamentos que não estão apresentando
89
semelhança quanto à velocidade de dissolução, que consequentemente há o risco de uma não
equivalência terapêutica entre eles.
Figura 16 - Gráficos apresentando estatística descritiva (Box Plot) para dissolução dos
produtos em cada um dos meios: suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2 (a), tampão
acetato pH 4,5 (b) e tampão fosfato pH 6,8
Fonte: elaborada pela autora
5.6 – Estudo de solubilidade do fármaco diazepam
Na Figura 17 são demonstrados os valores de solubilidade obtidos nesse período de
tempo nos três meios avaliados. O diazepam é consideravelmente mais solúvel em meio pH
1,2 e menos solúvel nos demais meios. Essa informação apresenta similaridade em relação
aos resultados encontrados no ensaio de dissolução. Analisando a Figura 17, 18 e Tabela 19 é
90
possível verificar que as concentrações referentes à solubilidade em pH 1,2 encontradas por
CLAE, a partir de 1 hora, começam a decair e após 20 horas, uma concentração
consideravelmente inferior a encontrada inicialmente é identificada. Esse resultado é mais um
indício da degradação em pH 1,2 relatado na literatura (NUDELMAN; WAISBAUM, 1995;
LINDENBERG, 2006). Em meio acetato pH 4,5 o platô foi atingido após 32 horas e em meio
fosfato pH 6,8, após 20 horas.
De acordo com os resultados apresentados nas Tabelas 19, 20 e 21, as amostras em
triplicatas (de cada um dos meios) geraram um desvio padrão relativo conforme, sendo
inferior a 5%. O pH não sofreu modificação durante o experimento.
Figura 17 – Média da solubilidade do fármaco diazepam (n=3, em cada meio) nos meios pH
1,2, pH 4,5 e pH 6,8
(µg/mL)
250
pH 1,2
200
pH 4,5
150
pH 6,8
100
50
0
0
10
20
30
40
50
60
Tempo (horas)
Fonte: elaborada pela autora
Um fármaco em FFSOLI é considerado altamente solúvel de acordo com o SBC se sua
maior dose descrita em bula, administrada por via oral se solubiliza em um volume igual ou
menor a 250 ml de cada uma das soluções tampão utilizadas dentro da faixa de pH fisiológico
(1,2 a 6,8), a 37 ± 1ºC (BRASIL, 2011a). Visto que a maior dose do fármaco em questão é 10
mg, esse valor dividido pelos 250 mL de meio, resulta em uma concentração de 40 µg/mL. Na
Figura 18 se compara a solubilidade (n=3) em cada um dos meios e o valor de 40 µg/mL
como limite entre a alta e baixa solubilidade no SCB. Os gráficos resultam na informação de
que o diazepam é um fármaco de alta solubilidade desde o tempo zero e que nos demais
meios, passa a ser um fármaco altamente solúvel após 8 horas e se mantém até o fim do
ensaio. Em meio suco gástrico simulado sem enzimas, a solubilidade atingiu o equilíbrio em
91
meia hora com o valor de 239,09 ug/mL. Em meio acetato, o equilíbrio foi alcançado em 32
horas e a solubilidade média foi de 48,00 ug/. Já em meio fosfato, foi encontrada a
solubilidade média de 47,11 ug/mL em 44 horas, seguida por degradação. Após os tempos
citados ocorreram indícios de degradação dos fármacos em todos os três meios avaliados,
representados pela queda dos valores de concentração do fármaco a partir dos referidos
momentos.
Tabela 19 - Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio fluido gástrico simulado
sem adição de enzima pH 1,2
Tempo (horas)
Replicatas
0
0,5
1
2,0
4
8
20
1
238,43
240,46
231,21
209,37
185,34
166,56
145,37
2
238,92
238,68
221,03
201,77
177,81
153,77
145,36
3
219,0
238,12
222,70
198,60
175,26
156,70
142,37
Média
232,14
239,09
224,98
203,25
179,48
159,01
144,36
DPR (%)
4,88
0,50
2,42
2,72
2,92
4,21
1,20
Fonte: elaborada pela autora
Tabela 20 - Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio acetato pH 4,5
Tempo (horas)
Replicatas
0
2
4
8
20
32
44
56
1
NQ
29,33
33,48
39,62
44,42
45,60
44,46
43,34
2
NQ
31,31
36,92
43,07
48,26
49,88
45,32
43,98
3
NQ
32,19
35,67
41,83
47,40
48,51
43,19
47,29
Média
NQ
30,94
35,36
41,51
46,69
48,00
44,33
44,87
DPR (%)
NQ
4,73
4,94
4,21
4,32
4,56
2,41
4,73
NQ = Não quantificável
Fonte: elaborada pela autora
92
Tabela 21 - Valores de concentração (µg/mL) obtidos, em triplicata, para o fármaco
diazepam, em diferentes tempos (t) de coleta em horas (h), no meio fosfato pH 6,8
Tempo (horas)
Replicatas
0
2
4
8
20
32
44
56
1
NQ
27,84
35,88
43,70
44,61
44,11
46,30
43,77
2
NQ
29,64
39,52
45,99
44,52
46,92
47,59
44,98
3
NQ
28,69
37,70
44,44
47,32
45,65
47,42
43,14
Média
NQ
28,69
37,70
44,71
45,48
45,56
47,11
43,77
DPR (%)
NQ
3,16
4,82
2,62
3,50
3,09
1,49
2,40
NQ = Não quantificável
Fonte: elaborada pela autora
Figura 18 - Gráficos de concentração versus tempo obtido no estudo de solubilidade de
diazepam em suco gástrico simulado sem enzimas pH 1,2 (a), acetato pH 4,5 (b) e fosfato pH
6,8 (c) e a comparação entre o perfil de solubilidade e o limite entre alta e baixa solubilidade
em cada um dos meios
(a)
(µg/mL)
(b)
(µg/mL)
60
250
200
150
100
50
0
40
20
0
0
5
10
15
20
25
0
20
Tempo (horas)
(c)
40
20
0
20
40
60
Tempo (horas)
Limite entre alta e baixa solubilidade
Fonte: elaborada pela autora
60
Tempo (horas)
(µg/mL)
60
0
40
93
5.7 - Discussão sobre a permeabilidade intestinal do diazepam
De acordo com o FDA, a permeabilidade pode ser obtida por meio da determinação da
biodisponibilidade absoluta, estudo de balanço de massa e perfusão intestinal in vivo em
indivíduos humanos. Entretanto, outras opções que não envolvam seres humanos são
admitidas como perfusão intestinal in vivo ou in situ em um modelo animal adequado e/ou
métodos de permeabilidade in vitro usando tecidos intestinais excisados. Também é admitida
a utilização de culturas de células epiteliais em monocamadas. Quando o resultado de apenas
um método aponta claramente a permeabilidade do composto (exemplo: quando a
biodisponibilidade absoluta é igual ou superior a 90% ou quando 90% ou mais do fármaco
administrado é recuperado na urina) não são necessários outras técnicas, caso contrário é
recomendável a comparação com resultados obtidos por outro método (FDA, 2000). Zaki e
colaboradores (2010) usaram células 2/4/A1 para determinar a permeabilidade. Foi
identificada alta permeabilidade, sendo este, um dado compatível com valor de fração
absorvida (FA) de 90%. Na Tabela 3, inserida no tópico 2.10.7, estão compilados outros
estudos relacionados à permeabilidade intestinal do diazepam.
Valores in vitro de alta permeabilidade para o diazepam são reafirmados pelos valores
elevados de fração absorvida que variam de 90 a 100% (DIVOLL et al., 1983; PALM et al.,
1997; ABED et al., 2010; TURCO et al., 2011; ZAKI et al., 2010; HASLAM et al., 2011),
que se correlacionam bem com a definição de que um fármaco de alta permeabilidade
apresenta valor de fração absorvida superior a 90% em comparação com a referência
intravenosa (WU e BENET, 2005).
Resultados obtidos na literatura apontam valores altos de LogP para o diazepam sendo
2,58 em pH 7,4 (LINDENBERG, 2006), 2,85 (JOUYBAN et al., 2010) e 3,2 (ZAKI et al.,
2010). Uma vez que o valor de logP do metoprolol, é 1,34 (KASIM et al., 2004), sendo este
utilizado como referência de alta permeabilidade, substâncias com valores de LogP acima
deste podem ser classificados como altamente permeáveis.
Os dados obtidos de estudos in vivo e in vitro permitem subsidiar a classificação do
diazepam como um fármaco altamente permeável.
94
6 – CONCLUSÕES
1. A avaliação biofarmacêutica do diazepam infere que o fármaco pode ser classificado
como pertencente à classe I no SCB, ou seja, possui alta solubilidade e alta
permeabilidade intestinal. No entanto, os resultados do estudo de dissolução
demonstraram uma baixa velocidade de dissolução do diazepam quando veiculados
nos medicamentos na FFSOLI avaliados, com resultados inferiores aos parâmetros
recomendados pelos guias vigentes, o que demanda uma avaliação das formulações
visando uma decisão segura sobre a bioisenção de novos produtos contendo este
fármaco.
2. No desenvolvimento do método analítico verificou-se que a espectrofotometria UV
não foi capaz de diferenciar o analito e os produtos de degradação, o que poderia
impossibilitar a realização do estudo de solubilidade. A partir da quantificação por
CLAE as amostras indicam degradação após 24 horas nos meios, sendo essa
degradação mais acentuada em meio ácido, porém, o método CLAE foi capaz de
diferenciar o analito de produto de degradação, além de ter atendido os parâmetros
linearidade, precisão e exatidão e especificidade em uma faixa de concentração.
3. Dos 14 medicamentos na forma de comprimidos de 10mg de diazepam, com os
dados de excipientes disponíveis, 3 apresentam excipientes críticos capazes de
influenciar a absorção. Entretanto, os medicamentos avaliados no estudo de
dissolução apresentam excipientes considerados inertes, dependendo das suas
características e quantidades empregadas.
4. Os dados da literatura sobre permeabilidade intestinal sugerem uma alta
permeabilidade do diazepam.
5. Os estudos de solubilidade apontaram o diazepam como um fármaco de alta
solubilidade, sendo o requisito para isto alcançado no suco gástrico simulado sem
enzimas pH 1,2 desde o início do ensaio e nos demais meios, após 8 horas em
contato com o meio.
6. Os estudos de dissolução mostraram, nas condições experimentais utilizadas, que os
três produtos avaliados apresentam uma dissolução insatisfatória em relação aos
parâmetros exigidos em bioisenção. Como resultado final do estudo de dissolução
destaca-se que nenhum desses medicamentos possui rápida dissolução (85% em 30
minutos) e que pode haver diferenças significativas de perfil de dissolução entre os
medicamentos, dependendo dos constituintes da formulação.
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105
APÊNDICE
APÊNDICE A – Resultado do teste de uniformidade de conteúdo do diazepam em dez
unidades de cada produto
Unidades
Teor (%)
Produto A
Produto B
Produto C
1
100,95
104,15
90,90
2
103,7
101,35
90,05
3
102,1
105,00
92,6
4
101,4
105,20
91,7
5
101,35
100,85
90,6
6
106,25
102,8
94,05
7
102,95
105
91,45
8
103,45
100,7
94,3
9
103,15
100,85
98,1
10
102,4
99,3
93,8
Média
102,77
102,52
92,75
DP
1,54
2,18
2,40
Valor de aceitação
4,97
6,26
11,51
Fonte: elaborada pela autora
106
APÊNDICE B – Teor de diazepam nos produtos A, B e C, obtidos por CLAE, com detecção
no DAD a 254 nm
Produto A
Replicata
Produto B
Produto C
Concentração
Teor
Concentração
Teor
Concentração
Teor
(µg/mL)
(%)
(µg/mL)
(%)
(µg/mL)
(%)
1
21,20
106,02
19,91
99,54
19,37
96,85
2
21,13
105,63
19,90
99,48
19,49
97,47
3
21,41
107,04
19,80
99,02
19,12
95,61
Média (%)
21,25
106,23
19,87
99,35
19,33
96,64
DP
0,14
0,72
0,06
0,28
0,19
0,95
DPR (%)
0,66
0,68
0,30
0,28
0,98
0,98
Fonte: elaborada pela autora
107
APÊNDICE C – Determinação de peso de 20 unidades de cada produto (A, B e C), peso
médio e desvios porcentuais em relação à média
Unidade
1
Produto A
Produto B
Produto C
Peso (g)
Desvio (%) Peso (g)
Desvio (%) Peso (g)
Desvio (%)
0,1737
0,44
0,1701
0,66
0,1381
-1,02
2
0,1742
0,73
0,1671
-1,12
0,1409
0,98
3
0,1712
-1,00
0,1708
1,07
0,1388
-0,52
4
0,1743
0,79
0,1710
1,19
0,1415
1,41
5
0,1722
-0,42
0,1680
-0,58
0,1462
4,78
6
0,1724
-0,31
0,1694
0,24
0,1408
0,91
7
0,1743
0,79
0,1688
-0,11
0,1381
-1,02
8
0,1723
-0,36
0,1754
3,80
0,134
-3,96
9
0,1727
-0,13
0,1669
-1,23
0,1396
0,05
10
0,1736
0,39
0,1697
0,42
0,1412
1,20
11
0,1718
-0,65
0,1647
-2,54
0,1399
0,27
12
0,1735
0,33
0,1706
0,95
0,1357
-2,74
13
0,1728
-0,07
0,1678
-0,70
0,1394
-0,09
14
0,1725
-0,25
0,1683
-0,41
0,1413
1,27
15
0,1733
0,21
0,1682
-0,46
0,1396
0,05
16
0,1741
0,68
0,1697
0,42
0,1372
-1,67
17
0,1732
0,16
0,1702
0,72
0,142
1,77
18
0,1732
0,16
0,1688
-0,11
0,1401
0,41
19
0,1718
-0,65
0,1669
-1,23
0,1377
-1,31
20
0,1715
-0,83
0,1673
-1,00
0,1384
-0,81
Média
0,1729
Fonte: elaborada pela autora
0,1689
0,1395
108
APÊNDICE D – Resultado do teste de friabilidade (n=20, 20 rpm, t=5 minutos)
Peso inicial dos
Peso final dos
Perda durante o
comprimidos (g)
comprimidos (g)
teste (g)
A
3,4586
3,4439
0,0147
0,42
B
3,3797
3,3660
0,0137
0,40
C
2,7905
2,7855
0,0050
0,18
Produto
Fonte: elaborada pela autora
Perda (%)
109
APÊNDICE E – Resultado do teste de dureza com resultados em Newtons (N) realizado com
10 unidades de cada produto
Dureza (N)
Unidade
Produto A
Produto B
Produto C
1
51
39,5
26,5
2
38,5
39
32
3
39,5
24
33,5
4
41
46
30,5
5
25
36,5
28,5
6
37
30,5
33
7
48,5
49
24
8
42,5
25,5
26
9
33
37,5
30
10
41
46,5
26
Média
39,7
37,4
29,0
DP
7,35
8,61
3,30
Fonte: elaborada pela autora
110
ANEXOS
Anexo A – Resumo de resultados parciais apresentado em SINPOSPq 2012:
Development of diazepam quantitative assay to be applied in solubility and dissolution
tests in biorelevants media
Lorena Barbosa Arrunátegui*; Gabriella Gonzaga Dutra; Neila Márcia Silva Barcellos;
Jacqueline de Souza
Curso de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (CiPharma) da Escola de Farmácia,
Universidade Federal de Ouro Preto. *e-mail: [email protected]
Introduction: Diazepam is a psychoactive drug with sedative and anxiolytic effects. Its
therapeutic importanceis reaffirmed by the presence in Brazilian and WHO´s Essential
Medicines lists, as well as in the list of biowaiver candidates of International Pharmaceutical
Federation. The biowaiver is the replace in vivo tests for assessment of bioequivalence using
in vitro tests of solubility and dissolution and permeability studies. For the quantification of
diazepam in biorelevant media employed in solubility and dissolution studies, is necessary the
development of analytical method that allows determination of the content without
interference of degradation products. Objective: This work aims identify the parameters of
linearity and specificity of ultraviolet spectrometry method, adapted from Brazilian
Pharmacopoeia 5th ed., and evaluate the feasibility of its use in solubility and dissolution
studies in biorelevant medium. Methods: The ultraviolet spectrometry method was used for
determination of diazepam at 254 nm, in the buffer solutions: simulated gastric fluid without
enzymes (pH 1.2), buffer acetate (pH4.5) and buffer phosphate (pH6.8). For preparation of
calibration curve were used two stock solutions (SE): SE 1: 10 mg of diazepam in 100 ml of
hydrochloric acid 0.1 M and SE 2: 10 mL of SE1 diluted to 50 mL of corresponding
biorelevant media.The standard curves were constructed by dilution of SE2 aliquots obtaining
the following concentrations: in buffer pH 1.2 were 0.11, 1.1, 4.4, 7.7, 11.0, 13.0, 30.0, 60.0,
90.0, 120.0, 150.0(µg/mL). In bufferpH 4.5: 0.11, 1.1, 4.4, 7.7, 11.0, 13.0, 10.0, 20.0, 40.0,
60.0, 80.0 (µg/mL). And in buffer pH 6.8: 0.11, 1.1, 4.4, 7.7, 11.0, 13.0, 10.0, 20.0, 30.0,
40.0, 50.0 (µg/mL). The specificity of the spectrophotometric method was evaluated by
possible interference of the degradation products from a solution of diazepam at 11 µg/mL in
three media after light exposure. Samples exposed for up to 50 hours were compared to
freshly prepared solution by performing scanning between 200-400 nm. Results: The
absorbance versus diazepam concentration results for buffer pH1.2 and pH6.8 promoted
appropriate linear relationship with evaluation coefficients(R²) around 0.999, except for
pH4.5 that showed R²0.985. The specificity test shows results of absorbance versus time for
diazepam solutions prepared in three mediums, and exposed and not exposed to light. It was
observed that about 18 hours after preparation of the solutions on those three media, was
found significant diazepam degradation. However the method does not allow differentiating
the degradation products from analyte of interest. Conclusion: The results showed that the
UV spectrofotometric method was not able to eliminate the interference of degradation
products that arise after light exposure. So, is not possible apply this method in studies of
solubility and dissolution of diazepam in biorelevant media.
Keywords: diazepam,
benzodiazepine
UV spectrometry,
biorelevant
Financial support: FAPEMIG, CAPES e UFOP
media,
linearity,
specificity,
111
Anexo B –Resumo de resultados parciais apresentado em IV CONCIFOP 2013
Validação de método cromatográfico para a quantificação de diazepam em meios
biorrelevantes
Lorena Barbosa Arrunátegui*; Gabriella Gonzaga Dutra ; Neila Márcia Silva Barcellos;
Jacqueline de Souza.Curso de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (CiPharma) da
Escola de Farmácia, Universidade Federal de Ouro Preto. *[email protected]
A quantificação de fármacos em meios biorrelevantes, ou seja, aqueles que mimetizam a
constituição e/ou o pH de líquidos característicos de porções do trato gastrintestinal é de suma
importância para estudos aplicáveis à bioisenção. Esta consiste na isenção ou substituição dos
testes in vivo de bioequivalência por avaliação in vitro utilizando dados de solubilidade e
permeabilidade do fármaco e estudos de dissolução a partir da forma farmacêutica. Visando
atender a uma demanda do Ministério da Saúde e da Federação Farmacêutica Internacional
em fornecer dados para subsidiar a discussão sobre bioisenção de produtos a base de
diazepam, o método a seguir foi desenvolvido e validado. O método de cromatografia líquida
de alta eficiência (CLAE) da Farmacopeia Brasileira 5ª ed. foi adaptado: fase móvel:
água/acetonitrila/metanol 40:40:20; coluna C18, detecção por DAD (254) nm. A solução
estoque (SE) foi preparada a partir da adição de metanol a 25 mg de diazepam em balão de 25
mL. As alíquotas de SE foram diluídas nos seguintes meios biorrelevantes: suco gástrico
simulado sem enzimas (pH 1,2), tampões acetato pH 4,5 e fosfato pH 6,8, nas seguintes faixas
de concentração: 3,0 a 15,0 (µg/mL) em meios pH 1,2 e 4,5 e 3,0 a 30,0 (µg/mL) em pH 6,8.
A especificidade em relação aos excipientes utilizados na forma farmacêutica e condições de
estresse sobre a SE foi satisfatória. A construção da curva analítica obtida por meio da média
de três determinações gerou coeficientes de avaliação (R²) iguais a 0,999 nos três meios,
possibilitando uma resposta linear para quantificação de diazepam nas faixas de concentração
apresentadas. Os resultados de precisão e a exatidão se apresentaram de acordo com os limites
variando de 0,10 a 4,06% (DPR) e 96,74 a 102,68%, respectivamente. O método se mostrou
adequado para quantificar o diazepam diluído nos meios avaliados, possibilitando a realização
de estudos de solubilidade e dissolução.
- Palavras-Chave: Validação, diazepam, CLAE, meios biorrelevantes
- Agências de Fomento: FAPEMIG, CAPES e UFOP
112
Anexo C - Submissão do artigo científico intitulado “Sistema de Classificação
Biofarmacêutica: Importância e Inclusão nas Legislações sobre Bioisenção” à Revista
Panamericana de Salud Pública.
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