Uso de Fitoterápicos na Nutrição de suínos Prof. Dr. Leandro Batista Costa PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – PPGCA Aditivos “Aditivo é uma substância, micro-organismo ou produto formulado, adicionado intencionalmente, que não é utilizada normalmente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as características dos produtos destinados à alimentação animal ou dos produtos animais, melhore o desempenho dos animais sadios, atenda às necessidades nutricionais ou tenha efeito anticoccidiano.” (Compêndio Brasileiro de Nutrição Animal, 2013) Antibióticos e Quimioterápicos • Mecanismos de ação: – reduzem a população microbiana e a absorção de nutrientes pela microbiota (Snyder e Wostmann, 1987); – reduzem a incidência e severidade de infecções subclínicas (Brennan et al., 2003); – aumentam a absorção de nutrientes pela redução da mucosa intestinal; – Reduzem a quantidade de metabólitos depressores do crescimento produzidos por bactérias (Knarreborg et al., 2004); – modulam diretamente o sistema imune e – Reduzem o número de fímbrias das bactérias (E. coli) (Rostagno e Pelger, 2014); Antibióticos e Quimioterápicos • Possibilidade de microrganismos resistentes; Tratamento humano e de animais Antibióticos e Quimioterápicos Janeiro de 2006: EC Regulation No. 1831/2003 Banimento • As preocupações alegadas para o banimento dos antimicrobianos pela UE foram em função da possível disseminação dos genes de resistência à antibióticos de patógenos humanos e animais; • Suécia (1986) e Dinamarca (1998). Banimento • Foi observado que suínos que não receberam melhoradores de desempenho apresentaram: – menor crescimento; – maior incidência de doenças subclínicas; – maior presença de patógenos no intestino e – má absorção de nutrientes ocasionando maior incidência de diarreia (Emborg et al., 2002 e Callesen 2003) Banimento • Aumento de enterites bacterianas nos suínos; • Aumento no uso de antimicrobiano com finalidade curativa de doenças; • Bactérias antes controladas pela forma profilática reapareceram... Aditivos fitoterápicos • Compostos derivados de plantas incorporados às dietas animais com o intuito de promover melhor performance e melhor qualidade dos produtos obtidos destes animais (WINDISH et al., 2007). Interesse em estudos in vivo • Estudos in vitro mostrando atividade antimicrobiana contra diversos patógenos, principalmente os presentes no intestino de suínos; • Possivelmente livre de resíduos; baixo acúmulo • Rápida taxa de metabolização; tecidos • Meia-vida curta dos compostos ativos; (Kohlert et al., 2000) Seguros, naturais e utilizados na indústria de alimentos (Brenes e Roura, 2010) Aditivos Fitogênicos Derivação biológica, formulação, caracterização química e pureza 1) ervas – produtos de floração, não-lenhosos e plantas não persistentes; 2) botânicas – plantas inteiras ou processados de uma planta como raiz, caule, cascas e folhas; 3) óleos essenciais – compostos voláteis extraídos por destilação ou vaporização à álcool; 4) oleoresinas – compostos extraídos por solventes nãoaquosos . (Windish et al., 2007). Extratos vegetais • São preparações concentradas, de diversas consistências possíveis, obtidas a partir de matérias vegetais secas, que passaram ou não por tratamento prévio e preparadas por processo envolvendo um solvente. Óleos essenciais • Cerca de 3.000 diferentes óleos essenciais; • Cinamaldeído, carvacrol, timol e eugenol são os mais utilizados na produção de suínos e aves (Thacker, 2013). • Compostos líquidos hidrofóbicos concentrados que contém compostos aromáticos voláteis; • Cada constituinte possui sua propriedade característica (Zhaikai Zeng, 2015). Compostos bioativosPotencializadores dos compsotos primários (Costa et • Metabolismo secundário al., 2013) – terpenóides, compostos fenólicos, glicosídeos, óleos essenciais, alcalóides, lectinas, aldeídos e polipeptídeos (Brenes e Roura 2010); Sazonalidade Altitude Ritmo circadiano Poluição atmosférica Disponibilidade hídrica Indução por estímulos mecânicos Temperatura Ataque de patógenos Nutrientes disponíveis Desenvolvimento da planta (Huyghebaert, et al., 2011; Gobbo-Neto e Lopes, 2007). Principais características Figura 1 – Características de extratos vegetais e seus derivados na nutrição animal Fonte: Adaptado de Hashemi e Davooid (2011) Princípios ativos • Princípios ativos são componentes químicos, presentes em partes específicas ou em todas as partes das plantas (folhas, flores, caule, frutos e raízes) conferindo às plantas medicinais alguma atividade terapêutica (Martins et al., 2000). • Geralmente estas substâncias estão presentes sob a forma de complexos cujos diferentes compostos se completam e reforçam sua ação sobre o organismo animal (Costa et al., 2013). Modos de Ação • Pouco elucidado; • Alterações na solubilidade lipídica na membrana da bactéria; • Constituintes hidrofóbicos atravessam a membrana da célula bacteriana, permitem desintegração da estrutura da membrana interna da bactéria, causando a perda de íons. (Stein e Kil, 2006; Windisch et al. 2008); Atividade antimicrobiana • Atividade in vitro (Si et al., 2006; Srinivasan et al., 2001) Alta Dose • Efeito bactericida ou bacteriostático (Burt, 2004) Caráter lipofílico Antimicrobiano Desnaturar/coagular Permeabilidade da membrana Transporte elétrons, fosforilação oxidativa, etc. MORTE (Dorman e Deans, 2000) Modos de ação • Favorecendo micro-organismos benéficos produtores de ácido láctico (Michiels, 2009). • Aumenta a produção de muco – proteção da parede e diminuição da fixação de microrganismos patógenos (Jmroz et al., 2006); Limitação no uso de óleos essenciais • Absorvidos imediatamente quando entram no duodeno (Piva et al., 2007); – Microencapsulação – constituição cápsulas; – Disponibilização ao longo do ID (Meunier et al., 2006); – Desempenho suas funções no organismo animal. Divergências nos resultados • Maior ou menor concentração do produto final adicionado à ração; • Identificação dos principais componentes presentes; • Quantidade e qualidade dos princípios ativos (Cheng et al., 2014; Cross 2007); • Efeito complementar?; • Efeitos sinérgicos?; Otimização da eficácia Divergências nos resultados • Variação na concentração dos componentes; • Estes podem influenciar mecanismos de ação; nos • Levar a resultados contraditórios; diferentes Divergências nos resultados Tabela 1 – Composição do óleo essencial da pimenta vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) Substance delta-3-carene alpha-phellandrene limonene alpha-pinene beta-pinene p-cymene myrcene beta-phellandrene sabinene terpinolene beta-caryophyllene germacrene D alpha-elemol alpha-thujene delta-cadinene gamma-terpinene alpha-terpinene Content (%) Franz et al., 2016 Silva et al., 2010 41.01 19.69 14.40 9.39 12.36 18.15 10.36 29.39 3.89 7.71 2.88 4.27 2.77 6.18 2.42 1.97 3.99 1.14 0.79 0.62 0.44 0.43 0.67 0.43 0.42 0.25 Desempenho • Aumento Consumo de Ração; • Flavour e palatabilidade; • Aumento no consumo voluntário de ração (Zeng et al., 2015); • Fêmeas recebendo uma mistura de extratos 10 dias antes do parto até o desmame apresentaram maior consumo de ração, menor perda de peso durante lactação e os leitões maior ganho de peso ao desmame. (Miller et al., 2009) Tabela 2 - Efeito da suplementação de óleo essencial de orégano na dieta de fêmeas em gestação e lactação e no desempenho de leitões 15 mg/kg de óleo essencial de orégano (Chengquan Tan et al., 2015) Regulação da microbiota intestinal • Efeito ligeiramente maior contra bactérias gram positivas (Brenes et al., 2010); • Pode apresentar efeito negativo contra bactérias benéficas no intestino (Zhaikai Zeng et al., 2015) Horošová et al., 2006 (orégano - Lactobacillus); • 500 mg/kg de pimenta vermelha apresentou tendência no aumento da população de Lactobacillus (Gois et al., 2016). • Efeito sinérgico entre carvacrol e timol (Lambert et al., 2001) (Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus); Absorção dos nutrientes e morfologia intestinal • Aumento na digestibilidade e absorção dos nutrientes (Ahmed et al., 2013); • Aumento na produção de saliva, bile e secreção de enzimas; • Diminuição de patógenos possibilitando maior regeneração dos vilos e aumento na capacidade de absorver nutrientes (Zeng et al., 2015). • Benefícios estariam relacionados com o balanço entre a irritação do tecido e a saúde intestinal (Zeng et al., 2015); Tabela 3 – Efeito do óleo essencial de cinamaldeído e timol na digestibilidade dos nutrientes de leitões recém- desmamados (Zeng et al., 2014) Melhora do sistema imune • Melhores resultados em condições “a campo” – alto desafio sanitário (Franz et al., 2010) • Leitões recém-desmamados apresentaram aumento na proliferação de linfócitos, taxa de fagocitose e IgG, IgA, IgM quando alimentados com aditivos fitogênicos (Zeng et al., 2014; Li et al., 2012) Timol e cinamaldeído Tabela 4 – Efeito do óleo essencial e antibiótico no IGF-I, no sistema imunológico, produção de citocinas e atividade oxidativa no plasma de leitões desmamados (Li et al., 2012) Óleo essencial de orégano, anis, casca de laranja e chicória Tabela 5 - Efeitos do resveratrol e um blend de óleos essenciais nos níveis séricos de imunoglobulina e TNF-α de leitões desafiados (Ahmed et al., 2013) Atividade antioxidante • Estabilidade da matéria prima, ração, carne e produtos processados; • BHT e BHA potenciais carcinogênicos (Shahidi, 2000); • Redução oxidação lipídica; • Relacionado com a composição dos ácidos graxos poli-insaturados e sua relação (%) com o total de lipídios presente (carne de suína x carne de frango) (Zeng et al., 2015); Atividade antioxidante • Melhora capacidade antioxidante; • Diminuição de produtos da oxidação através da análise de TBA (malonaldeído – principal produto da peroxidação lipídica) (Lu et al., 2010); Tabela 6 – Oxidação da carne de suínos alimentados com óleo essencial de orégano e extrato de castanha BHT e uma mistura de extratos de sálvia, urtiga, melissa e equinácea Tabela 7 – Valores de TBA no músculo Longissimus thoracis depois do abate e após 5 meses de congelamento de suínos (P<0,05) (Hanczakowska et al., 2015) Eficácia dos fitoterápicos • Informações limitadas; – Interação com fatores nutricionais: • Níveis dos nutrientes da dieta; • Tipo de dieta; • Processamento da ração; • Sinergismo ou antagonismo aditivos da ração. com outros cinamaldeído e timol 3250 e 3400 Kcal/kg de ED Tabela 8 - Efeito de uma mistura de óleo essencial na performance e consistência fecal de leitões • Ração com ou sem extrato vegetal (200 mg/kg – cinamaldeído, carvacrol e capsaicina) 18% PB – farinha de peixe 18% PB – farinha de peixe + soja integral extrusada 20% PB – farinha de peixe + soja integral extrusada Tabela 9 - Concentração de AGV no ceco e cólon de leitões desmamados Figura 2 - Altura de vilosidade e profundidade de cripta do jejuno proximal e distal de leitões alimentados com dietas com diferentes níveis e ingredientes proteicos. • François (1962) relatou a hipótese de que a competição induzida pela limitação dos nutrientes entre os diferentes grupos de micro-organismos e o hospedeiro, torna as bactérias mais sensíveis aos efeitos ambientais. Divergências nos resultados • Planta estudada; – – – – – Região de obtenção Parte da planta Tempo de colheita Estresse sofrido pela planta Método de isolamento para obtenção do produto • Doses administradas – baixas ou altas; • Estabilidade dos compostos durante processamento de ração; • Princípios ativos presentes nessas plantas; • Compostos secundários presentes nessas plantas; Divergências nos resultados • Maior efeito contra bactéria gram positiva • Pode apresentar efeito negativo contra bactérias benéficas no intestino (Zhaikai Zeng et al., 2015; Horošová et al., 2006). Desenvolvimento de blends com diferentes compostos para intensificar mecanismos de ação Tabela 10 - Mecanismos de ação de fitoterápicos como aditivos alimentares para suínos (Costa et al., 2013) Prudência... • Mecanismos de resistência bacteriana são desencadeados, podendo estes sofrerem mutações, seleções, ou adquirirem material genético que codificam resistência vindo de outras bactérias presentes na mesma população. Prudência... • O uso de óleos essenciais como melhoradores de desempenho deve ser feito com cautela e associações entre os óleos essenciais devem ser melhor avaliadas, uma vez que aumentase a exposição bacteriana a diferentes mecanismos de ação, possibilitando o desenvolvimento de resistência cruzada e/ou múltipla. Tabela 11 – MBC de óleos essenciais determinados pelo método de difusão em disco e difusão em caldo Tabela 12 – Crescimento ou inibição bacteriana após repetitiva exposição de dose sub-letal de óleos essenciais (Melo et al., 2015) Considerações finais • Embora os extratos vegetais e óleos essências sejam um grupo de aditivos considerados naturais, pesquisas acerca de seus mecanismos de ação, interações com ingredientes da dieta, toxicidade e segurança alimentar necessitam ser aprofundadas antes que estes aditivos possam ser aplicados intensivamente na alimentação de suínos e aves. Obrigado! Dr. Leandro Batista Costa Prof. Adjunto PUCPR Nutrição de Não-Ruminantes [email protected]