CETICISMO E MUNDO EXTERIOR Márcia Luísa Tomazzoni Organizadores: Grupo PIBID/Filosofia. 1. Duração: 03 horas. 2. Recursos didáticos: recurso audiovisual e texto impresso. 3. Justificativa: a possibilidade de conhecimento objetivo do mundo exterior, representando um problema central para a Filosofia, é um tema que suscita o questionamento sobre noções fundamentais para o conhecimento humano em geral, como as noções de verdade, crença e justificação. 4. Objetivos: desenvolver a capacidade crítica e de compreensão de um típico problema filosófico. 5. Desenvolvimento 5.1 Distribuição para os alunos de um cartão contendo uma palavra relacionada ao tema em questão. As palavras contidas nos cartões servirão como critério para a divisão de grupos de trabalho. Sugestão de palavras: certeza, dúvida, fundamentação, realidade e ilusão. 5.2 Exibição de recurso audiovisual. Em nossa experiência, utilizamos o filme The Matrix, do início até o momento em que o personagem Morpheus oferece as pílulas a Neo (aproximadamente aos 45 minutos do filme). A abordagem do tema a partir da ficção científica The Matrix1 se justifica por duas razões. Primeiramente porque o filme protagoniza uma trama que evoca naturalmente o tema, servindo adequadamente como ponto de partida para a reflexão sobre a possibilidade de justificação de um conhecimento objetivo do mundo exterior. Uma vez posta a dúvida sobre como podemos distinguir sonho e realidade, facilmente pode-se fazer a ligação com o argumento do sonho, de Descartes nas Meditações, aliando a utilização de um recurso interessante para os alunos à apresentação de um exemplar clássico da literatura filosófica. Em segundo lugar, além de abordar um tema recorrente em obras cinematográficas e na literatura2, o filme foi sucesso de bilheteria, é dinâmico e recheado de efeitos especiais, elementos que ajudam a despertar o interesse e a motivação de grande parte dos alunos. 5.3 Divisão dos alunos em grupos, tendo por critério as palavras distribuídas nos cartões. O critério para definir o número de palavras e consequentemente de grupos, dependerá da quantidade de alunos participantes na atividade. Se a atividade for realizada com um número grande de alunos (com mais de uma turma ao mesmo tempo, por exemplo), a sugestão é de que haja a orientação de 1 The Matrix, EUA, 1999. Roteiro de Andy Wachowski e Larry Wachowski. Gênero: ação/ ficção científica. Disponível em locadoras. 2 Algumas obras que abordam o tema da confusão entre o sonho e a vigília, ou da dificuldade de distinguir ilusão e realidade: A vida é sonho, 1635, de Calderón de la Barca (peça de teatro); Simulacron 3, 1964, é a inspiração do filme The Matrix (livro); Possible Worlds, 2000 (peça de teatro e filme). Filmes: Total Recall, 1990; The Thirteenth Floor, 1999; A viagem de Chihiro, 2001; Vanilla Sky, 2001; Waking life, 2001; Donnie Darko, 2001; A Origem, 2010. mais de um professor. Essa situação pode ser exemplificada pela realização de uma oficina que envolva todos os alunos de um determinado turno da escola, onde os professores da disciplina possam trabalhar em conjunto. 5.4 Debate acerca do filme instigado pelos orientadores da atividade, por meio de questões inicialmente bastante gerais sobre a trama apresentada no filme e sua relação com o tema da oficina. Exemplos de questões: “O que é a Matrix?”, “Qual é o ponto central do filme?”, “Dada a existência da Matrix, o que poderia ser real?”. 5.5 Como fechamento desta etapa inicial, sugere-se trabalhar a relação existente entre a palavra do grupo e a ideia geral do filme. Exemplo (grupo da palavra “ilusão”): “É possível para um habitante de Matrix saber que está vivendo uma ilusão?”. 5.6 Leitura de trechos da Primeira Meditação de Descartes (Meditações), onde encontramos o problema da distinção entre ilusão e realidade. O objetivo é enriquecer o conjunto de referências na tentativa de compreensão do tema. A atividade deve ser permeada pelo questionamento, guiado pela identificação e análise dos conceitos-chave envolvidos. Exemplos de passagens utilizadas em nossa experiência: “Mas, ainda que os sentidos nos enganem às vezes, no que se refere às coisas pouco sensíveis e muito distantes, encontramos talvez muitas outras, das quais não se pode razoavelmente duvidar, embora as conhecêssemos por intermédio deles: por exemplo, que eu esteja aqui, sentado junto ao fogo, vestido com um chambre, tendo este papel entre as mãos e outras coisas desta natureza. E como poderia eu negar que estas mãos e este corpo sejam meus?” (Descartes, Meditações, Os Pensadores, p. 86). “Todavia, devo aqui considerar que sou homem e, por conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar, em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes ocorreu-me sonhar, durante a noite, que estava neste lugar, que estava vestido, que estava junto ao fogo, embora estivesse inteiramente nu dentro de meu leito?” (Idem, p. 86) 5.7 Finalizado o debate, propõe-se a elaboração individual de questões sobre a temática da oficina. Tal atividade além de instigar o aluno a elaborar as próprias questões e reflexões, possibilita a compreensão do problema filosófico a partir das relações estabelecidas entre a palavra recebida e as demais noções apresentadas. Exemplos de questões elaboradas pelos alunos: “O que fundamenta as nossas certezas?” - relacionando a palavra certeza com a noção de fundamento ou justificação; “O que nos permite distinguir realidade e ilusão?” - relacionando as palavras realidade e ilusão com a noção de critério de verdade e de conhecimento. 5.8 Após a elaboração individual das questões, o professor deve selecionar uma ou mais questões para os alunos responderem por meio de produção textual. Também é possível adotar outros critérios, como por exemplo uma troca de perguntas entre os alunos. 6. É sugerida, como forma de encerramento e divulgação do trabalho realizado, a construção de um painel para a exposição dos textos desenvolvidos na oficina. 7. Abaixo, resposta produzida por aluno na oficina realizada pelo PIBID/Filosofia da UFRGS, seguindo a sugestão de atividade apresentada no presente texto: Que razões temos para acreditar na realidade? É uma dúvida bem interessante, pois é incomum duvidar da realidade. Somos habituados com a realidade em que vivemos, acreditamos, talvez, porque vivemos a nossa realidade, porque estamos dentro dela, “somos os personagens”. Acho que a grande questão da pergunta é “o que é a realidade?”, porque antes de acreditar em alguma coisa precisa-se saber o que é, conhecer.