Palavra chave: compulso, dependncia, internet

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Dependência de Internet
Pesquisas mostram que a Internet pode causar dependência
Gláucia Therezinha Bardi de Moraes (CEFET-PG) [email protected]
Dr. Luiz Alberto Pilatti (CEFET-PG) [email protected]
Dr. Luciano Scandelari (CEFET-PR) [email protected]
Resumo
Considerando que a Internet é a maior invenção do homem moderno, que este está cada vez
mais ligado a ela, no trabalho, na escola, em casa e que um dos principais atrativos da Internet
é a quantidade de informações que ela coloca à disposição do internauta ligando-o em questão
de segundos com o resto do mundo, parece paradoxal que um sistema de comunicação que esta
revolucionando os negócios, ampliando o provimento de informações, possa ser associado a
uma patologia. Distintos estudos sustentam que o uso da Internet pode causar um efeito negativo
nos relacionamento interpessoais familiares, profissionais e sociais, reforçando o sentimento de
solidão. O uso abusivo da rede esta criando uma categoria de pessoas solitárias, que se
refugiam no computador e não se interessam pelas obrigações e prazeres do mundo real,
gerando problemas conjugais,queda da produtividade no trabalho,além de problemas de ordem
física. A natureza destes problemas aliados ao grande alcance de usuários que a Internet possui
torna o problema bastante importante.O objetivo deste trabalho é oferecer uma visão
abrangente, que permita ter uma postura crítica em face da influência da informatização nas
relações humanas. Este artigo reflete o resultado de levantamento de pesquisas desenvolvidas
nesta área e embasamento literário de mais um tipo de comportamento desadaptado que esta
cada vez mais ocupando o cotidiano de pesquisadores preocupados com o comportamento
humano. O homem não deve esquecer seus sentimentos e emoções, são eles que distinguem o ser
humano das máquinas, e que o contato direto com os outros é muito importante, pois só com ele
é possível o crescimento e o desenvolvimento como pessoa. Palavras-chave: Compulsão;
Dependência; Internet.
1. Introdução
Em 1969, um grupo de militares americanos consegue pôr em prática um antigo projeto: criar
uma rede de computadores que, interligados, seriam utilizados para troca de informações durante
a Guerra Fria. Essa rede recebeu posteriormente o nome de Internet, e com o passar dos anos sua
função foi se modificando. Hoje é usada para comunicação e interligação de pessoas e
informações pelo mundo todo. As possibilidades desta comunicação, bem como o número de
usuários que usufruem deste serviço, crescem em ritmo acelerado. O serviço que mais chama
atenção, por ser um dos mais utilizados, são os famosos programas de “chat” ou bate-papo.
Através deste serviço, as pessoas do mundo inteiro conversam em tempo real, trocando idéias,
problemas e sentimentos. (PRADO , 1998). A Internet é uma das maiores invenções do homem
moderno, serve de ele para ligar em instantes uma extremidade do mundo a outra.Vários serviços
que antes eram trabalhosos e cansativos se tornam ágeis podendo ser executado no conforto do
próprio lar, mas a Internet também tem seu lado perigoso. (SAYEG , 2000). Até a pouco tempo
atrás a Internet só aparecia na literatura médica por causa da Síndrome do Túnel do Carpo, uma
inflamação causada pelo excesso de digitação. Recentemente, porém, começou aparecer no termo
“dependência” num contexto diagnosticável. (Revista Science – Vol. 275 – p. 1073, PIAZZI et al.
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2002).Chega a ser paradoxal que um sistema de comunicação que esta revolucionando os
negócios, ampliando o provimento de informação e colocando em contato as pessoas dos quatro
cantos do planeta, possa a ser associado a uma patologia. Não existe na comunidade cientifica um
consenso em relação à dependência da Internet. Alguns pesquisadores consideram a compulsão a
Internet mais como uma espécie de comportamento desadaptado que uma doença propriamente
dita, talvez algum sintoma de conflito íntimo, frustração ou troca de personalidade adequada à
modernidade da vida. Para que seja considerada uma doença, devera ser considerada assim no
âmbito cientifico de maneira consensual (BALLONE, 2003).
2. Sobre a Dependência
O conceito de dependência só passou a ser considerado como uma doença no século XIX. O uso
exagerado do álcool, por exemplo, não estava associado a uma perda de controle, a um desejo
compulsivo de seu uso ou mesmo como um desvio patológico, mas como uma opção do
individuo. Somente no século passado que a dependência passou a ser associada a um transtorno
da mente adicionou -se a este conceito de dependência, à presença de um transtorno na vontade
do individuo. É neste período que se transforma o conceito de dependência aliado a um inicio de
uso não patológico de álcool evoluindo para dependência. (BERRIDGE 1994, RAZZOUK et al.
1998).
O primeiro a designar o termo dependência de Internet foi Ivan Goldberg em 1996, para definir
como uma categoria diagnóstica, caracterizada por um uso compulsivo e patológico de Internet.
Este mesmo autor propõe um conjunto de critérios para o diagnostico, baseados nos mesmos
critérios diagnósticos de abusos de substâncias. São eles:
(A) Um padrão desadaptativo de uso da Internet capaz de levar a mal estar significativo por
três ou mais itens seguintes:
1. Tolerância, definida:
Necessidade de aumentar a quantidade de tempo em Internet para conseguir
satisfação;
Diminuição da ansiedade com o uso continuado da mesma quantidade de tempo em
Internet.
2. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes comportamentos:
a) Agitação psicomotora;
b) Pensamentos obsessivos acerca do que pode estar acontecendo em
Internet;
c) Fantasias ou sonos sobre a Internet;
d) Movimentos voluntários ou involuntários no teclado.Esses sintomas
causam mal estar ou prejuízo na área social, ocupacional ou outra de
funcionamento importante.
(B) O uso da Internet ou um serviço similar está dirigido a aliviar ou evitar os sintomas da
abstinência.
3. Se acessa a Internet com mais freqüência ou por períodos mais largos do que
inicialmente se pretendia.
4. Desejo persistente ou esforços infrutíferos de interromper o uso de Internet.
5. Emprego intenso e por muito tempo das atividades relacionadas ao uso de Internet,
como por exemplo, comprando livros sobre Internet, provando novos navegadores,
indagando provedores, organizando arquivoa ou descarregando materiais (BALLONE
2003).
6. Atividade social, ocupacional ou recreativa reduzidas por causa do uso de Internet.
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7.Continua usando Internet apesar de saber que tem um persistente ou recorrente
problema físico, social, ocupacional ou psicológico que parece ser causado ou
exacerbado por esse uso da Internet (privação de sono, dificuldades conjugais, chegar
atrasado a compromissos, prejuízo dos deveres profissionais).
Young (1995) estabelece uma serie de critérios para diagnosticar a Dependência de Internet.
Leciona que a adição a Internet é uma dificuldade no controle de seu uso, que corresponde à
dificuldade no controle dos impulsos, e que se manifesta como um conjunto de sintomas
cognitivos e de conduta. Tais sintomas são conseqüentes ao uso excessivo da Internet, o que pode
acabar gerando uma distorção de seus objetivos pessoais , familiares e profissionais.
Segundo Suller (1996), esta dependência pode ser explicada, pois a Internet satisfaz as
necessidades humanas conforme a hierarquia da de necessidade de Maslow. As necessidades
básicas (primárias) como a reprodução, que faz parte do primeiro nível da hierarquia, pode se
verificar pelo grande número de namoros que se encontram nos chatrooms. Nos próximos níveis
encontram-se as necessidades secundárias, onde a necessidades social ou de participação
traduzida através de contatos interpessoal, reconhecimento e sensação de pertença, esta
necessidade é satisfeita pelo uso normal das possibilidades na Internet. O uso regular, destas
possibilidades pode criar grupos de amigos que são uma forma de satisfação desta necessidade.
O que ocupa os lugares seguintes na hierarquia são as necessidades de auto-estima que podem ser
satisfeitos pelo conhecimento, adquirido e que é instantaneamente recompensado. Além disso, o
sucesso da personalidade criada é uma forma gratificante de satisfazer esta necessidade. A
necessidade que ocupa o nível mais alto da hierarquia de Maslow é a necessidade de autorealização que está relacionada com o esforço despendido de cada individuo em se compreender
como um ser único e buscar a sua realização pessoal.
A seguir a representação das necessidades humanas de acordo com Maslow :
Auto Realização
Estima
Social
Segurança
Fisiológicos
Fonte: Adaptado de CHIAVENATO (1994). p 170.
Nesta mesma linha King (1996) faz uma análise e descreve os ambiente virtuais dos tipos
MUD (Multi User Dungeon ou Mult-User Dimension), um ciberespaço onde os usuários podem
assumir uma identidade na forma de um avatar, interagir um com o outro ou chat, que favorecem
o mecanismo de dependência. Estes ambientes virtuais proporcionam aos usuários uma
gratificação imediata de suas necessidades primárias e secundárias (lecionadas por Maslow).
Estes sistemas funcionam como comportamentos e necessidades não supridas pelo mundo real e
permitiriam a expressão de determinadas características de personalidade, até então encobertas, a
extensão em que alguns transtornos psicológicos primários, como a timidez, as dificuldades no
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estabelecimento de relação interpessoais, as inabilidades sociais a solidão a baixa auto-estima e
as frustrações da vida real, podem contribuir para o desenvolvimento da dependência de Internet
é ainda discutível (KING 1996).
3. A Psicologia das relações Interpessoais na Internet
A falta de interação física na Internet exerce importante influência na identidade das pessoas que
se comunicam na Internet, como o rompimento das relações amorosas porque para o dependente
só faz sentida a vida passada no mundo virtual. Suler (1996) conclui que a Internet funciona
como uma extensão do mundo psíquico do individuo um lugar onde a comunicação escrita (as
limitações técnicas ainda não permitem a generalização das videoconferências nos chats)
estimula os processos psicológicos de projeção e transferência (mecanismos de defesa). No
anonimato das conversas on-line qualquer pessoa é capaz de não apenas expressar seus desejos e
fantasias com uma liberdade que jamais teria no mundo real, como também de projetar com mais
intensidade no outro suas aspirações, ansiedades e receios. O Teclado aceita e o medo de rejeição
praticamente desaparece, em razão da possibilidade de sair de cena a qualquer momento, sem
deixar qualquer pista sobre sua própria identidade. A Internet, assim, proporciona uma
gratificação imediata, uma experiência prazerosa que, pode reforçar determinados aptos e
necessidades não supridas no mundo real (BALLONE, 2000).
Além do anonimato a interação interpessoal no ciberespaço faculta o nivelamento do
status, a tão almejada igualdade entre as pessoas e todos os outros que, na vida real, poderiam se
apresentar como superiores, não interessa on-line, a verdade social, as diferenças abissais. O que
realmente importa é a habilidade em se comunicar. Na Internet, a geografia é irrelevante, assim
como são irrelevantes as diferenças sociais. Ao se converterem à vida real essas relações
internéticas podem ruir, mas, até que isso aconteça, a fantasia satisfaz e afaga muitos egos em
todo o mundo. Nem todos os usuários que passam horas na Internet podem ser considerados
dependentes, pois existem pessoas que usam a Internet para se comunicar com conhecidos e
parentes distantes, utilizando a rede como meio de comunicação mais barato que o telefone e
mais rápido que o correio comum (GRIFFITHS 1997, SAYEG et al. 2000). Os dependentes de
Internet buscam a Internet, sem um objetivo definido, enquanto, que os usuários não dependentes
utilizam a Internet com o objetivo mais definido, e em geral em busca de uma informação seja ela
técnica ou a nível pessoal e em geral nos sites da web (SULER 1996) .
4. Sintomas
A quantidade de horas de utilização de Internet considerada como normal é ainda motivo de
discussão na literatura (Holmes, 1996; Young, 1996; Grohol , 1997; Razzouk et al 1998) o uso de
mais de 38-40 horas/semana ou 5-6 horas/dia constitui um início de dependência, embora, alguns
autores tenham relatado o mesmo padrão de dependência em indivíduos que usam a Internet de 8
a11 horas por semana , Grohol 1997, Razzouk et al. 2002, afirma que o número de horas não é
uma variável adequada para se determinar à presença ou não de dependência, na medida em que
o relato é obtido a partir do próprio usuário que, muitas vezes, não é fidedigno. Além disso,
pessoas com padrão de uso patológico podem utilizar menos horas do que o acima mencionado e,
ainda assim, apresentarem as conseqüências negativas deste uso. (HOLMES 1998, RAZZOUK et
al. 2000). Young (1997) leciona que a dependência a Internet é uma dificuldade no controle de
seu uso, que corresponde à dificuldade no controle dos impulsos, e que se manifesta como um
conjunto de sintomas cognitivos e de conduta. Tais sintomas são conseqüentes ao uso excessivo
da Internet, o que pode acabar gerando uma distorção de seus objetivos pessoais, familiares e
profissionais. São sintomas que representam sinais claros de alarme sobre este tipo de transtorno:
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Incapacidade de controlar o uso da Internet;
Necessidade de se conectar mais vezes;
Acessar a rede para fugir dos problemas ou para melhorar o estado de ânimo;
Pensar na Internet quando se esta off-line;
Sentir agitação ou irritação ao tentar restringir o uso;
Descuidar do trabalho, dos estudos ou até mesmo dos relacionamentos pessoais
por causa da rede;
Sofrer pela abstinência;
Mentir sobre a quantidade de horas que passa conectado e/ou permanecer muito
mais tempo que o previsto;
Usar a Internet como maneira de evadir-se dos problemas ou ocultar algum mal
estar,como sentimento de impotência, culpa, ansiedade, depressão;
Sofrer perdas de alguma relação significativa;
Esforçar-se repetitivamente de maneira infrutífera para controlar, reduzir ou deter
o uso de Internet (PRADO 1998, SAYEG et al. 2000).
5. Orgasmos Virtuais
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (2001) constatou que 16%
dos internautas do país, passam, em média, 14 horas semanais circulando pela rede a procura de
sexo. Nos Estados Unidos, onde os sites eróticos já são um negocio de 1 bilhão de dólares anuais,
o tempo dedicado ao prazer virtual é quase o dobro. A dependência digital assume caráter
explosivo quando reage com a compulsão sexual. Para pessoas que por timidez não conseguem
expressar suas intenções no mundo real, apesar de sua vontade e necessidade, a Internet
representa a queda de todas as barreiras à manifestação de fantasias e desejos – o ato sexual não
se completa na rede – mas os que ali se reúnem com este objetivo querem exatamente isso, sexo
sem contato físico, pessoas que têm dificuldades em estabelecer relacionamentos face a face e até
preferem evitá-los, temendo enfrentar decepção. Portadoras de desvios ou disfunção sexuais
buscam se proteger contra preconceitos e discriminação no ambiente anônimo da Internet. Depois
de cada experiência, o que fica é mais uma sensação de vazio e várias complicações familiares,
casamentos desfeitos ou abalados, porque um dos conjugues viciou-se em sexo virtual (XAVIER,
2000). Pesquisa realizada pelo site MSNBC com quase 40 mil internautas mostrou que 10% deles
confessam ser viciados em sites relacionados a sexo, e existe hoje na web cerca de 260 milhões
de endereços sobre o assunto. Para os pesquisadores é considerado um viciado em cybersexo
quem passa mais de 11 horas por semana procurando por esse tipo de material (NETO, M. 2003).
6. Caracterização de Dependência de Internet
Pioneira neste campo de pesquisa, Young (1996) sugere um critério para diferenciar os
dependentes dos não dependentes. Usou as seguintes perguntas como critério, considerando
como dependentes os que responderam sim a cinco ou mais questões apresentadas na seqüência:
1. Você se sente preocupado com a Internet (pensa sobre as suas conexões anteriores ou
antecipa as suas próximas conexões)?
2. Você sente uma necessidade de usar a Internet com crescentes períodos de tempo da
conexão para poder atingir sua satisfação?
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3. Você fez tentativas repetidas , sem sucesso, de controlar, diminuir ou parar de usar a
Internet?
4. Você se sente inquieto, mal-humorado, depressivo ou irritado quando tenta diminuir ou
parar o seu uso da Internet?
5. Você fica on-line mais tempo do que tinha planejado?
6. Você desafiou ou colocou em risco a perda de relacionamentos significantes, trabalho,
escola ou oportunidades de carreira por causa da Internet?
7. Você já mentiu para membros da família, terapeuta, ou outros para esconder a extensão de
seu envolvimento com a Internet?
8. Você usa a Internet como uma forma de escapar de problemas ou para aliviar de um mau
humor (ex.: sentimento de solidão, culpa, ansiedade, depressão)? (PRADO 1998, SAYEG
et al. 2000)
Caso o usuário respondesse “sim” para cinco ou mais questão seria considerado como
dependente de Internet. Prado (1998) através de Pesquisa Exploratória para verificação de
uso de questionários on-line, hábitos de uso, uso patológico de Internet e para identificação de
usuários patológicos e suas características criou um website no endereço
www.netpesquisa.com. Neste site continha uma página inicial, explicando o que era a
pesquisa , quais seus objetivos e um termo de concordância para a participação na pesquisa. O
questionário continha perguntas sobre dados demográficos, descrição de usos da Internet e
impacto psicológico causado pela Internet, além do critério de Young (1996) citado
anteriormente.Os dados foram agrupados num arquivo texto e posteriormente importados
para um software de análise estatística. A pesquisa foi divulgada via e-mail, chat, icq,
newsgroup e em mecanismos de busca durante todo o tempo que esteve aberto às respostas.
Num período de 40 dias um total de 275 questionários validamente respondidos foram
recebidos. Destes, 248 responderam as 8 questões do critério adaptado de Young. As
primeiras análises indicaram que uns totais de 7,3% (18 sujeitos) responderam sim para cinco
ou mais das 8 questões apresentadas e foram classificados como “Usuários Patológicos”
(PRADO 1998, SAYEG et al, 2000).Os resultados mostraram que:
Houve predominância maior de sujeitos do sexo masculino que responderam à
pesquisa;
Praticamente 50% dos usuários que responderam à pesquisa tinham entre 20 2 19
anos de idade;
70% dos usuários eram solteiros;
divididos por grau de escolaridade, mais de 50% da amostra eram sujeitos com 3º
grau;
Os usuários patológicos representam 7,3% da amostra pesquisada
Os usuários patológicos eram 17,1% de todos os usuários que utilizavam a
Internet entre um e dois anos.Esta porcentagem de usuários patológicos cresce de
acordo com o tempo de experiência na Internet, porém diminui muito quando
chega a dois ou mais anos de uso.
Estes critérios levam a um questionamento em relação ao padrão de personalidade e de
relacionamento social e afetivo, o quanto um indivíduo com dificuldades em diversas esferas
usa de um instrumento como a Internet para minimizar o que não consegue superar sozinho.
Como as drogas químicas, a dependência de Internet também esta relacionado à sensação de
prazer físico que ela produz. A cada download de uma foto sexualmente orientada, na
interatividade de um chat, no momento de abrir um e-mail esperado, no jogo virtual ou
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mesmo no barulho eletrizante da conexão a Internet, são produzidas no cérebro descargas
elétricas entre os neurônios, induzidas por um neurotransmissor chamado Dopamina. A
dopamina é uma substância que o cérebro libera normalmente quando uma pessoa faz sexo,
come ou bebe, quanto mais dopamina maior sensação de prazer. A dependência de Internet
mantém esse mesmo padrão fisiológico, criando uma dependência naqueles pequenos
momentos de prazer. O problema é que a Internet propicia uma rapidez muito grande nas
atividades interativas aumentando a chance de dependência (NUNES 2003). Prado (1998)
apresenta fatores considerados psicologicamente importantes para o uso da Internet e são
relacionados por Young (1997) com o uso patológico de Internet, apresentados a seguir:
Anonimato - Ao se conectar na Internet, um sujeito pode livremente navegar por entre as
páginas da web permanecendo anônimo, ou então conectar em algum serviço interativo sem
fornecer informações pessoais. Young (1997) mostra uma pesquisa onde 86% dos usuários
considerados dependentes apresentam o anonimato como um fator relacionado ao uso de
aplicação a “chat” e MUD (PRADO, 1998).
Segurança - Um sujeito pode se expressar livremente na Internet sendo que praticamente
nenhuma conseqüência acontecerá na vida deste em decorrência do que foi dito. Young
(1997) relata que 58% dos dependentes mencionaram o fator segurança como relacionado ao
uso de chat e MUD. (PRADO,1998).
Facilidade de uso e acesso - A maioria dos softwares de comunicação e de uso pessoal são
desenvolvidos visando ao uso intuitivo e à interatividade, tais características podem promover
tendências viciantes ao promover realidades alternativas aos usuários. (PRADO,1998).
Suporte Social – É formado na base de um grupo se usuários que se engajam numa
comunicação medida pelo computador (CMC) num longo período de tempo.Estabelecida
uma rotina de visitar um lugar particular (sala de chat, MUD) estabelece-se um censo de
comunidade entre outros usuários. No ciberespaço, permite-se que num primeiro contato um
usuário possa dizer ao outro coisas particulares, permitindo que se sinta próximo. A formação
dos grupos sociais cria um suporte social que responde a uma necessidade das pessoas, que
estão com problemas de relacionamentos interpessoais causados muitas vezes por auto-estima
rebaixada, timidez, em algumas circunstâncias da vida onde o contato social está limitado,
por opção ou em conseqüência dessa problemática. Nesses casos os indivíduos podem utilizar
a Internet como uma forma para desenvolver contatos sociais, tendo em vista dificuldade que
têm para estabelecer contatos na vida real. (PRADO, 1998).
Satisfação Social - Fantasias sexuais podem ser exercitadas quando romances sexuais
acontecem em salas de chat com títulos como sexo, lésbicas, namoro, gays e outros, são soa
criados para encorajar os usuários a se engajarem explicitamente num chat erótico. Young
(1997) percebeu a CMC para o cybersex, como uma forma segura de satisfazer os desejos
sexuais estando livre de contaminação de doenças sexualmente transmissíveis (DST). Os
usuários se sentem livres para levar a termo os impulsos sexuais diversos. Para aqueles que
não se sentem atraentes tem sua auto-estima rebaixada, foi percebido que era mais fácil
“conquistar” alguém através do cybersex do que na vida real.(PRADO , 1998).
Personalidade Virtual - A comunicação media por computador (CMC) possibilita a criação
de um papel alterando características físicas, idade, raça, sexo e outras.
Segundo Young (1997) a criação de um apelido, a pessoas se permitindo transformar
mentalmente numa nova pessoa on-line. Onde a figura virtual é qualitativamente diferente do
real, onde status socioeconômico, gênero, idade, raça e outros aspectos têm em conjunto um
papel no desenvolvimento da nova identidade construída a partir de novas relações. (PRADO,
1998).
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Reconhecimento e Poder - Os dependentes desejam se tornar mais fortes em seus
personagens, o que leva ao reconhecimento de ser um líder poderoso entre os jogadores. A
força da existência do personagem vai depender do tipo de MUD utilizado. Enquanto este
tipo de comportamento pode prover aos usuários uma saída segura para satisfação de
necessidades psicológicas inadequadas a absorção mental deste novo personagem tem um
papel negativo na vida real interpessoal e familiar. (PRADO, 1998).
7. Conclusão
O uso contínuo e mesmo persistente da Internet não é, invariavelmente, danoso; ele pode ser
desde saudável até patológico.As pessoas que tem este prazer desde que não comprometa o
uso de seu tempo ou suas atividades sócio familiares, têm a possibilidade de usufruir
beneficamente das informações infinitas da Internet, podem aprender, fomentar sua
criatividade, comunicar-se com outros. A dificuldade maior diz respeito aos limites entre o
uso inócuo e sadio e o aparecimento de conseqüências danosas e diretas dessa atividade
exercida em excesso.
Chame-se a isso vicio, uso patológico ou dependência, a verdade é que muitas pessoas não
têm conseguido conviver de forma saudável com uma novidade que está mudando o mundo e
o estilo de vida das pessoas. A Internet apresenta-se como o “braço direito” de muitas pessoas
e pode se tornar seu “corpo inteiro”, é necessário que se tome consciência deste grande
problema que se aproxima, isto é, pessoas individualistas que pensam e fazem tudo pela
Internet e acabam por ter medo do contato físico, da aproximação com os outros, dos próprios
sentimentos, emoções, valores, pois estes conceitos a Internet desconhece o significado.
Dependência a Internet é tão prejudicial quanto qualquer outro tipo de dependência, o
autocontrole e uma boa dose de autodisciplina podem assegurar o retorno ao equilíbrio.
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