UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS BENEDITO NEILSON ROLIM DIAGNÓSTICO DA RAIVA: TÉCNICA DE COLETA DE MEDULA CERVICAL E IMPLANTAÇÃO DA METODOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ BRASIL Fortaleza – Ceará Julho 2011. BENEDITO NEILSON ROLIM DIAGNÓSTICO DA RAIVA: TÉCNICA DE COLETA DE MEDULA CERVICAL E IMPLANTAÇÃO DA METODOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Veterinárias Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Linha de Pesquisa: Reprodução e Sanidade de Carnívoros, Onívoros, Herbívoros e Aves Orientadora: Profa. Dra. Maria Fátima da Silva Teixeira Fortaleza – Ceará Julho 2011. BENEDITO NEILSON ROLIM DIAGNÓSTICO DA RAIVA: TÉCNICA DE COLETA DE MEDULA CERVICAL E IMPLANTAÇÃO DA METODOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Veterinárias. Aprovado em: 27/07/2011 BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Profa. Dra. Maria Fátima da Silva Teixeira Universidade Estadual do Ceará - UECE. Orientadora _______________________________ _________________________________ Profa. Dra. Salette Lobão Torres Santiago Universidade Estadual do Ceará - UECE. Dra. Tânia Valeska Medeiros Dantas Examinadora - EMBRAPA ______________________________ Profa. Dra. Maria Irismar de Almeida. Universidade Estadual do Ceará - UECE. ____________________________________ Dr. Francisco Selmo Fernandes Alves. Pesquisador - EMBRAPA IN MEMÓRIA Aos meus pais, Manoel de Moura Rolim e Francisca Tabosa Rolim, carinhosamente dona Nenem, pelos incentivos a ingressar nessa belíssima e gratificante profissão, que com muito orgulho exerço. Como também, pela criação e ensinamentos formadores do meu caráter e da minha personalidade; estes valores deixaram um marco profundo em nosso convívio. Com carinho Benedito Neilson Rolim A Deus, pois, nos momentos angustiantes, quando me achei sozinho, achando que não podia mais, Nele, encontrei coragem e determinação para seguir adiante em busca dos meus objetivos. Com muito carinho a minha esposa Josimeire Barreto de Sousa Rolim, meus filhos: Pedro Tabosa Moura Neto, Benedito Neilson Rolim Filho, Brenno Barreto de Sousa Rolim, Luísa Barreto Rolim, as minhas irmãs e irmão, sobrinhos (a), cunhados (a) e amigos, que de uma forma direta ou indireta contribuíram com esta realização. DEDICO AGRADECIMENTOS A DEUS, por ter me dado a vida, a profissão de Médico Veterinário, meu destino, princípios de liberdade, igualdade, fraternidade, e sabedoria suficiente para superar e conduzir todas as dificuldades em busca do saber. A professora Dra. Maria Fátima da Silva Teixeira, por ter idealizado e nos orientado nesse estudo, possibilitando sua realização, pela confiança, estímulo, eficiência, dedicação e valiosas ajudas dadas no decorrer do meu aprendizado, mais do que uma orientadora, uma amiga, a ela, toda minha gratidão. A Universidade Estadual do Ceará, berço dos meus conhecimentos e grande parte da minha vida, como estudante do curso de Medicina Veterinária (1974 - 1978), do mestrado profissional em Ciências Avícolas (11/2005), do mestrado em Ciências Veterinárias (07/2007), e atualmente (07/2011), quando me submeterei ao exame para galgar o título de doutor em Ciências Veterinárias, nela me sinto em casa, meu reconhecimento e gratidão. Ao Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinária - PPGCV, pelo apoio, competência e presença assumida na condução do Mestrado Acadêmico em Ciências Veterinária, a vocês nosso total reconhecimento e gratidão. Aos professores do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinária, pelos valiosos conhecimentos e experiências repassados, preparando para o mercado de trabalho e a pesquisa. Vossas orientações, apoio e materiais, muito contribuíram para concretização desta etapa da minha vida, o sonho da pós graduação. A vocês, Dra. Edmara Chaves Costa, Dra. Tânia Valeska Medeiros Dantas, Dra. Valeska Shelda, M.V. Naylê Francelino Holanda Duarte, M.V. Jaliana Holanda dos Santos, Téc. Leonília Fernandes, por suas importantes contribuições, indispensáveis para conclusão deste estudo, que aqui se encerra para dar início a outros, meus profundos e sinceros agradecimentos. Aos funcionários do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinária, em especial: Adriana Maria Sales Albuquerque, Ana Cristina Sabóia do Nascimento, Frederico Rocha Cavalcanti, António César Camelo e André Gurgel Passos, por toda disponibilidade, colaboração e paciência para nos ajudar. Aos colegas do PPGCV, pela rica e agradável convivência durante o curso, e em especial, aos que fazem á família “LABOVIR – Laboratório de Virologia”: Tereza D’ Ávila de Freitas Aguiar, Aryana Lima, Francisco Esmaile de Sales Silva, Igor Ciríaco Barroso, Carlos Alberto Furtado Lopes Júnior, Rosivaldo Quirino Bezerra Junior, Ronaldo Pereira Dias, Luís Antônio de Oliveira Alves, Gabrielle Rosemblit Martins, pela amizade, companheirismo, imensas e efetivas colaborações no nosso trabalho, além de ricas sugestões, críticas construtivas que colaboraram com a realização deste experimento. Ao Dr. José Maria dos Santos Filho, pelos incentivo e decisivo apoio para cursar e concluir esse conceituado curso de pós-graduação. Ao Prof. Dr. Francisco Militão de Souza, por sua inédita visão de educação e competência para despertar em seus alunos os valores do conhecimento, os lançando no mundo científico, obrigado, pela valiosa e indispensável colaboração no processo de aprendizado, e disposição de ajudar sempre que solicitado. Aos colegas veterinários, que acreditaram e incentivaram a efetivação do presente estudo, por entenderem sua importância para saúde pública: Dr. Nélio Batista de Morais, Dr. Jarier de Oliveira Moreno, Dr. Ángelo Raniere Santos Palácios, Dr. José Cleonardo Alves da Costa, Francisco Atualpa Soares Junior, Dra. Lúcia Lima de Araújo, Dra. Samile de Andrade Maia, Dra. Katariny de Araújo Pinheiro e Dr. David Caldas Vasconcelos, tanto acreditou que pôs em prática, tais resultados otimizaram o estudo, meus agradecimentos pela importante participação de vocês. A equipe técnica responsável pelo planejamento, coordenação e capacitação da implantação da Técnica de Coleta de Medula Cervical no Estado do Ceará: Dra. Naylê Francelino Holanda Duarte, Dra. Leonília Maria Fernandes Targino, Dra. Evanisa Alves Ventura, Dr. Francisco Barroso Pinto, por tudo que vocês fizeram meus reconhecidos agradecimentos. A equipe de apoio técnico, João Batista de Oliveira Passos, Emanuel Deniz Araújo, Paulo César Araújo e Francisco Edilson Araújo, meus agradecimentos pela importante e sempre disponível ajuda de vocês. A meus filhos, Pedro Neto, Neilson Filho, Brenno e Luísa, pela compreensão da minha ausência nos momentos importantes de suas vidas. A meus irmãos (a), cunhados (a), sobrinhos (a) e amigos, pela solidariedade, apoio, e conformação, por minha ausência nas confraternizações, encontros e momentos importantes da nossa família, pelo amor que tenho a vocês, muito obrigado. A minha esposa Josimeire Barreto de Sousa Rolim, pela compreensão da minha ausência em momentos importantes da família, para está presente nessa nova trajetória em busca da conclusão da minha realidade. A você, tenho profundo agradecimento, carinho, respeito e admiração. O AUTOR. i LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CCZ - Centro de Controle de Zoonoses CDC - Center for Disease Control (Centro de Controle de Doenças) CEUA - Comissão de ética para uso de animais DUVV - Vírus Duvenhage EBL V-1- European Bat Lyssavirus 1 EBL V-2 – European Bat Lyssavirus 2 EPI - Equipamento de Proteção Individual ELISA - Ensaio de imunoabsorção ligado a enzimas EU - União Européia. IC - Intracerebral IFD - Imuno Fluorescência Direta MS- Ministério da saúde OMS - Organização Mundial de Saúde OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde PCR - Reação em Cadeia pela Polimerase pH - Potencial hidrogeniônico PMC- Período médio clínico da doença PMI - Período médio de incubação RNP - Ribonucleoproteína RREID - Imunodiagnóstico Enzimático Rápido da Raiva RT - Transcriptase Reversa SNC - Sistema Nervoso Central TCMC- Técnica de Coleta de Medula Cervical VRG - Glicoproteína do Vírus Rábico WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION ii LISTA DE FIGURAS Revisão da Literatura Figura 1: Ciclos Epidemiológicos da Raiva ................................................................. 18 Figura 2: Cães irrestritos ............................................................................................... 22 Figura 3: Vírus da Raiva vistos ao microscópio eletrônico. ......................................... 24 Figura 4: Proteínas dos vírus da Raiva ......................................................................... 27 Figura 5: Estrutura dos vírus da Raiva ......................................................................... 27 Figura 6: Acidentados por cães e atendidos no Centro de Saúde – Ceará - BR. .......... 31 Figura 7: Transmissão da Raiva ................................................................................... 32 Figura 8: Dispersão dos vírus da Raiva ...................................................................... 322 Figura 9: Ciclo infeccioso da célula. ............................................................................ 33 Figura 10: Cérebro apresentando edema e hiperemia difusa. ....................................... 37 Figura 11: Corpúsculos de Negri .................................................................................. 38 Figura 12: Corpúsculos de Negri. ................................................................................. 38 Figura 13: Raiva encefálica ou furiosa ......................................................................... 41 Figura 14: Raiva muda ou paralitica ............................................................................. 41 Figura 15: Animais silvestres que desenvolveram Raiva. ............................................ 41 Figura 16: Sistema nervoso central de um cão ............................................................. 43 Figura 17: Sellers .......................................................................................................... 44 Figura 18: Imunofluorescência ..................................................................................... 44 Figura 19: Prova Biológica ........................................................................................... 44 Figura 20: Vacinação de cães ....................................................................................... 46 Figura 21: Captura de cães ......................................................................................... 466 iii Figura 22: Profilaxia da Raiva humana ........................................................................ 46 Figura 23:Educação em saúde. ..................................................................................... 46 Figura 24: Medula Cervical .......................................................................................... 49 Capítulo I Figura2501: Jeanna Giese, deixando o hospital após o tratamento, 04/01/2005 ........... 72 Figura2602: Jeanna Giese em sua graduação, 05/07/2011............................................. 72 Figura2703: Marciano em tratamento de Raiva ............................................................. 72 Figura2804: Marciano curado de Raiva ......................................................................... 72 Capítulo III Figura2901: Incisão para coleta da medula cervical ...................................................... 96 Figura3002: Exposição da medula cervical após incisão ............................................... 96 Figura3103: Coleta de outros segmentos do SNC, utilizando o coletor. ....................... 96 Figura3204: Demonstração prática da TCMC ............................................................... 98 Figura3305: Visualização do forâmen do occipital, coleta do SNC .............................. 98 Figura3406: Alunos praticando a TCMC. ...................................................................... 98 Figura3507: Técnica de coleta indicada pelo Ministério da Saúde ............................... 98 Figura3608: Demonstração prática da TCMC adotada pelo CDC (incisão ventral)...... 99 Figura3709: Medula cervical coletada com auxilio de uma pinça ................................. 99 iv LISTA DE TABELAS Revisão da Literatura Tabela 1: Filogenia do gênero Lyssavirus ....................................................................... 26 Capítulo II Tabela 1: Clinical observation terms and results of brain and cervical medulla samples using IFD and IC proofs .......................................................................................... 85 Tabela 2: Consolidated diagnostic and clinical monitoring results from five repetitions of each Subgroup ..................................................................................................... 87 Capítulo III Tabela 1: Curso para capacitação e implantação da TCMC..................................................... 99 Tabela 2: Amostras enviadas ao laboratório para diagnóstico da Raiva, 2009 – 2010...........100 v RESUMO A Raiva é uma doença infectocontagiosa, causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central, produzindo uma encefalomielite aguda e fatal. Várias descrições da doença foram registradas através dos séculos, tais como: tratamentos aplicados a humanos, medidas básicas de prevenção e controle desenvolvidas para interromper sua progressão, e seus aspectos históricos. Tais descrições tiveram por base relatos de historiadores, além da literatura médica ao longo das distintas épocas a qual ressaltou os avanços impetrados nessa área do conhecimento, o que nos ajudou a compreender melhor essa doença. O Brasil é um dos países da América Latina que apresenta a maior incidência de Raiva humana transmitida por cães, cuja persistência está relacionada com a baixa procura pelo diagnóstico laboratorial, fato atribuído à dificuldade de coleta de material (cérebro, cabeça ou cadáver), acondicionamento e remessa. Com o objetivo de minimizar tais dificuldades e riscos, técnicos do laboratório de virologia – LABOVIR, do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias – PPGCV/UECE, testaram a eficácia da medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da raiva, a qual se mostrou tão eficaz quanto o cérebro, assegurando seu uso no diagnóstico laboratorial da raiva. Com base nesses resultados, idealizou-se a Técnica de Coleta de Medula Cervical - TCMC, esta, de efetivação prática, fácil e segura, viabiliza a coleta da medula cervical e demais segmentos do sistema nervoso central (SNC) sem abrir o crânio dos animais. Para aperfeiçoar os procedimentos de coleta, embalagem e remessa, em estado adequado de conservação, idealizou-se um coletor de SNC e um recipiente, ambos apropriados para coletar e acondicionar as amostras. Tal aperfeiçoamento produziu os registros de duas patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI. A implantação da TCMC foi proposta à Coordenação do Programa Estadual de Controle da Raiva da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, o que resultou em uma parceria proporcionando a capacitação na TCMC dos 91 médicos veterinários responsáveis pelos serviços de controle de zoonoses nos 184 municípios. Desta maneira, implantou-se a supracitada técnica nos serviços públicos de saúde do Estado do Ceará. Através desses fundamentos, o LABOVIR/PPGCV/UECE tornaram a pesquisa aplicável, contribuindo de forma significativa com toda a cadeia do diagnóstico laboratorial da Raiva, epidemiologia e controle da doença no estado do Ceará. Palavras-chave: Raiva; Diagnóstico laboratorial; Medula cervical. vi ABSTRACT Rabies is an infectious and contagious disease caused by neurotropic viruses that act in the central nervous system, which produce an acute fatal encephalomyelitis. Various descriptions of the disease were recorded through the centuries, such as: treatments applied to humans, basic preventive measures designed to control and stop its progression, and its historical aspects. These descriptions were based on accounts of historians, besides that, the medical literature over the different ages emphasized this field advances, which helped us better understand this disease. Brazil is one of the countries of Latin America that has the highest incidence of human rabies transmitted by dogs, whose continuation is related to low demand for laboratory diagnosis, which was attributed to the difficulty of collecting material (brain, head or body), packaging and shipment. In order to minimize these difficulties and risks, the technicians from the virology laboratory - LABOVIR, from the Postgraduate Program in Veterinary Science (PPGCV / UECE) - tested the effectiveness of the cervical spinal cord as material for the laboratory diagnosis of rabies, which proved as effective as the brain, ensuring its use in laboratory diagnosis of rabies. Based on these results, the devised Cervical Cord Collection Technique (TCMC) showed it was of practical, easy and safe effectiveness, which enables the collection of the cervical cord and other parts of the central nervous system (CNS) without opening the skull of animals. For the improvement of the procedures for collection, packaging and shipment, in the appropriate state of preservation, it was conceived a CNS collector and a container, both appropriate to collect and pack samples. This improvement has brought forth registrations of two patents at the National Institute of Industrial Property (INPI). The implementation of the TCMC was brought forward to the Coordination of the State Program for Rabies Control from the Department of Health of Ceará State, which resulted in a partnership providing training in TCMC for the 91 veterinarians in charge of zoonoses control services in 184 municipalities. Thus, the technique was implemented in public health services of the State of Ceará. Through these bases, LABOVIR, PPGCV and UECE have made this research applicable, and have significantly contributed to the Rabies laboratory diagnosis, the epidemiology and the disease control in the state of Ceará. Key-words: Rabies; Laboratory diagnosis, Cervical spinal cord. vii SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. i LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... ii LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. iv RESUMO................................................................................................................................... v ABSTRACT ............................................................................................................................. vi INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16 1. Caracterização Epidemiológica ...................................................................................... 17 2. Aspectos Microbiológicos .............................................................................................. 23 3. Propriedade Antigênica .................................................................................................. 28 4. Transmissão .................................................................................................................... 30 5. Fisiopatologia da Raiva .................................................................................................. 34 6. Período de incubação ...................................................................................................... 36 7. Alterações Patológicas .................................................................................................... 37 8. Resposta Imune .............................................................................................................. 39 9. Manifestação Clínica ...................................................................................................... 40 9.1. Manifestações Clínicas em Cães e Gatos ................................................. 40 9.2. Manifestações Clínicas em Animais Silvestres e Herbívoros ...................... 41 10. Diagnóstico ................................................................................................................... 42 11. Prevenção e Controle .................................................................................................... 45 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 48 HIPÓTESE CIENTÍFICA ..................................................................................................... 49 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 50 1. Geral ......................................................................................................................... 50 2. Específicos ...................................................................................................................... 50 CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 51 RAIVA: uma abordagem dos primórdios à atualidade ............................................................ 51 viii CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 78 Medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva ............................... 78 CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 90 Raiva: Técnica de coleta de medula cervical e implantação no Estado do Ceará. ................... 90 CAPÍTULO IV...................................................................................................................... 107 I - PATENTE - Registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI ............. 107 CAPÍTULO V ....................................................................................................................... 114 II – PATENTE - Registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI ........... 114 CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................................... 116 PERSPECTIVAS DA TESE ................................................................................................ 117 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 118 ANEXOS ............................................................................................................................... 129 16 INTRODUÇÃO As doenças de difícil controle, incluindo as imunopreveníveis, ocorrem em grande escala devido às baixas condições socioeconômicas e culturais da população. Dentre aquelas que despertam especial preocupação na saúde pública, está a Raiva, cuja distribuição mundial vem ocorrendo ao longo dos séculos devido á passagem dos vírus entre as várias espécies de animais domésticos e silvestres, possibilitam a dispersão da doença com consequente ameaça aos seres humanos (TORDO et al., 1998). A Raiva é uma doença infectocontagiosa, causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central (SNC), produzindo uma encefalomielite aguda e fatal, decorrente de sua replicação com conseqüente destruição das células do sistema nervoso (TORDO et al., 1998). De acordo com a Organização Panamericana de Saúde - OPAS (2005), a persistência da Raiva está sempre associada à baixa imunidade dos animais domiciliados, a superpopulação de cães abandonados na periferia das grandes cidades, e á falha ou falta de um sistema de vigilância epidemiológica, que para ser boa, bastaria enviar anualmente 0,1% de amostras da população canina para o diagnóstico laboratorial da Raiva, Com a intenção de melhorar a vigilância epidemiológica da Raiva, o Ministério da Saúde – MS (2009) pactuou com os Estados e municípios o envio de 0,2% de amostras da população canina para o laboratório de diagnóstico da Raiva, e recomenda em seu manual de diagnóstico laboratorial da Raiva, a técnica de colheita de SNC desenvolvida e utilizada pelo Instituto Pasteur-SP, a qual tem sido classificada pelos profissionais da área, como sendo de difícil execução a campo por demandar o uso de ferramentas, a exemplo de (torno, arco de serra, serra, cinzel, malho e outras também adaptadas), além de propiciar elevados riscos de contaminação para os profissionais que realizam a coleta (MS, 2008). Por mais de 30 anos ter sido coordenador no programa estadual de controle da Raiva, e atualmente, coordenador do laboratório de diagnóstico da Raiva, instalado, no Laboratório de Saúde Pública do Estado do Ceará (LACEN – CE), vivenciei as dificuldades ligadas ao controle da Raiva, dentre estas, o material que chega de forma imprópria (cabeça ou cadáver de animal), no laboratório para diagnóstico, tentando minimizar tais dificuldades e 17 riscos, nos interessamos como objeto de estudo, o diagnóstico da Raiva: Técnica de coleta de medula cervical e implantação da metodologia no estado do Ceará. REVISÃO DA LITERATURA 1. Caracterização Epidemiológica O complexo da Raiva é formado por seus ciclos epidemiológicos, (silvestre, urbano e rural) (Figura 1), por ser considerado como primeiro, o ciclo silvestre pode ter originado os demais, hipótese fortalecida por acometer animais silvestres terrestres e aéreos, ambos com maiores possibilidades de transmissão (ROLIM et al., 2006). Neste contexto, distinguem-se duas caracterizações epidemiológicas principais: a Raiva urbana, mantida e transmitida principalmente pelo cão e o gato; e a silvestre, cujos reservatórios e transmissores são os animais silvestres, principalmente os carnívoros e quirópteros. Os carnívoros envolvidos na cadeia de transmissão da doença variam conforme a fauna autóctone, destacando-se por maior envolvimento, os canídeos, felídeos e mustelídeos (PALÁCIO, 2003). Na maioria das cidades brasileiras, o ciclo urbano ainda é mantido pelo cão, que no período de 1994 a 2003, foi responsável por 80% dos casos de Raiva humana (OPAS, 2004). 18 Complexo Epidemiológica Manutenção Raiva CICLO AÉREO CICLO SILVESTRE CICLO URBANO CICLO RURAL Figura 1: Ciclos Epidemiológicos da Raiva Fonte: Chaves (2006). A distribuição mundial da Raiva vem ocorrendo ao longo dos séculos entre as várias espécies de animais domésticos e silvestres, devido á passagem dos vírus e a suscetibilidade dos hospedeiros (CAREY,1985), que também, possibilitam a disseminação da doença com conseqüente ameaça aos seres humanos, constituindo-se em um grave problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina, aonde os principais transmissores são os cães irrestritos. A dispersão da Raiva animal varia com os aspectos geográficos e as espécies de animais afetadas, de acordo com os países e as regiões, não havendo uma distribuição uniforme nos países infectados, já que em muitos deles existem áreas livres, de baixa e alta endemicidade (OPAS, 1996). De forma geral, a Raiva canina predomina na Ásia, África e América Latina, cujos continentes são responsáveis por 90% dos casos. A Raiva silvestre, principalmente dos carnívoros, apresenta uma maior incidência nos países da Europa e América do Norte, onde atualmente é responsável por mais de 95% dos casos (BELLOTO, 2001). A Raiva humana transmitida por cães está controlada nos países desenvolvidos, os quais demonstram grande preocupação com a transmissão por animais silvestres, por constituir um grave problema na saúde pública, cujos principais riscos estão no deslocamento 19 de raposas, guaxinins e morcegos infetados, provenientes de áreas enzoóticas (MUHAMUDA et al., 2006). Estima-se que a cada ano ocorra á morte por Raiva de aproximadamente 70.000 pessoas em todo mundo, onde 10 milhões recebem terapia através de imunobiológicos devido a agressões por animais susceptíveis de contrair e transmitir a doença (SANOFI PASTEUR, 2005). Mais da metade da população mundial (cerca de três bilhões de pessoas) vive em áreas de risco de contrair a doença, e a cada 10 ou 15 minutos, morre uma pessoa por Raiva no planeta (BELLOTO, 2001). A WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO (1996) descreveu a ocorrência média de 35.000 a 55.000 casos de Raiva humana por ano na Ásia. Segundo Germano (1994), destes, 20.000 ocorrem na Índia e 5.000 na China. Na África, o número de óbitos oscila entre 5.000 e 15.000. A Região das Américas registrou nas décadas de 70-79, 80-89 e 90-99, a média anual respectiva de 255, 293 e 168 óbitos por Raiva humana. Na América Latina, no período de 1990 a 1999 confirmou-se 1.647 óbitos por Raiva humana, uma média de 165 casos por ano (WHO, 2000). Atualmente a América Latina apresenta uma grande concentração de Raiva humana transmitida por cães, onde mais de um milhão de pessoas são mordidas por animais raivosos, e destas, morrem em média 200 por ano. No período de 1990 a 2003, ocorreram 71. 768 casos de Raiva canina, e 1.835 casos de Raiva humana, destes, 1.215 (66%) foram transmitidos por cães, resultando na proporção de 59 casos caninos para um óbito humano. Apesar dos esforços, e do acordo político coordenado pela OPS, para controlar o ciclo urbano da Raiva até 2005. No período acima citado, mais de 60% dos Países membros não conseguiram controlar o ciclo urbano da Raiva, destacando-se por apresentar o maior número de óbitos por Raiva humana o Brasil (412 casos), destes 329 (80%), foram transmitidos por cães, seguido pelo, México (321), Peru (275), Equador (222), Bolívia (121) e El Salvador (104) (OPAS, 2005). O México foi o segundo país da América Latina em número de óbitos (321) por Raiva humana. Destes, 237 (74%) foram transmitidos por cães; é o primeiro País da América Latina em número de casos de Raiva canina 27.903, o que correspondeu a uma proporção de 118 casos de Raiva canina para um óbito por Raiva humana. No Peru, Equador, Bolívia e El Salvador, esta proporção foi respectivamente de 36; 37; 95; 18 (OPAS, 2005). 20 A qualidade da vigilância epidemiológica da Raiva de um país, estado, ou cidade, pode ser avaliada pela proporção entre os casos de Raiva canina e humana; quanto menor for á proporção mais falho é o sistema de vigilância (ROLIM, 2006). De acordo com a WHO/OPAS (2005), uma área (Estado) é considerada como livre de Raiva, quando por mais de 10 anos não registrar circulação de vírus na população canina, e possuir uma vigilância epidemiológica confiável. Os Estados brasileiros vêm alcançando estágios distintos, no controle da Raiva, acarretando situações epidemiológicas diferentes para o país, onde os números de casos de Raiva humana e canina, bem como, o desenvolvimento das ações de controle, apresentam uma grande variação entre as regiões e seus estados (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA, 2002). Com relação à Raiva humana nas cinco regiões do Brasil, Norte, Nordeste, Sudeste, Sul, e Centro-Oeste, nos anos de, 1986: registraram, 10, 22, 1, 0 e 6; em 1995: 9, 12, 7, 0 e 3; e em 2005: 17, 26, 1, 0, 0; óbitos. Avaliando estes 3 anos, e considerando seus intervalos de 10 anos, pôde-se concluir que, a Raiva humana está controlada apenas na região sul, encontrando-se em processo de controle as regiões sudeste e centro-oeste, enquanto, as regiões Norte e Nordeste apresentaram os maiores índices da doença, e consequentemente a maior incidência nestas duas últimas décadas (MS, 2006). No período de 2002 a 2005, as regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul, e Centro Oeste, notificaram respectivamente, 230, 771, 47, 4 e 114 casos de Raiva canina. Os quatro casos notificados na região Sul, ocorreram no estado do Paraná, sendo, três em 2002, e um em 2005. Esta avaliação mostra que a Raiva canina não está controlada em nenhuma região brasileira, e que a região Nordeste apresenta a maior concentração da Raiva canina (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - SVS, 2006). A região Nordeste do Brasil, no período de 2002 a 2005, foi confirmado em laboratório, casos de Raiva canina nos estados: (70) no Maranhão, (11) no Piauí, (175) no Ceará, (3) no Rio Grande do Norte, (24) na Paraíba, (203) em Pernambuco, (17) em Alagoas, (25) em Sergipe e (247) na Bahia, o que indica uma elevada circulação de vírus rábico em cães. Estes quatro estados possuem a maior concentração de Raiva canina, como também, a maior incidência de Raiva humana transmitida por cães, constituindo-se em uma área de alto risco (SVS, 2006). 21 O Estado do Ceará liderou os casos de Raiva humana no Brasil no período de 1980 a 1985, sendo o cão responsável por 87% da transmissão dos mesmos (MORAIS et al. 1996). Assumindo novamente esta liderança nos anos de 1989, e 2003, quando registrou respectivamente 8 e 7 óbitos por Raiva humana, os quais, (100%) foram transmitidos por cães, evidenciando a importância destes animais como reservatório e transmissores da doença aos seres humanos no estado do Ceará (SECRETARIA DE SAÚDE-CE, 2004). No período de 1990 a 2003, o estado do Ceará e sua capital Fortaleza, notificaram respectivamente 40 e 15 óbitos por Raiva humana. Destes, 27 (67,5%) e 15 (100%) foram transmitidos por cães. Através destes resultados, Fortaleza se destacou como a cidade que apresentou a maior porcentagem de Raiva humana transmitida por cães na América Latina (ROLIM, 2006). A Raiva é tida como um dos grandes e graves problemas de saúde pública, particularmente das grandes cidades de países pouco desenvolvidos, onde a transmissão ocorre em subúrbios ou áreas metropolitanas com elevada densidade de cães vadios (WIDDOWSON et al., 2002). Dentro deste perfil, o estado do Ceará notificou no período de 1999 a 2003, a ocorrência 12 óbitos por Raiva humana transmitida por cães, sendo, (4) em Fortaleza e (8) na área metropolitana. Notificações semelhantes foram registradas em Shandong (uma província no Leste da China), onde de janeiro a setembro de 2006 ocorreram 16 óbitos por Raiva humana, destes, nove foram na região metropolitana de Beijing, cidade da China, evidenciando a importância da área metropolitana na manutenção da doença (PROGRAM OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR INFECTIOUS DISEASES PROMED, 2006). As áreas com maior concentração de casos de Raiva humana transmitida por cães encontram-se nas periferias das grandes cidades, como, Porto Príncipe no Haiti, Salvador em São Salvador e Fortaleza no Brasil. Esta elevada transmissão comprova á circulação dos vírus da Raiva nas grandes populações de cães irrestritos existentes nas ruas destas cidades sem qualquer controle ou vacinação (Figura 2) (OPAS, 2005). 22 Figura 2: Cães irrestritos Fonte: ROLIM (2006). Nos últimos cinco anos (2006-2010) o Brasil registrou 17 óbitos por Raiva humana, destes, 18% (3/17) ocorreram no Estado do Ceará, e 59% (10/17) foram transmitidos por cão. Em 2009, 84% (369.600/440.000) dos atendimentos foram por exposições a cães domésticos, aumentando o risco de contrair a Raiva e elevando o consumo de imunobiológicos, fato observado a cada ano, podendo ser minimizado através da observação dos animais agressores e remessa de amostras para o diagnóstico laboratorial da Raiva (MS, 2010). No entanto, os morcegos participam da cadeia de transmissão da doença assumindo um papel cada vez mais relevante. De acordo com Silva (1999) a associação entre morcegos e Raiva foi feita pela primeira vez por Carini (1911) estudando um surto epizoótico da doença em bovinos no Estado de Santa Catarina, Região Sul do Brasil (BAER, 1991a). Entretanto, o primeiro caso de Raiva em morcegos no Brasil foi relatado por Haupt and Rehaag, em 1921, em um espécime identificado como Artibeus planirostris, o qual, de acordo com sugestão de Baer, poderia ter sido um morcego vampiro erroneamente identificado (BRASS,1994). Torres e Queiroz Lima relataram no Brasil no ano de 1935, a primeira descrição da Raiva em um morcego não-hematófago, Artibeus lituratus. No entanto, um diagnóstico definitivo, com isolamento viral, foi obtido em um morcego frugívoro Artibeus planirostris, em 1931, em Trinidad. A Raiva foi relatada em mais de 50 espécies de morcegos não hematófagos na América Latina (BAER, 1991b), e em 27 espécies no Brasil, incluindo 23 morcegos hematófagos, insetívoros, frugívoros e onívoros, (UIEDA, 1996), confirmando a independência do ciclo silvestre aéreo da Raiva, e sua importância na manutenção da doença. O Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, utilizando-se da técnica de anticorpos monoclonais, tipificou 18 amostras de vírus rábico provenientes de morcegos não hematófagos de várias espécies provenientes da Região de Presidente Prudente, SP, Brasil. Destas amostras, 15 (82,3%) foram definidas como variante 3 (compatível com amostras isoladas de morcegos Desmodus rotundus) e 3 (16,7%) como variante 4 (compatível com amostras isoladas de morcegos Tadarida brasiliensis (ALBAS et al., 2009). No Brasil, o ciclo urbano predomina sobre o ciclo silvestre, sendo o cão e o gato as principais fontes de infecção para outras espécies de animais domésticos e seres humanos (ELKHOURY et al., 2002). ROLIM et al (2008), estudando os ciclos epidemiológicos da Raiva no Estado do Ceará, no período de 2004 a 2008, consolidaram 171 casos de Raiva em animais, nos referidos ciclos: silvestre - 75 casos (43,85%) envolvendo [raposa (51), morcego (8), sagüis (16)]; rural - 64 casos (37,42%), [bovino (51), eqüino (7), caprino (2), ovino (4)]; urbano - 32 casos (18,71%), [cão (28), gato (4)]. Concluíram que, pela primeira vez no estado do Ceará, o ciclo silvestre sobrepõe o urbano e o rural, aonde o número de raposas diagnosticadas com Raiva foi igual ao de bovinos e superior ao de cães e todas as demais espécies estudadas, tornando evidente sua importância como reservatório e fonte de infecção para outras espécies animais e humanos, representando um risco potencial para saúde pública do Estado. 2. Aspectos Microbiológicos Os vírus da Raiva pertencem à Ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae, e gênero Lyssavirus. Analisados em microscopia eletrônica todos têm uma estrutura física bastante semelhante entre si, e são os únicos a infectar mamíferos (TORDO et al., 1998.; VAN REGENMORTEL et al., 2000). A variabilidade dos vírus da Raiva contrasta fortemente com sua notável similaridade na morfologia, estrutura, e mecanismos de replicação. No microscópio eletrônico (Figura 3) os vírus da Raiva são vistos sob a forma de bastonetes cilindrogivais, ou com uma io eletrônico. 24 das extremidades arredondada e a outra formando ângulo reto, com aparência de um projétil (TORDO et al., 1998). Figura 3: Vírus da Raiva vistos ao microscópio eletrônico. Fonte: Centers for Disease Control and Prevention - CDC, Atlanta – EUA (2002). Os rhabdovírus possuem aproximadamente 180 nm de comprimento por 75 nm de largura, e são compostos por: 74% de proteína, 22% de lipídeos, 3% de carboidratos e 1% de RNA (composição dependente da célula hospedeira). Seu genoma é formado por um pequeno ácido ribonucléico (RNA) cujo tamanho varia de 11 a 15 Kb (aproximadamente 12.000 nucleotídeos), de fita simples, linear e não-segmentada, de polaridade negativa (3‟ - 5‟) complementar ao RNA mensageiro, o que inviabiliza a tradução direta das proteínas (FENNER et al., 1992; TORDO, 1996; SCHNELL et al., 2010). Os vírus da Raiva em sua forma natural são denominados vírus de rua ou vírus selvagens (por existirem na natureza). Estes são muito patogênicos e têm afinidade por células nervosas, pelo epitélio respiratório e por tecido glandular seromucoso. Seu isolamento é feito a partir de animais infectados em ciclos de transmissão natural, cujo período de incubação é variável e prolongado, caracterizando-se por invadir o cérebro e glândulas salivares induzindo a formação de corpúsculos intracitoplasmáticos (Corpúsculos de Negri) no interior dos neurônios (VERONESI & FOCACCIA, 1997). A cepa conhecida como "vírus fixo ou fixado" é obtida através da replicação em laboratório dos vírus de rua por passagens seriadas intracerebrais, com conseqüente seleção de subpopulação de vírus com virulência definida. A cepa possui período de incubação mais 25 curto, entre quatro e sete dias, relativamente estável, perde a capacidade de infectar as glândulas salivares e não produz Corpúsculos de Negri (VERONESI & FOCACCIA, 1997). As cepas virais eram inicialmente diferenciadas por sua atividade patogênica, pela resposta da sensibilidade de animais inoculados, e principalmente, pela titulação em camundongos. Desse modo, as cepas de vírus silvestres ou vírus de rua eram diferenciados das cepas de vírus modificados ou vírus fixo, obtidas após passagens seriadas do vírus silvestre in vivo, in ovo ou in vitro (ACHA & SZYFRES, 1986). A cepa clássica de vírus da Raiva é considerada o arquétipo do gênero Lyssavirus (FOOKS, 2004), ou seja, é considerada como o padrão original ou modelo universalizado da doença, bem como, de sua representação e impacto no inconsciente coletivo. Na verdade, até o incremento de técnicas capazes de revelar sua diversidade em genótipos, a Raiva permaneceu sendo atribuída à manifestação de um único exemplar viral (RUPPRECHT, HANLON e HEMACHUDHA, 2002). Até o início da década de 70 consideravam-se os vírus da Raiva como uma única unidade antigênica. Com os estudos dos anticorpos monoclonais e soro-neutralização, os Lyssavirus foram subdivididos em quatro sorotipos: Sorotipo 1 - linhagens de vírus rábico clássico; Sorotipo 2 - vírus Lagos Bat; Sorotipo 3 - vírus Mokola; e o Sorotipo 4 - vírus Duvenhage (WHO, 1990; BLACK et al., 2000). Através dos estudos com anticorpos monoclonais, e da soro-neutralização, podese classificar os seguintes sorotipos de Lyssavirus (Tabela 1): Tipo 1 - Clássico, consiste na cepa CVS (Standard Virus Challenge), e na maioria das cepas silvestres e de laboratórios de várias regiões do mundo, sendo que a este sorotipo pertencem todas as cepas isoladas até o momento na América do Sul; Tipo 2 - Lagos Bat, isolado em 1956, originariamente de cérebro de morcegos frugívoros (Eidolon helvum), na Ilha Lagos da Nigéria (sem caso humano); Tipo 3 - Mokola, isolado em 1968, de um roedor na Nigéria (sem caso humano), somente em 1970 foi classificado como sorotipo; Tipo 4 - Duvenhage, isolado de um homem mordido por um morcego insetívoro na África do Sul, em 1970; Tipo 5 - (EBLV-1) Lissavírus Europeu 1 (morcego), isolado de um caso humano na Rússia, identificado em 1985; Tipo 6 – (EBLV-2) Lissavírus Europeu 2 (morcego), isolado de um caso humano na Finlândia, identificado em 1985 (Bourhy, et al., 1993); e por último o Tipo 7 - (ABLV) Lissavírus Australiano isolado em morcego (CHRISTINE et al., 2001). 26 Tabela 1: Filogenia do gênero Lyssavirus SOROTIPO AMOSTRAS 1 RABV, ABLV 2 LBV 3 MOKV 4 DUVV, EBLV-1 e EBL-2 GENÓTIPO AMOSTRAS 1 RABV 2 LBV 3 MOKV 4 DUVV 5 EBLV-1a; ELBV-1b 6 EBLV-2 7 ABLV Fonte: FOOKS (2004); TORDO (2006). O sorotipo 1 dos vírus da Raiva possui distribuição geográfica praticamente mundial, tendo sido isolado em quase todos os países do globo. Contudo, os sorotipos 2, 3, 4, 5, e 6, possuem ampla distribuição na África e na Europa, porém, registros na literatura confirmam o isolamento do sorotipo 4 em morcegos frugívoros na Europa Central, constituindo até hoje uma preocupação para as autoridades da saúde (ATANASIU & SUREAU, 1987). Com a exceção do sorotipo Lagos Bat, o qual não tem sido isolado de seres humanos, todos os vírus da Raiva, incluindo os aparentados (relacionados) são patogênicos para mamíferos, inclusive humanos, e podem levar à encefalite rábica (KING & TURNER, 1997). Os avanços registrados na Biologia Molecular - BM possibilitaram, em 1981, o relato da primeira seqüência dos genes dos vírus da Raiva, possibilitando codificar as cinco proteínas do genoma rábico, e determinar a extensão total do nucleotídeo dos genes estruturais: nucleoproteína (N), fosfoproteína (P), matriz protéica (M), glicoproteína (G), polimerase (L), (Figura 4), como também, descrever suas estruturas e funções; mapear e 27 definir os sítios antigênicos; reconhecer as exigências estruturais necessárias para a atividade imunogênica; constatar as diferenças de qualidade entre antígeno solúvel e a glicoproteína inteira; identificar as regiões imunogênicas essenciais para a indução de anticorpos neutralizantes; e comprovar que fragmentos de peptídeos podem ser utilizados como determinantes antigênicos para linfócitos B e T (BOURHY et al., 1990; TORDO et al., 1998). Figura 4: Proteínas dos vírus da Raiva Fonte: Tordo (2006) - Instituto Pasteur, Paris, França. Na estrutura do vírus da Raiva (Figura 5), podemos observar as trimeres ou epítopos do vírus, formadas por glicoproteínas, em seguida as camadas concêntricas: membrana do envelope, proteína M e o RNA firmemente condensado, (TORDO et al, 1998, SCHNELL, 2010). A glicoproteína (G) do envelope viral é a mais importante, por ser considerado o antígeno capaz de induzir a síntese de anticorpos neutralizantes, conferindo proteção à doença e responsável pela adsorção vírus-célula (TORDO, 2006). Figura 5: Estrutura dos vírus da Raiva Fonte: Tordo (2006) - Instituto Pasteur de Paris - França 28 Todos os rhabdovírus possuem duas estruturas principais: uma ribonucleoproteína central helicoidal (RNP) e um envelope envoltório. Na RNP, o RNA genômico é firmemente ligado á nucleoproteína. Duas outras proteínas virais, a P, é a proteína maior (ou polimerase L) estão associadas á RNP. A proteína G, que forma o envelope, possui aproximadamente 400 espículas trimétricas, que se encontram firmemente aderida á superfície do vírus. A proteína M está associada ao envelope e ao RNP e provavelmente pode ser a proteína central da montagem do rhabdovírus (TORDO, 2006). Os carnívoros, que constituem os principais reservatórios do vírus rábico, apresentam a tendência de se agregarem em relação às outras espécies, tornando as agressões intra-espécies mais comuns do que as inter-espécies, levando a uma circulação mais intensa do vírus rábico dentro de uma determinada espécie. Esse isolamento faz com que certas mutações no genoma viral fiquem compartimentalizadas em determinadas espécies reservatórios levando à formação de cepas (ACHA & SZYFRES, 1986; MORENO, 2002; PALÁCIO, 2003). 3. Propriedade Antigênica O vírus da Raiva apresenta dois antígenos principais: um antígeno interno constituído por uma nucleoproteína a qual é grupo-específica, e um antígeno externo ou de superfície, constituído por uma glicoproteína responsável pela formação de anticorpos neutralizantes. Os anticorpos que correspondem à nucleoproteína podem ser detectados por fixação de complemento, imunofluorescência, gel-precipitação e reações imunoenzimáticas. Podem servir para identificação dos vírus, porém não parece ter ação protetora. A glicoproteína é responsável pela formação de anticorpos neutralizantes. Os vírus não possuem hemaglutinina (KNIPE et al., 2001). A resposta imune contra os Lyssavirus é complexa e extensivamente estudada. Embora todas as proteínas virais sejam antigênicas, o papel delas na proteção é diferenciado (XIANG et al., 1995). As respectivas importâncias têm sido descritas pela técnica de DNA recombinante. Duas destas proteínas, a G e N, apresentam uma importância primária, já a fosfoproteína M1 é menos significativa. As propriedades da proteína G dependem da preservação da estrutura tridimensional, embora um epítopo linear neutralizante tenha sido identificado. Por outro lado, porções da glicoproteína com as proteínas N e M1 da RNP 29 induzem a resposta celular, envolvendo respectivamente células T helper (Th) e células T citotóxicas (Tc) (TORDO et al.,1998). 4. Resistência e Conservação de Amostras Infectadas por Vírus da Raiva Os vírus rábicos são inativados por diversos agentes físicos, tais como, radiação ultravioleta, raios X, calor, luz solar, dessecação, pasteurização, e agentes químicos do tipo detergentes e sabões, álcalis, bicloreto de mercúrio, desoxicolato de sódio, fenol, éter, acetona, álcool, compostos iodados, formol, ácidos com pH < 3 e bases com pH > 11 (VERONESI & FOCACCIA, 1997). Apresenta baixa resistência fora do ambiente, sendo inativado pelo formol a 2% e NaOH a 3%. Resiste dois minutos quando em temperatura de 80°C, cinco minutos a 60°C, quatro horas a 40°C e vários dias a 4°C. A dessecação lenta mata-o, embora preservando sua capacidade imunogênica, o mesmo acontecendo com o tratamento por doses adequadas de fenol, raios ultravioletas ou beta-propiolactona. Tira-se proveito deste fato para o preparo de vacinas inativadas (VERONESI & FOCACCIA, 1997). Os vírus conservam-se muito bem em glicerina a 50%, na geladeira a 4°C, no freezer a -70°C e em estado liofilizado. Os cadáveres de animais em putrefação e autólise podem conservar material virulento durante semanas. Na saliva ressecada os vírus perdem suas virulências em poucas horas à temperatura ambiente. Álcool a 70% pode ser utilizado para desinfetar as mãos e no caso de mordida lavar com sabão ou então com soluções ácidas como suco de limão (VERONESI & FOCACCIA, 1997). A forma ideal de conservar a atividade dos vírus consiste nas preparações que contém 2% de proteína do soro normal ou 0,75% da fração V de albumina bovina, preparações essas que devem ser liofilizadas e mantidas a -70°C (VERONESI & FOCACCIA, 1997). Sua infecciosidade mantém-se estável em extratos de tecidos submetidos a protocolos de congelação ou liofilização (DULBECCO & GINSBERG, 1980). 5. Cultura dos Vírus em Células O vírus da Raiva se multiplica em vários tipos de culturas celulares, particularmente em células de embrião de galinha, células renais de hamster e células de 30 linhagem contínua com BHK-21, clone 13 (Baby Hamster Kidney), EpO (astromicina de camundongo) ou células diplóides humanas (WI-38). As células infectadas não exibem efeito citopático, porém os vírus podem ser evidenciados à microscopia eletrônica sob a forma de partículas dispersas no citoplasma ou formando aglomerados (MORENO, 2002). O cultivo celular é mais indicado para produção de imunobiológicos e diagnóstico laboratorial, onde a linhagem celular preconizada é a de neuroblastoma murino (NA-C1300), cuja replicação dos vírus é revelada pela IFD. O resultado do teste é obtido em 18 horas pósinoculação; geralmente a incubação é continuada por 48 horas e, em alguns laboratórios, por até quatro dias. Esse teste é tão sensível quanto o teste de inoculação em camundongos. Uma vez existindo a unidade de cultura celular no laboratório, esse teste deve substituir o teste de inoculação em camundongos, evitando, assim, o uso de animais vivos; é menos oneroso e apresenta resultado mais rápido (MAPA, 2005). Resultados duvidosos de diagnóstico positivo para Raiva, feitos pela técnica de imunofluorescência, foram reavaliados em um teste de produção viral sobre células de neuroblastoma murino, no qual, das 37 amostras suspeitas, 17 tiveram positividade confirmadas para Raiva (TSIANG, 1988). 6. Transmissão A Medicina Humana e Veterinária possuem uma grande inserção, onde a maioria dos agravos e das doenças são transmitidas aos seres humanos pelos animais, cujos agentes etiológicos podem ter como hospedeiros (intermediário ou definitivo) tanto o homem quanto os animais. Mesmo alguns agentes sendo espécie-específicos, suas caracterizações bioquímicas e sorológicas são feitas através dos mesmos testes laboratoriais, fazendo com que a microbiologia humana e veterinária avancem juntas no mundo científico, que utiliza como principal modelo os animais (PALÁCIO, 2003). O cão e o gato são os animais relatados com maior freqüência como fonte de infecção e transmissores da doença aos seres humanos, enquanto que para os herbívoros são os morcegos; essa realidade é muito diferente na maioria dos países do mundo. Tais diferenças existem devido ao grande número de espécies de animais capazes de atuarem como 31 reservatórios da doença e das diversas formas que elas interagem em seus habitates (GOMES & ROLIM, 2005). A Raiva humana transmitida por cães é favorecida pela estreita relação afetiva da população com estes animais, principalmente com crianças, que somada ás baixas condições de vida e de trabalho de seus habitantes, ao longo período do tratamento profilático para Raiva, com difícil acesso ao posto de saúde, por o atendimento não está descentralizado, a falta de recursos por parte dos acidentados para se transportarem em busca de atendimento, falta de conhecimento da gravidade dos acidentes, o receio de sofrer descontos salariais ou de faltar e perder o emprego. O grande número de pessoas agredidas por cães nas áreas urbanas (Figura 6) constitui fatores básicos responsáveis pelos casos de Raiva humana transmitidos por cães (ROLIM, et al 2006). Figura 6: Acidentados por cães e atendidos no Centro de Saúde – Ceará - BR. Fonte: ROLIM (2007) - Centro de Saúde Paulo Marcelo – PMF – Ceará – BR A transmissão da Raiva ocorre, comumente, pela mordedura com conseqüente inoculação dos vírus presentes na saliva dos animais infectados, ou arranhaduras, lambeduras (Figura 7), exposição de mucosas e/ou pele lesionada, em casos raros por aerosóis ou transplantes de órgãos. Os vírus podem alcançar diretamente as terminações nervosas sensoriais e/ou motoras, ou permanecer por tempo indeterminado nas células musculares estriadas do tecido atingido, onde acontece a amplificação viral, que propiciará a infecção dos nervos periféricos (TSIANG, 1988; COSTA et al., 2000; XAVIER, 2005; MS, 2006; PARK et al., 2006; ZACHARY, 2007). 32 Figura 7: Transmissão da Raiva Fonte: www.saudeanimal.com.br (2011) Após inoculação intramuscular, as partículas dos vírus da Raiva, provavelmente, são replicadas nas células musculares estriadas e do tecido subepitelial até que atinjam concentrações suficientes para sofrerem dispersão de forma ascendente pelos nervos periféricos, destes, para a medula espinhal, invariavelmente o primeiro segmento a ser atingido, acompanhados dos demais do SNC (Figura 8), provocando em seguida, um quadro clínico característico de encefalomielite aguda, acompanhada de alterações comportamentais e motoras (DULBECCO & GINSBERG, 1980; LENTZ et al., 1982; TSIANG et al. 1991; FENNER et al.,1993; JACOB et al., 2000; HEMACHUDHA et al., 2002). Cérebro Medula espinhal Células musculares e Nervos periféricos Figura 8: Dispersão dos vírus da Raiva Fonte: www.look fordiagnosis.cpm (2011) 33 Para materializar a transmissão da doença, um vírion do gênero Lyssavirus deve encontrar uma célula hospedeira susceptível e nesse momento, uma série de eventos são desencadeados, podendo ser classificados como, adsorção, penetração, desnudamento, transcrição, tradução, replicação, montagem e brotamento, determinando o processo de infecção (Figura 9). Tais eventos resultam na liberação da progênie viral (WAGNER & ROSE, 2001). Figura 9: Ciclo infeccioso da célula. Fonte: Adaptado Centers for Disease Control and Prevention – CDC (2002). A interação dos vírus rábicos com as células hospedeiras caracteriza a infecção, e pode ser mediada por receptores nicotínicos da acetilcolina (AChR) das células susceptíveis, ao reconhecerem as trimeres de glicoproteína dos virions, através desta interação os vírus são internalizados em um endossomo celular, dentro do qual a alteração do pH implica em discretas mudanças conformacionais da glicoproteína, proporcionando a fusão com a membrana do endossomo, com conseqüente liberação da Ribonucleoproteína (RNP) dentro do citoplasma, dando início a transcrição do RNA viral, tais eventos caracterizam o inicio da doença e o final da incubação (Figura 13) (GAUDIN et al., 1993; TORDO et al., 1998; SCHNELL et al., 2010). 34 7. Fisiopatologia da Raiva A patogenia da Raiva ainda não está totalmente esclarecida, embora haja muitas similaridades na patogênese em vários hospedeiros e sobre diferentes condições experimentais, onde certos aspectos podem ser modificados de acordo com a espécie animal, idade, linhagem viral, dose, taxa de inoculação e a resposta imune (TORDO et al., 1998). No mundo, a Raiva é uma das doenças infectocontagiosas que possui o maior número de animais como reservatórios, cujas espécies, foram classificadas de acordo com sua susceptibilidade: espécies de alto risco (cães, gatos e animais silvestres), médio risco (bovinos, caprinos, ovinos, suínos e eqüinos) e de baixo risco (coelhos e roedores), não existindo na literatura registro de transmissão a humanos por este último grupo (VERONESI & FOCACCIA, 1997). A progressão dos vírions para o SNC é modulada pela concentração viral no ponto de inoculação, proximidade da lesão com o cérebro, gravidade da ferida, idade do hospedeiro e seu estado imunológico. Ocorre freqüentemente, uma fase latente, conhecida como eclipse, onde os vírus não são detectáveis, e isto pode ser a razão do longo período de incubação observado nos animais infectados (FISHBEIN & ROBINSON, 1993.; MORENO, 2002), sendo este determinado pela amplificação dos vírus até a apresentação dos primeiros sinais clínicos da doença (NORMA TÉCNICA DA RAIVA-MS, 2002). Os vírus da Raiva são considerados “neurotrópicos”, mas infectam vários outros órgãos que não fazem parte do SNC. O genoma viral é transportado no interior dos neurônios, centripetamente, à razão de 50 a 100 mm por dia, até alcançar o SNC (TSIANG, 1991). A virulência depende mais da integridade dos vírus do que do nível de disseminação ou de distribuição topográfica da infecção, porém, a via sanguínea não tem importância na distribuição dos vírus pelo corpo (TOLLIS et al., 1991; GERMANO et al, 1998.; JOGAI et al., 2002). A replicação dos vírus da Raiva é restrita, quase exclusivamente ao tecido nervoso. Os vírus multiplicam-se no local da inoculação, em músculo estriado, permanecendo no local por dias ou meses, antes de passar aos nervos periféricos, fator determinante do período de incubação. A progressão dos vírus para o Sistema Nervoso Central (SNC), denominada de via centrípeta, é modulada pela: concentração do vírus no inóculo inicial, 35 proximidade da lesão com o cérebro, gravidade da ferida (profunda, múltiplas, dilacerantes), idade e estado imunológico do hospedeiro. Até o momento não foi documentado nenhum estágio virêmico significativo (MORENO, 2002). A partir do momento que os neurônios encontram-se infectados, tem início a propagação viral neurônio a neurônio no interior dos axônios e ao longo das conexões neuroanatômicas. Desta forma os vírus são conduzidos em direção ao sistema nervoso central (SNC) através de axônios tanto motores quanto sensoriais mediante transporte axonial retrógrado, como sentido peculiar à propagação de vírus da Raiva (KELLY & STRICK, 2000). Muitos tipos de células nervosas são infectadas, contudo, a infecção de células não neuronais é menos freqüente. A replicação do vírus da Raiva in vivo é quase que inteiramente adstrita ao tecido nervoso, sendo o neurotropismo a principal característica da infecção por esse vírus (DIETZSCHOLD et al., 1985). Os fusos neuromusculares (placas mioneurais) servem como ponte para entrada dos vírus da Raiva nos nervos sensoriais periféricos. Por via sentrípeta seguem através das bainhas mielínicas até infiltrarem-se na medula espinhal, rota obrigatória para determinar a infecção do cérebro. Cujas áreas afetadas incluem o tronco cerebral, bubo, cerebelo, tálamo, hipotálamo, cérebro, células ganglionares dos núcleos pontinos e células de Purkinje do cerebelo. Do encéfalo, e novamente passando pela medula espinhal por via centrífuga, os vírus disseminam-se através dos neurônios aferentes para locais altamente inervados, como a pele da cabeça e pescoço, glândulas salivares, retina, córnea, mucosa nasal, medula suprarenal, parênquima renal, e células acinares pancreáticas. Antígenos virais já foram detectados em células da epiderme, folículos pilosos, retina, córnea, glândulas lacrimais, glândulas salivares, pulmão, músculo cardíaco, mucosas gástrica e intestinal, pâncreas, parênquima renal, glândulas adrenais, ureteres, bexiga e uretra (MORENO, 2002, GERMANO et al., 1988; ROLIM, 2007). A disseminação dos vírus da Raiva do SNC para SNP pela rota centrífuga, ocorre mediante seus deslocamentos ao longo dessas vias neuronais, em particular, pelo envolvimento do sistema nervoso parassimpático, sendo este responsável pela infecção de vários órgãos vitais, nos quais, os vírus produzem destruição das células nervosas levando-os a falência e consequentemente ao óbito. (CHARLTON, 1988; LARGHI & OUBINA, 1998). A infecção do sistema límbico, responsável pelo comportamento e, 36 conseqüentemente, pela agressividade manifestada pelos hospedeiros durante a doença, bem como a infecção das glândulas salivares, através da qual há a eliminação de grande quantidade dos vírus, são fatores fundamentais para a transmissão da Raiva. Estudos realizados com miotubos comprovam a replicação viral a esse nível e revelam que a junção neuromuscular representa uma ponte para deslocamento dos vírus para os nervos periféricos (TSIANG et al., 1991). Estudos mais detalhados sobre a patogenia da Raiva tornam-se de fundamental importância para elucidar qual a forma que os vírus da Raiva adquirem durante o período de incubação, o papel específico do tecido muscular e da junção neuro-muscular, assim como, dos nervos periféricos na progressão dos vírus no organismo dos hospedeiros (HEMACHUDHA et al., 2002). 8. Período de incubação O período de incubação da Raiva tanto em animais quanto em seres humanos é muito variável, e depende de fatores que se encontram relacionados com a cepa viral, quantidade de vírus inoculado, local de inoculação, tipo de lesão e fatores relacionados ao sistema imune do animal ou pessoa agredida. No ser humano, o período médio de incubação é de 30-60 dias, embora haja relatos de períodos excepcionalmente longos, Por sua vez, a determinação do período de incubação da Raiva de forma natural nos animais é de difícil comprovação, pela dificuldade em registrar o momento exato da inoculação dos vírus, e da manifestação dos sintomas, que surgem antes dos sinais clínicos, normalmente relacionados com o comportamento do animal doente (GOMES, 2005). Estudos experimentais realizados em diferentes animais, utilizando amostras de vírus da Raiva de origens distintas, demonstraram variações com períodos extremamente longos ou demasiadamente curtos. Em cães, o período médio é de 3-8 semanas, com extremos de 10 dias a 6 meses. Em gambás (Mephitis mephitis), de 105 -177 dias. Em bovinos expostos a morcegos Desmodus rotundus infectados, de 20 - 165 dias; em bovinos mantidos em condições de campo, 60 – 75 dias; em bovinos inoculados por via intramuscular, 25 – 611 dias. Ovinos e caprinos inoculados por via intramuscular com amostras obtidas de raposa Dusicyon vetulus, do Nordeste brasileiro, 17 – 18 dias. Em asininos inoculados por via intramuscular com a mesma amostra, 92 – 99 dias, e em eqüinos, 179 – 190 dias. A 37 variabilidade do período de incubação depende de fatores como: capacidade invasiva, patogenicidade, carga viral do inóculo inicial, ponto de inoculação, idade e imunocompetência do animal (MAPA, 2005). Esses aspectos assumem relevância, quando observados casos de Raiva humana com períodos de incubação longos, tais como, os verificados nos EUA com imigrantes provenientes do México (11 meses), do Laos (4 anos) e das Filipinas (6 anos), e, na Austrália, com imigrante procedente do Vietnã (6 anos e 4 meses) (BENMANSOUR et al., 1991). 9. Alterações Patológicas A Raiva é uma encefalite com degeneração neuronal do cérebro e da medula espinhal. Ao exame macroscópico do cérebro pode mostrar edema e hiperemia difusa (Figura 10). Ao exame microscópico, as alterações inflamatórias predominam no tronco cerebral, medula espinhal e gânglios sensitivos, notando-se, infiltrado linfocitário perivascular, nódulos gliais, e necrose de neurônios (VERONESI & FOCACCIA, 1997). Figura 10: Cérebro apresentando edema e hiperemia difusa. Fonte: Costa, 2006. Os corpúsculos de inclusão citoplasmática, denominados de corpúsculos de Negri (Figuras 11 e 12), se encontram dentro dos neurônios afetados constituindo uma característica patognomônica da Raiva. Essa inclusão é um corpúsculo esférico ou oval, bem definido, eosinófilo, limitado por um halo claro, negativo pela reação de Feulgen, medindo de dois a 10 micrômetros de diâmetro, com uma massa central de grânulos basófilos constituídos por ribonucleoproteínas virais e componentes celulares (VERONESI & FOCACCIA, 1997). 38 Figura 11: Corpúsculos de Negri. Fonte: Palácio (2003). Figura 12: Corpúsculos de Negri. Fonte: Pedro et al (2010). Através da imunofluorescência e microscopia eletrônica os Corpúsculos de Negri demonstraram ser constituídos de vírus rábicos completos, margeando um centro de proteínas virais. Normalmente são encontrados um ou vários em uma mesma célula, sendo mais comuns nas células do Corno de Amon (hipocampo), podendo também ser localizados em outros locais do cérebro e da medula espinhal, bem como no cerebelo (em células de Purkinje) (VERONESI & FOCACCIA, 1997). Frequentemente estes corpúsculos estão distribuídos tanto no corpo neural como nos dendritos, devido à neurólise, podem ser encontrados livres no tecido de sustentação,do mesmo modo em neurônios relativamente bem conservados, como também na ausência de alterações inflamatórias. Curiosamente, nas regiões onde os corpúsculos são mais encontrados (hipocampo e cerebelo) as alterações inflamatórias são discretas ou ausentes. Por isto, é importante que o exame histopatológico do cérebro, inclua, além destes, fragmentos de tronco cerebral ou de medula espinhal para pesquisa de infiltrado inflamatório. Estes Corpúsculos não são encontrados em todos os casos, mas são maiores e mais numerosos em pacientes com sobrevida maior (mais que cinco dias) e raros ou ausentes com menos de 48 horas, sendo importante salientar que em cerca de 20% dos casos não é possível encontrá-los (VERONESI & FOCACCIA, 1997). 39 10. Resposta Imune A relação infecção viral seguida de imunidade foi notada há mais de 200 anos. Seguindo esta evidência, Knipe e colaboradores descreveram os mecanismos imunológicos relacionados aos processos de infecção viral, mostrando a importância da compreensão da resposta imune antiviral, para avaliar problemas clínicos e descobrir os mecanismos do sucesso das vacinas antivirais, tanto vírus vivo modificado quanto inativados induzem altos títulos de anticorpos neutralizantes, o que ocorre normalmente entre sete e 21 dias após a vacinação (período negativo de imunidade) (KNIPE et al., 2001). A resposta imune é o resultado da expressão, ou não, de doenças que ocorrem naturalmente. Estudos experimentais sugerem que a resposta imune pode influenciar a susceptibilidade, período de incubação e morbidade, os tipos de sinais clínicos e a excreção dos vírus. Estes fatos freqüentemente dependem da interação da resposta imune com outras variáveis, como, idade, espécie animal, linhagem viral, taxa de inoculação e dose viral (MORENO, 2002). Os “vírus de rua” da Raiva induzem a produção de interferon, de fixadores de complemento e anticorpos neutralizantes; estes últimos constituem um componente crítico da resposta imune, por serem produzidos em resposta à glicoproteína dos vírus da Raiva, ou seja, sua produção são células T- dependentes, que requerem células T CD4+ e células B. São também considerados mais efetivos nos estágios iniciais da infecção, antes da entrada dos vírus no interior dos nervos periféricos, no momento que a infecção atinge o SNC, os anticorpos tornam-se relativamente ineficientes (TORDO et al., 1998). As Infecções virais agudas são mediadas pela replicação viral e a imunidade dos seres vivos infectados, tendo como resultado a morte ou a conclusão da infecção seguida de recuperação. Muitos dos sintomas clínicos sistêmicos manifestados durante a infecção viral são conseqüências da reação imune do ser vivo infectado, e não da replicação viral em si, pois as citocinas liberadas em resposta a infecção podem também levar a sintomas sistêmicos (KNIPE et al., 2001). 40 Manifestação Clínica Espécie animal, susceptibilidade, período de incubação, morbidade, sinais clínicos e excreção viral, são pontos - chaves ao considerar as manifestações clínicas da Raiva. Variações nesses fatores ocorrem com diferentes linhagens de vírus (TORDO et al, 1998). Embora muitas espécies de mamíferos possam ser infectadas com vírus da Raiva, há uma grande variação na susceptibilidade, na qual as espécies são classificadas de acordo com o grau de susceptibilidade (VERONESI & FOCACCIA, 1997). 10.1. Manifestações Clínicas em Cães e Gatos Em cães e gatos, a presença de vírus na saliva pode ser detectada de dois a cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo durante toda evolução da doença. Os animais mais jovens são mais susceptíveis à infecção, embora, período de incubação extenso tenha sido observado em animais infectados experimentalmente. A fase prodrômica dura aproximadamente três dias. O animal demonstra alterações de comportamento, anorexia, esconde-se, parece desatento e por vezes, não atende o próprio dono. Alguns sintomas também ocorrem nessa fase, como aumento de temperatura, desidratação, amigdalite, faringite, dilatação das pupilas e reflexos corneais lentos. Há duas formas de apresentação da sintomatologia clínica: a) Furiosa ou encefálica (Figura 13): ocorre angústia, inquietação, excitação, tendência a agressão (morde tudo e a todos), alterações do latido (latido rouco), dificuldade de deglutição, sialorréia, procura por locais escuros (fotofobia), fuga de seu habita, irritação no local da agressão, incoordenação motora, crise convulsiva, paralisia, coma e morte; b) Muda ou paralítica (silenciosa) (Figura 14): fase de excitação ausente, inaparente ou curta, procura por locais escuros (fotofobia), sinais predominantemente paralíticos, iniciando pelos músculos da cabeça, mandíbula, e pescoço, paralisia dos músculos posteriores, estendendo-se por todo o corpo do animal, dificuldade de deglutição, sialorréia, coma e morte. O animal geralmente vem a óbito entre cinco a sete dias após o aparecimento dos sinais clínicos (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA, 1998). 41 Figura 13: Raiva encefálica ou furiosa Fonte: WHO (2000). Figura 14: Raiva muda ou paralitica Fonte: WHO (2000). 10.2. Manifestações Clínicas em Animais Silvestres e Herbívoros A sintomatologia clínica em animais silvestres (Figura 15), (raposas, gambás, guaxinins, sagüis) infectados de modo natural e experimental é similar à dos cães; a maioria apresentando Raiva do tipo furiosa, e com menor freqüência a Raiva paralítica. A duração da enfermidade é variável, assim como o período de incubação, o qual raramente é menor que 10 dias ou maior que seis meses. Há poucos estudos sobre o período de transmissão, sabendo-se que varia de espécie para espécie, contudo, o morcego é relatado como o que apresenta maior período. Quando acomete os carnívoros, a Raiva apresenta com maior freqüência a forma furiosa (ACHA & SZYFRES, 1986). Figura 15: Animais silvestres que desenvolveram Raiva. Fonte: Rolim (2008). 42 O comportamento da Raiva em morcegos também é pouco conhecido. Há relato de eliminação dos vírus da Raiva na saliva do morcego D. rotundus, por um período de até 202 dias, sem sinais aparentes da doença, comprovando seu poder de albergar os vírus da Raiva em sua saliva e ser infectante antes de adoecer, por períodos maiores que nas outras espécies. Alguns aspectos da doença em morcegos foram observados, como: Raiva furiosa típica, com paralisia e morte; Raiva furiosa e morte sem paralisia; e Raiva paralítica típica e morte (MAPA, 2005). Com relação aos herbívoros não se sabe exatamente o período durante o qual podem transmitir a doença. Mesmo não possuindo uma dentição adequada que permita causar ferimentos profundos, há relatos de Raiva humana transmitida por herbívoros. Assim, recomenda-se não introduzir as mãos na boca de qualquer espécie de animal sem o uso de luvas apropriadas (MAPA, 2005). Analisados 14 equídeos (13 equinos e 1 muar) com diagnóstico clínico e histológico de Raiva provenientes de quatro regiões do Brasil, o curso clínico médio foi de quatro dias de evolução, incluindo incoordenação motora, paralisia dos membros pélvicos, paresia dos membros torácicos e decúbito (PEDRO et al., 2010). Deve-se considerar que os sinais e sintomas das diferentes apresentações não seguem necessariamente seqüências obrigatórias ou apresentam-se em sua totalidade. Em conseqüência das características da doença, o animal raivoso é facilmente atropelado em vias públicas e estradas, o que exige muito cuidado ao socorrer estes animais. Existem relatos de animais e humanos que se recuperaram de Raiva, mas o número é insignificante. (MAPA, 2005). 11. Diagnóstico A Raiva é uma doença de notificação compulsória, cuja confirmação é feita através do diagnóstico laboratorial. Na maioria dos países do mundo, a Raiva em animais e seres humanos continua sendo diagnosticada com base em sinais e sintomas clínicos, tempo de evolução até a morte do animal, sendo necessários, testes laboratoriais para a confirmação da doença (KING & TURNER, 1997; WHO, 2004; MORENO, 2007). 43 O diagnóstico clínico nos animais, às vezes torna-se difícil, existindo casos em que cães raivosos são considerados não-infectados, podendo também, antes dos primeiros sinais e sintomas, apresentar vírus nas glândulas salivares e serem liberados junto com a saliva, aumentando a situação de risco para seres humanos. Nestes, o diagnóstico também pode ser confundido com outras doenças que apresentam sinais neurológicos ou paralíticos (WHO, 1992). Para realizar o diagnóstico laboratorial da Raiva, o material escolhido é o SNC (Figura 16), principalmente as porções do cérebro, cerebelo, e os cornos de Amon. Alguns estudos conduzidos para detectar em quais as regiões do cérebro os antígenos da Raiva são encontrados com maior freqüência, revelaram o tálamo e a medula espinhal como às estruturas de escolha para o diagnóstico da Raiva (BINGHAM et al., 2002). Cérebro Cerebelo Medula cervical Figura 16: Sistema nervoso central de um cão Fonte: Costa (2007). Negri, confirmando os trabalhos de Babes (1887), descreveu a presença de corpúsculos de inclusão citoplasmáticos nas células nervosas, que ficaram conhecidos como Corpúsculos de Negri, aínda hoje utilizados como método de diagnóstico post-mortem. No ano de (1958), Goldewasser e Kissling realizaram uma prova de IFD para diagnosticar laboratorialmente os vírus da Raiva, de tal relevância, que o MS (2008) continua exigindo em associação com a prova de inoculação em camundongos (IC), como requisito para realização 44 das medidas de prevenção, controle e registro de casos de Raiva tanto em humanos quanto em animais (MS, 2008). Nos últimos anos, várias técnicas têm sido utilizadas para realização dos exames laboratoriais da Raiva, a saber: Prova de Sellers - detecção da presença dos corpúsculos de Negri (Figura 17); Prova de Imunofluorescência - detecção de antígenos (Figura 18); Prova biológica (Figura 19); Isolamento do vírus in vitro - cultivos celulares; Identificação dos vírus empregando anticorpos monoclonais; Detecção através de técnicas moleculares – Transcriptase reversa – Reação em Cadeia da Polimerase - RT-PCR; Titulação de anticorpos prova Rápida de Inibição Focal de Fluorescência – RFFIT (DAVID, 2002). Figura 17: Sellers, Fonte: WHO (2004) Figura 18: Imunofluorescência; Fonte: ROLIM (2007) Figura 19: Prova Biológica Fonte: ROLIM (2007) De acordo com a OPAS (1983 e 2005), até o presente momento, as técnicas de IFD e IC são recomendadas e utilizadas como provas de rotina para o diagnóstico laboratorial da Raiva (Figuras 18 e 19). O problema para realização do diagnóstico laboratorial da Raiva está relacionado com as dificuldades na coleta e envio do SNC. As primeiras coletas de SNC foram realizadas por Pasteur no ano de 1882, quando passou a coletar medula espinhal de cães raivosos e inocular intracerebral em coelhos como comprovação da doença e manutenção de material para estudo. A técnica de coleta consistia na dessecação da coluna vertebral, e em seguida, a quebra da parte dorsal das vértebras, iniciando pela região cervical em direção a coccígea, 45 com conseqüente exposição da medula espinhal e acompanhada coleta, para posterior utilização (SANTOS, 1888). Desde 1973, quando foi institucionalizado o Programa Nacional de Controle da Raiva no Brasil, a técnica de coleta de SNC é realizada abrindo a calota craniana com exposição e coleta do encéfalo como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva (MS, 2006). Os Estados Unidos da América, através do CDC, divulgam e utilizam a medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva, cuja técnica de coleta, consta da incisão transversal na região dorsal do pescoço com desarticulação atlantoaxóide e coleta da medula (HANLON, 2002). Em 2008, o MS editou o manual de diagnóstico laboratorial da Raiva, com a finalidade de orientar a coleta de SNC, porém, a técnica descrita é complexa, de difícil execução e impraticável no campo e dentre as dificuldades ressalta-se, prender a cabeça do animal em uma morsa, remover o couro da cabeça, serrar a cabeça na frente e nas laterais, levantar a parte óssea serrada, visualizar o encéfalo e coletar. 12. Prevenção e Controle A formulação de programas para controle da Raiva está diretamente relacionada às diferentes espécies animais infectados pelo vírus e responsáveis pela disseminação da doença (OPAS, 2004). O Programa de Prevenção e Controle da Raiva humana é muito oneroso, e constitui-se, de campanhas de vacinação de cães e gatos (Figura 20), captura/retirada dos cães errantes das ruas (Figura 21), vacinação profilática humana pré e pós – exposição (Figura 22) e na educação em saúde (Figura 23) (ZHANG et al., 2005). Ressalta-se ainda que, a vacinação profilática não está totalmente livre de riscos, por isso, não deve ser utilizada quando podemos observar o animal e este não apresenta sinais da doença, e mesmo assim, é muito utilizada (NOAH et al.;1996). 46 Figura 20: Vacinação de cães Fonte: Programa de controle da Raiva – Ceará. Figura 21: Captura de cães Figura 22: Profilaxia da Raiva humana Fonte: Programa de controle da Raiva – Ceará. Figura 23:Educação em saúde. A vacina contra a Raiva foi utilizada pela primeira vez em humanos no dia 6 de julho de 1885, quando Louis Pasteur com êxito tratou de forma profilática uma criança de nove anos de idade (Joseph Meister) por ter sido mordido por um cão raivoso. A partir de então foram feitas melhorias nas técnicas de produção das vacinas, e no ano de 1956, os pesquisadores chilenos Fuenzalida e Palácios desenvolveram uma vacina produzida em cérebro de camundongo lactente, um produto biológico muito mais inócuo e potente do que as vacinas até então utilizadas, sendo essa vacina utilizada nos programas de controle da Raiva em diversos países. No Brasil vem sendo gradualmente substituída pelas atuais e excelentes vacinas de cultivo celular (MS, 2008). 47 Apesar da evidência de que o controle da Raiva canina, através dos programas de vacinação animal e eliminação de cães de rua, podem reduzir a incidência de Raiva humana, porem, a exposição a cães irrestritos ainda é a causa de mais de 90% de exposições humanas para Raivas. Fato inadmissível, porque vacinas para prevenir Raiva humana encontram-se disponíveis ha mais de 100 anos, e a maioria das mortes por Raiva acontecem em países com recursos de saúde pública inadequados e acesso limitado para tratamento preventivo. Estes países também possuem poucos laboratórios para diagnóstico e quase nenhuma vigilância para Raiva (CDC, 2011). De acordo com ROLIM et al (2006), não existe hipótese que justifique a ocorrência de casos de Raiva humana, principalmente transmitidos por cães e gatos, por ser uma doença das mais antigas, que por sua letalidade e sintomas, tornou-se conhecida e temida por todos, alem de possui enorme período de incubação possibilitando um tratamento profilático, o qual existe comprovadamente desde 1885 para animais e humanos, possui fácil e rápido diagnóstico laboratorial, e conta com a existência de imunobiológicos eficientes e descentralizados em todo país, onde possui técnicos capacitados porém sub-utilizados, faltando gestão e pretensão política para consolidar o controle da doença. 48 JUSTIFICATIVA De acordo com o CDC (1995), o SNC (cérebro) é o local de escolha para a coleta de material para exame de Raiva em animais após o óbito. Este processo deve ocorrer de forma rápida, e quando isso não for possível, o material deve ser acondicionado no gelo e em seguida transportado ao laboratório para exame. Por não existir uma padronização para coleta e envio de amostras de SNC ao laboratório, os animais suspeitos de Raiva chegam inteiros ou com a cabeça dentro de recipientes em condições inadequadas, por conseguinte, conservados impropriamente, propiciando a perda destes materiais com graves conseqüências para os acidentados, alem dos riscos de infecção por ocasião da coleta e da remessa ao laboratório. Somente no ano de 2008 o MS editou o Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva, onde recomenda a técnica de colheita de encéfalo de cão, a qual tem sido classificada pelos profissionais da área, como sendo de difícil execução a campo por demandar o uso de ferramentas pesadas, além de propiciar elevados riscos de contaminação. Visando reduzir tais dificuldades e riscos, assim como, facilitar o diagnóstico e incrementar a remessa de material (SNC) para o laboratório de diagnóstico da Raiva, idealizou-se a técnica de coleta de medula cervical com subsequente implantação no Estado do Ceará. Por a medula cervical fazer parte do SNC, e deste, ser a primeira região infectada durante o progresso de infecção rábica; pela comprovada concordância com o cérebro quanto á presença de antígenos da Raiva, e ainda mais, ser passagem obrigatória dos vírus rábicos para o cérebro, onde se multiplicam com intensidade e novamente por ela se disseminam para todo corpo, justifica-se a sua utilização como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva, e sua coleta através da Técnica de Coleta de Medula Cervical - TCMC, a qual proporciona de forma prática, fácil, e segura, a coleta da medula cervical, e de outros segmentos do SNC (tronco cerebral, tálamo, corno de Amon, cerebelo, cérebro) também indicados para o diagnostico laboratorial da Raiva, sem abrir o crânio do animal. Por estas conveniências essa técnica foi implantada como rotina no sistema público de saúde do Estado do Ceará – Brasil. 49 A anatomia e localização da medula cervical nos mamíferos (Figura 24) facilitam a coleta, acondicionamento, remessa e estocagem, assim, viabiliza o diagnóstico, reduzindo os riscos de infecção por manipulação de materiais inadequados, restringindo os tratamentos profiláticos humanos, e diminuindo os abandonos de tratamentos profiláticos, contribuindo de forma significativa com a vigilância epidemiológica e o controle da doença. Medula Cervical Figura 24: Medula Cervical Fonte: www.saudeanimal.com.br/image/Raiva (2011) HIPÓTESE CIENTÍFICA A medula espinhal pode ser utilizada como material no diagnóstico laboratorial da Raiva, a facilidade de coleta promoverá incremento no envio de amostras com conseqüente melhoria em toda cadeia do diagnóstico, resultando na produção de indicadores confiáveis para orientação das ações de epidemiologia e controle da Raiva. 50 OBJETIVOS 1. Geral Desenvolver a Técnica de Coleta de Medula Cervical com subsequente Implantação da Metodologia no Estado do Ceará. 2. Específicos Demonstrar a eficácia da medula cervical para o diagnóstico laboratorial da Raiva; Validar uma técnica de coleta de medula cervical – TCMC; Inventar um coletor de SNC; Idealizar um recipiente para acondicionamento de SNC; Implantar a TCMC nos serviços públicos de saúde do Estado do Ceará; Monitorar o envio de amostras sob forma de alíquotas para o laboratório diagnóstico da Raiva. 51 CAPÍTULO I ___________________________________________ TÍTULO DO ARTIGO RAIVA: uma abordagem dos primórdios à atualidade (RABIES: an approach of the origins to present time) Periódico: Revista Ciência Animal da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Autores: Benedito Neilson Rolim1 (Mestre em Ciências Veterinárias – UECE); Edmara ChavesCosta1 (Doutora em Ciências Veterinárias – PPGCV/ UECE); Phyllis Catharina Romijn2 (Doutora em Microbiologia Veterinária - University of Surrey). Maria Fátima da Silva Teixeira*1 (Doutora em Biologie Humaine - Université Claude Bernard Lyon). 1 Laboratório de Virologia do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária – Universidade Estadual do Ceará, CE, Brasil 2 PESAGRO – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil *Endereço para correspondência: Laboratório de Virologia do Programa de Pós- Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV), Faculdade de Veterinária (FAVET) – Universidade Estadual do Ceará (UECE) - Av. Paranjana, 1700 - Itapery - Fortaleza,CE, Brasil. CEP 60740-903 – email: [email protected] Benedito Neilson Rolim – email: [email protected] 52 RESUMO A Raiva é considerada uma das enfermidades mais antigas e a de maior letalidade entre todas as patologias infecciosas conhecidas. A despeito das inúmeras intervenções e dos avanços nos diversos setores da ciência, a Raiva manifesta expansão contínua e, freqüentemente, exacerbada, permanecendo até hoje, com apenas dois casos de cura. Além disso, apresenta um longo histórico, tornando-se amplamente conhecida em todo mundo pelo sofrimento causado às pessoas acometidas e pelo pavor gerado mediante a noção de sua, praticamente invariável, evolução para a morte. Através dos séculos foram registradas várias descrições da doença, inclusive dos tratamentos aplicados a humanos doentes, bem como, das medidas básicas de prevenção e controle desenvolvidas para barrar sua progressão. Nesse contexto, o trabalho de revisão que se segue tem por objetivo descrever os aspectos históricos da Raiva tomando como base os relatos de historiadores, bem como, da literatura médica ao longo das distintas épocas, ressaltando os avanços impetrados nessa área do conhecimento. Palavras-Chaves: Raiva, Doença, História. ABSTRACT Rabies is considered one of the most ancient diseases and higher mortality among all infectious diseases known. In despite of the numerous interventions and the scientific progresses, the rabies virus expresses continued expansion and often exacerbated, remaining until today, with only two cases of cure. Moreover, it has a long history, becoming widely known throughout the world because of the suffering caused to those involved and the fear generated by the notion of its almost invariable progression to death. Through the centuries, the disease has been recorded several descriptions, including treatments applied to human patients, as well as the basic arrangements of prevention and control designed to stop its progression. In this context, the aim of the present work is to describe the historical aspects of rabies, based on the historians’ reports, as well as the medical literature over the different history periods, highlighting the advances of this knowledge area. Key-words: Rabies, Disease, History. 53 INTRODUÇÃO A Raiva é uma doença infecto-contagiosa, causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central (SNC), produzindo uma encefalomielite aguda e fatal, decorrente de sua replicação com conseqüente destruição das células do sistema nervoso, provocando freqüentemente alterações comportamentais e motoras, tais como: inquietação, fúria, agressividade, paralisia dos membros posteriores, da mandíbula, laringe, faringe e epiglote, TORDO (1996); TAKAOKA (2003). É considerada uma das enfermidades mais antigas e a de maior letalidade entre todas as patologias infecciosas conhecidas. Além disso, apresenta um longo histórico, tornando-se amplamente conhecida em todo mundo pelo sofrimento causado as pessoas acometidas e pelo pavor gerado mediante o conhecimento de sua quase invariável evolução para a morte. Através dos séculos foram registradas várias descrições da doença, inclusive dos tratamentos aplicados a humanos doentes, bem como, das medidas básicas de prevenção e controle desenvolvidas para impedir sua progressão, ROLIM (2007). O conceito de doença reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Dependerá do momento histórico, do lugar, da classe social, bem como, dos valores individuais, das concepções científicas, religiosas e filosóficas vigentes. Houve um tempo em que o desejo de fuga dos escravos era interpretado com um distúrbio mental denominado drapetomania (do grego drapetes, escravo), cujo diagnóstico foi proposto em 1851 por Samuel A. Cartwright, médico do estado da Louisiana, no escravagista sul dos Estados Unidos o tratamento recomendado era o açoite, SCLIAR (2007). Portanto, o resgate histórico dos fatos científicos permite considerar, para uma determinada época, elementos (fatos do saber) cujo elo não podia ser percebido no momento, mas cuja reunião se mostra em seguida estruturalmente significante para uma dada ciência e permite caracterizar factualmente, no tempo histórico, o progresso de um capítulo do conhecimento científico, PATY (2005). Nesse sentido, o trabalho de revisão que se segue tem por objetivo descrever os aspectos históricos da Raiva tomando como base os relatos de historiadores, bem como, da literatura médica ao longo das distintas épocas, ressaltando os avanços impetrados nessa área do conhecimento. 54 1 IDADE ANTIGA (4.000 a.C. – séc. IV) Uma das referências mais remotas à Raiva pode ser evidenciada no Código de Eshnunna da era pré-mosaica (antes do profeta Moises, i.e.,1500 a.C.). A cidade de Eshnunna fazia parte da Antiga Mesopotâmia, sendo capturada por Hamurabi em 1756 a.C. O Código de Eshnunna (cerca de 1930 a.C) trazia aproximadamente 60 artigos, sendo uma mistura de direito penal e civil, que futuramente seria a base do Código de Hamurabi. O código continha uma passagem mencionando as implicações das mordidas de cães, FIELDS (2001). “se o cachorro é louco e as autoridades avisam ao dono; e esse não prende o animal e o cão morde um homem causando sua morte, então o proprietário do animal deverá pagar 40 ’shekels’ de prata. Se o cão morder um escravo e este morrer, o proprietário do cão deverá pagar 15 ‘shekels’ de prata”. No poema épico grego “A Ilíada”, Homero (século VII a.C.) parece se referir à Raiva quando menciona Sirius, a estrela Cão da constelação de Orion, exercendo uma influência maligna sobre a saúde humana. O despontar no firmamento da estrela cão Sirius era associado a cães ‘loucos’ em toda a extensão do Mediterrâneo Oriental, do Egito e, mais tarde, em Roma. Ainda hoje, persiste a crença popular, amplamente difundida, que refere o mês de agosto como o “mês do cachorro louco”, SCHNEIDER & SANTOS-BURGOA (1994). Os gregos denominavam a doença de Lyssa ou Lytta, traduzida como “loucura”. A doença no homem era descrita como hidrofobia, situação na qual a pessoa doente é atormentada ao mesmo tempo por sede extrema e medo da água. A palavra “Raiva” do latim originou-se do antigo termo Sânscrito “rabhas” que significa “ser violento”. A expressão germana “tollwut” é procedente do Indogermano “Dhvar” para dano e “wuot” que denota Raiva/fúria. A terminologia francesa “rage”, por sua vez, é derivada do vocábulo “robere”, designação para loucura, PATY (2005) Nesse período histórico, a medicina grega representou uma importante inflexão na maneira de encarar a doença. É verdade que, na mitologia grega, várias divindades estavam vinculadas à saúde. Os gregos cultuavam, além da divindade da medicina, Asclepius, ou 55 Aesculapius (que é mencionado como figura histórica na Ilíada), duas outras deusas, Higieia, a Saúde, e Panacea, a Cura. A figura mitológica Higieia era uma das manifestações de Athena, a deusa da razão, e o seu culto, como sugere o nome, representava uma valorização das práticas higiênicas; e se Panacea representa a idéia de que tudo pode ser curado - uma crença basicamente mágica ou religiosa -, deve-se notar que a cura, para os gregos, era obtida pelo uso de plantas e de métodos naturais, e não apenas por procedimentos ritualísticos24. À deusa Artemisa era legada a responsabilidade pela cura da Raiva, enquanto o Deus Artiste, filho de Apolo, combatia os efeitos da doença, SCLIAR (2007). Essa visão religiosa antecipa a entrada em cena de um importante personagem: o pai da Medicina, Hipócrates de Cós (460-377 a.C.). Pouco se sabe sobre sua vida; poderia ser uma figura imaginária, como tantas na Antigüidade, mas há referências à sua existência em textos de Platão, Sócrates e Aristóteles. Os vários escritos que lhe são atribuídos, e que formam o Corpus Hipocraticus, provavelmente foram o trabalho de várias pessoas, talvez em um longo período de tempo. O importante é que tais escritos traduzem uma visão racional da medicina, bem diferente da concepção mágico-religiosa antes descrita. O texto intitulado “A doença sagrada” começa com a seguinte afirmação: “A doença chamada sagrada não é, em minha opinião, mais divina ou mais sagrada que qualquer outra doença; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflete a ignorância humana”, SCHNEIDER & SANTOS-BURGOA, (1994). A primeira descrição registrada da Raiva canina é atribuída ao filósofo grego Demócritos (460-370 a.C.). Aristóteles (384-322 a.C.) escreveu em sua obra “História Natural dos Animais”, livro 8, capítulo 22, sobre a transmissão da doença, detalhando que “cães acometidos por loucura tornam-se irritadiços e todos os animais mordidos por eles adoecem”. Ademais, supõe-se que a sintomatologia da Raiva humana tenha sido referida pela primeira vez nos escritos de Hipócrates (460-377 a.C.) quando expõe que “pessoas loucas bebem muito pouco, são perturbadas e amedrontadas, apresentando tremores ao menor barulho, BAER (1991). Aulus Coenelius Celsus (25 a.C.-50 d.C), médico e naturalista romano, fez da Raiva seu objeto de estudo pessoal no século I. Ele enfatizou em seus escritos que as mordidas de todos os animais que continham vírus eram perigosas aos homens e aos outros animais. De fato, Celsus e seus contemporâneos reconheciam apenas a saliva como lócus de 56 agentes venenosos. Nesse sentido, era recomendado, como tratamento preventivo, a prática de se lançar mão de substâncias cáusticas, da cauterização, da sangria, bem como, da sucção das lesões de indivíduos mordidos por cães raivosos. Por outro lado, Galeno (131-200 d.C.) sugeria a excisão cirúrgica das feridas provocadas por animais raivosos, os indivíduos agredidos deviam beber vinho por ser considerado um antídoto contra vários venenos. Essas precauções não apenas evidenciavam que a doença era bem compreendida, mas que era mais ou menos prevalente e desafiava os conhecimentos médicos da época, STEELE & FERNADEZ (1991). Os romanos receberam como legado dos gregos muitos conhecimentos sobre saúde e medicina, com os quais desenvolveram muito bem os aspectos sanitários. O escritor romano Cardanus descreveu, no século I, a infecciosidade da saliva de cães raivosos. Outros escritores da época retrataram o material infeccioso como um veneno que, em latim, tinha o significado de “vírus”. Outra causa da doença mencionada por Plínio e Ovídio como o “verme da língua” do cão. Na tentativa de se prevenir o desenvolvimento da Raiva, mediante os recursos médicos da época, se realizava a extirpação do freio da língua (membrana mucosa localizada da região ventro-medial da língua) supondo-se ser a área que albergava o parasita. Esse conceito se manteve até o século XIX, quando Louis Pasteur e seus colaboradores demonstraram a causa da Raiva, SCLIAR (2007). De um modo geral, a medicina pouco havia avançado, a tradição hipocrática, que de certa forma tivera continuidade com Galeno, entrara em declínio. Por outro lado, a medicina árabe e a medicina judaica, que se desenvolveu, sobretudo, nas regiões muçulmanas, estava fora do alcance da cristandade. Dessa forma, os europeus tiveram pouco ou nenhum contato com os trabalhos dos médicos árabes e judeus que acrescentaram ao acervo grego importantes conhecimentos em farmacologia, cirurgia e, até mesmo, oftalmologia, SCLIAR (2002). 2 IDADE MÉDIA (séc. V – séc. XV) No Ocidente, a Idade Média ficou conhecida como a Era das Trevas, e do ponto de vista dos cuidados à saúde a denominação é exata. A queda do Império Romano e a ascensão do regime feudal tiveram profundas e desastrosas conseqüências na conjuntura de 57 saúde, na prevenção e no tratamento das doenças. Na Idade Média européia, a influência da religião cristã manteve a concepção da doença como resultado do pecado e a cura como questão de fé; o cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas, que administravam inclusive o hospital, instituição que o cristianismo desenvolveu muito, não como um lugar de cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes. O Cristianismo impunha, portanto, uma conexão fundamental entre a enfermidade e o pecado. Conseqüentemente, a forma de tratamento era por meio de orações, penitências e invocação de santos, como São Humberto, grande protetor contra a Raiva nesse período, SCLIAR (2002); SCLIAR (2007). Outra referência da extensão da Raiva ao plano espiritual pode ser evidenciada na seguinte oração: “São Roque, São Roque, não permita que esse cão me toque!”. Essa súplica por proteção a uma entidade protetora era ensinada às crianças tanto no Velho Mundo (Europa, Ásia e África) quanto no Novo Mundo (hemisfério ocidental) para ser invocada sempre que se encontrasse um cão na rua, FIELDS (2001). Até a Idade Média os relatos de epizootias de Raiva eram de rara ocorrência e, apesar de freqüentes, os casos apresentavam-se de forma isolada. A maioria das ocorrências era ocasionada por agressões de cães raivosos e, eventualmente, por lobos, texugos, raposas e, mesmo, ursos. Há referência histórica sobre uma invasão a Lion por um urso raivoso, por volta do ano 900, o qual atacou cerca de 20 pessoas que tentavam matá-lo. Seis dessas pessoas desenvolveram a doença e chegaram a óbito nos 27 dias seguintes, STEELE & FERNADEZ (1991). O médico árabe Avicenna (980-1037) fala sobre a Raiva em seus escritos que datam do século XI, onde determina que a lesão rábica deva ser mantida aberta por 40 dias, sendo utilizados vesicatórios (fármaco que induz a formação de vesículas na pele) sobre o local. Em sua obra, Avicena sugeri que pessoas com hidrofobia latem como cães e têm o desejo de morder outras pessoas; pacientes que tentam beber sufocam e a doença evolui para apoplexia (paralisia repentina com perda total ou parcial da consciência e das sensações). No geral, suas observações marcaram um importante passo na compreensão da doença. No século XII, o médico e estudioso talmudista (doutrina e jurisprudência da lei mosaica – Torá) Moses Maimonides também discutiu o tratamento da Raiva. No seu tratado “Venenos e seus 58 antídotos”, escrito em 1198, a pedido do Sultão Al Afdal, Maimonides enumerou vários “remédios contra a mordida de cães loucos, STEELE & FERNADEZ (1991). A mais precoce menção da doença na Grã-Bretanha pode ser evidenciada nas leis de Howell the Good em Wales (1026), ano no qual um surto é mencionado como o evento mais notável da região, pela afirmação da existência de uma loucura” observada entre os cães nesse ano. Contudo, o primeiro grande episódio da doença foi descrito em 1271 quando lobos raivosos invadiram cidades e vilas da França, atacando os rebanhos e não menos que 30 pessoas morreram vitimadas pelas mordidas infligidas. Em 1500, relata-se um episódio devastador na Espanha provocado por cães raivosos, STEELE & FERNADEZ (1991). O fim da Idade Média foi marcado por inúmeras pestilências. Epidemias naturalmente já haviam sido registradas, tanto no Oriente como na Grécia e no Império Romano; Tucídides em Atenas (430 a.C) e Galeno em Roma (164 a.C) faziam menção desses episódios, sem falar no próprio Hipócrates. No entanto, os movimentos populacionais, a miséria, a promiscuidade e a falta de higiene dos burgos medievais, além dos conflitos militares, criaram as condições ideais para a explosão de graves surtos epidêmicos, SCLIAR (2007). 3 ERA MODERNA (séc. XVI – séc. XVIII) A transição gradual da Idade Medieval marcada pelas crenças religiosas e superstições para o Renascimento, período abalizado pelo pragmatismo e experimentação, resultaram numa nova forma de interpretar os processos patológicos. Já nesse período, o suíço Paracelsus (1493-1541) afirmava que as doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Naquela época, e no rastro da alquimia, a química começava a se desenvolver e influenciava a medicina. Dizia Paracelso que, se os processos que ocorrem no corpo humano são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas doses de minerais e metais. Já o desenvolvimento da mecânica influenciou as idéias de René Descartes, no século XVII. Ele postulava um dualismo mente-corpo, o corpo funcionando como uma máquina. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da anatomia, também conseqüência da modernidade, afastou a concepção humoral da doença, que passou a ser localizada nos órgãos, SCLIAR (2007). 59 Seguindo essa nova linha, em uma obra singular, publicada no ano de 1546 sob o título de “A ferida incurável”, o médico italiano Girolamo Fracastoro (1478-1553) claramente declarava a susceptibilidade dos seres humanos à Raiva e descreveu, em detalhes, um caso clínico, FIELDS (2001). “Sua incubação [subseqüente à mordida de um animal raivoso] é tão furtiva, lenta e gradual que a infecção muito raramente se revela antes do vigésimo dia, na maioria dos casos após o trigésimo, e em muitos casos não antes de um lapso de quatro ou seis meses. Há casos relatados nos quais a doença manifestou-se um ano após a agressão. [Uma vez manifesta a doença,] o paciente pode tanto permanecer de pé quanto ficar acamado; como um louco, ele se movimenta para lá e para cá, feri seu corpo com suas próprias mãos e experimenta uma sede intolerável. Esse é o sintoma mais desolador, pois o paciente recua diante da água e qualquer outro líquido, preferindo morrer a beber ou ser colocado próximo; então ele passa a morder outras pessoas, espumar pela boca, seus olhos parecem embaraçados e, finalmente, eles ficam exaustos e respiram dolorosamente pela última vez” (p.1018). A descrição da Raiva humana pelo autor é acurada especialmente no que diz respeito ao período de incubação se estender por meses a anos após a exposição inicial, mas a agressão oral de um paciente resultar em doença manifesta é um evento incomum. Vale salientar que a obra de Fracastoro sobre o contágio foi escrita em uma época na qual o misticismo da Idade Média não havia desaparecido e a ciência moderna não havia nascido. Prevaleciam, ainda, teorias antigas sobre a transmissão das doenças, considerando-se que nessa época nem sequer o microscópio existia, seu trabalho “De contagione” é, fundamentalmente, uma obra de transição, FIELDS (2001); SCLIAR (2002). Por volta de 1586, ocorreram epizootias de Raiva entre cães em Flanders (região ao noroeste da Europa que compreende partes da Bélgica, França e Holanda), Austria, Hungria e Turquia. Em 1604, a Raiva canina se expandiu até Paris causando grande alarme. No decorrer de 1700, a Raiva despontou em muitas localidades da Europa. De 1719 até 1721, os episódios de Raiva foram incomumente freqüentes, especialmente na França e Silésia 60 (região histórica entre a Polônia, a República Checa e a Alemanha), persistindo como um problema na Europa Central, onde a doença irrompeu entre lobos e raposas. Na Inglaterra, a Raiva apareceu entre os anos de 1734 e 1735, sendo identificados muitos cães raivosos no último verão desse período, STEELE & FERNADEZ (1991). Em 1752, casos de Raiva manifestaram-se nas proximidades de St. James em Londres. As ordens expressas eram de abater todos os cães da região, o que incluía mesmo os cães guia de cegos. Logo essa orientação foi estendida para as demais cidades do país. Os anos de 1759 a 1760 testemunharam uma séria epidemia da doença em Londres e seus arredores. As determinações oficiais eram de confinar por um mês e, em seguida, sacrificar todos os cães de rua, sendo estabelecida uma recompensa de dois xelins (unidade monetária inglesa da época) por cão morto. Episódios de extrema crueldade resultaram do uso de suborno para incentivar a matança de cães e cenas bárbaras foram executadas por multidões premiadas por um comportamento de declarada selvageria, STEELE & FERNADEZ (1991). A epidemia em Londres durou até 1762. Por volta de 1774, a doença era comum na Inglaterra e as pessoas eram desencorajadas a possuir cães. Ademais, os indigentes eram terminantemente proibidos de manter cães. Nesse período, mais de cinco xelins eram pagos por cada cão raivoso abatido. Em 1763, a Raiva foi identificada na França, na Itália e na Espanha. As autoridades desses países adotaram o sistema de eliminação de cães errantes e passaram a sacrificar os cães às centenas. Em Madrid, 900 cães foram mortos em apenas um dia. A partir de 1800, propagou-se um extenso surto de Raiva silvestre em raposas nos Alpes Ocidentais, com agressões a pessoas, cães, suínos e outros animais, dispersando-se para a França Ocidental, Alemanha, Suíça, Itália, Noruega e Rússia, STEELE & FERNADEZ (1991). Neste período era muito comum matar os enfermos ou suspeitos de Raiva, chegando ao ponto de ser proposta na França, em 1810, uma Lei concebida nestes termos: ”Abaixo pena de morte, proibido estrangular, asfixiar, sangrar, ou matar de qualquer outra maneira as pessoas atacadas de Raiva, hidrofobia ou qualquer outra enfermidade que provoque acessos, convulsões ou loucura furiosa. Correspondendo a pólicia e a família das vítimas, tomarem precauções para protegerem a saúde publica e a particular, SCHNEIDER & SANTOS-BURGOA, (1994). 61 4. ERA CONTEMPORÂNEA (séc. XIX - atualidade) No século XIX a Raiva se encontrava disseminada por toda Europa, onde se apresentava como uma grave epidemia em muitas cidades. Pesquisadores da época estudavam a doença tentando compreender o modo de transmissão e o agente causal, em busca de medidas de prevenção e tratamento. Em 1804, o cientista alemão Zinke comprovou a natureza transmissível da saliva infectada, coletando amostras de cães raivosos e inoculando-as em cães sadios. Em 1856 ocorreram vários surtos de Raiva humana na Áustria, Hungria e Turquia, todos precedidos por Raiva canina, Steele & Fernadez (1991); RUPPRECHT et al (2002). Em 1869, instalou-se um surto de Raiva em cães em Paris, vitimando várias pessoas. Alguns anos antes, o médico francês Armand Trousseau (1801-1867) havia descrito os sintomas da Raiva e levantou a hipótese da doença ser causada por um vírus específico e transmitida somente pela mordedura de animais raivosos. Galtier adaptou experimentalmente a doença ao coelho durante o ano de 1879 e esse modelo foi, mais tarde, utilizado pelo cientista francês Louis Pasteur em suas substanciais contribuições à investigação da Raiva durante o final do século XIX, Steele & Fernadez (1991); RUPPRECHT et al (2002). Nessa época nascia a epidemiologia, baseada no estudo pioneiro do cólera em Londres, feito pelo médico inglês John Snow (1813-1858), e que se enquadrava num contexto de “contabilidade da doença”. Se a saúde do corpo individual podia ser expressa por números - os sinais vitais - o mesmo deveria acontecer com a saúde do corpo social. Ela teria seus indicadores, resultado desse olhar contábil sobre a população e expresso em uma ciência que então começava a emergir, a estatística, SCLIAR (2007). A ciência continuava avançando e no final do século XIX registrou-se aquilo que depois seria conhecido como a revolução pasteuriana. No laboratório de Louis Pasteur e em outros laboratórios, o microscópio, descoberto no século XVII, mas até então não muito valorizado, estava revelando a existência de microorganismos causadores de doença e possibilitando a introdução de soros e vacinas. Era uma revolução porque, pela primeira vez, fatores etiológicos até então desconhecidos estavam sendo identificados; doenças agora poderiam ser prevenidas e curadas, Steele & Fernadez (1991); SCLIAR (2007). 62 4.1 A revolução Pasteuriana e o combate a Raiva O bioquímico Louis Pasteur (1822-1895), cientista vinculado às experiências sobre a geração espontânea e as diferentes técnicas de fermentação, foi responsável pela descoberta do carbúnculo, da septicemia, do cólera das galinhas, da erisipela suína; esteve envolvido na atenuação de diversos vírus e sua conversão em vacinas, além de desenvolver pesquisas sobre as moléstias do bicho da seda e conservação do vinho, da cerveja e do vinagre. Seus primeiros estudos sobre Raiva se iniciaram em dezembro de 1880, tendo como colaboradores os estudiosos Chamberland, Roux, Thuillier, Grancher, Charrin, Chantemesse e Terrillon, SANTOS (1888); ALLEN (2002); LIGON (2002); BORDENAVE (2003). Nessa época se conhecia os sintomas e a transmissão do agente pela saliva dos animais raivosos. Desse ponto de partida, Pasteur iniciou suas experiências, colhendo pela primeira vez, em dezembro de 1880, a saliva de um menino acometido, proveniente de Santa Eugênia e encaminhado ao serviço de Lannelongue. Nessa mesma época, recebeu uma mensagem telegráfica informando a ocorrência de dois cães em pleno acesso de Raiva. Pasteur seguiu para o local, conduzindo seis coelhos, sendo esses inoculados com algumas gotas da saliva dos cães acometidos, SANTOS (1888). Vale salientar que até então os experimentos eram conduzidos mediante inoculações subcutâneas de saliva infectada, método pouco prático, extremamente incomodo e perigoso. Essa técnica além de falha, pois, nem sempre, a doença era transmitida, possuía um demorado período de incubação (de até seis meses ou mais), atrasando o desenvolvimento dos numerosos protocolos experimentais. Além disso, as impurezas presentes na saliva provocavam, constantemente, acidentes septicêmicos. Esses transtornos induziram Pasteur a procurar um meio mais prático de inocular vírus puros que, ao mesmo tempo, reduzisse o tempo de incubação e cuja transmissão se desse de forma eficiente, SANTOS (1888). Ciente de que a Raiva provocava desordens no sistema cérebro-medular, Pasteur deduziu que o sítio predileto do vírus rábico era o tecido nervoso. Seguindo esse princípio, passou a realizar inoculações subcutâneas com material cerebral, procedimento ainda de caráter rudimentar. Contudo, interpretando como pura a amostra viral, conduziu seu depósito no cérebro pelo processo de trepanação, o qual consistiu da inoculação do inóculo sob a duramáter, resultando na redução do período de incubação e fixação dos vírus. Com esse método, 63 Pasteur inoculou um fragmento do bulbo de um cão raivoso, diluído em caldo de vilela, em coelhos e observou que a doença se manifestava em aproximadamente 15 dias, sobrevindo à morte nos 20 dias subseqüentes, SANTOS (1888); LIGON (2002). Não sendo capaz de isolar os vírus da Raiva a fim de cultivá-los e atenuá-los, Pasteur recorreu a “cultura” em organismos vivos. Prosseguiu com sucessivas inoculações do vírus da Raiva provenientes de cães de rua em coelhos, podendo observar que o período de incubação diminuía e a virulência aumentava nas sucessivas passagens. Entre a 20ª e a 25ª passagem o tempo de incubação era de 7 a 8 dias, a partir da 80ª passagem esse intervalo se alterava para menos de 6 a 7 dias. Quando esse mesmo experimento foi reproduzido em macacos, evidenciou-se um mecanismo inverso, no qual a virulência diminuiu e a incubação aumentou. Estes dois resultados, atenuação da virulência nos macacos e incremento nos coelhos, foram o ponto de partida para idealização da vacina, produção, e vacinação de cães contra a Raiva, SANTOS (1888). Partindo desse princípio, um contingente significativo de cães foi desafiado através da deposição sob a pele de material cerebral de um animal morto por Raiva. Em seguida, esses cães foram inoculados com uma amostra do sistema nervoso central de um coelho trepanado com material nervoso de um macaco. Após cinco ou seis inoculações sucessivas, os cães tornavam-se refratários à Raiva, podendo ser expostos a animais raivosos sem contrair a doença. Esse fato foi verificado por uma comissão oficial designada por Falliéres, então ministro da instrução pública da França. Contudo, esse método não era prático ou seguro e deixava a desejar por não ser eficaz em todos os casos, teve apenas o valor científico da descoberta da imunidade, devendo ser procurado outro método, SANTOS (1888). Pasteur já detinha o conhecimento de que a medula espinhal dos coelhos mortos por Raiva é virulenta em toda sua extensão e, quando conservada em frascos esterilizados, num sistema de ar seco, a temperatura de 20 a 25ºC, a virulência desaparece progressivamente ao fim de 14 dias. Desse modo, as medulas eram extraídas e submetidas à dessecação lenta desenvolvendo uma escala de virulência, começando com a primeira medula como parâmetro máximo e terminando, como mínimo ou nulo, em 14 dias. Além disso, Pasteur havia conseguido produzir um vírus fixo, pela inoculação primitiva do bulbo de um cão raivoso em 64 um coelho por trepanação e desse aos outros, de forma sucessivas até 176ª passagens, SANTOS (1888); LIGON (2002); BORDENAVE (2003). Essas medulas foram empregadas na constituição do substrato para a vacinação preventiva dos cães. Os fragmentos de medula com virulência ascendente foram inoculados por via subcutânea em cinco cães diariamente, durante 15 dias consecutivos. Subseqüentemente, esses animais eram expostos à mordedura por cães raivosos ou submetidos ao processo de trepanação e, mesmo assim, não desenvolviam a doença, em contraste ao grupo testemunha, tornando-se refratários à Raiva, Santos (1888); LIGON (2002). Durante cinco anos, as multiplicadas experiências de Pasteur alcançaram resultados de transcendental importância na etiologia e profilaxia da Raiva, tal aquisição científica, tornava seu método preventivo potencialmente aplicável aos indivíduos agredidos por animais raivosos. Contudo, a idéia da primeira inoculação humana envolvia uma série de implicações éticas, SANTOS (1888). Às oito horas, do dia 04 de julho de 1885, Joseph Meister, um menino de nove anos de idade, residente na localidade de Alsacia, a caminho da escola, foi gravemente ferido por um cão raivoso. O número excessivo de mordeduras, totalizando quatorze, nas principais áreas descobertas do corpo (mãos, coxas e pernas), algumas tão profundas que lhe comprometiam a marcha, levava a crer que Joseph Meister sucumbiria à Raiva, SANTOS (1888); ALLEN (2002); LIGON (2002); BORDENAVE (2003). Face ao perigo que estava exposta a criança, a Seção de Medicina e Cirurgia da Academia das Ciências de Paris autorizou Pasteur a aplicar no menino o tratamento experimental desenvolvido em cães. Às 20h do dia 06 de julho de 1885, Joseph Meister foi submetido à primeira inoculação das 12 previstas para o intervalo de 10 dias, correspondentes ao protocolo de tratamento anti-rábico, SANTOS (1888); LIGON (2002). As doze medulas de coelhos utilizadas no tratamento anti-rábico de Meister, possuíam virulência ascendente e, no sentido de avaliá-las, cada uma das suspensões foi inoculada por trepanação em dois coelhos. Ao final do intervalo de observação, pôde-se afirmar que as amostras de medula dos dias 6, 7, 8, 9 e10 de julho não eram virulentas, pois não tornavam os coelhos raivosos. Porém, as medulas dos dias 11, 12, 14, 15 e 16 de julho 65 mostravam-se significativamente virulentas, provocando o desenvolvimento da doença no espaço de oito dias quando inoculadas em coelhos, SANTOS (1888); BORDENAVE (2003). Passado o período de risco e com base na recuperação de Joseph Meister, Pasteur pronunciou-se afirmando que: “nos últimos dias inoculei em Meister, vírus rábicos mais virulentos do que os do cão que havia lhe mordido, capazes de transmitir a Raiva para coelhos em sete dias e para cães em oito ou dez. Todavia, quando se atinge o estado de imunidade fica consolidado o estado refratário a doença. Portanto, ele escapou não só da Raiva que com certeza seria acometido, como também, dos vírus da Raiva que lhe inoculei tentando imunizá-lo por ocasião do tratamento”. Tem início as primeiras aplicações do tratamento profilático da Raiva na espécie humana, tornando-se necessária a organização de um serviço de tratamento da Raiva pelo método Pasteur, para que os indivíduos agredidos por animais raivosos pudessem usufruir dos benefícios dessa descoberta, SANTOS (1888). No ano de 1886, Louis Pasteur registrou o atendimento vacinal de mais de 350 casos, concretizando o estabelecimento da profilaxia da Raiva. Contudo, nessa época ainda havia carência de um centro estruturado para a vacinação contra a doença. Foi então que a Academia de Ciências de Paris propôs a criação do primeiro Instituto Pasteur. No final de 1886, mais de 2000 pessoas haviam sido atendidas e o índice de mortalidade pela doença, decrescido significativamente. Nos dez anos seguintes, vários Institutos foram distribuídos em todo o mundo, assumindo a responsabilidade pela pesquisa, estudo e tratamento da Raiva, WILKINSON (2002). Desde então, os avanços científicos em torno da Raiva têm caminhado a largos passos, especialmente, no decorrer do século XX. A verificação histopatológica feita em 1903 por Negri, relativa à existência de inclusões citoplásmicas nas células nervosas, particularmente ao nível do corno de Ammon e dos núcleos ópticos da base do cérebro, foram grande interesse para o diagnóstico da Raiva. Tais inclusões, batizadas corpúsculos de Negri, apresentam-se como massas de forma e tamanho variáveis, que se coram em vermelhovioláceo pelo método aprimorado, posteriormente, por Sellers em 1927, STEELE & FERNADEZ (1991). 66 O emprego de camundongos albinos (Swiss), com vistas ao diagnóstico da Raiva, teve início em 1935, por Webster e Dawson. Até hoje, a técnica de inoculação em camundongos é amplamente utilizada não apenas como técnica diagnóstica, mas também na avaliação do potencial imunizante das vacinas anti-rábicas e determinação dos títulos de anticorpos anti-rábicos BAER (1991); KOPROWSKI (1996). Em 1956, os pesquisadores chilenos Fuenzalida e Palácios desenvolveram uma vacina produzida em cérebro de camundongos lactentes, um produto biológico muito mais inócuo e potente do que as vacinas até então produzidas, atualmente essa vacina ainda é utilizada nos programas de controle da Raiva em diversos países. Contudo, diferentes tipos de vacinas anti-rábicas de uso humano foram desenvolvidas ao longo dos últimos anos, o mesmo sucedendo para os imunógenos específicos para o controle da Raiva animal. Observa-se que os melhores resultados foram alcançados com as vacinas preparadas em culturas celulares, e dentre essas a de melhor qualidade é, até o momento, a preparada com células diplóides humanas (CDH), embora não seja completamente isenta de riscos pós-vacinais, GERMANO (1994); SCHNEIDER & SANTOS-BURGOA, (1994). GOLDWASSER & KISSLING (1958), descreveram a relevância do uso da reação de imunofluorescência direta para a demonstração da presença do antígeno referente ao vírus da Raiva nos tecidos animais infectados e, ainda nos dias atuais, essa técnica vem sendo largamente empregada no diagnóstico da doença, na maioria das vezes, em associação com a técnica de inoculação em camundongos. Desde o início da década de 1980, as técnicas de biologia molecular têm sido extensivamente empregadas no estudo dos vírus da Raiva, evidenciando sua etiologia e patogênese, porém, a maioria das pesquisas concentram-se no desenvolvimento de vacinas, incluindo os procedimentos de licenciamento e liberação. 4.2 A Raiva nas Américas Apesar de ser notório o fato de a Raiva ter se difundido no Velho Mundo por milhares de anos, sua ocorrência no hemisfério ocidental é menos compreendida devido escassez de registros, prévios, à chegada dos europeus. Contudo, a hipótese mais plausível para sua introdução no Novo Mundo é a de que durante a época dos descobrimentos nos 67 séculos XV e XVI, os europeus não apenas tenham navegado para ilhas distantes, mas também importaram a Raiva mediante o transporte de animais em estado de incubação da doença que sobreviveram durante as jornadas a bordo dos navios, STEELE & FERNADEZ (1991); FIELDS (2001). 4.2.1 Ingresso da Raiva no Continente Americano A Raiva nas Américas foi descrita no México pelo reverendo Marmolejo já no ano de 1709, mas há uma suspeita de sua presença mesmo antes da chegada de Colombo no século XV. Esse fato pode ser evidenciado, por exemplo, num episódio ocorrido logo após a descoberta das Américas. O bispo Anglerius escreveu em seu De Rebus Oceanicis et de Orbi Novi Decades Octo: “Em vários lugares, morcegos, muito menores do que pombos, costumam voar sobre eles [marinheiros e soldados espanhóis] cedo da noite com fúria brutal, suas mordidas ‘venenosas’ trazem aqueles ferimentos que levam a loucura... [e] os morcegos vêm dos pântanos atacando nossos homens com mordidas mortais”. Esse deve ter sido uma das primeiras descrições da transmissão da Raiva por morcegos vampiros. Em 1753, cerca de 200 anos após a invasão da América do Norte por espanhóis, a Raiva canina foi descrita na colônia de Virginia e, mais tarde, identificada em raposas, FIELDS (2001). Um correspondente escrevendo de Charles Town (Virginia – EUA), em 10 de novembro de 1750, relatou que, desde o primeiro dia do ano, um tipo de loucura havia acometido os cães, primeiro no interior e, mais tarde, na cidade. Os arquivos do estado da Virginia contêm referências da Raiva em cães que datam de 1753 e no estado da Carolina do Norte desde 1762. Em 1768, a Raiva já se apresentava alarmantemente freqüente em Boston e em outras cidades na América do Norte, quando a primeira epizootia de grandes proporções foi relatada, continuando até 1771, quando raposas e cães carrearam a doença para suínos e animais domésticos. Em 1779, a Raiva era muito comum na Filadélfia e em Maryland, STEELE & FERNADEZ (1991). A Raiva canina, em especial, mostrava índices extremos em todas as colônias da America do Norte em 1785 e, assim, permaneceu até 1789. Nesse ano, um homem morreu de hidrofobia em Nova Iorque após remover a pele de uma vaca acometida pela doença. Em 1797, a doença surge na ilha de Rhode como uma epizootia entre cães e animais domésticos. 68 Reapareceu no leste dos Estados Unidos em 1810 e em Ohio a epizootia se manifestava entre cães, raposas e lobos. Por volta de 1860, a Raiva tinha se difundido por toda a América e era enzoótica em muitas regiões da Europa, STEELE & FERNADEZ (1991). 4.2.2 Progressão da Raiva na America Central e do Sul Em 1741, um grande número de cães raivosos adentrou Barbados (uma das ilhas das Antilhas), nessa ocasião até mesmo os rebanhos bovinos foram acometidos. Em 1803, o Peru registrou o primeiro surto de Raiva, o qual se estendeu de Norte a Sul por todo país, onde 42 pessoas morreram em Ica; como medida de controle, sua capital Lima, adotou o sacrifício dos cães e, assim, defendeu a cidade de uma epizootia. Essa prática perdurou por vários anos. Em 1808, a doença declinou, mas permaneceu enzoótica. Por volta de 1806, a Raiva foi introduzida na Argentina por cães de caça trazidos por oficiais ingleses. Em 1835, a Raiva invadiu o Chile, onde se tornou prevalente, inúmeras pessoas foram mordidas e morreram vitimadas pela doença, STEELE & FERNADEZ (1991). 4.2.3 A Raiva Chega ao Brasil No início do século XX (1906 a 1908), em Santa Catarina - Brasil, houve a primeira notificação de Raiva em herbívoros. O episódio foi denominado de Epizootia de Biguaçu e estudado por Parreiras Horta, médico do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Porem foi Carini, médico do Instituto Pasteur de São Paulo, quem identificou o agente causador da epizootia e levantou a hipótese da Raiva ser transmitida por morcegos hematófagos, PARREIRAS & FIGUEIREDO (1911); CARINI (1911); MARCOVISTZ et al (2005). Preocupado com as elevadas taxas de incidência da Raiva humana, em 1973, o governo brasileiro institucionalizou o Programa Nacional de Controle da Raiva – PNCR, como um dos programas prioritários da política nacional de saúde, mediante convênio firmado entre o Ministério da Saúde – MS (Central de Medicamentos; Centro Nacional de Epidemiologia – CENEPI; Fundação dos Serviços Especiais de Saúde Publica – FSESP; Secretarias de Saúde dos Estados – SSE, e suas respectivas Coordenações Estaduais do 69 Programa de Controle da Raiva5 ), e Ministério da Agricultura - MA, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Panamericana de Saúde (OPS), SCHNEIDER et al (1996). Com a implantação gradual do PNCR foi possível: elaborar as normas técnicas para o controle da Raiva; produção de imunobiológicos utilizados no PNCR e sua distribuição para as SES; viabilizar o diagnóstico laboratorial, ampliar a rede de laboratórios; instituir Centros de Controle de Zoonoses – CCZ em diversos Estados, os quais foram os primeiros da America Latina e se tornaram modelos internacionais; realizar capacitação técnica e organizar um sistema de vigilância epidemiológica, incluindo a profilaxia humana e a vacinação dos cães e gatos, tais atividades iniciaram nas zonas urbanas e áreas metropolitanas das capitais, contudo, posteriormente foram descentralizadas para as cidades do interior e zonas rurais, atendendo a totalidade dos Estados a partir de 1977, SCHNEIDER et al (1996). Mediante o crescente número de óbitos por Raiva humana na América Latina (1982 – 355 óbitos), os países membros, representados por suas autoridades da saúde, assumiram em 1983 durante a Reunião de Guaiaquil, o compromisso político de eliminar a Raiva urbana das grandes cidades das Américas , até o final da década de 1980, com o apoio e coordenação da OPS. Por não terem alcançado a meta prevista, outras reuniões aconteceram, e nelas o cão foi reconhecido como o principal transmissor da doença, o que motivou a renovação do acordo para eliminar a Raiva humana transmitida por cães até o ano de 2005, apesar de novante não terem conseguido o objetivo, conseguiram a redução do número de casos para 35 em 2003, representando um decréscimo de 91%. Resultados positivos também foram obtidos no controle da Raiva canina, que no mesmo período (1982 a 2003) regrediu de 15.686 para 1.131 casos, proporcionando um arrefecimento de 93% dos casos. Estimulados com estes resultados e proximidade do controle ampliaram o pacto para 2012, OPAS (2005). O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a capacitar médicos para implantar o método preventivo de Pasteur contra a Raiva, para tanto, o Ministério dos Negócios do Império, a cargo do Exmo. Sr. Conselheiro Barão de Mamoré , enviou a Paris, equipe de médicos chefiada pelo Dr. Augusto Ferreira dos Santos, a qual permaneceu no Instituto Pasteur da França, o período de 14 de Junho de 1886 a 4 de Julho de 1887, com o objetivo de acompanhar os estudos e o tratamento profilático da Raiva praticados pelo Dr. Luis Pasteur, SANTOS (1888). 70 No ano de 1960 um triste episódio aconteceu no Brasil, quando ainda não existia o programa de controle da Raiva. O envio involuntário de amostras de vírus vivo para fabricação de vacinas do tipo Fermi, ocasionou encefalites rábica em 27,3 % das pessoas vacinadas, levando a morte 18 pessoas na cidade de Fortaleza-Ceará, Schneider & Santosburgoa (1994). Ressaltamos também, que no ano de 1997 o Brasil registrou o primeiro caso de Raiva humana transmitida por guaxinim (Procyon cancrivorus), o qual ocorreu no Estado do Ceará, precisamente na cidade de Maranguape, SESA (2004). Nas últimas três décadas o Brasil registrou 1451 óbitos por Raiva humana, nos quais, os principais transmissores foram os cães e os animais silvestres. Na primeira década (1980), ocorreram 877 óbitos, destes, 732 (84%) foram transmitidos por cães e 53 (6%) por animais silvestres; na segunda (1990), 411 óbitos, 298 (72,5%) por cães e 66 (16%) por animais silvestres; na terceira (2000), 163 óbitos, 77 (47,23%) por cães e 78 (47,85) por animais silvestres. Nesta avaliação observou-se uma redução de (53%) dos casos de Raiva na segunda década, e de 81,41% na terceira, assim como, a sobreposição da transmissão silvestre em relação à canina (urbana). Vale salientar, que nos últimos cinco anos da terceira década (2005 a 2009), dos 58 casos de Raiva humana registrados, 10 (17,24%) foram transmitidos por cães, e 47 (81%) por animais silvestres. Demonstrando uma tendência no controle da Raiva urbana e um grande e grave problema de saúde pública com o aumento da transmissão silvestre, ROLIM (2007). O estado do Ceará liderou os casos de Raiva humana no Brasil no intervalo de 1980 a 1985, sendo o cão responsável por 87% da transmissão dos mesmos. Assumindo novamente essa condição nos anos de 1989 e 2003, quando registrou, respectivamente, um quantitativo de oito e sete óbitos por Raiva humana, todos transmitidos por cães, o que evidencia a importância desses animais como transmissores da doença aos seres humanos, ROLIM (2007). Os primeiros relatos sobre a Raiva em soim (Callithrix jaccus) ocorreram no Estado do Ceará na década de 1970, cuja confirmação sobreveio com a notificação de dois casos nos municípios de Maranguape (1981), e Itapipoca (1984). Contudo, a escassez de registros da época, o diagnóstico laboratorial contemplando apenas quatro espécies (humana, canina, felina e bovina), consolidando as demais como outros, dificultou compreender melhor esta doença nestes primatas, ROLIM (2007). 71 No período de 1991 a 1998, o Estado do Ceará consolidou nove óbitos por Raiva humana transmitidos por soim (Callithrix jaccus jaccus), destes, três ocorreram no ano de 1998, época em que o Estado do Ceará isolou uma variante dos vírus da Raiva em soim: Três amostras, duas humanas e uma de soim, de casos de Raiva notificados e confirmados em laboratório (IFD e ICC) no ano de 1998, foram enviadas ao Instituto Pasteur de São Paulo, e em seguida, ao Centro de Controle de Doenças (CDC) de Atlanta, E. U. A, nas quais, após a realização de provas de anticorpos monoclonais, reação em cadeia da polimerase (PCR), e sequenciamento de aminoácidos, os resultados demonstraram que os vírus segregaram em um ramo independente na árvore filogenética, com elevado grau de homologia (98,7 a 100%), revelando uma variante dos vírus da Raiva, Favoretto et al (2001). Contudo, o aparecimento de casos de Raiva transmitida por primatas no Ceará, MORAIS et al (2000), representa uma alteração no perfil epidemiológico da doença no Brasil, materializando um novo episódio nos rumos da história da doença no país. Relatada nos primórdios (séc. XXIV a.C), na Mesopotâmia, a Raiva tornou-se rapidamente conhecida em todo mundo, por sua sintomatologia e o temor mediante conhecimento de sua invariável evolução para morte, no entanto, na atualidade, séc. XXI d.C, ou seja, após 45 séculos, exatamente no ano de 2004, o mundo conheceu o primeiro caso de cura da Raiva humana. A jovem, Jeanna Giese de 15 anos de idade foi infectada por morcego nos Estados Unidos da América, tornando-se a primeira paciente com comprovação laboratorial da Raiva a obter a cura, após ter sido submetida ao tratamento, baseado na administração de antivirais e indução de coma profundo, denominado de protocolo de Milwaukee, foi desenvolvido pelo médico Dr. Rodney Willoughby, de Atlanta (EUA). Na Figura 01, podemos vê-la em cadeira de rodas deixando o hospital, e na Figura 02, totalmente recuperada participando de sua graduação. 72 Figura2501: Jeanna Giese, deixando o hospital após o tratamento, 04/01/2005 Figura2602: Jeanna Giese em sua graduação, 05/07/2011 Fonte: www.theage.com.br (2011) O segundo caso de cura de Raiva humana ocorreu no ano 2008 no Brasil, na cidade de Recife, onde o estudante, Marciano Menezes da Silva, de 15 anos de idade, foi infectado por um morcego hematófago, mediante diagnóstico clínico e comprovação laboratorial da doença, foi submetido ao tratamento (Figura 03) pelo mesmo método de Milwaukee com algumas atualizações, o que resultou em sua cura (Figura 04). Todavia, o Ministério da Saúde reuniu especialistas no assunto e baseado no protocolo americano, elaborou o primeiro protocolo brasileiro para tratamento da Raiva humana, com o objetivo de orientar a conduta clínica para pacientes suspeitos ou doentes de Raiva, doravante denominado protocolo de Recife, SVS (2009). 03 04 Figura2703: Marciano em tratamento de Raiva Fonte: Fotos e Reprodução TV Globo Figura2804: Marciano curado de Raiva O Hospital São José (HSJ), situado em Fortaleza – Ceará - BR, é referência para o tratamento da Raiva no Estado do Ceará, e no ano de 2010 realizou sem êxito dois tratamentos: o primeiro no Sr. Expedito dos Santos, de 26 anos de idade, agredido por sua 73 cadela no dia 25/05/2010, em sua residência no Município de Chaval – CE, contudo, apresentou sintomas compatíveis com a Raiva no dia 27/08/2010, mas só procurou a unidade de saúde no dia 31/08/2010, quando foi transferido para o HSJ, a onde, foi submetido ao tratamento com base no protocolo de Recife, vindo a falecer no dia 18/09/2010. O segundo tratamento foi realizado em António Silas da Silva Lima, de 11 anos de idade, agredido no rosto por um soim no dia 15/09/2010, desenvolveu sintomas e procurou atendimento no Hospital Municipal de Ipu - CE no dia 16/11/2010, onde permaneceu internado até o dia 20/11/2010, data em que foi transferido para Santa Casa, em Sobral-CE, e no dia 22/11/2010 para o HSJ, quando foi iniciado o tratamento para Raiva utilizando o protocolo de Recife, evoluindo para óbito no dia 27/11/2010. A falha ou falta de atendimento e diagnósticos precoces comprometem o tratamento. Em pleno século XXI, com os avanços em diversos setores da ciência, tais como a biologia molecular e a engenharia genética, a Raiva permanece como um grande desafio no campo científico e da saúde pública, por continuar manifestando o maior índice de letalidade entre as enfermidades infecciosas já descritas, bem como, drenar um alto volume de investimentos nas ações de controle e de assistência preventiva às pessoas expostas ao risco de adoecer e morrer, NORMA TÉCNICA- MS (2002). CONSIDERAÇÕES FINAIS A doença seja de caráter real ou imaginário, sobretudo a doença transmissível, é reconhecida como um antigo associado da espécie humana, fato esse evidenciado por pesquisas paleontológicas. Portanto, não é de admirar que desde muito cedo a humanidade tenha se empenhado em enfrentar essa ameaça das mais diversas formas, baseadas em diferentes conceitos do que vem a ser a doença (e a saúde), SCHNEIDER et al (1996). A história da Raiva se mescla com a própria história da ciência e do acúmulo de conhecimentos que, através do espaço e do tempo, inventam-se, transmitem-se, aplicam-se, modificam-se e também se refletem sobre si próprios, por meio do pensamento crítico e filosófico e pela interpenetração com outras instâncias culturais. Assim, o resgate de aspectos históricos da ciência, materializado nesse contexto pela revisão cronológica da Raiva, ensina não apenas que os conhecimentos se movem e se modificam sem cessar, mas que eles não são 74 uniformes e de natureza semelhante uns em relação aos outros, quando são consideradas tanto a variedade das disciplinas quanto a heterogeneidade dos sistemas de saberes nas diferentes civilizações e nas diversas épocas, PATY (2005). De acordo com o conhecimento proporcionado por esta revisão de literatura, conclui-se que nas últimas décadas, expressivos avanços no âmbito da pesquisa com o vírus da Raiva têm sido alcançados, especialmente no campo da biologia molecular e da imunologia. Contudo, apesar de se conhecer, há séculos, o comportamento desse vírus e a despeito do acúmulo de informações em torno do tema, ainda resta um longo percurso até se alcançar a cura ou a erradicação da doença. REFERÊNCIAS 1. ALLEN, P. Pasteur’s life and pioneering work. The Lancet Infectious Diseases. 2002. 93p. 2. BAER, G. M. The natural history of rabies. 2nded. Boca Raton: Press, CRC, 1991. p. 214. 3. BORDENAVE, L. Review: on the shoulders of giants, Louis Pasteur (1822-1895). Microbes and Infection, v 5, p. 60-553, 2003. 4. CARINI, A. Sur une grande epizootia de rage, Rio de Janeiro, RJ, Annales. De I’Institut Pasteur, 1911. v.11. p. 843. 5. CECZ – Comissão Estadual de Controle de Zoonoses. Zoonoses no Ceará um desafio a vencer. Ed. Gráfica Encaixe LTDA, p. 1: 37, 1991. 6. FAVORETTO, S. R,; MATTOS, C. C,; MORAIS, N. B,; ARAÚJO, F. A. A,; MATTOS, C. A. Rabies in Marmosets (Callithrix jacchus), Ceará, Brazil. Emerging Infectious Diseases. v 7. p. 62-65, 2001. 7. FAVORETTO, S. R,; MATTOS, C. C,; MORAIS, N. B,; CARRIERI, M. L,; ROLIM, B. N,; SILVA, L. M,; RUPPRECHT, C. E,; DURIGON, E. L,; MATTOS, C. A de. Rabies virus maintained by dogs in humans and terrestrial wildlife, Ceará State, Brazil. Emerging Infectious Diseases. ed 12 a. p. 76-81, 2006. 75 8. FIELDS, B. N. Virology. Philadelphia: Ed. Lippincott Williams e Wilkins, 4th ed. 2001. 9. GERMANO, P. M. L. Advances in rabies research. Revista de Saúde Pública. ed. 28 a. p. 86-91. 1994. 10. GOLDWASSER, R. A,; KISSLING, R. E. Fluorescent antibody staining of street and fixed rabies virus antigens. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine. ed. 98. p. 219-223, 1958. 11. KOPROWSKI, H. The mouse inoculation test. In: MESLIN, F. X,; KAPLAN, M. M,; KOPROWSKI, H. Laboratory techniques in rabies: Geneva, World Health Organization, 1996. ed.4. p. 80-86. 12. LIGON, B. L. Louis Pasteur: a controversial figure in a debate on scientific ethics. Seminars in Pediatric Infectious Diseases. ed.13. p. 134-141, 2002. 13. MARCOVISTZ, R,; ROMIJN, P. C,; ZANETTI, C. R. Raiva. In: COURA, J. R.. Dinâmica das doenças infecciosas e parasitárias: Guanabara Koogan, 2005. 14. MESLIN, F. X,; KAPLAN, M. M.. An overview of laboratory techniques in the diagnosis and prevention of rabies and rabies research. In: MESLIN, F. X,; KAPLAN, M. M,; KOPROWSKI, H. Laboratory techniques in rabies: Geneva, World Health Organization, 1996. ed 4. p. 9-16.. 15. MORAIS, N. B,; ROLIM, B. N,; CHAVES, H. H. M,; BRITO, N. J,; SILVA, L. M. Rabies in tamarins (Callithrix jacchus) in the State of Ceará, Brazil, a distinct viral variant? Memórias do Instituto Osvaldo Cruz. ed 95. p. 609-610, 2000. 16. NORMA TÉCNICA DE TRATAMENTO PROFILÁTICO ANTI – RÁBICO HUMANO. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. 116p. 17. OPAS, ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Eliminación de la rabia humana transmitida por perros en América Latina: Análisis de la situación, Washington, 2005. 18. PARREIRAS, H,; FIGUEIREDO, P. A. Epizootia de Biguaçú (nota preliminar). Brasil Médico, ano XXV, ed 5. p. 71-74, 1911. 76 19. PATY, M. Inteligibilidade racional e historicidade. Estudos Avançados. ed 19. p. 36990, 2005. 20. ROLIM, B. N. Medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva. 2007. 93p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ciências Veterinárias) - Programa de Pós-graduação em Ciências veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Estadual do Ceará – UECE. 21. RUPPRECHT, C. E,; HANLON, C. A,; HEMACHUDHA, T. Rabies re-examined. The Lancet Infectious Diseases, ed 2. p. 327-43, 2002. 22. SANTOS, A. F dos. Do tratamento preventivo da Raiva pelo méthodo Pasteur. In: Relatório apresentado ao S. Ex. o Sr. Conselheiro Ministro do Império. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. p. 392, 1888. 23. SCHNEIDER, M. C,; SANTOS-BURGOA, C. Tratamiento contra la rabia humana: um poco de su historia. Revista de Saúde Pública, ed 28, p. 454-63, 1994. 24. SCHNEIDER, M. C,; ALMEIDA, G. A,; SOUZA, L. M,; MORAIS, N. B. Controle da Raiva no Brasil de 1980 a 1990. Revista de Saúde Pública, ed 30, p. 196-203, 1996. 25. SCLIAR, M. Do mágico ao social: trajetória da saúde pública. SENAC, São Paulo: 2002. 26. SCLIAR, M. História do Conceito de Saúde. Revista de Saúde Coletiva, ed 17, p. 2941, 2007. 27. SESA – CE. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará: Coordenação do Programa Estadual de Controle da Raiva, 2004. 84p. (Informe Técnico, 01). 28. STEELE, J. H;. FERNADEZ, P. J. History of rabies and global aspects. In: BAER, G. M. The natural history of rabies. Boca Raton, 2a Ed, CRC Press, 1991. 29. SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde. In: Consolidado da Raiva no período de 1986 a 2006. Coordenação do programa nacional de controle da Raiva, Esplanada dos Ministérios, Brasília, Brasil. 2006. 30. SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde. In: I Protocolo para Tratamento de Raiva Humana no Brasil. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde do Sistema Único de Saúde do Brasil, v.18 – N04 – outubro/dezembro, 2009. 77 31. TAKAOKA, N. Y. Raiva – Controle e profilaxia humana. Instituto Pasteur, São Paulo, 2003. 32. TORDO, N. Characteristics and molecular biology of rabies virus. In: MESLIN, F, X,; KAPLAN, M..M..; KOPROWSKI, H. Laboratory techniques in rabies. World Health Organization, Geneva, 1996. 4th ed. 33. WILKINSON, L. History. In: JACKSON, A. C.; WUNNER, W. Rabies: San Diego, Academic PLress, 2002. 78 CAPÍTULO II _____________________________________________ TÍTULO DO ARTIGO Medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva Cervical medulla as material for laboratorial diagnosis of the rabies Benedito Neilson Rolim1, Edmara Chaves Costa1, Nélio Batista de Morais2, Katariny M. A. Pinheiro2, José Cleonardo da Costa Filho2, Phyllis Catharina Romijn3, Maria Fátima da Silva Teixeira1. Endereço dos autores e local de origem 1* Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária, Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias, Laboratório de Virologia, Av. Paranjana, 1700 Campus do Itaperi, CEP 60740-903, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: [email protected]. 2* Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, Av. Almirante Barroso, 600 – Praia de Iracema, 60.000 – 400. Fortaleza, CE, Brasil. 3* Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - PESAGRO-RIO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil ROLIM, Benedito Neilson et al. Cervical medulla as laboratory diagnosis material for Rabies. Rev. Inst. Adolfo Lutz (Impr.), São Paulo, v.68, n. 1, abr. 2009. Disponível em <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo>.Acessos a partir de 02 jun. 2011. 79 Cervical medulla as laboratory diagnosis material for Rabies Medula cervical como material para diagnóstico laboratorial da Raiva Benedito Neilson ROLIM1, Maria Fátima da Silva TEIXEIRA*1, Edmara Chaves COSTA1, Nélio Batista de MORAIS2, Katariny Michelli de Araújo PINHEIRO2, Tania Valeska Medeiros DANTAS1, Suzana Aparecida Costa de ARAUJO1, Valeska Shelda Pessoa de MELO2, Aryana Lushese Vasconcelos de Lima FEITOSA2, Phyllis Catharina ROMIJN3 * Endereço para correspondência: Virology Laboratory of the Post-Graduate Program in Veterinary Science at the State University Ceará Av. Paranjana, 1700 Itapery Fortaleza,CE, Brasil. CEP 60740-903, email: [email protected] 1 Virology Laboratory of the Post-Graduate Program in Veterinary Science at the State University Ceara;CE,Brasil 2 Ceara Secretariat of Health, CE, Brazil 3 Pesagro-Rio de Janeiro and Rio de Janeiro Ceará Secretariat of Health,RJ, Brasil Recebido: 30/07/2008 – Aceito para publicação: 30/04/2009 ABSTRACT: Rabies is a contagious, neurotropic zoonosis associated with abandoned street dogs and low immunity. The disease has a reduced laboratory diagnosis rate because it is diffi cult to gather and transport sample material (brain). Based on this challenge, we studied the cervical medulla (CNS) as the pathway of the Rabies virus from the body to the brain. The cervical medulla was an ideal candidate for our study because its anatomy and location make it an easy material to gather. Our objective was to analyse the use of cervical medulla in the laboratory diagnosis of Rabies. Rabies viruses were intramuscularly inoculated into fi ve Rattus species. After death, the brain and cervical medulla of each animal were intra-cerebrally macerated and inoculated. Five Rattus species were used in the study (a total of twenty-fi ve brains). Twenty-fi ve of the medullas were 100% positive for Rabies using the direct immunofl uorescence (DIF) test and intracerebral inoculation. Overall, there was agreement between the analyses of the brains and the cervical medullas. Therefore, we propose the use of cervical medulla as a material for the laboratory diagnosis of Rabies. 80 Key words. Rabies, Diagnosis, Laboratory, Cervical Medulla. RESUMO: A Raiva é uma zoonose neurotrópica infecto-contagiosa, cuja persistência está associada aos cães abandonados nas ruas com baixa imunidade, reduzida procura pelo diagnóstico laboratorial devido a difícil coleta e transporte do material (cérebro). Portanto, justifica-se o estudo da medula cervical (SNC), por ser via obrigatória dos vírus rábicos para o cérebro e deste para todo corpo, cuja anatomia e localização, facilitam a coleta. Assim, objetivou-se testar sua eficácia como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva. Para tanto, inoculou-se vírus da Raiva intramuscular em cinco Rattus. Após o óbito, o cérebro e a medula cervical de cada animal foram macerados e inoculados intracerebral em cinco Rattus (repetições). Os 25 cérebros e 25 medulas foram 100% positivo para Raiva, pelas provas de imunofl uorescência e inoculação intracerebral. Apesar da concordância entre o cérebro e a medula cervical, este estudo propõe a utilização da medula cervical como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva. Palavras-chave. Raiva, Diagnóstico, Medula Cervical. Rabies is a contagious zoonosis caused by a neurotropic virus that acts on the Central Nervous System (CNS). The virus produces an acute and deadly encephalomyelitis because its replication leads to nervous system cell destruction1. The virus often causes behavioural and motor alterations, including restlessness, rage, aggressiveness and hind limb paralysis2. Rabies infection in humans is associated with domestic animals of low immunity, an overpopulation of abandoned cats and dogs, and a failure or lack of epidemiological monitoring. According to OPS3, 0.1% of annual samples from the canine population should undergo Rabies laboratory diagnosis. Despite these recommendations, there are challenges related to the gathering, preservation, and transport of these samples (brain, head, or whole animal). According to the literature, the encephalus is the sample of choice for postmortem diagnosis of Rabies in animals, but the diagnostic procedure must be completed quickly. The sample should be preserved on ice and transported to the laboratory4 in a rapid fashion. Animals suspected of having Rabies often arrive whole, or with their head inside an appropriate container. These methods lead to an increased infection risk to 81 personnel during transportation to the laboratory. In the state of Ceara, samples for Rabies examination are received 24 hours a day, including weekends and holidays. After long holidays, the freezer used to store the samples (whole animals or heads) often gets full. Frequently, the cover to the freezer is left half-open. Consequently, the samples are inappropriately conserved, leading to the loss of samples and serious consequences for the victims. A study of the cervical medulla is justifiable because it is a part of the CNS. It is an obligatory pathway of the Rabies virus to the brain (where the virus multiplies). Once the virus is in the brain, it disseminates to the rest of the body. This study aims to test the efficiency of the cervical medulla as a sample for Rabies diagnosis. The anatomy and location of the cervical medulla make it easy to gather, store, and transport. The use of the cervical medulla may reduce the risk of infection due to mishandling of materials. This reduction may lead to a decrease in human prophylactic treatments. A decrease in prophylactic vaccination would strongly contribute to epidemiological monitoring and disease control. The objective of this study was to test the effectiveness of the cervical medulla as an alternative material for the laboratory diagnosis of Rabies. METHODS AND MATERIAL The experiment was carried out at the Virology Laboratory of the Post-Graduate Program in Veterinary Science at the State University Ceará and at the Laboratory of Medical Entomology of the state of Ceará Secretariat of Health. Work was also completed at the Rabies Diagnostic Laboratory in the Zoonosis Control Center at CratoCCZC. Viruses used in the experiment A sample of dog brain that was positive for Rabies was kindly donated by the Rabies Diagnostic Laboratory in the Zoonosis Control Center at Crato-CCZC. To create samples with easily identifiable anatomy and increased reliability, the virus from this sample was replicated. To accomplish this, 5 g of the sample was macerated in 95 mL of sodium chloride solution (NaCl 0.9%) and fi ltered through gauze. After this filtration, 0.3 mL was inoculated by intra-cerebral (IC) into three organisms of Rattus 82 norvegicus wistar. The first animal to die was confirmed to have Rabies. Laboratory corroboration was completed throughout the experiment. Animals used in the experiment To perform this experiment, 65 Rattus norvegicus winstar from the Central Animal House – BIOCEM of the Federal University of Ceará-UFC were used. All of the protocols used were in accordance with the ethics committee for the use of animalsUECE, number 07175988-5. Thirty-day-old rats of both genders with live weights between 85 g and 100 g were used. The rats were assigned randomly into two groups and eleven subgroups (each subgroup contained five animals). The rats remained confined in 13 cages appropriate for R. norvegicus during the entire experiment. Experimental Design The experiment was conducted in three stages: 1st Stage (two groups with fi ve animals each) Group I: served as the control group. Five R. norvegicus were inoculated with 0.5 mL of a sodium chloride physiological solution (NaCl 0.9%) by an intramuscular route (IM). This administration corresponded to the same dose and solution as the diluent in the experiment. Group II: served as the challenge group and was infected by the Rabies virus. The first rat brain that evolved to obit was macerated in 95 mL of sodium chloride physiological solution (NaCl 0.9%) and filtered through gauze. This treatment resulted in a suspension containing first passage Rabies virus. A half millilitre of the solution was inoculated intramuscularly into the inner surface of the thigh of each of the five R. norvegicus in Group II. According to Germano5, an observation time of 30 days was set. After death, the cervical medulla and the brain of each rodent were gathered separately using clean utensils. The laboratory diagnoses were 100% positive by direct immunofl uorescence (IFD) and biological proofs (IC). 2nd Stage Every R. norvegicus in experimental group II tested positive for Rabies. Throughout the experiment, the samples were stored in individual containers. The brain and medullar samples were macerated separately in 10ml sodium chloride physiological solution (NaCl 0.9%) and filtered through gauze. This process resulted in five brain filtrates and five medullar filtrates. Five R. norvegicus were inoculated with 0.3 mL of brain filtrate by intracerebral administration (IC). The five subgroups (C1; C2; C3; C4; C5) were repeated five times. A total of 25 rodents were challenged with the Rabies virus derived from the brain. Similarly, the medullar filtrates were inoculated by the IC route in five 83 R. norvegicus. These five subgroups (M1;M2; M3; M4; M5) underwent five replications, leading to a total of 25 rodents challenged with Rabies virus from the medullar source. The control subgroup was inoculated by the IC route with 0.3 mL sodium chloride physiological solution (NaCl 0.9%). This dose correlated with the solution used as diluent in the other experimental groups. Overall, there were a total of eleven subgroups. 3rd Stage The clinical term and the infection onset were monitored in the R. norvegicus. The clinical characteristics of the animals that received brain and medullar inoculate were compared to the sham group. RESULTS Rattus norvegicus belonging to Group I and the control subgroups did not go to obit. Every Rattus norvegicus winstar belonging to experimental Group II evolved to obit. These rats had a mean incubation time of 15.2 days and a clinical term of 4.2 days. The rats had clinical findings compatible with Rabies, including isolation from the group, loss of appetite, acute weight loss, bristled hair, agitation, lack of coordination, paralysis, death, and aggressive rage. These findings demonstrate the pathogenic power of the inoculated suspension. The laboratory results of the brain and cervical medulla from Rattus belonging to experimental Group II were 100% positive for Rabies. This finding demonstrates the presence of the virus in the cervical medulla and brain. There was perfect conformity of the techniques of direct immunofluorescence (DIF) and intracerebral inoculation (IC) (Table 1). 84 Laboratory diagnoses of 25 brain samples and 25 cervical medulla samples (repetition subgroups) were 100% positive for Rabies using DIF. These results corroborated the presence of the Rabies virus inside both regions of the Central Nervous System (Table 2). The mean incubation terms in the subgroups inoculated with brain and medulla filtrates were 6.36 and 6.2 days, respectively. The mean clinical terms of the subgroups inoculated with medullar filtrates were 2.88 and 2.8 days, respectively. DISCUSSION Comparison of the results of the brain and medullar samples in this experiment demonstrated agreement between these two areas of the nervous system. These results are in agreement with those reported by Ito4, who detected 100% Rabies antigen in the brain and spinal medulla of naturally infected dogs using direct immunofluorescence (DIF) and intra-inoculation (IC). This group utilised intramuscular inoculation (IM) at the masseter with a Rabies virus suspension. In this experiment, Rabies virus was detected in the brain and medullar tissue of every Rattus norvegicus winstar inoculated with Rabies virus by the intramuscular route. This finding was in agreement with the results of Germano5, who analysed viral dissemination through different organs (brain, medulla, tongue, heart, lungs, kidneys and liver). Germano used three groups of mice infected by the intramuscular route with three different Rabies strains. Jales and Nigéria used two 85 canines and one desmodine (DR19). Both groups detected Rabies antigen inside the brain and medulla of every animal, regardless of the inoculated strain. This consistency did not occur with the rest of the researched organs. These results disagree with those found by Silva et al.6, who reported hydrophobic dogs with the virus in their salivary glands and absent in their encephalus. However, Heuschele7 stated that the neurotropism of the Rabies virus was not controversial. The studies of Fishbein, Robinson8 and Tsiang9 demonstrated that the Rabies virus reaches the spinal medulla via a centripetal mechanism after reaching the peripheral nerves. Using this mechanism, it invariably reaches the brain and replicates with great intensity. In the first stage of this study, a natural infection (infected animal bite) was simulated in Rattus norvegicus winstar. Brain filtrate containing Rabies virus was inoculated intramuscularly, leading to the death of all animals. These results are in agreement with Tsiang9. After inoculation with an animal bite, the Rabies virus reaches sensory and/or motor nerve endings, or remains for an unidentified time in the affected muscle cells. At these locations, the process of viral amplification occurs, leading to propitious nerve infection. According to Germano et al.5, the material of choice for the laboratory diagnosis of Rabies is the Central Nervous System (hippocampus, cerebral trunk, thalamus, cortex, cerebellum and medulla oblongata). Table 2. Consolidated diagnostic and clinical monitoring results from five repetitions of each subgroup 86 This rule does not apply to equidae species (horse, ass, and donkey), except in cases where the material gathered in these animals is the medulla. In this paper, we conclude that Rabies viruses are present in the cervical medulla of animals killed by Rabies. In this study, agreement was found between the tests on the brain and the cervical medulla. The sensitivities of immunofluorescence and intracerebral inoculation were similar to those reported by Smith10. Smith showed that the brain and cervical marrow are the best areas for the laboratory diagnosis of Rabies. These areas have sensitivities that are greater than the hippocampal, cortical and cerebellar areas. Charlton11, cited by Carrieri12, observed that human paralytic Rabies is characterised by the destruction of nerve cells, microglial proliferation, and perivascular infiltration. These findings are mainly observed in the brain and cervical marrow. In classic Rabies (furious), the inflammatory reaction, vascular modifications, and inclusion bodies are more diffuse in the thalamus, hippothalamus, cerebellum and cervical medulla. Perl and Good13 confirmed that paralytic Rabies lesions are always found in the cervical medulla and brain. The results of these studies showed the inevitable presence of large amounts of viral antigen in the brain and cervical medulla. Therefore, these two CNS regions should be targeted for laboratory diagnosis. In this experiment, Rabies antigens were present in all medullar samples of animals that died. This finding is in agreement with those of Lee and Becker14, Ito7, Germano et al.5, Binghan and Van der Merwe15, and Rolim et al. 16. Due to its location and anatomy, several features of the medulla make it an ideal sample. The medulla can be gathered without contamination, is easy to contain, is easy to transport and store, has a reduced infection risk during manipulation, and has greater resistance to decomposition. Overall, these qualities paired with credible and incontestable results make the routine use of this organ feasible in the laboratory diagnosis of Rabies. 87 CONCLUSION The cervical medulla is the region of the CNS that is most suitable for the laboratory diagnosis of Rabies using direct immunofluorescence (IFD) and intracerebral inoculation (CI). Rabies viruses, regardless of the inoculation site, are present in the cervical medulla and brain of animals killed by Rabies. AGRADECIMENTOS The authors thank the Graduate Program in Veterinary Sciences at the State University of Ceará (Veterinary Sciences Pos-Graduation Program of the Ceara State University), the Central Biotery of the Universidade Federal do Ceará (Federal University of Ceará), the Medical Entomology Laboratory of the Ceará State Secretariat for Health, and the Ceará Foundation for Support for Scientific and Technlogical Development. The authors would also like to thank the teachers, employees, friends, family and others that directly or indirectly contributed to this study. 88 REFERENCES 1. Tordo N, CharIton, K, Wandeler, AI. Rhabdoviruses: Rabies. Microbiol and microbial infect 1998; 01: 665 - 92. 2. Pena, GO. Doenças infecciosas e parasitárias: Ministério da saúde, Fundação Nacional de Saúde. Brasília - Brasil, 1998. 3. Organización Panamericana de La Salud-OPS. Eliminación de Ia rabia humana transmitida por perros en América Latina: Análisis de Ia situación, Washington, D.C: OPS, 2005. 4. Ito, FH, Vasconcellos, SA, Erbolato, EB, Macruz, R, Cortez, JA. Rabies virus in different segments of brain and apinal cord of naturally and experimentally infected dogs. Int 1 Zoon 1985; 12:98-104. 5. Germano, PI, Silva, EV, Miguel, O, Ishizuka, MM. Avaliação de três cepas de vírus rábico. antigenicamente distintas, em camundongos. II - Estudo da disseminação viral por diferentes órgãos. Rev Saúde Publ 1998; 22: 1-11. 6. Silva, RA, Silva, NM. Infecção rábica em cão com presença de vírus virulento nas glândulas salivares e a virulência no encéfalo. Res Vet 1973; 8:89-90. 7. Heuschele, WP. Rabies and ather viral diseases. Vet Clin North Am: Food Anim Pract 1987; 3: 45-59. 8. Fishbein, DB, Robinson, LE. Current concepts: Rabies. The New England J. Medicine 1993; 329:1632 -8. 9. Tsiang, H. Rabies virus infection of myotubes and neurons as elements of the neuromuscular junction. Rev Infect Dis 1998; 10:733-8. 10. Smith, JS. New aspects of rabies with emphasis on epidemiology, diagnosis and prevention of disease in the United States. Clin Microbiol Vet 1996; 9: 166-76. 11. Charlton, KM. The pathogenesis of rabies. In: Campbell, M.; Charlton, K.M. (eds). Rabies. Boston: Kluwer Academic Publishers, 1988. 12. Carrieri, ML., Peixoto, ZMP, Paciencia, MLB, Kotait, I., Germano, PML. Laboratory diagnosis of equine rabies and its implications for human postexposure prophylaxis. J Virol Methods, 2006. 89 13. PerI, D.P, Good, PF. The pathology of rabies in the central nervous system. The Natural History of Rabies, Boca Ratón 1991; 2: 164- 88. 14. Lee, TK, Becker, ME. Validity of spinal cord examination as a substitutive procedure for routine rabies diagnosis. Appl Microbiol 1972; 24: 714-6. 15. Bingham, J, Van der Merwe, M. Distribution of rabies antigen in infected brain material: determining the reliability of different regions of the brain for the rabies Fluorescent antibody test. J Virol Methods 2002; 101: 85 - 94. 16. Rolim, BN, Teixeira, MFS, Rolim, JBS. Avaliação dos casos de Raiva humana transmitida por cães: na América Latina, no Brasil, no Ceará e em Fortaleza, 1990 a 2003. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza - Brasil, 2006. 90 CAPÍTULO III _____________________________________________ TÍTULO DO ARTIGO Raiva: Técnica de coleta de medula cervical e implantação no Estado do Ceará. Rabies: Technique for collection of cervical medulla and implantation of the methodology in the state of Ceara. Periódico: Revista do Instituto Adolfo Lutz (Enviado) Benedito Neilson Rolim1, Edmara Chaves Costa1, Tereza D’Ávila de Freitas Aguiar1, Nélio Batista de Morais1, Maria Fátima da Silva Teixeira1. 1* Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária, Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias, Laboratório de Virologia, Av. Paranjana, 1700 Campus do Itaperi, CEP: 60740-903, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: [email protected]. Present address: Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, Av. Paranjana, 1700 - Campus do Itaperi CEP 60740-000 - Fortaleza, Ceará, Brasil. Tel.: +55 85 31019849; fax: +55 85 31019840. *Corresponding author. E-mail address: [email protected] (M.F.S. TEIXEIRA) 1 Institution where the work was performed: Laboratory of Virology, University of Ceara State, Brazil. 91 RESUMO A Raiva é causada por vírus neurotrópicos que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo uma encefalomielite aguda e fatal. Por falhas na adoção das medidas de prevenção e controle, dificuldades e riscos nas coletas e envio das amostras para o laboratorial, a doença apresenta elevada incidência. Com a finalidade de reduzir tais problemas, desenvolveu-se a Técnica de Coleta de Medula Cervical - TCMC, que de forma prática, fácil, e segura, permite a coleta da medula cervical e de outros segmentos do SNC, sem abrir a cabeça do animal. Face suas vantagens, foi demonstrada para Coordenação do Programa Estadual de Controle da Raiva da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), que decididamente aceitou e se responsabilizou por toda organização e custos, resultando em parceria com o objetivo de implantar a TCMC no Estado do Ceará, para tanto, foi realizado seis cursos com carga horária de 40 h/a, com a finalidade de capacitar os veterinários da SESA na TCMC. De forma teórica e prática demonstrou-se as principais técnicas de coleta de SNC, desta forma, capacitou-se 91 veterinários, os quais trabalham de forma descentralizada nos 184 municípios do Estado do Ceará-Brasil, aonde são responsáveis pelo controle das zoonoses, dentre estas a Raiva. Como forma de avaliar a aceitação das técnicas pelos profissionais, ao final dos cursos, solicitou-se aos veterinários para comentarem sobre as técnicas de coleta de SNC expostas e praticadas durante os cursos. Como resposta, todos elogiaram a TCMC, ressaltando suas vantagens e praticidade, doravante seria a técnica por eles utilizada. Após a realização dos cursos, passou-se a monitorar a chegada das amostras no laboratório de diagnóstico da Raiva. Comparando os dois últimos anos (2009 e 2010), identificou-se um incremento de 103% no envio de amostras, e melhoria na qualidade de toda cadeia do diagnóstico. Palavras-chave: Raiva, Coleta, Medula 92 ABSTRACT Rabies is caused by neurotropic viruses that act in the central nervous system (CNS) producing a fatal acute encephalomyelitis. The disease has the highest incidence due to failing to adopt measures to prevent and control risks and difficulties in collecting and sending samples to the laboratory. In order to reduce such problems, we have developed the Technique for Collecting Cervical Medulla - TCMC, which allows the collection of the cervical medulla and other parts of the CNS in a practical, easy, and secure way without opening the animal's head. Given its advantages, it has been demonstrated to the Coordination of the State Program for Rabies Control Department of Health of the State of Ceará (SESA), which accepted and took responsibility for the entire organization and costs, resulting in partnership with the goal of deploying the TCMC Ceará. For this reason, it was held six hours of courses with 40h, in order to train veterinarians SESA in the TCMC. The main collection techniques has been shown theoretically and practically, thus making this technic available to 91 veterinarians, who work in a decentralized way in 184 municipalities of the State of Ceara, Brazil, where they are responsible for the control of zoonosis, including rabies. In order to evaluate the acceptance of technical professionals, at the end of the training veterinarians were asked to comment on the collecting techniques applied and CNS demonstrated during the courses. In response, everyone approved the TCMC, highlighting their advantages and convenience and that from that point it would be the technique they would use. After completion of the courses, we started to monitor the arrival of samples in the laboratory rabies of diagnosis. Comparing the last two years (2009 and 2010), we identified an increase of 103% in the shipment of samples, and improved quality of the entire chain of diagnosis. Key words: Rabies, Collects, Medulla. 93 INTRODUÇÃO As doenças de difícil controle, incluindo as imunopreveníveis, ocorrem em grande escala devido às baixas condições socioeconômicas e culturais da população. Dentre aquelas que despertam especial preocupação na saúde pública está a Raiva, cuja distribuição mundial vem ocorrendo ao longo dos séculos em várias espécies de animais domésticos e silvestres, devido à passagem dos vírus e a suscetibilidade dos hospedeiros, propriedades que possibilitam a dispersão da doença com conseqüente ameaça aos seres humanos, principalmente nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina (TORDO et al., 1998). A Raiva é uma zoonose infectocontagiosa causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central (SNC), produzindo uma encefalomielite aguda e fatal, decorrente da destruição das células do sistema nervoso, provocando freqüentemente alterações comportamentais e motoras, tais como: inquietação, fúria, agressividade, paralisia dos membros posteriores e da mandíbula (TORDO et al., 1998; PENA et al.; 1998). Os primeiros relatos sobre esta doença ocorreram na Mesopotâmia no século XXIV a.C. (SILVA, 2000), contudo, até o ano de 1882, eram conhecidos apenas os sinais da doença e a via de transmissão do agente pela saliva de animais raivosos, fatos que lhe credenciaram como uma das enfermidades mais antigas e de maior letalidade entre todas as patologias infecciosas já descritas. Tornando-se amplamente conhecida em todo mundo, pelo sofrimento causado as pessoas acometidas e pelo pavor gerado mediante o conhecimento de sua invariável evolução para a morte (ROLIM, et al 2007). O desenvolvimento dos conhecimentos em torno da etiologia e prevenção da Raiva, propiciaram ao longo dos anos importantes avanços científicos, tanto no diagnóstico quanto nas medidas de prevenção e controle da doença, contudo, por falhas na adoção dessas medidas, a transmissão por cães ainda apresenta elevada incidência na América Latina, o que motivou a Organização Panamericana de Saúde – OPS, a coordenar o compromisso político de eliminar a Raiva humana transmitida por cães a partir de 1983 até o ano de 2012 (OPS, 2005, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). 94 Vale salientar que, a persistência da Raiva está sempre associada à baixa imunidade dos animais, a ausência de diagnóstico laboratorial dos casos suspeitos e à falha ou falta de um sistema de vigilância epidemiológica, que segundo a (OPS, 2005), para ser excelente, deveria enviar anualmente 0,1% de amostras do SNC da população canina para o diagnóstico laboratorial da Raiva. Os primeiros entraves para o cumprimento dessa normativa estão relacionados com a coleta (cérebro, cabeça, animal inteiro), acondicionamento e transporte de amostras para o laboratório (ROLIM et al, 2007). O Ministério da Saúde, em seu manual de diagnóstico laboratorial da Raiva (Brasil, 2008), recomenda e descreve a técnica de colheita da amostra, a qual tem sido classificada pelos profissionais da área, como sendo de difícil execução a campo por demandar o uso de ferramentas, a exemplo de (torno, arco de serra, serra, cinzel, malho e outras também adaptadas), além de propiciar elevados riscos de contaminação. Com o objetivo de reduzir tais dificuldades e riscos, assim como, facilitar o diagnóstico e incrementar a remessa de material (SNC) para o laboratório de diagnóstico da Raiva, desenvolveu-se a Técnica de Coleta de Medula Cervical, a qual, proporciona a coleta da medula cervical, como também, dos demais segmentos do SNC (tronco cerebral, ponte, bulbo, cerebelo, tálamo, hipotálamo, cérebro) indicados para o diagnóstico laboratorial da Raiva. MATERIAL E MÉTODOS Local De Realização Da Pesquisa A Técnica de Coleta da Medula Cervical (TCMC) foi idealizada por técnicos do Laboratório de Virologia do Programa de Pós- Graduação em Ciências Veterinárias - PPGCV e desenvolvida no Laboratório de Anatomia Animal, ambos, da Faculdade de Veterinária - FAVET da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Para tanto, utilizou-se, como modelo experimental, cadáveres de cães, previamente diagnosticados positivos para leishmaniose visceral e como norma foram eutanasiados no Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza, para o estudo. 95 Descrição da Técnica As principais técnicas de coleta de SNC (encéfalo e medula espinhal) descritas na literatura foram desenvolvidas por, LOUIS PASTEUR (1882), SANTOS (1888); LEE E BECKER (1972); ITO (1983); HANLON (2004); ROLIM (2007); MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008), após detalhada revisão da literatura, idealizou-se, essa nova técnica proposta para a coleta da medula cervical. Inicialmente o cadáver do animal deve ser posicionado em decúbito dorsal, sobre uma superfície limpa que facilite a manipulação, na região ventral cranial do pescoço, colocar um apoio, no intuito de direcionar a cabeça para baixo e permitir que o pescoço mantenha-se distendido, facilitando o procedimento. Utilizando uma faca de esfola afiada, com tamanho ideal de oito a dez polegadas, realizar incisão transversal na região da nuca, permitindo acesso a musculatura do pescoço (Figura 01). Utilizando pinças de dissecação “dente de rato” de tamanho médio, tesouras de ponta reta e curva, bisturi de tamanho n04 e lâmina n0 24, aprofundar a incisão seccionando os músculos do pescoço (Esplênio, semi-espinhal cervical, obliquo caudal da cabeça, e multífidos) e ligamentos em direção a articulação atlantoccipital, que após ser desarticulada, torna visível a medula cervical (Figura 02). Esta deve ser seccionada na parte inferior, dentro do atlas, e na superior, dentro do forâmen do occipital. Com o auxílio de uma pinça, realizar a coleta da amostra, acondicionar no recipiente apropriado, armazenar em isopor com gelo para o transporte imediato ou conservar em freezer a -200C. Para coletar os demais segmentos do SNC, sem abrir a cabeça do animal, deve-se introduzir no encéfalo, através do forâmen do occipital, um coletor de SNC (Figura 03), espátula ou colher adaptada, de preferência entre a medula cervical e a meninge (dura-mater medular). Introduzir o coletor no sentido cranial, a uma profundidade média de 5cm, variando com o tamanho do crânio do animal, em seguida, girar o dispositivo 1800 para ambos os lados, voltar à posição inicial e recolher caudalmente, pressionando o instrumento levemente para cima. Retirar, então, o coletor, que deverá está cheio de SNC (tronco encefálico), Em seguida, encostar sua ponta no fundo do recipiente e, com o auxilio de uma pinça ou tesoura, empurrar o conteúdo para 96 dentro de um recipiente para acondicionar e, em condições adequadas (dentro de um isopor com gelo), identificada, enviar a amostra ao laboratório de diagnóstico da Raiva. Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura2901: Incisão para coleta da medula cervical Figura3002: Exposição da medula cervical após incisão Figura3103: Coleta de outros segmentos do SNC, utilizando o coletor. Fonte: ROLIM, 2010 Implantação da Técnica de Coleta da Medula Cervical A Secretaria da Saúde do Estado do Estado do Ceará - SESA descentraliza suas atividades através das suas 21 Coordenadorias Regionais de Saúde - CRES, as quais atendem os 184 municípios que integram o Estad., Com base nesse organograma administrativo, no período de 12/04 a 17/07 de 2010, realizaram-se seis cursos, com módulos teórico e prático, para a capacitação de todos os veterinários das CRES, segundo a TCMC desenvolvida. Vale salientar que a aplicação dos cursos seguiu uma ordem de prioridades preconizada com base nos indicadores epidemiológicos da Raiva. Os supracitados cursos constaram com a participação e patrocínio da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará - SESA, do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do Ceará - UECE e com os Centros de Controle de Zoonoses de Fortaleza (CCZ), e de Juazeiro do Norte (CCZJN). Dos seis cursos, cinco foram realizados na cidade de Fortaleza, capital do estado, por apresentar melhores condições para a realização. O quarto evento ocorreu na cidade de Juazeiro do Norte, sendo destinado aos veterinários das CRES desta região, por ser a mais distante regional de Fortaleza. 97 Todos os treinamentos tiveram uma carga horária de 40/horas aula (h/a), sendo 16h de aulas teóricas ministradas no auditório do Hotel Mareiro em Fortaleza e do hotel Verdes Vales em Juazeiro do Norte, e 24h de aulas práticas realizadas nas salas de necropsia dos Centros de Controle de Zoonoses de Fortaleza e de Juazeiro do Norte. No primeiro módulo, o teórico, mediante o emprego de recursos áudiosvisuais e programação abordando os aspectos históricos da Raiva, dos primeiros relatos à cura; enfatizando sua etiologia, epidemiologia, técnicas de diagnóstico, importância da coleta e integridade da amostra na fidelidade do diagnóstico laboratorial e, conseqüente, controle da doença. Como preparação para o seguimento do módulo prático, todos os participantes foram previamente vacinados contra a Raiva, e nestes, realizou-se a coleta de amostras de sangue para realização da titulação de anticorpos anti-rábicos. O segundo módulo do curso, referente à parte prática, foi realizado nas salas de necropsia dos Centros de Controle de Zoonoses de Fortaleza e Juazeiro do Norte, tendo como requisito obrigatório á utilização do EPI (luvas de procedimentos, máscara facial, óculos de proteção, jaleco ou avental, calça comprida e botas). Para praticar a TCMC, utilizou-se como modelo os cadáveres dos cães que foram sacrificados nos CCZ por estarem comprovadamente por exames laboratoriais, positivos para calazar. O veterinário instrutor, usando o material necessário, demonstrava de forma prática para os alunos, como coletar a medula cervical (Figura 04), e outros segmentos do SNC empregando a Técnica de Coleta de Medula Cervical (Figura 05). Em seguida, cada aluno recebia o material necessário para que, sob a supervisão dos instrutores, executassem a coleta das amostras de SNC de acordo com as duas técnicas descritas e executadas pelo instrutor (Figura 06). 98 Figura – 04; Figura – 05; Figura – 06. Figura3204: Demonstração prática da TCMC Figura3305: Visualização do forâmen do occipital, coleta do SNC Figura3406: Alunos praticando a TCMC. Fonte: ROLIM, 2010 Deve-se ressaltar também que foi demonstrada as técnicas preconizada pelo Ministério da Saúde e Centers for Disease Control and Prevention (CDC), para coleta de amostras do SNC, evidenciadas nas figura 07, 08 e 09, nestas, podemos observar a cabeça do animal presa em uma morsa (torno mecânico), sendo serrada, e em seguida, rebatida com malho e cinzel (martelo e talhadeira) até abrir a calota craniana (Figura 07), o que torna o cérebro exposto, permitindo a coleta. Essa é a técnica de coleta de SNC recomendada pelo MS/SVS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Figura3507: Técnica de coleta indicada pelo Ministério da Saúde Fonte: Ministério da Saúde, 2008 As figuras, 08 e 09, confirmam a técnica de coleta de medula cervical utilizada no CDC e demonstrada no Brasil por HANLON (2004), e por MANANGAN (2008), durante o curso de Raiva silvestre, promovido pela coordenação nacional do programa de controle da Raiva, MS/SVS, 2008. Através de incisão na região ventral do pescoço, seccionar a musculatura em direção a uma articulação cervical, que depois de 99 desarticulada torna visível e possível a coleta da medula cervical. Como demonstrado, tem a inconveniência de seccionar as duas jugulares e contaminar a medula com o sangue. Figura – 08 Figura – 09 Figura3608: Demonstração prática da TCMC adotada pelo CDC (incisão ventral); Figura3709: Medula cervical coletada com auxilio de uma pinça; Fonte: CDC - JAIME MANANGAN, 2008 Tabela 1: Curso para capacitação e implantação da TCMC Data Curso CRES Municípios Veterinários 12 a 16/04/2010 1a 1a , 3a , 5a 24 19 03 a 07/05/2010 2 a 2a , 4a , 6a 25 11 Nível central 12 12 10 a 14/05/2010 3a 7a,, 8a, 9a 20 11 24 a 28/05/2010 4 a 28 14 21 a 25/06/2010 5a 11 a, 12 a, 15 a, 16 a 47 12 05 a 09/07/2010 6a 10a, 13a, 14a, 17a,18a 39 12 21 184 91 Total a a 19 , 20 , 21 a Fonte: Grupo técnico do programa estadual de controle da Raiva. 100 No segundo curso, 03 a 07/05/2010, participaram também os veterinários do nível central da SESA e do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza – CCZF, vinculados ao Programa de Controle da Raiva - PCR. Durante os cursos foram capacitados 91 veterinários, os quais de forma descentralizada trabalham nos 184 municípios do Estado do Ceará – Brasil, a onde são responsáveis pelo controle das zoonoses, dentre estas a Raiva. Como forma de avaliar a aceitação das técnicas, ao final solicitou-se aos veterinários para comentarem sobre as técnicas de coleta de SNC praticadas no curso. Qual técnica doravante seria utilizada por eles ao retornarem ao seu trabalho. Como resposta, todos elogiaram a TCMC ressaltando suas vantagens e praticidade, doravante seria a técnica por eles utilizada. Após o curso passamos a monitorar a remessa das amostras remetidas para o laboratório de diagnóstico da Raiva. Para tanto, de forma aleatória escolheu-se um animal de cada ciclo (cão/urbano, raposa/silvestre, bovino/rural), assim, comparou-se a remessa dos dois últimos anos (2009 e 2010). Como resposta, identificou-se um incremento, com melhoria e qualidade em toda cadeia do diagnóstico, Tabela - 02. Tabela 2: Amostras enviadas ao laboratório para diagnóstico da Raiva, 2009 - 2010 Cão Raposa Bovino Ano Enviada Positiva Enviada Positiva Enviada Positiva 2009 500 5 27 7 12 2 2010 830 5 57 15 28 10 Inc/% 330 (66%) 30 (111%) 8 (114%) 16 (133%) 8 (400%) Fonte: UNILAN/ESTATÍSTICA SESA. Inc/% - Incremento e percentual. 101 RESULTADOS A Técnica de Coleta de Medula Cervical – TCMC foi idealizada e implantada nos serviços públicos de saúde do Estado do Ceará - Brasil. Na prática a TCMC permite, de forma fácil, prática, rápida e segura, a coleta da medula cervical e de outros segmentos do SNC sem abrir o crânio do animal. As amostras coletadas através da TCMC facilitam o acondicionamento, a remessa, o processamento e estocagem no laboratório de diagnóstico da Raiva. Capacitou-se 91 veterinários do serviço público de saúde do Estado do Ceará, em resposta, todos elogiaram e optaram pela utilização da TCMC. Registrou-se um incremento de 103% na quantidade de amostras recebidas, (cão 66%, raposa 111%, bovino 133%), uma melhoria na qualidade, beneficiando a cadeia de execução do diagnóstico. 102 DISCUSSÃO Os resultados científicos demonstrados por LUIS PASTEUR, 1885 citado por SANTOS, 1888; os estudos sobre medula realizados por, LEE & BECK, 1972; ITO, 1985; GERMANO, P. M. L et al,1998; JOHN BINGHAM e MARIA VAN DER MERWE, 2002; CATHLEEN A. HANLON (2004); assim como os encontrados no presente trabalho, concordam com a utilização da medula espinhal como material para o diagnóstico laboratorial da Raiva, cuja anatomia e localização nos animais, facilitam a técnica de coleta, o acondicionamento e a remessa ao laboratório, reduzindo os riscos de infecção por manipulação imprópria de materiais, até certo ponto desnecessários, os quais, na maioria são coletados no campo. Os resultados desse estudo comprovam que a TCMC proporciona melhores condições de execução, segurança e vantagens, sem ter que abrir a cabeça do animal, quando comparada com a técnica de coleta do SNC recomendada pelo Ministério da Saúde - MS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008), por ser complexa, de difícil realização, e ainda requerer, local apropriado e várias ferramentas para abrir a cabeça do animal (fixador de cabeça, morsa, arco de serra com lâmina, cinzel, pedra de afiar), impossibilitando sua efetivação em nível de campo. Apesar da similaridade quanto os objetivos das técnicas, estas contrastam na execução. A técnica praticada pelo CDC (CATHLEEN A. HANLON (2004); JAIME MANANGAN (2008), o animal é posto em decúbito ventral, e através de corte profundo no pescoço, até desarticular a junção atlantoaxoide, torna visível e fácil a coleta da medula cervical. Porém, de forma inevitável é seccionada a traquéia e as jugulares, propiciando a indesejada contaminação da amostra com resíduos e sangue. O que não acontece coletando o mesmo material pela técnica de coleta de medula cervical. Avaliando a presença de antígenos da Raiva, no sistema nervoso central “SNC” dos animais de várias espécies, LEE & BECK, 1972; encontraram concordância entre o encéfalo e a medula espinhal, precisamente nas vértebras C2 e C3, cujas técnicas de coleta utilizadas, foram, a secção transversal das cervicais, as quais proporcionam a obtenção de pouco material (SNC), e a abertura da calota craniana com disponibilidade 103 de muito material do (SNC), tais técnicas, demonstram ser superadas após a idealização da TCMC, que somente com uma incisão na região da nuca em direção a articulação atlantoccipital, que após ser desarticulada, torna visível a medula e o forâmen do occipital, possibilitando a coleta da medula cervical, como também, de outros segmentos do SNC, tais como: tronco cerebral, tálamo, hipotálamo, cerebelo e cérebro. Entendendo que os vírus da Raiva não infectam igualmente todas as estruturas do SNC, os cientistas, BINGHAM, J, 2002; e ITO, F. H, 1983, realizaram estudos com o objetivo de determinar quais estruturas do SNC eram mais confiáveis para detectar a presença de antígeno da Raiva, como resultados identificaram: medula espinhal, tronco cerebral (Ponte, Bulbo), e o tálamo, contudo, concluíram como sendo estas, as estruturas mais fidedignas, para realização do diagnóstico laboratorial da Raiva. Tais resultados estão de acordo com os obtidos por, SILVA et al, 1974, quando descobriu a ocorrência dos vírus da Raiva na medula e no bulbo de eqüinos naturalmente infectados e sua ausência nas diferentes regiões do sistema nervoso central. Estes estudos se completam com a utilização da TCMC idealizada no presente trabalho, por permitir a coleta destas estruturas avaliadas como fidedignas para o diagnóstico laboratorial da Raiva. As ações de controle da Raiva são determinadas pela vigilância epidemiológica, que se orienta pelo diagnóstico laboratorial, esse, segundo TANÁSIO, 1995, ROLIM, 2007; com freqüência se torna comprometido pela inadequada qualidade da amostra (Cabeça, cérebro inteiro, cadáver de animais), muitas vezes determinada pelo inconveniente acondicionamento e transporte. Corroborando, BARRAT, 1998,; MONTANO HIROSE et al, 1991; em suas pesquisas desaconselham esses materiais (peças) como amostra ao mesmo tempo que recomendam a realização de biópsia no SNC sem abrir o crânio. Por está de acordo, JOHN BINGHAM, 2002, acrescenta, a amostra coletada por biópsia poderá ser mais fidedigna quando realizada pelo forâmen do occipital onde inevitavelmente inclui partes do tronco cerebral. Tais resultados concordam com os encontrados no atual estudo, cuja técnica idealizada (TCMC), permite a coleta da medula cervical e dos demais segmentos do SNC sem abrir o crânio. 104 CONCLUSÕES A Técnica de Coleta de Medula Cervical permite a coleta da medula cervical e dos demais segmentos do SNC de forma fácil, prática e segura, sem abrir a cabeça dos animais, estimulando o incremento do envio de amostras com qualidade e segurança para o laboratório de diagnóstico da Raiva, contribuindo de forma significativa com a epidemiologia e o controle da doença. As invenções do coletor de SNC, e do frasco para biópsia, contribuem de forma expressiva no processo de coleta, manipulação, acondicionamento, conservação, envio e estocagem das amostras de SNC. PERSPECTIVAS O estado do Ceará, assim como outros estados brasileiros, se encontra na fase de controle da Raiva, condição que exige maior atuação da vigilância epidemiológica. Para tanto, o Ministério da Saúde- MS através da Portaria n0 3.008/Art. 10. 01.12.2009. Determina que, a partir de 2010 na Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS), já pactuado pelas esferas Federal, Estadual e Municipal, como norteador para ações de controle, seja realizado o monitoramento da circulação dos vírus da Raiva, com envio 0,2% de amostra de SNC da população canina estimada para o diagnóstico laboratorial da Raiva (MINISTÉRIO da SAÚDE, 2009). Com esta decisão o MS aumentou em 100% o N0 de amostras enviadas aos laboratórios, com recomendação de segurança e agilidade em todo processo. Pelo exposto, tem-se a perspectiva que o MS, e as coordenações dos programas de controle da Raiva, adotem a TCMC com a finalidade de cumprir a determinação ministerial, assim como, viabilizar o diagnóstico e o consequente controle da doença. 105 BIBLIOGRAFIA ATANASIU, P. Animal inoculation and Negri body, In_ BAER, G. M. The natural history of rabies. New York, Academic Press, 1975. V. 1. P. 374-400. BARRAT, J and Blancou, J (1988). Simplified technique for the collection storage and shipment of brain specimens for rabies diagnosis. WHO/Rab.Res./88.27. World Health Organization,Geneva. BINGHAM, J.; VAN DER MERWE, M. Distribution of rabies antigen in infected brain material: determining the reliability of different regions of the brain for the rabies fluorescent antibody test. Journal of Virology Methods, v. 101, p.85– 94, 2002. BORDENAVE, L. Review: on the shoulders of giants, Louis Pasteur (1822-1895). Microbes and Infection 5: 553-60, 2003. HANLON, C. (2004); Técnica de Coleta da medula espinhal para o diagnóstico laboratorial da Raiva. In: 10 Curso de Vigilância da Raiva Silvestre, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Núcleo de Controle de Doenças Endêmicas e Zoonoses, Fortaleza - Ceará – Brasil, Agosto, 2004. GERMANO, P. M. L.; SILVA, E. V; MIGUEL, O.; ISHIZUKA, M.M. Avaliação de três cepas de vírus rábico, antigenicamente distintas, em camundongos. II – Estudo da disseminação viral por diferentes órgãos. Revista de Saúde Pública vol. 22. nº 6, p. 1 a 11. São Paulo, 1998. ISSN 0034 – 8910. ITO, F. H.; VASCONCELLOS, S.A.; ERBOLATO, E. B.; MARCRUZ, R.; CÔRTES, J. J. Rabies virus in different segments of brain and spinal cord of naturally and experimentally infected dogs. Int. J. Zoon., 12; 98-104, 1985. LEE, T. K.; BECKER,.M. E. Validity of spinal cord examination as a substitutive procedure for routine rabies diagnosis. Appl. Microbiol. 24, 714-716. 1972. 106 LIGON BL. Louis Pasteur: a controversial figure in a debate on scientific ethics. Seminars in Pediatric Infectious Diseases 13 (2): 134-41, 2002. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva. Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, Brasília, Ed. Do Ministério da Saúde, 2008. 108p. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Gabinete do ministro, portaria n0 3.080/01.12.2009. Diário oficial da união – seção 1, No 232, sexta feira , 4 de dezembro de 2009. ISSN 1677-7042 59, 2009. MONTANO HIROSE, J., BOURHY, H AND SUREAU, P. (1991). Retro-orbital route for brain specimen collection for rabies diagnosis. Vet.Record. 129: 291-292. OPAS, ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Eliminación de la rabia humana transmitida por perros en América Latina: Análisis de la situación, ano 2004. Washington, D.C: OPS, 2005. PENA, G. O. Doenças infecciosas e parasitárias. Ministério da saúde: Fundação nacional de saúde. Brasília/DF, 2º Ed. 1998. 220p. SANTOS, A. F. Relatório: Tratamento preventivo da Raiva pelo método Pasteur. Ed. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, nº 517-88, p. 392, 1888. SILVA, R. A.; SILVA, N. M.; MENEZES, P, R. V. Ocorrência do vírus da Raiva na medula e no bulbo de eqüinos na doença natural e sua ausência nas diferentes regiões do sistema nervoso central e outros tecidos. Pesq. Agrop. Bras., Ser. Vet. 9:29-31. 1974. SILVA, R. A. Evolução Histórica da Raiva. In: Seminário Internacional de Raiva. São Paulo, Brasil. 2000. TORDO, N.; CHARLTON, K.; WANDELER, A. I. Rhabdoviruses: Rabies, Microbiology and microbial infections, v. 01, p. 665 - 692. 1998. 107 CAPÍTULO IV _______________________________________________________ I - PATENTE REGISTRADA NO INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL – INPI TÍTULO DA PATENTE: Frasco para biópsias NÚMERO DE DEPÓSITO DA PATENTE: 000018 DATA DE DEPÓSITO: 02 Jun de 2011. Desenvolvida no Laboratório de Virologia – LABOVIR, Programa de pós Graduação em Ciências Veterinárias – PPGCV, Universidade Estadual do Ceará – UECE, Fortaleza – Ceará - Brasil. 108 109 110 111 112 TERMO DE CESSÃO DE PATENTE DE MODELO DE UTILIDADE Por este instrumento, eu, Benedito Neilson Rolim, brasileiro, nascido na data de 28 de Abril de 1953, Médico Veterinário, casado, portador do RG: 2007518494-4 expedido em 26 de Abril de 2010, CPF: 071.361.883-34, Residente na rua, Dom Sebastião Leme, 512, no Bairro de Fátima, CEP: 60.050 – 160, Telefones: Residencial (085) 3226 - 7625, Celular: (085) 8844-7625, doravante denominado CEDENTE, sendo um dos INVENTORES da Patente de Modelo de Utilidade intitulada “RECIPIENTE PARA BIÓPSIAS”, cede e transfere à Fundação Universidade Estadual do Ceará (FUNECE), estabelecida na Av. Paranjana, n° 1700, Bairro Itaperi, FortalezaCeará, CEP: 60.740-903, inscrita no CNPJ sob o no. 07.885.809/0001-97, doravante denominada CESSIONÁRIA, neste ato representado pelo seu Presidente, Sr. Francisco de Assis Moura Araripe, todos os direitos à referida invenção e dá pleno consentimento para que a referida CESSIONÁRIA possa requerer e processar direitos de propriedade intelectual e mantêlos em vigor com amplos e ilimitados poderes para assinar petições e documentos, pagar taxas e emolumentos, anotar transferências, fazer prova de uso das invenções patenteadas e da marca quando registrada, apresentar oposições, recursos, réplicas, desistir, renunciar, anotar, averbar contratos de licença e transferências de tecnologia, elaborar notificações extrajudiciais, proceder a publicação de editais de chamamento para instruir, elaborar e acompanhar contratos de transferência de tecnologia e/ou de licenciamento com exclusividade ou não, e praticar todos os atos necessários perante as autoridades administrativas competentes no Brasil e no exterior. Este Instrumento é assinado em condição irrevogável e irretratável pelo prazo de vigência da Patente de Modelo de Utilidade supracitada. O CEDENTE declara, sob as penas da lei, que todas as informações fornecidas são verdadeiras. Fortaleza, 20 de maio de 2011. 113 Cedente.: _____________________________________ Benedito Neilson Rolim CPF.: 071.361.883-34 Cessionária: ___________________________________________ Francisco de Assis Moura Araripe Fundação Universidade Estadual do Ceará Testemunhas: ____________________________________________________ Nome: CPF: ____________________________________________________ Nome: CPF: 114 CAPÍTULO V _____________________________________________ II – PATENTE REGISTRADA NO INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL – INPI TÍTULO DA PATENTE: Coletor de Sistema Nervoso Central – SNC NÚMERO DE DEPÓSITO DA PATENTE: Fase de minuta DATA DE DEPÓSITO: Fase de minuta aguardando depósito Desenvolvida no Laboratório de Virologia – LABOVIR, Programa de pós Graduação em Ciências Veterinárias – PPGCV, Universidade Estadual do Ceará – Brasil. 115 GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior Universidade Estadual do Ceará – UECE Pró-Reitoria de Planejamento – PROPLAN Fortaleza, 08 de junho de 2011. Ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) Universidade Estadual do Ceará Declaramos, por meio deste, para fins de defesa de tese de doutorado, que a patente de modelo de utilidade por ora intitulada “Coletor de Sistema Nervoso Central”, de autoria dos alunos Neílson Benedito Rolim, vinculado ao Laboratório de Virologia do PPGCV, e Nélio Batista de Morais, este por sua vez vinculado ao Curso de Doutorado da RENORBIO, encontrase neste Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-UECE) em fase de minuta, a ser depositada em breve no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Atenciosamente, 116 CONCLUSÕES GERAIS De acordo com os resultados desse estudo, conclui-se que: A medula cervical é o segmento do Sistema Nervoso Central (SNC) mais credenciada para o diagnóstico laboratorial da Raiva, através das provas de imunofluorescência direta (IFD) e inoculação intracerebral (IC). A Técnica de Coleta de Medula Cervical (TCMC) foi idealizada, avaliada e implantada no estado do Ceará, tornando possível a coleta da medula cervical e dos demais segmentos do SNC, de forma fácil, prática e segura, sem abrir a cabeça dos animais. O serviço público de saúde do Estado do Ceará, doravante, está capacitado para coletar, acondicionar, e enviar amostras de SNC, para o laboratório de diagnóstico da Raiva, utilizando tecnologia de ponta. A remessa das amostras foi incrementada significativamente com melhoria na qualidade, e passaram a ser enviadas sob forma de alíquotas e não mais de cadáveres ou peças anatômicas, contribuindo de forma significativa com os laboratórios de diagnósticos da Raiva. O coletor de SNC e o frasco para biópsia são de extrema importância no processo de coleta, manipulação, acondicionamento, conservação, envio e estocagem das amostras de SNC. 117 PERSPECTIVAS DA TESE Pelo interesse demonstrado pelo Ministério da Saúde (MS) de controlar a Raiva humana transmitida por cães, tanto que, como medida para interromper a circulação de vírus da Raiva em cães, pactuou com os Estados e Municípios na Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS), o envio de 0,2% de amostras da população canina para exame laboratorial da Raiva (MS, 2010). Para realização dessa vontade política e pactuação, temos a perspectiva que os resultados obtidos nesse estudo, sejam utilizados pelo MS/Programa Nacional de Controle da Raiva, indicando a medula cervical, a Técnica de Coleta de Medula Cervical, o coletor de sistema nervoso central, e o recipiente para acondicionar biópsia, como materiais e procedimento de rotina para o diagnóstico laboratorial da Raiva, contribuindo decisivamente com a epidemiologia e o controle desta zoonose. 118 REFERÊNCIAS ACHA, P.N; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermidades transmissibles comunes al hombre y a los animales. 2 ed. Washington, DC: OPAS, 1986 (Publicação Científica, 503). Raiva, p. 502 -526. ALBAS, A.; Souza, E. A. N.; LOURENÇO, R. A.; FAVORETTO, S.R.; SODRÉ, M. M. Perfil antigênico do vírus da Raiva isolado de diferentes espécies de morcegos não hematófagos da Região de Presidente Prudente, Estado de São Paulo. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.42 no.1 Uberaba Jan./Feb. 2009. ATANASIU, P. & SUREAU, P. Rage. - In: Encyclopédic Médico Chirurgicale. Paris, EditionsTechniques, 1987. v.7 8065 C10. BAER, G. M. Vampire bat and bovine paralytic rabies. In: Baer GM. The natural history of rabies. Flórida: CRC Press; 1991a. p.389-403. BAER GM. Rabies in non hematophagous bats. In: Baer GM. The natural history of rabies. Flórida: CRC Press; 1991b. p. 341-66. BLACK, E. M.; McELHINNEY, L. M.; LOWINGS, J. P.; SMITH, J.; JOHNSTONE, P.; HEATON, P. R. Molecular methods to distinguish between classical Rabies and the Rabiesrelated European bat lyssaviruses. Journal of Virological Methods, v.87, n.1-2, p.123-131, 2000. BELLOTO, A. J. Situação Epidemiológico da Raiva: panorama mundial. In: Simpósio Internacional Programa de Tratamento “Controle de Zoonoses e as Interações homem – animal”. Embu – SP, 2001. Anais...., p. 26 – 28. BELLOTO, A. J. Raiva transmitida por morcegos nas Américas. Instituto Pasteur SP, Pasteur Informa, jan/mar – 2003, Nº. 7 – ano 4. 119 BENMANSOUR, A.; LEBLOIS, H.; COULON, P.; TUFFEREAU, C.; GAUDIN, Y; FLAMAND, A.; LAFAY, F. Antigenicity of rabies virus glycoprotein. J. Virol., 65:4198-203, 1991. BINGHAM, J.; VAN DER MERWE, M. Distribution of rabies antigen in infected brain material: determining the reliability of different regions of the brain for the rabies fluorescent antibody test. Journal of Virology Methods, v. 101, p. 85 – 94, 2002. BOURHY, H.; SUREAU, P.; TORDO, N. From rabies to rabies-related viruses. Vet. Microbiol.,23:115-28, 1990. BRASS, D. A. Rabies and the bats of Latin America. In: Brass DA. Rabies in bats natural history and public health implications. Connecticut: Livia Press; 1994. p.51-5. CAREY, A. B. Multispecies rabies in the easter United States. In BACOM, P. J. 1985. Population dynamics of rabies in wildlife. Orlando, Academic Press, 1985.p.23-41. CDC – Centers For Disease Control And Prevention. Human Rabies – Washington. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. v.44, 1995a. CDC - Centers For Disease Control And Prevention, In. Rabies around the World, Bulletin, April, 2011. CHARLTON, K. M. The pathogenesis of rabies. In: Campbell, J. B & Charlton, K. M. (Eds), Rabies. Kluwer Academic Publishers, Boston. 1988. CHRISTINE, T.; EMMANUEL, D,; JACQUELINE, B,; CORINNE, J; ANNE, F,; NOËL, T,; PIERRE, P. Interaction of lyssaviruses with the low-affinity nerve-growth factor receptor p75NTR. Journal of General Virology (2001), 82, 2861-2867. CONSALES, C. A.; BOLZAN, V. L. Rabies review: immunopathology, clinical aspects and treatment. Journal of Venomous Animals and Toxin Including Tropical Diseases, v.13, p.5-38, 2007. COSTA, W. A.; ÁVILA, C. A.; VALENTINE, E. J. G.; REICHMANN, M. L. A. B. 120 CUNHA, R. S.; GUIDOLIN, R.; PANACHÃO, M. R. I.; OMOTO, T. M. BOLZAN, V. L. Profilaxia da Raiva Humana. São Paulo: Instituto Pasteur, 2000. DAVID, D.; YAKOBSON, B.; ROTENBERG, D.; DVERES, N.; DAVIDSON, I.; STRAM, Y. Rabies virus detection by RT-PCR in decomposed naturally infected brains. Veterinary Microbiology, v. 87, p. 111 – 118, 2002 DIETZSCHOLD, B.; WIKTOR, T. J.; TROJANOWSKI, J. Q.; MACFARLAN, R. I.; WUNNER, W. H.; ANJEL, M. J. T.; KOPROWSKI, H. Differences in cell to cell spread of pathogenic and apathogenic Rabies virus in vivo and in vitro. Journal of Virology, v.56, n.1, p.12-18, 1985. DULBECCO, R.; GINSBERG, H. S. Os rabdovirus. In: ____. Microbiologia de Davis. 2. ed. São Paulo: Ed. Harbra, v. 4, 1980. p.1623-1633. ELKHOURY, M. R.; MAIA, A. N. S.; PHEBO, L. Aspectos Epidemiológicos da Raiva Humana no Brasil – 1998 a 2000. Relatório Técnico, 2002, 22 p. FAZAKERLEY, J. K.; ALLSOPP, T. E. Programmed cell death in virus infections of the nervous system. Current Topics in Microbiology and Immunology, v.253, p.95119, 2001. FENNER, R.; BACHMANN, P.A.; GIBBS, E.P.; MURPHY, F.A.; STUDDERT, M.J.; WHITE, D.O. Virologia Veterinária, Zaragoza: Acribia, 1992. p.551-556. FENNER, F. J.; GIBBS, E. P. J.; MURPHY, F. A. Laboratory diagnosis of viral diseases. In: ____. Veterinary Virology. 2. ed. San Diego: Academic Press, 1993. p. 213-239. FISHBEIN, D. B.; ROBINSON, L. E. Current concepts: Rabies. The New England Journal of Medicine, v. 329, p. 1632 – 1638, 1993. 121 FOOKS, A. R. The challenge of new and emerging lyssaviruses. Expert Review of Vaccines, v.3, n.4, p.333-336, 2004. FUNASA - Fundação Nacional de Saúde - GUIA BRASILEIRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 5ª ed., 1998. FUNASA - Fundação Nacional de Saúde - NORMA TÉCNICA DE TRATAMENTO PROFILÁTICO ANTI – RÁBICO HUMANO. 1ª ed. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. GAUDIN, Y.; RUIGROK, R. W.; KNOSSOW, M.; FLAMAND, A. Low-pH conformational changes of Rabies virus glycoprotein and their role in membrane fusion. Journal of Virology, v.67, p.1365-1372, 1993. GERMANO, P. M. L.; SILVA, E. V; MIGUEL, O.; ISHIZUKA, M.M. Avaliação de três cepas de vírus rábico, antigenicamente distintas, em camundongos. II – Estudo da disseminação viral por diferentes órgãos. Revista de Saúde Pública, vol. 22. nº 6, p. 1 a 11. São Paulo, 1998. ISSN 0034 – 8910. GERMANO, P. M. L.; MIGUEL, O.; ISHIZUKA, M.M.; SILVA, E. V. Avaliação de três cepas de vírus rábico, antigenicamente distintas, em camundongos. I – Estudo dos períodos de observação clínica. Revista de Saúde Pública., vol. 22. nº 5, p. 375 - 83. São Paulo, 1998. ISSN 0034 – 8910. GOMES, F. J.; ROLIM, B. N. Avaliação epidemiológica do comportamento da Raiva humana no município de Fortaleza-CE, no período de 2000 a 2003. In: Temas em saúde da família - práticas e pesquisas. Fortaleza: Ed. UECE, 2005. v.1. 332p. ISBN: 85-87203-49-5. CDD: 613.907. HANLON, C. A. In: Curso de Raiva silvestre. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Núcleo de controle de endemias e zoonoses, 2002. 122 HEMACHUDHA, T.; LAOTHAMATAS, J.; RUPPRECHT, C. E. Human Rabies: a disease of complex neuropathogenetic mechanisms and diagnostic challenges. The Lancet Infectious Diseases, v. 1, p. 101-109, 2002. JACOB, Y.; BADRANE, H.; CECCALDI, P. E.; TORDO, N. Cytoplasmic Dynein LC8 interacts with lyssavirus phosphoprotein. Journal of Virology, v.74, p.10217-10222, 2000. JOGAI, S.;RADOTRA,B. D.; BANERJEE, A. K. Rabies viral antigen in extracranial organs: a post-mortem study. Neuropathology Aplicat. Neurobiology, v. 28, p. 334338, 2002. KING, A. A.; TURNER, G.S. Rabies: a review. J. Comp. Pathol. v.108, p.1-39, 1997. KELLY, R. M.; STRICK, P. L. Rabies as a transneuronal tracer of circuits in the central nervous system. Journal of Neuroscience Methods, v.103, n.1, p.63-71, 2000. KNIPE, D. M.; HOWLEY, P.M.; GRIFFIN, D.E.; LAMB, R.A. Fields virology main TOC. 1. Viruses; 2.Virus diseases. 4th ed. Lippencott: Williams & Wilkins, 2001. LARGHI, O.; OUBIÑA, J. R. Família Rhabdoviridae. In: CARBALLAL, G.; OUBIÑA, J. R. Virologia Médica. 3. ed. Buenos Aires: El Ateneo, 1998. p. 245-260. LENTZ, T. L.; BURRAGE, T. G.; SMITH, A. L.; CRICK, J.; TIGNOR, G. H. Is the acetylcholine receptor a Rabies virus receptor? Science, v.215, n.4529, p.182-184, 1982. MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Gerência Nacional do Programa de Controle da Raiva dos Herbívoros. Manual de procedimentos para o controle da Raiva dos herbívoros. Editado pelo programa nacional de controle da Raiva dos herbívoros – PNCRH. Brasília – DF, 2005 123 MS - MINISTÉRIO DA SAÚDE, Coordenação de Vigilância das Doenças Transmitidas por Vetores e Antropozoonoses, coordenação do programa nacional de vigilância da Raiva. Raiva humana no Brasil, 1986 – 2006. COVEV/CGDT/DEVEP/SVS/MS. Brasília – DF, 2006. MS - MINISTÉRIO DA SAÚDE, Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva. Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, Brasília, Ed. Do Ministério da Saúde, 2008. 108p. MS - MINISTÉRIO DA SAÚDE, Coordenação de Vigilância das Doenças Transmitidas por Vetores e Antropozoonoses, coordenação do programa nacional de vigilância da Raiva. Curso de Raiva silvestre. COVEV/CGDT/DEVEP/SVS/MS. Brasília – DF, 2010. MORENO, Jarier de Oliveira. O perfil epidemiológico da Raiva urbana em Fortaleza e os desafios ao seu controle. 2002. 70p. Dissertação (Conclusão de curso) – Medicina veterinária, Universidade Estadual do Ceará – UECE, Fortaleza, 2002 MORENO, J. O. Diagnóstico laboratorial do vírus da Raiva. Universidade Estadual do Ceará, curso de especialização em bioquímica e biologia molecular. Fortaleza – Ceará. 2007. p.6. MUHAMUDA, K.; MADHUSUDANA, S. N.; RAVI, V.; DESAI, A. Presence of rabies specific immune complexes in cerebro-spinal fluid can help in ante-mortem diagnosis of human paralytic rabies, Journal of clinical virology, nº 30. 2006. NOAH, D.; SMITH, M.; GOTTHARDT, J.; KREBS, J.; GREEN, D.; Childs, J. Mass human exposure to rabies in New York Hampshire: exposures, tratment, and cost. Am. J. Public Heqlth,1996; 86:1149 -1151. NORMA TÉCNICA DE TRATAMENTO PROFILÁTICO ANTI – RÁBICO HUMANO. 1ª ed. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. 124 OPAS, ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD. Vigilância epidemiológica de la rabia em las Américas. In: Boletim de Vigilância Epidemiológica de la Rabia em las Américas, v. 28, 1996. 28p. ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. EER Noticias Semanales: Enfermidades infecciosas emergentes y reemergentes, Región de las Américas. Rabia humana transmitida por murciélagos em el estado de Pará, Brasil. Enferm Infecc Emerg Reemerg [periódico on-line] 2004;2(13):1-5. Disponível em URL: www.paho.org [2004 abr 15] OPAS, ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Boletín: Vigilancia epidemiológica de la rabia en las Américas. v..XXXIII, 2001. 40p. Washington, D.C: OPS, 2001. OPAS, ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Eliminación de la rabia humana transmitida por perros en América Latina: Análisis de la situación, ano 2004. Washington, D.C: OPS, 2005. PALÁCIO, A. R.S. Perfil epidemiológico da Raiva silvestre no estado do Ceará e desafios ao seu alcance. 2003. 103p. Dissertação (Conclusão de curso) – Medicina veterinária, Universidade Estadual do Ceará – UECE, Fortaleza, 2003. PARK, C.; KONDO, M.; INOUE, S.; NOGUCHI, A.; OYAMADA, T.; YOSHIKAWA, H.; YAMADA, A. The Histopathogenesis of Paralytic Rabies in SixWeek-Old C57BL/6J Mice Following Inoculation of the CVS-11 Strain into the Right Triceps Surae Muscle. Journal of Veterinary Medical Science, v.68, n.6, p.589-595, 2006 PEDRO, M, O, P,; EDSON, M. COLODEL.; DANILO, C, G,; MARY, S,; VARASCHIN.; PEDRO, S,; BEZERRA, J; JOSÉ, D, B,; CARLOS. H, T.; DAVID, D. Aspectos clínico-patológicos e imuno-histoquímicos de equídeos infectados pelo vírus da Raiva. Pesq. Vet. Bras. vol.30.11 Rio de Janeiro Nov. 2010 125 PENA, G. O. Doenças infecciosas e parasitárias. Ministério da Saúde: Fundação nacional de Saúde. Brasília/DF, 2º Ed. 1998. 220p. PROMED, International Society for Infectious Diseases. China, Raiva em seres humanos e caninos. <http:// www. isid.org> Data, 12 Dec 2006. Fonte, A China diariamente em linha, Dec 2006. Editado <http:// www. chinadaily.com.en/china/12/12/2006. ROLIM, Benedito Neilson. Avaliação da incidência de Raiva no estado do Ceará no período de 1990 a 2003. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. ISSN-0037-8682. v. 37, p.396, 2004. ROLIM, Benedito Neilson. Avaliação dos casos de Raiva humana transmitida por cães: na América Latina, no Brasil, no Ceará e em Fortaleza, no período de 1990 a 2003. In: II Feira de Ciência, Cultura, Tecnologia e Inovação do Estado do Ceará, no período de 19 a 23 de junho de 2006. Anais publicados pela Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza – Ceará, Brasil. 2006. ROLIM, Benedito Neilson.; TEIXEIRA, M. F. S.; ROLIM, J. B. S.; SOUSA, J. B.; Relato do controle da Raiva canina no município de Fortaleza – Ceará, no período de 2001 a 2005. In: II Feira de Ciência, Cultura, Tecnologia e Inovação do Estado do Ceará, no período de 19 a 23 de junho de 2006. Anais publicados pela Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza – Ceará, Brasil. 2006. ROLIM, Benedito Neilson. Avaliação dos ciclos epidemiológicos da Raiva no Estado do Ceará, no período de 2004 a 2008. Unidade de estatística do Núcleo de Controle de vetores da Secretaria de saúde do estado do Ceará, 2008. RUPPRECHT, C. E,; HANLON, C. A,; HEMACHUDHA, T. Rabies re-examined. The Lancet Infectious Diseases, ed 2. p. 327-43, 2002. 126 SANOFI PASTEUR. VERORAB: The rabies vaccine you can trust. Product Monograph be Sanofi Pasteur, The vaccines business of sanofi-aventis group. Lyon France, 2005. SCHNELL MJ, McGettigan JP, Wirblich C, Papaneri A. The cell biology of Rabies virus: using stealth to reach the brain. Nat. Rev. Microbiol. 2010; 8: 51-61. 27. SANTOS, A. F. Relatório: Do tratamento preventivo da Raiva pelo método pasteur. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, nº 517-88, p. 392, 1888. SESA – CE. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará: Coordenação do Programa Estadual de Controle da Raiva, 2004. 84p. (Informe Técnico, 01). SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde. Consolidado da Raiva no período de 1986 a 2006. Coordenação do programa nacional de controle da Raiva, Esplanada dos ministérios, Brasília, Brasil. 2006. TORDO, N. Characteristics and molecular biology of rabies virus. In: MESLIN, F, X,; KAPLAN, M..M..; KOPROWSKI, H. Laboratory techniques in rabies. World Health Organization, Geneva, 1996. 4th ed. TORDO, N.; CHARLTON, K.; WANDELER, A. I. Rhabdoviruses: Rabies. Microbiology and microbial infections, v. 01, p. 665 – 692, 1998. TORDO, N. Phylogeny Lyssavirus genus. In: Rabies in the Americas. XVII Reunião Internacional de Raiva nas Américas, anais, Ministério da Saúde – Brasil, 2006. 220p. ISBN 85-334-1292-4. TOLLIS, M.; DIETZSCHOLD, B.; VOLIA, C.B.; KOPROWSKI, H. Immunization of monkeys with rabies ribonucleoprotein (RNP) confers protective immunity against rabies. Vaccine, 9: 134-6, 1991. 127 TSIANG, H. Rabies virus infection of myotubes and neurons as elements of the neuromuscular junction. Rev. Infect. Dis., 10:S733-8, 1988. TSIANG, H; CECCALDI, P.E.; LYCKE, E. Rabies vírus infection and transport in human sensory dorsal root ganglia neurons. J. Gen. Virol., 1991. UIEDA, W, HAYASHI MM.;, GOMES LH.; SILVA MMS. Espécies de quirópteros diagnosticadas com Raiva no Brasil. Bol Inst Pasteur 1996;1:17-35. VAN REGENMORTEL, M. H. V.; FAUQUET, C. M.; BISHOP, D. H. L.; CARSTENS, E.B.; ESTES, M. H.; LEMON, S. M.; MANILOFF, J.; MAYO, M. A.; MCGEOCH, D. J.; RINGLE, C. R.; WICKNER, R. B. Seventh report of the international committee on taxonomy of viruses. Family Rhabdoviridae. In: ____.Virus Taxonomy - Classification and Nomenclature of Viruses. Ed. Academic Press, 2000. p. 563-583. VERONESI, R; FOCACCIA, R. In: Tratado de Infectologia – São Paulo, v.2, Ed. Atheneu, 1997, 1764p. WAGNER, R.; ROSE, J. K. Rhabdoviridae: The viruses and their replication. In: FIELDS, B. M.; GRIFFIN, D. E.; LAMB, R. A.; MARTIN, M. A.; ROIZMAN, B.; STRAUS, S. E. (Associate Editors). Fields Virology. Philadelphia: Lippincott Willians & Winlkins, 2001. WHO - WORLD HELTH ORGANIZATION. Report of sixth WHO consultation on monoclonal antibodies in rabies diagnosis and research. Geneva: World Health Organization (WHO/Rab.Res./90.34). 1990. WHO - WORLD HELTH ORGANIZATION. Expert committee on rabies. Geneva. Eight Report. Technical Report Series. 824. 1992. 88p. 128 WHO - WORLD HELTH ORGANIZATION. Report of sixth WHO consultation on monoclonal antibodies in rabies diagnosis and research. Geneva: World Health Organization (WHO/Rab.Res./90.34). 1996. WHO - WORLD HELTH ORGANIZATION. Boletín de vigilancia epidemiológica de la rabia en las Américas. Boletín.vol.XXXII. p.38. ano 2000. WIDDOWSON, et al. Epidemiology of Urban Canine Rabies, Santa Cruz, Bolivia,1972-1997. Emerging Infectious Diseases, v.8, n° 5, 2002. XAVIER, S. de M. Comparação dos métodos de inoculação intracerebral em camundongos (Mus musculus) e de inoculação em cultura de células BHK-21 (C13) no diagnóstico da Raiva. 2005. 84p. Dissertação (Mestrado em Vigilância Sanitária) INCQS/ FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2005. ZHANG, Yong-Zhen; XIONG, Cheng-Long; XIAO, Dong-Lou; JIANG, Ren-Jie; WANG, Zhao-Xiao; ZHANG, Liang-Zhu; FU, Zhen F. , Human Rabies in China, Emerging Infectious Diseases, v.11, n°12, 2005. ZACHARY, J. F. Nervous System. In: McGAVIN, M. D.; ZACHARY, J. F. Pathologic Basis of Veterinary Disease. 4th St. Louis: Mosby, 2007. 129 ANEXOS 130 DOCUMENTO CONFIDENCIAL CIRCULAÇÃO RESTRITA ESTE DOCUMENTO É DESTINADO AO USO EXCLUSIVO DO INDIVÍDUO OU ENTIDADE À QUAL O MESMO É ENDEREÇADO E CONTÉM INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS, CONFIDENCIAIS E QUE NÃO DEVEM SER REVELADAS. Se você ler este documento e não for o destinatário pretendido, estará por meio deste notificado de que qualquer disseminação, distribuição ou reprodução deste documento é estritamente proibida. Se você recebeu este documento por engano, por favor notifiqueme imediatamente através dos telefones +55(21)3212-8200 ou +55(11)3087-8200. Obrigado por sua cooperação. THIS DOCUMENT IS INTENDED ONLY FOR THE USE OF THE INDIVIDUAL OR ENTITY TO WHICH IT IS ADDRESSED AND CONTAINS INFORMATION THAT IS PRIVILEGED, CONFIDENTIAL AND EXEMPT FROM DISCLOSURE. If the reader of this document is not the intended recipient, you are hereby notified that any dissemination, distribution or copying of this communication is strictly prohibited. If you have received this document in error, please notify me immediately by telephone on +55(21)3212-8200 or +55(11)3087-8200. Thank you for your co-operation. 131 1. REIVINDICAÇÃO DE PATENTE 1.1 – TITULO: Recipiente para acondicionar amostras de Sistema Nervoso Central – SNC. 1.2 – DEPOSITANTE: Benedito Neilson Rolim. [email protected] 1.3 – INVENTOR: Benedito Neilson Rolim. Fone: 3226-7625 e 8844-7625 2. Resumo da patente de invenção: O supracitado recipiente, denominado “potinho da Raiva”, será confeccionado (fabricado) com matéria prima de polietileno, e terá capacidade para acondicionar (armazenar) 100g de tecido nervoso, proporcionado por suas dimensões, conforme Fig, 01: Altura – 5,5 cm; diâmetro – 4,5 cm; e raio – 2,25 cm. Na sua extremidade superior, possui uma borda de segurança medindo 4mm de largura contornando o diâmetro (boca) do recipiente; acompanhada por três roscas grossas externas, seguida de um parte chanfrada medindo 5mm de largura que circula todo recipiente. A extremidade inferior (fundo) é plana e possui 4,5 cm de diâmetro. Sua tampa, Fig – 01, será produzida com o mesmo material e cor diferente, medindo 4,5cm de diâmetro e 1cm de altura, possuindo em sua parte interna (fundo da tampa) Fig – 02, um ressalto fixo formando um anel de vedação, seguido por três roscas grossas internas. 2.1 Finalidade da invenção - O recipiente tem por finalidade acondicionar, transportar, e armazenar, amostras de SNC, que necessitam de diagnósticos laboratoriais para Raiva. Contudo, pode ser utilizado para outras finalidades, tais como: acondicionamento e transporte de insetos, aracnídeos, artrópodes, cadáveres de pequenos animais, e biópsias variadas. 2.2 Relatório descritivo da patente de invenção: Recipiente para acondicionar amostras de sistema nervoso central – SNC. 2.3 Campo da invenção: Esta invenção disponibiliza para o mercado da saúde pública e da pesquisa, um recipiente até então não encontrado, feito de polietileno por ser capaz de suportar baixas temperaturas, dilatação, ser impermeável e não permitir a passagem de microrganismos (vírus, bactérias...) para o meio externo, condições necessárias de bio- segurança e de manutenção da integridade das amostras (alíquotas), que após serem coletadas devem ser acondicionadas no recipiente, e conservados em isopores ou caixas 132 térmicas contendo gelo, e em seguida transportados para o laboratório, onde depois do exame, o restante ficará armazenado em freezer. 2.4 Fundamentos da invenção: A Raiva é uma doença infectocontagiosa causada por vírus neurotrópicos que atuam no SNC produzindo uma encefalomielite aguda e fatal. De notificação compulsória internacional necessita da comprovação laboratorial, a qual é feita através das provas laboratoriais (Imunofluorescéncia Direta - IFD e Inoculação em Camundongos – IC) utilizando amostras de SNC. 3. Problema O MS determina o envio de amostras de SNC correspondendo a 0,2% da população canina do Estado, MS, 2010. Por não existir um recipiente ou depósito adequado para acondicionamento e transporte de amostras de SNC para o laboratório de diagnóstico da Raiva, o envio (remessa) delas fica reduzido, comprometendo as ações de controle e epidemiologia da doença, apenas os interessados na realização dos exames improvisam recipientes, tais como: sacos plásticos, caixas de papelão, isopores reaproveitados alguns furados ou rachados, etc. Tal conduta aumenta os riscos de infecção por manipulação e transporte inadequado das amostras, como também, afetam a qualidade e consequentemente os resultados dos exames, assim como, as atividades de profilaxia, vigilância e controle da doença. 4. Solução Idealizar um recipiente (depósito) com tecnologia adequada para acondicionar (embalar), transportar e armazenar em baixas temperaturas (- 20 0C), amostras de SNC de animal que for a óbito suspeito de Raiva e que obrigatoriamente deve fazer diagnóstico laboratorial. 5. Objetivo Disponibilizar para saúde pública e a pesquisa um recipiente apropriado para acondicionar, transportar e armazenar de forma mais segura, amostras de SNC de 133 animal que for a óbito suspeito de Raiva, contribuindo assim, com o diagnóstico, profilaxia, epidemiologia e controle da doença. 6. Descrição geral O supracitado recipiente, denominado potinho da Raiva, será confeccionado (fabricado) com polietileno, matéria prima que proporciona alta produção e produtividade, de baixo custo e fácil aquisição. Por suas dimensões: Altura – 5,5 cm; diâmetro – 4,5 cm; e raio – 2,25 cm, terá capacidade para acondicionar (armazenar) 100g de tecido nervoso, quantidade suficiente para realizar o diagnóstico laboratorial da Raiva pelas duas provas (IFD e IC) exigidas pelo Ministério da Saúde – MS; com sobras de aproximadamente 80g para estudos futuros. Na sua extremidade superior, possui uma borda de segurança medindo 4mm de largura contornando o diâmetro (boca) do recipiente, tendo por finalidade evitar que parte da amostra role pela parede externa do recipiente, e por ficar pressionada pelo anel de vedação da tampa, que se encontra firmemente apertado por três roscas grossas, determina a completa vedação e acondicionamento seguro da amostra; a parte chanfrada medindo 5mm de largura que circula todo recipiente, protege a tampa para não ser sacada de forma brusca. A extremidade inferior (fundo) é plana e possui diâmetro de 4,5 cm, o que lhe assegura uma base estável e contribui para melhor armazenamento dos recipientes. Sua tampa será produzida com o mesmo material e cor diferente, assegurando a orientação no armazenamento e transporte, medindo 4,5 cm de diâmetro e 1 cm de altura, acompanha o designer do recipiente e facilita a abertura de três roscas grossas internas que se enroscaram com as externas do recipiente aproximando a borda de segurança ao anel de vedação (ressalto fixo situado na parte interna da tampa) produzindo a vedação e a segurança necessária para o acondicionamento e transporte da amostra de SNC. 134 RECIPIENTE PARA ACONDICIONAR AMOSTRAS DE SISTEMA NERVOSO CENTRAL – SNC. DESCRIÇÃO DETALHADA DETALHES, Figura - 01: Material - polietileno Capacidade – 100g Dimensões: Altura – 5,5 cm Diâmetro – 4,5 cm Raio – 2,25 cm Fig - 01 DETALHES, Figura - 02: 01 Rosca externa, 02 Borda de segurança, 03 Espaço chanfrado, 04 Anel de vedação, 05 Rosca interna. Fig - 02 Responsável pelo desenho: Arquiteto Pedro Paulo Dias Rolim. 135 Relatório Descritivo de Patente de Modelo de Utilidade RECIPIENTE PARA BIÓPSIAS Campo da Invenção O presente modelo de utilidade descreve um recipiente para biópsias. Em especial, a presente modelo de utilidade descreve um recipiente de biópsias com borda de segurança para evitar que o conteúdo do recipiente seja derramado. O presente modelo de utilidade se situa no campo da Medicina. Antecedentes da Invenção A Raiva, ou Hidrofobia, é uma zoonose que ocorre em mamíferos, incluindo seres humanos, e é causada por um vírus que se instala no sistema nervoso. Para o diagnóstico de tal doença, é necessário a biópsia de tecidos do sistema nervoso central (SNC). Uma das grandes dificuldades neste procedimento de biópsia e outros semelhantes está no fato de que atualmente não existem recipientes disponibilizados no mercado para que estas amostras sejam seguramente acondicionadas. Frascos de biópsias convencionais possuem em geral uma borda fina que pode facilmente derramar amostras líquidas ou viscosas. Portanto, idealizou-se um recipiente compreendendo borda de segurança que evita que o conteúdo seja derramado, e uma tampa com um anel de vedação compatível com a borda do recipiente, para seguramente acondicionar amostras. Portanto, o recipiente tem por finalidade acondicionar, transportar, e armazenar, amostras de materiais biológicos que necessitam de diagnósticos laboratoriais como, por exemplo, para Raiva, assim como o recipiente também permite acondicionar e transportar insetos, aracnídeos, artrópodes, cadáveres de pequenos animais, e biópsias variadas. No âmbito patentário, foram localizados alguns documentos relevantes que serão descritos a seguir. O documento US 5.174.965 revela um recipiente para biópsias compreendendo um cabo de segurança para evitar que o usuário entre em contato com o material 136 coletado. A presente invenção difere deste documento por não requerer um cabo e por possui uma borda de segurança e anel de vedação, além de outras vantagens técnicas. O documento US 6.024.709 revela um recipiente de urina compreendendo uma aba flexível conectada a uma abertura na tampa. A presente invenção difere deste documento por não requerer uma aba flexível e por possui uma borda de segurança e anel de vedação, além de outras vantagens técnicas. O documento US 4.428.384 revela um recipiente para coleta de urina compreendendo um aro removível para proteção da borda do mesmo. A presente invenção difere deste documento por compreender uma borda de segurança nãoremovível, que constitui uma parte do corpo do referido recipiente, além de outras vantagens técnicas. Do que se depreende da literatura pesquisada, não foram encontrados documentos antecipando ou sugerindo os ensinamentos do presente modelo de utilidade, de forma que a solução aqui proposta possui novidade e atividade inventiva frente ao estado da técnica. Sumário da Invenção O presente modelo de utilidade descreve um recipiente para biópsias. Em especial, a vantagem do presente modelo de utilidade está no fato de que o recipiente de biópsias compreende uma borda de segurança para evitar que o conteúdo do recipiente seja derramado, além de um anel de vedação de dimensões compatíveis com as da borda. É, portanto, um objeto do presente modelo de utilidade o recipiente para biópsias compreendendo (1) borda de segurança contornando a boca do recipiente; (2) anel de vedação de dimensões compatíveis com a referida borda; (3) rosca significativamente grossa; e (4) porção chanfrada. Em uma realização preferencial, o referido recipiente é destinado ao armazenamento e transporte de amostras de materiais biológicos que necessitam de diagnósticos laboratoriais. 137 Em uma realização preferencial, o referido recipiente é destinado ao armazenamento e transporte de amostras de tecidos do sistema nervoso Em uma realização preferencial, o referido recipiente é destinado ao armazenamento e transporte de biópsias selecionadas do grupo que compreende insetos, aracnídeos, artrópodes, cadáveres de pequenos animais, e combinações. Em uma realização preferencial, o referido recipiente é composto de polietileno. Em uma realização preferencial, o referido anel de vedação é composto do mesmo material que a tampa. Em uma realização preferencial, a referida borda é confeccionada no mesmo material do referido recipiente. Estes e outros objetos da invenção serão imediatamente valorizados pelos versados na arte e pelas empresas com interesses no segmento, e serão descritos em detalhes suficientes para sua reprodução na descrição a seguir. Breve Descrição das Figuras A Figura 1 ilustra uma vista em perspectiva de um frasco para biópsia de acordo com o presente modelo de utilidade, exibindo as partes internas da tampa. A Figura 2 ilustra uma vista adicional em perspectiva de um frasco para biópsia de acordo com o presente modelo de utilidade. Descrição Detalhada da Invenção Os exemplos aqui mostrados têm o intuito somente de exemplificar uma das inúmeras maneiras de se realizar o modelo de utilidade, contudo, sem limitar o escopo da mesma. Recipiente para Biópsias 138 O recipiente para biópsias do presente modelo de utilidade compreende: (1) borda de segurança contornando a boca do recipiente; (2) anel de vedação de dimensões compatíveis com a referida borda; (3) rosca significativamente grossa; e (4) porção chanfrada. Em uma realização preferencial, o referido recipiente é destinado ao armazenamento e transporte de amostras de tecidos do sistema nervoso. Em uma realização preferencial, o referido recipiente é destinado ao armazenamento e transporte de biópsias selecionadas do grupo que compreende insetos, aracnídeos, artrópodes, cadáveres de pequenos animais, e combinações. Em uma realização preferencial, o referido recipiente é composto de polietileno. Borda de Segurança Entende-se por borda de segurança no presente modelo de utilidade um aro horizontalmente plano que percorre toda a borda interna da boca do referido recipiente, impedindo que o conteúdo do recipiente derrame ou escorra pela borda externa do mesmo. Em uma realização preferencial, a referida borda é confeccionada no mesmo material do referido recipiente. Anel de Vedação De acordo com o presente modelo de utilidade, entende-se por anel de vedação um sulco na parte interna da tampa que, no fechamento do recipiente, é comprimido ao redor da borda de segurança do recipiente, proporcionando uma completa vedação do mesmo. Em uma realização preferencial, o referido anel de vedação é composto do mesmo material que a tampa. Porção Chanfrada 139 No presente modelo de utilidade, a porção chanfrada protege a tampa para não ser sacada de forma brusca. Em uma realização preferencial, a referida parte chanfrada está localizada logo abaixo da rosca e circula todo o recipiente. Exemplo 1. Realização Preferencial Foi confeccionado um recipiente para biópsias de polietileno conforme as Figuras 1 e 2. Na sua extremidade superior, possui uma borda de segurança medindo 4mm de largura contornando o diâmetro (boca) do recipiente, tendo por finalidade evitar que parte da amostra role pela parede externa do recipiente, e por ficar pressionada pelo anel de vedação da tampa, que se encontra firmemente apertado por três roscas grossas, determina a completa vedação e acondicionamento seguro da amostra; a parte chanfrada medindo 5mm de largura que circula todo recipiente, protege a tampa para não ser sacada de forma brusca. A extremidade inferior (fundo) é plana e possui diâmetro de 4,5 cm, o que lhe assegura uma base estável e contribui para melhor armazenamento dos recipientes. Sua tampa foi produzida com o mesmo material e cor diferente, assegurando a orientação no armazenamento e transporte, medindo 4,5 cm de diâmetro e 1 cm de altura, acompanha o perfil do recipiente e facilita a abertura de três roscas grossas internas que se enroscaram com as externas do recipiente aproximando a borda de segurança ao anel de vedação (ressalto fixo situado na parte interna da tampa) produzindo a vedação e a segurança necessária para o acondicionamento e transporte da amostra de biópsia. O supra citado recipiente possui capacidade para acondicionar (armazenar) cerca de 100g de material biológico. Na sua extremidade superior, possui uma borda medindo 4mm de largura contornando o diâmetro (boca) do recipiente; acompanhada por três roscas grossas externas, seguida de um parte chanfrada medindo 5mm de largura que circula todo recipiente. A extremidade inferior (fundo) é plana e possui 4,5 cm de diâmetro. O recipiente do presente exemplo se mostrou adequado para armazenamento de diversas amostras, em especial às amostras de sistema nervoso central destinadas ao diagnóstico da Raiva. 140 Os versados na arte valorizarão os conhecimentos aqui apresentados e poderão reproduzir o modelo de utilidade nas modalidades apresentadas e em outros variantes, abrangidos no escopo das reivindicações anexas. Reivindicações RECIPIENTE PARA BIÓPSIAS 1. Recipiente para biópsias caracterizado por compreender (1) borda de segurança contornando a boca do recipiente; (2) anel de vedação de dimensões compatíveis com a referida borda; (3) rosca significativamente grossa; e (4) porção chanfrada. 2. Recipiente, de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por ser composto de polietileno. 3. Recipiente, de acordo com a reivindicação 1 ou 2, caracterizado por ser destinado à coleta, transporte e armazenamento de amostras do sistema nervoso central. Resumo ECIPIENTE PARA BIÓPSIAS O presente modelo de utilidade descreve um recipiente para biópsias. Em especial, o presente modelo de utilidade descreve um recipiente de iópsias com borda de segurança para evitar que o conteúdo do recipiente seja derramado. Figura 1 141 Figura 2 142 REIVINDICAÇÃO DE PATENTE 01 – TITULO: Coletor de Amostras de Sistema Nervoso Central – SNC. 02 – DEPOSITANTE: Benedito Neilson Rolim. [email protected] 03 – INVENTOR: Benedito Neilson Rolim. Fone: 3226-7625 e 8844-7625 04 – Resumo da patente de invenção: O supra citado coletor, intitulado “coletor de SNC”, será fabricado com matéria prima de alumínio ou aço inox maciço, no tamanho de 170mm de comprimento e largura variando entre 10, 15 e 30mm; com cabo em forma de bola medindo 40 ou 60 mm de diâmetro, ou de forma oblonga (modelo cabo de chave de fenda ou colher de pedreiro), conforme desenho em anexo, continuado por uma calha, cujo designer, permitirá a coleta da medula cervical e demais seguimentos do SNC sem ter que abrir a cabeça dos animais, principalmente dos humanos. 05 – Finalidade da invenção - O Coletor de SNC, tem por finalidade coletar amostras do Sistema Nervoso Central – SNC de animais que foram a óbito com suspeita de Raiva, e de acordo com legislação sanitária nacional e internacional, obrigatoriamente devem ser submetidos aos diagnósticos laboratoriais da Raiva para confirmação e consequente tomada de decisões. 06 – Relatório descritivo da patente de invenção: de Sistema Nervoso Central – SNC Coletor de Amostras - Campo da invenção: Esta invenção disponibiliza para o mercado da saúde pública e da pesquisa científica um coletor de amostras de SNC, instrumento até então não idealizado. Será fabricado em alumínio maciço ou aço inox, cuja resistência proporcionada pela qualidade da matéria prima, possibilita a coleta de amostras de SNC sem danificar o instrumento, e por ser capaz de suportar altas temperaturas pode ser esterilizado para reutilizações. - Fundamentos da invenção: A Raiva é uma doença infectocontagiosa causada por vírus neurotrópicos que atuam no SNC produzindo uma encefalomielite aguda e fatal. De notificação compulsória nacional e internacional necessita da comprovação laboratorial, a qual é feita através das provas laboratoriais de Imunofluorescéncia Direta - IFD e Inoculação em Camundongos – IC, utilizando amostras de SNC, MS/SVS; 2008. Problema: O Ministério da Saúde – MS/Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS, determina o envio de amostras de SNC correspondendo a 0,2% da população canina, para os laboratórios de referência no diagnóstico laboratorial da Raiva dos Estados, MS/SVS, 2008. De acordo com o Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva, MS/CVS, p.37- 43, 2008. Para a adequada colheita do material destinado ao diagnóstico laboratorial da Raiva, a cabeça do animal deve ser retirada e fixada em uma mossa (torno comum em oficina), proceder a dissecação dos músculos da cabeça até expor a calota craniana por inteira, em seguida, 143 utilizando serra com lâmina (utilizada na construção civil), serra as laterais do crânio, do occipital ao frontal, as partes serradas são unidas por uma terceira serrada de forma horizontal acima dos olhos, rebater o osso com o cinzel deixando o encéfalo exposto, com a pinça de dissecação e a tesoura se extrai o encéfalo. Mesmo essa colheita sendo feita no laboratório por pessoas capacitadas, em local e com ferramentas apropriadas, torna-se difícil e muito trabalhosa. Porém, a maioria das colheitas são feitas a campo e por pessoas não habilitadas, mas, interessadas no exame, até mesmo por orientação dos profissionais da saúde que atendem pessoas agredidas por animais, e recomendam, se o animal agressor morrer, levar a cabeça ou o animal inteiro para o laboratório de diagnóstico da Raiva, cujos resultados definem a profilaxia e as medidas de controle da doença. Os laboratórios de diagnóstico da Raiva querem receber a amostra (alíquota) e não o animal inteiro ou a cabeça, pelo problema gerado com o armazenamento e descarte das carcaças. Estes laboratórios estão sempre localizados nas grandes cidades (Capitais), mas atendem os demais municípios, os quais são responsáveis pela remessa do maior número de amostras do Estado. Por não existir um coletor adequado para coletar tais amostras, os animais chegam ao laboratório, inteiros ou suas cabeças acondicionadas em caixas de papelão ou isopores reutilizados, contaminando por onde for passando e desta forma, propagando a doença. Tal conduta aumenta os riscos de infecção por manipulação inadequada deste material infectado, reduz o número de amostras enviadas, como também, compromete a qualidade e consequentemente os resultados dos exames, assim como, as atividades de profilaxia, vigilância e controle da doença. Solução: Idealizar um coletor de SNC com tecnologia adequada para coletar amostras de SNC sem abrir a cabeça do animal que for a óbito suspeito de Raiva, o qual deve ser submetido ao diagnóstico laboratorial para Raiva. Objetivo: Disponibilizar para saúde pública e a pesquisa um coletor de SNC apropriado para coletar de forma prática e segura amostras de SNC de animal que for a óbito suspeito de Raiva, sem abrir a cabeça, contribuindo assim, com o diagnóstico, profilaxia, epidemiologia e controle da doença. Descrição geral: O supra citado coletor de SNC (instrumento), será fabricado em alumínio ou aço inox maciço, matéria prima que por sua solidez (resistência) proporcionara: segurança e facilidade durante o procedimento de coleta, qualidade pela forma e aparência da amostra coletada, e economia pela possibilidade de ser lavado (higienizado), esterilizado, desinfetado e reutilizado em outras coletas, sendo de baixo custo e fácil aquisição. Os animais se encontram classificados de acordo com o porte físico (tamanho) em pequenos, médios e grandes, para atender esta variedade, os coletores serão fabricados em tamanhos e largura proporcional a necessidade de penetração no encéfalo e diâmetro do forame do 144 occipital dos animais; com comprimento único de 170mm, largura e ponta romba (reta) variando nos tamanhos: pequeno 10mm X 0,5mm, médio 15mm X 10mm, e grande 30 X 15mm. Possui cabo esférico e maciço em forma de bola, medindo 40 ou 60 mm de diâmetro, garantindo apoio, firmeza e facilidade durante a manipulação para coleta; continuado por uma calha elíptica e côncava que mede 100mm de comprimento e possui bordos chanfrados de dentro para fora na altura de 0,2mm. Outros tipos de cabo podem ser utilizados, como o de uma chave de fenda, ou, o de uma colher de pedreiro, sempre resguardando a qualidade do material, conforme modelo abaixo. O designer desse instrumento permitira a coleta da medula cervical e demais seguimentos do SNC, de forma simples, rápida e segura, sem ter que abrir a cabeça dos animais, especialmente dos humanos, reduzindo os riscos de infecção e otimizando o processo de coleta de medula cervical e demais segmentos do SNC, consequentemente contribuindo com a saúde pública e a pesquisa científica. Referência bibliográfica, Manual de diagnóstico laboratorial da Raiva, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília-DF, MS/SVS: 2008. MODELOS E VISÃO BÁSICA DE UM COLETOR DE SNC 145