ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica A MÚSICA NOSSA DE CADA DIA... Qual é seu gênero musical favorito? Rock, pop, funk, pagode, axé, MPB... E em música clássica ou música erudita, você já ouviu falar? Então vamos conversar um pouco sobre o imenso mundo da música. Música é a arte dos sons, combinados de acordo com as variações da altura, proporcionados segundo a sua duração e ordenados sob as leis de estética. (Maria Luiza de Mattos Priolli, 1989, p. 6) Variação de altura? Duração? Leis da estética? O que é isso? Vamos com calma, uma coisa de cada vez. Primeiro vamos conhecer um pouco da história da música, que é tão antiga quanto o homem. A palavra música vem do grego – musiké téchne – que significa a arte das musas. De batidas com bastões, passando pelos gritos e imitação dos sons da natureza, dos instrumentos feitos de pedra, madeira e ossos... à criação em bronze e cobre que permitiram um avanço na arte musical de algumas civilizações, muita água rolou, ou melhor, muita música foi executada. Na Antiguidade, as primeiras atividades musicais estavam associadas à magia, a rituais religiosos, a festas ou a guerras e, atualmente, não se tem referência de nenhum povo ou civilização que não tenha manifestações musicais. Na Antiguidade, para egípcios, gregos e romanos, a música era fundamental em todas as atividades do dia. Na civilização egípcia havia música tanto para o faraó como para os trabalhadores no campo; na Grécia, foi inventado o órgão e os teatros eram acompanhados por músicas, aliás, a música era disciplina obrigatória na formação dos jovens e, em Roma, as pessoas que detinham maior poder financeiro aprendiam música e realizavam concertos em suas casas. A música medieval foi marcada pelo cristianismo, pois os monges desenvolveram a teoria e a escrita musical, que evoluiu durante os mil anos de Idade Média, período em que começou a haver separação entre música religiosa e popular ou profana, cuja principal diferença está nos instrumentos utilizados: a música religiosa usava órgão, enquanto a popular ou profana utilizava a rabeca, o saltério, o alaúde, a sanfona e o realejo. No Renascimento, os governantes e pessoas influentes, com poder aquisitivo elevado, promoviam festas e cediam espaço aos compositores para que mostrassem suas obras à sociedade, contribuindo dessa forma para evolução da música. Foi no período Barroco que a música instrumental atingiu a mesma importância que a musica vocal. Nessa época, a orquestra se estruturou e surgiram a ópera e o ballet. É uma música exuberante, de frases melódicas longas, diferente da música clássica, cujas frases melódicas são curtas. Os compositores clássicos se concentravam em Viena, considerada como a capital da música clássica. No Romantismo, período da liberdade de expressão e de sentimentos, Roma e Viena tornaram-se os principais centros da música, onde apareceram grandes salas de espetáculos, as obras eram grandiosas e a orquestra atingiu grandes dimensões. O século XX e seus avanços tecnológicos contribuíram para popularizar a música, que, teoricamente, não era e não é mais privilegio dos ricos. Alguns compositores exploram as possibilidades sonoras com instrumentos improvisados e outros eletrônicos. No final do século XX e começo do século XXI, intensificou-se a exploração dos sons produzidos por objetos e pelo próprio corpo, assim como faziam os nossos antepassados pré-históricos, porém, com conhecimento científico. Hermeto Pascoal é um dos grandes nomes da música brasileira que inova e produz música com instrumentos aliados aos sons da natureza e objetos, alguns inimagináveis. É o que vocês jovens chamam hoje de uma composição “irada”, “muito doida”, mas com uma qualidade invejável. ATIVIDADE Acesse o site www.hermetopascoal.com.br e leia mais sobre a vida e a obra de Hermeto Pascoal. Ao ler, perceba as possibilidades sonoras propostas em suas composições. Você vai perceber que fazer música pode ser muito divertido. Após este breve passeio histórico pelo mundo da música, percebemos que ela sempre fez parte tanto dos momentos especiais como no cotidiano das pessoas. A música tem o poder de envolver a mente, de liberar emoções, de provocar mudanças de comportamento ou atitudes e é uma necessidade do indivíduo, que, através dela, supera e ultrapassa seus próprios limites. O cantor Jessé escreveu, sobre isso, em sua composição “Cantar”. Eu canto um tanto pra você dançar E outro tanto pra me divertir Eu canto alto pra deixar voar Um canto forte pra você ouvir Eu canto alto pra deixar voar... Para Jessé, compor criativamente, escrever sobre os sentimentos de modo que os outros entendessem e sentissem o que estava expresso em sua música era a superação de seus limites. Do mesmo modo, um alpinista supera seus limites quando sobe uma montanha mais alta, o maratonista melhora seu tempo de corrida, ou simplesmente quando uma pessoa compra algo que desejava muito. Quanto a essa superação de limites, o educador Paulo Freire diz que “a vocação ontológica do ser humano é ser mais e não menos”, ou seja, é da natureza do indivíduo estar sempre buscando sua humanização. Justamente por se considerar um ser inacabado, cada ser humano deseja “ser mais”. Entendendo melhor! Ontológica ontos = ser (grego) Logo, a vocação do ser humano é sempre ser mais, mesmo quando tentam lhe negar a liberdade, a humanidade, pois, na consciência de se perceber desumanizado, encontra possibilidade de lutar para ser mais – ser mais feliz, mais criativo, mais participativo, protagonista da sua história, mesmo diante da realidade opressora imposta pelo sistema social e político, disseminado pelas mídias. O poeta Fernando Pessoa diz que “A realidade é sempre mais ou menos do que aquilo que a gente quer”. É mais quando ela nos proporciona momentos de intensa alegria, quando superamos nossos desafios para além do que esperávamos, atingindo uma felicidade impensada, plena. Momentos como esses alimentam a alma para toda uma existência, nos transmitem a sensação de que nada falta, assim como conseguir a realização de um sonho, de um desejo a mais do queríamos ou esperávamos conseguir. A realidade é menos quando o sujeito está aprisionado a uma realidade que ele não quer, quando forças antagônicas o impedem de ultrapassar as barreiras que lhe são impostas, entrando em estado de agonia, muitas vezes desprovido de forças para recomeçar. Leia abaixo, parte da música “Agonia”, escrita por Mongol e interpretada por Oswaldo Montenegro, que retrata esse sentimento: Se fosse resolver Iria te dizer Foi minha agonia Se eu tentasse entender, Por mais que eu me esforçasse Eu não conseguiria E aqui no coração Eu sei que vou morrer Um pouco a cada dia. Você percebeu a ligação entre as palavras protagonista, antagônica e agonia? Ágon é um termo grego, que, segundo o dicionário Houaiss, significa: luta, competição, disputa, conflito, discussão, combate, jogo. ATIVIDADE O texto diz que devemos ser protagonistas de nossa história. Pesquise: O que é protagonista? Você é protagonista de sua própria história? Enfrenta seus ágons? Semiótica é uma ciência que estuda os signos ou significações culturais, como a música, a dança, o teatro, as artes visuais, os gestos, os gostos, enfim, os fenômenos da natureza. Alguns estudiosos analisam a relação entre a música e o ser humano através da semiótica e através dela explicam as conjunções e as disjunções de nossos ágons, ou seja, nossas vitórias, nossas derrotas e a luta para recomeçar, pois a vocação do ser humano é mais e não menos. Porque uma pessoa pode cantar Como falar, como amar e respirar A minha voz é mais uma voz no ar Afinada no mar da canção popular. Jessé O grande escritor Érico Veríssimo, em seu romance “Música ao Longe”, escreveu: “O amor é como música ao longe, você consegue ouvi-la, mas não consegue defini-la”. E Caetano Veloso compôs: Alguém Cantando Alguém cantando longe daqui Alguém cantando ao longe, longe Alguém cantando muito Alguém cantando bem Alguém cantando é bom de se ouvir Alguém cantando alguma canção A voz de alguém nessa imensidão A voz de alguém que canta A voz de um certo alguém Que canta como quer pra ninguém. A literatura, em geral, está repleta de exemplos que comprovam que a música faz parte da vida. Fique atento! Talento e dedicação... Todas as pessoas nascem com potencialidades para a música, porém nem todas as desenvolvem. Algumas são incentivadas ao estudo musical desde a infância, por isso ampliam mais a sensibilidade auditiva e acabam se destacando de outras, que, por motivos culturais ou financeiros, não têm as mesmas oportunidades de crescerem musicalmente. Desenvolver a sensibilidade auditiva é importante para que o aspirante a músico perceba a variação e a combinação de sons produzidos pelo instrumento musical. Dessa forma ele conseguirá tocar mesmo sem ter todo o conhecimento científico para tal. A isso chamamos “tocar de ouvido”. Então popularmente se acredita que tais pessoas têm dom natural para música, são talentosas, como se fosse o talento, um presente dos deuses, mas isso é mito. Dom ou habilidade artística sem dedicação não é suficiente para ser um bom músico. Mozart, compositor clássico, tocava desde muito cedo, porém suas composições mais elaboradas surgiram após dez anos de prática. Ele estudou muito para aperfeiçoar seus conhecimentos. Era filho de uma família muito rica, o pai também era compositor e seu mundo familiar e social era sempre repleto de muita música, o que contribuiu para que tenha se tornado um grande mestre. Como vimos anteriormente, para o aprendizado musical é necessária muita dedicação, com uma boa dose diária de estudos teórico-práticos. Mozart, Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart, nasceu em 27 de janeiro de 1756 em Saltszburgo, na Áustria, e faleceu em 1791. Aos 3 anos já estudava música e com 5 anos fez suas primeiras composições. Seu pouco tempo de vida foi suficiente para que ele fosse considerado um dos maiores nomes da música clássica. Compôs mais de 600 obras entre sinfonias, óperas, composições para piano e câmara e influenciou profundamente a música ocidental. Ludwig van Beethoven (1770-1827), em suas primeiras obras, seguiu ou passos de Mozart, que, por sua vez, inspirou-se no compositor barroco Johan Sebastian Bach (1685-1750). “A posteridade não verá um talento como esse em 100 anos” – disse Josefh Haydn (1732-1809) sobre Mozart. O músico amador ou aquele que “toca de ouvido” precisa estudar e ouvir muitas vezes a mesma melodia para aprender a tocá-la. O músico profissional, além do ouvido sensível e apurado, necessita do conhecimento científico da teoria musical para ler as partituras e/ou elaborar suas composições. A TEORIA MUSICAL Como a teoria musical é muito ampla, vamos estudar apenas alguns princípios básicos necessários para analisar composições de diferentes épocas e realizar alguns exercícios musicais, como leitura de partituras simples e canto em coro, que é o mesmo que cantar em grupo ou canto coletivo. Música é a arte de combinar sons... A palavra som vem do latim sonus e significa a vibração de um corpo percebida pelos ouvidos. Exemplo: Bata com o lápis na carteira, ela vibra e a vibração se propaga pela madeira, provocando o som. As vibrações regulares produzem os sons musicais, mas, quando irregulares, produzem ruídos, e estes, normalmente, nos incomodam, pois causas desconforto auditivo. Estamos rodeados de sons. Alguns agradáveis e outros desagradáveis, dependendo do ouvido e das experiências de cada um. O som do vento pode ser agradável ou provocar medo, assim como a explosão de fogos de artifício. Sons ou ruídos muito altos podem ser maléficos aos ouvidos, principalmente em tempo prolongado, podendo matar células fundamentais para a audição. Quando convivemos com um alto índice de sons e ruídos simultaneamente, vindos das mais diferentes fontes – rádios, alto falantes, buzinas dos carros, vozes de pessoas falando ao mesmo tempo – dizemos que estamos sob uma forte poluição sonora. Já observou como, em alguns casos, você se acostuma com o barulho de modo a não percebê-lo? Elementos fundamentais da música Os elementos fundamentais que compõem a música são: o ritmo, a melodia e a harmonia. O ritmo é o movimento dos sons, que podem ter maior ou menor duração. A palavra ritmo provém do indo-europeu, Sreu (fluir) e do grego Rhytmos (medida, movimento, recorrente e regular, ritmo, rima). O ritmo foi percebido na Pré-História quando o homem notou que algo batia dentro do próprio corpo (o coração) e quis externalizá-lo. O homem primitivo, utilizando seus próprios meios, imitou os sons de sua experiência com a natureza, ouvindo o quebrar dos ramos quando caminhava pelas matas, o sussurrar do vento nas árvores, o ruído das águas no regato, a percussão da maré batendo regularmente na praia e, assim, passou a conhecer o ritmo por meio da natureza. Galway (1987) A palavra melodia vem do grego Meloidia – melos: canção + oidia: cantante/ Aoidein: cantar. Consiste na sucessão de sons formando sentido musical, com características essenciais que nos permitem cantar. Toda melodia combina tons altos e baixos, graves e agudos, fortes e fracos, de intensidade alta ou baixa, criando vários ritmos. A harmonia consiste na combinação simultânea de dois ou mais sons de modo coerente. Desde o século passado, o termo harmonia é usado para designar “acordes”, que é o conjunto de notas tocadas ao mesmo tempo. É complexa e intelectual, uma qualidade da audição que poucos conquistam. . AS QUALIDADES OU PROPRIEDADES DO SOM As propriedades do som formam a estrutura musical. São os elementos formais da música. Timbre: É a qualidade do som que permite reconhecer sua origem. São características que nos permitem perceber se o som vem de uma voz feminina ou masculina, de um piano ou de um violão. Curiosidade... Pesquisas modernas estão tentando provar que todos os homens têm vozes diferentes. Haveria, assim, uma impressão vocal, da mesma maneira que existe uma impressão digital. (Chaves Júnior, 1989 apud ARTAXO e MONTEIRO, p. 27). Intensidade: É a propriedade de o som ser mais forte ou mais fraco em relação a outros sons. Na música, essas variações de força dos sons são chamadas de dinâmica e transmitem maior expressividade. Exemplo: Uma pessoa aplaudindo uma apresentação musical é menos intensa do que 100 pessoas aplaudindo. Neste caso, o aplauso de uma pessoa é fraco e o aplauso de 100 pessoas é forte. Altura: Em música, altura é a diferença entre os sons musicais. É determinada pela frequência dos sons, ou seja, pelo número de vibrações que cada onda sonora emite em determinado intervalo de tempo. Dizemos que a altura do som pode ser grave ou agudo. Quanto menor o número de vibrações, mais grave será o som e, quanto maior o número de vibrações sonoras, mais agudo será o som. Exemplos: - O canto do pássaro é um som agudo em relação ao som grave de um trovão. - A voz masculina, geralmente é mais grave que a voz feminina. Duração: É o tempo de produção do som que pode ser longo ou curto. Exemplo: O canto da cigarra é longo em relação ao estouro de um balão. Atividade Vamos utilizar nossa voz para fazer alguns exercícios envolvendo alguns elementos e propriedades do som: - A turma deve selecionar uma frase, um verso ou pequeno poema; - Pedir à turma que diga a frase algumas vezes: gritando, cochichando, falando baixo, em voz alta, falando grosso (grave) e falando fino (agudo), falando sorrindo, chorando, zangado. - Podemos variar a duração dos sons, recitando a frase normalmente, lentamente, depois mais rápido, mais rápido, mais rápido... - Outra variação possível: escolher uma ou mais palavras para recitar com mais força e outra com menos força. Não force a voz para não prejudicar suas cordas vocais! Como surgiu a escrita musical? A escrita musical surgiu com a invenção do papel e o nosso ponto de partida para estudar a música como nos interessa neste momento é o período medieval, quando os monges europeus, trancados em mosteiros, pesquisavam combinações de sons para aperfeiçoar os cantos em cerimônias religiosas, pois esses cantos se tornavam cada vez mais elaborados. Eles desenvolveram um modo de registro através de símbolos -- símbolos que em nada se parecem com os símbolos atuais, aos quais nós chamamos de escrita musical. Frei Guido D’Arezzo, músico importante do século Xl, foi quem deu nome aos sons musicais. Ele utilizou a primeira silaba de cada verso do hino cantado a São João Batista, protetor das cordas vocais. UT queant Laxix RE sonare Fibris MI ra gestorum FA muli Tuorum SOL ve polluti LA bri Reatum Sanctre Ioannes. Tradução do poema: Purificai, bem-aventurado João, os nossos lábios polutos, para podermos cantar dignamente as maravilhas que o Senhor realizou em ti. Dos altos céus vem um mensageiro a anunciar a teu Pai, que serias um varão insigne e a glória que terias. Notas Musicais: UT, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ e SI. Difícil de ser cantada, a sílaba UT foi substituída por DÓ. O SI foi formado com a primeira letra de Sanctre e com a primeira letra de Ioannes. ATUALMENTE... Notas Musicais: DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ, SI Veja como as notas estão dispostas no teclado Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje AS FIGURAS DAS NOTAS Originalmente, as figuras das notas tinham forma de losangos. Com a invenção da imprensa, os símbolos quadrados foram substituídos por bolinhas, pois as formas quadradas se misturavam no momento da impressão, prejudicando a leitura. Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje AS PAUSAS Você já deve ter ouvido, em algumas canções, um momento em que cessam os sons dos instrumentos, permanecendo, por alguns instantes, o silêncio. Na escrita musical, o silêncio é representado pela figura da pausa. Cada nota tem uma pausa diferente, assim como está representado no quadro abaixo. Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje A DUUUURRRAAAÇÇÇÇÃÃÃÃOOOO DOOO SOOOMM! O sistema de duração é baseado na semibreve, a mais longa figura em uso. Definido o tempo de duração da semibreve, as demais notas são as suas frações. Cada uma das figuras vale a metade do valor da anterior e o dobro da nota seguinte. Observe o quadro abaixo: Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje Atividade Um breve exercício: Conte, compassadamente, até 4, o que significa contar cada tempo (1-2-3-4, 1-2-3-4...), até que tenha se acostumado com o ritmo. - Agora pronuncie o som do “A” e conte mentalmente até 4, como fez anteriormente. Pronto, esta é a duração do som de uma semibreve, em nossos estudos. No mesmo tempo de duração de uma semibreve, cabem 2 mínimas ou 4 semínimas, 8 colcheias, 16 semicolcheias, 32 fusas ou 64 semifusas. Pauta: Pauta ou pentagrama é um conjunto de 5 linhas e quatro espaços, contados de baixo para cima, usado para escrever as notas: 5ª linha________________________________________________ 4ª linha________________________________________________4º espaço 3ª linha________________________________________________3º espaço 2ª linha________________________________________________2º espaço 1ª linha________________________________________________1º espaço Outros símbolos ou elementos musicais são escritos na pauta para que o músico saiba exatamente como executar a composição. A clave é um sinal bem conhecido por todos. A clave é utilizada para dar nome à nota. É através dela que o músico sabe se o som a ser produzido é um dó ou ré por exemplo. Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje A clave de sol é escrita na 2ª linha A clave de fá é escrita na 3ª e na 4ª linha A clave de dó é escrita na 1ª, na 2ª, na 3ª e na 4ª linha A mais usual é a clave de sol e a menos utilizada é a clave de dó. Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje No desenho acima, a clave de sol dá seu nome à nota escrita na 2ª linha, assim como os dois pontinhos da clave de fá escrita na 4ª linha dá nome à nota escrita na 4ª linha. Compassos Compasso musical é a pulsação rítmica da música que se repete regularmente, dividindo-a em partes iguais, em sequências de 2, 3, 4 ou mais tempos. Cada grupo de notas é separado por um travessão – uma linha vertical. Abaixo temos um compasso binário, ternário e quaternário: Ilustração: Hugo Leonardo Alves Matjje Observe o compasso binário, por exemplo, ele tem duas divisões, sendo que as duas possuem o mesmo tempo – a primeira divisão apresenta duas semínimas, cada uma delas tem duração de um tempo e somadas, equivalem à duração de 2 tempos. A segunda divisão apresenta uma mínima que tem duração também de dois tempos. Atividade Observe a partitura abaixo e identifique os elementos estudados até agora. Trata-se de uma partitura adaptada da obra de Beethoven. Ilustração: Hugo Leonardo Alves Mattje MÚSICA ERUDITA Agora que você tem o mínimo de conhecimento sobre a teoria musical, vamos analisar outros aspectos. Neste texto vamos priorizar composições eruditas. Aliás, qual é a diferença entre erudito e popular? O termo erudito vem do latim eruditus e significa “educado”, “instruído”. A música erudita é, portanto, fruto de pesquisas, de conhecimentos científicos e não de tradições populares ou folclóricas. Ela se desenvolveu nos moldes da música secular e da liturgia ocidental, historicamente a partir do século IX até a atualidade. Entre 1550 e 1900, suas regras essenciais foram estruturadas e se diferenciam das demais pela variação de instrumentos musicais que utiliza. Basicamente, música clássica e música erudita é a mesma coisa. A expressão “música clássica” foi utilizada a partir do século XIX, com a intenção de delimitar uma era, o chamado período de ouro, que se iniciou com Bach e foi até Beethoven, referindo-se à produção musical de alto nível, hoje também se referindo à música erudita. Ela tem várias modalidades, como: as fugas, as operetas e a sonata. Espere aí... -- Fuga? Opereta? Sonata? -- Dá pra explicar melhor? Fuga é palavra grega que significa várias vozes. Então fuga é um estilo de composição polifônica, ou seja, com duas ou mais vozes que se desenvolvem mantendo o caráter melódico e rítmico. Essa modalidade música se originou na música barroca. Nesse estilo, o tema principal é repetido várias vezes por vozes diferentes, ou melhor, em outras tonalidades, entrelaçadas. Na prática, imagine a classe dividida em três grupos e cada grupo cantando a mesma música, porém cada grupo começa a cantar em momentos diferentes dos demais. É o que chamamos de cânone, porém Bach elaborou mais este estilo. Opereta ou “pequena ópera” é uma modalidade de música mais curta que a ópera e mais leve. É encenada e o elenco é formado por cantores de ópera ao estilo clássico. Surgiu da ópera cômica no século XIX na França e, por isso, é precursora da “Comédia Musical”, uma peça teatral cantada, encenada por atores que são também cantores. No início do século XX, ela deu lugar às sonatas. A palavra sonata vem do latim sonare e designava uma música para “soar”. Trata-se de uma forma musical muito rígida, dividida em três partes distintas, chamadas de tempos ou de movimentos. A sonata clássica obedece à seguinte ordem: 1º movimento: allegro – movimento rápido, no qual se desenvolvem os dois temas principais; 2º movimento: movimento lento - andante; 3º movimento: dançante - Minueto ou scherbo. Algumas sonatas clássicas tinham o quarto movimento, definido como rondo ou final. Anterior às técnicas de gravação, a audição musical só era possível ao vivo. Tocar um instrumento musical era sinônimo de cultura e, principalmente, riqueza. Os nobres tinham iniciação musical ainda crianças e, durante as reuniões festivas, promoviam apresentações para os convidados. Observe, no quadro abaixo, alguns dos compositores eruditos que se destacaram. COMPOSITOR Claudi Giovanni Antonio Monteverdi Johann Sebastian Bach Antonio Lucio Vivaldi Pyotr Ilyich Tchaikovsky Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart Frederic Chopin Giuseppe Verdi Antônio Carlos Gomes Heitor Villa-Lobos Claude Debussy PERÍODO RENASCIMENTO BARROCO BARROCO CLASSICISMO CLASSICISMO ROMANTISMO ROMANTISMO ROMANTISMO MODERNISMO MODERNISMO Na Idade Média e nos períodos que se seguiram até o Classicismo, somente a nobreza, além dos padres, tinha acesso ao conhecimento formal. Quanto mais instruído fosse o homem, maior o seu poder político ou influência na sociedade, pois somente quem tinha muito dinheiro podia pagar professores para educar os filhos e a música era disciplina obrigatória na educação formal. A música clássica se desenvolveu em um momento histórico em que os comerciantes adquiriram poder financeiro e status de ricos. Eles almejavam fazer parte de um seleto grupo de pessoas que frequentavam as altas rodas da sociedade, aumentar seu prestígio e a comercialização. Como o acesso ao conhecimento era demonstração de poder, o caminho que encontraram foi o da cultura. Encomendavam composições a grandes músicos para apresentá-las em recitais. Para agradar aos financiadores de suas obras -- os comerciantes e os músicos elaboraram composições mais simples, ao gosto do cliente, como se diz hoje em dia. A composição menos complexa musicalmente facilitava seu aprendizado pelas senhoritas emergentes (filhas dos comerciantes), para posterior exibição em público, o que aumentava o prestigio da família. Dessa forma, a música se popularizou, porém a música clássica não deve ser considerada como uma música menor, mas uma música mais leve, suave. MÚSICA POPULAR A música popular tem presença constante em nossa vida. Está nos bares, restaurantes, clubes, reuniões de amigos, enfim, ouvimos música quase o tempo todo. Feita para atender ao gosto de uma determinada camada social, a música popular se diferencia da música erudita pela menor complexidade musical da composição. Isso, porém, não é regra geral, pois o jazz, por exemplo, utiliza alguns acordes pouco usuais e alguns sambas apresentam variações rítmicas mais elaboradas. Por fazer parte do cotidiano das pessoas, atualmente a música popular está vinculada a negócios com fins lucrativos. As empresas selecionam composições que atendam a algumas exigências do mercado consumidor, investem em recursos tecnológicos e midiáticos para que a composição selecionada atinja grandes índices de audiência, sugestionando o consumo pelo expectador ou ouvinte. Os jovens músicos são impulsionados, geralmente, a expressar, de forma criativa, seus sentimentos e o modo como percebem o mundo que os rodeia através de suas composições. A necessidade de subsistência obriga-os, porém, a ceder às exigências impostas pelo mercado de consumo, entre as quais comumente não encontramos intenções humanistas, tais como o desenvolvimento da sensibilidade para tornar o ser humano um ser sociável, capaz e em paz consigo mesmo e com os outros, um ser que se emociona com as delicadezas da natureza, como o canto dos pássaros, o barulho do vento, o despertar em um dia ensolarado ou o barulho da chuva que, em sua natureza, faz produzir o alimento para o nosso corpo. E, por falar em alimento, a música pode ser o alimento da alma. Para o filósofo Nietzsche, a música possibilita que a gente reencontre nosso equilíbrio interior quando ele sai dos gonzos. Pense nisto! No Brasil e no mundo são muitos os gêneros musicais, geralmente associados à determinada faixa etária. É comum que o gênero que agrada a uma faixa etária não agrade a outra pessoa. Por exemplo, quem aprecia música sertaneja pode não gostar de rock ou de axé, o que é absolutamente normal e deve ser respeitado. Afinal, o que seria da música popular se todos gostassem da música clássica? ATIVIDADE Faça uma pesquisa entre seus familiares, amigos e vizinhos. É necessário selecionar as pessoas por idade. O objetivo da pesquisa é saber qual é o gênero musical mais apreciado pelos entrevistados. Confronte o resultado da sua pesquisa com a de seus colegas e registre os gêneros citados. Em grupos, pesquisem, na internet ou emissoras de rádio, os gêneros que vocês desconhecem. Gravem em aparelho celular, em pendrive ou outro recurso tecnológico disponível e, posteriormente, apresenterm para a turma o resultado do trabalho. INDÚSTRIA CULTURAL O termo indústria cultural é utilizado para definir um conjunto de empresas, de emissoras de rádio e de televisão, entre outras mídias, que se apropriaram da cultura, transformando-a em mercadoria e incentivando o consumo da produção cultural e intelectual de modo incessante. Através das mídias, a indústria cultural dita regras, estabelece padrões de beleza, comportamento e valores, não se preocupa com o caráter crítico do expectador enquanto ser humano capaz de pensar, sentir e agir, considerando o homem apenas como objeto de trabalho e de consumo. A indústria cultural é fruto do capitalismo e, para este sistema econômico, o objetivo maior é o lucro. O ter se sobrepõe ao ser e a realização pessoal do indivíduo não se vincula mais às necessidades básicas, como a educação e a saúde. A música não escapa aos interesses da indústria cultural. Todos os dias somos surpreendidos com produções musicais que menosprezam os valores humanos, como o respeito próprio e ao outro. Se traçarmos uma linha do tempo, perceberemos que a música foi utilizada não somente para elevar o espírito em oração, como no canto gregoriano, mas para cumprir papel social determinante de poder. A música barroca, a exemplo da medieval e da renascentista, era de difícil execução, feita para quem entendia de música – igreja e nobres. O povo não tinha acesso à cultura. Posteriormente, com a ascensão dos comerciantes, também chamados de burgueses fidalgos, passaram a financiar a cultura e a música, além de agradável aos ouvidos do contratante, passou a ser de mais simples execução, para que as jovens emergentes aprendessem a tocar com mais facilidade e pudessem se apresentar em reuniões sociais oferecidas aos amigos, o que determinava prestígio. Esse período, conhecido como clássico, não produziu uma música menor, mas uma música equilibrada e suave. Percebe-se, portanto, que a música e outras manifestações culturais há muito tempo estão servindo a interesses do mercado capitalista, fenômeno que se acentuou no século XX. ATIVIDADE Tente se lembrar de uma música que não lhe agrada e outra que lhe agrada. Escreva a parte da letra que mais lhe chama atenção de cada uma das composições. Analise: Qual é o tema principal da história descrita na música? Que valores essa história lhe transmite? Registre suas impressões sobre cada uma das composições, referindo-se à letra e não à melodia. Referências Bibliográficas ARTAXO, Inês; MONTEIRO, Gizele de Assis. Ritmo e movimento. São Paulo: Fhorte Editora. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 (versão digitalizada). _____________Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura) - (versão digitalizada). GALINDO, João Mauricio. Música: pare para ouvir. São Paulo: Melhoramentos, 2009. HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. PARANÁ. Secretaria da Educação do Estado do Paraná. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares de Arte. Curitiba: SEED/DEB, 2008. PRIOLLI, Maria Luiza de Mattos. Princípios básicos da música para a juventude. Rio de Janeiro: Casa Oliveira de Músicas, 1989. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989. GALWAY, J. A música no tempo. São Paulo: Martins Fontes, 1987. ZAGONEL, Bernadete. Pausa para ouvir música: um jeito fácil e agradável de ouvir música clássica. Curitiba: Instituto Memória Editora e Projetos Culturais, 2008. Documentos consultados on-line: HISTÓRIA da música. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/História_da_músi ca>. Acesso em: 23 abr. 2010, 21:40. HISTÓRIA da música. Disponível em: <www.scribd.com/.../ARTIGO-OrigemPeriodos-da-Historia-da-Musica-Resumo>. Acesso em: 23 abr. 2010, 23:00. TEORIA musical. Disponível em: <www.cifras.com.br›Tutoriais›TeoriaMusical>. Acesso em: 24 abr. 2010, 0:45. MOZART(a). Disponível em: <almanaque.folha.uol.com.br/musicamozart.htm>. Acesso em: 24 abr. 2010, 13:05. MOZART(b). Disponível em: <www.suapesquisa.com/pesquisa/mozart.htm>. Acesso em: 24 abr. 2010, 13:06. HAYDN. Disponível em: <www.classicos.hpg.ig.com.br/haydn.htm>. Acesso em: 25 abr. 2010, 11:00. OPERETA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Opereta>. Acesso em: 9 maio 2010, 21:00. SONATA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Sonata>. Acesso em: 9 maio 2010, 21:25. JESSÉ. Disponível em: <www.letras.com.br/biografia/jesse>. Acesso em: 2 ago. 2010, 9:00. CAETANO VELOSO. Disponível em: <www.letras.com.br/biografia/caetano veloso>. Acesso em: 2 ago. 2010, 9:30. FERNANDO PESSOA. Disponível em: <www.pensador.info/textosdefernando pessoa/2/>. Acesso em: 2 ago. 2010, 20:36. ÉRICO VERÍSSIMO. Música ao longe. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Música_ao_Longe>. Acesso em: 2 ago. 2010, 20:42. SEMIÓTICA. Disponível em: <www4.pucsp.br/pos/cos/cepe/semiotica/semioti ca.htm>. Acesso em: 2 ago. 2010, 21:15.