Fibromialgia

Propaganda
1. Introdução
A palavra fibromialgia possui diversas origens, sendo derivada do latim onde
fibro significa tecido fibroso, ligamentos, tendões e fáscias; do grego onde mio indica
tecido muscular, algos que significa dor e ia que indica condição. Ou seja, condição de
dor que emana de tendões, ligamentos e músculos (TEIXEIRA E FIGUEIRÓ, 2001).
É uma síndrome clínica caracterizada por dor musculoesquelética difusa
associada à dor à palpação de áreas musculares circunscritas que são chamados pontos
dolorosos ou tender points (FALCÃO e NATOUR, 2002; HAUN et al, 1999). É o
segundo ou terceiro diagnóstico mais comum em reumatologia. A doença atinge de 0,5
a 5% da população, sendo as mulheres, na idade dos 35 aos 55 anos, as mais acometidas
com cerca de 70 a 90%.
Embora bem caracterizada clinicamente, a causa é desconhecida (SATO, 2004;
HAUN et al, 2001; PROVENZA et al, 2002; COSTA et al, 2005; SNIDER, 2000).
Diversos mecanismos têm sido propostos como causadores de fibromialgia,
incluindo alterações musculares, na fisiologia do sono e em nível neurormonal, além de
distúrbios no estado psicológico (FALCÃO e NATOUR, 2002; HELFENSTEIN e
FELDMAN, 2002). Alguns autores indicam que há uma predisposição genética (SATO,
2004; PRIDMORE e ROSA, 2002; HAUN et al, 2001).
A modulação dos sintomas da fibromialgia depende da forma como cada
paciente se adapta (MARTINEZ et al, 2002). Há queixas de sensação desagradável no
corpo todo, às vezes intensa e incapacitante, além de variável na duração (contínua ou
intermitente) (COSSERMELLI, 1972).
Dentre os principais sintomas podemos encontrar: fadiga persistente; sono não
reparador; irritabilidade; dor generalizada; depressão; transtorno do humor; cefaléia ou
enxaqueca; lombalgia; rigidez; parestesia entre outros. (SIMS 2001; YOSHINARI e
BONFÁ 2000; LIN et al 2001; LIANZA 2001; SNIDER 2000).
O diagnóstico é clínico e apoiado nos dados da história (YOSHINARI e
BONFÁ, 2000; TEIXEIRA e FIGUEIRÓ, 2001). Ao exame físico, os pacientes
geralmente apresentam-se sem nenhuma doença sistêmica ou anormalidades articulares.
Investigações laboratoriais ou radiológicas são úteis primariamente para exclusão de
outras condições reumáticas (FALCÃO e NATOUR, 2002; MARTINEZ et al, 2002).
Em 1990 o American College of Rheumatology propôs os seguintes cr itérios
para o diagnóstico da fibromialgia:
1. Dor disseminada, que esteja ocorrendo há 3 meses (dor disseminada é definida
como dor em ambos os lados do corpo, dor acima e abaixo da cintura e dor no
esqueleto axial).
2. Sensibilidade em 11 ou mais dos 18 pontos de sensibilidade, durante a palpação
digital realizada com pressão aproximada de 4 kg/cm2 .
Tender points na fibromialgia:
1. 2 cm abaixo do epicôndilo lateral do cotovelo;
2. Inserção nucal dos músculos suboccipitais;
3. Nos ligamentos dos processos transversos C5-C7;
4. Na borda superior do trapézio;
5. No músculo supra espinhoso;
6. Músculo peitoral ao nível da junção costo-condral da 2° costela;
7. No quadrante látero-superior da região glútea, abaixo da espinha ilíaca;
8. Nas inserções musculares do trocânter femoral;
9. Côndilo medial do fêmur, 2 cm acima da linha articular;
Fibromialgia e qualidade de vida
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de vida é definida
como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema
de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações (FLECK et al, 2000).
Apesar da fibromialgia não apresentar lesões anatomopatológicos ou evoluir
para deformidades, ela produz, de modo geral, um grande impacto ne gativo na
qualidade de vida (MARTINEZ et al, 1999; PAGANO et al, 2004).
Os instrumentos de auto-relato são os mais apropriados para avaliar a dor e o
impacto desta patologia nos vários aspectos da vida dos indivíduos (LIN et al, 2001).
Na prática clínica, eles podem identificar as necessidades dos pacientes e auxiliar na
procura de uma intervenção mais eficaz (PAGANO et al, 2004).
Fibromialgia e ginástica holística
A visão holística torna-se fundamental para a abordagem de pacientes com dor
crônica, em especial para aqueles com a síndrome fibromiálgica (MARTINEZ et al,
2002). É interessante que o fisioterapeuta tenha pelo menos uma compreensão básica
das várias técnicas holísticas (acupuntura, quiropraxia, osteopatia, reflexologia,
ginástica, etc), muitas delas originadas há milhares de anos e provenientes de todos os
continentes, outras comparativamente novas e em processo de desenvolvimento
subseqüente (ARNOULD-TAYLOR, 1999).
A ginástica holística é um método que visa melhorar todas as funções corporais,
de modo que músculos, articulações, sistema nervoso e respiratório trabalhem
harmoniosamente em conjunto (EHRENFRIED, 1991).
Trata-se de um método dinâmico de reeducação postural que utiliza movimentos
de grande mobilização e repetição. Proporciona ao praticante autonomia e autoconhecimento.
Os movimentos da ginástica holística são baseados na respiração, relaxamento e
flexibilidade, possibilitando grandes benefícios tanto físicas como psíquicos em
pacientes com fibromialgia.
É um método que pode ser indicado para tratamento conservador da fibromialgia
pois, as alterações emocionais e os quadros álgicos acarretam em um desalinhamento
corporal. Em busca do equilíbrio o indivíduo adota posturas compensatórias através de
excessivas contrações musculares, o que aumenta mais o quadro álgico e o coloca no
ciclo vicioso da dor.
2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
Verificar qual a contribuição do método Ehrenfried em pacientes com
fibromilagia e o efeito na qualidade de vida.
2.2. Objetivos da GH
•
•
•
•
•
•
Proporcionar diminuição do quadro de dor
Manutenção e ganho das ADMs articulares
Fortalecimento muscular profundo para sustentação do corpo
Melhora da respiração e consequente melhora da qualidade do sono, fator de
grande importância nesta patologia
Diminuição de ingestão medicamentosa (antidepressivos)
Retorno ao convivio social
3. Metodologia
Esta pesquisa foi realizada na Unidade de Correção Postural do Total Care SP
(órgão de saúde), em que participaram do estudo 26 pacientes, sendo 2 homens e 24
mulheres, com idade entre 25 a 69 anos, no período de junho de 2007 a setembro de
2008.
Antes e após a intervenção todos os pacientes passaram por uma avaliação
postural e reumatológica. A dor foi avaliada pela escala comportamental da dor de zero
a dez, e a qualidade de vida foi avaliada utilizando-se 2 questionários validados
mundialmente: SF 36 e FIQ.
O SF-36 é um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida. É um
questionário formado por 36 itens, englobados em 8 escalas ou componentes:
capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos
sociais, aspectos emocionais e saúde mental (CICONELLI et al, 1999).
O FIQ (Fibromyalgia Impact Questionnaire) é um instrumento de avaliação de
qualidade de vida e função física de pacientes portadores da fibromialgia (PAGANO et
al, 2004). Composto por 19 questões organizadas em 10 ítens. Quanto maior o escore,
maior é o impacto da fibromialgia na qualidade de vida (MARQUES et al, 2006).
Além disso, alguns movimentos do método foram usados como forma de
avaliação com três objetivos: mensurar os resultados de forma fácil e objetiva ao longo
do trabalho desenvolvido; motivar os pacientes durante o programa uma vez que eles
mesmos observavam os progressos e; registrar cientificamente os movimentos como
possíveis métodos avaliatórios.
Os movimentos utilizados como avaliação foram:
Movimento
Teste de Glatzel
Colar de pérolas
Ruim
Até 25 seg
Até 25 seg
Satisfatório
De 25 a 35 seg
De 25 a 35 seg
Excelente
Acima de 35 seg
Acima de 35 seg
Bolinha no quadrado
lombar
Bolinha no pé
Rolo crânio cervical – na
base do occipital
Dor e incapacidade
Só dor
Sem dor
Dor e incapacidade
Dor e incapacidade
Só dor
Só dor
Sem dor
Sem dor
Os pacientes realizaram uma sessão semanal em grupo com duração de 60
minutos, totalizando 26 sessões. Algumas condutas importantes foram adotadas durante
as aulas: os movimentos eram globais e suaves que promoviam interação entre
diferentes estruturas na organização do corpo; deu-se preferência a movimentos mais
leves; utilizou-se mais tempo para a realização dos movimentos, com mais respirações
de repouso. É importante desmistificar o “não consigo fazer” e orientar “fazer dentro
das suas possibilidades hoje”. Além disso, foi orientado que movimentos suaves
realizados diariamente, “melhoram o excesso de sensibilidade”, enquanto a inatividade
interrompe o processo.
Em todas as aulas foram mantidos movimentos específicos direcionados aos
principais pontos dolorosos que atingem o sistema nervoso autônomo - SNA. O sistema
nervoso simpático - SNS prepara o homem para a situação de alerta fuga e stress. Ao
utilizar como via os nervos vertebrais, consegue-se chegar a todos os tecidos corporais.
Quando cuidamos da coluna de um paciente, temos que ter em mente que a cada
nível vertebral temos um gânglio simpático, que poderá interferir positiva ou
negativamente na função de um ou mais órgãos.
Após o período de intervenção os pacientes foram reavaliados e os resultados
foram tabulados no Excel para posterior análise estatística e comparação pré e póstratamento.
4. Resultados
Os resultados foram analisados por estatística descritiva onde se obteve a
porcentagem de pacientes que relataram melhora dos sintomas para cada um dos itens
avaliados.
-
Quanto ao SF36:
12 pacientes relataram melhora na qualidade funcional,
15 pacientes relataram melhora do estado geral de saúde,
17 pacientes relataram melhora na vitalidade
20 pacientes relataram melhora na saúde mental e aspectos físicos,
12 pacientes relataram melhora da dor,
18 pacientes relataram melhora dos aspectos sociais,
12 pacientes relataram melhora dos aspectos emocionais
Quanto ao FIQ:
- 19 pacientes relataram melhora na dor, fadiga e capacidade de trabalhar,
- 17 pacientes relataram diminuição da rigidez articular e depressão,
- 16 pacientes relataram melhora da capacidade funcional,
- 20 pacientes relataram diminuição da ansiedade,
- 21 pacientes relataram melhora do cansaço matinal,
- 15 pacientes relataram melhora do bem estar geral.
Tabela 1: Resultados de porcentagem de pacientes que relataram melhora do quadro de acordo
com categorias do SF-36.
Capacidade funcional
Aspectos fí sicos
Dor
Estado geral da saúde
Vitalidade
Aspectos sociais
Aspectos emocionais
Saúde mental
Melhora do quadro %
46,16
76,92
46,16
57,69
65,38
69,23
50,00
76,92
Sem alteração %
53,84
23,08
53,84
42,31
34,62
30,77
50,00
23,08
Tabela 2: Resultados de porcentagem de pacientes que relataram melhora do quadro de acordo
com categorias do FIQ.
Melhora do quadro %
Sem alteração %
73,07
76,92
65,39
61,54
73,08
80,77
73,08
65,38
57,70
26,93
23,08
34,61
38,46
26,92
19,23
26,92
34,62
42,30
Dor
Ansiedade
Rigidez
Capacidade Funcional
Fadiga
Cansaço matinal
Capacidade de trabalhar
Depressão
Bem estar
Com relação aos movimentos da Ginástica Holística usados como forma de
avaliação pode-se observar, de forma geral, uma diminuição da porcentagem de
pacientes que se enquadraram na categoria ruim comparando o antes e o depois do
tratamento. Isso pôde ser observado para todos os movimentos avaliados (teste de
Glatzel, colar de pérolas, bola no trapézio, bola no quadrado lombar, bola na sola do pé,
rolo crânio cervical).
Na categoria satisfatório notou-se que houve um aumento na porcentagem de
pacientes nesta categoria para os movimentos teste de Glatzel, bola no trapézio e bola
no quadrado lombar.
O contrário aconteceu na categoria excelente onde se observou um aumento na
porcentagem de pacientes que passaram para a categoria excelente após o tratamento
nos movimentos colar de pérolas, bola no quadrado lombar, bola na sola do pé e rolo
crânio cervical. No movimento teste de Glatzel e bola no trapézio o índice se manteve o
mesmo. Isto indica uma melhora do quadro clínico, já que a categoria indica a
possibilidade de realizar o movimento sem dor.
A tabela 3 mostra a porcentagem de pacientes antes e depois do tratamento, que
atingiram os níveis ruim, satisfatório e excelente para cada um dos movimentos
avaliatórios. E os gráficos ilustram os resultados para cada um dos movimentos.
Tabela 3: Porcentagem de pacientes que apresentaram resultados ruins, satisfatórios e
excelentes antes e depois do tratamento para cada um dos movimentos avaliatórios da GH.
Movimento
Teste de Glatzel
Colar de pérolas
Bola no trapé zio
Ruim (%)
Antes
Depois
69
38
69
44
31
25
Satisfatório (%)
Antes
Depois
13
44
25
13
63
69
Excelente
Antes
19
6
6
(%)
Depois
19
44
6
Bola no quadrado
lombar
Bola na sola do pé
Rolo crânio cervical
69
31
31
63
0
6
6
6
0
0
69
81
69
56
25
13
31
44
Gráfico 1: Porcentagem de pacientes que atingiram as categorias ruim, satisfatório e excelente,
antes e após tratamento com Ginástica Holística, para cada movimento avaliatório: teste de
Glatzel, Colar de pérolas, Bola no trapézio, Bola no quadrado lombar, Bola na sola do pé e Rolo
cervical.
Durante as aulas os pacientes relataram algumas observações quanto à evolução
do quadro clínico.
• 30% dos pacientes não conseguiram ficar na posição de sereia devido a dor no
quadril.
• Todos os movimentos que trabalham olhos e/ou língua causaram enjôo seguido
de dor de cabeça, nos pacientes que apresentavam a região cervical como ponto
focal de dor.
• A posição em decúbito ventral é a mais difícil pela tensão causada
principalmente na cintura escapular, especialmente trapézios.
• Os movimentos que mais causaram alívio foram: o trabalho do relógio no sacro
e na cabeça, massagem no braço com o rolo e todos o movimentos respiratórios.
• O resultado de cada aula depende da ansiedade elevada do dia e da temperatura
ambiente de modo que quando está frio os pacientes se queixam de muita dor e
quando está quente a dor é mais amena.
5. Conclusões
A GH é um método eficaz para o alívio das dores e melhora da qualidade de
vida de portadores de Fibromialgia. Este método se tornou uma possibilidade muito
interessante no momento que ele reúne movimentos que respeitam o limite de cada um e
por outro lado, não limita os ganhos, por utilizar movimentos globais e que levam em
consideração a biomecânica. Não há um movimento específico para pacientes com
fibromialgia. Por ser uma síndrome de sintomas difusos, todos movimentos são
benéficos pois atingem a globalidade do sistema músculo esquelético e psicossomático.
Download