Brasil em alerta contra pandemia de gripe País lança ações de prevenção e controle da doença. Medidas destacam fortalecimento da vigilância e da rede de laboratórios para detectar vírus O Brasil já se prepara para a pandemia de gripe em humanos, que pode ocorrer nos próximos anos, segundo previsões de cientistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em entrevista coletiva na quarta-feira (19), o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, e o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, anunciaram as principais medidas que serão tomadas, dentro do Plano de Contingência para uma Pandemia de Influenza, que será lançado no Rio de Janeiro, em novembro. O ministro viajará amanhã para Ottawa, no Canadá, para discutir a cooperação global para preparação contra a possível pandemia. O encontro será promovido pela OMS e vai reunir ministros da Saúde de diversos países. Da América do Sul, Brasil e Argentina foram os convidados. Entre as principais ações adotadas pelo governo federal está o fortalecimento da vigilância epidemiológica para monitoramento da doença e da rede de laboratórios para a detecção do vírus que causa a gripe. O Ministério da Saúde também pretende adequar as instalações do Instituto Butantan, em São Paulo, para produção de uma vacina nacional e destinou R$ 193 milhões para a compra do anti-viral Oseltamivir (Tamiflu), o mais eficaz no combate à gripe. O Brasil ainda não registrou nenhum caso da chamada gripe aviária. Com 117 casos em humanos e a morte de 65 pessoas em quatro países da Ásia, desde 2003, a doença, causada pelo vírus influenza H5N1 já chegou à Europa. Descobriu-se a presença do vírus em aves na Rússia, Turquia, Romênia e Grécia. O maior medo das autoridades de saúde de todo o mundo é de que esse vírus, hoje transmitido apenas de aves para humanos, sofra uma mutação. A partir daí, poderia haver o contágio entre pessoas, o que provocaria uma epidemia em escala global. O ministro da Saúde, Saraiva Felipe, afirmou que o Brasil não será surpreendido pela pandemia de gripe e que o país terá um Plano de Contingência para Pandemia de Influenza (gripe) já em novembro. "O Brasil está tomando todas as medidas sanitárias que os países mais desenvolvidos do mundo têm tomado. O Ministério tem orçamento e não será por falta de recursos que nós deixaremos de fazer a detecção ou de tratar doentes", declarou. O orçamento do governo para proteger o país de uma pandemia de gripe chega R$ 1 bilhão. Segundo Saraiva Felipe, criou-se uma estratégia entre essa pasta e outros órgãos do governo, principalmente o Ministério da Agricultura, para prevenção da pandemia. “É preciso um rigoroso controle do fluxo de aves migratórias, que podem trazer a doença para o país”, afirma Saraiva Felipe. O controle é feito por unidades sentinelas, que capturam amostras das aves migratórias e fazem exames para detectar se há contaminação pelo vírus H5N1. O Ministério da Agricultura vai implementar, em breve, laboratórios especializados na identificação do vírus. O governo quer estimular os fazendeiros a isolar as cercas que protegem as aves de criação o máximo possível, para evitar que haja contato delas com pássaros migratórios. Aves exóticas – Entre as medidas de vigilância, o governo também pretende fiscalizar portos e aeroportos para barrar a entrada de animais contaminados, como aves ornamentais. “Uma das hipóteses da chegada da Síndrome Respiratória Aguda (Sars) aos Estados Unidos é que isso tenha acontecido por meio da importação de aves exóticas da região do Nilo”, explica Saraiva Felipe. O ministro da Saúde e o secretário de Vigilância em Saúde reforçam o nível de segurança da indústria aviária brasileira, fator que dificultaria a chegada do vírus ao nosso território. “O Brasil é um país exportador, e não importador de aves”, observa o ministro. Jarbas Barbosa ressalta, ainda, que não é possível a contaminação pela ingestão da carne do frango contaminado. “O processo de assar e cozinhar o frango mata qualquer tipo de vírus”, diz. Dentre as ações realizadas pelo governo está o fortalecimento da vigilância epidemiológica da influenza, inclusive com a ampliação da capacidade laboratorial para o diagnóstico rápido da doença em situações de surto e identificação das cepas circulantes. O Sistema de Vigilância da Influenza no Brasil existe em 21 Unidades Federadas e conta com uma rede de 46 unidades sentinelas. Essa rede atendeu cerca de 210 mil casos de síndrome gripal, em 2004, e coletou 2.269 amostras para identificação de vírus. “O Brasil possui uma das maiores redes para detecção de novas cepas (tipos) de vírus da gripe”, assinala Jarbas Barbosa. Tamiflu – Para proteger a população do risco de uma pandemia de gripe, o governo brasileiro também vai adquirir um estoque estratégico do anti-viral Oseltamivir (Tamiflu) para ser utilizado em situações especiais. Nos próximos dias, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) receberá a resposta do Laboratório Roche, atualmente único produtor mundial da droga, sobre o cronograma de entrega do medicamento. Os recursos usados na compra do medicamento são suficientes para atender cerca de 9 milhões de pessoas. De acordo com a secretário de Vigilância em Saúde, entre as pessoas que contraírem a doença, apenas 25% apresentarão complicações. Desse total, cerca de 8% necessitarão ser internadas. “A maior parte das pessoas que pegarem a doença se comportarão como se adquirissem uma gripe comum, ou seja, uma doença benigna”, explica Barbosa. O Instituto Butantan já se prepara para a produção da vacina contra a cepa pandêmica. O Ministério da Saúde repassou R$ 3,1 milhões para acelerar a preparação de uma instalação emergencial, que estará pronta para fabricação já no início de 2006, uma vez que a nova fábrica de vacinas que está sendo construída com recursos do Ministério da Saúde e do Governo Estadual de São Paulo só ficará pronta no final de 2006. É importante lembrar que a produção mundial de vacinas contra uma pandemia de influenza depende de qual será efetivamente o tipo de vírus pandêmico. O H5N1 é uma cepa aviária que, excepcionalmente, tem causado infecções em humanos e que, mesmo que esta venha a adquirir condições biológicas para uma transmissão ampliada na população humana, poderá ter características que impliquem ajustes na formulação de uma vacina. O Ministério da Saúde alerta que não há motivo para pânico entre a população. “Os brasileiros podem ficar tranqüilos, pois o governo está tomando as medidas necessárias para proteger o país da pandemia”, assegura Saraiva Felipe. Além da preocupação com o cenário nacional, Saraiva Felipe e Jarbas Barbosa defenderam a criação de um fundo internacional para combater a gripe aviária na Ásia e para reparar prejuízos que os avicultores possam ter por conta da doença. Na opinião do ministro e do secretário, isso evitaria que produtores não denunciassem casos da doença com medo de terem problemas financeiros. “Quanto mais combatermos a doença na Ásia, menor será o risco do vírus se espalhar e causar uma pandemia no resto do mundo”, defende Jarbas Barbosa. Doença será discutida em grande evento A possibilidade de uma pandemia de gripe será tema de um evento que será promovido pelo Ministério da Saúde na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 16, 17 e 18 de novembro. Participarão autoridades em saúde e especialistas do Brasil e do exterior. O Plano de Contingência para a Pandemia de Gripe, em fase final de elaboração, será apresentado. O encontro servirá para intercâmbio de experiências internacionais sobre a prevenção a pandemias de gripe. Antes disso, na próxima segunda e terça-feira (24 e 25), o ministro participa, em Ottawa, no Canadá, do Encontro Internacional de Ministros de Saúde sobre Pandemia de Gripe. Na ocasião, representantes de países de todos os continentes discutirão a preparação para a possível pandemia e trocarão experiências na elaboração de seus respectivos planos de contingência. Em agosto deste ano, o ministro determinou a criação de um grupo de trabalho para acelerar a elaboração do Plano, que terá aprovação do Comitê Técnico Brasileiro de Preparação do Plano de Contingência para a Pandemia de Gripe, criado em 2003 e liderado pela pasta da Saúde. Influenza – A influenza ou gripe é uma doença infecciosa aguda do sistema respiratório, que pode ser provocada por um dos três tipos do vírus influenza, denominados A, B ou C. Além dos seres humanos, este vírus também pode ser encontrado em outros animais, como aves, porcos e eqüinos. Os dois primeiros tipos, em particular os vírus influenza A, devido às pequenas mutações periódicas na estrutura do seu genoma, têm a capacidade de gerar novas cepas, que vão produzir novos casos da doença na população. Este fenômeno é o que explica a ocorrência de surtos ou epidemias, em especial entre os idosos. Em 2005, o Brasil atingiu um dos maiores índices mundiais de vacinação, com 86% de cobertura vacinal nos maiores de 60 anos. As mutações podem produzir uma cepa completamente nova, à qual toda a população é vulnerável, gerando condições para a ocorrência de uma epidemia em escala internacional, denominada pandemia. Geralmente, esse fenômeno acontece quando uma cepa, que originalmente só infectava animais, como as aves, atravessa a barreira das espécies, passa a infectar diretamente os seres humanos e, posteriormente, adquire a capacidade de transmissão entre pessoas. No Século XX ocorreram quatro pandemias de influenza: a Gripe Espanhola de 1918, com impacto importante mortalidade, a Gripe Asiática de 1957, a Gripe de Hong Kong de 1968 e a Gripe Russa de 1977. Essas três últimas tiveram um impacto maior na morbidade do que na mortalidade, sendo esta última considerada uma "pandemia benigna", pelo baixo impacto na saúde das populações. Sugestão de numerária Desde o surgimento da chamada gripe aviária, 117 pessoas contraíram a doença e 60 morreram em quatro países do sudeste de Ásia: Vietnã (41), Tailândia (12), Camboja (4) e Indonésia (3). 40 milhões de aves foram sacrificadas na Tailândia 40% dos 192 países membros estão preparados para enfrentar uma pandemia, segundo a ONU.