Recuperação Pós-Anestésica RPA Enf. Andreza Bernardi Marques Laurencio PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO • Cuidados necessários no pós-operatório constituem um desafio devido às alterações fisiológicas complexas que ocorrem nesta fase. • Para avaliar o estado do paciente no pósoperatório, o profissional se baseia nas informações do pré-operatório, no tipo de cirurgia e ocorrências durante a operação. • A evolução durante o período pós-operatório compreende duas fases: recuperação no pósoperatório imediato e recuperação propriamente dita. Entrada na RPA: • profissional de enfermagem e os membros da equipe cirúrgica discutem o estado do paciente. • informações fornecidas pela equipe cirúrgica: anestésicos usados, infusões intravenosas e dos hemoderivados, o cirurgião costuma referir se existem preocupações especiais, por exemplo, se há risco de hemorragia; o profissional da sala de cirurgia informa se o paciente apresentou complicações durante a cirurgia. RECUPERAÇÃO NO PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO • Antes de o paciente entrar na RPA o profissional de enfermagem da sala de recuperação entra em contato com a equipe cirúrgica para se informar sobre o estado geral do paciente. • No transporte para a RPA, o anestesista permanece à cabeceira da maca e um membro da equipe cirúrgica permanece na outra extremidade. • A incisão cirúrgica é observada a cada momento em que o paciente no pósoperatório é mobilizado. O paciente é posicionado de modo que ele não deite sobre e nem obstrua drenos. A enfermeira que admite o paciente na RPA revisa as seguintes informações com o anestesista: • O diagnóstico médico e o tipo de cirurgia realizada; • A idade do paciente e a condição geral, a permeabilidade das vias aéreas, os SSVV; • O anestésico e outros medicamentos utilizados; • Quaisquer problemas ocorridos na sala de operação que possam influenciar o cuidado pósoperatório (hemorragia extensiva, choque, parada cardíaca); • A patologia encontrada (malignidade, se o paciente ou a família foi informada); • Líquido administrado, perda sanguinea estimada e reposição; • Tubos, drenos, cateteres ou outros dispositivos de apoio; • Após passar em revisão o que ocorreu na sala de cirurgia, o profissional da RPA realiza uma avaliação completa do estado atual do paciente. • A equipe de enfermagem informa aos familiares do paciente sobre seu estado. • Em geral, o profissional aconselha os familiares a permanecerem na ante-sala, onde poderão ser encontrados no momento em que o cirurgião chegar. • Caso tiverem ocorrido complicações, o cirurgião explicará aos familiares o que aconteceu durante a cirurgia. Em seguida ao exame inicial realizado logo após a chegada do paciente à sala de recuperação, o profissional controla os SSVV desse e outros dados importantes pelo menos a cada 15 minutos. TRATAMENTO DE ENFERMAGEM NA RPA: • Objetivo: proporcionar cuidado até que o paciente tenha se recuperado dos efeitos da anestesia, estar orientado, ter SSVV estáveis e não demonstrar nenhuma evidência de hemorragia. • O paciente permanece na RPA até que tenha passado o efeito anestésico, ou parte dele, de acordo com a evolução de seu quadro e avaliação do anestesista. • É importante saber que além do efeito anestésico, a pressão deve estar estável, a respiração deve ter se normalizado sem o uso de O2, e o nível de consciência deve estar parcialmente recuperado. Avaliando o paciente: • Históricos sobre a oxigenação do paciente, volume e regularidade do pulso, profundidade e natureza das respirações, coloração da pele, nível de consciência e capacidade de responder aos comandos. • É realizado o histórico seguido pela avaliação do local da cirurgia quanto à drenagem ou hemorragia e conexão de todos os tubos de drenagem e linha de monitorização. • Após o exame inicial, os SSVV são monitorizados e o estado físico geral do paciente é avaliado no mínimo a cada 15 minutos. Avaliando o paciente: • A permeabilidade das vias aéreas e a função respiratória são sempre avaliadas primeiramente, seguidas pelo exame da função cardiovascular, da condição do local da cirurgia e da função do SNC. • É essencial estar atento a quaisquer informações pertinentes sobre a história do paciente que possam ser significativas (déficit auditivo, história de convulsões, diabetes e alergias) Respiração: • Objetivo no período pós-operatório imediato: manter a ventilação pulmonar e, assim prevenir a hipoxemia e hipercapnia. Respiração: • Certos anestésicos continuam às vezes a manter a depressão do centro respiratório; precisa estar alerta principalmente para a respiração superficial e rápida e para tosse muito fraca. • Observa-se a freqüência e o ritmo respiratório, a amplitude ventilatória, a simetria das excursões da caixa torácica, os ruídos respiratórios e a cor das mucosas. Respiração: • Em muitos casos, o paciente dá entrada na RPA intubado a fim de assegurar a permeabilidade das vias aéreas até a volta da respiração de freqüência e amplitude normais. Assim que a função respiratória se normalizar, o profissional pede ao paciente para expectorar. A sua capacidade de fazê-lo indica a normalização do reflexo do vômito. Respiração: • Uma das principais preocupações do profissional refere-se à obstrução de vias aéreas, a qual pode ser devida a: aspiração de vomito, acúmulo de secreções mucosas na faringe ou edema ou espasmo da laringe. Medidas que asseguram a permeabilidade das vias aéreas: • colocar o paciente em decúbito lateral com a face para baixo, fazendo que a língua se desloque para diante e as secreções mucosas escorrem pela boca; e a cabeça em ligeira deflexão, que previne a oclusão das vias aéreas na faringe. • assim que estiver consciente, o profissional começa com os exercícios de tosse e respiração profunda. • o profissional aspira o tubo e a cavidade oral para remover secreções mucosas, até mesmo antes de retirá-lo. • o profissional administra oxigênio prescrito. Circulação: • O paciente recém-operado corre o risco de apresentar complicações cardiovasculares devido à perda de sangue, real ou potencial, aos efeitos da anestesia, ao desequilíbrio eletrolítico ou à depressão dos mecanismos normais de regulação circulatória. Circulação: • A determinação cuidadosa da freqüência e do ritmo cardíacos e da pressão arterial revela o estado do aparelho cardiovascular do paciente. Devem ser comparados os SSVV préoperatórios com pós-operatórios. Circulação: • Para monitorizar a estabilidade cardiovascular, deve-se avaliar o estado mental do paciente, SSVV, ritmo cardíaco, temperatura, coloração e umidade da pele, débito urinário. • É examinada a permeabilidade de todas as linhas endovenosas. • Complicações cardiovasculares: hipotensão e o choque, a hemorragia, a hipertensão e as arritmias. Circulação: • Perfusão dos tecidos: observa a coloração da pele e dos leitos ungueais; palpa os pulsos periféricos em ponto distal em relação ao local da cirurgia, sempre que o paciente tiver sido submetido a cirurgia vascular ou quando estiver engessado ou usando algum tipo de dispositivo que provoca compressão e que possa dificultar a circulação. • Problema circulatório comum é o sangramento. Circulação: • A perda de sangue pode ser externa, ocorrendo através do dreno ou da incisão, ou interna, dentro da ferida cirúrgica. • O profissional precisa manter a infusão intravenosa e verificar os SSVV a cada 15 minutos, ou mais frequentemente ainda, até o estado do paciente se estabilizar. Sinais clássicos de choque: • palidez; • pele fria e úmida; • respiração rápida; • cianose dos lábios, gengivas e línguas; • pulso rápido, fraco e fino; • diminuição na pressão do pulso; • PA baixa e urina concentrada. Controle da temperatura: • As funções corporais do paciente sem encontra em nível baixo, resultando em diminuição do metabolismo e queda da temperatura. • O profissional verifica a temperatura do paciente e cobre com cobertores especialmente aquecidos. O aumento da temperatura corpórea aumenta o metabolismo do paciente e melhora as suas funções circulatórias e respiratórias. • Os calafrios podem não ser sinais de hipotermia e sim traduzir um efeito colateral de certos anestésicos. Funções neurológicas: • Ao entrar na RPA, o paciente está geralmente dormindo ou reagindo às ordens verbais. • O grau de consciência depende de vários fatores, tais como medicação, alterações eletrolíticas e metabólicas, dor e fatores emocionais. Funções neurológicas: • O profissional procura acordar o paciente chamando-o pelo nome, observando se ele responde apropriadamente ou se ele parece estar confuso e desorientado. • Os reflexos do paciente voltam e ele recupera a força muscular à medida que os efeitos da anestesia desaparecem. Ferida cirúrgica: • Após a cirurgia, a ferida cirúrgica é geralmente coberta por algum curativo destinado a protegê-la e coletar os líquidos drenados. O profissional observa a quantidade, a cor, o cheiro e a consistência das secreções drenadas através do curativo. • É recomendável que o profissional da RPA se limite simplesmente a colocar mais uma camada de gaze por cima do curativo original. Aparelho geniturinário: • Alguns pacientes não recuperam o controle voluntário sobre a micção antes de 6 a 8 horas após a anestesia. Aparelho geniturinário: • A raquianestesia pode impedir o paciente de sentir o enchimento ou a distensão da bexiga; o profissional precisa palpar o baixo ventre, logo a cima na sínfise púbica, para verificar se a bexiga está distendida. • A bexiga cheia pode ser causa de dor, sendo frequentemente responsável pela agitação do paciente durante a fase de recuperação. Aparelho gastrointestinal: • Os anestésicos reduzem a motilidade gastrointestinal, além de provocarem náuseas. • Durante a fase de recuperação que se segue imediatamente à cirurgia, a ausculta do abdome revela geralmente diminuição ou abolição dos ruídos intestinais em todos os quadrantes do abdome. Aparelho gastrintestinal: • A inspeção do abdome permite excluir a distensão causada por acúmulo de gazes. No paciente submetido a cirurgia abdominal, a hemorragia interna, quando ocorre, manifesta-se por distensão da parede abdominal. • Para diminuir as náuseas, o profissional evita a movimentação brusca do paciente. • Normalmente, o paciente não recebe líquidos enquanto se encontra na sala de recuperação pelo risco de vômito. Equilíbrio hidroeletrolítico: • Tendo em risco de o paciente cirúrgico vir a apresentar anormalidades hidroelétroliticas, o profissional examina seu estado de hidratação e controla as suas funções cardíacas e nervosa, à procura de sinais sugestivo de alterações eletrolíticas. • A anotação exata dos volumes líquidos administrados e eliminados ajuda na avaliação das funções renais e circulatórias do paciente. Conforto: • Ao acordar da anestesia geral, o paciente sente principalmente dor. • Dor aguda no local da incisão deixa o paciente agitado, podendo provocar alteração dos SSVV. • Geralmente, o paciente submetido à raquianestesia não percebe a dor de imediato, porque o local da incisão ainda se encontra sob o efeito da anestesia. Aliviando a dor e a ansiedade: • Os analgésicos opióides são administrados em geral, por via endovenosa. • A administração endovenosa proporciona um alivio imediato, sendo de curta ação, minimizando assim o potencial para interações medicamentosas ou depressão respiratória prolongada enquanto os anestésicos ainda estão ativos no organismo do paciente. • Além da monitorização do estado fisiológico do paciente e do tratamento da dor, o profissional proporciona apoio psicológico na tentativa de aliviar os medos e as preocupações do paciente. Durante a permanência do paciente na RPA, o profissional deve estar atento a qualquer intercorrência: • Queda de PA e pulso – sinais de choque; • Alteração do nível de consciência; • Vômitos; • Dor intensa; • Desconforto generalizado; • Distensão abdominal. • Toda e qualquer intercorrência deve estar bem anotada, e comunicada ao anestesista. • O profissional de enfermagem só pode liberar o paciente para o seu setor de origem quando houver alta da RPA prescrita pelo anestesista; deve ser anotados o horário de saída do paciente, bem como as condições em que ele se encontra. Alta da RPA: Cada hospital tem sua rotina própria para liberação do paciente da RPA, fazendo uso de anotações em impressos próprios da RPA ou mesmo na folha de anotação da enfermagem. Critérios de avaliação para alta: Atividade muscular: deve ser avaliada a atividade muscular, a capacidade que o paciente tem de se mover, quer seja espontâneo ou por comando. Pontos: 0 – incapaz de se mover; 1 – capaz de mover duas extremidades; 2 – capaz de mover todas as extremidades. Respiração: deve ser avaliada de forma objetiva. Pontos: 0 – nenhum esforço respiratório espontâneo; 1 – esforço respiratório limitado; 2 – capaz de respirar espontaneamente. Circulação: deve ser avaliada e controlada, evitando choques e intercorrências. Pontos: 0 – PA sistólica mais ou menos entre 50% ou mais do nível pré-anestésico; 1 – PA sistólica mais ou menos entre 20 e 50% do nível pré-anestésico; 2 – PA sistólica mais ou menos entre 20% no nível pré-anestésico. Nível de consciência: deve-se avaliar o nível de consciência propriamente dito, do paciente. Pontos: 0 – incapacidade de responder a estímulo verbal; 1 – capaz de responder quando chamado pelo nome; 2 – capaz de responder e reconhecer sua localização. Coloração da pele: deve-se avaliar a coloração da pele, meio fácil de ser identificado. Pontos: 0 – cianose; 1 – palidez, leve cianose, icterícia; 2 – coloração de aspecto normal. • Exigência para a alta da RPA: 7-8 pontos RECUPERAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA PROPRIAMENTE DITA • Assim que o estado do paciente se estabilizar é chegada a hora de ele passar à enfermaria do pós-operatório. • Principal finalidade dos cuidados de enfermagem consiste em ajudá-lo a voltar o quanto antes a um nível aceitável de bem estar-funcional. • A duração do período de recuperação depende do tipo e da magnitude da intervenção, dos fatores de risco, das eventuais complicações pósoperatórias e do plano de assistência adotado pela equipe de enfermagem. REFERENCIAS: • POTTER, PA; PERRY, AG. Grande tratado de enfermagem prática: clínica e prática hospitalar. São Paulo: Santos livraria editora. 3 ed. 2002. • SMELTZER SC; BARE, BG. Brunner & Suddarth – Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 9 ed. 2002.