Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA íNDICE Erro! Marcador não definido. INTRODUÇÃO ____________________________________________________________________ 4 1. GRANDEZAS FÍSICAS, UNIDADES E DIMENSÕES ______________________________ 4 1.1 Grandezas fundamentais e grandezas derivadas ______________________________ 4 1.2 Como medir uma dada quantidade (grandeza)?_______________________________ 4 1.3 Sistemas de Unidades ________________________________________________________ 5 1.4 Análise Dimensional__________________________________________________________ 6 2. COMPLEMENTOS DE MATEMÁTICA ___________________________________________ 8 2.1 Trigonometria ________________________________________________________________ 8 2.2 Cálculo vectorial _____________________________________________________________ 9 2.3 Cálculo diferencial _________________________________________________________ 11 2.3.1 Derivada de uma função __________________________________________________11 2.3.2 Regras básicas de derivação_______________________________________________12 2.3.3 Derivadas imediatas ______________________________________________________12 2.4 Cálculo integral ____________________________________________________________ 13 2.4.1 Algumas regras da primitivação ___________________________________________14 3. CINEMÁTICA DE UM PONTO MATERIAL _____________________________________ 14 3.1 Introdução _________________________________________________________________ 14 3.2 Movimento Unidimensional ________________________________________________ 15 3.2.1 Vector posição; Deslocamento _____________________________________________16 3.2.2 Velocidade média _________________________________________________________16 3.2.3 Velocidade instantânea ___________________________________________________17 3.2.4 Aceleração média é instantânea ___________________________________________17 3.2.5 Dedução das equações de velocidade e movimento no movimento unidimensional ________________________________________________________________18 3.2.6 Movimento rectilíneo e uniformemente variado _____________________________19 3.2.7 Corpos em queda livre ____________________________________________________19 3.3 Movimento Dimensional e Tridimensional _________________________________ 20 3.3.1 Coordenadas cartesianas _________________________________________________20 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 1 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 3.3.1.1 Posição e deslocamento _______________________________________________20 3.3.1.2 Velocidade média e velocidade instantânea_____________________________20 3.3.1.3 Aceleração média e aceleração instantânea _____________________________22 3.3.2 Movimento de um Projéctil ________________________________________________23 3.3.3 Coordenadas intrínsecas __________________________________________________25 3.3.3.1 Aceleração tangencial e aceleração radial no movimento curvilíneo _______27 3.3.3.2 Movimento circular ____________________________________________________29 3.4 Movimento relativo ________________________________________________________ 32 3.4.1 Velocidade relativa________________________________________________________33 3.4.2 Aceleração relativa ________________________________________________________34 3.4.3 Movimento Relativo de Translação Uniforme _______________________________34 4. DINÂMICA DE UMA PARTÍCULA MATERIAL _________________________________ 35 4.1 Momento linear ou quantidade de movimento _____________________________ 35 4.2 Leis de Newton _____________________________________________________________ 36 4.3 Princípio da conservação da quantidade de movimento ____________________ 38 4.4 Forças fundamentais e forças derivadas ____________________________________ 39 4.4.1 Conceito de força _________________________________________________________39 4.4.2 Tipos de forças ___________________________________________________________40 4.4.2.1 Forças fundamentais __________________________________________________40 4.4.2.2 Forças de contacto ____________________________________________________42 4.5 Aplicação da 1ª e 2ª leis de Newton: diagramas de corpo livre______________ 45 4.6 Aplicação da terceira lei de Newton: movimento curvilíneo ________________ 49 5. ESTÁTICA ___________________________________________________________________ 60 5.1 Condições de equilíbrio de uma partícula __________________________________ 60 5.2 Condições de equilíbrio de um corpo rígido ________________________________ 60 5.3 Momento de uma força _____________________________________________________ 61 6. TRABALHO E ENERGIA ______________________________________________________ 65 6.1 Trabalho de uma força _____________________________________________________ 65 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 2 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 6.2 Trabalho e Energia cinética. Teorema da energia cinética _________________ 67 6.3 Energia potencial associada a uma força conservativa: energia potencial gravítica e elástica _____________________________________________________________ 68 6.4 Forças não conservativas __________________________________________________ 73 6.5 Lei da conservação da Energia Mecânica ___________________________________ 74 6.6 Potência ____________________________________________________________________ 76 7. MOVIMENTO OSCILATÓRIO _________________________________________________ 77 7.1 Movimento Harmónico Simples ____________________________________________ 78 7.2 Energia do Oscilador Harmónico Simples __________________________________ 84 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 3 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA INTRODUÇÃO O que é a física? A física é uma ciência fundamental que procura entender os fenómenos naturais que ocorrem no nosso Universo. É uma ciência que se baseia em observações experimentais e em medições quantitativas. Procura estudar as propriedades básicas do Universo usando um conjunto limitado de objectos – Sistema Físico – que pode ir desde o menor sistema físico, designadamente o estudo de partículas elementares ao maior sistema físico, nomeadamente o Universo. Objectivos da física Distinguir as várias interacções da matéria (gravitacionais, electromagnéticas, nucleares) Exprimi-las quantitativamente com o auxílio da matemática A partir das interacções fundamentais formular regras gerais sobre o comportamento macroscópico da matéria 1. GRANDEZAS FÍSICAS, UNIDADES E DIMENSÕES 1.1 Grandezas fundamentais e grandezas derivadas A observação de um fenómeno é incompleta quando dela não resultar uma informação quantitativa. As leis de física exprimem-se em termos de grandezas fundamentais. Por exemplo grandezas como a força, velocidade e volume são grandezas derivadas, pois podem ser descritas em função de grandezas fundamentais, que em si mesmas se definem em função de medidas ou de comparação com padrões bem definidos. Na mecânica as três grandezas fundamentais são o comprimento (L), o tempo (T) e a massa (M). Todas as outras grandezas derivadas exprimem-se em função das grandezas fundamentais por fórmulas matemáticas. 1.2 Como medir uma dada quantidade (grandeza)? Medir é um processo que nos permite atribuir um número a uma grandeza física como resultado da comparação entre grandezas do mesmo tipo. Compara-se com um padrão o qual é considerado como unidade dessa quantidade (dimensão). IPCA - Escola Superior de Tecnologia 4 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Para medir o comprimento de um objecto compara-se com o metro padrão. Como curiosidade, este foi definido como a distância percorrida pela luz, no vácuo, no intervalo de tempo 1/299.792.458 segundos. Para medir a massa de um objecto compara-se com o quilograma. Definese como a massa de 1 litro de água pura a 4ºC. Para medir o intervalo de tempo compara-se com o segundo. Define-se como o tempo necessário para o átomo de césio 133 efectuar 9.192.631.770 vibrações. Tabela 1.1 – Prefixos de potências de 10 Prefixo Abreviatura Factor Prefixo Abreviatura Factor Deca- da 101 Deci- d 10-1 Hecto- H 102 Centi- c 10-2 Quilo- K 103 Mili- m 10-3 Mega- M 106 Micro- μ 10-6 Giga- G 109 Nano- n 10-9 Tera- T 1012 Pico- P 10-12 1.3 Sistemas de Unidades Em 1960, um comité internacional estabeleceu as regras para decidir sobre os padrões destas grandezas fundamentais. O sistema que foi estabelecido é denominado Sistema Internacional (SI) de Unidades. Neste sistema, as unidades de massa, de comprimento e de tempo são, respectivamente o quilograma, o metro e o segundo. Outras unidades estabelecidas pelo comité foram as de temperatura (kelvim), a de corrente eléctrica (ampère) e de intensidade luminosa (a candela) e a de quantidade de substância. Um sistema de unidades deve ser “coerente”, o que significa que uma unidade derivada se deve obter à custa das fundamentais por simples produto ou quociente. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 5 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Tabela 1.2 Algumas unidades SI derivadas com nomes especiais Grandeza Unidade Hertz(Hz) Expressão em termos das unidades fundamentais s-1 Força Newton (N) m.Kg.s-2 Pressão Pascal (Pa) N/m2 m-1.Kg.s-2 Trabalho Joule (J) N.m m2.Kg.s-2 Potência Watt (kW) J/s m2.Kg.s-3 Frequência Expressão em termos de outras unidades 1.4 Análise Dimensional O conceito de dimensão tem significado especial na física. Em geral denota a natureza física de uma grandeza. Uma distância, por exemplo, quer seja medida em metros ou em quilómetros, é sempre uma distância. Dizemos então que a sua dimensão é comprimento. Por exemplo para representar as dimensões da velocidade indicamos: [v ] No Sistema Internacional de Unidades os símbolos adoptados para cada uma das grandezas fundamentais são: Tabela 1.3 Dimensões de grandezas fundamentais Grandeza fundamental dimensão Comprimento L Massa M Tempo T Corrente eléctrica I Temperatura ө Quantidade de matéria N Intensidade luminosa J A dimensão de uma grandeza G, no SI, vem em geral dada por: [G ] = dim G = L M α IPCA - Escola Superior de Tecnologia β T γθ δ N ξ J η 6 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA α , β , γ ,... , onde são chamados expoentes dimensionais. Note-se que uma grandeza sem dimensão (adimensional) é uma grandeza em que todos os expoentes dimensionais são iguais a zero. Na tabela seguinte estão listadas as dimensões de algumas grandezas, juntamente com as unidades nos dois sistemas de unidades mais conhecidos. Tabela 1.4 – Principais unidades SI utilizadas em Mecânica. Grandeza Dimensão Unidade(si) Unidades (cgs) LT-1 m s-1 cm s-1 Área L2 m2 cm2 Volume de sólidos L3 m3 cm3 LT-2 M s-2 cm s-2 Força MLT-2 Kg m s-2=Newton g cm s-2=dine Energia ML2T2 Kg m2 s-2=Joule g cm2 s-2=erg Velocidade Aceleração Uma equação física correcta terá de ser dimensionalmente homogénea, devendo para tal obedecer às seguintes regras: As dimensões das quantidades em ambos os lados de uma equação devem de ser as mesmas (a não ser que a equação expresse um conversão entre sistemas de unidades diferentes), e este é o princípio da homogeneidade dimensional. Apenas quantidades com as mesmas dimensões devem de ser somadas ou subtraídas. Quaisquer quantidades podem ser multiplicadas ou divididas, mas as dimensões do resultado são o produto ou a divisão das dimensões individuais das parcelas. Exemplo 1.1 3m = 3kg (errado) 3 × 10 3 g = 3kg (correcto, corresponde a uma conversão) 1 polegada = 2,54 cm (correcto, corresponde a uma conversão) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 7 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo. 1.2 Analisemos dimensionalmente a seguinte equação, que traduz a equação de movimento. x = 1 / 2at 2 + v0 t [x ] = L [X ] = 1 / 2[a ][T ]2 + [v][T ] ⇔ L = 1 / 2 L.T −2T 2 + LT −1T ⇔ L = 1 / 2 L + L (dimensionalmente correcto) 2. COMPLEMENTOS DE MATEMÁTICA 2.1 Trigonometria h – comprimento da hipotenusa c – comprimento do lado oposto ao ângulo θ a - comprimento do lado adjacente ao ângulo θ 2.1.1 Funções trigonométricas tgθ = c a a h c senθ = h c tgθ = a cotgθ = cosθ = a c cosecθ = h a h secθ = c a cotgθ = c c arctg a = θ a Funções inversas arccos = θ h c arcsen h = θ 2.1.2 Triângulos trigonométricos • Triângulos rectângulos h2 = c2 + a2 • Outros triângulos IPCA - Escola Superior de Tecnologia 8 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Lei dos senos: a b c = = senα senβ senγ Lei dos co-senos: c 2 = a 2 + b 2 − 2ab cos γ c 2 = a 2 + b 2 + 2ab cos θ 2.2 Cálculo vectorial As grandezas físicas podem ser escalares ou vectoriais. Grandezas escalares são grandezas definidas apenas pela sua magnitude (número mais dimensão), como o tempo, área, volume,…Grandezas vectoriais são definidas pela sua magnitude e têm uma direcção associada (vector mais dimensão), tais como, a velocidade, aceleração, força,… Os vectores normalmente designam-se por letras minúsculas com uma seta por cima ( a, b, u , v, w,... ). O vector u definido pelo segmento orientado [A, B] representa-se por AB e escreve-se u = AB u B A O vector nulo representa-se por 0 , tem direcção e sentido indeterminados e comprimento zero. Referencial Ortonormado Define três direcções ortogonais no espaço tridimensional Os vectores i , j e k têm valor unitário sendo ortogonais entre si Estes vectores constituem uma base ortonormada com a qual é possível representara qualquer vector IPCA - Escola Superior de Tecnologia 9 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A = Ax + Ay + Az = Ax i + Ay j + Az k = ( Ax , Ay , Az ) A medida do comprimento de um vector chama-se a norma do vector: A = Ax2 + Ay2 + Az2 Em matemática, dados dois vectores quaisquer, obtém-se o vector soma da seguinte forma: Conhecidas as representações geométricas u u + v = (u x i + u y j + u z k ) + (v x i + v y j + v z k ) = = (u x + v x )i + (u y + v y ) j + (u z + v z )k = (u x + v x , u y + v y , u z + v z ) v u u v u+v u+v v Produto de um vector por um escalar: − 3u Dado o vector u , tem-se: u IPCA - Escola Superior de Tecnologia 2u 10 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA u = (3,−5,1) 2u = 2u x i + 2u y j + 2u z k = (6,−10,2 ) − 3u = (− 9,15,−3) Produto escalar de dois vectores (produto interno): u .v = (u x i + u y j + u z k ).(v x i + v y j + v z k ) = u x v x + u y v y + u z v z = u v cos(θ uv ) Em que θ uv é o ângulo entre os dois vectores. Assim se os dois vectores forem perpendiculares o seu produto escalar (ou interno) é nulo. Produto Vectorial de dois vectores (produto externo): k i j u × v = u ∧ v = ux uy u z = (u y v z − u z v y )i + (u z v x − u y v x ) j + (u x v y − u y v x )k = u v sen(θ uv ) vx vy vz Se dois vectores forem paralelos o seu produto externo é o vector nulo. A direcção do vector u×v é perpendicular a ambos os vectores. Utilizando a mão direita e colocando o dedo indicador no vector u e o médio no vector v, o polegar numa posição perpendicular aos outros dois dedos indica o sentido do vector resultante do produto vectorial (ou externo). 2.3 Cálculo diferencial 2.3.1 Derivada de uma função A derivada de um função f ( x) para x = a é definida como: f ' (a ) = lim h→ 0 f ( a + h) − f ( a ) h IPCA - Escola Superior de Tecnologia 11 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA f ' (a ) = tg (θ ) - a derivada é igual ao declive da tangente à curva para x = a 2.3.2 Regras básicas de derivação Derivada da soma de funções: [ f ( x) + g ( x)]' = Derivada do produto de funções: [ f ( x).g ( x)] = Derivada do quociente de funções: f ( x) f ' ( x).g ( x) − f ( x).g ' ( x) g ( x) ' = g 2 ( x) Derivada da função composta: ( fog )' ( x) = f ' ( g ( x)) g ' ( x) Derivada da função inversa: [f −1 ( x)]' = f ' ( x) + g ' ( x) f ' ( x).g ( x) + f ( x).g ' ( x) 1 f ' ( f −1 ( x)) 2.3.3 Derivadas imediatas ( x a )' = a.x a −1 [sen( x)]' = cos( x) [cos( x)]' = − sen( x) [tg ( x)]' = (a x )' = a x . ln(a ) ⇒ (e x ) = e x 1 cos 2 ( x) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 12 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 2.4 Cálculo integral Considere-se o gráfico da função y A área representada na figura pode ser obtida dividindo-a em várias fatias e calculando a sua soma: A = A1 + A2 + A3 + ... + An Seja ∆t , a variação, que se considera constante, da variável t . Se esta variação for suficientemente pequena para que a função y se possa considerar constante em cada intervalo ∆t + t , tem-se: A = y (t i )∆t + y (t i + ∆t )∆t + y (t i + 2∆t )∆t + .... + y (t f )∆t Tomando o limite ∆t → 0 , o cálculo da área é exacto, pois num intervalo de tempo infinitesimal a variável y matem-se constante: A = y (t i )dt + y (t i + ∆t )dt + y (t i + 2∆t )dt + .... + y (t f )dt Esta soma tem infinitos termos e é representada através de um intervalo definido: tf A = ∫ y (t )dt ti O teorema fundamental do cálculo integral, permite calcular o integral definido através da primitiva Y , da função y : tf A = ∫ y (t )dt = [Y ]tif = Y (t i ) − Y (t f ) t ti A primitiva é a função Y , cuja derivada é y (t ) e, sendo assim, pode obter-se de uma maneira inversa à da derivação. ∫ b a f ( x)dx = F (b) − F (a) em que IPCA - Escola Superior de Tecnologia dF ( x) = f ( x) ou seja F ( x) = primitiva ( f ( x)) dx 13 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Na tabela seguinte representam-se algumas primitivas usuais. Tabela 2.1 Primitivas de algumas funções usuais f(x) k Primitiva kx kx n (n ≠ −1) k x n +1 n +1 k x k ln x k .sen(ax) − k cos(ax) a k . cos(ax) k sen(ax) a 2.4.1 Algumas regras da primitivação Primitiva da soma de funções: ∫ [ f ( x) + g ( x)]dx = ∫ f ( x)dx + ∫ g ( x)dx Primitiva de uma constante vezes uma função ∫ c. f ( x)dx = c ∫ f ( x)dx Integração de uma função vectorial r = x(t )i + y (t ) j + z (t )k ⇔ ∫ tf ti tf tf tf r dt = ∫ rx(t )dti + ∫ ry (t )dtj + ∫ z (t )dtk ti ti ti Pois os vectores i . j e k são invariantes no tempo. 3. CINEMÁTICA DE UM PONTO MATERIAL 3.1 Introdução A dinâmica estuda o movimento dos corpos e a relação entre esse movimento e grandezas físicas, como a força e a massa. A cinemática representa a parte da mecânica que descreve o movimento com os conceitos de espaço e de tempo, independentemente das causas que o produzem. O repouso e o movimento de um corpo são conceitos relativos: Corpo está em movimento se a sua posição relativa a outro objecto varia com o tempo; IPCA - Escola Superior de Tecnologia 14 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Um corpo está em repouso se a sua posição relativa a outro objecto não varia com o tempo. Para descrever o movimento torna-se necessário definir um sistema de referência ou um referencial. A trajectória do movimento depende também do referencial adoptado para o estudar: O lugar geométrico dos pontos do espaço que vão sendo sucessivamente ocupados pela partícula designa-se trajectória. Com base na trajectória podemos classificar os movimentos possíveis da partícula como: Rectilíneo - Unidimensional Movimentos no plano - Bidimensional Curvilíneo s no espaço - Tridimensional 3.2 Movimento Unidimensional Neste capítulo, consideremos o movimento sobre uma recta, isto é, o movimento unidimensional. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 15 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 3.2.1 Vector posição; Deslocamento A posição da partícula é, em cada instante, caracterizada pelo vector posição: r (t ) = x(t )i Vector deslocamento - ∆r = (r − r0 ) O vector deslocamento traduz a mudança de posição de um objecto. É caracterizado por: Direcção – da recta suporte do vector Sentido - aponta da posição inicial para a posição final Módulo – menor distância entre a posição inicial e a posição final 3.2.2 Velocidade média A velocidade média da partícula define-se, no intervalo de tempo [t , t ], como o i f quociente do espaço percorrido pelo intervalo de tempo que o levou a percorrer: v média ∆r x f − xi = = i ∆t t f − t i v media - velocidade média xi , x f - posição inicial e final ti , t f - tempo inicial e final ∆x - deslocamento ∆t - intervalo de tempo ⇒ Se vmed > 0 ⇒ x(t f ) > x(t i ) - o movimento tem o sentido positivo do eixo Ox. ⇒ Se vmed < 0 ⇒ x(t f ) < x(t i ) - o movimento tem o sentido negativo do eixo Ox. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 16 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 3.2.3 Velocidade instantânea A velocidade instantânea, v, indica a velocidade, a direcção e sentido do movimento de um objecto em cada instante. É igual ao valor limite da velocidade média, quando o intervalo de tempo se torna muito pequeno, isto é: ∆x dx v = lim i = i dt ∆t → 0 ∆t 3.2.4 Aceleração média é instantânea A aceleração representa a taxa de variação da velocidade instantânea. ∆v v f − vi a med = = ∆t t f − t i a med - aceleração média num intervalo de tempo vi , v f - velocidade inicial e final ti , t f - tempo inicial e final ∆v - deslocamento ∆t - intervalo de tempo A aceleração instantânea é o valor limite da velocidade média, quando o intervalo de tempo tende para zero. ∆v dv d dx d 2 x a = lim = = i = i dt dt dt dt 2 ∆t →0 ∆t ⇒ Se a > 0 ⇒ v(t f ) > v(t i ) : Se v(t f ) e v(t i ) são positivos, significa que a velocidade aumenta, isto é, o movimento é acelerado. Se v(t f ) e v(t i ) são negativos, absoluto da velocidade em tf v(t f ) > v(t i ) significa que o valor é menor do que em ti e o movimento é retardado. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 17 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA ⇒ Se a < 0 ⇒ v(t f ) < v(t i ) : Se v(t f ) e v(t i ) são positivos, significa que a velocidade diminui, isto é, o movimento é retardado. Se v(t f ) e v(t i ) são negativos, absoluto da velocidade em tf v(t f ) > v(t i ) significa que o valor é maior do que em ti e o movimento é acelerado. Um movimento em que existe aceleração diz-se variado. Se a aceleração é constante diz-se uniformemente variado. Se a aceleração for nula, a velocidade é constante e o movimento diz-se uniforme. 3.2.5 Dedução das equações de velocidade e movimento no movimento unidimensional Podemos assim escrever: dv = a.dt Esta relação pode ser integrada. Para isso é necessário o conhecimento de um valor da velocidade ( v0 por exemplo) para um dado instante, v t v0 t0 ∫ dv = ∫ adt ⇒ t 0 . Temos então: t v − v0 = ∫ adt t0 Do mesmo modo a equação do movimento pode ser obtida por integração uma vez conhecida a lei das velocidades. Tem-se: v= dx dt ⇒ x t x0 t0 ∫ dx = ∫ xdt ⇒ dx = v.dt t x − x0 = ∫ vdt t0 Temos então a equação do movimento da partícula, num dado instante t, é dada por: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 18 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA t x = x0 + ∫ vdt t0 Note-se que deslocamento e espaço percorrido podem ser bastante diferentes. O deslocamento é dado pela diferença de posição entre dois instantes: ∆r = x(t f ) − x(t i ) i [ ] Para determinar o espaço percorrido temos de determinar os instantes em que a velocidade se anula, {t , t 1 2 , t 3 ,...}, e fazer: n ∆s = ∑ x(t i ) − x( i −1 ) i =1 3.2.6 Movimento rectilíneo e uniformemente variado Sendo a aceleração constante, a equação da velocidade em função do tempo fica: t t t0 t0 v = v0 + ∫ adt ⇔ v = v0 + a ∫ dt ⇔ v = v0 + a( t − t 0 ) Por raciocínio análogo, a equação da posição ao longo do tempo fica: t 1 x − x0 = ∫t vdt ⇔ x = x0 + ∫ [v0 + a (t − t 0 )]dt ⇔ x = x0 + v0 (t − t 0 ) + a (t − t 0 ) 2 2 t t 0 0 Particularmente, no movimento uniforme na qual a velocidade é constante: t t 0 0 x = x0 + ∫t vdt = x0 + v ∫t dt = x0 + v(t − t 0 ) 3.2.7 Corpos em queda livre É bem sabido, que todos os corpos quando são largados no espaço caem para a superfície da Terra com uma aceleração constante, devido à aceleração da gravidade a = − g . Deste modo as equações de movimento acima apresentadas passam a ter a seguinte forma (considerando IPCA - Escola Superior de Tecnologia t0 = 0 ). 19 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Equação da velocidade v = v0 − gt Equação da posição 1 y = y0 + v0t − gt 2 2 Velocidade em função da posição v 2 = v02 − 2 g ( x − x0 ) 3.3 Movimento Dimensional e Tridimensional 3.3.1 Coordenadas cartesianas 3.3.1.1 Posição e deslocamento De maneira geral, a localização de uma partícula é dada através do vector posição - r . Usando a notação de vectores unitários, representa-se por: r = x(t )i + y (t ) j + z (t )k ∆r = r f (t ) − ri (t ) 3.3.1.2 Velocidade média e velocidade instantânea ∆r (t ) ∆x(t ) ∆y (t ) ∆z (t ) v med = = i + j+ k ∆t ∆t ∆t ∆t dx dy dz r (t + ∆t ) − r (t ) dr v = lim = = v x (t )i + v y (t ) j + v z (t )k = i+ j+ k ∆t →0 ∆t dt dt dt dt IPCA - Escola Superior de Tecnologia 20 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplos 3.1 a) No caso do deslocamento se dar no sentido positivo. b) No caso do deslocamento se dar no sentido negativo A velocidade pode variar em módulo e em direcção. A variação da velocidade com o tempo é traduzida pela aceleração. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 21 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 3.3.1.3 Aceleração média e aceleração instantânea a med ∆v ∆v x ∆v y ∆v z = = i + j+ k ∆t ∆t ∆t ∆t ∆v dv d 2 r a = lim a med = lim = = ∆t → 0 ∆t →0 ∆t dt dt 2 A aceleração é sempre dirigida para a concavidade da curva pois a velocidade varia na direcção da curvatura da trajectória. dv dv x dv y dv z j+ a= i + = k = axi + a y j + az k dt dt dt dt a = a x2 + a y2 + a z2 Conhecendo a aceleração, é possível determinar por integração a velocidade e a posição em qualquer instante t: t dv t a= ⇔ dv = adt ⇔ v ∫v dv = ∫t adt ⇔ v = v0 + ∫t adt dt 0 0 0 r t dr t t v= ⇔ dr = dv dt ⇔ ∫r dr = ∫t v dt ⇔ r = r0 + ∫t v0 + ∫t a dt dt dt 0 0 Velocidade em função do tempo t v x = v0 x + ∫t a x dt 0 t v y = v0 y + ∫t a y dt 0 t vz = v0 z + ∫t a z dt 0 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 0 [ ] 0 Posição em função do tempo t t 0 0 t t 0 0 [ t [ t ] x = x0 + ∫t vx dt = x0 + ∫t v0 x + ∫t a x dt dt 0 ] y = y0 + ∫t v y dt = y0 + ∫t v0 y + ∫t a y dt dt t t 0 0 [ 0 t ] z = z0 + ∫t vz dt = z0 + ∫t v0 z + ∫t az dt dt 0 22 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A caracterização do movimento pode ser efectuada independentemente em cada uma das direcções do sistema de referência (Oxyz). Exemplo 3.2 3.3.2 Movimento de um Projéctil O movimento de projécteis constitui um bom exemplo de um movimento num plano. Normalmente é conhecida a sua velocidade inicial, de grandeza fazendo um ângulo IPCA - Escola Superior de Tecnologia α com a horizontal, para além da aceleração, v0 e g. 23 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA r0 = 0 e t0 = 0 t v dv = ∫ x ∫ a x dt = 0 0 v v t t dv = a dt = (− g )dt ∫0 v∫ y ∫0 y x a x a y =0 = −g ⇒ 0x y 0y v0 = v0 x i + v0 y j = v0 cos α i + v0 senαj a = g = − gj v = v0 + a( t − t 0 ) = v0 x i + v 0 y j − gtj = v0 cos αi + v 0 senαj − gtj t t t t r = xi + yj = x 0 + ∫ v x dt i + y 0 + ∫ v y dt j = ∫ [v0 cos α ]dt i + ∫ [v 0 senα − gt ]dt j 0 0 t0 t0 x = v0 cos(α )t 1 2 y = v sen ( α ) t − gt 0 2 Equação da trajectória de um projéctil: y = xtg (α ) − x 2 g 2v cos(α ) 2 0 A trajectória de um projéctil é uma parábola No ponto mais alto (ponto A), tem-se v0 sen(αe − gt A = 0 ⇒ t A = IPCA - Escola Superior de Tecnologia vy = 0 (velocidade horizontal): v0 sen( α ) g 24 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A altura máxima atingida pelo projéctil é então: v02 sen 2 (α ) 2g hmáx = O tempo necessário para o projéctil atingir o solo é calculado considerando y = 0: 2 1 2v sen(α ) 0 = v0 sen(α )t B − gt ∫B ⇒ t B = 0 = 2t A 2 g O alcance do projéctil corresponde ao valor de x( t = t B ) = v0 cos( α )t B = v0 cos( α ) x máx = xB : 2v0 sen( α ) g 2v0 cos( α )sen( α ) g Os resultados anteriores para o movimento do projéctil são válidas se: 1. O alcance é suficientemente pequeno para se poder desprezar a curvatura da superfície terrestre. 2. A altitude é suficientemente pequena para que a variação da aceleração da gravidade com a altura seja insignificante. 3. A velocidade inicial é suficientemente pequena para que a resistência não seja importante. 3.3.3 Coordenadas intrínsecas As coordenadas cartesianas são um modo útil de estudar movimentos planos mas fisicamente pouco informativas no que diz respeito aos vectores velocidade e aceleração. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 25 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Velocidade média ∆r vmed = ∆t Velocidade instantânea ∆r dr v = lim = ∆t →0 ∆t dt Quando ∆t → 0 , o módulo do deslocamento tende para ∆s ∆r → ∆s Se multiplicarmos e dividirmos por ∆s no cálculo da velocidade, podemos escrever: ∆r ∆r ∆s ∆r ∆s v = lim = = lim . lim . lim ∆t →0 ∆t ∆t →0 ∆s ∆t ∆t →0 ∆s ∆t →0 ∆t Por outro lado sabe-se que: Versor da tangente à curva: dr ∆r = lim = ut ds ∆s →0 ∆s Módulo da velocidade: v= Logo, v = v.ut ds ∆s = lim dt ∆t →0 ∆t A partir do módulo da velocidade podemos obter a lei horária do movimento, s = s (t ) : IPCA - Escola Superior de Tecnologia 26 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA s t t s0 0 0 ds = v.dt ⇒ ∫ ds = ∫ vdt ⇒ s − s0 = ∫ vdt 3.3.3.1 Aceleração tangencial e aceleração radial no movimento curvilíneo Consideremos o movimento de uma partícula sobre uma trajectória curva, na qual a velocidade muda de módulo e de direcção. Aceleração média ∆v a med = ∆t Aceleração instantânea du t dv d (vu t ) dv a= = = ut + v dt dt dt dt [u t = u t (t )] u t = cos(φ )i + sen(φ ) j π π u n = cos φ + i + sen φ + j = − sen(φ )i + cos(φ ) j 2 2 du t d dφ dφ = (cos(φ )i + sen(φ ) j ) = − sen(φ ) i + cos(φ ) j dt dt dt dt du t dφ = un ⇒ dt dt Conclui-se que du t dt é normal à trajectória Introduzindo o deslocamento na trajectória, IPCA - Escola Superior de Tecnologia ds , obtém-se 27 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA dφ dφ ds dφ = =v dt ds dt ds Se R for o raio da curvatura da trajectória, sabemos que ds = Rdφ , e podemos fazer dφ dt = 1 .v R Como a aceleração está dirigida para a concavidade da trajectória pode-se decompô-la em duas componentes, uma tangencial ( at ) e outra normal ( an ) à trajectória. dv v 2 a = u t + u n = at + a n dt R dv at = - descreve a variação do módulo de velocidade dt du t an = - descreve a variação da direcção da velocidade dt ~ Considerando o versor da tangente à trajectória ( u t ) tem-se: 2 v4 dv a= a +a = + 2 R dt 2 t 2 n A aceleração tangencial contabiliza a variação do módulo da velocidade e permite calcular a distância percorrida ao longo da trajectória curvilínea. t dv ⇒ v = v0 + ∫t at dt dt t ds v = ⇒ s = s0 + ∫t vdt dt at = 0 0 A aceleração normal caracteriza a variação da direcção da velocidade: du v2 an = v t = un dt R IPCA - Escola Superior de Tecnologia 28 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA se se conhecer a n e o módulo de velocidade, v du t a n = f ( t )i + g ( t ) j = v( t ) dt du t t f ( t ) t g( t ) f ( t ) g( t ) = i + j ⇒ u t ( t ) = u t ( t 0 ) + ∫ dt i + ∫ dt j dt v( t ) v( t ) t0 g ( t ) t0 g ( t ) 3.3.3.2 Movimento circular Um caso em que este tipo de coordenadas é particularmente útil é o do movimento circular. O movimento circular é o movimento no qual a trajectória é uma circunferência. O estudo deste movimento torna-se mais simples se tomarmos como origem do sistema de eixos o centro da circunferência. O arco percorrido pela partícula, está relacionado com o ângulo θ= s ⇔ s = Rθ R θ s, por: (sendo θ radianos) dθ ds v = ut = R u t = wRu t ⇒ Velocidade dt dt -1 escalar (ms ) w= dθ ⇒ Velocidade angular (rad s-1) dt A velocidade é perpendicular ao raio, pois a velocidade é tangente à circunferência. R = rsen(γ ) dθ w= k v = w × r dt v = wR = wrsen(γ ) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 29 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA w é perpendicular ao plano em que a rotação ocorre. O sentido de w, é determinado pelo sentido do movimento de rotação através da regra da mão direita ou do saca-rolhas. Neste caso as duas componentes da aceleração são dadas por: at = dv dw =R dt dt A quantidade α= an = dw dt v 2 R 2 w2 = = Rw 2 R R designa-se por aceleração angular da partícula. Temos então para aceleração total: a = αRu t + Rw 2 u n Movimento circular e uniforme ( w = constante) w= θ t dθ ⇔ dθ = wdt ⇔ ∫θ dθ = w∫t dt ⇔ θ = θ 0 + w(t − t0 ) dt 0 0 Neste caso tem-se um movimento periódico, pois após uma rotação de se ao ângulo inicial de 2π volta- θ0 . Tempo que demora a efectuar uma volta completa designa-se por período do movimento, T= T , e corresponde a uma rotação de θ = 2π tn (s) t Tempo que demora a efectuar n voltas A sua relação com w= rad. dθ dt ⇒ w determina-se facilmente já que θ + 2π ∫ θ t +T dθ = ∫ wdt t ⇒ 2π = w.T ⇔ T = 2π W Número de voltas por unidade de tempo designa-se por frequência do movimento, f , é o inverso do período: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 30 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA f = t 1 = (s -1 = Hz) tn T ⇒ w = 2πf Podemos neste caso obter também a variação temporal do ângulo w(t ) = θ t t dθ t ⇔ dθ = wdt ⇔ ∫ dθ = ∫ wdt ⇔ θ − θ 0 = ∫ wdt = [wt ]t dt t t θ 0 0 0 0 θ = θ 0 + w(t − t 0 ) Obtemos assim: Em coordenadas cartesianas, a posição da partícula é: x(t ) = R. cos(θ 0 + wt ) y (t ) = R.sen(θ 0 + wt ) v2 a = ou a = w 2 R R A aceleração é radial e aponta para o centro da trajectória Movimento circular não uniforme Existe uma aceleração angular (α ) . No movimento circular a direcção de w não varia dw d 2θ = α= dt dt 2 Quando α é constante obtém-se o movimento circular e uniformemente variado. t t 0 0 w = w0 + ∫t αdt =w0 + α ∫t dt =w0 + α (t − t0 ) t t α 0 0 2 θ = θ 0 + ∫t wdt =θ 0 + ∫t [w0 + α (t − t0 )]dt = = θ 0 + w0 (t − t0 ) + IPCA - Escola Superior de Tecnologia (t − t 0 ) 2 31 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Componente normal e tangencial da aceleração no movimento circular a = at + a n dv v 2 = ut + un dt R d ( wR ) ( wR )2 = ut + un dt R = αRu t + w 2 Ru n 3.4 Movimento relativo O movimento é um conceito relativo cuja descrição depende de um referencial específico escolhido pelo observador. Na realidade, diferentes observadores usando sistemas referenciais diferentes obtêm diferentes descrições de um mesmo movimento. O movimento relativo procura deste modo, relacionar os resultados distintos de um mesmo fenómeno descrito por diferentes observadores. Um referencial é escolhido de modo a facilitar a descrição do movimento do objecto que se pretende estudar. Exemplos Movimento da Terra: referenciais ligados à Terra Astronomia: referenciais em estrelas que se podem considerarem imóveis (“estrelas fixas”) Física atómica: referencial no núcleo atómico (os electrões são muito mais leves que o núcleo podendo-se considerar que a posição nuclear é fixa relativamente aos electrões) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 32 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 3.4.1 Velocidade relativa Velocidade de A e B medidos pelo observador O drA vA = dt drB vB = dt Vector posição de B relativamente a A rBA = AB = rB − rA Vector posição de A relativamente a B rAB = BA = rA − rB ⇒ rAB = −rBA Velocidade de B em ralação a A: drBA vBA = dt Velocidade de A em ralação a B: drAB v AB = dt ⇒ vBA = −v AB drBA drB drA = − ⇔ vBA = vBO − v AO = vB − v A dt dt dt drAB drA drB = − ⇔ v AB = v AO − vBO = v A − vB dt dt dt IPCA - Escola Superior de Tecnologia 33 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 3.4.2 Aceleração relativa Aceleração de B em ralação a A: dvBA a BA = dt Aceleração de A em ralação a B: dv AB a AB = dt ⇒ aBA = −a AB dvBA dvB dv A = − ⇔ aBA = aBO − a AO = aB − a A dt dt dt dv AB dv A dvB = − ⇔ a AB = a AO − a BO = a A − aB dt dt dt 3.4.3 Movimento Relativo de Translação Uniforme Seja O’ x’y´z´ um referencial móvel com velocidade vt em relação ao referencial fixo Oxyz. O sistema de referência O e O’ movem-se um em relação ao outro com movimento uniforme de translação ( vTR = v = cons tan te ) Para simplificar escolheu-se sistemas de eixos com i e j paralelos a v , j paralelo a j e k paralelo a Supondo que para temos: OO' = v t com x´ = x − vt r = OA = OO' + O' A = v t + r' ⇔ r' = r − v t ⇔ y' = y z' = y t = t' k' t = 0, O e O’ coincidem v = vi Transformações de Galileu IPCA - Escola Superior de Tecnologia 34 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Admite-se que as medidas de tempo são independentes do observador. v = v AO é a velocidade absoluta v ' = v AO ' é a velocidade relativa ⇒ vobj / ref .móvel vTR = voo ' ⇒ vobj / ref . fixo é a velocidade de transporte ⇒ vref . móvel / ref . fixo tem-se, v = v '+ vTr ou v ' = v − vTr Aceleração a = a '+ aTr ou a ' = a − aTr . Se a velocidade de transporte for constante aTr = 0 . Os referenciais que se movem um em relação ao outro com um movimento uniforme são chamado referenciais inerciais. 4. DINÂMICA DE UMA PARTÍCULA MATERIAL O objectivo da Dinâmica é o estudo da relação entre um movimento, ou, mais precisamente entre as alterações a um movimento, e as causas dessas alterações. Por exemplo, um movimento rectilíneo e uniforme de uma partícula não requer nenhuma interacção entre a partícula e o exterior para se manter. Mas para o modificar, isto é, para lhe fazer variar a velocidade, seja em grandeza ou direcção, a partícula tem que ser submetida à acção do que se designa por uma força, que lhe provocará uma aceleração, isto é uma mudança no seu estado de movimento. 4.1 Momento linear ou quantidade de movimento A quantidade de movimento, p , de uma partícula é definida como: p = mv Esta é uma grandeza muito importante pois combina os dois elementos que caracterizam o estado dinâmico da partícula: a sua massa e sua velocidade. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 35 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 4.2 Leis de Newton A cinemática descreve o movimento de uma partícula, enquanto que a dinâmica estuda as relações entre o movimento de um corpo e as causas desse movimento. O que é visível numa força é o seu efeito: a alteração do seu movimento. Assim para estudar as forças, é necessário observar o movimento resultante das acções das forças. Podemos assim definir a força como uma interacção entre corpos físicos que provoca alterações na sua velocidade ou não. Deste modo, a dinâmica pode ser considerada como a análise da relação entre o movimento e a força. Primeira lei de Newton (ou lei da inércia) Quando a resultante das forças que actuam num objecto for nula, esse objecto permanece num estado de repouso ou num estado de movimento rectilíneo e uniforme. Da 1ª lei de Newton, podemos concluir que: Repouso ou movimento são estados naturais de um corpo, isto é, estados que somente se modificam se a resultante das forças que actuam no corpo for não nula. Os objectos têm tendência para permanecer em repouso ou em movimento rectilíneo uniforme. Esta tendência é referida como inércia. Do ponto de vista físico não existe diferença entre repouso e movimento com velocidade constante. Referenciais inerciais A primeira lei de Newton, também chamada lei da inércia, define um conjunto especial de sistemas de coordenadas denominado referenciais inerciais. Um referencial inercial é um referencial em que é válida a primeira lei de Newton. Definindo partícula livre, como uma partícula que não está sujeita a interacções com outras (partícula isolada) podemos assim mostrar que o movimento é um conceito relativo. Para descrever o movimento de uma partícula livre é necessário que o observador também seja uma partícula livre (sem aceleração). Tal IPCA - Escola Superior de Tecnologia 36 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA observador é um observador inercial e o referencial por ele usado é um referencial inercial. A Terra não é um referencial inercial, pois tem movimento de rotação em torno do Sol e movimento de rotação em torno do seu eixo, sendo por isso um referencial acelerado. De facto a aceleração resultante dos seus movimentos de rotação e translação é cerca de 0,01m/s2. Assim, um referencial ligado à superfície da Terra pode, sem grande erro (em muitos casos), ser considerado um referencial de inércia. O Sol não é um referencial inercial, pois roda em torno do centro da Galáxia, estando assim animado de um aceleração centrípeta. Contudo, o Sol é um referencial inercial mais próximo que o da Terra, pois o seu movimento aproxima-se mais do movimento rectilíneo e uniforme (raio da curvatura muito maior que o da Terra). Segunda lei de Newton (ou lei fundamental da dinâmica) A segunda lei de Newton define assim a força, F , como a causa da alteração do movimento, de tal forma que, se uma força F actuar sobre uma partícula, a sua quantidade de movimento, p = mv , sofre uma alteração tal que dp F= dt unidade SI: kgms-2=newton (N) Admite-se que todas as forças causam o mesmo efeito, quer actuem isoladas ou em conjunto com outras forças – Princípio da independência das forças Equação fundamental da dinâmica: IPCA - Escola Superior de Tecnologia dp R = ∑ Fi = dt i 37 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA No caso geral temos: dp d ( mv ) dm dv = = v+m dt dt dt dt Sendo a massa, m constante dm = 0 , temos: dt dp dv =m = ma dt dt Obtemos assim a forma mis conhecida da 2ª lei de Newton: R = ∑ Fi = ma i Terceira lei de Newton (ou lei fundamental da dinâmica) Quando dois corpos interagem, a força que um corpo exerce no outro é igual em módulo, e de sentido contrário, à força que o segundo corpo exerce no primeiro. FB / A FA / B = − FB / A FA / B A B 4.3 Princípio da conservação da quantidade de movimento Considere o sistema de partículas isoladas A e B No instante t: p = p1 + p 2 = mv1 + mv2 No instante t’: p' = p'1 + p' 2 = mv'1 + mv' 2 p = p' = cons tan te em qualquer instante IPCA - Escola Superior de Tecnologia 38 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Princípio da conservação da quantidade de movimento Num sistema com n partículas isoladas a quantidade de movimento mantém-se constante relativamente a um referencial inercial, isto é: p = ∑ pi =constante i Considerando um sistema de n partícula em dois instantes diferentes ti e tf , tem-se: ( p ) + ( p ) + ( p ) 1 i 2 i 3 i + ... = ( p1 ) f + ( p 2 ) f + ( p3 ) f + ... ou seja ∆p1 + ∆p 2 + ∆p3 + ... = 0 ∆p j = −∑ ∆pi ⇒ A variação de p de uma dada partícula é igual ao i simétrico da variação de p do resto do sistema. Num sistema de duas partículas: ∆p1 = −∆p 2 ou seja a interacção entre partículas leva a uma troca da quantidade de movimento entre elas. 4.4 Forças fundamentais e forças derivadas 4.4.1 Conceito de força As forças actuam sempre à distância (não existe contacto). Esta distância poderá ser: Muito grande (ex., interacção gravítica interplanetária) Muito pequena (ex., interacções interatómicas, contacto aparente entre dois objectos) A transferência da quantidade de movimento entre partículas envolve um meio de transmissão. A força representa a acção de corpo sobre outro e caracteriza-se por: uma direcção, sentido, intensidade e ponto de aplicação. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 39 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA • Pequena porção da matéria que se pode considerar que o cupa um ponto no espaço Ponto material• É utilizado quando o tamanho e a forma dos corpos em estudo não têm influência significativa Forças aplicam - se a Conjunto de um grande número de pontos Corpo rígidomateriais em que as suas posições relativas são fixas Corpo deformável 4.4.2 Tipos de forças 4.4.2.1 Forças fundamentais Forças fundamentais forças gravíticas (relativamente fracas) forças electromagnéticas (relativamente fortes) forças nucleares fortes (mantêm a coesão do núcleo) forças nucleares fracas (interacção a curta distância) Força gravitacional É força de atracção mútua entre todos os corpos. Exemplos mais comuns são a força exercida pelo sol que mantém os planetas na sua órbita, assim como a força exercida pela Terra sobre a Lua que mantém esta numa órbita quase circular em torno desta. Lei da gravitação de Newton – dois pontos materiais de massas M e m são mutuamente atraídos com forças iguais e opostas, F, de intensidade: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 40 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA F =G mM 2 rAB G - constante de gravitação rAB - distância entre os dois pontos materiais No caso da atracção pela Terra de um ponto material para a sua superfície P = mg g= GM Terra = 9,8ms − 2 2 RTerra em que P é força de atracção exercida pela Terra num ponto material de massa m e é definido como o seu peso. Força electromagnética É a atracção, ou repulsão, entre partículas carregadas que estão em movimento relativo. A força electromagnética inclui, deste modo, duas forças, a eléctrica e a magnética. Um exemplo típico de uma força eléctrica é a atracção entre pedaços de papel e uma barra de plástico. A força magnética entre um electroíman e limalha de ferro aparece quando as cargas eléctricas se movem. Força nuclear forte A força nuclear forte é a responsável pela estabilidade dos núcleos. Esta força constitui a “cola” que matem reunidos os constituintes do núcleo (os nucleões). É a mais intensa das forças fundamentais. Com separações da ordem de 10-15 m (dimensão nuclear típica), a força nuclear forte é uma a duas ordens de grandeza maior que a força electromagnética. Porém diminui rapidamente com o aumento da separação entre as partículas. Força nuclear fraca A força nuclear fraca é uma força de curto alcance, que tende a provocar a instabilidade de certos núcleos. Maior parte das reacções de desintegração radioactiva é provocada pela força nuclear fraca. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 41 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 4.4.2.2 Forças de contacto Todas as outras forças de que vulgarmente se fala, tais como a força de atrito, a força elástica de uma mola, a tensão numa corda, etc…, são manifestações macroscópicas de forças incluídas numa das quatro categorias referidas. Reacção normal O peso do bloco puxa-o para baixo, empurrando-o contra as moléculas da superfície da mesa A mesa resiste a esta compressão e exerce no bloco uma força, dirigida para cima. Força de reacção normal ou reacção normal, N , é uma componente que a superfície exerce sobre o objecto com o qual está em contacto, cuja direcção é sempre perpendicular à direcção da superfície. Força de atrito Quando um objecto está em contacto com uma superfície, para além da força normal, existe uma força com uma direcção paralela à superfície denominada força de atrito. O atrito resulta da interacção das moléculas das superfícies em contacto, depende por isso, essencialmente de três factores: natureza das superfícies de contacto rugosidade das superfícies velocidade relativa IPCA - Escola Superior de Tecnologia 42 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA O atrito de escorregamento ocorre quando existe deslizamento entre duas superfícies em contacto. Um dado objecto em movimento vai perdendo quantidade de movimento devido à força de atrito ( Fat ) . Esta força de atrito de escorregamento opõe-se sempre ao movimento, tendo por isso, a mesma direcção da velocidade e sentido oposto. O peso do corpo pressiona-o contra a superfície originando um par acçãoreacção, N e N' , perpendicular ao plano de contacto. Verifica-se experimentalmente que a intensidade da força de atrito é proporcional à intensidade do força normal, N , que resulta do contacto entre as duas superfícies, Fat = µ N µ( > 0 ) - coeficiente de atrito Quando existe movimento relativo e considerando o versor da direcção do movimento u v = v / v , a força de atrito pode-se exprimir vectorialmente como: Fat = −µ N u v O coeficiente de atrito mudo consoante o corpo está em movimento relativamente ou não, IPCA - Escola Superior de Tecnologia 43 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Fat F + Fat = 0 ⇒ µ = ⇒ µ = N F N O valor máximo de F para a qual a força de atrito consegue evitar o movimento corresponde ao coeficiente de atrito estático, µ e . Nesse caso o corpo está na iminência do movimento. Conclui-se portanto, que na ausência de movimento, a força de atrito está no plano de contacto das superfícies e tem intensidade: Fae ≤ Faemax O módulo da força de atrito estático, Fae , pode ter qualquer valor entre zero um valor máximo, Faemax , em que: Faemax = µ e N Quando a força F é suficiente para iniciar o movimento verifica-se que o coeficiente de atrito é aproximadamente independente da velocidade tomando o valor de µ c . Este valor corresponde ao coeficiente de atrito cinético e é inferior a µ e , sendo a força de atrito cinética, Fac . Fac = −µ c N u v = −µ c N v / v O atrito de rolamento ocorre quando um corpo rolo em cima de outro. Como a superfície de contacto entre os corpos é menor, este atrito é geralmente menor que o atrito de escorregamento. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 44 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Tabela 4.1 Valores aproximados de coeficientes de atrito Material µe µc aço/aço 0,7 0,6 vidro/vidro 0,9 0,4 teflon/aço 0,04 0,04 borracha/cimento molhado 1,0 0,8 borracha/cimento seco 1,0 0,8 Forças em molas Quando se estica ou comprime uma mola existe uma força que tende a levar a mola ao seu comprimento de equilíbrio denominada força elástica, Fel . Mola em equilíbrio Mola comprimida Mola esticada A Fel é proporcional ao afastamento do equilíbrio da mola: Fel = − k ( x − x0 )u x 4.5 Aplicação da 1ª e 2ª leis de Newton: diagramas de corpo livre Exemplo 4.5.1 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 45 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo 4.5.2 Considere-se o seguinte exemplo na qual temos um trenó assente numa superfície gelada. O cão a corda atada ao trenó com uma força F. A corda sob tensão puxa então o trenó. Primeiro passo para resolver o problema é isolar o sistema a ser analisado: neste caso o trenó. Segunda fase, é esquematizar quais as forças que actua no sistema considerado, ou seja desenhar o diagrama do corpo livre. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 46 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo 4.5.3 Forças que actuam na TV: Peso: P = mg Reacção normal: N Como a TV está parada, temos: F = ma = 0 ⇔ P + N = 0 ∑ N = − P ⇔ N = mg Exemplo 4.5.4 Forças aplicadas no bloco são, mais uma vez: Peso: P = mg Reacção normal: N Aplicando a 2ª lei de Newton: ∑ F = ma ⇔ P + N = ma mg × senθ Px = m × a x = g × senθ a x = ⇔ m − Py + N = m × a y = 0 N = mg × cos θ Exemplo 4.5.5 Forças que actuam no livro: P = mg Força exercida pela mão: F Reacção normal: N Peso: Como o livro está em repouso, temos: ∑ F = ma = 0 ⇔ P + F + N = 0 N = − P − F ⇔ N = mg + F IPCA - Escola Superior de Tecnologia 47 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo 4.5.6 Forças que actuam no cesto: P = mg Força exercida pela mão: F Reacção normal: N Peso: Como o cesto está em repouso, temos: F = m a = 0 ⇔ P +F+N =0 ∑ N = − P − F ⇔ N = mg − F Exemplo 4.5.7 “O Amaral cai acidentalmente e fica pendurado na beira de um rochedo gelado. Felizmente encontra-se preso por uma corda ao Eduardo. Antes do Eduardo conseguir cravar o seu martelo no gelo, desliza mas continua atado ao Amaral”. Qual a aceleração de cada um dos alpinistas? Aplicando a 2ª lei de Newton: Eduardo : Amaral : ∑ Fx ∑ FY ∑ Fx ∑ FY IPCA - Escola Superior de Tecnologia = m e a xe ⇔ T1 = m e a xe = m e aYe ⇔ N − m e g = 0 = m a a xa = 0 = m a aYa ⇔ −T2 + m a g = m a a ya 48 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Uma vez que o Eduardo e o Amaral estão ligados pela corda ( T1 = T2 , se se desprezar a massa da corda) os módulos das suas acelerações serão iguais, então: ma g m a=m g−m a⇔a= e m + ma e a a 4.6 Aplicação da terceira lei de Newton: movimento curvilíneo Exemplo 4.6.1 Qual é a aceleração das caixas? Qual a intensidade da força exercida por uma caixa sobre a outra? Pela 3ª lei de Newton: F1 / 2 = − F2 / 1 Aplicando o princípio da 2ª lei de Newton às duas caixas: F − F2 / 1 = m1a1 = m1 a1 caixa caixa 1: F1 / 2 uma vez que a= F m1 + m2 a1 = a2 = a 2: obtemos: F1 / 2 = m2 F m1 + m2 Movimento circular Exemplo 4.6.2 Considere-se uma partícula a descrever um movimento circula e uniforme. A partícula percorre um círculo de raio R num determinado intervalo de tempo T. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 49 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA ∆s 2πR = ∆t T ∆θ 2π W= = =v/ R ∆T T v= mas se o intervalo de tempo considerado é pequeno: ∆v v.∆θ v2 a≅ ⇔a= = v.w = ∆t ∆t R quando ∆t → 0 Este termo é sempre perpendicular à trajectória. Movimento curvilíneo O movimento curvilíneo ocorre quando a força não é colinear com a velocidade. Existe portanto uma componente da aceleração perpendicular à velocidade. A componente da aceleração perpendicular à velocidade é responsável pela variação da direcção do movimento da partícula (através da variação da direcção da velocidade). Se a massa for constante então a aceleração é paralela à força: F = ma = m( at + a n ) em que: v2 dv dv v2 at = e an = ⇒ F = m ut + m un r dt dt r F = Ft u t + Fu n ⇒ A força tangencial, Ft é responsável pela variação do módulo da velocidade e é tangente à trajectória. Ft = 0 - o movimento é uniforme (velocidade constante) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 50 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA ⇒ A força normal, Fn é responsável pela variação da direcção da velocidade e aponta sempre para o centro da curvatura. Fn = 0 - o movimento é rectilíneo. No caso do movimento circular o raio da curvatura, r, é constante e igual ao raio da circunferência, R e v = wR . Logo a força normal ou força centrípeta, é: v2 Fn = Fn = m a n = m = mw 2 R R Quando o movimento é circular e uniforme, F = Fn (at = 0) , ou seja, F = m an u n = mw 2 Ru n )m( wvu n = mw × v = w × p Exemplo 4.6.3 Um fio de comprimento L, ligado a um ponto fixo, tem na sua extremidade uma massa m que gira em torno de um eixo vertical com velocidade angular constante w . Este dispositivo chama-se pêndulo cónico. Determinar a aceleração angular, α. As forças que actuam na massa m são o peso, P , e a tensão, T . A restante das forças é a força centrípeta, Fn , necessária ao movimento circular: T + P = Fn Tomando as componentes das forças nas direcção vertical e normal, tem-se T cos( α ) − P = 0 T = mg / cos( α ) ⇒ Tsen( α ) = Fn Fn = mgsenα / cos( α ) como Fn = ma n = mw 2 R = mw 2 Lsen( α ) , conclui-se que cos( α ) = g / w2 L IPCA - Escola Superior de Tecnologia 51 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 5. DINÂMICA DE UM SISTEMA DE PARTÍCULAS 5.1 Momento linear e impulso Até agora estudamos o movimento duma partícula ou de partículas. Vamos agora estudar o movimento de um sistema de partículas. O momento linear de uma partícula de massa m que se move com uma velocidade v é definido como o produto da massa pela velocidade: p = mv Momento de um sistema de partículas é a soma: p 1 = mv 1 p 2 = mv 2 p 3 = mv 3 p = p 1 + p 2 + ... + p n ... p n = mv n Definimos o vector força, como a derivada do momento linear relativo ao tempo, que constitui a expressão da segunda lei de Newton. F= dp dt A segunda lei de Newton no caso particular de massa constante é um caso particular da definição de força. F= d (mv ) dv =m = ma dt dt Explicitando d p na definição de força e integrando tf d p = F dt p f − p i = ∫ F dt ti À esquerda, temos a variação de momento linear, à direita, o integral que é denominada impulso da força F no intervalo que vai de ti a tf. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 52 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Para o movimento em uma dimensão, quando uma partícula se move sob a acção de uma força F , a integral é a área sombreada sob a curva força-tempo. Em muitas situações físicas empregamos a teoria do impulso. Nesta teoria, podemos supor que uma das forças que actuam sobre a partícula é muito grande, porém, de muito curta duração. Esta teoria é de grande utilidade quando estudamos os colisões, por exemplo, de uma bola com uma raqueta ou com o pé. O tempo de colisão é muito pequeno, da ordem de centésimos ou milésimos de segundo, e a força média que exerce o pé ou a raqueta sobre a bola é de vários Newton (s). Esta força é muito maior que a gravidade, por isto podemos utilizar a teoria do impulso. Quando utilizamos esta teoria é importante recordar que os momentos lineares inicial e final se referem ao instante antes e depois da colisão, respectivamente. 5.2 Dinâmica de um sistema de partículas Seja um sistema de partículas. Sobre cada partícula actuam as forças externas ao sistema e as forças de interacção mútua entre as partículas do sistema. Suponhamos um sistema formado por duas partículas. Sobre a partícula 1 actua a força externa F 1 e a força que exerce a partícula 2, F 12 . Sobre a partícula 2 actuam a força externa F 2 e a força que exerce a partícula 1, F 21 . Por exemplo, se o sistema de partículas fosse o formado pela Terra e Lua: as forças externas seriam as que exerce o Sol (e o resto dos planetas) sobre a Terra e sobre a Lua. As forças internas seriam a atracção mútua entre estes dois corpos celestes. Para cada uma das partículas se cumpre que a razão da variação do momento linear com o tempo é igual a resultante das forças que actuam sobre a partícula considerada, logo, o movimento de cada partícula é determinado pelas forças internas e externas que atuam sobre esta partícula. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 53 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Somando membro a membro e tendo em conta a terceira Lei de Newton, F 12 =- F 21 , temos que d ( p1 + p 2 ) = F1 + F 2 dt dp = Fext dt Onde p é o momento linear total do sistema e Fext é a resultante das forças externas que atuam sobre o sistema de partículas. O movimento do sistema de partículas é determinado somente pelas forças externas. 5.3 Conservação do momento linear de um sistema de partículas Considere duas partículas que podem interagir entre si se, porém estão isoladas dos arredores. As partículas movem-se sob sua interacção mútua porém não há forças externas ao sistema. A partícula 1 move-se sob a acção da força F 12 que exerce a partícula 2. A partícula 2 move-se sob a acção da força F 21 que exerce a partícula 1. A terceira lei de Newton ou Princípio de Acção e Reacção estabelece que ambas forças tem que ser iguais e de sinal contrário. F 12 + F 21 = 0 Aplicando a segunda lei de Newton a cada uma das partículas d p1 d p 2 d ( p1 + p 2 ) + = =0 dt dt dt IPCA - Escola Superior de Tecnologia 54 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 O princípio de conservação do momento linear afirma que o momento linear total do sistema de partículas permanece constante, se o sistema é isolado, logo, se não atuam forças externas sobre as partículas do sistema. O princípio de conservação do momento linear é independente da natureza das forças de interacção entre as partículas do sistema isolado: mu 1 + mu 2 = mv 1 + mv 2 Onde u 1 e u 2 são as velocidades iniciais das partículas 1 e 2, e v1 e v 2 as velocidades finais destas partículas. 5.4 Colisões Empregamos o termo de colisão para representar a situação na qual duas ou mais partículas interagem durante um tempo muito curto. Supomos que as forças impulsivas devidas a colisão são muito maiores que qualquer outra força externa presente. O momento linear total é conservado nas colisões. No entanto, a energia cinética não se conserva devido a que parte da energia cinética se transforma em energia térmica e em energia potencial elástica interna quando os corpos se deformam durante a colisão. Definimos colisão inelástica como a colisão na qual não se conserva a energia cinética. Quando dois objectos que chocam e ficam juntos depois do choque dizemos que a colisão é perfeitamente inelástica. Por exemplo, um meteorito que choca contra a Terra. Numa colisão elástica a energia cinética conserva-se. Por exemplo, as colisões entre bolas de bilhar são aproximadamente elásticas. A nível atómico as colisões podem ser perfeitamente elásticas. A grandeza Q é a diferença entre as energias cinéticas depois e antes da colisão. Q toma o valor zero nas colisões perfeitamente elásticas, porém pode ser menor que zero se no choque se perde energia cinética como resultado da deformação, ou pode ser maior que zero, se a energia cinética das partículas depois da colisão é maior que a inicial, por exemplo, na explosão de uma granada ou na desintegração radioactiva, parte da energia química ou energia nuclear converte-se em energia cinética dos produtos. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 55 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 Coeficiente de restituição Foi encontrado experimentalmente que numa colisão frontal de duas esferas sólidas como as que experimentam as bolas de bilhar, as velocidades depois do choque estão relacionadas com as velocidades antes do choque, pela expressão onde e é o coeficiente de restituição e tem um valor entre 0 e 1, relação foi proposta por Newton . O valor de um é para um choque perfeitamente elástico e o valor de zero para um choque perfeitamente inelástico. O coeficiente de restituição é a razão entre a velocidade relativa de afastamento depois do choque, e a velocidade relativa de aproximação antes do choque das partículas. 5.5 Centro de massa. Até ao momento ignoramos as dimensões dos objectos. Veremos que para um corpo de dimensão finita, o centro de massa comporta-se como uma partícula em termos da sua dinâmica. O Sistema de Referência do Centro de Massa (sistema-C) é especialmente útil para descrever as colisões comparando com o Sistema de Referência do Laboratório (sistema-L). Movimento do Centro de Massas Na figura, temos duas partículas de massas m1 e m2, como m1 é maior que m2, a posição do centro de massas do sistema de duas partículas estará próxima da massa maior. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 56 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Em geral, a posição r CM do centro de massa de um sistema de N partículas é a posição média da massa do sistema. N N ∑ mi ri r CM = 1 N ∑m ∑m r i i 1 = M i 1 Em termos de componentes: xCM = yCM = z CM = N 1 1 (m1 x1 + m2 x 2 + ... + mn x n ) = M M ∑m x 1 1 (m1 y1 + m2 y 2 + ... + mn y n ) = M M ∑m y 1 1 (m1 z1 + m2 z 2 + ... + mn z n ) = M M N i i 1 N i i 1 ∑m z i i 1 Exemplo: Determine o Centro de massa de três partículas: Centro de massa de corpos sólidos Consideremos corpos com distribuição contínua de massa. Divide-se o corpo em elementos de massa ∆mi com coordenadas xi , y i , z i . xCM = ∑ x ∆m i i M Considerando o limite de elementos ∆mi tendente para ∞ : xCM = lim ∆mi →0 ∑ x ∆m i M i = 1 M IPCA - Escola Superior de Tecnologia ∫ xdm 57 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA yCM = 1 M ∫ ydm z CM = 1 M ∫ zdm r CM = 1 rdm M∫ Daqui se conclui que o centro de massa de corpos homogéneos e simétricos terá de estar num eixo de simetria. Se um objecto possui um ponto, linha ou plano de simetria, o centro de massa terá de estar nesse ponto, linha ou plano. Não é necessário que alguma partícula tenha de estar no centro de massa (ex, donut) É frequentemente conveniente expressar a distribuição de massa em termos de densidade local do elemento de volume. dm = ρdv r CM = 1 r ρdm M∫ xCM = 1 M ∫ xρdv yCM = 1 M ∫ yρdv z CM = 1 M ∫ zρdv Se a densidade for constante, então o centro de massa é frequentemente obtido pela simetria do volume do objecto. A velocidade do centro de massas vCM é obtida derivando com relação ao tempo N ∑m v i i v CM = 1 = N ∑m p M i 1 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 58 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 No numerador figura o momento linear total e no denominador a massa total do sistema de partículas. Da dinâmica de um sistema de partículas temos que: O centro de massas de um sistema de partículas move-se como se fosse uma partícula de massa igual a massa total do sistema sob a acção da força externa aplicada ao sistema. Num sistema isolado F ext = 0 o centro de massas move-se com velocidade constante v CM = const . O Sistema de Referência do Centro de Massas Para um sistema de duas partículas, A velocidade da partícula 1 relativa ao centro de massas é, A velocidade da partícula 2 relativa ao centro de massas é, No sistema-C, as duas partículas movem-se em direcções opostas. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 59 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 6. ESTÁTICA Como sabemos pelas leis de Newton, uma força aplicada a um corpo provoca nesse corpo uma alteração da sua velocidade. Se tivermos mais que uma força, a 2ª lei de Newton permite escrever: R = ∑ Fi = ma i Por outro lado, se o corpo estiver de alguma forma preso (como uma porta, por exemplo) a força pode ter um outro efeito, que é o de provocar a rotação do corpo em torno de um eixo que não intersecte a sua linha de acção e não lhe seja paralelo. Esta tendência é chamada momento da força, em torno do eixo considerado, sendo definido como: M = ∑ M i = mα i 6.1 Condições de equilíbrio de uma partícula Diz-se que uma partícula está em equilíbrio de translação se a soma de todas as forças que actuam sobre ela for zero, isto é: ∑ Fx = 0 R = ∑ Fi = 0 ⇒ ∑ Fy = 0 i F =0 ∑ z 6.2 Condições de equilíbrio de um corpo rígido Para que um corpo rígido esteja em equilíbrio é necessário que a soma vectorial de todas as forças externas, assim como a soma vectorial dos respectivos momentos, sejam nulos, isto é: R = ∑ Fi = ma = 0 Equilíbrio de translação i M = ∑ M i = mα = 0 Equilíbrio de rotação i IPCA - Escola Superior de Tecnologia 60 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Estas duas equações vectoriais são equivalentes, no caso geral, a seis equações escalares. ∑F x ∑M =0 i x =0 y =0 z =0 i ∑F y ∑M =0 i i ∑F z ∑M =0 i i 6.3 Momento de uma força O momento de uma força, F, relativamente a um ponto O, é definido como: MO = r × F Em que o módulo é dado por: M 0 = r . F .senα = d .F De acordo com as propriedades de produto vectorial, o momento de uma força é representado por um vector perpendicular tanto a r como a F e cujo sentido é dado pela regra da mão direita. M O = r × F = rx j k ry rz Fx Fy Fz i Se tanto r como F estiverem no mesmo plano, por exemplo Oxy, então temos: M O = r × F = rx j k i j ry rz = rx ry 0 = ( rx Fy − ry Fx )k Fx Fy Fz Fy 0 i IPCA - Escola Superior de Tecnologia Fx k 61 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Logo e F M estará ao longo do eixo dos zz’ e perpendicular ao plano formado por r (Oxy). A partir da figura anterior verifica-se que o momento da força não varia quando deslocamos a foca ao longo da sua linha de acção, dado que a distância d permanece constante. Binário Um momento produzido por duas forçaS iguais e opostas e não colineares é chamado binário. As forças representadas na figura não podem ser combinadas numa única força, porque a sua soma é nula, pelo que o seu efeito é o de produzir uma rotação. O momento combinado das duas forças, relativamente a um eixo normal ao plano que contém as duas forças, é: M = F .( a + d ) − F .d = F .d sendo independente de a. O momento de um binário é representado por um vector livre M , perpendicular ao plano do binário. O resultado é o mesmo seja qual for a origem do referencial, por exemplo O1: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 62 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA M = rA × F + rB × ( − F ) = ( rA − rB ) × F =r×F Como d é a projecção de segundo a normal de F r então M = F .d Sistema de forças Uma força F que tende a fazer um corpo rodar em torno de um eixo que passe por O e que não intersecte a linha de acção da força, é equivalente ao conjunto de um força igual e paralela aplicada no eixo de rotação (momento nulo) e de um binário (resultante nula) igual ao momento da força. Deste modo pode-se efectuar a substituição de uma força por um sistema de forças equivalente de uma força de um binário. A força aplicada no ponto A, pode ser substituída pela força aplicada em O e pelo binário M = F .d . Para um sistema de forças, F1 , F2 , F3 ,..., Fn no espaço, cada uma das forças pode ser substituída do mesmo modo por um sistema força-binário. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 63 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA As força concorrentes podem ser adicionadas vectorialmente e todo o sistema de forças pode ser substituído por uma resultante, resultante, M R, e por um momento : R = F1 + F2 + F3 + ... + Fn = ∑ Fi = Rx i + R y j + Rz k i M 0 = M 1 + M 2 + M 3 + ... + M n = ∑ ( ri × Fi ) i Na tabela seguinte estão apresentadas algumas das reacções mais comuns em apoios de ligação a duas dimensões. Tabela 6.1 – Reacções nos apoios de ligação IPCA - Escola Superior de Tecnologia 64 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo 6.3.1 Ao içar a estaca na posição indicada a tracção T no cabo tem de suportar uma momento em torno do ponto O 72Kn.m. Determine a intensidade de T. 7. TRABALHO E ENERGIA O conceito de trabalho está associado ao conceito de energia: quando um sistema realiza trabalho sobre outro, há uma transferência de energia de um para outro sistema. Em Física diz-se que uma partícula ou um sistema de partículas que tem a capacidade de realizar trabalho possui energia. Esta grandeza física pode ter várias formas. Por exemplo, um homem ao puxar um objecto gasta energia química do seu organismo que é transformada em movimento desse objecto (energia cinética) e em energia térmica (consequência do atrito entre o objecto e o chão). 7.1 Trabalho de uma força Existe trabalho produzido por uma força num dado corpo quando: O ponto de aplicação da força se desloca Existe uma componente da força ao longo da trajectória do movimento (apenas esta efectua trabalho). IPCA - Escola Superior de Tecnologia 65 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA O trabalho realizado pela força deslocamento dr F quando o seu ponto de aplicação efectua um é definido pelo produto escalar: dW = F .dr = F .ds .cos θ = Ft ds unidade SI: Nm = J (Joule) O trabalho total realizado pela partícula no trajecto AB é a soma de todos os trabalhos infinitesimais realizados durante os sucessivos deslocamentos infinitesimais: B W AB = ∫ F .ds = ∫ Ft .ds B A ⇔ A Se a força que actua no corpo é constante em direcção e sentido, o movimento do corpo é rectilíneo. B W AB B = ∫ F .ds = ∫ Ft .ds = F × cos θ × ( s A − s B ) ⇔ W AB = F × cos θ × ∆s A A Quando várias forças ( F1 , F2 ,..., Fn actuam num corpo o trabalho total, W total , é soma dos trabalhos produzidos por cada força, ou é o trabalho da força resultante IPCA - Escola Superior de Tecnologia 66 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA B B B B Wtotal = ∫ F1 .ds + ∫ F2 .ds + ... + ∫ Fn .ds = ∫ Fresul tan te .ds A A A A Exemplo 7.1.1 Uma força Fx varia com a posição como se mostra na figura. Calcule o trabalho realizado pela força sobre uma partícula quando esta se move desde A força x=0 até x=6 cm. F , é dada por: 0 < x < 4 ⇒ F = 5( N ) 4 < x < 6 ⇒ F = 15 − 2 ,5 x( N ) O trabalho é então W0→4 = ∫ 4 5dx = 5 × ( 4 − 0 ) = 20( J ) 0 6 2 6 W4→6 = ∫4 ( 15 − 2 ,5 x )dx = [15 x − 1,25 x ]4 = 5( J ) ⇒ Wtotal = W0→6 = 25( J ) 7.2 Trabalho e Energia cinética. Teorema da energia cinética A figura mostra um objecto que se move sem atrito numa superfície horizontal, sob a acção de uma força F. Se a força F actua no objecto, este vai adquirir aceleração, de acordo com a 2ª lei de Newton (a sua velocidade é alterada): ∑F i i ∑ Fx = ma x F = ma = ma ⇔ ⇔ N − P = 0 ∑ Fy = ma y IPCA - Escola Superior de Tecnologia 67 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA a= sabendo que: Trabalho realizado entre W1→2 dv dv dx dv dx dv = . = . = v dt dt dx dx dt dx x1 e x2 : v2 1 1 v2 = ∫ Fdx = m ∫ adx = m ∫ vdv = m = mv22 − mv12 = Ec2 − Ec1 2 x x v 2 v 2 x2 x2 v2 1 1 1 1 Teorema da energia cinética: O trabalho total exercido sobre uma partícula é igual à variação da sua energia cinética: cinética W Atotal − E Acinética → B = ∆Ec = E B Exemplo 7.2.1 Um esquimó puxa um trenó de massa 80 kg com uma força de 180 N, numa direcção de 20º com a horizontal. a) Qual o trabalho realizado pelo esquimó. b) Qual a velocidade que o trenó terá ao fim de se deslocar 5 m a partir do repouso. 7.3 Energia potencial associada a uma força conservativa: energia potencial gravítica e elástica Por vezes o trabalho realizado pelas forças sobre um sistema não aumenta a energia cinética do sistema, mas a energia fornecida é armazenada na forma de energia potencial. A energia potencial de um sistema representa a capacidade de esse sistema realizar trabalho por causa da sua configuração. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 68 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Forças conservativas Se o trabalho realizado por uma força para mover um corpo entre duas posições é independente da trajectória do movimento, a força é chamada conservativa. W A→ B ( 1 ) = W A→ B ( 2 ) 1 Exemplos de forças conservativas: Força gravítica Força elástica 2 O trabalho de uma força conservativa é igual ao negativo da variação da energia potencial associado a esta força, ∆E p : rB E (B) W = ∫ F .dr = − ∫E ( A ) dE P = E p ( A ) − E p ( B ) p rA p F .dr = Fx dx + Fy dy + Fz dz Então: F .dr = − dE P Logo: Fx dx + Fy dy + Fz dz = −dE p mas Concluímos assim que, para uma fora conservativa, temos: dE p F = − x dx dE dE p = − F .dr ⇒ Fy = − p dy dE p F = − z dz IPCA - Escola Superior de Tecnologia 69 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Energia potencial gravítica Consideremos o seguinte exemplo: Um homem levanta um haltere, mantendo a velocidade constante, durante o levantamento O homem realiza trabalho, mas a energia cinética do haltere não aumentou. Mas se homem sair o haltere vai “ganhar” emergia cinética. Considerando apenas as forças aplicadas no haltere: Se v = K ⇒ a = 0 ⇔ ∑ F = 0 ⇔ Fhom em + Phaltere = 0 Se ∑F = 0 ⇒W total = 0 ⇒ ∆Ecinética = 0 Considerando o sistema Terra - haltere: O homem realiza trabalho sobre o sistema, então o trabalho realizado pelo homem tem que ser igual à variação da energia do sistema. Nesta caso o sistema não ganha “energia cinética”, mas sim “energia potencial. ∆Esistema = W forças exteriores = Fhom em × ∆s Sabe-se que a haltere = 0 ⇒ ∑ Fhaltere = 0 ⇔ −mg + Fhom em = 0 Fhom em = mg ⇒ ∆E sistema = mgh ∆ s = h A energia potencial gravítica de uma partícula com massa m é a energia que a partícula possui devido à posição em relação à Terra. A definição de energia IPCA - Escola Superior de Tecnologia 70 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA potencial gravítica implica que se escolha uma posição de referência para a qual a energia potencial é nula. Exemplo 7.3.1 Consideremos o movimento de uma bola de massa m muito próxima da superfície terrestre, onde a aceleração g é aproximadamente constante. Quando o trabalho realizado pela força gravítica quando a bola sobe? W peso sf h = ∫ Pds = ∫ − ( mg )dy = −mg ( h f − h0 ) f s0 h0 W peso = −mg × ∆h ⇔ W peso = −∆E p Podemos assim concluir que quando o corpo sobe. A força gravítica realiza um trabalho negativo O sistema “ganha” energia potencial Para que o sistema ganhe energia, tem que haver uma força exterior a realizar trabalho sobre o sistema Energia potencial elástica Como já foi dito atrás as molas obedecem à lei de Hooke: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 71 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Fel = K∆x F − força que dá origem à deformação K − constante da mola ∆x − desocamento da mola em relação à sua posição de equiíbrio O trabalho realizado pela mola quando se desloca da posição de equilíbrio x0 para a posição x1 é dado por: x1 Wmola x = ∫ Fmola .dx = ∫ − k .x.dx 1 x0 x0 x1 1 1 1 Wmola = −k x 2 = kx02 − kx12 = E pe ( 0 ) − E pe ( 1 ) 2 2 x 2 0 A energia potencial elástica de uma mola é uma força conservativa, sendo igual ao trabalho que essa mola realizaria quando regressa à sua posição de equilíbrio: 1 E pe = kx2 2 onde k é a constante da mola e x a sua deformação. Curvas de Energia Potencial (em movimento unidimensional) A figura representa um sistema constituído por uma mola de constante k ligada a um bloco. Como varia a energia potencial com a posição? Aplicando a relação anterior, entre força e a energia potencial associada: Fx = − dE p dx ⇔ −kx = − dE p dx ⇔ dE p = kxdx Integrando entre a posição de equilíbrio, x = 0, e uma posição x arbitrária, obtemos Ep x 1 2 1 2 ∫0 dE p = ∫0 kxdx ⇔ E p = k 2 x = 2 kx 0 x IPCA - Escola Superior de Tecnologia 72 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Podemos representar esta função graficamente: Na posição de equilíbrio a força que actua na partícula é nula, porque quando x=0 (posição de equilíbrio), a derivada da energia potencial é nula. O equilíbrio é estável porque um ligeiro afastamento da partícula da posição de equilíbrio tem como resultado uma força que tende a restabelecer o equilíbrio. O equilíbrio é instável, pois qualquer pequeno deslocamento tem como resultado uma força que acelera a partícula para fora do equilíbrio. 7.4 Forças não conservativas Uma força é não conservativa quando o trabalho realizado depende da trajectória do movimento. Um exemplo típico de uma força não conservativa é a força de atrito. WF0→2 = WF0→1 + WF1→2 at W 0→ 2 Fta = − Fat ( x2 − x0 ) ≠ W 0→ 2 Fat at at = − Fat ( x0 − x1 ) − Fat ( x2 − x1 ) WF0→2 = − Fat ( x0 + x2 − 2 x1 ) at IPCA - Escola Superior de Tecnologia 73 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA O trabalho da força de atrito entre o ponto x0 e x2 depende do percurso logo a força de atrito é uma força não conservativa Suponhamos que actuam na partícula forças conservativas, conservativas, F1c , F2c ,..., Fnc , e não F1nc , F2nc ,..., Fnnc . Pelo teorema da energia cinética sabemos que ∆Ec = Wtotal = W ( F1c ) + W ( F2c ) + ... + W ( Fnc ) + W ( F1nc ) + W ( F2nc ) + ... + W ( Fnnc ) Para cada força conservativa tem-se: W ( Fi c ) = −∆E p i Conclui-se então que a variação da energia mecânica é igual ao trabalho das forças não conservativas. ∆Ec = −∆E p − ∆E p − ... − ∆E p + W ( F1nc ) + W ( F2nc ) + ... + W ( Fnnc ) 1 2 n ∆( Ec + E p + E p + ... + E p ) = W ( F1nc ) + W ( F2nc ) + ... + W ( Fnnc ) 1 2 n ΔE mecânica = W(F ) + W(F2nc ) + ... + W(Fnnc ) nc 1 7.5 Lei da conservação da Energia Mecânica Se num sistema, estiver uma partícula e sobre ela actuar só uma força conservativa: WF WF consevativa = −∆E potencial consevativa = ∆Ecinética ⇒ −∆E p = ∆Ec Lei da conservação da Energia Mecânica A energia total sobre um sistema permanece constante se a única força que realiza trabalho sobre o sistema for uma força conservativa: ∆E p + ∆Ec = 0 ⇔ ∆( E p + Ec ) = 0 ⇒ ∆Emecânica = 0 ⇒ Emecânica = constante IPCA - Escola Superior de Tecnologia 74 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo 7.5.1 O sistema da figura é utilizado para lançar blocos ao longo de uma superfície com atrito. Relacione o trabalho realizado pelo atrito com a variação da energia mecânica. Neste exemplo temos três tipos de forças: elástica, atrito e gravítica. O trabalho realizado será: 1 1 Wtotal = WF + WF + WF = ( mghi − mgh f ) + kxi2 − kx 2f + WF 2 2 g e a a Usando o teorema da energia cinética podemos escrever: 1 2 1 2 1 mv f − mvi == mg ( hi − h f ) + k ( xi2 − x 2f ) + WF 2 2 2 f f f i f i WF = ( Ec + E pg + E pe ) − ( Ec + E pgi + E pei ) = E mecânica − E mecânica a a Exemplo 7.5.2 Um motociclista salta um vale descrevendo mostrada. a trajectória Desprezando a resistência do ar, calcule o módulo da velocidade da moto quando esta atinge o solo. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 75 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 7.6 Potência A potência traduz o trabalho que é realizado por unidade de tempo. Se a quantidade de trabalho, W, é realizada no intervalo de tempo, potência média, P= ∆t , a P , é definida como: W ∆t Se o trabalho, W, é expresso como função do tempo, a potência instantânea, P, desenvolvida em qualquer instante é definida como: P= dW dt Unidade SI: joule/s= watt (W) Se o trabalho for realizado por uma força constante: dW dr dW = F .dr ⇒ P = = F. dt dt P = F .v ou seja, Exemplo 7.6.1 Um automóvel acelera de o a 96 km/h em 6,5 s. a) Qual a potência do automóvel b) Quanto demorará a acelerar desde 80 km/h até 112 km/h Exemplo 7.6.2 Calcule a potência desenvolvida pelo motor de automóvel ao subir uma rampa de 5º de inclinação, com uma velocidade constante de 36 km/h. Considere a massa do automóvel igual a 1200 kg. Despreze os efeitos do atrito. Se v = cte , então FR = 0 , logo Wtotal = 0 Wtoatl = WP + WF 0 = −∆E pg + WF =∆ IPCA - Escola Superior de Tecnologia = − 76 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA P= dWF dy = mg = mgv y = mg .senα = 1.033 × 10 4 W dt dt Eficiência mecânica ou rendimento Chama-se eficiência ou rendimento ( η ) à razão entre o trabalho realizado por uma máquina e a energia que é necessária fornecer à máquina para que ela realize esse trabalho. η= P Trabalho realizado pela máquina W = = util Energia fornecida à máquina Emecânica Ptotal Em qualquer máquina, a energia gerada geralmente não é toda utilizada para produzir um dado trabalho, pois há sempre dissipação de energia ( η < 1 ). As forças de atrito realizam trabalho que é dissipado sob a forma de calor, Q. Emecânica = W + Q Exemplos A energia química do combustível apenas é utilizada em 25 % (75 % é dissipado como calor). Os músculos que utilizam energia química também têm η = 25% . 7. MOVIMENTO OSCILATÓRIO Um caso particular de movimento ocorre quando a força aplicada sobre um corpo é proporcional ao deslocamento do corpo em relação à sua posição de equilíbrio. Se essa força actuar sempre na direcção da posição de equilíbrio do corpo, provocará um movimento repetitivo, de vai e vem em torno dessa posição. Este tipo de movimento denomina-se periódico ou oscilatório. Uma oscilação ocorre quando um sistema em equilíbrio estável é perturbado, de modo que este oscila em torno da sua posição de equilíbrio. Exemplos deste tipo de movimento são: Oscilações de um barco nas ondas IPCA - Escola Superior de Tecnologia 77 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Oscilações do pêndulo de um relógio Vibrações de instrumento musical de cordas Vibrações das moléculas do ar, quando o som se propaga Movimentos das moléculas de um sólido em torno das suas posições de equilíbrio 7.1 Movimento Harmónico Simples No movimento harmónico simples, um corpo oscila entre duas posições espaciais, durante um intervalo indefinido de tempo, sem perda de energia mecânica. Contudo, nos sistemas mecânicos reais estão sempre presentes forças retardadoras (ou de atrito). Estas forças reduzem a energia mecânica do sistema à medida que o movimento avança e as oscilações são amortecidas. O estudo de um movimento pode ser feito de duas perspectivas diferentes: Estabelecer as “leis do movimento” partindo da observação e depois tentar perceber porque as características do movimento. Ver primeiro quais são as forças aplicadas ao sistema e a partir da segunda lei de Newton estabelecer as lei do movimento Características do Movimento Harmónico Simples Seguindo a 1ª opção, vamos observar o movimento: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 78 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA ⇒ O corpo oscila em torno da posição de equilíbrio ( x = 0) ⇒ O número de oscilações por segundo é constante – frequência. ⇒ O movimento é periódico – período. ⇒ O corpo oscila entre duas posições extremas, igualmente espaçadas em relação à posição de equilíbrio –amplitude. Equação do movimento A variação da posição em função do tempo segue uma lei do tipo sinusoidal. Pode ser escrita por: 2π x( t ) = Asen .t + c T Observemos que A, a amplitude do movimento, é simplesmente o deslocamento máximo da partícula na direcção de x positiva ou negativa, isto é, x( t ) varia entre A (quando sen = 1) e –A (quando sen =-1). Verifique-se que w= IPCA - Escola Superior de Tecnologia 2π = 2πf T é a frequência angular. 79 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Se t = 0 → x( t ) = Asen( c ) , c = φ 0 movimento. A grandeza indica a posição em que o corpo inicia o ( wt + φ 0 ) é a fase do movimento. Repara-se que a unção x(t) é uma função periódica, pois repete-se sempre w aumenta 2π radianos. O período T, é o intervalo de tempo necessário para a partícula descrever um ciclo completo do seu movimento. Isto é, as posições, x(t) nos instantes t=T , t=2T, t=3T,…, são iguais. Se no movimento periódico a posição da partícula é descrita por uma expressão do tipo: x( t ) = A.sen( wt + φ 0 ) diz-se que o movimento é harmónico simples (MHS). Velocidade e aceleração em função do tempo Posição: Velocidade: x( t ) = Asen( wt + φ 0 ) v( t ) = dx dt v( t ) = wA cos( wt + φ 0 ) Aceleração a( t ) = dv dt a( t ) = − w 2 A cos( wt + φ 0 ) a( t ) = − w 2 x( t ) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 80 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Aplicação da 2ª lei de Newton Vamos prever o movimento a partir das forças aplicadas: Consideremos um corpo ligado a uma mola, que oscila quando é afastado da posição de equilíbrio Na posição de equilíbrio a mola não exerce nenhuma força sobre o corpo, F =0. Quando o corpo é deslocado, uma pequena distância em relação à posição de equilíbrio, a mola exerce uma força que aumenta à medida que o seu afastamento, x aumenta. Esta força é dada pela lei de Hooke: F = −kx E tem as seguintes características: actua na direcção do eixo da mola tem sempre o sentido contrário ao deslocamento é proporcional ao deslocamento Forças aplicadas sobre o corpo: P –Peso N – reacção normal da mesa sobre o corpo F – força que a mola exerce sobre o corpo IPCA - Escola Superior de Tecnologia 81 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Aplicando a 2ª lei de Newton: yy’ ⇒ N − P = m.a y = 0 xx’ ⇒ F = −k .x = m.a x ⇔ a x = − k x m Vemos assim que a aceleração não é constante: tem sentido contrário ao deslocamento é proporcional ao deslocamento é nula na posição de equilíbrio é máxima nos extremos (quando x é máximo) Vamos agora descrever o movimento de maneira quantitativa. Recordemos que, dv d 2 x a= = , então: dt dt 2 d 2x k d 2x k =− x⇔ 2 + x=0 dt 2 m dt m Equação diferencial do MHS É necessário encontrar a solução da equação diferencial, isto é, uma função x=f(t), que satisfaça a equação diferencial de 2ª ordem. Se dx dt = wa.cos(wt + φ0 ) x = a.sen( wt + φ 0 ) ⇒ 2 d x 2 = − w 2 a .sen( wt + φ 0 ) = − w 2 x dt Substituindo na equação diferencial, vem. − w2 x = − k k x , verdadeira desde que w = m m IPCA - Escola Superior de Tecnologia 82 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Então: k x( t ) = a .sen .t + φ 0 m é solução Podemos assim concluir que a frequência angular depende das características do oscilador, isto é: w= 2π k = T m Pêndulo Simples O pêndulo simples é um outro sistema mecânico que exibe movimento periódico, oscilatório. É constituído por uma massa m pendurada num fio de massa desprezável, de comprimento L, que tem a extremidade fixa como mostra a figura. O movimento ocorre num plano vertical e ocorre provocado pela força de gravidade. Forças que actuam sobre a massa: Tensão, Peso Aplicando a 2ª lei de Newton: F = m a ⇔ T + P = ma ∑ Na direcção tangente ao movimento: − Psenθ = mat ⇔ − mgsenθ = mat mas at = α.L , então: − mgsenθ = m.α.L ⇔ − gsenθ = α.L Sabe-se que d 2θ α = 2 , logo: dt IPCA - Escola Superior de Tecnologia 83 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA − gsenθ = L d 2θ d 2θ g ⇔ + senθ dt 2 dt 2 L Não se trata de uma equação diferencial de 2º grau logo o movimento não é um movimento harmónico simples. Se admitirmos, que usar a aproximação senθ = θ , onde θ θ seja pequeno podemos está em radianos. A equação do movimento fica: d 2θ g + θ=0 dt 2 L Temos assim uma equação diferencial que tem a mesma forma que no caso apresentado anteriormente, e então concluímos que o movimento é um movimento harmónico simples. A solução da equação diferencial é do tipo: θ( t ) = θ 0 sen( wt + φ 0 ) onde θ0 , é o deslocamento angular máximo, e a frequência angular e o período do movimento são dados por: w= g L T= e 2π L = 2π w g Ou seja, a equação que traduz a posição do pêndulo em cada instante é: θ( t ) = θ 0 sen( g t + φ0 ) L 7.2 Energia do Oscilador Harmónico Simples Calculemos o trabalho realizado pela força exercida pela mola sobre o corpo, F, quando o corpo se move entre as posições xA e xB. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 84 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA x x x x2 x2 x2 W AB = ∫ F .dr = − ∫ kxi .dxi = − ∫ kx.dx = − k = − k B + k A 2 2 x x x 2 x 1 W AB = k ( x A2 − x B2 ) 2 xB B B A A A B A Energia potencial elástica Se 1 WAB = k ( x A2 − xB2 ) 2 o trabalho realizado pela força elástica não depende do caminho percorrido, mas apenas das posições inicial e final, então a força elástica é uma força conservativa. Podemos então definir Energia Potencial elástica (EP) de uma partícula de massa m, colocada num ponto A de elongação x: 1 E p (A) = k.x a2 2 Energia cinética Sabe-se que Mas 1 Ecinética = mv 2 2 v( t ) = wA cos( wt + φ 0 ) 1 Ec = mw 2 A 2 cos 2 ( wt + φ 0 ) 2 1 Ec = mw 2 A 2 [1 − sen 2 ( wt + φ 0 )] 2 1 1 1 Ec = mw 2 A 2 − mw 2 A 2 sen 2 ( wt + φ 0 ) = k .[A 2 − x 2 ] 2 2 2 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 85 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Energia mecânica Durante o movimento a energia mecânica é conservada: E potencial + Ecinética = cons tan te 1 2 1 2 kx + mv = cons tan te 2 2 Exemplo 7.2.1 Um corpo de massa 4 kg oscila sobre um plano horizontal, ligado a uma mola elástica (k=40 N/m). O corpo foi deslocado 10 cm para a direita da posição de equilíbrio e abandonado. Calcule: a) a equação diferencial do movimento b) a equação que define a posição do corpo em qualquer instante c) a amplitude, a frequência e o período do movimento d) a velocidade máxima e a aceleração máxima e) a energia cinética e energia potencial quando o corpo está a 5 cm afastado da posição de equilíbrio. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 86 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 8. MECÂNICA DOS FLUIDOS O que determina o estado físico – sólido, líquido, gasoso – em que a matéria se encontra, é a grandeza das forças internas, que os seus átomos ou moléculas exercem uns sobre os outros. Apesar destas diferenças entre líquidos e gases é possível encontrar um conjunto apreciável de propriedades comuns a ambos. Designam-se vulgarmente por fluidos o conjunto de líquidos e gases. Um fluido é uma substância que não apresenta forma própria e estando em repouso não resiste a esforços tangenciais por menores que estes se apresentem, o que equivale a dizer que a mesma se deforma continuamente. Conformam-se com as fronteiras de qualquer recipiente, dado que não conseguem suster qualquer força tangencial à sua superfície. Contudo podem exercer uma força na direcção perpendicular à sua superfície, como vamos ver. O termo fluido inclui líquidos e gases, que diferem notavelmente nas suas compressibilidades: um gás é facilmente comprimido, enquanto um líquido é praticamente incompressível. 8.1 HIDROSTÁTICA 8.1.1 Massa volúmica A massa volúmica de uma substância, ρ , de um material homogéneo, é definida como a sua massa por unidade de volume ρ = m / V . É uma grandeza escalar cuja unidade, no sistema SI, é kg.m-3. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 87 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 8.1.3 Pressão Define-se pressão (sobre uma superfície), p , como sendo a força exercida, perpendicularmente a essa superfície, por unidade de área. p= dF dA A pressão é uma grandeza escalar cuja unidade, no Sistema Internacional, é o N/m2 que tem o nome de Pascal, Pa. É ainda utilizada, especialmente para fluidos o bar cuja relação com o Pascal é de 1bar = 10 5 Pa . Relações entre unidades de pressão: 1, 01×105 N / m −2 = 760mmHg = 760Torr = 1atm Pressão num fluido – pressão hidrostática devida ao seu próprio peso. Consideremos um elemento de fluido com a forma de um lâmina com espessura, ∆y , e área, A . A força exercida sobre esse elemento de fluido que o envolve é em qualquer ponto normal à sua superfície. Por simetria a resultante nos bordos laterais é nula (anulamse as forças horizontais). A força para baixo exercida sobre a sua face inferior é dada por: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 88 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 Fdown = p. A + ∆m.g = p. A + ρ .( A.∆y ).g A força para baixo, é dada por: Fup = ( p + ∆p ). A Como o elemento de fluido está em equilíbrio, a força resultante que actua sobre ele é nula: FT = Fup − Fdown = ( p + ∆p ). A − p. A − ρ .( A.∆y ).g = 0 O que equivale a: ∆p = ρ .g ∆y lim ∆y →0 ∆p dp = = ρ .g ∆y dy Integrando a equação anterior temos a pressão absoluta: p = p0 + ρ .g . y Esta equação traduz o Teorema de Stevin ou Lei Fundamental da Hidrostática. Teorema de Stevin – A diferença de pressão entre dois pontos quaisquer de um líquido em equilíbrio é numericamente igual ao valor do peso de uma coluna de líquido com altura igual à diferença de nível entre os pontos e área unitária. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 89 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 8.1.4 Consequência da Lei Fundamental da Hidrostática Vasos comunicantes De acordo com a lei fundamental da hidrostática os pontos A, B e C estão à mesma pressão uma vez que se encontram ao mesmo nível. p A = pB = pC Designando p0 , a pressão atmosférica, p A = pB = pC = p0 + ρ .g .∆h IPCA - Escola Superior de Tecnologia 90 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Vasos comunicantes contendo líquidos imiscíveis Consideremos um sistema de vasos comunicantes que contém líquidos imiscíveis, de massas volúmicas, ρ A e ρ B . Sabendo que a maior densidade é a que fica no fundo, ρ A < ρ B . Como nos pontos A e B estão ao mesmo nível e pertencem ao mesmo líquido, temos: p A = pB p0 + ρ A .g .hA = p0 + ρ B .g .hB ρ A .hA = ρ B .hB Da análise permite-nos concluir o seguinte: • Se as massas volúmicas dos líquidos são diferentes, então a altura das colunas de líquidos correspondentes são também diferentes; • A superfície do líquido de menor massa volúmica encontra-se a um nível superior. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 91 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 8.1.5 Medição da pressão 8.1.5.1 Barómetro de Mercúrio (Evangelista Torricelli, 1974) Torricelli, no século XVII descobriu como determinar a pressão atmosférica. A experiência consistiu em inverter um tubo de vidro cheio de mercúrio numa tina de vidro com mercúrio. Torricelli observou que o nível do mercúrio desceu até uma altura de h = 760 mm, relativamente à superfície livre do líquido na tina. Daí concluiu que a pressão atmosférica actuante na superfície livre do líquido ( p A = pB = p2 ) seria equivalente a 760 mm de Hg (mecúrio). p2 = p1 + ρ mercúrio .g .h = 0 + ρ mercúrio .g .h = 13600 × 9, 8 × 0, 760 p = 1, 013 ×105 Pa Desta experiência podemos verificar que a altura do líquido varia na razão directa da pressão atmosférica. Repare que para uma determinada pressão, a altura da coluna de mercúrio é independente do diâmetro do tubo. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 92 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 8.1.5.2 Manómetro de Tubo Aberto O tipo mais simples de medidor de pressão é p manómetro de tubo aberto. Este tipo de manómetro mede pressão de um gás. Consiste num tubo em U contendo um líquido de densidade conhecida (água corada, ou mercúrio), com uma das extremidades desse tubo ligado ao tanque onde desejamos medir a pressão ( p2 ) do gás e a outra extremidade aberta à pressão atmosférica ( p1 = patm ). Quando a pressão no tanque for igual à pressão atmosférica os níveis do líquido em ambos os lados do tubo são iguais. Há medida que a pressão no tanque sobe acima da pressão atmosférica o nível da pressão na parte esquerda do tubo é empurrado para baixo, subindo correspondentemente do lado direito. p2 = p1 + ρlíquido .g .h 8.1.6 Lei de Pascal A h B IPCA - Escola Superior de Tecnologia 93 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Supondo que na superfície livre de um líquido se exerce um pressão, p A , a pressão em B é dada por: pB = p A + ρ .g .h Se com um êmbolo aumentarmos a pressão em A, uma quantidade ∆p , como um líquido é praticamente incompressível, não haverá variação da altura h . A pressão em A passará a ser: p A´ = p A + ∆p A nova pressão em B, pB ' : p B ' = p B + ∆p Lei de Pascal – Uma variação da pressão num ponto de um líquido transmite-se integralmente a todos os pontos desse líquido. ∆p1 = ∆p2 Exemplos de aplicação da lei de Pascal: • Tubo de pasta de dentes; • Macaco hidráulico; • Braços pneumáticos em maquinaria; IPCA - Escola Superior de Tecnologia 94 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Princípio de Pascal – Funcionamento da Prensa Hidráulica Considerando o caso de um fluido incompressível, se uma força F1 actuar para baixo na parte esquerda sobre um pistão de área A1 , dado que esta pressão externa se propaga integralmente a todo o fluido e suas paredes, como consequência na parte direita vai-se fazer sentir sobre o pistão de área A2 uma força de sentido contrário F2 . A variação de pressão de um lado é idêntica à do outro. Logo temos: ∆p = F1 F2 A = ⇔ F2 = F1 2 A1 A2 A1 Dado que A2 > A1 ⇒ F2 > F1 Se o pistão da esquerda descer de uma altura d1 , o pistão da direita sobe, d 2 , é-lhe proporcional dado que o volume de fluido deslocado é constante: V = A1.d1 = A2 .d 2 ⇒ d 2 = A1 d1 A2 Daí que o pistão da direita sobe menos do que o da esquerda desce. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 95 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 8.1.7 Flutuação de corpos em fluidos – Princípio de Arquimedes Alguns corpos ao serem introduzidos num líquido ficam em equilíbrio no interior do líquido. Isto leva-nos a concluir que há uma força exercida pelo líquido sobre o corpo que nestas condições anula a força do peso. Esta força designa-se por – impulsão do líquido – I. Consideremos um bloco de uma material de volume, V = A.h , e densidade ρ , parcialmente imerso em água (densidade ρ w ). Nas bases do corpo, o líquido exerce forças de pressão com resultantes, Fup e Fdown . As forças laterais que se exercem nas paredes do corpo anulam-se aos pares. A força para cima é devida à pressão: p = p0 + ρ w .g . y Logo: Fup = p. A = p0 . A + ρ w .g . y. A A IPCA - Escola Superior de Tecnologia 96 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A força para baixo ( Fdown ), tem duas componentes, a pressão atmosférica e o peso do bloco: Fdown = p0 . A + ρ .g .h. A Logo: Ftotal = Fdown − Fup = ρ .g .h. A − ρ w .g . y. A Uma vez que o bloco está em equilíbrio: Ftotal = 0 Logo, para flutuar: ρ .g.h. A = ρ w .g. y. A Isto é: ρ h = ρ y w h - altura do corpo y - profundidade do corpo imerso Força de Impulsão: I = ρ w .g . y. A = ρ w .g .VI Vi - volume do corpo imerso O princípio de Arquimedes diz que todo o sólido imerso num líquido, sofre uma força de impulsão, de baixo para cima, igual ao peso do fluido deslocado. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 97 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Exemplo de aplicação Uma tina rectangular, feita de cimento, tem um comprimento l = 1 m, uma largura w = 80 cm, uma altura d = 60 cm e uma massa M = 200 kg. A tina flutua num lago. Quantas pessoas de massa m = 80 kg cada, podem entrar na tina sem que esta se afunde? Peso total: Fg = ( M + n.m).g Impulsão máxima: I = ρ .(l.w.d ).g I = Fg ⇔ ρ .(l.w.d ).g = ( M + n.m).g Logo, n= ρ .l.w.d − M m n = 3.5 ≈ 3 pessoas 8.2 HIDRODINÂMICA 8.2.1 Introdução A hidrodinâmica é o estudo de fluidos em movimento. É um dos capítulos mais difíceis da Física porque, embora cada partícula do fluido siga leis simples, como as leis de Newton, o enorme número de partículas envolvido torna impraticável esta via do estudo. Felizmente, muitas situações de importância prática podem ser representados por modelos ideais que são suficientemente simples para poderem ser entendidos. Devemos começar por dividir os fluidos em ideais e reais. Um fluido ideal é incompressível e não apresenta forças internas de atrito ou seja, forças de viscosidade. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 98 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 A hipótese de incompressibilidade é uma boa aproximação quando se trata de líquidos, e, em algumas circunstâncias, por gases se o movimento não envolver grandes diferenças de pressão. Os fluidos compressíveis e que apresentam forças de viscosidade serão os fluidos reais. 8.2.1 Fluidos ideais Define-se uma linha de fluxo como sendo a trajectória percorrida por um elemento dum fluido em movimento. Em geral a velocidade varia em direcção e módulo ao longo dessa trajectória. Se, considerando um dado um dado ponto dessa trajectória, todos os elementos seguinte que por lá passa, tiverem a mesma velocidade, o fluxo do fluido diz-se estacionário. Isto significa que a velocidade das partículas de fluido é sempre a mesma num dado ponto do espaço embora possa variar de ponto para ponto. Definimos linha de corrente como a linha que em cada ponto do espaço é tangente à trajectória, isto é, à direcção das partículas que por aí passam. Quando o movimento é estacionário as linhas de corrente coincidem com as linhas de fluxo. O conjunto de linhas de corrente que passam tangenciando um elemento de área, denomina-se tubo de corrente. O modo como um fluido se desloca muitas vezes referido como regime de escoamento pode classificar-se de duas maneiras. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 99 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Regime laminar – é um regime de escoamento em que as camadas de fluido deslizam umas sobre as outras. Este tipo de escoamento pode ser representado por um conjunto regular de linhas de corrente que se mantém estável no tempo. Regime turbulento – é caracterizado pela ausência de um mapa de linhas de corrente estável e surge quando o fluido se desloca a altas velocidades ou quando no seu percurso aparecem obstáculos que provocam variações de velocidade bruscas e o fluxo se torna irregular. Há duas equações básicas na Dinâmica dos fluidos, a equação da continuidade e o teorema de Bernoulli. 8.2.3 Equação da continuidade Num fluido ideal o volume de fluido que atravessa qualquer secção recta por unidade de tempo (caudal) é constante. Isto significa simplesmente que há conservação de massa do fluido, não se criando, nem se perdendo, fluido em nenhum ponto ao longo do trajecto. Para traduzir matematicamente esta constatação, imaginemos um fluido ideal que se escoa ao longo do tubo representado na figura. Sejam A1 e A2 as áreas das secções rectas em duas partes distintas do tubo. As velocidades de escoamento em A1 e A2, são respectivamente, v1 e v 2 . Como o líquido é incompressível, o volume que entra no tubo no tempo ∆t é o existente nu cilindro de base A1 e altura ∆x1 = v1 × ∆t . Este volume é igual a aquele que, no mesmo tempo, sai da parte da secção de área A2. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 100 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA volume(1) = volume(2) ∆V1 = ∆V2 Se dividirmos o volume escoado ∆V pelo tempo ∆t , teremos uma grandeza chamada caudal de fluido, Q . [Q ] = [V ] = L3T [t ] Podemos então afirmar que: Q1 = Q1 ∆V1 ∆V2 = ∆t ∆t A1 × ∆x1 A2 × ∆x2 = ∆t ∆t E finalmente obtemos a Equação da continuidade: A1 × v1 = A2 × v2 Esta equação mostra que a velocidade de um fluido num tubo com estrangulamento é maior nesses pontos do que nas zonas mais largas. 8.2.4 Equação de Bernoulli Quando um fluido incompressível escoa ao longo de um tubo de corrente de secção transversal variável, a sua velocidade varia. Consequentemente, deve haver uma força resultante aplicada (“ª lei de Newton) e isso significa que a pressão deve variar ao longo do tubo, ainda que não haja diferença de altura. Para dois pontos com diferentes alturas, a diferença de pressões depende não apenas da diferença de nível mas também da diferença de velocidade entre aqueles dois pontos. Um vez que num fluido ideal só existem força conservativas, a expressão geral da diferença de pressões obtém-se a partir da conservação de energia. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 101 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Para obter-se a Equação de Bernoulli, aplica-se o teorema de trabalho e energia ao fluido contido numa secção de um tubo de corrente. Consideremos um elemento de fluido contido entre duas secções de um tubo de corrente, A1 e A2, tal como mostra a figura seguinte. A força na secção A1 é dada por: F1 = ∫A p1.dA = p1. A1 O trabalho realizado pelas forças de pressão, devidas a p1 , quando o fluido se desloca de ∆s1 é dado por: WF1 = p1 × A1 × ∆s1 Do mesmo modo, o trabalho realizado pelas forças de pressão, devidas a p2 , quando o fluido se desloca ∆s2 é dado por: WF2 = p2 × A2 × ∆s2 O trabalho efectivo realizado sobre o elemento de fluido, durante este deslocamento será: W = p1 × A1 × ∆s1 − p2 × A2 × ∆s2 Pela equação da continuidade: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 102 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A1 × v1 = A2 × v2 ∆s1 = v1 × ∆t e ∆s2 = v2 × ∆t ⇒ A1 × ∆s1 = A2 × ∆s2 = ∆V Podemos então escrever esse trabalho como: Wforças de pressão = ( p1 − p2 ) × ∆V Aplicando o teorema de Trabalho-Energia iguala-se este trabalho à variação total das energias cinética e potencial do elemento durante ∆t . Durante ∆t , um volume de fluido ∆V = A1 × ∆s1 , com massa, ∆m = ρ × ∆V , entra no tubo na secção A1 , trazendo uma energia cinética: 1 1 × ∆m × v 2 = × ρ × ∆V × v12 2 2 EC (1) = Analogamente, durante esse intervalo, igual massa de fluido deixa o tubo pela secção, A2 , levando consigo uma energia cinética de: EC ( 2 ) = 1 1 × ∆m × v2 2 = × ρ × ∆V × v22 2 2 Seno a variação de energia cinética: ∆Ec = 1 × ρ × ∆V × (v2 2 − v12 ) 2 A variação da energia potencial é dada por: ∆E p = −∆m × g × (h2 − h1) = − ρ × ∆V × g × (h2 − h1) Usando o teorema de trabalho energia, podemos escrever: Wforças de pressão = ∆Ec + ∆E p 1 × ρ × ∆V × (v2 2 − v11) = ( p1 − p2 ) × ∆V − ρ × ∆V × g × (h2 − h1 ) 2 IPCA - Escola Superior de Tecnologia 103 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Dividindo por ∆V , obtemos: p1 − p2 = 1 × ρ × (v2 2 − v11) + ρ × g × (h2 − h1) 2 Esta equação traduz o teorema de Bernoulli. Pode ainda ser utilizada da seguinte forma, mais comum. p1 + ρ × g × h1 + 1 1 × ρ × v12 = p2 + ρ × g × h2 + × ρ × v2 2 2 2 A diferença de pressões devido ao peso de fluido, (hidrostática) é a diferença de altura entre os dois extremos do elemento de fluido e a pressão adicinal associada à variação da velocidade do fluido. Esta equação também pode ser escrita da seguinte forma: 1 p + ρ × g × h + × ρ × v 2 = constante 2 8.2.5 Implicações da Equação de Bernoulli 8.2.5.1 Velocidade de descarga Consideremos o seguinte tanque de área transversal, A1 , cheio de um líquido de densidade, ρ , até à profundidade, h . O espaço acima do líquido contém ar a uma pressão, p , e este escoa através de u orifício de área, A2 . Considerando toda a massa de líquido como um tubo de corrente, sendo v1 e v2 as velocidades nos pontos 1 e 2, respectivamente. A quantidade v2 é chamada velocidade de descarga e a pressão em 2 é a pressão atmosférica. Aplicando a Equação de Bernoulli: 1 1 p + × ρ × v12 + ρ × g × h = p0 + × ρ × v2 2 2 2 v2 2 = v12 + 2 p − p0 ρ + 2 × g × h (1) IPCA - Escola Superior de Tecnologia 104 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 Da equação da continuidade: v2 = A1 × v1 A2 Devido à convergência das linhas de corrente à medida que se aproximam do orifício a secção transversal da secção do líquido continua a diminuir até uma pequena distância do tanque. A área a ser usada na menor secção é conhecida como vena contracta (veia contraída). Para um orifício circular a área da veia contraída é cerca de 65 % do orifício. Considerando alguns casos especiais, suponha-se que o tanque está aberto para a atmosfera. p = p0 Suponha-se também que A1 A2 , então v12 v22 , podendo ser desprezado. Logo da equação (1), tira-se: v2 = 2 × g × h Desta equação concluímos que, a velocidade de descarga é a mesma que adquire um corpo em queda livre, caindo a uma altura h - Teorema de Torrricelle. Este teorema não se restringe a orifícios na base do tanque, sendo também aplicado para os que são feitos nas paredes laterais a uma profundidade h da superfície. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 105 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 8.2.5.2 Tubo de Venturi O tubo de Venturi consiste num estrangulamento inserido num tubo, constituído por peças suficientemente inclinadas, na entrada e saída, para evitar turbulência. Aplicando a equação de Bernoulli às secções larga e estreita: 1 1 p1 + × ρ × v12 = p2 + × ρ × v2 2 2 2 Da equação da continuidade, A1 × v1 = A2 × v2 , v2 é maior que v1 e assim a pressão p2 , na garganta é menor que p1 .Assim, uma força para a direita, actua acelerando o fluido quando entra na garganta e outra, para a esquerda o retarda. As pressões p1 e p2 podem ser medidas por meio de tubos verticais, presos lateralmente. Conhecidas essas pressões e as áreas A1 e A2 das secções transversais pode-se calcular as velocidades e as taxas de escoamento de massa. Quando usado para este fim este dispositivo chama-se Medidor de Venturi. 8.2.5.3 Sustentação de aviões A figura seguinte mostra as linhas de corrente em torno da secção transversal de uma asa de um avião. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 106 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 A orientação da asa em relação às linhas de corrente provoca uma acumulação de linhas de corrente acima da asa, correspondentes a uma maior velocidade da corrente nesta região ( v1 > v2 ), como na garganta de venturi ( A1 < A2 ). Assim, a parte superior da asa está numa região de grande corrente e pressão reduzida, enquanto que a parte inferior é mais ou menos a pressão atmosférica (não tem correntes de ar). Nestas condições, surge uma força de sustentação (devido à diferença de pressões) de baixo para cima que permite o aparelho manter-se no ar sem cair. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 107 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 8.2.6 Viscosidade – fluidos reais Fluidos reais, como o ar, água, óleo, sangue, shampoo, não obedecem perfeitamente a equação de Bernoulli. Situações reais, como o efeito da tensão superficial, e da viscosidade, não podem ser descritos com a equação de Bernoulli. É da experiência corrente que a água ou o álcool, por exemplo, se podem vazar de um reservatório para outro (e se deformam portanto) com maior facilidade do que o óleo ou mel. Traduz-se este facto dizendo-se vulgarmente que os últimos líquidos são mais viscosos do que os primeiros. A viscosidade pode ser encarada como uma forma de atrito entre as camadas adjacentes de um líquido. É normalmente percebida como a "grossura", ou resistência ao despejamento. Viscosidade descreve a resistência interna para fluir de um fluido e deve ser pensada como a medida do atrito do fluido. Assim, a água é "fina", tendo uma baixa viscosidade, enquanto óleo vegetal é "grosso", tendo uma alta viscosidade. Por causa da viscosidade, é necessário exercer uma força para fazer uma camada de fluido deslizar sobre outra. Tanto os líquidos como os gases são viscoso, embora os primeiros sejam muito mais que os gases. Verifica-se que um fluido em contacto com uma superfície tem a mesma velocidade que esta. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 108 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA As velocidades das restantes camadas distribuem-se regularmente ao longo da direcção normal às superfícies (se o regime for laminar), constituindo-se assim um gradiente de velocidades ao longo dessa direcção que se representa por: dv dy No escoamento laminar, as camadas de fluido deslizam uma sobre as outras como fazem as folhas de um livro colocado sobre uma mesa quando se aplica uma força à sua capa superior. Como consequência deste movimento, uma porção de líquido que, num dado instante, tem a forma abcd, num instante posterior apresenta a forma abc’d’, deformando-se cada vez mais, à medida que o movimento prossegue. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 109 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA A fim de manter o movimento, é necessário exercer uma força continuamente para a direita, sobre a placa superior móvel (placa inferior estacionária) e, assim, indirectamente, sobre a superfície superior do líquido. Esta força é representada por F na figura acima apresentada. Sendo A , a área do líquido sobre a qual estas forças estão aplicadas, a relação F / A é a tensão tangencial exercida sobre o fluido. A deformação produzida é definida como a razão entre este deslocamento e a dimensão transversal y , ( deformação = dd '/ y ), e, dentro do limite da elasticidade, a tensão e a deformação são proporcionais. Por outro lado, no caso de um fluido, a deformação cresce sem limite, enquanto se aplica a tensão, e verifica-se experimentalmente que esta depende não da deformação de cisalhamento (tangencial), mas da sua taxa de deformação. Taxa de variação da deformação tangencial = dv dy Define-se coeficiente de viscosidade, η , ou simplesmente viscosidade de um fluido, como a relação entre a tensão tangencial de um fluido e a taxa de deformação correspondente. η= F/A dv / dy F = η × A× dv dy IPCA - Escola Superior de Tecnologia 110 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 O coeficiente de viscosidade é uma grandeza escalar cuja unidade, no Sistema Internacional, é o Pa.s. Em muitas tabelas encontramos como unidade o Poise, que pertence aos sistema C.G.S. sendo 1 Poise = 10-1 Pa.s. Para os líquidos que escoam facilmente, como a água ou querosene, a tensão tangencial é relativamente pequena para uma dada taxa de variação de deformação, sendo também a viscosidade relativamente pequena. O contrário acontece com a glicerina ou o óleo cuja viscosidade é correspondentemente maior. O coeficiente de viscosidade depende significativamente da temperatura, crescendo para os gases e diminuindo par os líquidos. A tabela seguinte apresenta alguns dos coeficientes de viscosidade de materiais conhecidos 8.2.7 Lei de Stokes Quando um corpo se desloca no seio de um fluido viscoso, exerce sobre ele, para além das forças de impulsão, forças de atrito devidas à viscosidade. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 111 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 Estas forças são da forma: F = −λ × v Para uma esfera de raio r , que se desloca com uma velocidade v , essas forças podem escrever-se: F = −6π ×η × r × v Esta expressão traduz a lei de Stokes. Uma partícula esférica abandonada ( v0 = 0 ) num líquido viscoso, fica inicialmente submetida a duas forças: a impulsão e o peso. Se o peso for maior que a impulsão, a partícula começa a cair no interior do fluido, aumentando a sua velocidade a partir do zero, ficando assim sujeita também a uma força de viscosidade, com sentido contrário à velocidade, e que aumenta com esta. Temos assim uma resultante: R = Fg − I − 6π × r ×η × v Uma vez que as forças de viscosidade aumentam à medida que a velocidade aumenta, atinge-se um situação de equilíbrio para uma velocidade vT , velocidade terminal, tal que: IPCA - Escola Superior de Tecnologia 112 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 Fg − I − 6π × r ×η × vT = 0 Passando a partícula a deslocar-se com velocidade constante. Supondo uma densidade ρ , para a partícula e ρ L para o fluido, temos: Fg = ρ × g × V I = ρL × g ×V V= 4 3 πr 3 Obtemos assim, vT = 2× r2 × g × ( ρ − ρL ) 9π Este é o método usado para determinar a viscosidade de determinados fluidos. Medindo a velocidade terminal de uma esfera de raio r e densidade conhecidas, podese medir a viscosidade do fluido na qual ela cai. Esta equação foi deduzida por Milikan para calcular para calcular o raio de gotas submicroscópicas de óleo electricamente carregadas, por meio dos quais se determinou a carga de uma electrão individual. 8.2.8 Escoamento de um fluido: Lei de Pouseuille IPCA - Escola Superior de Tecnologia 113 FÍSICA Ano lectivo 2010/2011 É evidente que, pela natureza dos efeitos dos fluidos viscosos a velocidade de um fluido que escoa através de um tubo não será constante em todos os pontos de uma secção recta. A camada mais externa do fluido adere às paredes e a sua velocidade é nula. As paredes do tubo exercem sobre as camadas mais externas uma força para trás e esta, por sua vez, exerce na camada seguinte na mesma direcção e assim por diante. Se a velocidade não for muito elevada o escoamento será laminar e a velocidade será máxima no centro do tubo, decrescendo a zero nas paredes do mesmo. A figura seguinte mostra o perfil de velocidades de um fluido nestas condições. A equação que governa o movimento de um fluido dentro de um tubo é conhecida como equação de Poiseuille. Ela leva em consideração a viscosidade, sendo válida, apenas para escoamento não-turbulento (escoamento laminar). O sangue fluindo através dos canais sanguíneos não é exactamente um escoamento laminar. Mas aplicando a equação de Poiseuille para essa situação é uma aproximação razoável em primeira ordem, e leva a implicações interessantes. A equação de Poiseuille, diz que, o caudal de líquido, Q , que se escoa num tubo de IPCA - Escola Superior de Tecnologia 114 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA raio R , e comprimento L é função da diferença de pressões, p1 − p2 e do coeficiente de viscosidade do líquido, através da expressão, Q= π 8 × R4 η × p1 − p2 L Que constitui a lei de Poiseuille Para o sangue, o coeficiente de viscosidade é de cerca de 4 x 10-3 Pa s. A coisa mais importante a ser observada é que a taxa de escoamento é fortemente dependente no raio do tubo: R4. Logo, um decréscimo relativamente pequeno no raio do tubo significa uma drástica diminuição na taxa de escoamento. Diminuindo o raio por um factor 2, diminui o escoamento por um factor 16! Isto é uma boa razão para nos preocuparmos com os níveis de colesterol no sangue, ou qualquer obstrução das artérias. Uma pequena mudança no raio das artérias pode significar um enorme esforço para o coração conseguir bombear a mesma quantidade de sangue pelo corpo. 8.2.8 Escoamento laminar ou turbulento: Número de Reynolds Quando a velocidade de um fluido excede um valor crítico, que depende das propriedades do fluido e do raio do tubo, o regime de escoamento torna-se mais complicado. Na vizinhança das paredes do tubo o ainda é laminar mas no interior é altamente irregular. Aparecem localmente correntes circulares, vórtices, como se observa frequentemente no fundo do cigarro, aumentando geralmente a resistência do fluido. Este regime é designado por turbulento. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 115 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA Experimentalmente verifica-se que uma combinação de quatro factores determina se um regime é laminar ou turbulento. Esta combinação é conhecida como número de Reynolds, N R , definido como: NR = ρ ×v× D η Em que, ρ - densidade do fluido v - velocidade média para a frente η - viscosidade do fluido D - DIÂMETRO DO TUBO O número de Reynolds é uma grandeza adimensional e tem sempre o mesmo valor, para um dado líquido e tubo, qualquer que seja o sistema de unidades utilizado para o seu cálculo. Experimentalmente verifica-se que: N R < 2000 o escoamento é laminar N R > 3000 o escoamento é turbulento IPCA - Escola Superior de Tecnologia 116 Ano lectivo 2010/2011 FÍSICA 2000 < N R < 3000 o escoamento é instável, passando várias vezes de um para outro tipo de regime. Quando um objecto se desloca no seio de um fluido, mesmo que este flua em regime laminar, a deformação produzida nas linhas de corrente mostra que se estabelecem em torno do objecto grandes gradientes de velocidade e portanto aparecem nessa região forças de viscosidade. Por essa razão os fluidos, mesmo de baixa viscosidade, não podem ser tratados como ideais na vizinhança de objectos sólidos. IPCA - Escola Superior de Tecnologia 117