ANATOMIA SISTEMÁTICA DO APARELHO

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ANATOMIA SISTEMÁTICA DO APARELHO UROGENITAL DE DIDELPHIS
ALBIVENTRIS, LUND, 1840 (MARSUPIALIA: DIDELPHIDEA)
Bruna Ferreira Machowski Martins (PIBIC/CNPq-UNICENTRO), Bárbara Basseggio
Rivas, Carlos Roberto Teixeira, Keila Garcia Favarão, Melissa Garcia, Rodrigo
Antonio Martins de Souza (Orientador), e-mail: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Medicina
Veterinária/Guarapuava, PR.
Ciências Agrárias, Medicina Veterinária, Anatomia Veterinária.
Palavras-chave: Gambá-de-orelha-branca, aparelho urogenital, reprodução.
Resumo:
O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) é um marsupial bastante comum
no continente americano, possui porte mediano e coloração grisalha. Seu trato reprodutor é
bastante diferente dos demais mamíferos, pois conta com duplicidade em seus órgãos: o
macho apresenta glande bifurcada, e a fêmea duas vaginas; além da presença do marsúpio.
O presente estudo foi realizado através de dissecções cadavéricas no laboratório de Anatomia Veterinária da Universidade Estadual do Centro-oeste (UNICENTRO), utilizando-se de
análises in situ e após exérese de todo o aparelho urogenital. Além da duplicidade dos órgãos, foram identificadas diferenças também nas relações topográficas dos mesmos: o pênis se situa na região perineal, imediatamente ventral ao ânus; o escroto se localiza na região pré-púbica. Possuem processos abdominais do osso pube, provavelmente com função
de sustentação do marsúpio na fêmea.
Introdução
Didelphis albiventris, conhecido como gambá ou raposa; é um mamífero da Ordem
dos Didelphimorphia que compreende a maioria dos marsupiais americanos. Possuem tamanho médio, com massa variando de 500 a 2750 gramas. Há o predomínio
da coloração grisalha acompanhada de listras pretas na face; possuem cauda prênsil e realizam alimentação onívora. Seus hábitos são noturnos e solitários, agrupando-se apenas em épocas de reprodução (ROSSI et al, 2006).
A anatomia comparada entre marsupiais e outros mamíferos foi estudada pioneiramente pelo zoólogo francês Henri de Blainville em 1816, que observou no trato reprodutor feminino diferenças bastante significativas. Em marsupiais apresentam-se
duas vaginas, dois ovidutos e dois úteros, enquanto nos demais mamíferos há uma
vagina, um útero e apenas os ovidutos em duplicata. Ele classificou os marsupiais
como Di-delphia (do grego, “dois úteros”), e os demais mamíferos Mono-delphia
(TYNDALE-BISCOE, 2005). O presente trabalho tem como intuito comparar a anatomia do aparelho urogenital de Didelphis albiventris com os dados da literatura, comAnais da XIX Semana de Iniciação Científica
25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358
parando-o com os dos animais domésticos. Obter informações importantes para a
realização de atendimentos clínicos e cirúrgicos a animais dessa espécie, assim
como entender a base morfológica da reprodução dessa espécie.
Materiais e métodos (Arial 12, Negrito, alinhado à esquerda)
Foram dissecados quatro exemplares sendo uma fêmea adulta, três machos
adultos, provenientes de doação do Centro de Medicina e Pesquisa em Animais
Selvagens (CEMPAS) da UNESP- Botucatu; e do Serviço de Atendimento a Animais
Selvagens (SAAS) da UNICENTRO. As dissecções foram realizadas no Laboratório
de Anatomia Animal da UNICENTRO, e todos foram armazenados em freezer por
período desconhecido. Os cadáveres foram fixados com solução aquosa de
formalina a 10% através de injeção subcutânea, intramuscular e intraperitoneal; e
também por submersão na mesma solução por 30 dias. Realizou-se a análise in situ
do aparelho urogenital, e em seguida foi realizada exérese do mesmo, utilizando-se
de bisturi, tesoura, pinças anatômicas e alicate. As peças finais foram realocadas em
placas de isopor para melhor observação.
Resultados e Discussão (Arial 12, Negrito, alinhado à esquerda)
Aparelho urogenital masculino:
Os rins nessa espécie se apresentam em par, possuem formato reniforme, localizam-se cranialmente na região lombar sendo o rim direito ligeiramente mais cranial
que o esquerdo; semelhantemente aos demais animais domésticos (KÖNIG, 2011).
Os ureteres seguem caudo-ventralmente à região vertebral até atingirem a vesícula
urinária, localizada sobre o osso pube.
O escroto se localiza na região pré-púbica, e internamente se encontram dois
testículos. Existe uma projeção óssea afilada e bilateral a partir do osso pube chamados de “processos abdominais”, que provavelmente tem a função de sustentação
do marsúpio na fêmea. Os ductos deferentes se originam a partir da cauda do epidídimo, e seguem obliquamente em direção aos canais inguinais; adentrando na cavidade abdominal. A inserção destes se dá na uretra, proximalmente à vesícula urinária. Macroscopicamente não se observam glândulas ampulares, mas é sugerida uma
análise histopatológica para confirmação. A partir da porção proximal da uretra inicia-se um tecido glandular que segue circundando-a em formato de “cenoura”; citada
por Nogueira (1985) como sendo a próstata. O pênis apresenta corpo cavernoso e
corpo esponjoso; formados pelos músculos de mesmo nome. Relacionando-se com
esses músculos há a presença de outra glândula anexa, também citada por Nogueira (1985) como sendo as glândulas bulbouretrais, divididas em três pares: lateral, intermédia e medial. O gato doméstico (Felis catus) é outra espécie que apresenta
apenas essas duas glândulas genitais anexas (KÖNIG et al, 2011). A uretra peniana
segue medianamente até a bifurcação do pênis, na qual também se ramifica. O pênis se localiza imediatamente ventral ao ânus, na região perineal. O animal doméstico que mais se assemelha com essa relação é o gato doméstico, porém a proximidade com o ânus é muito maior em Didelphis albiventris. Lateralmente ao ânus observou-se a presença de um par de glândulas semelhantes às adanais no cão.
Aparelho urogenital feminino
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A disposição dos rins e ureteres é semelhante ao macho, já descrito anteriormente,
porém a inserção dos ureteres na vesícula urinária é diferente, passando medianamente aos úteros. A uretra é curta e desemboca em um canal comum ao útero, o
seio urogenital. É relatado na literatura a formação de um canal pseudovaginal ou
“canal do parto” que liga o útero ao marsúpio; porém no animal dissecado essa estrutura não foi encontrada, sugerindo que a fêmea ainda não teve nenhuma gestação (POUGH et al, 2008).
Os ovários e úteros são pequenos, e localizam-se sobre a vesícula urinária.
Os ovários apresentam formato elipsoide com a superfície demarcada por folículos,
semelhante à cadela e à gata (KÖNIG, 2011). As tubas uterinas são bastante contorcidas e pequenas, e é possível visualizar os infundíbulos circundando os ovários. Os
úteros são tubulares e projetam-se em formato de “v” a partir das vaginas; estas
também são em par e se projetam lateralmente ao seio urogenital. A saída do reto e
do seio urogenital se dá pelo mesmo orifício semelhantemente ao que ocorre em
monotremados (POUGH et al, 2008); sendo a primeira estrutura dorsal à segunda.
O marsúpio se localiza na região ventral abdominal como nos demais marsupiais.
Conclusões (Arial 12, Negrito, alinhado à esquerda)
A anatomia do trato reprodutor da espécie Didelphis albiventris é bastante incomum;
e com este trabalho pôde-se encontrar e citar semelhanças entre os animais domésticos para que sirvam como apoio em momentos de necessidade. Destaca-se principalmente à duplicidade no aparelho reprodutor, através do pênis bifurcado; vagina e
útero em pares, além das semelhanças tanto com eutérios quanto com monotremados. As descrições anatômicas relacionadas a animais silvestres são escassas, tornando o assunto muito atrativo para novas pesquisas.
Agradecimentos (Arial 12, Negrito, alinhado à esquerda)
Agradeço aos Professores Marcos Vinícius Tranquilim e Carlos Roberto Teixeira
pela gentil doação dos cadáveres, o que possibilitou a realização desta pesquisa; e
também à Professora Zara Bortolini pela ajuda prestada.
Referências
König, H.E.; Liebich, H.G.; Maierl, J.; Órgãos genitais femininos; Órgãos genitais
masculinos; Órgãos urinários. In: Anatomia dos Animais Domésticos: Texto e Atlas
Colorido, H.E. König e H.G. Liebich, 4 ed: Artmed. Porto Alegre, 2011; 411-460.
Nogueira, J.C. Anatomical aspects and biometry of the male genital system of the
white-belly opossum Didelphis albiventris Lund, 1841 during the annual reproductive
cycle. Mammalia. 1988. 52, 2, 233.
Pough, F.H.; Janis, C.M.; Heiser, J.B. Especializações dos Mammalia. In: A Vida
dos Vertebrados. 4 ed: Atheneu. São Paulo, 2008. 553- 560.
Rossi, R.V.; Bianconi, G.V.; Pedro, W.A. Ordem Didelphimorphia. In: Mamíferos do
Brasil, N.R. Reis; A.L. Peracchi; W.A. Pedro e I.P. Lima. Universidade Estadual de
Londrina. Londrina, 2006. 27- 35.
Tyndale-Biscoe, Hugh. What is a marsupial? In: Life of Marsupials. 1ed: Csiro Publishing. Collingwood, 2005. 1-35.
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