Eça de Queirós: Linguagem e estilo Eça de Queirós, para além de um apurado sentido crítico e possuidor de uma visão profunda da sociedade que tão bem descreve e analisa nos seus romances, é também rico em variedade e expressividade linguística. I. O adjectivo O adjectivo é usado, frequentemente, por Eça de Queirós e desempenha um papel relevante na propriedade e riqueza de expressão. Adjectivação Exemplos Dupla e tripla adjectivação. (...) os seus dois olhos redondos e agoirentos. Adjectivos com uma função caricatural e satírica. Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das suas conquistas. Adjectivos que nem sempre se encontram seguidos. Os seus lindos dentes miudinhos alvejaram a sombra do véu. II. O advérbio A prosa queirosiana explora o advérbio adjunto de modo, servindo-se não apenas da sugestão de continuidade, mas também explorando outras potencialidades expressivas. Advérbio adjunto de modo Exemplos Adverbiação dupla e tripla. Insensivelmente, irreversivelmente, Carlos achou-se ( ). Advérbio ao serviço da ironia. O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi (...). Advérbio com valor metafórico. molemente Advérbio formado a partir de um adjectivo. pulhamente III. O verbo Na prosa queirosiana, o verbo serve não apenas a narração, mas também a descrição e a própria caracterização das personagens. 01 Eça de Queirós: Linguagem e estilo Verbo Exemplos Verbo usado com um valor hiperbólico. (...) dor (...) que Pedro procurava afogar em lupanares e botequins (...) Verbos derivados de adjectivos de cor. (...) negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente (...) Verbos no gerúndio, atribuindo dinâmica descritiva. ( ) Portugal ( ) e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora... Verbos usados com a função de caracterizar as acções e atitudes das personagens. (...) Ega trovejou (...) IV.O Neologismo A riqueza da prosa queirosiana reside também na criação de novas palavras, como gouvarinhar, cervejando, escaveirada, entre outras. V. Registos de língua O emprego dos registos de língua familiar e corrente, por vezes, concretiza a função crítica. VI. Empréstimos Eça recorre, muitas vezes, a anglicismos, isto é, vocábulos de origem inglesa, e a galicismos, ou seja, vocábulos de origem francesa. VII. Discurso Indirecto Livre Por um lado, o uso do discurso indirecto livre evita a repetição dos verbos introdutores do relato de discurso e aproxima o discurso da linguagem falada. Por outro lado, a sua utilização permite que o narrador reproduza as falas das personagens na sua própria linguagem, fundindo-se o narrador com a personagem. Exemplo: Era assinar uma carta afirmando que tudo que fizera publicar na Corneta, sobre o Sr. Carlos da Maia e certa senhora, fora a invenção falsa e gratuita. Só isto o salvava. 02 Eça de Queirós: Linguagem e estilo VIII. O Diminutivo Eça emprega o diminutivo para sugerir: · pequenez - Exemplo: (...) tinha uma cadelinha escosesa... · carinho ou ternura Exemplo: Está-se fazendo tarde, Carlinhos · ironia e depreciação Exemplo: Eusebiozinho, as perninhas flácidas IX. Figuras de estilo Figura de estilo Exemplo Aliteração um moço loiro, lento, lânguido, que se curvava em silêncio diante dela. Hipálage 1 (...) o secretário Steinbroken (...) cofiava silenciosamente os seus longos bigodes tristes. Ironia -É possível - respondeu o inteligente Silveira. Sinestesia ( ) e, muito alto no ar, passava o claro repique de um sino. 1 Figura de estilo que consiste na inversão de sentidos, transferindo-se para uma palavra uma característica que, na realidade, pertence a outra, assim o adjectivo não caracteriza o vocábulo a que se associa, mas um outro que o antecede. 03