Amplificação, Clonagem e Expressão de Regiões dos Genes E1 e E2 das Proteínas de Envelope (E) do Vírus Mayaro em Sistema Procariótico. DENISE DE OLIVEIRA RESENDE MARQUES Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia Experimental do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia como requisito para obtenção do titulo de mestre em Biologia Experimental. Área de concentração: Virologia Porto Velho-RO Novembro-2006 2 Amplificação, Clonagem e Expressão de Regiões dos Genes E1 e E2 das Proteínas de Envelope (E) do Vírus Mayaro em Sistema Procariótico. DENISE DE OLIVEIRA RESENDE MARQUES Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia Experimental do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia como requisito para obtenção do titulo de mestre em Biologia Experimental. Orientador: Prof. Dr. Luiz Hildebrando P. da Silva. Co-Orientador: Msc Eduardo Rezende Honda. Porto Velho-RO Novembro-2006 3 Catalogação Biblioteca Central/ Unir M3573a Marques, Denise de Oliveira Resende Amplificação, clonagem e expressão de regiões dos genes E1 e E2 das proteínas de envelope(E) do Vírus Mayaro em sistema procariótico./ Denise de Oliveira Resende Marques,Orientador Luiz Hildebrando Pereira da Silva. – Porto Velho, 2006. 68 f. Dissertação(mestrado em Biologia Experimental)Universidade Federal de Rondônia. 1. Virologia molecular 2. Infecções viróticas 3. Vírus Mayaro- variação I. Título CDU: 578.2 4 Candidato (a): DENISE DE OLIVEIRA RESENDE MARQUES Título da Dissertação: Amplificação, Clonagem e Expressão de Regiões dos Genes E1 e E2 das Proteínas de Envelope (E) do Vírus Mayaro em Sistema Procariótico. A Comissão julgadora dos trabalhos de defesa da Dissertação de Mestrado, em sessão pública realizada em 16/11/2006, considerou o(a) candidato(a): ( X ) Apto(a) ( 1) Examinador(a): Paulo Afonso Nogueira 2) Examinador(a): Sergio Oliveira de Paula 3) Presidente (a): Luiz Hildebrando Pereira da Silva ) Inapto(a) 5 DEDICATÓRIA: Aos meus pais: Elton e Neusa, pelas angústias e preocupações que passaram por minha causa, por terem dedicado suas vidas à nossa família, pelo amor, carinho e estímulo que me ofereceram; Aos meus filhos: José Paulo, João Marcos e Pedro Henrique pelo apoio, amor e compreensão; À minha irmã, Luciana, que apesar da distância esteve sempre ao meu lado; Dedico-lhes gratidão. esta conquista como 6 “É preciso ousar para dizer cientificamente que estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos nosso corpo inteiro. Com sentimentos, Com as emoções, Com os medos, Com a paixão e também Com a razão crítica. Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional.” Paulo Freire 7 HOMENAGENS ESPECIAIS “Amigo é coisa pra se guardar, do lado esquerdo do peito...”(Milton Nascimento) Ao meu grande amigo, Eduardo Honda, sem o qual não seria possível esta conquista. Pela orientação... desorientação... apoio, amizade, cumplicidade, tolerância, paciência e compreensão. E daqui a muitos anos, quando estivermos bem “experientes” vou me lembrar de você como alguém que de maneira direta contribuiu para que eu conseguisse alcançar este sonho; Ao meu amigo, Milton Luiz Moreira- Secretário de Estado da Saúde/Rondônia, que mesmo sem acreditar que é possível tornar realidade um grande sonho e acima de tudo ser feliz, me ofereceu apoiou irrestrito a decisão de buscar o conhecimento e pelo exemplo de dedicação ao trabalho; A Dra Fátima Santos, pela ajuda, correções, carinho e encorajamento em todos os momentos. 8 AGRADECIMENTOS A Deus, pelo cuidado especial em todas as horas e por me permitir esta ousadia; As colegas Daniele e Aldha, pela amizade, apoio, incentivo e companheirismo; Ao Tony, que apesar de nossos desentendimentos sempre foi um amigo especial disposto a me ouvir e me emprestar o ombro nos momentos difíceis; A Patrícia, pela amizade e por partilharmos do mesmo desespero com Bioquímica; Ao Dhélio, Belgrano e Quésia pela amizade; Ao Prof. Dr. Luiz Hildebrando Pereira da Silva e Dra Vera Engracia pelo incentivo à pesquisa e pelo exemplo pessoal de perseverança e competência; Ao Dr. Mauro Tada, pelo apoio a minha decisão de enfrentar o mestrado; Aos técnicos e estagiários do Laboratório de Insumos Diagnósticos do CEPEM que participaram na realização dos testes para esta pesquisa; A todos que não foram citados mas que direta ou indiretamente, colaboraram na execução deste MUITO OBRIGADA! trabalho e na concretização de um sonho, o meu 9 LISTA DE TABELAS TABELA 01- Casos notificados de dengue em Rondônia, por município, 26 no período de 2004 a 2005. TABELA 02- Genoma do Vírus Mayaro utilizadas no alinhamento com 35 auxílio do programa CLUSTAL W para construção dos primers. TABELA 03- Seqüência de Iniciadores de cadeia (Primers) utilizados para amplificação das regiões E1 e E2 do vírus MAY, Alphavírus. 38 10 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1- Casos notificados da dengue,em Rondônia, no período de 2004 a 2005. 27 11 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01- Desenho esquemático de Alphavírus. 22 FIGURA 02- Ciclo de infecção dos Alphavírus. 23 FIGURA 03- Análise por Bioinformática da Seqüência de Aminoácidos (aa) da 36 Proteína E1 do vírus MAY. Hidrofilicidade (Azul); Antigenicidade (Róseo) e Probabilidade de estar na superfície (Amarelo). FIGURA 04- Análise por Bioinformática da Seqüência de Aminoácidos (aa) da 36 Proteína E2 do Vírus Mayaro. Hidrofilicidade (Azul). Antigenicidade (Róseo) e Probabilidade de está na superfície (Amarelo). FIGURA 05- Representação esquemática do Vetor de Clonagem pGEM T Easy 40 (Promega-USA). FIGURA 06- Eletroforese em gel agarose 1,5% do produto da PCR para 47 Amplificação do fragmento do gene E1 e E2 MAY. FIGURA 07- Eletroforese em gel agarose 1,5% do produto do PCR para 48 Amplificação do fragmento do gene E1 e E2 MAY. FIGURA 08- Eletroforese em gel agarose 1,5% da Digestão do Miniprep pGEM 49 T Easy com Fragmento E2 de MAY. FIGURA 09- Eletroforese em gel agarose 1,5% da digestão do miniprep do 50 vetor de expressão pRSET A com Kpn I e Bam HI, mostrando o fragmento E1 de Mayaro FIGURA 10- Eletroforese em gel agarose 1,5% da digestão do miniprep do 51 vetor de expressão pRSET A com Kpn I e Bam HI, mostrando o fragmento E2 de Mayaro FIGURA 11- Gel de Poliacrilamida SDS/PAGE 12% mostrada o extrato bruto da lise das bactérias BL-21 com os plasmideos recombinantes E1 e E2 52 12 ABREVIATURAS CEPEM- Centro de Pesquisas em Medicina Tropical CHIK- Vírus Chikungunya CF- Casos Confirmados DC- Casos Descartados cDNA- DNA complementar DNA- Ácido Desoxiribonucleico DMSO- Dimetil Sulfóxido EDTA-Ácido Etileno Diaminico GEVEA- Gerência de Vigilância Epidemiológica Hg- Haemagogus IEC- Instituto Evandro Chagas IPEPATRO- Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia IPTG-Isopropiltioglicolato LB –Luria Bertoni MAY- Vírus Mayaro PCR- Reação em Cadeia da Polimerase PGEM T Easy-Vetor de Clonagem “AT –Promega-USA. 13 pRSET-Vetor Expansão Procarioto- INVITROGEN-USA RIFI-Reação de Imunofluorescência Indireta RT- Transcriptase Reversa RT- PCR- Transcriptase Reversa-Reação em Cadeia da Polimerase RNA- Ácido Ribonucleico SINAN- Sistema Nacional de Notificação TAE-Tris Ácido Bórico- EDTA 14 RESUMO As doenças febris agudas acompanhadas de exantemas são de difícil diagnóstico, tanto clinico como laboratorial, pela variedade de prováveis agentes etiológicos envolvidos com essas síndromes febris como também pelo fato de muitos desses agentes ainda não serem caracterizados, principalmente na região Amazônica. O vírus Mayaro foi isolado pela primeira vez em 1954 do sangue de cinco pacientes febris em Trinidad Tobago. A sintomatologia clinica dessa arbovirose limita-se a uma doença febril aguda, com intensa artralgia seguido por um “rash” maculopapular, podendo ser confundida com os sintomas da dengue em áreas onde essas duas arboviroses são endêmicas. Usando programas computacionais (PROTEAN e ANTHEPROT) para mapear regiões com potenciais antigênicos das proteínas de envelope, localizamos duas regiões com potenciais antigênicos, amplificamos por RTPCR essas regiões respectivas nos genes que codificam para essas proteínas E1 e E2 e expressamos essas proteínas recombinantes em sistema de expressão procariótico. A utilização de ferramentas de bioinformática na área de biotecnologia possibilitou a determinação de regiões específicas diminuindo o tempo e custo na pesquisa. As proteínas E1 e E2 foram expressas, purificadas e estão prontas para serem utilizadas como antígeno em ensaios imunoenzimáticos. Palavras-chave: Arbovírus, Mayaro, Sistema Procariótico, Proteínas recombinantes. 15 ABSTRACT The acute fevered illnesses accompanied by rash has difficult diagnosis, clinical and laboratory as well, because of the variety of probable etiological agents involved with these fevered syndromes and because of the fact that many of those agents are not characterized yet, mainly at Amazonian region. The Mayaro virus was isolated for the first time in 1954 from the blood of five fevered patients in Trinidad & Tobago. The clinical symptom of this arbovirus infection is just an acute fevered illness with intense joint’s inflammation followed by a stained cutaneous rash and can be confused with the Dengue symptoms where these arborvirus infection are endemic. Using computerized programs (PROTEAN and ANTHEPROT) to map regions with potentials envelope proteins antigenic, we localized two regions with potential antigenic and also enlarged by RT-PCR these respective regions in the genes which codify for these E1 and E2 proteins and expressed these recombining proteins in a prokaryotic expression system. The use of bioinformatics tools in biotechnology area made the specific region identification possible, reducing the research time and costs. The E1 and E2 proteins were expressed and purified and are ready to be used like antigen in immunoenzymatic trials. Key words: Arbovirus, Mayaro, Prokaryotic System, Recombining Proteins. 16 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE FIGURAS ABREVIATURAS RESUMO ABSTRACT 1- Introdução 17 1.1- Histórico 17 1.2- Agente Etiológico 19 1.3- Agente Vetorial 22 1.4- Epidemiologia 25 1.5- Fisiopatogenia 27 1.6- Manifestações Clinicas 29 1.7- Definição de Caso 29 2- Objetivos 31 2.1- Objetivo Geral 31 2.2- Objetivo Específico 31 3- Materiais e Métodos 32 3.1- Sementes Virais 32 3.2- Replicação Viral 32 3.3- Extração de RNA por TRIzol® 33 3.4- Confecção do DNA Complementar (cDNA.) 34 3.4.1- Transcrição Reversa – RT 34 3.4.2- Analise das Regiões Antigênicas das Proteínas Estruturais E1 e E2 do Vírus 34 17 Mayaro por Bioinformática 3.4.3- Amplificação dos Fragmentos dos Genes E1 e E2 da Proteína Estrutural do 37 Vírus Mayaro por Reação em Cadeia da Polimerase – PCR 3.5- Eletroforese do Produto de PCR. 3.5.1- Gel de Agarose 1,5%. 3.6- Purificação dos Fragmentos E1 e E2 do Gel. 3.6.1- Purificação dos Fragmentos Utilizando QIAquick Gel Extraction Kit 38 38 39 39 (QIAGEN-USA) 3.7- Ligação dos Fragmentos Purificados em Vetor de Clonagem. (pGEM T 39 Easy-Promega - USA) 3.8- Preparo de Células Competentes para Transformação 40 3.9- Transformação das Células Competentes 41 3.10- Extração Plasmidial Utilizando Perfectprep Plasmid Mini. ( Eppendorf – 42 USA) 3.11- Análise dos DNAs Plasmidiais Extraídos 42 3.12- Digestão dos Plasmídeos com Enzimas de Restrição Kpn I e Bam H I 43 3.13- Eletroforese dos Produtos de Digestão 43 3.13.1- Gel de Agarose 1,5% 3.14- Subclonagem dos Fragmentos E1 e E2 em Vetor de Expressão Procarioto( 43 43 pRSET – Invitrogen-USA) 3.15- Transformação das Ligações pRSET A com E1 e E2 de Mayaro em BL-21 44 (DE3) 3.16- Expressão das Proteínas Recombinantes E1 e E2 de Vírus Mayaro. 44 3.17- Gel de SDS/PAGE a 12% para Verificação das Proteínas Expressas E1 e 45 E2 em Sistema Procarioto 3.18- Purificação das Proteínas Recombinantes E1 e E2 4- Resultados 45 46 4.1- Isolamento Viral 46 4.2- Resultado da Extração de RNA. 46 4.3- Resultado da Amplificação por Transcriptase Reversa - RT. 46 4.4- Amplificação por PCR das Regiões do Gene E1 e E2 do Vírus MAY. 47 18 4.5- Resultado da Digestão do Vetor de Clonagem com Kpn I e BAM H I 47 4.6- Subclonagem dos Fragmentos E1 e E2 do Vírus Mayaro em Vetor de 49 Expressão Procariótico (pRSET– Invitrogen-USA). 4.7- Expressão das Proteínas E1 e E2 de Mayaro em Sistema Procariótico 51 pRSET. 5- Discussão 53 5.1 Análises por Bioinformática das Proteínas E1 e E2. 54 5.2 Expressão de Proteínas Recombinantes. 52 6- Conclusão 57 7- Referências Bibliográficas 58 19 1- INTRODUÇÃO 1.1- Histórico A região amazônica, devido a suas características ambientais e de ocupação humana, apresenta situação epidemiológica peculiar. Esta diferenciação é dada, tanto por bases ecológicas naturais, como pelas formas de ocupação e exploração (Ávila Pires, 1989). Possui uma gama de enfermidades com sintomatologias semelhantes e dificuldades no diagnóstico, fazendo com que todas, sejam nomeadas como “viroses”. As viroses humanas representam importante causa de morbi-mortalidade em nosso meio, apesar dos avanços alcançados tanto relacionados à abordagem profilática como terapêutica. Esta problemática complexa, na maioria das vezes, são desencadeadas por atividades humanas que modificam o meio ambiente, em especial pela pressão demográfica (Wilson et al., 1994). As arboviroses são doenças exantemáticas, naturalmente transmitidas por artrópodes, sendo motivo de grande preocupação para o Ministério da Saúde no Brasil, por apresentar sintomatologia que muitas vezes é confundida com outras doenças, o que dificulta o tratamento, além de afetar centenas de milhares de pessoas anualmente com grandes perdas sócio-economicas para população e o país. Entre as mais importantes em termos epidemiológicos, estão: mayaro, febre amarela, dengue, oropouche, rocio e as outras arboviroses com encefalite e sintomas sem diagnóstico confirmatório. Sendo que o mayaro, rocio e a febre amarela, estão presentes 20 especialmente em zonas rurais da região norte. (Casals & Whitman L,1957; Hall et al.,1991). A designação de arbovírus não possui qualquer significado taxonômico. A palavra é formada pela primeira sílaba das duas palavras “arthropod-born”, acrescida da palavra vírus. As doenças causadas por arbovírus formam um grupo heterogêneo, mas com características sintomatológicas e epidemiológicas semelhantes. São considerados arbovírus, os vírus transmitidos na natureza, principalmente mediante a transmissão biológica entre os hospedeiros vertebrados susceptíveis, através de artrópodes hematófagos, ou entre estes por via transovariana, como no caso de Aedes Stegomyia aegyti e Aedes Stegomyia albopictus (WHO,1985). Este termo, “vírus transmitido por artrópodes” foi utilizado pela primeira vez em 1942. Mais tarde, em 1963, o “International Commitee for Taxonomy of Viruses” (ICTV) decidiu denominar este grupo de vírus, (maior até então conhecido) por arbovírus. Constituem-se num grupo ecológico de vírus, e alguns tipos representam importantes problemas de saúde pública em regiões tropicais e subtropicais em todo mundo, inclusive no Brasil, sendo prevalentes principalmente na região norte. Embora o número de espécies desses arbovírus conhecidos que afetam o homem seja baixo, o impacto econômico e social causado é grande pelo elevado numero de casos durante surtos epidêmicos. (Vasconcelos et al., 1992). O vírus Mayaro foi isolado pela primeira vez em 1954 do sangue de cinco pacientes febris em Trinidad Tobago, desde então, o vírus vem sendo responsável 21 por diversos surtos da infecção na América do Sul, em paises como: Brasil e Bolívia. (Casals & Whitman, 1957; Lopes, et al., 1978; Pinheiro & Dias,1967). 1.2- Agente Etiológico Os vírus (palavra proveniente do latim, que significa veneno) são seres microscópicos, com capacidade de replicação, visíveis apenas ao microscópio eletrônico, constituído por duas classes de substâncias químicas: ácido nucléico (que pode ser DNA ou RNA) e proteínas. São seres acelulares (que não possuem estrutura celular) e precisam de células que os hospedem, por não apresentarem metabolismo independente, sendo todos os vírus parasitas intracelulares obrigatórios. São responsáveis por uma série de doenças, podendo variar de uma doença febril aguda limitada, até doenças crônicas graves, como as hepatites. O vírus invade uma célula e assume o controle da maquinaria celular, fazendo com que ela trabalhe quase que exclusivamente para produzir novos vírus. A infecção viral geralmente causa profundas alterações no metabolismo celular, podendo levar à morte das células afetadas. Os vírus têm capacidade de infectar bactérias, fungos, plantas e animais (incluindo o homem). Fora da célula hospedeira, os vírus não manifestam nenhuma atividade vital e se houver alguma célula compatível à sua disposição, um único vírus é capaz de originar em pouco tempo, centenas de novos vírus. No século XIX e a primeira parte do século XX a denominação de vírus foi usada como sinônimo de agentes infecciosos de todas as classes. Beijerinck, ao descobrir o vírus do tabaco o chamou “contagium vivum fluidum” (líquido vivo contagioso). Próximo aos anos 30, os cientistas utilizavam rotineiramente o termo “virus filtrables” para referir- 22 se a qualquer agente que passasse através de um filtro suficiente para reter bactérias. Atualmente, os vírus são definidos como agentes infecciosos compostos por uma ou várias moléculas de RNA ou DNA, cobertos por uma capa protéica, e em muitas ocasiões por coberturas complexas que se derivam da membrana da célula-hospedeira. Os vírus transmitem sua informação genética, de uma célula hospedeira para outra usando enzimas da própria célula hospedeira para a replicação e incorporação da informação genética dos vírus ao genoma da célula-hospedeira. Alguns vírus integram seus ácidos nucléicos de uma forma latente e persistente. Outros vírus transformam a característica genética das células hospedeiras, afetando seus mecanismos de controle de crescimento, podendo transformá-las em células cancerosas. A classificação dos vírus é feita baseada em suas propriedades biológicas, físicas e químicas. Sendo os principais critérios: tipo do ácido nucléico (DNA ou RNA); número de fitas do ácido nucléico e sua composição; polaridade ou genoma; simetria do nucleocapsídeo; presença ou ausência de envelope; mecanismo de replicação e expressão do genoma viral. Os arbovírus estão associados às encefalites e são transmitidos através da picada das fêmeas de mosquitos. A definição de arbovírus mais recente, diz que são vírus animais, transmitidos biologicamente entre vertebrados suscetíveis, por intermédio de artrópodes hematófagos. Estes vírus provocam viremia no vertebrado, multiplicandose nos tecidos dos artrópodes infectados, sendo posteriormente inoculados a um novo vertebrado não imune. Este grupo de vírus foi, recentemente, dividido em cinco famílias 23 distintas: Togaviridae (Alphavirus), Flaviviridae (Flavivirus), Bunyaviridae (Bunyavirus) e Reoviridae (Reovirus).( Pringle, C.R.,1998). Entre as famílias mais importantes destacam-se: A família Flaviviridae divide-se em três gêneros: Flavivirus, Pestivirus e Hepacivirus. Os vírus agrupados no gênero Flavivirus provocam muitas doenças em seres humanos, como dengue, encefalites, febre amarela, entre outras. A família Togaviridae divide-se em gêneros, causadores das encefalites eqüinas do leste, encefalite venezuelana, das febres Chikungunya e Mayaro. O vírus causador da febre do Mayaro (MAY) é esféricos, envelopado, com aproximadamente 60 nm de diâmetro, possuem RNA linear de fita única com aproximadamente 11kb. É um arbovírus com similaridade antigênica ao vírus Chikungunya (CHIK). A maioria é relativamente frágil, não resistindo à dissecação, portanto são dependentes dos vetores para serem transmitidos. De tal forma que esta dependência tende a limitá-los às regiões tropicais e subtropicais. Estes vírus apresentam ciclos de vida complexos e replicam-se em ambos hospedeiros primários, secundários e artrópodes, isto faz com que a erradicação das doenças causadas por eles seja praticamente impossível. Os reservatórios naturais do vírus Mayaro são provavelmente algumas espécies de micos e macacos, embora pássaros possam atuar como hospedeiros secundários, visto que apresentam uma alta prevalência de anticorpos contra este vírus (Anderson et al., 1957; Pinheiro et al., 1986; Vasconcelos, 1992). 24 FIGURA 01- Desenho esquemático de Alphavirus O vírus Mayaro é endêmico na Amazônia e taxas de anticorpos são diretamente proporcionais a população que mantêm contato com as áreas de florestas. A imunidade para Mayaro aumenta com a idade. Em inquéritos soro-epidemiologicos, as taxas de anticorpos para esse vírus variam na região Amazônica entre 10 e 60% dependendo da população estudada. Nas tribos indígenas, entre 20 a 47% da população possuem altas taxas de anticorpos contra esse vírus. Embora, a população da região possua altas taxas de anticorpos, é extremamente difícil isolar o vírus, devido ao curto tempo de viremia, durante o qual não se consegue diagnosticar a doença, passando confundida com outras virores com sintomatologia semelhante (Vasconcelos, et al., 1992). 1.3- Agente Vetorial A associação de mosquitos com doenças humanas, como malária, dengue, febre amarela e outras têm sugerido diversas investigações sobre comportamento desses insetos em relação à transmissão das doenças. (Barbosa, et al.,1993) Os mosquitos além de vetores são os reservatórios do vírus, desde que uma vez infectados assim permanecem por toda sua vida, ao contrário dos macacos que, como 25 os homens, ao se infectarem morrem ou se curam e ficam imunes para sempre. Portanto os macacos atuam somente como hospedeiros amplificadores da virose (WHO, 1985; Vasconcelos, 2002). Os principais vetores do vírus Mayaro são os mosquitos do gênero Haemagogus, e Mansonia, embora vetores alternativos, como Culex e Aedes, já tenham sido apontados (Pinheiro, 1981). FIGURA 02: Ciclo de infecção dos Alphavírus Mosquitos do gênero Haemagogus são pertencentes à família Culicidae. Vivem em florestas, as fêmeas são hematófagas vorazes, picando e alimentando-se durante todo o dia. Quando a densidade das espécies aumenta consideravelmente, podem deixar a floresta por pequenas distâncias à procura de alimento. Usualmente habitam a copa das árvores e por esta razão são acrodendrófilas. As larvas são encontradas habitando buracos nos troncos das árvores e em enternódios de bambus. Algumas espécies como Hg. Spegazzinii e Hg. janthinomys são as principais vetoras dessa 26 arbovirose .Estes insetos são raramente encontrados em habitações humanas ou no ambiente peridomiciliar. O Hg. janthinomys é o mais importante na transmissão da febre do Mayaro. Este é um mosquito que apresenta a maior distribuição geográfica, mas que possui hábitos estritamente silvestres, ou seja, só pica o indivíduo quando este adentra a floresta em qualquer atividade. Sua importância epidemiológica reside na transmissão de patógenos em ambientes florestais. Esta espécie apresenta as condições favoráveis para a transmissão do vírus. É primatófilo, ou seja, se alimenta preferencialmente no macaco e secundariamente no homem, e apresenta atividade diurna, período em que a maioria dos que adoece da enfermidade realiza suas atividades na floresta. Tais características demonstram sua habilidade em transmitir não só Mayaro, como também é considerado como o maior vetor de febre amarela das Américas (Vasconcelos, 2002). Os mosquitos do gênero Aedes são importantes vetores na transmissão de diversos vírus causadores de doenças que concentram atualmente grande atenção em saúde pública, tais como o vírus Dengue e o vírus da Febre Amarela. Outras doenças como Mayaro e Oropouche, vírus causadores de Encephalites e a filária, Dirofilaria immitis podem ser eventualmente transmitidas pelo Aedes albopictus (Travassos da Rosa et al.,1982; Marques,1998; Vélez,1998). Os mosquitos têm seguramente um papel importante na propagação do vírus, pois seus movimentos são consideráveis. Experiência de soltura e captura mostraram que Hg janthinomys pode percorrer 11,5 km (Hervé & Travassos da Rosa, 1983). 27 1.4- Epidemiologia Os primeiros isolamentos do vírus Mayaro, foram obtidos de cinco pacientes febris em Trinidad, na América Central em 1954. A partir daí, o vírus tem sido associado a surtos febris na Bolívia, Colômbia, Panamá e Peru (Rosa, et al,1998). No Brasil, as quatro epidemias, reportadas como mais importantes, foram detectadas no estado do Pará, em Guamá 1955, em Belterra, 1978, em Conceição do Araguaia em 1981 e Benevides em 1991. Fora do estado Pará dois surtos epidêmicos foram registrados: em 1987 e 1991 nos estados de Goiás e Tocantins (Vasconcelos e Travassos da Rosa, dados não publicados). Desde então, tem sido isolado de humanos e animais silvestres, principalmente nas fronteiras da região amazônica. Em 1998, a Fundação de Medicina Tropical de Manaus realizou pesquisa sorológica para todos os pacientes que apresentaram síndromes febris agudas indiferenciadas, dos 8.557 casos somente 40% foram positivos para dengue e 26% foram positivos para outras doenças exantemáticas virais como rubéola, sarampo, parvovirus, oropouche e mayaro (Figueiredo, et al.,2004). Dados do SINAN no Estado de Rondônia, nos anos de 2004 e 2005, referentes a todos os casos notificados como suspeitos de dengue, os quais apresentavam os seguintes sintomas clínicos: febre, cefaléia, exantema, mialgia, diarréia, artralgia, dor retro-orbital, náuseas e vômitos, foram analisados, conforme Tabela 1. 28 TABELA 01: CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE EM RONDÔNIA, POR MUNICÍPIO, NO PERÍODO DE 2004 A 2005. Municípios 2004 2005 Total CF DC CF DC Alta Floresta d'Oeste 0 Alto Paraíso 17 2 0 2 21 Alvorada do Oeste 0 2 0 2 Ariquemes 17 54 66 30 167 Cabixi 6 Cacoal 0 10 7 0 1 5 4 17 16 185 126 117 94 522 Candeias do Jamari 1 5 6 8 20 Castanheiras 0 0 0 2 2 Cerejeiras 0 0 3 4 7 Colorado do Oeste 15 13 4 17 49 Costa Marques 3 0 1 Cujubim 0 0 4 16 20 Espigão d'Oeste 0 2 25 12 39 Guajará-Mirím 0 10 0 Jaru 19 17 38 11 85 Ji-Paraná 11 6 21 8 46 Mirante da Serra 7 1 0 8 Monte Negro 0 0 3 10 13 Nova Brasilândia 1 0 1 Novo Horizonte do Oeste 0 0 3 6 3 2 0 0 6 10 Ouro Preto do Oeste 17 13 5 22 57 Pimenta Bueno 17 5 Porto Velho 86 103 49 82 320 Presidente Médici 5 11 24 6 46 Rio Crespo 0 0 0 1 Rolim de Moura 0 3 1 16 20 São Miguel do Guaporé 0 0 1 10 11 Vilhena 23 8 64 40 135 Total 429 381 458 410 1678 Fonte: SINAN/GEVEA/SESAU/RO 6 3 1 31 CF: Casos confirmados DC: Casos descartados 29 Em 2004, de 887 casos notificados, somente 429 foram confirmados laboratorialmente para dengue e em 2005 de 791 foram confirmados apenas 458. Todos os pacientes apresentavam o mesmo quadro clínico, o que demonstra que uma parte dos casos descartados para dengue poderia ser diagnosticado positivos para a febre do Mayaro, ou outro arbovirose que não dengue. GRÁFICO 01: CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE,EM RONDÔNIA, NO PERÍODO DE 2004 a 2005 887 791 900 800 700 600 429 500 381 458 410 400 300 200 100 0 2004 CONFIRMADO 1 2004 DESCARTADO 2005 CONFIRMADO 2005 DESCARTADO total CONFIRMADO total DESCARTADO Fonte: SINAN/GEVEA/SESAU/RO 1.5- Fisiopatogenia O vírus Mayaro apresenta a propriedade de multiplicar-se em células de vertebrados, induzindo modificações na síntese de macromoléculas da célula hospedeira, acompanhadas de alterações morfológicas da membrana celular que culminam em lise celular. Em células de mosquito (Ae. albopictus), a infecção ocorre de maneira persistente, não sendo, portanto, observadas modificações na síntese de DNA, RNA e proteínas das células hospedeiras (De Meneses & Rebello, 2001). 30 O genoma dos Alphavírus é formado por RNA fita simples, polaridade positiva, não-segmentado, de aproximadamente 11 Kb, associado a 240 cópias de uma proteína denominada C (30kDa), formando um capsídeo de simetria icosaédrica. Este nucleocapsídeo é recoberto por um envelope lipoprotéico, oriundo da membrana plasmática da célula hospedeira, onde estão inseridas as glicoproteínas E1 (54 kDa) e E2 (52 kDa), sob a forma de heterodímeros, constituindo as espículas virais (Mezencio et al.,1990; Mezencio & Rebello, 1993). O RNA genômico (42S) funciona como RNA mensageiro ( RNAm ) para as proteínas não-estruturais, sendo traduzido nas poliproteínas p123 e p124 que são clivadas, dando origem a quatro proteínas não-estruturais (nsp1, nsp2, nsp3 e nsp4), necessárias à replicação do RNA viral. As proteínas não-estruturais formam o complexo de replicação responsável pela formação inicial de várias fitas de RNA genômico de polaridade negativa (42S) que, por sua vez, servem como molde para a síntese de novas fitas de RNA genômico de polaridade positiva (RNA 42S+) e de RNA subgenômico 26S, também de polaridade positiva. O RNA subgenômico (26S) serve como RNAm para a tradução das proteínas estruturais do vírus, as quais são sintetizadas sob a forma de uma poliproteína, dando origem à proteína do capsídeo (proteína C) e às proteínas p62, 6K e E1. A proteína C possui atividade autoproteolítica, realizando sua própria clivagem durante a tradução, a partir do polipeptídio nascente (Strauss & Strauss,1994). 31 1.6- Manifestações Clínicas A sintomatologia clinica dessa arbovirose tem duração de 3 a 5 dias, limita-se a uma doença febril aguda, apresentando artrite, vômito, vertigem, diarréia, além de ser caracterizada por intensa artralgia, principalmente nos joelhos, tornozelos e nas pequenas articulações das extremidades, seguido por lesões maculopapular. Tais sintomas podem ser confundidos com os de dengue, principalmente em áreas onde essas duas arboviroses são endêmicas ( Pinheiro,1967; Hoch,1981). Posterior a febre, os sintomas podem persistir por alguns meses e ocasionalmente a poliartrite é um fator incapacitante. Com exceção da artralgia, que persiste em alguns pacientes, por dois meses, todas as manifestações clínicas duram entre 3 a 10 dias. Podem ocorrer lesões nas pernas, peito, costas e pernas, e estas quando aparecerem, podem ser vistas mais em crianças que em pessoas adultas (Pinheiro et al,1996). 1.7- Definição de Caso As doenças febris agudas acompanhadas de exantemas, de um modo geral são de difícil diagnóstico, tanto clinico como laboratorial pela variedade de prováveis agentes etiológicos envolvidos com essas síndromes febris. As mais conhecidas arboviroses causadas por vírus do gênero Alphavírus são: a encefalite eqüina venezuelana, encefalite eqüina do leste, Chikungunya, Ross River, Sindbis e Mayaro que apresentam sintomatologia semelhante, o que dificulta o diagnóstico clínico e o reconhecimento da enfermidade. 32 O diagnóstico de MAY consiste no isolamento viral em células C6/36, reação de imunofluoescência indireta (RIFI), reação em cadeia da polimerase (PCR) e Mac-Elisa, porém, todas essas metodologias necessitam de técnicos altamente qualificados e estrutura física adequada para execução (Hoch, 1981; Iverson,1989; Travassos da Rosa, 1982). O kit Mac Elisa usado para diagnóstico sorológico dessa virose é importado, chegando a custar por volta de 8 dólares o teste, e nem sempre está disponível comercialmente no Brasil. O antígeno utilizado nesse método imunológico é o vírus total, purificado de culturas celulares. Com a possibilidade da obtenção de proteínas recombinantes por técnicas de biologia molecular e engenharia genética, foram analisadas duas proteínas de envelope (E1 e E2) do vírus mayaro por ferramentas de bioinformática para mapear regiões que apresentam maior potencial antigênico,para tanto, amplificaremos essas regiões correspondentes no genoma do vírus por RT-PCR e expressaremos esses peptídeos em sistema procariótico, visando à utilização dessas proteínas para elaboração de kit nacional para diagnóstico ou levantamento soro-epidemiológico dessa arbovirose. 33 2- OBJETIV0S 2.1- Objetivo Geral Analisar por bioinformática as proteínas de envelope E1 e E2 do vírus Mayaro, localizar regiões com potenciais antigênicos, amplificar por RT-PCR essas regiões respectivas dos genes que codificam para essas proteínas E1 e E2 e expressar essas proteínas recombinantes em sistema de expressão procariótico. 2.2- Objetivos Específicos 2.2.1- Cultivar o vírus Mayaro em cultura de células de insetos C6/36 para isolamento do RNA viral; 2.2.2- Amplificar os genes das proteínas do Envelope (E1 e E2) do vírus Mayaro através de técnica de RT-PCR, com uso de “primers” específicos para amplificação desses genes; 2.2.3- Clonar em vetor de clonagem pGEM T Easy (Promega-USA) os “amplicons” obtidos por RT-PCR; 2.2.4- Subclonar em sistema de expressão procariótico pRSET ( Invitrogen – USA) os fragmentos obtidos a partir da digestão enzimática dos vetores de clonagem para expressão dessas proteínas recombinantes; 2.2.5- Expressar essas proteínas recombinantes em sistema procariótico. 34 3- MATERIAIS E MÉTODOS 3.1- Sementes Virais A amostra do vírus Mayaro foi cedida gentilmente pelo Prof. Dr. Benedito Antonio Lopes da Fonseca, chefe do Laboratório de Virologia Molecular, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. 3.2- Replicação Viral Para a replicação viral, foram cultivadas em garrafas de 75 cm3 (Corning, USA), células de mosquito Aedes albopictus, clone C6/36 (Figueiredo, 1990) em meio Leibowitz-15 (L-15) (Gibco BRL, USA), suplementadas com, 10% de Soro Fetal Bovino (Gibco BRL, USA) e 50g/ml de antibiótico gentamicina (Gibco BRL, USA). Manteve as células em estufa BOD a 28ºC e visualizou-se em microscópio invertido (Nikon, USA) diariamente até a formação de monocamadas celular confluente. Para inoculação da amostra do vírus, diluiu-se em meio L-15 a amostra liofilizada e adicionou 250µl da diluição às células C6/36, incubou-se por 1 hora a 28 ºC. Após esse período de incubação foi acrescentado 4ml do meio L-15 completo nas garrafas e armazenadas na estufa a 28 ºC durante 7 dias, para que ocorresse a replicação viral. As monocamadas celulares inoculadas eram inspecionadas diariamente em microscópio invertido (Nikon, USA) para detecção da presença de efeito citopático ou não. No sétimo dia, alicotou-se em tubos de criopreservação e armazenou-se em freezer -70 C até extração do RNA viral. 35 3.3- Extração de RNA por TRIzol® Trata-se de um método baseado na utilização de solução monofásica de fenol e isotiocianato de guanidina para fins de extração e isolamento de RNA total a partir de células e tecidos. Obtém-se ao final, RNA total isolado e livre de proteínas e de DNA (Chomcynski et al., 1987). Para este método foi utilizado o seguinte protocolo, inicialmente foi homogeneizado 300µl da amostra de fluído celular com 750µl do reagente TRIzol® (Invitrogen-USA), a mistura foi agitada em vortex e incubada por 5 minutos em temperatura ambiente (TA). Adicionou-se 200µl de clorofórmio e agitou-se novamente no vortex, em seguida foi centrifugado a 14.000 rpm em centrífuga refrigerada, por 15 minutos, a 4°C. Após a centrifugação separou-se a fase aquosa transparente superior, sobrenadante. Precipitou-se o RNA com 30µl de acetato de sódio e 500µl de isopropanol e centrifugou-se a 12.000 rpm em centrífuga refrigerada, por 10 minutos, a 4°C. Desprezou-se o sobrenadante de isopropanol e em seguida foi adicionado 500µl de etanol 75% gelado para lavagem, desprezou-se novamente todo etanol e em seguida centrifugou-se por 15 minutos a 30°C em concentrador (Eppendorf-USA). Ao final o RNA foi suspenso em 30µl de água ultrapura para volume final e estocado a 20°C até o uso. 36 3.4- Confecção do DNA Complementar (cDNA) 3.4.1- Transcrição Reversa – RT Após a extração foi realizada a transcrição reversa a partir dos extratos de RNA para a confecção da fita de DNA complementar (cDNA). Incubou-se 5µl do RNA extraído com 3µg de primer randômico pd(N)6 (Gibco BRL, USA), 1µl de dNTPs 10mM (Gibco BRL, USA). Aqueceu-se as amostras por 5 minutos a 65°C, em seguida acrescentou-se 4µl do tampão Buffer 5x (Gibco BRL, USA), 2µl DTT 0.1M, 200U/µl Superscript (Gibco BRL, USA), 10U/µl de inibidor RNase (Gibco BRL, USA) e completou-se com água ultra-pura volume para 20µl, em seguida incubou-se por 1 hora a 42°C e ao final por 10 minutos a 70°C para desnaturação da enzima transcriptase reversa. 3.4.2- Analise das Seqüências Antigênicas das Proteínas Estruturais E1 e E2 do Vírus Mayaro por Bioinformática Para análise das proteínas estruturais E1 e E2 do vírus Mayaro fez-se uma pesquisa no “GenBank” de seqüências do genoma desse vírus (Tabela 02). Analisando essas seqüências utilizando o programa (DNAstar-USA) para traduzir, alinhar e desenhar os primers para amplificar as regiões que irão codificar os peptídeos com os maiores potenciais antigênicos das proteínas estruturais E1 e E2 mapeado por bioinformática. 37 O gene que codifica a proteína estrutural E1 do MAY tem aproximadamente 1307 nucleotídeos, quando traduzido codifica uma proteína de aproximadamente 435 resíduos de aminoácido. O gene E2 tem aproximadamente 1265 nucleotídeos, dando aproximadamente 421 aa quando traduzido. Utilizou-se essa seqüência de amonoácido após tradução pelo DNAstar Edit Seq. e determinamos uma região de aproximadamente 272 amonoácido correspondente a região com maior antigenicidade, hidrofilicidade e probabilidade de se apresentar na superfície. O mesmo foi realizado para proteína E2. (Figura 03 e 04). Tabela 02- Genoma do Vírus Mayaro utilizada no alinhamento com auxilio do programa CLUSTAL W para desenho dos “primers”. ACCESS GenBank N Referencias Bibliográficas AF237947 Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, CCS, Bloco C sl.045 – Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ 21909-900, Brasil. NC_003417 Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, CCS, Bloco C sl.045 – Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ 21909-900, Brasil. 38 FIGURA 03- Análise por Bioinformática da Seqüência de Aminoácidos (aa) da Proteína E1 do Vírus Mayaro. Hidrofilicidade (Azul); Antigenicidade (Róseo) e Probabilidade de estar na superfície (Amarelo). FIGURA 04- Análise por Bioinformática da Seqüência de Aminoácidos (aa) da Proteína E2 do Vírus Mayaro. Hidrofilicidade (Azul); Antigenicidade (Róseo) e Probabilidade de estar na superfície (Amarelo). 3.4.3- Amplificação dos Fragmentos dos Genes E1 e E2 da Proteína Estrutural do Vírus Mayaro por Reação em Cadeia da Polimerase – PCR 39 Para amplificação do genoma viral foi realizada uma RT-PCR utilizando dois pares de primers ( tabela 03) a partir da definição da região do genoma que codifica para as proteínas que apresentaram as melhores características antigênicas conforme tabela 02 e 03. Para facilitar a subclonagem em vetor de expressão procariótico pRSET (Invitrogen-USA) adicionou-se sítios de restrição nos primers, tanto da região E1 quanto E2 conforme tabela 03. Para a amplificação por PCR, misturou-se 5l de cDNA com 50nM de iniciadores específicos para cada região do genoma, sense e anti-sense, 0,2 mM de desoxinucleotídeos, 1,5mM de MgCl2, 2,5U de Taq DNA polimerase (Invitrogen - USA) e solução tampão até completar volume para 50l. Cada amostra assim preparada foi inserida em termociclador GeneAmp PCR System 2400 (Perkin Elmer, USA). Os ciclos efetuados para os fragmentos E1 e E2 foram ao todo 35, cada ciclo constituído por temperaturas de 94°C por 1 minuto, 55°C por 1 minuto e 72°C por 1 minuto. Ao término dos 35 ciclos, foi realizada uma extensão final a 72°C por 10 minutos. 40 Tabela 03- Seqüência de Iniciadores de Cadeia (Primers) utilizados para amplificação das regiões E1 e E2 de Mayaro. Região Seqüência 5’3’ Genoma E1 Vírus 5’-atGGATCCtacgagcacacggcaattatt-3’ Mayaro 5’-atGCTACCggcgcagttcatggctcggac-3’ Enzimas Tamanho Restrição Amplicon Bam HI 816 pb Kpn I E2 Vírus 5’-atGGATCCagcactgcaaatcattttaat-3’ Mayaro 5’-atGCTACCtgtagcttcgcgtttaccgct-3 Bam HI 849 pb Kpn I 3.5- Eletroforese do Produto da PCR 3.5.1- Gel de Agarose 1,5% Para verificar se houve amplificação adequada dos amplicons desejados, 5l de cada amostra foram submetidos à eletroforese (100V; 400W; 30 minutos) em gel de agarose a 1,5%, em solução tampão TAE contendo 0.09M de Tris base, 0,09M de ácido bórico e 0,002M de EDTA. Após 30 minutos de corrida, o gel foi tratado em solução de brometo de etídio a 1l/ml, por 15 minutos, e observado em transluminador ultravioleta. Os amplicons foram então comparados a um marcador de peso molecular de 1 Kb pb de DNA (Invitrogen -USA) para análise relativa ao tamanho. As bandas (E1 e E2) do tamanho correspondente aos fragmentos dos genes de interesse foram cortadas do gel de agarose e purificadas. 41 3.6- Purificação dos Fragmentos E1 e E2 do Gel de Agarose 3.6.1- Purificação dos Fragmentos Utilizando QIAquick Gel Extraction Kit (QIAGEN-USA) As bandas correspondentes aos fragmentos amplificados foram cortados do gel de agarose, colocados em tubo tipo eppendorf e adicionou-se 300l de “QG Solubilization buffer”, incubou-se a temperatura de 50C por 5 minutos para solubilização da agarose, em seguida adicionou-se 150l de álcool isopropilico e incubou-se a temperatura ambiente por 5 minutos.Adicionou-se todo o volume na coluna fornecida no kit, centrifugou-se por 1’ a 8000 rpm, descartou-se o sobrenadante e lavou-se a coluna com 750l de “Buffer PE Wash” , centrifugou-se novamente por 8000 rpm por 1’ novamente, descartou-se o sobrenadante, identificou-se outro tubo eppendorf e ressuspendeu-se em 40 l de “Buffer EB Elution buffer”. 3.7- Ligação dos Fragmentos Purificados em Vetor de Clonagem. (pGEM T EasyPromega - USA) Utilizou-se o kit para clonagem pGEM T Easy, (Promega-USA) para clonar os fragmentos E1 e E2 do MAY. Para ligação, utilizou-se 0,5 l do vetor, 1,0l do produto de purificação contendo aproximadamente 220 ng de DNA (E1 ou E2), 2,5l de tampão de ligase, 1l de ligase, incubou-se em banho a 16C por 40 minutos, retirouse do banho e estocou-se a –20 C. 42 Figura 05- Representação Esquemática do Vetor de Clonagem pGEM T Easy (Promega-USA) 3.8- Preparo de Células Competentes para Transformação O preparo de células competentes seguiu a metodologia descrita por MESSING (1979). Cepas de bactérias E. coli BL-21 (DE3) e TOP 10 F’ estocadas a –70oC em meio LB/DMSO 10% (Dimetilsulfóxido) foram semeadas em placas LB/agar 1.5%/, 34g/ml de clorafenicol ou tetraciclina respectivamente e incubadas a 37oC por 18 horas. Uma colônia de cada foi inoculada em 5 ml de meio LB líquido para crescimento durante 18-20 horas a 37oC em agitação constante (250 rpm/minutos) e 0.5 ml da cultura foi inoculada em 50 ml de meio LB/Tetra. As culturas foram coletadas em fase exponencial de crescimento e determinada quando a absorbância a 600 nm estava entre 0.45 e 0.55 nm D.O. As bactérias foram sedimentadas por centrifugação a 5.000 43 rpm, por 10 minutos a 4oC, e logo em seguida suspensa em 25 ml de solução de CaCl2 50mM. Após 30 minutos de incubação em gelo, as bactérias foram novamente centrifugadas e o sedimento suspenso em 1 ml de CaCl2 50mM. Para armazenamento por longo tempo foram adicionadas 10% de DMSO e a preparação distribuída em alíquotas de 200l, congeladas em banho de etanol/gelo seco e posteriormente estocadas a –70oC. 3.9- Transformação das Células Competentes As bactérias competentes cepa TOP 10 F’ foram transformadas com DNA plasmideal utilizando a metodologia descrita por Sambrock, et al. (1989) com algumas modificações. Brevemente, 2l da reação de ligação ou 0.1 ng de DNA de plasmídeo pGEM T Easy com inserto foram adicionadas a 50l da suspensão de bactérias competentes, a mistura foi colocada em gelo por 20 minutos. Após este período, as células foram mantidas a 42oC por 60 segundos e novamente retornadas ao gelo por 2 minutos quando foram acrescentados 200 l de meio S.O.C (GIBCO-BRL). As preparações foram incubadas a 37oC por 30 minutos, em agitação constante (120 rpm/minuto) para crescimento bacteriano e posteriormente semeadas em placas de LBagar 1,5% suplementadas com ampicilina (100 g /ml). As placas continham adicionalmente IPTG/X-gal (0.5 mM/ 40 g/ml). Incubamos por 12 horas a 37 C. As colônias brancas ou azuis claras das placas LB-agar/IPTG/X-gal, foram colônias escolhidas ao acaso e plasmideal. foram processadas para isolamento do DNA 44 3.10- Extração Plasmideal Utilizando Perfectprep Plasmid Mini ( Eppendorf – USA) Transferiu-se os 1,5 ml das bactérias crescidas em LB/ampicilina para tubos eppendorf, centrifugou por 2 minutos a 8000 rpm, descartou o sobrenadante, adicionou 100l da solução 1, homogeneizou vigorosamente, adicionou 150l de solução 2 e 100l da solução 3, homogeneizou a solução resultante e centrifugou por 30 segundos, transferiu a parte liquida para as colunas que foram fornecidas junto com o kit, adicionou 450 l de “Binding Matrix Suspension”, homogeneizou e centrifugou por 60 segundos a 8000 rpm, descartou o filtrado, adicionou 400l de solução de purificação, agitou essa mistura e centrifugou como nas etapas anteriores, transferiu as colunas para tubos eppendorf novos, adicionou 60l de tampão de eluição, homogeneizou, centrifugou, recolheu o filtrado e estocou a -20C. 3.11- Análise dos DNAs Plasmidiais Extraídos Cada colônia selecionada nas placas de LB/Agar foi cultivada em 2 ml de meio LB/ampicilina a 37oC por 18 horas, em agitação constante (280 rpm/minuto) e os plasmídeos foram extraídos usando o procedimento de mini-preparação descrito em Sambrock, et al,1989. Os produtos da digestão dos DNAs plasmideais foram analisados por eletroforese em gel de agarose 1,5%. Os plasmídeos foram identificados como recombinantes quando o inserto foi isolado pela digestão dupla com as enzimas Kpn I e Bam HI. 45 3.12- Digestão dos Plasmídeos com Enzimas de Restrição Kpn I e Bam H I Para verificar se os plasmídeos extraídos pelo “Miniprep” estavam com o inserto, digeriu-se com enzimas de restrição Kpn I e Bam H I (Invitrogen-USA). Utilizou-se 3 l do produto de miniprep, 1l de tampão 4 , 0,8l de Kpn I, 0,4 de Bam H I e água q.s.p 10l, incubou-se a 37C por 2 horas. 3.13- Eletroforese dos Produtos de Digestão 3.13.1-Gel de Agarose 1,5%. Para verificar a clonagem do inserto ao vetor de clonagem pGEM T Easy (Promega-USA) foram usadas as enzimas de restrição Kpn I e Bam H I, em função dos amplicons terem sítios para ambas enzimas, posteriormente correu-se em gel de agarose 1,5% para verificar se houve a ligação do inserto ao vetor. Os produtos de digestão foram então comparados a um marcador de 1 kb de DNA (Invitrogen -USA) para análise relativa ao tamanho do fragmento clonado após coloração do gel com brometo de etídeo e visualização em luz ultravioleta. 3.14- Subclonagem dos Fragmentos E1 e E2 em Vetor de Expressão Procariótico ( pRSET – Invitrogen-USA) Os fragmentos obtidos pela digestão dos vetores de clonagem (pGEM T EasyUSA) foram purificados do gel de agarose e em seguida ligados no vetor de expressão procariótico (pRSET- Invitrogen-USA ). Digeriu-se o pRSET “A” com Bam HI e Kpn I. Adicionou 2,5 l do tampão 2,5x, 1,5l de pRSET, 1,5 l de Inserto (E1 ou E2) e 1 l de 46 T4 DNA ligase, incubou-se por 1 hora a temperatura ambiente, em seguida estocou-se a – 20 C. 3.15- Transformação das Ligações pRSET A com E1 ou E2 de Mayaro em BL-21 (DE3) As bactérias E. Coli cepas BL-21 foram feitas competentes juntamente com as cepas TOP 10 F’ pela metodologia do cloreto de cálcio, como descrito anteriormente. Adicionou-se 2,5 l de ligação em um eppendorf de 1,5 ml, adicionou-se 50 l de bactérias competentes (BL-21), incubou-se em gelo por 20 minutos, em seguida colocou-se em banho térmico a 42C por 1 minuto, retornando ao gelo imediatamente por 10 minutos. Adicionou-se 120 l de meio S.O.C. e incubou a 37C por 30 minutos, plaqueando em seguida em LB/Agar/ com 100 g de ampicilina por ml e incubou-se novamente a 37C por 14 horas. No dia seguinte selecionou-se 6 colônias de cada placa para extração plasmideal para confirmação de inserto por restrição enzimática. 3.16- Expressão das Proteínas Recombinantes E1 e E2 de Vírus Mayaro Os plasmideos recombinantes que foram confirmados por restrição enzimática foram retransformados em BL-21 (DE3) para expressão das proteínas. Uma colônia de cada placa (E1 e E2) foi pré-inoculado em 5 ml de meio LB/liquido com 100 g/ml de ampicilina. No dia seguinte, adicionou-se 1 ml do pré-inóculo em 100 ml de meio LB liquído/ampicilina e cresceu a 37C em incubadora de agitação a 120 rpm até 0,5 DO em filtro de 600 nm. Após atingir a D.O, induziu-se com IPTG numa concentração final 47 de 10mM/ml. Centrifugou-se as culturas celulares em tubos tipo Falcon de 50 ml por 5000 rpm por 10 minutos, descartou-se o sobrenadante e suspendeu-se o “pellet” com 2 ml de PBS Triton X 100 1%, acrescentando 1 g/ml de lisozima, incubando a 37 C por 10 minutos, seguiu-se com 5 ciclos de congelamento rápido com azoto liquído e descongelamento em banho-maria 37C, passando o lisado por uma seringa de 5 ml com agulha 27 x 14 mm por 10 vezes para lise do DNA genômico. Acrescentou-se mais 2 ml PBS/Triton X 100 1% em cada tubo e centrifugou-se novamente por 10 minutos. Separou-se o sobrenadante do “pellet” em tubos tipo falcon de 15 ml e diluiuse o pellet em 2 ml de Urea 8M. 3.17- Gel de Poliacrilamida SDS/PAGE a 12% para Verificação das Proteínas Expressas E1 e E2 em Sistema Procariótico As amostras “pellet” e sobrenadante das proteínas E1 e E2, induzidos com IPTG ou não, foram aplicadas em gel SDS 12 % para confirmação de expressão das mesmas. Após corrida eletroforetica, o gel foi corado com “coomassie blue” em seguida descorado para retirada do excesso de corante e fotografado. 3.18- Purificação das Proteínas Recombinantes E1 e E2 Os extratos brutos obtidos a partir da lise das bactérias foram passadas em colunas de níquel para purificação dessas proteínas recombinantes pelas caudas de histidina. 48 4- RESULTADOS 4.1- Isolamento Viral Após inoculação do vírus mayaro em garrafas de cultura celular de 75 cm3 (C6/36) para replicação viral, essas foram observadas diariamente em microscópio invertido (Nikon, USA) para verificação de alterações na morfologia celular (efeito citopático), indicando a presença de infecção viral. Observou-se um discreto aumento celular e presença de raras células em forma de sincício. 4.2- Resultado da Extração do RNA Viral Após sete dias de inoculação do vírus nas culturas de células C6/36, extraiu-se o RNA do sobrenadante. As duas amostras foram extraídas por TRIzol® (Invitrogen-USA) conforme protocolo do fabricante. 4.3- Resultado da Amplificação por Transcriptase Reversa - RT Após a extração do RNA das duas amostras inoculadas em culturas, esses foram submetidos à transcrição reversa (RT) para formação do cDNA “primers” randômicos pDN6 (Invitrogen-USA) e total com posteriormente amplificados pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) utilizando os pares de primers específicos para região E1 e E2 do vírus MAY. 49 4.4- Amplificação por RT-PCR das Regiões do Gene E1 e E2 do Vírus MAY As duas amostras extraídas foram amplificadas pela técnica de PCR utilizando os primers para região E1 e E2, amplificando fragmentos de 816 pb para E1 e 849 pb para E2, coluna 2 e 3. Como controle positivo para o vírus, utilizou-se um par de primers para gênero alphavírus, 400 pb coluna 1, controle negativo uma amostra de cDNA de Dengue 3, coluna 4 e controle negativo da PCR uma amostra sem cDNA, coluna 5. 1 M 2 3 4 5 816 pb 849 pb 400 pb Fig. 06. Eletroforese em gel agarose 1,5% do produto da RT- PCR para Amplificação do fragmento do gene E1 e E2 vírus MAY. M= Marcador Peso molecular 1kb; 1= 400 pb; 2= 816 ; 3= 849 ; 4= DENV 3 ; 5= CT(-) 4.5- Resultado da Digestão do Vetor de Clonagem com Kpn I e BAM H I. Os fragmentos correspondentes a E1 e E2 de vírus MAY após eletroforese do produto da RT- PCR foram recortados do gel de agarose, purificados e ligados em vetor de clonagem (pGEM T Easy-Promega-USA). Para verificar se os insertos 50 correspondentes aos fragmentos E1 e E2 de vírus MAY estavam clonados, digeriu-se com as enzimas de restrição Kpn I e Bam H I, devido a presença de sítios de restrição nos primers sense e anti-sense respectivamente, utilizados na RT-PCR. A figura 07 mostra cinco plasmídeos digeridos, correspondentes ao fragmento do gene E1, com tamanho de 816 pb. Na figura 08, cinco plasmídeos digeridos com as mesmas enzimas, mostrando que os fragmentos E2 de 849 pb foram clonados. M 1 2 3 4 5 816 pb Fig. 07 - Eletroforese em gel agarose 1,5% da Digestão do Miniprep pGEM T Easy com Fragmento E1 de vírus MAY. M= Marcador 1kb; 1= 816 pb;2=816 pb ; 3= 816 pb; 4= 816; 5=816 51 M 1 2 3 4 5 849 pb Fig. 08 - Eletroforese em gel agarose 1,5% da Digestão do Miniprep pGEM T Easy com Fragmento E2 de vírus MAY. M= Marcador 1kb; 1= 849 pb; 2=849 pb ; 3= 849 pb; 4= 849; 5=849. 4.6- Subclonagem dos Fragmentos E1 e E2 do Vírus MAY em vetor de expressão procariótico (pRSET– Invitrogen-USA) Após confirmação de inserção dos fragmentos E1 e E2 de Mayaro no vetor de clonagem (pGEM T Easy - Promega-USA) por restrição enzimática, um fragmento de cada clone foi recortado do gel de agarose e purificado. Juntamente com a digestão dos vetores de clonagem, digeriu-se o vetor de expressão procariótico pRSET (Frame A)Invitrogen-USA), purificando juntamente com os fragmentos retirados do pGEM T Easy. Após purificação de todos os fragmentos e confirmação da purificação por eletroforese e gel de agarose, os fragmentos foram ligados no vetor de expressão e transformados em células competentes TOP 10 F’. As colônias transformadas foram crescidas em 2 ml 52 de meio LB/Amp com 100 g/ml de ampicilina por 18 horas e feita a extração dos plasmídeos (MiniPrep). Para confirmação do inserto no vetor de expressão, digeriu-se com Kpn I e Bam HI. Os plasmídeos recombinantes com os respectivos insertos E1 e E2 foram retransformados em células competentes E. coli cepa BL –21 para expressão das proteínas recombinantes. M M 1 2 3 4 5 6 816 pb Fig. 09 - Eletroforese em gel agarose 1,5% da digestão do miniprep do vetor de expressão pRSET A com Kpn I e Bam HI, mostrando o fragmento E1 de Mayaro. M= Marcador peso molecular de 1kb; colunas de 1- 6= Fragmentos de. 816 pb 53 M 1 2 3 4 5 6 M 849 pb Fig. 10- Eletroforese em gel agarose 1,5% da digestão do miniprep do vetor de expressão pRSET A com Kpn I e Bam HI, mostrando o fragmento E2 de Mayaro. M= Marcador peso molecular de 1kb; colunas de 1-6= Fragmentos de. 816 pb 4.7- Expressão das Proteínas E1 e E2 de Mayaro em Sistema Procariótico pRSET Após transformação dos plasmideos recombinantes (pRSET + E1 ou E2) em BL21, inoculou-se em agitador a 37º C com agitação constante de 180 rpm uma colônia de cada clone em 5 ml de meio LB/Amp 100 ug/ml durante 14 horas. No dia seguinte, foi inoculado 1 ml da bactéria transformada em 100 ml de meio LB/Amp deixando crescer por 3 horas, até atingir uma DO de 0,5 nm em filtro de 600 nm. Após atingir a DO, induziu-se com IPTG para concentração final de 1 mM/ml e outro Erlemeyer não induziu, sendo utilizado como controle negativo. Após a indução, deixou-se por 2 horas e em seguida fez-se a lise das bactérias para obtenção das proteínas de interesse. 54 1 2 3 4 5 35kDa 36.5 kDa 35,5kDa Figura 11- Gel de Poliacrilamida SDS/PAGE 12% mostrando o extrato bruto da lise das bactérias BL-21 com os plasmideos recombinantes E1 e E2 . Coluna 1 = Marcador peso molecular de proteína; coluna 2= pellet do extrato bruto sem indução E1 de MAY; coluna 3= pellet do extrato bruto sem indução de E2 de MAY; coluna 4= pellet do extrato bruto com indução de E1 de MAY; coluna 5= pellet do extrato bruto com indução de E2 de MAY. 55 5- DISCUSSÃO No Brasil, as doenças infecciosas são muito abrangentes e as possibilidades de surgimento de novos agentes de infecção em humanos são variadas, em função da alta diversidade da fauna e flora nacional. Algumas doenças ganharam importância como emergentes no país, mas em seguida não foram diagnosticados mais casos. Entre elas está a encefalite pelo vírus Rocio (apresentou surto no litoral sul de São Paulo, em 1975); a febre negra de Lábrea (que apareceu na Amazônia ocidental na mesma época); a síndrome hemorrágica de Altamira, relacionada a picada do pium ou borrachudo, inseto da família simuliidae e a infecção pelo vírus Sabiá (identificado em Cotia, Estado de São Paulo na década de 80)(Dégallier et al,1989). As glicoproteínas são componentes majoritários do envelope viral do vírus MAY, apresentando funções importantes, tais como; adsorção com os receptores celulares no processo de liberação das partículas virais através da superfície celular. Diversos autores têm mostrado que o bloqueio da seqüência das reações de glicosilação interfere, de modo acentuado, com a propagação de diversos vírus animais (Cash; Hendershot; Bishop, 1980). A febre do MAY é uma doença viral aguda limitada, transmitida por insetos com manifestações clínicas tais como: febre, calafrios, rache cutâneo, mialgia e intensa artralgia. O MAY apresenta sintomas que confundem com os sintomas do dengue, sendo difícil o diagnóstico onde essas duas doenças ocorrem simultaneamente. A partir de seu isolamento em 1954, algumas epidemias por esse vírus foram descritas; em 56 1955 no Brasil, Bolívia e outros casos relatados no Surimane, Guiana Francesa, Peru e em Trinidad & Tobago(Casals & Whitman, 1957; Lopes, et al., 1978; Pinheiro & Dias,1967). Embora o ciclo silvestre principal do vírus MAY seja igual ao da febre amarela (Herve et al. 1986), envolvendo macacos e mosquitos do gênero Haemagogus e exprimindo-se através de epidemias simultâneas (Hoch et al. 1981; Pinheiro et al. 1981), o MAY tem sido também, evidenciados em aves (41 espécies distintas), marsupiais diurnos e répteis. 5.1- Análises por Bioinformática das Proteínas E1 e E2 Com o avanço na predição de estruturas de proteínas por métodos computacionais, a bioinformática ganha lugar de destaque como ferramenta para desenvolvimento de estudo nas ciências biológicas. De acordo com Rost & Sander (1996), o crescimento dos bancos de dados irá possibilitar avanços nos métodos de predição, os quais se encontram com níveis razoáveis de acerto quando aplicados em característica de uma dimensão, como p. ex., predição da estrutura secundária, acessibilidade do resíduo e a localização de hélices transmembrana. De acordo com Claros et al (1997) assim como os softwares tornaram-se importantes ferramentas de pesquisa nos campos da química combinatorial e do desenho de drogas, as redes neurais têm sido muito utilizadas para a resolução de problemas em biologia molecular, com especial atenção quanto aos métodos de predição de sítios de clivagem e na identificação de peptídeos sinal. Segundo M. Shah 57 et al, 2003, com o advento da tecnologia do DNA recombinante, a explosão no número de sequências primárias catalogadas em combinação com o incremento dos bancos de dados de estruturas proteicas, está levando à popularização dos algoritmos preditivos computacionais. Esta utilização de bancos de dados para acesso remoto, foi relatada por Atwell et al (1995), que utilizaram um servidor WWW(word wide web) local para organizar sequências de DNA e proteínas freqüentemente usadas em pesquisas, para acesso público ou privado. Estes autores listam várias vantagens deste procedimento, dentre as quais pode-se citar: 1) é um meio fácil de armazenar sequências para utilizações futuras; 2) os arquivos podem ser para acesso público na Internet ou privado por requerimento de uma senha de acesso ou password; 3) as sequências podem ser acessadas à partir de plataformas múltiplas, os arquivos podem ser acessados remotamente de qualquer computador na Internet, utilizando um formato simples no arquivamento das sequências, o que simplificaria o manuseio e arquivamento dos dados; 4) e a possibilidade de links para arquivos remotos que poderiam ser adicionados junto aos arquivos locais. Usando programas computacionais (PROTEAN e ANTHEPROT) para mapear regiões com potenciais antigênicos das proteínas de envelope E1 e E2 do vírus MAY determinou-se um fragmento de aproximadamente 31 KDa para E1 que apresentou as seguintes características: alta antigenicidade, hidrofilicidade e alta probabilidade de se apresentar na superfície, o mesmo estudo foi feito para proteína E2 com a determinação de um fragmento de aproximadamente 32 KDa. Ambas as proteínas são glicosiladas. A a opção de expressar em sistema procariótico foi devido a utilização de apenas parte 58 dessas proteínas, o que esperou-se não interferir no reconhecimento pelos anticorpos contra essas proteínas recombinantes e suas utilizações como antígenos recombinantes para diagnóstico da febre do MAY por métodos imunoenzimáticos. De acordo com Van Regenmortel (1996), a habilidade em predizer a localização exata dos sítios antigênicos em proteínas permanece parcialmente limitada porque os algoritmos para predição reduzem a complexidade dos epítopos aos modelos lineares, unidimensionais. Ora, observou-se por estudos de anticorpos monoclonais que os epítopos por eles reconhecidos muitas vezes eram conformacionais, constituídos por variações de sequências peptídicas compostas por unidades distantes na seqüência primária da proteína. A redução de um sistema protéico com quatro estruturas para representações bi ou tridimensionais, inevitavelmente distorceria a percepção da natureza dinâmica dos epítopos. M. Shah et al, 2003, concluíram que existe evidência experimental para confirmar ou predizer as conformações proteicas que podem ser geradas utilizando-se bibliotecas de peptídeos para analisar anticorpos monoclonais. 5.2- Expressão de Proteínas Recombinantes Grande parte dos esforços despendidos na expressão de proteínas heterólogas, visando obtê-las em quantidade adequada para posterior purificação e cristalização, se concentra na experimentação de sistemas de expressão alternativos, incluindo bactérias, leveduras, células de insetos e no uso dessas proteínas de fusão como antígenos em ensaios imunoenzimáticos para diagnóstico das mais diversas doenças infecciosas e parasitarias, além de poderem também ser utilizadas para estudo de fisiopatologia. 59 6- CONCLUSÃO 6.1- O sistema de expressão procariótico de proteínas recombinantes é uma alternativa viável e barata para produção de insumos diagnóstico de uma serie de doenças infecciosas e parasitarias, como a febre do MAY; 6.2- A utilização dessas proteínas recombinantes de MAY abre perspectivas para esclarecimento de algumas viroses muito comum na nossa região sem um diagnóstico preciso; 6.3- O mapeamento de epitopos por bioinformática possibilita a determinação de regiões com alto potencial de antigenicidade e imunogenicidade, diminuindo o tempo e custos nas pesquisas biotecnológicas; 6.4- As proteínas se apresentaram insolúveis, porém estamos trabalhando com algumas técnicas descritas na literatura para solubilização dessas mesmas e sua renaturação, antes de utilizá-las em ensaios imunoenzimáticos; 6.5 As proteínas E1 e E2 que foram expressas e purificadas estão prontas a serem utilizadas como antígenos em ensaios imnunoenzimáticos (ELISA e Western Blott); 6.6- Essas proteínas serão utilizadas para imunizações de coelhos para testar a sua imunogenicidade e produção de anticorpos policlonais para essa arbivirose. 60 7-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves MCP, Gurgel SM, Almeida MCRR. 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