guia prático de língua portuguesa para assessores e

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GUIA PRÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
PARA ASSESSORES E ESTAGIÁRIOS DE
MAGISTRADOS
Autor: Julio Cesar Michelucci Tanga
1ª ed. 2014
1
SUMÁRIO
Apresentação............................................................................................................6
A, há............................ ............................ ............................ ..................................8
Acentuação gráfica – principais alterações promovidas pela última reforma
ortográfica............................ ............................ .......................................................8
Acerca de, há cerca de............................ ............................ ....................................9
À custa............................ .......................... ............................ ...............................9
Adolescente............................ ............................ ..................................................10
Afim, a fim............................ ............................ ............................ ......................10
A gente............................ ............................ ............................ .............................10
À medida que (e na medida em que) ............................ ........................................11
Anexo............................ ............................ ............................ ...............................11
Aonde, onde............................ ............................ ............................ .....................11
A o, de o (contração de preposição e artigo) ............................ ............................12
A princípio, em princípio............................ ............................ ..............................13
Através de............................ ............................ ............................ ...................13/14
Bastante, bastantes............................ ........................ ............................ ...............14
Certeza de que............................ ............................ ............................ .................14
Colocação pronominal............................ ............................ ..................................15
Concordância – principais casos............................ ............................ ...................20
Conosco, com nós mesmos............................ ............................ ......................36/37
Crase............................ ............................ ............................ ................................37
Cujo............................ ............................ ............................ .................................46
Dar à luz............................ ............................ ............................ ...........................47
De encontro a / ao encontro de............................ ............................ .....................47
De o............................ ............................ ............................ ..................................48
De mais, demais............................ ............................ ............................................48
Despercebido, desapercebido............................ ............................ .......................48
Detrás............................ ............................ ............................ ...............................49
Devido, devida............................ ............................ ............................ ................49
Digladiar............................ ............................ ............................ ..........................49
Dignitário............................ ............................ ......................................................49
Discrição, descrição............................ ............................ ......................................50
2
Do que, que........................... ............................ ............................ .......................50
Eis que............................ ............................ ............................ .............................50
Em detrimento............................ ............................ ............................ .................50
Em domicílio............................ ............................ ................................................51
Em vez de, ao invés de.......................... ............................ ...................................51
E nem............................ ............................ ............................ ...............................51
É que............................ ............................ ............................ ................................51
Éramos em............................ ............................ ............................ .......................52
Estada, estadia............................ ............................ ..............................................52
Estado, estado............................ ............................ ............................ ..................52
Este, esse (pronomes demonstrativos) ............................ ......................................53
Etc. ............................ ............................ ............................ ..................................55
Face a / em face de............................ ....................................................................56
Faz, fazem, há (plural de “haver” e “fazer”) .........................................................56
Fazer com que........................................................ ...............................................57
Fl. e fls. (abreviaturas – “folha” e “folhas”) ..........................................................57
Grama............................ ............................ ...........................................................57
Grosso modo............................ ............................ .................................................57
Há anos atrás............................ ............................ .................................................58
Há, havia............................ ............................ .......................................................58
Haja vista............................ ............................ .................................................58/59
Haver............................ ............................ ............................ ...............................59
Hífen............................ ............................ ............................ ................................59
Horas............................ ............................ .............................................................61
Infinitivo (concordância com o infinitivo) ............................ ............................ ..62
Interveio (verbos derivados) ............................ .....................................................64
Ir a, ir para............................ ............................ ...............................................64/65
Junto a.....................................................................................................................65
Letras maiúsculas............................ ............................ .........................................66
Letras minúsculas............................ ............................ .........................................67
Lhe............................ ............................ ............................ ...................................68
Mais bem, melhor............................ ............................ .........................................69
Mau, mal............................ ............................ .......................................................70
Mas, mais............................ ............................ ......................................................70
3
Meio, meia............................ ............................ ....................................................70
Meio-dia e meia............................ ............................ ............................................71
Meritíssimo............................ ............................ ...................................................71
Mesmo, mesma, próprio, própria............................ ...............................................71
Modo que, modo com que, modo como (pronomes relativos) ..............................72
Morar em, residente em, morador em.....................................................................73
Nascido a, Nascido em 22 de março.......................................................................73
Necropsia............................ ............................ ......................................................73
Nenhum, nem um............................ ............................ .........................................73
O mesmo............................ ............................ .......................................................74
Obrigado, obrigada............................ ............................ ......................................75
Oficiala de justiça............................ ............................ .........................................75
Onde (uso correto de “onde”) ............................ ...................................................75
Passado ou presente?..............................................................................................77
Para mim e para eu................... .............................................................................78
Particípio (tenho entregado, foi entregue) ............................ ................................80
Perito, perita............................ ............................ ..................................................82
Pessoas gramaticais (mistura indevida) ............................ ....................................82
Possuir............................ ............................ ............................ .............................83
Ponto e vírgula............................ ............................ ..............................................83
Por si só............................ ............................ ........................................................85
Porque, por que, porquê e porquê............................ ..............................................85
Posto que............................ ............................ .......................................................87
Presente a............................ ............................ ......................................................88
Proceder............................ ............................ ........................................................88
Propuseram (verbos derivados) ............................ ................................................88
Pugnar............................ ............................ ...........................................................89
Que (expressão “o que”) ............................ ............................ ..............................89
Reaver............................ ............................ ............................ ..............................89
Regência verbal............................ ............................ ............................................90
Requerer............................ ............................ ......................................................101
Restabelecer............................ ............................ ................................................101
Rubrica............................ ............................ ........................................................101
Salário-mínimo............................ ............................ ...........................................102
4
Saudar............................ ............................ ............................ ............................102
Se (concordância com a palavra “se”) ............................ ....................................102
Segmento, seguimento............................ ............................ ................................105
Seja, esteja............................ ............................ ..................................................106
Se não, senão............................ ............................ ..............................................106
Sicrano............................ ............................ ........................................................106
Siglas............................ ............................ ..........................................................107
Sob, sobre............................ ............................ ...................................................107
Subjugar............................ ............................ ......................................................107
Sub judice............................ ............................ ...................................................107
Ter, haver............................ ............................ ....................................................108
Têm e vêm (acento em “ter” e “vir”) ............................ ......................................108
Todo............................ ............................ ............................ ...............................108
Todos quatro............................ ............................ ...............................................109
Traslado, translado............................ ............................ ......................................109
Tratar-se de............................ ............................ ............................ ...................109
Trema............................ ............................ ............................ ............................110
Um certo mistério............................ ............................ ............................ .........110
Usucapião............................ ............................ ...................................................111
Ver (e vir) ............................ ............................ ..................................................112
Vimos, viemos............................ ............................ ............................................112
Vírgula............................ ............................ ........................................................113
5
APRESENTAÇÃO
Este material destina-se a auxiliar assessores
jurídicos e estagiários nas principais questões referentes ao bom uso da língua
pátria.
É importante deixar claro que o objetivo do presente
manual é abordar, da forma mais objetiva e simples possível, as principais
dificuldades gramaticais enfrentadas no dia a dia forense, inexistindo qualquer
pretensão de aprofundamento. Por tal razão, evitei comentários minuciosos sobre
algumas regras de menor relevância prática, inclusive exceções de pouquíssima
incidência.
Com este trabalho, não se almeja a perfeição
gramatical, impossível de ser alcançada em virtude do grande volume de serviço a
que estão sujeitos todos os operadores do direito. Busca-se apenas amenizar as
principais falhas linguísticas e, com isso, otimizar a produtividade dos
Magistrados, os quais poderão despender menos tempo com correções gramaticais
se houver a correta utilização do manual por parte dos assessores e estagiários,
sem prejuízo da necessária consulta a outras obras do gênero.
Meu objetivo é manter a constante atualização e
revisão da obra, motivo pelo qual solicito aos usuários a gentileza de me
informarem, por e-mail ([email protected]) ou Mensageiro (jtan), todas as falhas
encontradas, para que se aprimore o trabalho. Adianto que, pela escassez de
tempo, vários erros poderão ser encontrados, inclusive de formatação, pelos quais
antecipadamente me desculpo. Por meio do mesmo canal, poderão ser enviadas
sugestões de tópicos a serem abordados na próxima edição e quaisquer críticas,
todas muito bem-vindas.
A seleção dos principais problemas da língua culta
foi realizada com base em minha experiência de treze anos como professor de
Língua Portuguesa no ensino médio, em cursos pré-vestibulares e na Universidade
Estadual de Londrina, onde tive a honra de atuar como professor do Departamento
de Letras.
Recomendo, por praticidade, que os senhores
Magistrados incentivem os assessores e estagiários a estudarem principalmente os
tópicos mais problemáticos do idioma, a saber: concordância verbal, colocação
6
pronominal, regência verbal, uso da palavra “se”, ponto e vírgula, uso dos
“porquês”, crase e vírgula. Caso haja um incremento no domínio de tais tópicos,
todos abordados neste manual, certamente o número total de falhas gramaticais
cairá muito. Mas é claro que o ideal seria a leitura de todo o conteúdo.
Finalizando, agradeço imensamente a colaboração
de todos os colegas Magistrados, particularmente aqueles que contribuíram com
sugestões enviadas por meio do grupo privado de e-mails da magistratura
paranaense, muito bem administrado pela colega Rosicler Mandorlo.
Coloco-me
à
disposição
para
qualquer
esclarecimento e desejo que este humilde trabalho seja útil a todos!
De Congonhinhas, em 31 de outubro de 2014.
Julio Cesar Michelucci Tanga
Juiz de Direito
7
AAAAAAAAAAAAAAAAAA
A, há
Se há equivale a faz – ambos indicam, no caso, tempo decorrido –, deve ser
escrito com h, pois é conjugação do verbo haver. Exemplos: Estou em Londrina
há (faz) vários anos; Há (faz) quanto tempo você está aqui? Usa-se o a
(preposição) quando a referência se faz para o futuro ou quando a indicação for de
distância. Exemplos: Estou a 15 dias de minha formatura; Daqui a pouco irei
embora; Ela está a dois metros daqui.
Acentuação gráfica – principais alterações promovidas pela última
reforma ortográfica
1) ditongos (vogal e semivogal na mesma sílaba)
Acentuam-se os ditongos abertos e tônicos “éu”, “éi” e “oi” somente em última ou
única sílaba. Exemplos: réus, he-rói e mói.
Fora das situações acima expostas, não serão acentuados. Exemplos: i-dei-a (não é
a última sílaba), he-roi-co (não é a última sílaba), eu-ro-pei-a (não é a última
sílaba).
2) hiatos (encontro de duas vogais na palavra, cada uma em sílaba separada)
Os hiatos “oo” e “ee” não têm mais acento. Exemplos: roo, creem, leem, deem,
voo.
3) “qu” e “gu”
Não há mais quaisquer acentos (nem trema, nem agudo) nos grupos “qu” e ‘gu”.
8
Exemplos: consequentemente, tranquilo, frequente, sagui, argui e averigue
(pronuncia-se o “u” de forma tônica nas duas últimas palavras).
Observação: só haverá trema se se tratar de palavra derivada de estrangeira com o
referido sinal. Exemplo: “mülleriano” (do alemão “Müller”).
4) acentos diferenciais
Com a reforma ortográfica, restaram somente os seguintes acentos diferenciais:
Pode (verbo no presente) e pôde (verbo no passado);
Por (preposição) e pôr (verbo);
Tem (singular) e têm (plural);
Vem (singular) e vêm (plural);
Observação: em “fôrma”, o acento diferencial é de uso opcional.
Acerca de, há cerca de
HÁ CERCA DE (com o verbo haver – há) indica tempo passado, sem que se
saiba a quantia exata de dias, meses, anos ou semanas. É um cálculo aproximado.
Exemplo: O réu alegou residir nesta cidade há cerca de dez anos (não se tem a
certeza de que tenham sido exatamente dez anos). Já ACERCA DE significa
sobre algo, a respeito de algo: Trata-se de manifestação acerca da dosimetria da
pena (a respeito da dosimetria da pena).
À custa
Prefira a forma À CUSTA DE (no singular). Exemplo: O adolescente vive À
CUSTA do pai.
9
Adolescente
Qualifique como adolescentes as pessoas entre 12 e 18 anos. Até doze anos
incompletos, qualificar como criança. Evitar a expressão “menor” e,
principalmente, “de menor”.
Afim, a fim
Estar A FIM de algo é interessar-se por esse algo. A expressão “a fim de”, que
também indica finalidade, é sempre grafada de forma separada. Exemplo:
Requereu a concessão do alvará a fim de obter valores suficientes para a compra
do aludido imóvel.
A palavra afim indica afinidade e é bem menos utilizada que a expressão “a fim”.
Exemplo: Esse estabelecimento atende a roqueiros, punks e afins.
A gente
A expressão a gente, tomada como nós na linguagem coloquial, exige verbo e
qualificação no singular. Como regra geral de concordância, o verbo concorda
com a palavra que funciona como núcleo do sujeito, e não necessariamente com a
ideia que ela representa. Apesar de a expressão a gente referir-se a mais de uma
pessoa, o verbo e o nome que com ela concordam devem estar no singular (a
gente - singular; as gentes - plural). Logo, A gente é feliz, por exemplo, seria
exemplo de uso correto da construção, que é comum na linguagem oral, mas não
cai bem em textos técnicos e objetivos, como costumam ser os jurídicos.
Obs.: a concordância em gênero (masculino ou feminino) do nome com a
expressão a gente faz-se, quase sempre, com a ideia, fato a que chamamos
concordância ideológica ou silepse. Exemplo: Um membro de um grupo de
homens diz: "A gente está muito nervoso hoje". Segundo a concordância
tradicional (com o núcleo do sujeito), nervoso deveria estar no feminino (A gente
10
está nervosa), uma vez que gente é palavra feminina (gente nervosa). Mas a
silepse, nesse caso, é preferível.
À medida que (e na medida em que)
À MEDIDA QUE tem o mesmo sentido de à proporção que, ao passo que. A
ideia é de proporção. Possui uma forma parecida, mas com significado diferente:
NA MEDIDA EM QUE (equivalente a “porque”, “já que”, com ideia de causa).
Exemplos:
À medida que cresce, fica mais revoltada (à proporção que, quanto mais);
Não procede a preliminar, na medida em que a necessidade da tutela
jurisdicional está plenamente demonstrada (já que).
Anexo
Assim como a palavra incluso, anexo é adjetivo e concorda em gênero (masculino
ou feminino) e número (singular ou plural) com o termo a que se refere: Os
documentos estão ANEXOS ao processo; As receitas estão inclusas?; A folha
anexa está suja; A nota fiscal segue anexa aos autos.
A expressão EM ANEXO fica sempre no masculino e no singular: A folha está
em anexo; As folhas estão em anexo.
Aonde, onde
É bastante simples distinguir as duas formas. Aonde (a + onde) deve ser usada
com verbos que indicam movimento (andar, chegar, sair, correr, ir, voar, voltar,
comparecer, etc.). Perceba que esses verbos admitem a preposição a em seus
complementos circunstanciais (Andei Ao centro da sala, Cheguei A São Paulo,
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Corri Ao armário, etc.), e é justamente por isso que se usa o aonde. Exemplos:
Aonde você vai; Cheguei Aonde eu queria. Se o verbo usado não indica
movimento, usa-se onde, pois não ausente a preposição a: ONDE você mora
(morar não indica movimento. Quem mora mora EM algum lugar, e não a algum
lugar)?; ONDE estou?; ONDE será a reunião?
ATENÇÃO
Só use “onde” ou “aonde” para retomar a ideia de LUGAR. Exemplo:
Isso ocorreu na CIDADE onde ele nasceu / na PRAÇA onde o acidente ocorrera.
EVITE tais formas em construções nas quais não se tem a ideia de lugar, como:
Isso ficou claro na contestação, “onde” o réu afirmou (preferir “em que” ou “na
qual”, porque “contestação” não é propriamente um lugar)
Não há que se falar em nulidade da duplicata de fl. 87, “onde” se vê, claramente,
que as partes estipularam... (preferir “em que” ou “na qual”, porque “duplicata”
não é propriamente um lugar)
A o, de o (contração de preposição e artigo)
Relembrar alguns conceitos gramaticais é inevitável neste momento:
1) sujeito: é o ser sobre o qual ou sobre quem se diz alguma coisa. Para encontrar
o sujeito de um verbo, basta perguntar QUEM ou QUÊ a ele. Exemplo: Meu
primo doou várias cestas básicas a uma instituição. Basta perguntar QUEM ao
verbo: QUEM doou cestas básicas? A resposta é Meu primo, que é o sujeito;
2) preposição: vocábulo invariável que serve para conectar termos da oração.
Exemplos: Doce DE leite; Vou A Londrina; Ele insiste EM comer. Principais
preposições: a, ante, em, até, após, para, por, com, sem e de;
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3) artigo: vocábulo que determina o substantivo em gênero e número. São eles: o,
a, os, as, um, uma, uns, umas. Exemplos: Conheci O rapaz; Você leu A matéria?
(O rapaz, A matéria, O frio, O calor, etc.)
Certo. Agora é possível recordar outra regrinha: não se deve juntar a preposição
ao artigo que encabeça o sujeito de uma oração. Exemplo:
Está na hora DE A onça beber água
DE é a preposição, e A é o artigo que encabeça o sujeito do verbo beber, que é
onça. Como saber que onça é o sujeito do verbo beber? Pergunte QUEM ao
verbo: QUEM beber água? A onça. Estaria, portanto, inadequada a construção
Está na hora “da” onça beber água.
Outros exemplos:
Apesar DE O autor ter alegado a nulidade, não se desincumbiu... (sujeito de “ter
alegado”: O AUTOR)
Não há necessidade DE A parte requerida juntar aos autos tais documentos
(sujeito de “juntar”: A PARTE REQUERIDA).
A princípio, em princípio
EM princípio – em tese; A princípio - no começo, no início. Exemplos:
A princípio, eram só trevas (no início);
Em princípio, a parte requerida foi lesada (em tese).
Através de
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Use a expressão através de seja somente no sentido de passar de um lado para o
outro ou no decurso de. Emprega-se essa palavra, portanto, somente nos sentidos
físico e temporal. Exemplos:
Jogou-se através do vidro (sentido físico: de um lado para outro);
Através dos anos, a ciência... (sentido temporal: no decurso de).
Fora desses casos, opte pelas expressões POR MEIO DE ou POR
INTERMÉDIO DE, além de outras preposições cabíveis. Exemplos:
O Ministério Público, POR MEIO Do agente que subscreve a exordial, afirma...
POR INTERMÉDIO Dos documentos de fls. X, ficou bem demonstrado que...
BBBBBBBBBBBBBBBBBBB
Bastante, bastantes
Sempre que você usar a palavra bastante, substitua-a mentalmente por muito. Se
o muito vai para o plural, o bastante se comporá da mesma forma. Exemplos: Há
bastantes (muitas) pessoas aqui; Nós comemos bastante (muito). Se, mais raro, o
bastante vier depois do nome a que se refere, substitua-o por suficiente. Se este
for ao plural, bastante também irá. Tenho amigos bastantes (suficientes).
CCCCCCCCCCCCCCCCCCC
Certeza de que
Primeiramente, lembre-se do conceito de oração: enunciado que gira em torno de
um verbo. Então, há tantas orações quantos forem os verbos de uma frase, certo?
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Um verbo, uma oração; dois verbos, duas orações; e assim por diante. Na frase
“Tenho certeza que não errarei mais”, por exemplo, temos duas orações, já que há
dois verbos (tenho e errarei). Separando-as, teríamos: Tenho certeza / que não
errarei mais.
Mas há algo estranho na segunda oração, que depende da primeira. Quem tem
certeza, não tem certeza DE algo? Sim. E onde está o de? Deveria estar antes da
segunda oração: Tenho CERTEZA DE que não errarei mais. Essa seria a forma
adequada. Outros exemplos:
Tenho vontade DE que você venha (vontade DE algo);
Tínhamos medo DE que você se zangasse (medo DE algo).
Cuidado: só use a preposição de se algum nome ou verbo a exigir. Veja um
exemplo ERRADO:
Afirmou a todos “de” que não sairia de lá.
Não há qualquer palavra que exija essa preposição “de”. Aliás, a oração “que não
sairia de lá” complementa o verbo “afirmar”, que não rege preposição alguma
(quem afirma afirma algo, e não “de algo”).
Colocação pronominal
A dúvida agora é em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te,
se, nos, vos, o, a, lhe) na frase. Será que, na frase Não me toque, por exemplo, o
pronome deveria ficar antes do verbo (Não me toque) ou depois dele (Não toqueme)?
Primeiramente, é importante saber que existem três possibilidades de colocação
dos pronomes átonos em relação ao verbo: próclise (antes dele), mesóclise (no
meio dele) e ênclise (depois dele).
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Observem-se abaixo os casos em que, de acordo com a norma-padrão, a
PRÓCLISE é obrigatória:
a) Diante de palavras de negação:
Não se faz necessário abordar o tema.
Citada pessoalmente (seq. 10.1), a parte requerida não se manifestou nos autos
(seq. 11.1).
b) Diante da palavra “que”, em regra:
O declarante disse que o chamaram de covarde.
A ré ainda declarou que a chamaram de covarde.
Sempre que se observar essa situação, deverá haver o seguinte procedimento...
Requisite-se o réu que se encontra recolhido na Delegacia de Polícia de Loanda.
c) Diante de advérbios (palavras invariáveis que indicam circunstâncias,
como tempo, lugar, modo, afirmação, negação e dúvida):
Hoje o prenderam; (tempo)
Já lhe encaminharam o ofício. (tempo)
Observação: se houver vírgula após o advérbio, a atração será bloqueada.
Exemplos:
Ontem, enviaram-no o ofício;
Ontem o enviaram o ofício.
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d) Diante de pronomes interrogativos:
Quem os advertiu de tais
consequências?
e) Diante de pronomes relativos (o qual, cujo, onde, que, etc.): Os documentos
aos quais me reportei foram desentranhados dos autos.
* Para relembrar o conceito de pronome relativo, veja o tópico Vírgula.
f) Diante de pronomes indefinidos (algo, alguém, tudo, todos, nenhum, vários,
etc.): Alguém a ameaçou.
g) Diante dos pronomes isso, isto e aquilo: Isso se traduz em benesses à
população local.
h) Diante de conjunções subordinativas (conjunções que introduzem orações
que dependam sintaticamente de outra): Quando se encontraram, as partes
iniciaram uma discussão.
Exemplos de conjunções e locuções conjuntivas ou prepositivas subordinativas
(perceba que grande parte delas termina com o vocábulo QUE):
a) causa: porque, já que, haja vista que, uma vez que, porquanto, como...
b) concessão (ideias contrastantes): embora, conquanto, se bem que, não obstante,
apesar de...
c) tempo: quando, sempre que, assim que, logo que, depois que, antes que...
d) finalidade: a fim de que, para que, para...
e) proporção: à medida que, à proporção que...
f) comparação: como, tal qual...
g) condição: se, caso, desde que...
h) consequência: que, de modo que, de forma que...
i) conformidade: conforme, segundo, de acordo com...
i) Em orações com a preposição “em”, pronome “se” e verbo no gerúndio:
Em se tratando de réu preso, será necessária a nomeação de curador especial.
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j) Em frases optativas (exprimem desejo): Deus o ouça!
Observação: não havendo palavra atrativa nem impedimento, é preferível a
ênclise nos textos jurídicos formais. Exemplo: A testemunha Joana recusou-se a
dizer a verdade.
ÊNCLISE OBRIGATÓRIA
a) Em início de oração: Encaminharam-se os autos à instância superior.
Cuidado: uma das regras mais famosas da norma culta é a de que não se deve
iniciar oração com pronome átono. Exemplos de ERROS:
“Se” encaminharam os autos; (forma correta: Encaminharam-se os autos)
“Lhe”
encaminhe
as
informações;
(forma
correta:
Encaminhe-lhe
as
informações)
“Se” faça justiça. (forma correta: Faça-se justiça)
b) Com verbo no gerúndio: Os cônjuges viviam agredindo-se.
c) Com verbo no imperativo afirmativo: Intime-o desta decisão.
d) Com preposição “a” e verbo no infinitivo: A mulher estava a observá-lo.
MESÓCLISE OBRIGATÓRIA
Em início de oração, com verbo no futuro (do presente ou do pretérito).
Exemplos:
Se a parte não contestar, ser-lhe-á aplicada a pena de confesso. (SERÁ + lhe)
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Far-se-ia necessário instruir melhor a inicial. (FARIA + se)
COLOCAÇÃO PRONOMINAL EM LOCUÇÕES VERBAIS
a) verbo auxiliar seguido de infinitivo ou gerúndio
Havendo palavra atrativa, o pronome pode ficar antes do auxiliar ou depois do
principal. Exemplos:
Não o posso condenar. (antes do auxiliar)
Não posso condená-lo. (depois do principal)
Se não houver palavra atrativa, poderá o pronome ficar entre os dois verbos:
Eu lhe posso encaminhar o ofício.
Eu posso lhe encaminhar o ofício. (pronome entre os verbos)
Eu posso encaminhar-lhe o ofício.
Observação: na linguagem formal, como a jurídica, é preferível a última forma.
b) verbo auxiliar seguido de particípio
Havendo palavra atrativa, use o pronome antes do verbo auxiliar. Exemplo:
O réu já a tinha visto.
Se não houver palavra atrativa, qualquer colocação será correta, menos a do
pronome após o particípio. Exemplos:
O declarante se tinha ferido.
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O declarante tinha se ferido.
Observação: JAMAIS use o pronome depois do particípio (“ferido-se”,
“intimado-a” ou “comunicado-lhe”, por exemplo)!
Concordância – principais casos
Nas gramáticas convencionais, estudam-se, separadamente, as concordâncias
verbal e nominal. Neste manual, abordaremos em conjunto os principais casos das
duas partes, observando o comportamento de verbos e nomes diante das palavras
a que se referem, a partir de exemplos práticos.
1) Foi interposto pelo executado embargos do devedor (regra geral de
concordância com sujeito simples)
Quando estiver escrevendo, tome muito cuidado com sua mente. Ela às vezes
pode tentar “enganá-lo”, pois está acostumada com o sujeito geralmente antes do
verbo (lembre-se de que, para encontrar o sujeito de um verbo, pergunta-se
Quem? ou Quê? a este).
Por exemplo, se a frase-título fosse “Embargos do devedor foi interposto pelo
executado”, muitos se sentiriam incomodados, pois a falha de concordância seria
manifesta. A locução “foi interposto” deveria concordar com o sujeito (“embargos
do devedor”), que está no plural.
Assim, obviamente, a frase correta seria “Embargos do devedor FORAM
INTERPOSTOS pelo executado”. Dessa forma seria observada a regra geral de
concordância verbal, abaixo expressa:
“O VERBO OU LOCUÇÃO VERBAL DEVE CONCORDAR EM
NÚMERO E PESSOA COM O NÚCLEO DO SUJEITO”.
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Porém, se a frase em comento fosse “Foi interposto pelo executado embargos do
devedor”, nem todos conseguiriam enxergar, de plano, a inadequação.
Se a observarmos com atenção, veremos que o verbo (a locução verbal) não
concordou com o seu sujeito. Basta perguntar “Quê?” para a locução “foi
interposto”: “Que que foi interposto?”. A resposta – o sujeito, portanto – é
EMBARGOS DO DEVEDOR. E o núcleo desse sujeito é EMBARGOS, que
está no plural.
Assim, para ficar correta a frase, deveria o verbo concordar em número com o
núcleo do sujeito: FORAM INTERPOSTOS pelo executado EMBARGOS do
devedor.
Em síntese, não importa a ordem da oração (SUJEITO – VERBO ou
VERBO – SUJEITO): o verbo sempre concordará com o núcleo do sujeito.
Tome cuidado redobrado quando posicionar o verbo antes do sujeito, pois é
nesse caso que os erros são mais frequentes.
Observe mais um exemplo de erro que muitas pessoas não detectariam facilmente:
Ante a possibilidade de ser atribuído efeitos infringentes aos embargos de
declaração opostos pelo excipiente, intime-se o excepto para, no prazo de 5
(cinco) dias, manifestar-se.
Para achar o sujeito da locução grifada, façamos a pergunta clássica: “Que que é
atribuído?”. A resposta (sujeito) é EFEITOS INFRINGENTES. Como está no
plural, a locução verbal deveria respeitar a regra de concordância. Logo, a forma
correta seria:
Ante a possibilidade de serem atribuídos efeitos infringentes aos embargos de
declaração opostos pelo excipiente, intime-se o excepto para, no prazo de 5
(cinco) dias, manifestar-se.
Veja outros exemplos, desta vez com a concordância perfeita:
21
Vários recursos foram manejados pela parte. (SUJEITO – VERBO)
Foram manejados pela parte vários recursos. (VERBO – SUJEITO)
As condutas do réu causaram surpresa à vítima. (SUJEITO – VERBO)
Causaram surpresa à vítima as condutas do réu. (VERBO – SUJEITO)
Os documentos mencionados pelo autor têm pouca relevância à causa.
(SUJEITO – VERBO)
Têm pouca relevância à causa os documentos mencionados pelo autor. (VERBO
– SUJEITO)
As preliminares de inépcia da inicial e litispendência foram suscitadas pelo réu.
(SUJEITO – VERBO)
Foram suscitadas pelo réu as preliminares de inépcia da inicial e litispendência.
(VERBO – SUJEITO)
Pleiteia que a expedição da segunda via do documento perante o Detran seja
determinada. (SUJEITO – VERBO)
Pleiteia que seja determinada a expedição da segunda via do documento perante
o Detran. (VERBO – SUJEITO)
Da narração da inicial extrai-se a verossimilhança das alegações, tendo em vista
que comprovantes de pagamento do veículo foram juntados aos autos.
(SUJEITO – VERBO)
Da narração da inicial extrai-se a verossimilhança das alegações, tendo em vista
que foram juntados aos autos comprovantes de pagamento do veículo. (VERBO
– SUJEITO)
ATENÇÃO REDOBRADA!!!
Não custa reforçar que, na ordem indireta (VERBO – SUJEITO), a incidência de
erros é muito maior. Por isso, lembre-se: quando perceber que o verbo está em
22
posição inicial na oração, antes do sujeito, redobre a atenção e confira a
concordância.
Além disso, como você deve ter percebido nos exemplos acima, é muito comum a
construção de locuções verbais passivas (verbo + particípio) antes de seus
respectivos sujeitos. E, nesses casos, além da concordância em número (singular
e plural), você deverá checar a concordância em gênero (masculino e feminino),
porque o particípio – geralmente terminado em “ado” ou “ido”, como “amado” e
“partido” – é uma das formas nominais do verbo. Conforme será abordado em
tópico à frente, se houver mais de um núcleo e pelo menos um deles for
masculino, a locução verbal deverá estar no plural e no masculino.
Exemplos de particípios antecipados ao sujeito, com a concordância ERRADA:
“Considerado” essa questão, o pleito merece procedência.
“Foi informado” pela parte a extinção do processo.
Não “será admitido” manifestações injuriosas.
“Trazido” aos autos os documentos, abra-se vista à autora.
“Encaminhado” os autos à superior instância, aguarde-se o julgamento do
recurso.
Vejamos agora os mesmos exemplos, desta vez com a concordância CORRETA
(os núcleos do sujeito estão destacados com letras maiúsculas):
Considerada essa QUESTÃO, o pleito merece procedência. (Que que foi
considerado? A questão)
Foi informada pela parte a EXTINÇÃO do processo. (Que que foi informado? A
extinção)
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Não serão admitidas MANIFESTAÇÕES injuriosas. (Que que não será
admitido? As manifestações)
Trazidos aos autos os DOCUMENTOS, abra-se vista à autora. (Que que será
trazido? Os documentos)
Encaminhados os AUTOS à superior instância, aguarde-se o julgamento do
recurso. (Que que vai ser encaminhado? Os autos)
Dica para encontrar o núcleo do sujeito
Quando o sujeito for uma expressão com várias palavras e uma delas for
preposição (de, para, com, por, em, etc.), o NÚCLEO DO SUJEITO, com o qual o
verbo sempre concordará, normalmente será o substantivo ou pronome ANTES
DA PREPOSIÇÃO.
Exemplos (com o sujeito entre colchetes e o núcleo em negrito, logo antes da
preposição):
[As consequências do crime] foram normais à espécie.
[Esse tipo de conduta] não é observado na região.
[A maioria das pessoas que cometem crimes desse jaez] despreza as
consequências danosas que estes trazem à sociedade.
2) Foram devidamente intimados o Ministério Público e o réu (regra geral de
concordância com sujeito composto)
Sujeito composto é aquele que tem dois ou mais núcleos, geralmente ligados por
um vocábulo invariável denominado conjunção.
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De acordo com a regra geral, o verbo deve concordar com a SOMA dos núcleos
do sujeito, a não ser que o conectivo que os una não indique tal ideia, como às
vezes ocorre com a conjunção “ou”.
Exemplos (com o sujeito entre colchetes e os núcleos em negrito):
[A conduta e a tipicidade] integram o conceito de crime a que você se referiu.
(SUJEITO – VERBO)
Tiveram pouca repercussão social [esse crime e a correlata contravenção].
(VERBO – SUJEITO)
As conjunções mais utilizadas para ligar núcleos do sujeito são “e”, “ou” e “nem”.
Quando o sujeito composto estiver depois do verbo (ordem VERBO – SUJEITO),
poderá o verbo concordar com o primeiro núcleo ou com a soma. Exemplos:
a) Morreu o autor e a esposa (concordando só com o núcleo mais próximo);
b) Morreram o autor e a esposa (concordando com a soma dos núcleos).
Recomenda-se, no entanto, que a concordância sempre se dê com a soma, no
plural, independentemente da ordem da oração.
EM RESUMO:
a) sujeito simples (um núcleo): o verbo sempre concorda com o núcleo,
independentemente da ordem (SUJEITO – VERBO ou VERBO – SUJEITO).
Exemplos:
[Os ofícios] serão enviados amanhã. (SUJEITO – VERBO)
Serão enviados amanhã [os ofícios]. (VERBO – SUJEITO)
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b) sujeito composto (dois ou mais núcleos): o verbo sempre concorda com o
plural, a não ser que o conectivo que una os núcleos não indique soma. Na ordem
indireta (VERBO – SUJEITO), os gramáticos admitem a concordância apenas
com o núcleo mais próximo ao verbo, mas recomenda-se que sempre se opte pela
concordância com a soma. Exemplos:
[O comprovante de residência e a procuração] não foram juntados aos autos.
(SUJEITO – VERBO)
Não foram juntados aos autos [o comprovante de residência e a procuração].
(VERBO – SUJEITO)
Não foi juntado aos autos [o comprovante de residência e a procuração].
VERBO – SUJEITO – concordância só com o primeiro núcleo – correta, mas
evitável)
3) Roubar e furtar ERA comum a ele
Aqui, apesar de haver a conjunção e, o verbo ficou no singular porque o sujeito é
composto de verbos no infinitivo. Só há plural nesse caso se os infinitivos
expressarem ideias contrárias, como no famoso exemplo Rir e chorar se
alternam. É bom lembrar que, quando o sujeito de um verbo for uma oração, o
verbo que concorda com esse sujeito ficará sempre no singular. Exemplo: Basta
que eles se habilitem nos autos. O sujeito do verbo bastar é a oração que eles se
habilitem nos autos (Que que basta? Que eles se habilitem nos autos). Como o
sujeito de bastar é uma oração, o verbo fica no singular (basta).
Quando os núcleos do sujeito forem sinônimos ou de sentido muito próximo,
também se admitirá que o verbo fique no singular. Exemplo: O ódio e o rancor
dominou-o.
3) O autor ou o réu se beneficiarão com eventual acordo
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Aqui também temos um sujeito composto, mas os núcleos estão ligados pela
conjunção ou (autor OU réu). Esse vocábulo pode exprimir exclusão (somente
um ou outro) ou adição (um + outro). O verbo da frase-título está no plural
porque o fato de o autor ser beneficiado não exclui a possibilidade de o réu
também o ser. Os dois podem ser beneficiados.
Agora pensemos nesta frase: O juiz titular ou o substituto sentenciará nesse
processo amanhã.
Nesse caso, logicamente o ou tem valor excludente. Somente um dos juízes
poderá sentenciar o processo.
Em suma, a concordância do verbo com núcleos ligados pela conjunção “ou”
dependerá do contexto discursivo e da intenção do falante.
4) João, assim como todos os irmãos, PASSA fome
Quem passa fome? João. Esse é o sujeito. A palavra “irmãos” não integra o
sujeito. O termo entre vírgulas (assim como todos os irmãos) está deslocado, fora
de sua ordem natural (ver Vírgula). É, na verdade, uma oração (com verbo
subentendido) que estabelece uma comparação entre seres. Na ordem direta ficaria
assim: João passa fome, assim como (passam) todos os irmãos. É por isso que,
quando se usa a locução “assim como”, NÃO há, como parece à primeira vista,
soma de núcleos. O verdadeiro núcleo do sujeito é somente o que aparece antes de
“assim como”.
5) Houve homens e mulheres CULPADOS
A questão agora é como as qualificações (geralmente expressas por adjetivos)
concordam com os nomes a que se referem. A qualidade culpado fica no singular
ou no plural? No masculino ou no feminino? Se se referir aos dois núcleos
(homens e mulheres), ficará culpados. Plural porque se refere a dois seres;
masculino porque, digamos em tom jocoso, a Gramática é machista. Se uma
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qualificação se refere a dois ou mais seres, e se pelo menos um deles é masculino,
a qualidade também será masculina. Ora, basta um homem numa multidão de
mulheres para que um orador se dirija a tais pessoas como senhores (e não
senhoras). É o predomínio do masculino na Gramática. Porém, se só as mulheres
forem culpadas, o adjetivo obviamente concordará com essa palavra, que deverá
ser o núcleo mais próximo: Houve homens e mulheres culpadas. Tal construção,
porém, é raríssima e pouco esclarecedora, devendo ser evitada.
Se a qualificação vier antes dos núcleos do sujeito, a concordância, em regra, só
poderá ser feita com o núcleo mais próximo, e não com a soma: Segundo
remansosa jurisprudência e doutrina, a citação ficta pode....
A qualidade pode aparecer ligada ao sujeito (ou ao complemento verbal) por meio
de um verbo: Homens e mulheres são simpáticos; O prefeito nomeou o
funcionário e a irmã (como sendo) secretários. Nesse caso, a regra é a mesma da
do anterior, porém um pouco mais flexível. Se a qualidade vier antes dos núcleos
do sujeito, poderá concordar com os dois ou só com o mais próximo: São
simpáticos homens e mulheres; São simpáticas mulheres e homens. Recomendase, contudo, que sempre se opte pela concordância com a soma nesse caso.
6) É proibido / é bom / é necessário
Casos clássicos dos capítulos de concordância nominal, as expressões é proibido,
é necessário, é bom, é preciso e outras similares (com verbo de ligação +
predicativo) ainda causam muita confusão. Quando se escreve e se diz É proibido
ou É proibida? Quando é feminino e quando é masculino?
Como já foi explicado, é sempre bom ter em mente que, quando usamos um
verbo, ele geralmente diz algo a respeito de alguma coisa ou alguém (o sujeito
do verbo). Quando se usa um verbo que liga uma qualificação ao núcleo do
sujeito, deverá, em regra, haver a concordância em gênero e número entre a
qualificação e o núcleo.
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A frase É “proibido” a entrada de pessoas estranhas, por exemplo, está errada,
porque a palavra proibido (um adjetivo, pois indica qualidade) não concorda com
o sujeito do verbo ser, que é A entrada de pessoas estranhas (que que é proibido?
A entrada de pessoas estranhas). Podemos perceber que o núcleo do sujeito
aparece acompanhado de artigo feminino (A entrada), o que determina a sua
“feminilidade”. Assim, todas as palavras que a ele se referem também devem ser
femininas:
É PROIBIDA a entrada de pessoas estranhas (A entrada é proibida).
Porém, essa flexão só valerá quando o sujeito vier acompanhado de artigo ou
qualquer determinante feminino (minha, essa, aquela, nossa, muita, pouca,
etc.). Se não houver nenhum desses determinantes (caso em que o núcleo
geralmente estará no início do sujeito, sem nenhum vocábulo feminino à sua
esquerda), expressões como é proibido, é necessário, é bom, é preciso ficarão
sempre no masculino. Exemplo:
É PROIBIDO entrada de pessoas estranhas.
Repare que agora o núcleo do sujeito (ENTRADA de pessoas estranhas) não vem
acompanhado de artigo nem de qualquer vocábulo que o determine como
feminino. Mais alguns exemplos:
É necessário PACIÊNCIA; É necessária A PACIÊNCIA;
MAÇÃ é bom para a saúde; A MAÇÃ é boa para a saúde.
Faz-se necessária A APRESENTAÇÃO de memoriais; Faz-se necessário
APRESENTAÇÃO de memoriais.
7) A maioria dos argumentos PROCEDE
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Quando o sujeito contiver expressões no singular que indiquem ideia de plural,
como a maioria, grande parte de e grande número de, seguidas de nome no
plural, a concordância se fará com a expressão no singular ou com o nome no
plural, livremente. Porém, recomenda-se a concordância no singular, com o
núcleo. Exemplos:
A maioria dos brasileiros vota (preferível) OU A maioria dos brasileiros votam;
Grande parte dos torcedores ficou ferida (preferível) OU Grande parte dos
torcedores ficaram feridos.
Caso esse tipo de núcleo não seja acompanhado de expressões no plural, a
concordância com o singular será obrigatória. Exemplos:
A maioria vota;
Grande parte ficou ferida;
O grupo reuniu-se na praça.
8) Já DERAM três horas
Os verbos dar, bater e soar concordam com o número de horas: Já DERAM três
horas; Já deu uma hora; Já soou meia-noite; Soaram duas horas; Bateram oito
horas; Soou uma hora.
Se você quiser usar na frase a palavra relógio (ou qualquer outro mecanismo que
forneça a noção de horas, como sino), o verbo concordará com ela: O relógio
bateu duas horas; O sino soou quatro horas; Parece que o relógio já deu dez
horas.
9) É meio-dia
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Na indicação de horário, o verbo ser concorda com o número de horas: São duas
horas, São 11h30min, É meio-dia (meio é singular, porque é metade de um).
Muitos, erroneamente, falam “São” meio-dia e “São uma hora” por força do
hábito, já que a grande maioria doa indicações de horário está no plural (duas,
três, quatro...).
10) Com os dias acontece o mesmo?
É mais fácil. Você pode concordar com o número ou com a palavra dia, que estará
subentendida: É (dia) 3 de junho (ou SÃO 3 de junho, concordando com o
numeral); É 15 de maio (ou SÃO 15 de maio, concordando com o número). É
lógico que o verbo estará sempre no singular na indicação do primeiro dia do mês.
Hoje É primeiro de maio (concordando com a palavra dia ou com o número, o
singular é inevitável). E evite dizer “um” de maio, “um” de abril... prefira
primeiro de maio, primeiro de abril e assim por diante.
11) Mais de uma pessoa VEIO à festa
Saibamos que os verbos têm uma grande queda pelos numerais. Em outras
palavras, os verbos normalmente concordam com os números. Isso acontece nas
expressões que contenham numerais, como mais de um, mais de dois, menos de
um, menos de dez. Então, diga: Mais de uma pessoa veio à festa; Mais de três
pessoas vieram à festa, sempre deixando o verbo concordar com o numeral.
Se, porém, a expressão mais de um vier repetida ou se o verbo indicar troca de
ações (reciprocidade), ele ficará no plural:
Parecia que mais de um rapaz se estapeavam (troca de ações - um dava tapas no
outro);
Mais de uma pessoa se olharam, após aquele comentário (troca de ações - uma
olhava a outra);
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Mais de um homem, mais de uma mulher perderam dinheiro (repetiu-se a
expressão mais de um).
12) Os Estados Unidos INVADIRAM o Iraque
Não é só com o numeral que o verbo sempre concorda. Nos casos de plurais
aparentes – em que, apesar da palavra no plural, há uma ideia singular, como em
“Estados Unidos”, nome de um único país –, o verbo também estabelece fortes
relações com o artigo, geralmente concordando com ele. Artigo no plural, verbo
no plural; artigo no singular, verbo no singular. Posso dizer, por exemplo, As
Alagoas são um ótimo lugar ou Alagoas é um ótimo lugar. Se o artigo aparecer, o
verbo ficará no plural; se não, o verbo permanecerá no singular: Minas Gerais
enfrenta onda de calor; As Minas Gerais enfrentam onda de calor.
13) Eles parecem chegar ou parece chegarem?
Quando o verbo parecer estiver ao lado um verbo no infinitivo (estado natural do
verbo, como cantar, vender, parecer, subir, etc.), um ou outro vai flexionar-se. Só
não pode os dois irem para o plural ao mesmo tempo:
Eles pareciam estar bem ou Eles parecia estarem bem;
Eles parecem chegar ou Eles parece chegarem.
A construção preferível é a do parecer flexionado: Eles pareciam estar bem; Eles
parecem chegar.
14) 25% da população é analfabeta ou são analfabetos
As duas formas são corretas. Se você se vir diante de um sujeito com
porcentagem + nome (25% + população, no caso), poderá concordar o verbo e o
adjetivo (qualificação) com um ou com outro. Veja:
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25% da população são analfabetos ou 25% da população é analfabeta.
Se o número, porém, vier especificado por artigo (o, os, uns) ou pronome (esse,
esses, meu, meus, nosso, etc.), a concordância com a porcentagem será
obrigatória:
Os 25% da população são analfabetos;
Esses 25% da população são analfabetos.
Se a porcentagem não vier acompanhada de substantivo, o verbo e a qualificação
só poderão concordar com o número: 25% são analfabetos.
15) Tudo SÃO argumentos
Na maioria das construções com o verbo SER, ele liga o sujeito a um atributo
(característica), chamado pela Gramática tradicional de predicativo do sujeito.
Quando houver divergência de número entre sujeito e predicativo (um no singular
e outro no plural), opte, em regra, pela concordância com o termo plural, a não
ser que um deles seja nome de pessoa ou qualquer nome próprio (casos em que
a concordância será obrigatória, mesmo se estiver no singular). Exemplos:
A vida são alegrias para quem... (opta-se, com o verbo ser, pela concordância
com o termo plural, que no caso é o sujeito - A vida);
Pedro é várias pessoas quando trabalha (a concordância com o nome de pessoa Pedro - é obrigatória, inclusive se estiver no singular).
16) Um e outro COMPARECEM à firma
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Se o sujeito da oração for a expressão um e outro, o verbo ficará no plural. Se a
expressão um e outro acompanhar um nome, este ficará no singular, apesar de o
verbo ser pluralizado. Exemplo: Um e outro funcionário comparecem à firma.
17) Um ou outro COMPARECE à firma
Se o sujeito da oração for a expressão um ou outro, o verbo ficará, em regra, no
singular. Se a expressão um ou outro acompanhar um nome, este ficará no
singular. Exemplo: Um ou outro funcionário comparece à firma.
18) Nem um nem outro COMPARECE à firma
Se o sujeito da oração for a expressão nem um nem outro, o verbo ficará,
preferencialmente, no singular, apesar de haver divergências entre gramáticos. Se
a expressão nem um nem outro acompanhar um nome, este ficará no singular.
Exemplo: Nem um nem outro funcionário comparece à firma.
19) Vossa Excelência QUER conversar com os repórteres?
Todo pronome de tratamento (Vossa Excelência, Vossa Magnificência, Vossa
Alteza, Vossa Senhoria, Vossa Reverendíssima, Vossa Majestade e outros.)
funciona exatamente como a palavra VOCÊ (que, por sinal, vem do pronome de
tratamento Vossa Mercê) e exige verbos e pronomes na terceira pessoa do
singular: Vossa Excelência vai gostar do seu assessor (Você vai gostar do seu
assessor); Vossa Alteza poderia repetir (Você poderia repetir?)?
20) Fui eu quem FEZ isso / Fui eu que FIZ isso
Com o pronome relativo quem, a concordância é mais fácil do que se imagina. O
verbo deve ficar sempre na terceira pessoa do singular (ele). Alguns exemplos:
Fui eu quem FEZ isso;
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Fomos nós quem FEZ isso;
Seremos nós quem CHEGARÁ primeiro.
Quer uma prova? Basta inverter a ordem da frase: Quem fez isso fui eu; Quem fez
isso fomos nós; Quem chegará primeiro seremos nós.
Se usar o pronome que, a concordância se fará com o nome que vier antes dele:
Fui eu que FIZ isso;
Fomos nós que FIZEMOS isso;
Seremos nós que CHEGAREMOS primeiro.
21) Sou o único político que se IMPORTA com a situação...
A oração que se importa relaciona-se à palavra político (antecedente do pronome
que), que está na terceira pessoa do singular (ele): ele se importa. Assim, o verbo
deve concordar com tal palavra, evitando-se a concordância com a primeira
pessoa (eu ou nós), apesar de admitida por alguns gramáticos. Outros exemplos
relacionados:
Somos a única família que se reúne (a família se reúne, ela se reúne) aos
domingos;
Sou o único professor que pula (o professor pula, ele pula) de paraquedas.
22) Um milhão de pessoas SAIU
Se o numeral é um (singular), o verbo também permanece invariável (singular):
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Um milhão de pessoas saiu de casa (Isso mesmo!);
Ouvi falar que um bilhão de telespectadores assistirá ao evento.
O núcleo do sujeito, com o qual o verbo deve concordar, é a palavra “milhão” (ou
“bilhão”). Alguns gramáticos admitem também a concordância com o termo
plural que o acompanha.
Caso esses numerais coletivos estejam sozinhos, desacompanhados de expressões
plurais, a concordância no singular será obrigatória:
Um milhão saiu de casa;
Ouvi falar que um bilhão assistirá ao evento
23) Nenhum dos dois COMETEU o crime
Muito cuidado quando o sujeito do verbo contiver o pronome nenhum. Mesmo se
ele acompanhar palavra no plural ou numeral maior que um (como nenhum dos
guardas e nenhum dos dois), o verbo sempre ficará no singular, concordando com
nenhum. Ocorre o mesmo com o pronome algum, se estiver no singular.
Exemplo:
Algum dos funcionários FACILITOU a fuga.
Se algum, entretanto, estiver no plural, poder-se-á fazer a concordância com
ALGUNS ou com o pronome “nós” que o acompanhar. Exemplo:
Alguns de nós FACILITARAM (ou FACILITAMOS) a fuga.
Conosco, com nós mesmos
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Está certo que aprendemos no primário a usar conosco e convosco no lugar de
com nós e com vós. O problema é que nem sempre essa regra funciona. Dizer
Deixe “conosco” mesmo agride o ouvido de qualquer um. Quando houver
qualquer palavra (ou grupo de palavras) que reforce ou especifique o sentido do
pronome nós (ou vós, bem menos comum), não se poderá contraí-lo com a
preposição com. Exemplos:
Deixe COM NÓS mesmos (a palavra mesmos reforça nós);
Ele vai COM NÓS dois (dois especifica nós);
Eles estão COM NÓS professores (professores especifica nós);
Deixe conosco (não há palavra reforçando nós; logo, pode juntá-lo ao com);
Ele vai conosco (idem);
Eles estão conosco (idem).
Crase
Primeiramente, crase não é o nome daquele sinal gráfico (`). O nome do acento,
que é contrário ao agudo (´), é grave. Crase é o nome do fenômeno da junção de
dois as.
Só se usa o acento grave, em regra, antes de palavras FEMININAS. A crase é a
junção de, geralmente, um a preposição com um a artigo (que só acompanha
palavras femininas, é claro). Esse fenômeno ocorre, basicamente, nas expressões
adverbiais femininas que indicam tempo, modo e lugar e nos complementos
femininos de verbos e nomes com a preposição a.
Assim, a primeira coisa que você precisa assimilar sobre o fenômeno da crase é
que ele, em regra, NÃO OCORRE DIANTE DE PALAVRAS MASCULINAS.
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Alguns exemplos de CRASE EQUIVOCADA (por anteceder palavras
masculinas):
À título de ilustração, poder-se-ia argumentar... (“título” é masculina)
À teor do disposto no artigo 5º da Constituição Federal... (“teor” é masculina)
Não há que se falar, à rigor, em inépcia da inicial. (“rigor” é masculina)
A petição não foi protocolada à tempo. (“tempo” é masculina)
Nas frases acima, o “a” jamais poderia ser craseado, por posicionar-se diante de
palavra masculina.
Vejamos agora exemplos em que a crase foi corretamente sinalizada, por tratarse de circunstâncias femininas de tempo, modo e lugar ou de complementos
femininos introduzidos pela preposição “a”:
Ele encontrou a esposa à uma da tarde (circunstância feminina de tempo);
Ela correu à toa (circunstância feminina de modo);
Permaneça à esquerda (circunstância feminina de lugar);
Vamos assistir à novela (o verbo exige a preposição a; o complemento, feminino,
exige o artigo a).
Porém, identificar essas circunstâncias femininas de tempo, modo e lugar nem
sempre é tão fácil. Para facilitar a sua vida, existe uma regra prática muito fácil.
Quando houver dúvidas em relação à crase antes de determinada palavra
feminina, basta substituí-la, mentalmente, por qualquer palavra masculina,
mantendo-se a estrutura da frase. Se antes da masculina aparecer AO, diante
da feminina ocorrerá crase (A + A).
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Exemplo:
Vou a feira.
Substitua feira por qualquer palavra masculina, como mercado. Você diz Vou “a”
mercado ou Vou AO mercado? Certamente você escolheria a segunda opção (Vou
AO mercado). E nela aparece AO. Então, há crase em Vou à feira.
Outro exemplo:
Cheguei as pressas.
Pensemos em um termo masculino: Cheguei AOs prantos, ou AOs gritos.
Apareceu o AO, então ocorre crase em às pressas. Note que, na escolha da palavra
masculina, a circunstância indicada pela expressão (modo como cheguei)
permanece a mesma.
Em resumo:

na maioria das vezes em que houver dúvida sobre a ocorrência de crase em
expressões femininas, bastará substituí-las, mentalmente, por masculinas
com a mesma estrutura e sentido similar. Se aparecer AO ou AOS no
masculino, ocorrerá a crase no feminino (À ou ÀS). Esse teste, que
chamaremos de “teste do AO”, dará certo na maioria esmagadora dos
casos do cotidiano.
1) Exemplos de aplicação do teste do AO
Você já entregou a carta à garota? (AO garoto)
A vítima foi assassinada a faca. (a tiro)
39
Pegarei o ônibus à noite. (AO meio-dia)
Escrevi a carta a mão. (a lápis)
Forno a lenha. (a gás)
Essa caneta é igual à outra. (Esse lápis é igual AO outro)
Fique à vontade. (AO léu)
Diga a ela que não vou. (a ele)
Vire à direita. (AO lado)
Marcha à ré. (AO lado)
Sairei às 15h. (AO meio-dia)
Saio de segunda a sexta. (de segunda a sábado)
Está marcado para as 11h. (para o meio-dia)
Tornem os autos à conclusão. (AO gabinete)
A parte autora apresentou impugnação à contestação. (AO cálculo)
Audiência às 15h45min. (AO meio-dia)
O réu foi condenado à pena de prestação de serviços à comunidade. (AO
ostracismo / AO povo)
Recebo a emenda à inicial. (AO texto)
Intime-se o autor a emendar a inicial no prazo de dez dias. (O texto)
40
A controvérsia da lide diz respeito à execução da multa diária fixada para que a
embargante procedesse à implantação do benefício previdenciário devido à
embargada. (AO estabelecimento / AO cancelamento / AO embargante).
Intime-se a embargante (o embargado)
Observações:
a) No teste do AO, busca-se qualquer palavra masculina que, hipoteticamente,
caberia no lugar da feminina, ainda que o sentido da masculina seja
completamente diferente do da feminina. O importante é sabermos se, caso
houvesse alguma palavra masculina no lugar da feminina naquela específica
estrutura frasal, apareceria a junção AO;
b) O estudo da crase depende de um bom conhecimento de REGÊNCIA, uma vez
que, nos casos em que o verbo ou o nome regerem a preposição “a” e o
complemento for feminino, poderá ocorrer a crase no complemento. Por isso,
estude este tópico em conjunto com o de regência.
2) ANTE a certidão ou à certidão?
A preposição “ante” não vem acompanhada da preposição “a”. Assim, nunca
ocorre a crase nem AO no masculino. O correto seria:
“Ante a certidão de fl. 4, abra-se vista...” OU
“Ante o petitório de fl. 4, abra-se vista...”.
3) Casa, terra, a distância, pronomes de tratamento
Como vimos, é bastante fácil empregar corretamente o acento grave, mas em
alguns casos não é possível realizar o teste do AO. Antes das palavras casa e
41
distância, por exemplo, só colocamos o acento grave quando vierem
especificadas. Essa especificação pode ser feminina ou masculina. Exemplos:
A declarante disse que chegou a casa (não está especificado de quem é a casa,
portanto não há a crase);
Vou à casa de Fernando (aqui está especificado... é de Fernando);
Permanecemos a distância (não está especificada a distância);
Permanecemos à distância de 15 metros (aqui está especificada a distância).
Já com a palavra terra a questão é outra. Se o significado for o de planeta (Terra),
poderá ocorrer a crase. Se significar chão firme, não. Exemplos:
Os astronautas chegaram à Terra (sentido de planeta; logo, há a crase);
Depois do naufrágio, os sobreviventes chegaram a terra (chão firme; não ocorre a
crase, portanto).
Outro caso digno de destaque são os pronomes de tratamento: nunca haverá
crase diante deles. Exemplos:
Direi isso a Vossa Excelência;
Direi isso a Vossa Senhoria.
4) Antes de masculinas nunca ocorrerá a crase?
Em regra, NÃO. Mas existe um caso em que aparentemente ocorrerá a crase
diante de palavras masculinas: quando estiver subentendida uma expressão
feminina que exigiria o acento grave, como as locuções à moda de e à maneira
de. Nesses casos, você deverá usar o acento grave, independentemente de a
42
palavra ser masculina ou feminina (lembre-se de que, como regra geral, a crase só
ocorre antes de palavras femininas). Exemplos:
Aquele garoto cortou o cabelo à Elvis Presley (à moda de Elvis Presley);
O jogador fez um gol à Ronaldinho (à moda de Ronaldinho).
5) Crase e pronomes demonstrativos
Também existe a crase nos pronomes demonstrativos aquele(a)(s) e aquilo,
mesmo que se trate de pronomes masculinos. Nesses casos, tudo vai depender do
verbo ou do nome que vier antes desses pronomes. Se o verbo (ou nome) exigir a
preposição a, haverá a crase, não importando se o pronome demonstrativo for
feminino ou masculino. Exemplos:
Cheguei àquela festa (quem chega chega A algum lugar – ...cheguei A Aquela
festa; juntando-se a com aquela, tem-se àquela);
Não fiz referência àquilo (referência A algo – fiz referência AAquilo); juntandose a com aquilo, tem-se àquilo).
Dica: para ter certeza quanto à crase diante de AQUELE, AQUELA ou AQUILO,
basta substituir mentalmente esses pronomes por ESSE, ESSA ou ISSO,
respectivamente. Se o resultado da troca for A ESSE, A ESSA ou A ISSO,
haverá crase (ÀQUELE, ÀQUELA, ÀQUILO). Exemplos:
Àquela hora, nada mais seria possível. (A ESSA HORA, nada mais seria
possível)
Não foi possível ouvir aquela testemunha. (Não foi possível ouvir ESSA
testemunha)
Houve poucas referências àquele fator. (Houve poucas referências A ESSE
fator).
43
6) Bem-vindo a Londrina, bem-vindo à Grécia
Mais um detalhe em relação ao uso do acento grave: antes de nomes de países,
cidades, estados e continentes, a regra do AO não surte efeito. Nesses casos, há
outra regrinha, tão fácil quanto a outra. Vamos pensar em um exemplo:
Vou a São Paulo.
Será que ocorre a crase? O verbo “ir” exige a preposição “a”. Precisamos saber,
todavia, se “São Paulo” exige o artigo “a”. Como se trata de um nome de cidade
ou estado, devo pensar da seguinte maneira: venho DE ou venho DA São Paulo?
Obviamente, venho DE São Paulo. Sendo assim, não pode haver crase antes de
São Paulo. Se pensarmos Venho DE, não ocorrerá a crase; se pensarmos
Venho DA (de + a), ocorrerá a crase, porque haverá o artigo a contraído com a
preposição de (lembre-se de que a crase é a junção de dois as, sendo um deles
artigo). Existe até uma riminha conhecida que nos ajuda nessa regra: Venho DA,
crase no A; venho DE, crase pra QUÊ?
Quanto à frase-título, basta pensarmos: Venho DE ou Venho DA Londrina? A
resposta é Venho DE Londrina. Logo, não há crase diante desse nome. Se fosse,
por exemplo, Eles foram à França, ocorreria a crase (venho DA França).
7) Qual é o erro mais comum de crase?
Além da insistente crase diante de palavras masculinas, a principal falha talvez
seja a utilização do acento grave quando o a singular (preposição) está diante de
palavra no plural. Guarde isto: quando o a estiver no singular e, diante dele,
houver uma palavra no plural, NUNCA ocorrerá a crase. Exemplos:
Não costumo ir a festas (sem crase);
Referi-me a outras mulheres (sem crase).
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A explicação é simples: para ocorrer a crase, deve haver preposição + artigo. A
palavra no plural obviamente exige um artigo no plural (as festas), que não é
observado quando o a, uma simples preposição, está no singular (a festas).
Contudo, se o a estiver no plural, basta fazer o teste do masculino: Vou às festas
(AOs encontros).
8) À fl., a fl., às fls. ou a fls.?
A expressão abreviada “à fl.” é uma circunstância feminina que indica,
metaforicamente, lugar. Por isso, é sempre craseada. Usa-se no singular quando a
referência for a uma única folha. Exemplos:
À fl. 08, juntou-se comprovante de residência.
Às fls. 03/15, juntaram-se documentos.
Na prática jurídica, é comum usar a expressão “a fls.”, com o “a” singular diante
de fls. (plural). Nesse caso, jamais ocorrerá a crase, tendo em vista o já explicado
no item anterior. Exemplo:
O réu contestou a fls. 45/53.
Observações:
a) apesar de muito comum, não use o plural “fls.” quando a referência for a
somente uma folha. Seja simples e coerente: use à fl. 01 ou às fls. 01/02. Não há
por que usar “fls.”, no plural, para referir-se a somente uma;
b) também se admite o uso da preposição “de” na referência às folhas: petição de
fl. 08 ou de fls. 08/14.
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c) no processo eletrônico, a referência não é feita a folhas, mas sim a “eventos”
(ev.), “movimentos” (mov.) ou “sequenciais” (seq.), casos em que podem ser
usadas as abreviaturas entre parênteses ou preposições, principalmente “em” e
“de”. Exemplos:
Na contestação (mov. 8.2), o réu arguiu...
Na petição de mov. 42.3, o embargado alegou...
A inicial veio acompanhada de documentos (eventos 1.2/1.9).
No seq. 24.3, foi proferida decisão saneadora.
O Ministério Público ofertou parecer favorável (seq. 89.4).
9) Palavras neutras
Cuidado com palavras neutras (nem masculinas, nem femininas), que jamais
serão antecedidas por “a” craseado. Exemplos: mim, isso, isto, aquilo.
Cujo
O artigo é obrigatório na palavra ambos, mas errado no pronome relativo cujo.
Nunca use artigo após cujo. Exemplo: Você viu a mulher cujos cabelos são azuis
(e não cujos "os" cabelos...).
Aliás, para usar corretamente o pronome relativo cujo, tenha em mente que ele
estabelece uma relação de posse entre dois elementos: o que vem antes dele e o
que vem depois. Por isso, o cujo sempre estará entre dois nomes: antes dele virá o
possuidor; depois dele, a coisa possuída. Lembre-se deste exemplo:
Manifestou-se o réu cujos bens foram penhorados.
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O cujos, que sempre concorda com a coisa possuída, está entre dois nomes. Réu é
o possuidor (ele possui os bens); bens é a coisa possuída. Nunca use cujo como o
pronome relativo que (ex.: "Foram vistos os rapazes cujo mataram a vítima"). Em
termos mais singelos, “onde cabe ‘que’ não cabe ‘cujo’”.
Outro detalhe importante a ser observado na construção de frases com o relativo
cujo é o emprego das preposições (a, de, com, para, em, etc.). O cujo, como todo
pronome relativo, introduz um verbo, além de retomar um nome. Se esse verbo
exigir uma preposição (a, de, com, sem, em, para, contra, etc.), esta deverá,
obrigatoriamente, ser colocada antes do relativo. Exemplos:
Eis a garota CONTRA CUJOS pais Henrique lutou (cujo introduz o verbo lutou,
que exige a preposição contra - quem luta luta contra alguém; a preposição
posiciona-se antes do relativo - contra cujos);
O autor DE CUJOS livros tanto se fala está no Brasil (quem fala fala de algo; de
vai antes de cujos).
DDDDDDDDDDDDDDDDDDD
Dar à luz
A forma original é DAR UM BEBÊ À LUZ ou DAR À LUZ UM BEBÊ, no
sentido de dar, trazer a criança à vida, à claridade. Exemplo: A autora deu à luz
em janeiro.
De encontro a / ao encontro de
A expressão de encontro a tem o sentido de IR CONTRA, CHOCAR-SE COM.
Ao encontro de significa estar de acordo com, a favor de. Exemplos:
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O depoimento judicial vai de encontro à versão em solo policial (choca-se);
O depoimento judicial vai ao encontro da versão em solo policial (está de
acordo).
De o
Na linguagem cotidiana, são muito comuns construções como Gosto "do" Estado
de S. Paulo, que é um ótimo jornal, apesar de inadequadas. Porém, não se devem
juntar preposições (de, em, a, etc.) com artigos (o, a, um, uma) que iniciem nomes
de obras literárias, jornais, revistas, etc. Logo, diz-se A matéria foi publicada EM
O Estado de S. Paulo, sem juntar o em com o artigo o (no). Outros exemplos: Li
uma ótima notícia em O Globo (e não “no” Globo); Gostou de Os Lusíadas? (e
não “dos Lusíadas").
De mais, demais
A palavra demais equivale a muitíssimo, excessivamente. Reforça a ação expressa
pelo verbo, atribuindo-lhe a noção de intensidade. Exemplo: Você gosta DEMAIS
de maçã. Essas palavras que modificam um verbo recebem o nome de advérbio e
podem indicar intensidade, tempo, dúvida, negação, afirmação e outras
circunstâncias. Demais pode também ter o mesmo significado indefinido de
outros: As demais pessoas saíram (As outras pessoas...). Já a expressão DE
MAIS (separado) significa, geralmente, estranho. Não há nada DE MAIS (de
estranho) na Câmara; Que tem DE MAIS (de estranho) a Gramática?
Despercebido, desapercebido
Desapercebido significa imprudente, descuidado, enquanto despercebido qualifica
aquilo que não se percebeu.
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Detrás
É assim que se escreve: DETRÁS. Exemplo: Ela estava DETRÁS da mesa. Só
use o “de trás” se for possível trocar essa expressão por “de cima”. Exemplo: Ela
estava do lado de trás (de cima).
Devido, devida
A expressão devido a, equivalente a “por causa de”, serve para conectar palavras,
da mesma maneira que apesar de, no tocante a, em se tratando de e outras
locuções prepositivas. E, como todas as expressões desse tipo, fica invariável.
Não tem feminino: Ele permaneceu em casa, devido à chuva.
Só tome cuidado para não confundir a locução devido a, que serve para ligar
palavras, com o particípio do verbo dever (devido, devida), caso em que haverá a
concordância em gênero e número. Exemplos:
A impulsividade é devida a meu forte temperamento (deve-se);
Todo esse transtorno é devido ao senhor (deve-se).
Nesses casos, a locução verbal é devido(a) pode ser substituída por deve-se: A
impulsividade deve-se a meu forte temperamento; Todo esse transtorno deve-se
ao senhor.
Digladiar
O verbo é DIGLADIAR (combate com espada ou corpo a corpo), e não
"degladiar".
Dignitário
Não existe a forma "dignatário". Somente DIGNITÁRIO.
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Discrição, descrição
DISCRIÇÃO é a qualidade de discreto, recatado, sensato. Descrição é o ato de
descrever algo, contar em detalhes.
Do que, que
Em comparações, use que ou do que, sem restrições. A população de São Paulo é
maior QUE a do Paraná ou A população de São Paulo é maior DO QUE a do
Paraná.
EEEEEEEEEEEEEEEEEEE
Eis que
Evite a locução “eis que” com sentido causal, como se fosse “porque” ou “já que”.
A Gramática tradicional defende apenas o uso temporal de tal expressão.
Em detrimento
Só se deve usar essa expressão no sentido de EM PREJUÍZO. Exemplos:
Nesse meio, os melhores sempre perdem, pois dedicam suas energias à sociedade
EM DETRIMENTO da carreira (em prejuízo da carreira);
Muitos empresários que lidam com dinheiro público locupletam-se EM
DETRIMENTO dos clientes (em prejuízo dos clientes).
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Não se deve banalizar essa construção, atribuindo-lhe o sentido concessivo de, por
exemplo, ao contrário de.
Em domicílio
Evite a forma "a domicílio". A preposição adequada é em: Entregas EM
domicílio.
Em vez de, ao invés de
Usa-se em vez de quando se quer dizer no lugar de. Ao invés de significa ao
contrário de. Exemplos:
EM VEZ Da roupa azul (no lugar da roupa azul), usou a roupa branca;
AO INVÉS DE frio (ao contrário de frio), fez muito calor ontem.
E nem
A conjunção nem não deve vir acompanhada de e. Ambas são aditivas, por isso
não há a necessidade de as duas estarem juntas. Exemplo: Ele não escreveu nem
telefonou (e não Ele não escreveu "e nem" telefonou).
É que
A expressão é que pode funcionar como mera partícula de realce, quando vier
entre o sujeito de uma oração e seu verbo. Nesses casos, ficará invariável: sempre
é que (singular). Quando sua função for simplesmente realçar, será possível
excluí-la da frase, sem prejuízo ao significado. Veja estes exemplos:
51
Não é nestes cartões que se baseia meu amor (poder-se-ia excluir é que da frase:
Meu amor não se baseia nestes cartões);
Eles é que nos ofenderam (poder-se-ia excluir é que da frase: Eles nos
ofenderam).
Nesses casos, o verbo ser deve, obrigatoriamente, ficar no singular: é que.
Se, todavia, o verbo ser anteceder o sujeito de uma oração, deverá concordar com
ele. Exemplo:
Foram ELES que denunciaram o prefeito (o verbo ser veio antes do sujeito - eles
-, com o qual concordou);
Foram ELES que nos ofenderam (o verbo ser veio antes do sujeito - eles -, com o
qual concordou).
Éramos em
Quem é é alguma coisa, e não “em” alguma coisa. Nós éramos seis, Eles eram
oito, Vocês são onze.
Estada, estadia
ESTADIA refere-se a navios, veículos. ESTADA, a pessoas.
Estado, estado
Inicial maiúscula quando estado se referir a uma nação ou sociedade
politicamente organizada. Exemplo: Carlos moveu uma ação contra o Estado.
52
Mas tome cuidado: no sentido geral, a palavra estado (divisão territorial) é
grafada com a inicial minúscula: O Brasil, com seus 26 estados, consegue manter
a relativa unidade linguística.
Este, esse (pronomes demonstrativos)
Aprende-se muito cedo a empregar essas palavrinhas. As regras primárias
baseiam-se no posicionamento do objeto em relação à pessoa que fala e à que
ouve no discurso. Se uma camisa, por exemplo, está perto da pessoa que fala,
usam-se este, esta ou isto: “Esta camisa que visto é muito bonita.” Se o objeto
está próximo de quem ouve, é correto empregar esse, essa ou isso: “Gostei muito
dessa camisa que você está segurando”.
Também é sabido que os pronomes demonstrativos situam os seres (objetos,
pessoas, animais, etc.) no ESPAÇO e no TEMPO. Este e suas variantes (isto,
disto, deste, etc.) dão-nos a ideia de proximidade. Quando se diz “Esta sala”, por
exemplo, sabe-se que a pessoa que fala está dentro do referido cômodo. E, quando
se diz “este mês”, só se pode estar falando do mês atual.
Quando se fala de dois elementos do texto, este se refere ao mais próximo;
aquele, ao mais distante. Exemplo:
Sou muito amigo de Carlos e Manuel. ESTE (Manuel, que está mais próximo) é
loiro, e AQUELE (Carlos, mais longe) é moreno.
Ressalte-se que este pode, ainda, referir-se a um elemento que tenha sido citado
imediatamente antes: Gostei muito daquelas bananas. ESTAS (as bananas, pois
estão logo atrás), porém, estavam um tanto quanto verdes.
Até aqui, tudo bem. O problema começa a aparecer quando a noção de
proximidade (seja do objeto, de dois elementos, do tempo ou do espaço) não está
nítida no texto. Repare neste trecho, retirado de um jornal londrinense:
53
“Mas o fator mais importante desta estratégia foi a criação...”
Qual foi o raciocínio do autor ao construir esse período? “Estratégia” estaria perto
de quem fala? No tempo presente? Certamente, não foi possível aplicar as regras
físicas e espaciais, as quais já conhecemos.
Nesses casos, existe uma norma bastante simples, que parece não ser muito
difundida entre os profissionais que utilizam a língua pátria como principal
ferramenta de trabalho:
Quando o pronome se referir a algo que JÁ FOI CITADO no texto (referência
anafórica), serão usados ESSE, ESSA ou ISSO. Se disser respeito a algo que
AINDA VAI SER MENCIONADO (referência catafórica), empregar-se-ão
ESTE, ESTA ou ISTO.
Dessa maneira, o pronome esta – que está contraído com a preposição de, dando
origem a desta – estaria inadequado no trecho supracitado. Deveria ser dessa, pois
a estratégia à qual ele se refere já havia sido mencionada no texto. Logo, a
construção correta seria:
“Mas o fator mais importante DESSA ESTRATÉGIA foi a criação...”
O erro aparentemente não se deve ao desconhecimento do autor, e sim a uma
pequena desatenção, pois, no mesmo artigo, ele utiliza corretamente o pronome:
“(...) os amigos do HC (Hospital das Clínicas) se estruturaram sob a convicção
maior de que vale a pena lutar por esse hospital (...)”
Foi usado esse porque o pronome se referiu ao hospital, já citado no texto.
Em resumo:
No casos em que os demonstrativos fazem referência a ELEMENTOS DO
TEXTO, e não a tempo e espaço, as principais regras são estas:
54
a) quando o pronome demonstrativo se referir a ideias já mencionadas: “esse”,
essa” ou “isso”;
a) quando o pronome demonstrativo se referir a ideias que ainda serão
mencionadas: “este”, esta” ou “isto”;
c) quando houver referência a dois elementos anteriormente citados, usar-se-ão,
excepcionalmente, “este”, esta” ou “isto” para retomar a última das ideias e
“aquele”, “aquela” ou “aquilo” para retomar a primeira (mais distante).
Exemplos:
a) O depoente alegou que o réu não estava no local, mas essa versão se choca
com a apresentada pela testemunha X (a expressão “essa versão” se refere a uma
ideia já citada: a de que o réu não estava no local);
b) Só havia a certeza disto: de que o réu não estava no local (a expressão “disto”
se refere a uma ideia que ainda será citada: a de que o réu não estava no local);
c) A testemunha X afirmou que estava na companhia do réu, mas este declarou
que sequer conhecia aquela (aqui a referência é a duas ideias anteriormente
mencionadas: a expressão “este” se refere ao réu e “aquela” se refere à testemunha
X).
Etc.
Nunca use e antes de etc., que já tem o sentido de e outras coisas. Compraram
CDs, roupas, ETC. Apesar de algumas divergências entre os gramáticos, use
vírgula entes de “etc.”.
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF
55
Face a / em face de
Evitar “face a”. Prefira em face de, expressão que pode ter a ideia de causa.
Exemplo: Em face de sua inércia, sofreu a incidência dos efeitos da revelia.
Faz, fazem, há (plural de “haver” e “fazer”)
O verbo fazer nunca vai para o plural quando indica tempo decorrido. Exemplos:
FAZ 19 anos que o Papa (...);
FARÁ dez anos que estarei em São Paulo;
Já FAZIA dois meses que estava lá.
E mais: se o fazer, nesse sentido, vier acompanhado de qualquer verbo auxiliar
(estar, ir, etc.), este também ficará no singular:
Já VAI fazer dois anos que estou aqui; ESTAVA fazendo três anos que ele não
saía de casa.
O verbo haver segue a mesma linha. Quando indicar tempo decorrido ou quando
significar existir, realizar-se ou ocorrer, ficará sempre no SINGULAR:
Ela estava me esperando HAVIA duas horas (fazia duas horas – tempo
decorrido);
Está chovendo HÁ duas semanas (faz duas semanas – tempo decorrido);
HOUVE muitos acidentes (Aconteceram muitos acidentes);
HAVERÁ muitas alegrias no futuro (Existirão muitas alegrias no futuro).
56
Fazer com que
Quem faz faz alguma coisa, e não “com” alguma coisa. Portanto, evite
construções como esta: Isso fará “com” que você melhore. É só tirar o “com” que
a frase ficará absolutamente certa: Isso FARÁ QUE você melhore.
Fl. e fls. (abreviaturas – “folha” e “folhas”)
Ver Crase.
GGGGGGGGGGGGGGGGG
Grama
A palavra grama pode ser masculina ou feminina, de acordo com o seu
significado. Se for capim, relva, será feminina: Não pise A grama; se for a
unidade de medida – aquela que se usa na indicação da massa dos produtos –, só
pode ser masculina. Exemplo:
Ele foi surpreendido na posse de TREZENTOS gramas de cocaína.
Grosso modo
Por vir do latim, a expressão é, na verdade, GROSSO MODO simplesmente (e
não "a" grosso modo). Significa “de modo superficial”. Exemplo: Grosso modo, a
tarefa é bem mais simples.
HHHHHHHHHHHHHHHHHH
57
Há anos atrás
Quando se usa o verbo haver no sentido de tempo decorrido, a ideia de passado já
está absolutamente clara. Não é necessária a posposição de palavra de reforço. Ao
ler ou ouvir Eu nasci há dez mil anos, o ouvinte já sabe (pelo verbo haver, que
indica tempo decorrido) que a ação ocorreu no passado. Usar a palavra atrás
torna-se, então, desnecessário, como dizer Subir “para cima” ou Descer “para
baixo”.
Há, havia
O verbo haver indicando tempo decorrido (passado) deve ter o mesmo tempo da
oração que o acompanha, quando estiver no pretérito imperfeito do indicativo
(exemplo: eu cantava, tu cantavas, etc.). No exemplo Eu aguardava ‘há’ uma
hora, quando você chegou, o haver deveria estar no mesmo tempo do verbo
aguardava:
Eu AGUARDAVA HAVIA uma hora, quando você chegou.
Outro exemplo:
Eu TINHA nascido HAVIA dois anos, quando a Segunda Guerra começou.
Quando a oração que o acompanha está no tempo presente ou passado simples,
tudo bem; nesses casos o verbo haver fica sempre no presente (HÁ):
ESTOU aguardando o meu primo HÁ meia hora;
Ele SAIU daqui HÁ duas horas.
Haja vista
58
Não existe a expressão “haja visto”. A forma correta é HAJA VISTA: Não
poderemos viajar, HAJA VISTA os problemas climáticos.
Haver
O verbo haver, no sentido de existir, ocorrer e realizar-se, nunca vai para o
plural. Fica sempre na terceira pessoa do singular. Exemplos: Há (existe) uma
pessoa na sala; Há (existem) três pessoas na sala. Independentemente do tempo
em que o verbo estiver – passado, presente ou futuro –, deixe-o sempre no
singular, quando o sentido for o de existir, ocorrer ou realizar-se. Outros
exemplos:
Haverá (realizar-se-ão) reuniões às sextas;
Houve (ocorreram) vários acidentes no carnaval;
Há (existem) muitas incoerências neste contrato.
Nos três sentidos citados, o verbo haver é chamado de impessoal, por não
concordar com sujeito algum.
É fundamental lembrar que esse verbo transmite a sua impessoalidade a qualquer
auxiliar que o acompanhe. Isso quer dizer que, se o verbo haver for impessoal,
não só ele mas qualquer auxiliar que o acompanhe deverão ficar no singular.
Exemplos:
Deve haver muitos dólares nesta maleta (e não "Devem haver"...);
Provavelmente vai haver outros acordos entre os países (e não "Vão haver"...).
Hífen
1) Uso do hífen nos prefixos (ou falsos prefixos): principais regras
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a) prefixos além, aquém, recém, sem, vice, ex, pós, pré, pró, soto e sota: usa-se
sempre o hífen.
Exemplos: além-mar, pré-natal.
b) prefixo terminado em vogal: usa-se o hífen se a palavra a que ele se liga se
inicia pela mesma vogal ou h.
Exemplos: macroeconomia, minicarro, mini-ilha, neo-humanismo, neorromântico,
extraordinário, infraestrutura, tele-entrega, anti-inflamatório.
Observações:
a) se a palavra for iniciada por R ou S, tais letras serão duplicadas, como em
CONTRARRAZÕES;
b) com os prefixos co, re, pre (sem acento) e pro (sem acento), não se usa o
hífen.
c) prefixo terminado em consoante: usa-se o hífen se a palavra a que ele se liga
se inicia pela mesma consoante, r ou h.
Exemplos: supersensato, super-romântico, super-humilde, subsolo, sub-base,
sub-regional.
Observação: trans, in, des e an são usados sem hífen.
Exemplos: transexual, inabitado, desumano.
d) prefixos pan e circum: usa-se o hífen se a palavra a que eles se ligam se inicia
por m, n, vogal ou h.
Exemplos: pan-humanismo, circum-oral, circum-navegação.
60
e) prefixo mal: usa-se o hífen se a palavra a que ele se liga se inicia pela mesma
consoante, h ou vogal.
Exemplos: mal-limpo, mal-humorado, mal-acabado, malsucedido.
2) Uso do hífen em palavras compostas (formadas pela junção de palavras
autônomas): principais regras
a) Usa-se o hífen em compostos formados por palavras iguais ou quase iguais:
zigue-zague, tico-tico, reco-reco.
b) Não se usa o hífen em compostos com elementos de ligação, inclusive os de
base oracional: ponto e vírgula, dia a dia, pé de moleque, leva e traz, deus nos
acuda.
Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-demeia, ao deus-dará, à queima-roupa.
Observação: indicando nomes de espécies zoológicas e botânicas, os compostos
sempre terão hífen. Exemplos: mico-leão-dourado, pimenta-do-reino.
c) Usa-se o hífen quando entre as palavras há apóstrofo: pé-d’água, gotad’água.
d) Usa-se o hífen nos derivados de topônimos, com ou sem elemento de
ligação: Mato Grosso / mato-grossense; Rio Grande do Norte / rio-grandense-donorte.
Horas
Nas abreviaturas, indique as horas com o símbolo h e os minutos com min, sem
dois-pontos. Exemplos: 23h30min, 2h, 16h, 14h30min.
61
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
Infinitivo (concordância com o infinitivo)
Antes de compreender o emprego do infinitivo, urge saber que a eufonia (som
agradável) deve imperar no seu emprego. As regras trazidas pelas gramáticas não
são tão sólidas e estão, segundo os próprios livros, submetidas ao princípio da
eufonia e ao costume. Isso quer dizer que, em alguns casos, é possível renunciar
às inconsistentes regras, em virtude de uma sonoridade mais natural, agradável e
comum.
Para entendermos as regras, vamos entender alguns conceitos: 1) infinitivo – é o
verbo em seu estado natural, terminando em ar, er ou ir (e or, no caso do verbo
pôr). Exemplos: cantar, estudar, vender, soer, partir, etc.; 2) infinitivo pessoal –
é aquele que, como o próprio nome diz, se refere às pessoas do discurso.
Exemplos: para eu amar, para tu amares, para ele amar, para nós amarmos,
para vós amardes, para eles amarem. Veja que em tu, nós, vós e eles há uma
terminação especial no verbo, que indica que ele é flexionado (mos, por exemplo,
mostra que o verbo se refere à pessoa nós); 3) infinitivo impessoal – é o infinitivo
que não se flexiona de acordo com as pessoas do discurso. Fica sempre do mesmo
jeito: chorar, amar, sofrer, resistir.
Vejamos alguns casos concretos.
A) Tomemos como exemplo a frase A professora ensinou os alunos a estudarem.
A Gramática padrão reza que o infinitivo deve ser flexionado. Por quê? É que essa
frase tem dois verbos (ensinar e estudar), cada um com seu sujeito, que é
encontrado perguntando-se Quem? ao verbo. Quem ensinou? A professora é
sujeito; Quem estudar? Os alunos é o sujeito. Viu só? Essa é uma das principais
regras do infinitivo. Outro exemplo: Ele convidou todos nós para almoçarmos
(Quem convidou? Ele é o sujeito; quem almoçar? Todos nós é o sujeito).
62
Diferentemente, se os dois verbos possuírem o mesmo sujeito, o infinitivo será
impessoal: Elas devem repor as energias (quem deve? Elas; quem repor? Elas).
Ficaria bastante ruim Elas devem “reporem”.
B) A professora mandou os alunos estudar ou estudarem? Tanto faz. Pode usar o
infinitivo pessoal ou impessoal. Atente nos verbos mandar, fazer, sentir, deixar,
ouvir e ver, quando seguidos de sujeito de um verbo no infinitivo. Nesses casos,
o infinitivo pode flexionar-se ou não. Veja só:
Você já deixou AS MENINAS brincarem (ou brincar)? Verbo deixar + sujeito (as
meninas) + verbo no infinitivo (brincar ou brincarem).
Outros exemplos:
Todos os deputados ouviram AQUELAS CRIANÇAS gritarem (ou gritar);
Veja OS BOIS morrerem (ou morrer).
Observação: se o sujeito do verbo no infinitivo for um pronome oblíquo (o, a,
os, as, me, te, se, nos, vos), o infinitivo obrigatoriamente será impessoal (não
flexionado). Exemplos:
Eu OS vi morrer (quem morrer? Os – que substitui os bois – é o sujeito);
Você já AS deixou brincar? (quem brincar? As – que substitui algum termo
feminino – é o sujeito);
“E não NOS deixeis cair em tentação” (quem cair? Nos – que substitui “nós” – é
o sujeito).
Aconselha-se, no entanto, que o infinitivo seja flexionado quando a ação for
reflexiva (sai do sujeito e volta a ele), recíproca (troca de ações entre seres) ou
passiva (o sujeito sofre uma ação): Vi-os ajoelharem-se perante mim (a ação de
63
ajoelhar residiu no próprio sujeito); Deixamos os garotos se olharem (um olhou o
outro – troca de ações); Os trabalhos a serem feitos estão na mesa (o sujeito “os
trabalhos” recebe a ação de ser feito – voz passiva).
C) Quando se quiser enfatizar que o sujeito da ação é indeterminado (não se sabe
quem é ou não se quer revelar), o infinitivo será flexionado. Exemplo: Ouvi
falarem mal de você.
D) É bastante frequente também a construção de locuções com os verbos
continuar, estar, começar, acabar, tornar + preposição a ou de + verbo no
infinitivo. Exemplos: Elas começaram a chorar; Nossos primos acabaram de
chegar; Vocês continuarão a nos provocar? Como se pode observar, o infinitivo
não é flexionado nesses casos, até porque se trata de verbos que possuem o
mesmo sujeito.
E) Quando o infinitivo complementar adjetivos, como fácil, difícil, bom, disposto
e cansado, também não será flexionado. Exemplos: Que exercícios difíceis de
resolver; Os soldados estão dispostos a morrer pela pátria.
Interveio (verbos derivados)
Pensemos na frase “E a polícia interveio nas negociações”. O verbo INTERVIR é
derivado de vir e deve ser conjugado exatamente como ele. Usando o vir, a frase
ficaria E a polícia VEIO nas negociações, correto? Ou você diria E a polícia
“viu” nas negociações? Claro que não, pois assim estaria usando o verbo ver
(olhar) no lugar de vir. Quando usar o verbo intervir, é só conjugar o primitivo
(vir) e colocar o INTER na frente. E a polícia interVEIO nas negociações. O
mesmo acontece com proPOR, comPOR, adVIR, proVIR, reTER, entreter e
outros verbos derivados, que se conjugam exatamente como os primitivos, que
lhes dão origem.
Ir a, ir para
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Por incrível que pareça, existe, em tese, diferença de significados entre a e para
com o verbo ir. Se digo Vou A São Paulo, quero dizer que farei uma breve viagem
e voltarei à cidade onde moro. Se digo Vou PARA São Paulo, significa que estou
me mudando para aquela cidade. Ficarei por lá definitivamente.
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Junto a
A locução JUNTO A costuma ser usada em linguagem jurídica como substituta de
“em”, “com” e outras preposições, distanciando-se de seu sentido original de
proximidade física. Segundo a Gramática tradicional, essa prática deve ser
evitada, mantendo-se, na medida do possível, o mencionado sentido de
proximidade. Veja alguns exemplos considerados evitáveis:
O autor teve o nome negativado JUNTO Ao Serasa (no Serasa);
Não é a primeira vez em que relata problemas JUNTO Ao fornecedor (com o
fornecedor);
Ele recorreu JUNTO Ao Tribunal de Justiça (ao Tribunal de Justiça).
O ideal, portanto, é que se reserve o uso dessa locução àqueles casos em que a
proximidade esteja bem evidenciada, como no exemplo abaixo:
O rapaz permaneceu JUNTO À filha.
LLLLLLLLLLLLLLLLLLL
65
Letras maiúsculas
Guarde os seguintes casos de iniciais maiúsculas (exemplos retirados do Acordo
Ortográfico):
a) Nos antropônimos (nomes de pessoas), reais ou fictícios: Pedro Marques;
Branca de Neve.
b) Nos topônimos (nomes de lugares), reais ou fictícios: Lisboa; Rio de Janeiro;
Atlântida.
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Netuno.
d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias
da Previdência Social.
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Todos os Santos.
f) Nos títulos de periódicos: O Estado de São Paulo (ou S. Paulo).
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente:
Nordeste, por nordeste do Brasil; Norte, por norte de Portugal; Ocidente, por
ocidente europeu.
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente
reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em
maiúsculas: FAO, NATO, ONU.
i) De forma opcional, em palavras usadas reverencialmente, elogiosamente ou
hierarquicamente, em início de versos e em categorizações de logradouros
públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja
ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios
(palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha)
66
Letras minúsculas
Atente aos seguintes casos:
1) Nomes dos dias da semana: Viajarei na segunda-feira; Ela estará aqui no
próximo sábado;
2) Nomes de meses (janeiro, fevereiro, março, etc.);
3) Após dois-pontos (Comprei muitos objetos: discos, roupas, etc.). Obs.: se após
o sinal de dois-pontos houver citação de início de período, esta se iniciará com a
letra maiúscula;
4) Em nomes comuns que vêm antes de nomes geográficos (rio Amazonas,
península Ibérica, lago Igapó);
5) Em nomes profissionais que antecedam nomes próprios (professor Carlos,
diretor João);
6) Em nomes de atos judiciais, ações ou recursos (embargos à execução, agravo
de instrumento, sentença, decisão, despacho);
7) Em palavras referentes às partes do processo (autor, réu, requerente,
requerido, reclamante, reclamado);
8) Em adjetivos que qualificam palavras com inicial maiúscula (egrégio
tribunal de Justiça, colendo Superior Tribunal de Justiça, douto Promotor de
Justiça);
9) Nomes de documentos, salvo os abreviados (certidão de nascimento, certidão
de casamento, carteira nacional de habilitação, CPF, CNH).
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Lhe
Quem já assistiu às novelas que se passam em cenários nordestinos já deve ter
percebido que os atores muitas vezes se declaram com a frase Eu “lhe” amo. O
erro está nesse lhe, que só pode substituir, de acordo com a norma culta, palavras
acompanhadas da preposição a ou para (como a ele, a ela, a você). Vejamos estes
exemplos:
Mandei o bilhete A ELA, Mandei-LHE o bilhete;
Já entreguei o pacote A CARLOS; Já LHE entreguei o pacote.
O verbo amar é complementado por palavras sem preposição a. Quem ama ama
alguém (e não a alguém). Exemplo: José ama O IRMÃO. Nesse caso, poder-se-ia
substituir o complemento do verbo (o irmão) pelo pronome o, mas não pelo lhe:
José ama-O.
O lhe pode, ainda, indicar posse. Exemplos: Roubaram-lhe a carteira (roubaram a
sua carteira); Pegaram-lhe o dinheiro (pegaram o seu dinheiro).
Em resumo:
a) LHE: substitui, em regra, complementos com a preposição “a” subentendida
(A ele, A ela, A você). Exemplos:
Foi-lhe concedido o direito de apelar em liberdade. (foi concedido A ele)
Informe-se-lhe que a audiência foi redesignada. (informe-se A ela)
b) O/A/OS/AS: substituem complementos sem preposição. Exemplos:
A ré feriu-o na face. (quem fere fere alguém, e não “a” alguém)
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As testemunhas disseram que a parte autora não as influenciou. (quem influencia
influencia alguém, e não “a” alguém)
MMMMMMMMMMMMMM
Mais bem, melhor
Quando as palavras bem ou mal estiverem acompanhando um adjetivo (palavra
que qualifica, modifica um substantivo), devem ser precedidas pela palavra mais.
Nesses casos, não é aconselhado usar a forma melhor, como se costuma fazer.
Exemplos:
Estude aqui e fique MAIS BEM preparado (ou MAIS MAL preparado) para o
vestibular (bem acompanha o adjetivo preparado; pode, portanto, ser precedido
pela palavra mais);
Os jornalistas daquela empresa são mais bem informados que os daquela (aqui
acontece o mesmo, mas com o adjetivo informado).
Construções como “melhor informado” e “melhor preparado” não são
aconselhadas.
Bem preparado e bem informado funcionam como adjetivos compostos
(qualificações formadas pela união de duas ou mais palavras). Por isso, não se
pode transformar o mais bem em melhor. Bem faz parte do adjetivo.
Um bom modelo para não nos esquecermos dessa regra é a palavra bem-passado.
Poucos teriam coragem de falar que um bife está "melhor" passado que outro.
Ficaria ruim a construção. Melhor seria mais bem-passado (bem acompanha
passado, e as duas palavras funcionam como uma qualidade). Com bem-vindo
acontece o mesmo. Falar que alguém é "melhor" vindo que outro seria, no
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mínimo, estranho. Alguém é mais bem-vindo que outro (bem-vindo é um adjetivo
composto; não se pode, portanto, transformar o mais bem em melhor).
Mau, mal
MAU é adjetivo, qualificação contrária de bom. MAL é advérbio (modifica
verbos, adjetivos ou outros advérbios) contrário de bem. Exemplos: O rapaz é
considerado mau pela família (bom); Ela está de mal do pai (de bem). Cuidado
com as palavras maldoso e maldade, grafadas com l.
Mas, mais
MAIS é o contrário de menos; indica, geralmente, a ideia de intensidade a alguma
qualidade ou a alguma ação. Exemplo:
Você tem que correr mais (no lugar desse mais, caberia menos, que tem o
significado contrário; note, ainda, que a palavra dá intensidade à ação de correr).
MAS, de seu turno, é conjunção que indica oposição de ideias e equivale a
todavia, no entanto, porém e contudo. Exemplo: Afirmou sua inocência, mas
acabou confessando a culpa ao afirmar que...
Resumindo: onde cabe MAIS cabe menos; MAS é usada na ligação de orações
com ideias contrastantes, divergentes, que se chocam; obviamente, no lugar de
MAS não cabe menos.
Más, com acento, é o plural de má (contrário de boa).
Meio, meia
Quando a palavra meio indicar intensidade e significar mais ou menos (ou um
pouco), ficará sempre no masculino. Exemplos:
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Aquele homem está MEIO doente (um pouco doente, mais ou menos doente);
Aquela mulher está MEIO doente (um pouco doente, mais ou menos doente).
Se meio(a) for numeral – indicando metade –, deverá ser flexionado para o
feminino, concordando com o substantivo a que se referir. Exemplos:
Tomei meio litro de guaraná (metade de um litro);
Tomei meia garrafa de tequila (metade de uma garrafa de tequila).
Meio-dia e meia
Nesse caso, meio – que significa metade – deve concordar com a palavra hora,
que está implícita na expressão Meio-dia e MEIA (hora). Como você diz dez e
meia, onze e meia e nove e meia, deve também dizer meio-dia e meia.
Meritíssimo
A palavra é MERITÍSSIMO (de mérito), e não “meretíssimo”.
Mesmo, mesma, próprio, própria
A palavra mesmo, significando próprio, por si mesmo, concorda com a palavra a
que se refere. Isso quer dizer que, se o nome for feminino, mesmo também o será.
Exemplo: Foi ela MESMA quem resolveu o problema.
A palavra próprio funciona da mesma maneira: Ela própria trocou o pneu do
carro; Ele próprio trocou o pneu do carro.
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Se mesmo significar exatamente, realmente, ficará sempre no masculino: Você a
matou? Matei mesmo (realmente), por quê?
Sobre o uso indevido de “mesmo” para substituir nomes, ver o tópico O mesmo.
Modo que, modo com que, modo como (pronomes relativos)
Um dos mais importantes capítulos da Gramática Normativa, o pronome relativo
também é considerado, infelizmente, um dos pontos mais difíceis da língua.
Talvez porque exija uma visão muito “rápida” do escritor, falante ou leitor.
Confira este exemplo:
Não conheci as pessoas de que tanto ela gostou.
Não é tão fácil posicionar a preposição de antes de que. Esse que é um pronome
relativo, porque retoma (substitui) um nome. O nome que vem antes dele é
pessoas. Para conferir se realmente ele retoma pessoas, coloquemos essa palavra
no lugar do que. Se fizer sentido, será um pronome relativo: (...) de pessoas tanto
ela gostou. Pode-se inverter a ordem, a fim de tornar mais clara a frase: ela gostou
tanto de pessoas. Perfeito, não? O que é, realmente, um pronome relativo.
E por que há que se ter uma visão “rápida” para empregar corretamente o
pronome relativo? Veja bem: para colocar o de antes do que em Não conheci as
pessoas de que tanto ela gostou, é necessário antever que esse que introduzirá um
verbo (gostou), que exige a preposição de (quem gosta gosta de alguém). Esta (a
preposição de) deve vir antes do pronome relativo.
Voltando à questão central, está errada a construção Gosto do modo "com" que ela
me olha. De onde vem esse com? O que introduz o verbo olha, que se relaciona
com a palavra modo (antes do que). Que preposição intermedeia essa relação? É
só pensar: Ela me olha "com" um modo esquisito ou Ela me olha DE um modo
esquisito? É claro que é DE um modo esquisito. Logo, a forma correta seria Gosto
do modo DE que ela me olha.
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Ademais, com as palavras modo e maneira, há outra palavra que, funcionando
como relativo, também é considerada correta (e até mais elegante): COMO. Gosto
do modo COMO ela me olha; Não entendo a maneira COMO ele a trata. Aliás,
essa é a forma mais recomendável, por ser mais eufônica.
Morar em, residente em, morador em
O verbo morar rege a preposição EM, e não a. Exemplo: O acusado mora na (em
+ a) Rua Sergipe. As palavras residente e morador também regem em: Residente
na Rua Tal; Morador na Rua Tal.
NNNNNNNNNNNNNNNNNN
Nascido a, Nascido em 22 de março
Tanto faz: nascer A 22 de março ou EM 22 de março.
Necropsia
Tanto faz: NECROPSIA ou NECRÓPSIA. Autópsia, essa sim, tem a sílaba tó
mais forte.
Nenhum, nem um
Existem as duas formas. Nem um – separado – é usada quando se quer enfatizar a
quantidade (no caso, um). Equivale a sequer um. Exemplos:
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Não me ligou nem um amigo (sequer um amigo)?;
Não tenho nem um real no bolso (sequer um real...).
Os sentidos mais comuns de nenhum (junto) são os de qualquer, nulo e
ninguém. Exemplos: Não fiz nenhuma tarefa (nulo); Amei-a como nenhum
outro a amará (qualquer); Nenhum deles está aqui (ninguém).
OOOOOOOOOOOOOOOOO
O mesmo
Observemos este trecho:
O contratado se sente no direito de anular a locação, caso o “mesmo” não
receba o valor das mensalidades...
Para não repetir a palavra contratado, o autor do texto usou a palavra mesmo. Essa
solução é vista, por alguns, como deselegante. Evite substituir nomes pela palavra
mesmo. Prefira ele, ela, qualquer outro pronome (a função do pronome é
justamente substituir ou acompanhar nomes) ou até a omissão do termo que se
quer retomar. Melhorando, então, o trecho acima:
O contratante se sente no direito de anular a locação, caso  não receba o valor
das mensalidades... (omitiu-se o termo “o contratante”, subentendido na sentença)
A palavra mesmo deve, de acordo com a norma culta, ACOMPANHAR, e não
substituir um nome: As mesmas pessoas, O mesmo advogado, etc.
Outro exemplo:
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O réu alega que... O mesmo afirma também que...
Como a palavra “mesmo” está substituindo o nome “réu”, melhor seria evitar tal
construção. Algumas opções:
O réu alega que... Ele afirma também que... (pronome)
O réu alega que... O requerido afirma também que... (sinônimo)
O réu alega que...  afirma também que... (omissão – ideia subentendida)
Obrigado, obrigada
Mulheres agradecem sempre utilizando a forma feminina: OBRIGADA.
Homens, logicamente, dizem OBRIGADO.
Oficiala de justiça
Esse é o feminino de oficial de justiça, segundo alguns dicionários. Mas o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa só registra o substantivo
“OFICIAL”, sem o “a”, tanto para o masculino quanto para o feminino. Prefira
essa última forma: a oficial de justiça.
Onde (uso correto de “onde”)
Um dos grandes problemas gramaticais é o uso desenfreado do pronome onde.
Costuma-se usá-lo todas toda vez em que equivale a em que ou no qual. Não é
bem assim. O "ondismo" é responsável por tremenda deselegância textual. Veja
três exemplos:
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1) Nos momentos em que os modelos estão funcionando bem e “onde” as
contradições estão ainda latentes e não chegam a causar perplexidade...;
2) (...) mas eles nos dão o tom do nosso tempo, “onde” as atividades comerciais
chegaram a um máximo de abrangência...
3) O demandado apresentou contestação (seq. 19.1), “onde” a parte alegou que
cabe aos genitores manter financeiramente as despesas da filha.
Vejamos que interessante. Em 1, o autor usou (adequadamente) em que logo após
momentos (Nos momentos em que...) e, mais adiante, usou o onde, provavelmente
para não repetir o em que. A melhor opção seria omitir o pronome:
Nos momentos em que os modelos estão funcionando bem e  as contradições
estão ainda latentes e não chegam a causar perplexidade...
Você quer saber por que o onde não cairia bem nesse trecho? É que se deve usar
onde somente no sentido de LUGAR EM QUE. Construções como momento
"onde" e um tempo "onde" não são aconselháveis.
Lembre-se: quando o termo antecedente indicar TEMPO (momento, hora, tempo,
época, etc.) ou QUALQUER IDEIA que não seja claramente de lugar
(contestação, petição, texto, etc.), use EM QUE ou NO(A)(S) QUAL(IS), em vez
de onde.
O exemplo 2 abriga a mesma falha: onde referindo-se à ideia de tempo. Melhor
seria:
(...) mas eles nos dão o tom do nosso tempo, EM QUE (ou NO QUAL) as
atividades comerciais chegaram a um máximo de abrangência...
Na frase 3, o pronome “onde” retoma “contestação”, cuja natureza de LUGAR é
bastante discutível. Seria a contestação, realmente, um lugar? Para evitar
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discussões, é melhor não usar o “onde” e optar por formas genéricas, como EM
QUE ou NO(A)(S) QUAL(IS):
O demandado apresentou contestação (seq. 19.1), NA QUAL / EM QUE a parte
alegou que cabe aos genitores manter financeiramente as despesas da filha.
Alguns exemplos de o pronome onde sendo empregado adequadamente, com o
sentido de LUGAR em que:
3) Aquelas pessoas vivem em locais onde não há energia elétrica;
4) Conhecemos o lugar onde ela está;
5) Esta é a cidade onde vivo.
Em todos esses exemplos, o antecedente de onde é um lugar.
PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP
Passado ou presente?
Nos relatórios das sentenças, ao utilizar verbos referentes a pedidos e alegações
das partes, observe a padronização do tempo: ou todos no presente, ou todos no
passado. Veja um exemplo de construção evitável, na qual se misturam os
tempos verbais:
Trata-se de ação previdenciária...
O autor alega, em síntese, que... (presente)
Requereu a condenação do réu para o fim de... (passado)
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Na contestação, o requerido arguiu, preliminarmente, a... No mérito, aduz que...
(passado / presente).
O ideal seria que tais verbos estivessem no mesmo tempo verbal, como nos
exemplos abaixo:
Trata-se de ação previdenciária...
O autor alega, em síntese, que... (presente)
Requer a condenação do réu para o fim de... (presente)
Na contestação, o requerido argui, preliminarmente, a... No mérito, aduz que...
(presente).
OU
Trata-se de ação previdenciária...
O autor alegou, em síntese, que... (passado)
Requereu a condenação do réu para o fim de... (passado)
Na contestação, o requerido arguiu, preliminarmente, a... No mérito, aduziu
que... (passado).
Para mim e para eu
Está comprovada a relação existente entre o bom uso do idioma e a credibilidade
de seus usuários. A preocupação crescente com o falar e com o escrever fez que
muitos veículos de comunicação divulgassem alguns dos principais erros do
português. Desses, um ficou famoso: é o tal do para mim fazer, que constitui erro,
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já que “mim não faz nada”, como se diz por aí. Gramaticalmente falando, mim é
um pronome pessoal tônico do caso oblíquo, que, de regra, não pode funcionar
como sujeito. A forma correta seria para eu fazer.
A iniciativa preventiva é louvável. O único problema é que o conhecimento foi
transmitido pela metade. Nem sempre o mim está errado, quando ao lado de um
verbo. O nosso idioma é muito rico, passível de inúmeras construções frasais.
Pode, portanto, o pronome mim acompanhar um verbo, não sendo sujeito dele.
No exemplo É difícil para mim fazer isso, há um emprego perfeito do pronome
mim. Mas, se você algum dia disser isso, provavelmente alguns possam qualificálo de ignorante, baseados na falsa ideia de que o para mim fazer está sempre
errado. Porém, não se preocupe. A sua construção estará correta.
Observe estes dois exemplos:
“Empreste-me o livro para mim ler”
“É complicado para mim ler o livro”.
Será que o mim está certo nas duas frases? Se a sua resposta foi negativa, você
acertou. O primeiro exemplo está errado; o segundo, certo.
Para saber quando devemos usar para mim ou para eu, há uma técnica muito
fácil: basta tentar deslocar o para mim ao começo da frase. Se o deslocamento for
possível, será realmente para mim. Se a frase perder o sentido com a mudança,
será para eu. Reportemo-nos aos exemplos citados, a fim de compreendermos
melhor esse fenômeno.
Em “Empreste-me o livro para mim ler”, vamos tentar mudar o para mim para o
começo da frase:
“Para mim, empreste-me o livro ler”.
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Fez sentido? Obviamente não. Desse modo, observa-se que o correto é para eu, e
o eu é sujeito do verbo “ler”. Então, esta é a forma correta:
“Empreste-me o livro para eu ler”.
Já no segundo exemplo – “É complicado para mim ler o livro” –, o para mim
pode ser deslocado:
“Para mim, é complicado ler o livro”.
Com certeza, deu certo. Então, é para mim mesmo:
“É complicado para mim ler o livro”.
Nesse caso, o mim não é sujeito. É, para quem gosta de termos técnicos,
complemento nominal do predicativo do sujeito complicado. Mas a classificação,
neste momento, não importa.
Particípio (tenho entregado, foi entregue)
Lembra-se das formas nominais do verbo? São três: infinitivo, gerúndio e
particípio, que frequentemente aparecem juntas a um verbo auxiliar (como ter,
haver, ser ou estar). Sem a pretensão de esgotar o assunto, e sim de refrescar a
sua memória em relação à estrutura de cada uma dessas formas, dê uma olhadela
nestas três variações: comprar, comprando e comprado. São exemplos de formas
nominais, sendo, respectivamente, o infinitivo (a forma natural do verbo),
gerúndio (termina em ndo) e particípio (cuja terminação é, geralmente, ado ou
ido).
Acontece que alguns verbos admitem mais de um particípio: um terminado em
ado ou ido (regular) e outro reduzido (irregular). O verbo entregar é um bom
exemplo. Possui dois particípios: entregado (regular) e entregue (irregular).
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Para saber quando usar um ou outro, preste atenção aos verbos auxiliares que
acompanharão o particípio. Se forem TER ou HAVER, use o particípio regular,
terminado em ado ou ido:
O carteiro já me tinha ENTREGADO as cartas (veja que o verbo ter foi usado
juntamente ao entregado, que é regular);
Eu já haverei ENTREGADO as encomendas amanhã (o verbo haver foi usado;
então, usa-se o particípio regular);
A carta já foi ENTREGUE (o verbo ser foi usado; o particípio tem que ser o
reduzido, irregular);
A moça já está ENTREGUE (como o verbo estar foi usado, empregou-se o
particípio irregular).
1) Quer dizer que a maneira correta é “Eu tenho pegado”?
Apesar de ouvirmos muitos usarem a forma Eu “tenho” pego, o ideal seria, de
fato, Eu tenho PEGADO. É o particípio regular que deve, em regra, acompanhar
os verbos ter e haver. O pego deveria, como já foi dito, ser usado somente com os
verbos ser e estar – O ladrão foi pego, por exemplo –, mas, como as pessoas
nesse caso usam o irregular indiscriminadamente, ele passa a sobressair à forma
pegado, que, muito em breve, deve deixar de ser usada.
Outros verbos que admitem os dois particípios: aceitar (aceitado e aceito),
acender (acendido e aceso), benzer (benzido e bento), concluir (concluído e
concluso), eleger (elegido e eleito), envolver (envolvido e envolto), exaurir
(exaurido e exausto), expelir (expelido e expulso), expressar (expressado e
expresso), exprimir (exprimido e expresso), expulsar (expulsado e expulso),
extinguir (extinguido e extinto), fritar (fritado e frito), imprimir (imprimido e
impresso), inserir (inserido e inserto), limpar (limpado e limpo), matar (matado e
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morto), prender (prendido e preso), romper (rompido e roto), salvar (salvado e
salvo), soltar (soltado e solto), suspender (suspendido e suspenso), etc.
Perito, perita
Existe a forma feminina: PERITA.
Pessoas gramaticais (mistura indevida)
Há que se ter cuidado para não "misturar" algumas pessoas gramaticais. Pensemos
no exemplo Pernas, pra que te quero, que ilustrará bem a questão. De tão
cristalizada, essa frase parece perfeita, gramaticalmente impecável. Todavia, se a
olharmos com mais calma, veremos que tem uma incoerência. Quando dizemos
Pernas, pra que “TE” quero, supostamente estamos falando com as próprias
pernas, não é verdade? Assim, o pronome não deveria ser dirigido a tu (pernas
pra que “te” quero), mas a vocês ou a vós (menos comum): Pernas, pra que AS
quero (ou Pernas, pra que VOS quero). Te só se refere a tu. Não nos esqueçamos
disso.
Se quiser usar te em um texto, certifique-se de que todos os outros pronomes e
verbos referentes a ele estejam conjugados nessa pessoa (tu). Não se deve
conjugar o verbo como terceira pessoa e utilizar pronome de segunda; nem
conjugar o verbo como segunda utilizando pronome de terceira pessoa.
Exemplo de erro:
VOCÊ afirmou que o réu TE agredira.
No exemplo acima, houve a “mistura” indevida de pronomes de terceira (você) e
segunda pessoa (te) referentes ao mesmo ser. Haveria duas formas de corrigir a
frase:
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VOCÊ afirmou que o réu O agredira (ambos na terceira pessoa) OU
TU afirmaste que o réu TE agredira (ambos na segunda pessoa).
Possuir
Esse verbo deve ser usado primordialmente no sentido de posse física. É evitável
o seu emprego quando tal posse não estiver bem evidenciada, como se observa
nos exemplos abaixo, em que bem poderia ser substituído por “ter”:
O autor “possui” vinte e cinco anos de idade; (evitar)
O autor “possui” um contrato com a parte ré; (evitar)
A autora “possui” uma doença incurável. (evitar)
Ponto e vírgula
O ponto e vírgula é um sinal utilizado quando a pausa desejada não é nem tão
breve quanto a da vírgula, nem tão longa quanto a do ponto. O ponto e vírgula
representa, pois, uma pausa intermediária.
Quando usá-lo?
1) Em enumerações, principalmente se os elementos enumerados forem
relativamente extensos e numerosos. Exemplo:
Havia vários fatores que corroboravam sua personalidade violenta: morava
numa região muito violenta, na qual tiros e facadas eram algo comum; nunca
teve acesso à escola e à boa informação, por não desfrutar as condições
econômicas básicas para isso; era espancado pelo pai quando tinha seis anos de
idade; etc.
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Veja que cada elemento enumerado é um período composto, com mais de uma
oração (verbo). Essa extensão exige uma pausa maior que a da vírgula, mas não
tão grande quanto a do ponto. É aí que entra o ponto e vírgula. Você também deve
ter notado que, entre o último elemento e o etc., também foi usado o ponto e
vírgula. Quando os grupos são separados pelo ponto e vírgula, o etc., se der
continuidade a essa enumeração, deve ser precedido pelo mesmo sinal.
2) Quando a vírgula marca a omissão de um verbo, pode haver, antes do sujeito
desse verbo, uma pausa representada pelo ponto e vírgula ou pelo ponto simples.
Exemplo:
O general não temia o que lhe podia acontecer; os soldados, sempre (temiam);
O general não temia o que lhe podia acontecer. Os soldados, sempre (temiam).
Se a pausa em questão fosse marcada por uma simples vírgula, o sujeito os
soldados poderia ser visto como um elemento intercalado (ver Vírgula), isolado
por vírgulas, o que prejudicaria a fluência da leitura: O general não temia o que
lhe podia acontecer, os soldados, sempre. Notou como não ficaria bom?
3) Quando você achar que há excesso de vírgulas, uma muito perto da outra, apele
ao ponto e vírgula para separar orações ou termos mais extensos. Em
determinadas situações, é um elemento indispensável à boa sequência do texto.
Exemplo:
Eles sabiam, dizem as más línguas, de tudo o que se passava no colégio interno,
particularmente no âmbito da administração, MAS, como já era de se esperar,
nunca fizeram nada.
Poder-se-ia usar o ponto e vírgula antes do mas, a fim de deixar bem claro onde
termina a primeira oração (extensa e já marcada por vírgulas) e onde começa
a segunda:
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Eles sabiam de tudo o que se passava no colégio interno, particularmente no
âmbito da administração; mas, como já era de se esperar, nunca fizeram nada.
Esse não é um caso obrigatório. O sinal é elucidativo, enfatiza o caráter
adversativo da oração introduzida pelo mas, porém poderia ter sido empregada a
vírgula também.
Por si só
A palavra só, na expressão por si só, funciona como adjetivo. Equivale à palavra
sozinho. Por ser uma qualificação, deve concordar com o nome a que se refere.
Exemplo: Os fatos não explicam a questão por si SÓS. Relembrando, a palavra só
permanece invariável quando equivale a apenas: Os fatos não só (apenas)
explicam o fenômeno como também o comprovam.
Porque, por que, porquê e porquê
Primeiramente, saibamos que existem quatro formas de utilizar POR + QUE:
porque (junto e sem acento), porquê (junto e com acento), por que (separado e
sem acento) e por quê (separado e com acento). Para usá-las corretamente, guarde
esta dica:
Constate, mentalmente, se caberia a palavra RAZÃO após o que. Se couber,
será, com certeza absoluta, POR QUE (separado). Se não couber, será,
obviamente, porque (junto e sem acento).
Exemplos:
Por que a petição foi protocolada a destempo?
(Por que RAZÃO a petição foi protocolada a destempo?);
Não se sabe por que o réu agiu dessa maneira.
85
(Não se sabe por que RAZÃO o réu agiu dessa maneira);
Foi expedido ofício ao MP porque a testemunha, em tese, praticara o crime de
falso testemunho.
(Não cabe RAZÃO após o que; em respostas ou explicações, o porque será
sempre junto e sem acento).
Outro detalhe que deve ser guardado: em final de orações (antes de ponto, vírgula
ou qualquer outro sinal de pontuação que encerre oração), o que sempre terá
acento circunflexo (QUÊ), independentemente de estar acompanhado do por,
como se vê nos exemplos abaixo:
O réu, sem dúvida, cometeu o crime descrito na denúncia e já se sabe por quê.
([...] já se sabe por que RAZÃO; o que foi acentuado por estar no fim da frase,
antes do ponto);
A vítima relatou que chegou a casa e, sem saber por quê, começou a ser
agredida.
([...] e, sem saber por que RAZÃO; o que foi acentuado por estar no fim da
oração, antes da vírgula).
Em síntese, basta conferir se cabe a palavra RAZÃO após o por que. Se couber,
deve ser separado. Depois, observe se o que está em final de oração, antes de
qualquer sinal (ponto, vírgula, ponto e vírgula, ponto de exclamação,
interrogação). Se estiver, acentue-o.
Usa-se por que (separado), ainda, quando seu sentido equivale ao de PELO(A)
QUAL(IS), retomando um nome. Exemplos:
A ponte por que passamos quase caiu (A ponte PELA QUAL passamos...);
Não há motivos por que se deva brigar (Não há motivos PELOS QUAIS se
deva...)
86
O PORQUÊ (junto e com acento) será acompanhado, geralmente, de artigo (o, a,
um, uma, que sempre acompanham um substantivo) ou de outros vocábulos que
também acompanhem e determinem um nome (vários, muitos, esses, estes,
aqueles, alguns, dois, três, etc.). Porquê será, portanto, um substantivo,
significando MOTIVO:
Qual é o porquê da sua tristeza? (Qual é o MOTIVO da sua tristeza?);
Há vários porquês para a sua fúria (Há vários MOTIVOS para a sua fúria).
Posto que
A locução posto que se parece com já que, mas seu sentido original não é
semelhante ao desta locução. Quem lê ou ouve uma frase como Tenho muitas
mulheres, "posto que" sou lindo e inteligente muitas vezes não consegue detectar
a incoerência nela existente. A locução POSTO QUE liga (ou deveria ligar)
IDEIAS CONTRÁRIAS, CONFLITANTES, CONTRASTANTES. Tem o
mesmo sentido de apesar de, ainda que, entretanto, mas e outros conectivos do
gênero. Só que a maioria das pessoas (incluam-se ótimos poetas) utilizam posto
que como já que, que indica a ideia de causa. Isso, pelo menos de acordo com a
norma culta, não é adequado. Quem diz Tenho muitas mulheres, "posto que" sou
lindo e inteligente está dizendo Tenho muitas mulheres, ainda que eu seja lindo e
inteligente. Segundo essa frase, o fato de o locutor ser "lindo e inteligente" deveria
atrapalhar suas relações amorosas, colocação que, na realidade, sabemos que não
tem fundamento. O sentido original dessa frase é, provavelmente, Tenho muitas
mulheres, JÁ QUE (porque, uma vez que, etc.) sou lindo e inteligente. Agora sim.
Vinícius também se desviou do sentido original. No Soneto da Fidelidade, ele quis
dizer:
(...) Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, JÁ QUE é chama (e não "posto que" é chama).
87
Vejamos um exemplo CORRETO de aplicação da locução “posto que”:
Posto que o recurso tenha sido protocolado tempestivamente, não o recebo em
virtude da falta de preparo (ainda que, embora, apesar de...).
Presente a
A preposição preferível nesse adjetivo é A: presente A algum lugar. Exemplo:
Estavam presentes ao encontro as autoridades...
Proceder
Ver os tópicos Regência verbal, Se (concordância com a palavra “se”) e Crase.
Propuseram (verbos derivados)
Lembre-se de que a maioria dos verbos derivados deve respeitar os verbos
primitivos de que provieram. Propor tem a mesma conjugação que pôr, sua forma
primitiva. Por isso, no pretérito perfeito do indicativo, diz-se Eu proPUS, tu
proPUSESTE, ele proPÔS, nós proPUSEMOS, vós proPUSESTES, eles
proPUSERAM.
Mas nem todos os verbos derivados respeitam a conjugação dos primitivos. Os
verbos reQUERER, precaVERe proVER não possuem exatamente a mesma
conjugação dos verbos querer e ver. Observe a conjugação desses verbos e veja
como, em alguns casos, ela diverge da dos primitivos (as formas em negrito são
aquelas que não condizem com a conjugação primitiva): Eu reQUEIRO, tu
reQUERES,
ele
reQUER,
nós
reQUEREMOS,
vós
reQUEREIS,
eles
reQUEREM; Eu precaVI, tu precaVESTE, ele precaVEU, nós precaVEMOS,
vós precaVESTES, eles precaVERAM; Eu proVEJO, tu proVÊS, ele proVÊ,
nós proVEMOS, vós proVEDES, eles proVEEM; Eu proVI, tu proVESTE, ele
proVEU, nós proVEMOS, vós proVESTES, eles proVERAM.
88
Pugnar
Ver Regência verbal.
QQQQQQQQQQQQQQQQQ
Que (expressão “o que”)
Colocar o antes de que no início de orações interrogativas é, segundo a Gramática
tradicional, uma falha. Puristas podem julgar improcedentes construções como
“O” que acontece?” e “O” que é isso?. Qual a função desse O? Artigo? Com
certeza não, já que não determina ou acompanha substantivo algum. Pronome
demonstrativo? Muito menos, já que, para sê-lo, deveria substituir um nome. A
maneira correta de escrever seria Que acontece? e Que é isso, sem o. A palavra
que, nesse caso, é pronome interrogativo e, segundo os mesmos puristas, não vem
acompanhada de nenhum o em início de oração. Outros exemplos: Que é
Sociologia?; Que ela pensa fazer?
RRRRRRRRRRRRRRRRRR
Reaver
Pretérito perfeito do indicativo: eu reouve, ele reouve, nós reouvemos, eles
reouveram. No presente do indicativo, só se conjugam as pessoas nós e vós. Não
possui o presente do subjuntivo (Que eu...) nem o imperativo negativo. No
imperativo afirmativo, só o vós é conjugado. Os demais tempos são conjugados
normalmente.
89
Regência verbal
Essa é a parte da Gramática que estuda a maneira como os verbos regem,
comandam os seus complementos.
Como exemplo, consideremos os verbos amar e precisar: Eles amam a liberdade;
Eles precisam de liberdade. Observe que o verbo amar exige um complemento
(quem ama ama alguma coisa) sem preposição (de, com, a, em, para, etc.). O
precisar também exige um complemento, mas com preposição (quem precisa
precisa DE alguma coisa).
Há, ainda, verbos com dois complementos (um sem e outro com preposição),
como é o caso de entregar: O carteiro entregou [a carta][A José]. Quem entrega
entrega algo A alguém (há dois complementos: algo e A alguém. Um tem
preposição, outro não).
Vejamos alguns casos importantes:
1) Comunicar / informar / cientificar / notificar (verbos que tenham o
sentido de levar uma informação a alguém)
Tais verbos têm duas principais regências:
Algo A alguém.
Alguém DE algo.
Têm a mesma regência verbos com sentido semelhante, como avisar, noticiar, e
alertar. Exemplos:
Avisei o acidente a Carlos, Avisei Carlos do acidente;
Comuniquei o acidente a Carlos, Comuniquei Carlos do acidente;
90
Cientifiquei o acidente a Carlos, Cientifiquei Carlos do acidente.
Cuidado: quando um dos complementos do verbo for oracional (introduzido pela
conjunção “que”), também deverá ser respeitada a regência. Exemplos:
Informei-o DE que os autos estavam conclusos (alguém DE algo)
Informei A ele que os autos estavam conclusos (algo A alguém).
Quando o complemento desses verbos for oracional, JAMAIS utilize construções
como estas:
Informei o advogado que os autos estavam conclusos (“alguém algo” ERRADO)
Informei-o que os autos estavam conclusos (“alguém algo” - ERRADO)
Informei ao advogado de que os autos estavam conclusos (“A alguém DE algo” ERRADO).
Informei–lhe de que os autos estavam conclusos (“A alguém DE algo” ERRADO).

Atenção: sobre o uso dos pronomes “o” e “lhe”, ver tópico Lhe.
Mais exemplos (corretos):
A parte foi informada DE que a audiência fora redesignada. (informar alguém
DE algo)
Comunique-se Ao Juízo deprecante que a audiência foi redesignada. (comunicar
algo A alguém)
Comunique-se o Juízo deprecante DE que a audiência foi redesignada.
(comunicar alguém DE algo)
91
2) Agradar
No sentido de satisfazer, o verbo agradar exige a preposição a: quem agrada
agrada A alguém. Exemplo: Os filmes agradam Ao público (se o complemento for
feminino, não se esqueça da crase: Os filmes agradam À crítica).
Se agradar significar fazer carinho, não exigirá preposição alguma em seu
complemento: quem agrada agrada alguém. Exemplo: A mãe, extremamente
carinhosa, não se cansava de agradar o filho (ou a filha).
3) Assistir
Assistir alguém significa cuidar de alguém, prestar-lhe assistência, auxiliá-lo.
Assistir A algo significa observar, olhar, presenciar algo.
Exemplos:
Gosto de assistir Ao telejornal;
Nós assistimos Ao filme;
Ela assistiu À novela ontem?
Eu já assisti Àquela peça;
O médico assistiu o paciente (dar assistência);
A Previdência Social assiste excepcionalmente bem os aposentados (dar
assistência).
Há ainda o sentido de caber, pertencer, caso em que o verbo também exigirá a
preposição “a”. Exemplo:
92
Assiste razão Ao embargante.
Outra regência, bastante incomum, atribuída ao verbo assistir é a da preposição
em, no sentido de morar. Assistir EM algum lugar é o mesmo que morar em
algum lugar. Exemplo: João assiste EM Brasília.
4) Atender (e outros verbos com mais de uma regência)
No sentido de dar atenção, pode atender algo ou atender A algo; fique à vontade.
Atenda o telefonema ou Ao telefonema.
Se o sentido for o de conceder, deferir, melhor é optar pela preposição a no
complemento do atender: O prefeito atendeu (deferiu) Ao nosso pedido.
Outros verbos admitem mais de uma regência, sem que o sentido seja alterado:
Abdicar - quem abdica abdica algo ou DE algo: Vários reis abdicaram o trono
(ou do trono);
Renunciar - quem renuncia renuncia algo ou A algo: O Presidente da República
renunciou o cargo (ou ao cargo);
Presidir - quem preside preside algo ou A algo: Quem presidirá o encontro (ou
ao encontro)?;
Gozar - quem goza goza algo ou DE algo: Os idosos daquele estabelecimento
gozam ótimo estado mental (ou DE ótimo estado mental)
Ansiar - quem anseia anseia algo ou POR algo: Ansiamos a sua cura (ou POR
sua cura);
93
Acreditar - quem acredita acredita algo ou EM algo: Esse povo acredita Deus
(ou EM Deus); Acreditamos EM que ele tenha melhorado (ou que ele tenha
melhorado).
Obs.: costuma-se, no texto jurídico, usar a preposição em quando o complemento
não é uma oração (quando não houver verbo). Exemplo: Acredita-se EM duendes.
Se o complemento é oracional (se possuir verbo), dispensa-se a preposição em, a
fim de tornar a construção mais natural: Acredita-se que existam duendes (e não
Acredita-se "em" que existam duendes).
Crer - quem crê crê algo ou EM algo: Sei que você não crê duendes (ou EM
duendes).
Obs.: idem.
Almejar (significa desejar) - quem almeja almeja algo ou POR algo: Almejamos
sua melhora (ou POR sua melhora).
Consentir - quem consente consente algo ou EM algo: Os pais não consentiram
a excursão (ou na excursão);
Constar - quem consta consta EM algo ou DE algo: As informações constam no
documento de mov. 1.4 (ou do documento).
Satisfazer - quem satisfaz satisfaz alguém ou A alguém: Essa realidade nunca
satisfez o marido (ou ao marido);
Versar - quem versa versa algo ou SOBRE algo: Estas linhas versam a língua
portuguesa (ou SOBRE a língua portuguesa)
5) Chamar-se
94
Se alguém diz, por exemplo, Eu “chamo” Antônio Carlos, está querendo dizer
que pede a presença do rapaz com o referido nome. O verbo chamar no sentido de
ter nome deve ser pronominal, isto é, deve sempre estar acompanhado de um
pronome oblíquo (me, te, se, nos e outros, dependendo da pessoa). Eu ME chamo
Antônio Carlos seria a forma adequada. Outros exemplos: Como ela SE chama (e
não Como ela “chama”?)?; Chamamo-NOS Carlos e Flávio (e não “Chamamos”
Carlos e Flávio).
6) Chegar
Quem chega chega A algum lugar, e não “em” algum lugar. Exemplos:
A testemunha afirmou que, quando o réu chegou Ao local, aparentava estar
bêbado.
A vítima declarou que, quando chegara A casa, encontrou tudo revirado. (sem
crase... consultar o tópico Crase, particularmente o caso especial da palavra
“casa”)
7) Comparecer
Exatamente como ocorre com o verbo “chegar”, prefira a preposição “a”: quem
comparece comparece A algum lugar, e não “em” algum lugar. Exemplos:
Compareceram À audiência as partes e os advogados.
O advogado compareceu Ao gabinete do juiz.
8) Custar
Consoante a norma culta, não se pode dizer que “alguém custa a algo”.
Construções como "Alguém custa a fazer alguma coisa" não existiriam. O verbo
95
custar, no sentido de ser difícil, deve ser usado da seguinte maneira: alguma
coisa custa A alguém.
Por exemplo:
Custou a Carlos demitir o funcionário, e não "Carlos custou a demitir" (Que
custou a Carlos? Demitir o funcionário);
Custa-me compreender tantas abstrações, e não "Custei a compreender..." (Que
me custa? Que me é difícil? Compreender tantas abstrações).
No sentido de ter preço, agora sim, alguma coisa custa algo: Esses aparelhos
custam R$ 40 mil reais cada um; Como custam caro os alimentos naquele país.
Percebamos que, nesses casos, os advérbios caro e barato ficam invariáveis, o
que não acontece quando acompanham um substantivo (nomes em geral): Roupas
caras, remédios caros, etc.
9) Desfrutar, usufruir, compartilhar
A norma culta da língua portuguesa reza que o verbo desfrutar não exige a
preposição de no seu complemento. Dessa maneira, o mais adequado seria
escrever, por exemplo, Atualmente, ele desfruta OS bens da sua comunidade. O
mesmo acontece com os verbos usufruir e compartilhar: Nós usufruímos todas as
regalias; Quer compartilhar o tesouro comigo?
Observação: vários gramáticos já admitem o uso da preposição “de” no
complemento de tais verbos.
10) Implicar
O verbo implicar, no sentido de fazer supor, dar a entender, não admite a
preposição em. Exemplo:
96
Esses gastos implicam extremo abuso (e não "em" extremo abuso).
Há outros sentidos para implicar: 1) envolver alguém em alguma coisa: nesse
caso a preposição em é obrigatória. Exemplo: O jornalista implicou o deputado
em um (ou num) verdadeiro escândalo; 2) antipatizar com alguém: aqui a
preposição é com. Exemplo: Pare de implicar com a menina!
11) Lembrar, esquecer
Existem duas maneiras principais de conjugar o verbo lembrar, no sentido de
recordar-se: com ou sem pronome. Veja:
Eu ME lembro de algo (pronominal) OU
Eu lembro algo (sem o pronome).
Quando se usa o pronome, DEVE-SE usar a preposição DE, obrigatoriamente. Se
o pronome não for usado, o DE também não será. Conclusão: pronominal, usa-se
o DE; sem pronome, sem DE. Exemplos:
Eu ME lembro DE você;
Você SE lembra DE mim?;
Nós NOS lembramos daquele rapaz;
Você lembrou o compromisso (sem pronome, sem preposição de);
Eu não lembrava o seu rosto (sem pronome, sem preposição de).
Com o verbo esquecer, é exatamente a mesma coisa: Esqueceram-me (e não
Esqueceram “de mim”); Ela SE esqueceu DE meu nome; etc.
97
Cuidado: quando o complemento desses verbos for oracional (introduzido pela
conjunção “que”), essas regras também deverão ser observadas. Exemplos:
Esqueceu a testemunha que não poderia faltar à audiência.
Esqueceu-SE a testemunha DE que não poderia faltar à audiência.
12) Pagar, perdoar, obedecer
Os verbos PAGAR e PERDOAR comportam-se exatamente como entregar.
Quem entrega entrega algo A alguém, exatamente como quem paga paga algo A
alguém, quem perdoa perdoa algo A alguém. Exemplos:
Pagamos a carne AO açougueiro; (algo A alguém)
Pagou o aluguel À imobiliária?; (algo A alguém)
Eu já paguei AO meu credor. (A alguém)
O importante é você não se esquecer da preposição “a” diante do
complemento que representa aquele que recebe o pagamento ou o perdão.
O verbo OBEDECER exige sempre a preposição a no complemento: obedecer A
alguém ou A algo.
Usar pessoas como complementos sem preposição (exemplo: ...paguei "o"
deputado, obedeceu "o" pai) é construção a ser evitada.
Obs.: Esses verbos, apesar de exigirem preposição, admitem voz passiva.
Exemplos: O fiel foi perdoado pelo padre.
13) Oficiar
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Esse verbo exige a preposição A: quem oficia oficia A alguém. Exemplos:
Oficie-se Ao órgão estadual de trânsito;
Oficie-se Ao MP;
Oficie-se À Secretaria de Educação.
14) Pedir, permitir, solicitar
Bastante cuidado com os verbos pedir, permitir e solicitar. Eles seguem o
seguinte modelo: quem pede pede algo A alguém; Portanto, construa frases como
O entrevistado nos pediu (permitiu, solicitou) que não publicássemos sua foto.
Evite construções como pedir "para que".
15) Preferir
Estamos acostumados a falar Prefiro maçã “do que” banana ou, pior, Prefiro
“muito mais” maçã “do que” banana. O verbo preferir é, na verdade, mais um
que exige a preposição A: Prefiro maçã A banana. É evitável o uso de expressões
como muito mais, mil vezes, bem mais, como neste exemplo: Prefiro “muito
mais” maçã "do que" banana. Com o verbo preferir, deve ser usada somente a
preposição a: preferir algo A algo.
16) Proceder
O verbo proceder tem três sentidos básicos: 1) dar início a algo ou executar
(muito usado na praxe jurídica), 2) ter origem em e 3) ter fundamento. No
caso 1, é obrigatória a preposição a. Exemplo:
Proceda-se Ao envio da intimação.
99
É importante lembrar que, nesse sentido, sempre ocorrerá a crase nos
complementos femininos:
Proceda-se À intimação.
Como nesse sentido o proceder exige preposição, NUNCA IRÁ PARA O
PLURAL SE VIER ACOMPANHADO DE “SE”:
Proceda-se Às intimações / Proceda-se Às diligências necessárias.

Ver tópicos Se (concordância com a palavra “se”) e Crase.
No sentido 2, é obrigatória a preposição de:
Essas garotas procedem DE Minas Gerais (vêm de Minas Gerais).
No último caso, não há complemento para o verbo. Quem procede procede.
Exemplo: Suas acusações ao ministro não procedem (ter fundamento).
17) Antipatizar, simpatizar
O verbo antipatizar, assim como o simpatizar, não deve vir acompanhado de
pronome oblíquo (me, te, se, nos, vos...). Quem antipatiza (ou simpatiza)
antipatiza com alguém (e não "se" antipatiza com alguém). Exemplos: A Câmara
não simpatizou com o projeto; A sogra antipatizou com o genro logo de cara.
18) Sobressair, deparar
Os verbos sobressair e deparar constituem dois casos comuns do emprego
indevido do pronome oblíquo. E é compreensível o equívoco, tendo em vista que
deparar tem o sentido similar ao de encontrar-SE (que exige o pronome), e
sobressair lembra destacar-SE (que também exige o pronome). Contudo, quem
100
depara depara com alguém (e não “se” depara); quem sobressai sobressai (e não
“se” sobressai). Exemplo: Alex sobressaiu no jogo e deparou com o técnico.
19) Torcer
Alguém torce POR alguma coisa. Logo, esse alguém torce PELO (por + o) São
Paulo, por exemplo. Se, no entanto, o complemento do verbo torcer for uma
oração, a preposição para estará absolutamente correta: Ele torce para que o pai
seja feliz (o complemento do verbo torcer é a oração para que o pai seja feliz; se é
oração, a preposição para está correta).
20) Pugnar
Alguém pugna POR alguma coisa. Logo, esse alguém pugna PELO (por + o)
arquivamento do feito, por exemplo.
Requerer
Ver Propuseram.
Restabelecer
Somente com um e. Não existe "reestabelecer", com dois es.
Rubrica
A palavra RUBRICA (assinatura) é escrita sem acento e pronunciada com a
sílaba bri tônica, mais forte.
101
SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
Salário-mínimo
Salário-mínimo (com hífen) é substantivo, significando o “trabalhador que ganha
salário mínimo”. Fora dessa concepção, não use o hífen!
Saudar
No presente do indicativo, algumas pessoas são acentuadas: eu saúdo, ele saúda,
nós saudamos, eles saúdam.
Se (concordância com a palavra “se”)
Para iniciar este tópico, pensemos na frase “Aluga-se casas”. Estaria ela correta?
Ou a melhor forma seria “Alugam-se casas”?
Quando o verbo se constrói com a partícula se (por meio do hífen), precisamos
saber a quem essa ação se refere. Para isso, perguntamos Quem? Ou Quê? ao
verbo. Na frase acima –“Aluga-se” casas –, pergunta-se: Que que se aluga?
CASAS é a resposta. Então, o sujeito é CASAS. E, como nos é perceptível, está
no plural (casas). Sendo assim, o verbo deveria concordar com ele: ALUGAMSE casas.
Outros exemplos:
Vendem-se bicicletas e automóveis (são vendidos);
102
Não se fazem homens como antigamente (são feitos);
Aluga-se salão (é alugado).
Nesses casos, o sujeito do verbo é alvo uma ação. Dizer Vendem-se casas é o
mesmo que Casas SÃO vendidas (o sujeito casas sofre a ação – as casas são
vendidas).
Vendem-se bicicletas e automóveis é o mesmo que Bicicletas e automóveis SÃO
vendidos.
Não se fazem mais homens... é o mesmo que Homens não SÃO feitos.
Não se devem fazer acusações infundadas equivale a acusações infundadas não
devem SER feitas.
O teste é simples. Basta tentar transmitir a mesma ideia, mas em forma de locução
verbal, com um verbo “ser” a mais. Se der certo, quer dizer que o sujeito está
recebendo uma ação. Na Gramática, isso recebe o nome de voz passiva. E,
sempre que nesse teste a locução com o verbo a mais aparecer no plural, o verbo
da frase original também deverá estar no plural.
Mais exemplos:
Não se PRODUZIRAM quaisquer provas nesse sentido (Não FORAM
PRODUZIDAS quaisquer provas nesse sentido);
ABORDARAM-se tais preliminares na decisão saneadora de fls. 89/91
(FORAM ABORDADAS tais preliminares na decisão saneadora de fls. 89/91).
Mas tome cuidado: essa regra só vale para os verbos que não exigem
preposição (a, em, de, com, para, etc.) no complemento. Perceba que verbos
como alugar, vender e fazer não têm preposição alguma nos termos que os
103
completam: quem aluga aluga alguma coisa; quem vende vende alguma coisa;
quem faz faz alguma coisa.
Se o verbo ligado à partícula se tiver a dita preposição no complemento, ficará
sempre no SINGULAR. Exemplos:
Precisa-se DE datilógrafos (quem precisa precisa DE alguma coisa);
Acredita-se EM duendes (quem acredita acredita EM alguma coisa);
Proceda-se Às diligências necessárias (quem procede procede A algo)
Independentemente de o termo seguinte estar no plural, o verbo, como se
pode notar, fica sempre no singular.
Veja que é impossível “fabricar” o verbo ser nestes últimos verbos, como fizemos
com os primeiros: Datilógrafos “são” precisados (ficaria desagradável!);
Duendes “são” acreditados e “Sejam procedidas” diligências necessárias (ruim
também). Também se deve observar que esses verbos possuem sujeito
indeterminado. Quem precisa de datilógrafos? Não se sabe. Quem acredita em
duendes e Quem deve proceder às diligências? Também não se sabe.
Outros exemplos, desta vez mais comuns na linguagem jurídica:
a) Intime-se o autor / Intimem-se os autores (“sejam intimados” os autores)
b) Cite-se o réu / Citem-se os réus (“sejam citados” os réus)
c) Arquivem-se os autos (“sejam arquivados” os autos)
d) Expeça-se ofício / Expeçam-se ofícios (“sejam expedidos” ofícios)
e) Trata-se de requerimento / Trata-se de requerimentos (observe que, como o
verbo exige preposição, jamais poderia ir para o plural)
104
f) Remetam-se os autos ao distribuidor para as anotações necessárias (“sejam
remetidos” os autos).
Observação: a construção TRATAR-SE DE, além de nunca ir para o plural,
nunca terá sujeito expresso, já que a partícula “se” tem a função justamente de
torná-lo indeterminado. Por isso, nunca use construções como estas:
“O requerente” trata-se de pessoa de notória idoneidade. (correto: Trata-se de
pessoa de notória idoneidade, sem “o requerente”)
Trata-se “essa questão” de um dos maiores problemas desta comunidade.
(correto: Trata-se de um dos maiores problemas desta comunidade, sem “essa
questão”)
Tratavam-se de réus sem qualquer antecedente criminal. (correto: TRATAVASE DE)
Tratam-se de embargos de declaração opostos por XX. (correto: TRATA-SE
DE)
Segmento, seguimento
SEGMENTO é a parte, o setor, o corte de um todo; SEGUIMENTO é o ato de
seguir, continuar. Exemplos:
A Turma negou seguimento ao recurso;
O segmento dos calçados é um dos que mais cresceram em fevereiro (setor dos
calçados).
105
Seja, esteja
Diga e escreva SEJA ou ESTEJA. Que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que
nós sejamos, que vós sejais, que eles sejam; Que eu esteja, que tu estejas, que ele
esteja, que nós estejamos, que vós estejais, que eles estejam. Não existem as
formas "seje" e "esteje".
Se não, senão
Se não (separado) quer dizer se acaso não, e senão (junto) significa caso
contrário ou a não ser. Exemplos:
Muitas cidades não fazem nada, senão (a não ser) esperar;
Você tem que vir, senão (caso contrário) eu tenho que ir a pé.
Se não (se por acaso) melhorar o tempo, eu não sairei.
Indicando dúvida ou titubeio, utilize se não (separado): Ele é rico, se não
milionário.
Sicrano
Quando se usam três substantivos sem querer determinar as pessoas, diz-se
fulano, SICRANO e beltrano. Sicrano mesmo! Ciclano é, segundo o dicionário
Aurélio, um “hidrocarboneto
saturado cíclico, como o cicloexano, o
ciclopentano”.
106
Siglas
O plural de siglas deve ser feito com um simples s, sem o apóstrofo (sinal
utilizado para indicar a supressão de um som. Exemplo: copo d'água). Exemplos:
CDAs, LPs, CDs, TRTs. Siglas de até três caracteres devem ser escritas
inteiramente em letras maiúsculas. Siglas com mais de três caracteres, mas que
não formem palavra de pronúncia possível no idioma, também serão em
maiúsculas. Exemplos: ABL, PT, Embratel (palavra de pronúncia possível),
UFSC (tem mais de três caracteres, mas não é palavra de pronúncia possível na
língua portuguesa).
Sob, sobre
SOB significa debaixo de, ao abrigo de; SOBRE, acima de. Exemplos:
As crianças estão sob sua responsabilidade;
O dinheiro está sobre a mesa;
Sob o argumento de que fora coagido, o autor alegou...
Subjugar
O verbo é SUBJUGAR, sem o l, e significa dominar, vencer, submeter.
"Subjulgar" não existe.
Sub judice
Essa expressão, por ser latina, não é acentuada.
107
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Ter, haver
Evite o uso do verbo ter com o sentido de existir. O verbo ter indica, basicamente,
posse. Exemplos: Ele tem (possui) muitas fazendas; Muitas pessoas têm
(possuem) contas a pagar. Esse verbo comporta vários outros sentidos, mas o de
existir, pelo menos até agora, não é aceito pela norma culta. Dessa maneira, não é
aconselhado dizer Acho que “tem” pessoas demais aqui”. O sentido desejado foi
o de existir, e não o de possuir. Maneira correta, então: Acho que HÁ (ou existem)
pessoas demais aqui. Outros exemplos de erros:
Naquele supermercado “tem” de tudo (correto: Naquele supermercado HÁ de
tudo);
Aqui “tem” o que você precisar (correto: Aqui HÁ o que você precisar).
Têm e vêm (acento em “ter” e “vir”)
Cuidado com os verbos ter e vir. Quando estão na terceira pessoa do singular
(ele), são escritos sem acento: Ele tem muito dinheiro; A cidade vem sofrendo
muito. Mas, no plural, usa-se o acento circunflexo, a fim de diferenciá-lo do
singular: Eles têm muito dinheiro; As cidades vêm sofrendo muito.
Todo
Quando se usa a palavra todo seguida de um nome (substantivo), deve-se ficar
atento ao objetivo que se tem com a construção. Usar todo sem artigo é o mesmo
108
que dizer qualquer, todos os. Com o artigo, o sentido é de totalidade, a coisa
inteira. Por exemplo:
Todo processo (sem artigo) – significa todos os processos, qualquer processo;
Todo O processo (com artigo) – significa o processo inteiro, em sua totalidade.
Todos quatro
Evite o artigo em construções com todo + numeral. O correto seria Todos quatro
estavam lá, por exemplo, sem o artigo os. Entretanto, se o número acompanhar
algum nome (substantivo), o artigo será necessário, como em Todos OS dois
MENINOS estavam lá.
Em suma: Todos dois estavam lá OU Todos OS dois MENINOS estavam lá.
Traslado, translado
As duas formas são aceitas. Translado é mais comum, apesar de traslado ser a
forma erudita.
Tratar-se de
No sentido de ter como assunto, quem trata trata DE alguma coisa (ou SOBRE
alguma coisa). Sem o “se”, está notando? Exemplo: O exercício trata DE
questões filosóficas (ou SOBRE questões filosóficas). Veja que, nesse caso, o
sujeito do verbo é claro (quem trata de questões filosóficas? O exercício... esse é o
sujeito).
Significando ter como assunto, o pronome se só caberá no verbo tratar quando o
sujeito for indeterminado. Consequentemente, o verbo ficará sempre no
109
singular. E, como o sujeito é indeterminado, obviamente não se deve tentar
construir um sujeito expresso para o verbo. Exemplos:
Trata-se de pessoa que não demonstrou arrependimento (e não Trata-se “O
RÉU” de pessoa que não demonstrou arrependimento);
Trata-se de preliminares que não merecem acolhimento;
Trata-se de problemas familiares.
Em suma, a expressão “trata-se de”, indicando assunto, jamais irá para o plural
nem terá sujeito expresso.
Ver também o item Se (concordância com a palavra “se”).
Trema
Não o use mais, a não ser em derivadas de palavras estrangeiras que o possuam
(como “mülleriano”). Ver tópico sobre acentuação.
UUUUUUUUUUUUUUUUUU
Um certo mistério
A norma culta do idioma português recomenda que se evite esse tipo de
construção, apesar de comuníssima no português atual. A palavra mistério (um
substantivo, por sinal) está acompanhada da palavra certo (que exerce o papel de
pronome indefinido). Reza a norma que, quando ANTES de um substantivo
vierem pronomes indefinidos como tal, certo, mesmo, outro, qualquer e tanto, não
110
se deverá usar o artigo indefinido um. Portanto, a forma erudita seria, a título de
ilustração, Ela tem certo mistério (sem o um). Outros exemplos:
Tive semelhante ideia (e não “uma” semelhante ideia);
Dia desses, conheci outra garota loira (e não “uma” outra garota loira).
Essa regra só vale nos casos em que os pronomes ou adjetivos vêm antes do
substantivo. Se vierem depois, não há problema em usar o artigo indefinido.
Exemplo: Tive semelhante ideia ou Tive UMA ideia semelhante (neste, o adjetivo
semelhante vem depois do substantivo ideia).
Dica: sempre que usar o artigo indefinido “um(a)”, confira se ele realmente é
indispensável à frase. Comumente, é possível excluí-lo sem qualquer prejuízo, o
que até confere mais elegância ao texto. Veja os exemplos abaixo, em que a
exclusão dos artigos seria benéfica:
Não havia “uma” maneira melhor de resolver o problema.
A requerida demonstrou que não tinha “um” comprometimento com a filha.
O coautor adotou “uma” postura semelhante.
Usucapião
É palavra feminina. O correto é dizer A usucapião.
VVVVVVVVVVVVVVVVVV
111
Ver (e vir)
O principal problema desse verbo reside no tempo futuro do modo subjuntivo.
Para quem não lembra, o modo subjuntivo indica hipótese, suposição, algo que
PODE ou DEVE ter acontecido no passado, presente ou futuro. As conjugações
desse modo são, geralmente, acompanhadas de conjunções como quando, se e
que (quando eu correr, se eu corresse, que eu corra). No futuro, usa-se, na
maioria das vezes, a conjunção quando ou se: Quando eu morrer ou Se eu
morrer.
O verbo ver é um tanto quanto “perigoso”, pois se parece com o vir no futuro do
subjuntivo. Exemplos: Quando você o VIR, dê-lhe um abraço. Quando eu vir (e
não Quando eu “ver”), quando tu vires, quando ele vir, quando nós virmos,
quando vós virdes, quando eles virem. Parece o verbo vir, mas não é.
O verbo vir ganha um e no futuro do subjuntivo: Quando eu viEr, quando tu
vieres, quando ele vier, quando nós viermos, quando vós vierdes, quando eles
vierem.
Lembre-se de que todos os verbos derivados, salvo raras exceções, conjugam-se
exatamente como os primitivos. O prever, por exemplo, é cópia fiel do primitivo
ver. É só colocar o pre na frente. Exemplos: Eu (pre)vejo, tu (pre)vês, ele (pre)vê,
etc.; Eu (pre)vi, tu (pre)viste, ele(pre)viu; Quando eu(pre)vir, quando
tu(pre)vires, quando ele(pre)vir.
Outros exemplos: Se eu (ante)pusesse...; Se esse papel (re)tiver a gordura...; Se
nós (ante)víssemos os acontecimentos...; Os funcionários (pro)puseram um
acordo à empresa.
Vimos, viemos
Alguns ofícios são redigidos com a fórmula inicial“Viemos” através desta... Mas
a construção está inadequada. Como o verbo utilizado é o VIR (eu venho, tu vens,
112
ele vem, NÓS VIMOS, vós vindes, eles vêm), a forma correta seria VIMOS, e não
“viemos”. Outro vício é usar a expressão através de (ver tópico Através de) fora
de seus sentidos originais (atravessar fisicamente ou decurso temporal). A forma
ideal seria, portanto, VIMOS, por meio desta,...
Vírgula
1) Primeira regra de ouro: vírgula e sujeito
É interessante, antes de compreendermos as regras básicas da vírgula,
desmistificar um antigo conceito: o de que esse sinal indica somente a pausa na
fala. Se pensarmos dessa maneira, o asmático virgulará de um jeito; o atleta, de
outro. Em verdade, a vírgula depende, além da pausa, do conhecimento da sintaxe
das orações, isto é, da maneira como são construídas.
Diante disso você pergunta: "Mas tenho que saber toda aquela análise sintática
que vi na escola?". Seria bastante oportuno, mas não é necessária a análise
sintática completa. Somente alguns conceitos são fundamentais, os quais você
conhecerá nas linhas que seguem.
O principal conceito sintático a ser conhecido é o SUJEITO: ser sobre o qual o
verbo informa algo. Para achá-lo, como já foi inúmeras vezes dito, basta perguntar
Quem? ou Quê? a qualquer verbo. Quase todos os verbos têm um sujeito. Quando
vamos corrigir um texto, temos que nos acostumar a visualizar os sujeitos dos
verbos que escrevemos, para que não cometamos falhas comuns, como a de
pontuação. Pensemos em um exemplo:
Muitos homens, preferem o caminho do dinheiro.
Perguntemos ao verbo: quem prefere? Sujeito: Muitos homens. Está vendo?
Agora você pode conhecer a primeira regra de ouro da vírgula:
113
NÃO SEPARE O SUJEITO DO PREDICADO (resto da oração) POR
VÍRGULA, NEM NA ORDEM INDIRETA!
Logo, a forma correta seria Muitos homens preferem o caminho do dinheiro (sem
a vírgula divorciando o sujeito do verbo). Outros exemplos:
O homem que estuda vive mais (quem vive mais? O homem que estuda é o
sujeito; sem vírgula, portanto);
As mulheres choraram; os homens dançaram (quem chorou? As mulheres é o
sujeito; sem vírgula, portanto; quem dançou? Os homens é o sujeito; sem vírgula,
é claro).
Vejamos agora alguns exemplos errados (a vírgula separa equivocadamente o
sujeito, entre colchetes, do resto da oração):
O autor requereu a emenda à inicial à fl. 14. [O réu], manifestou-se às fls. 18/20.
Estiveram presentes à audiência, [o réu, o autor e duas testemunhas].
Alega [o embargante], que o cálculo elaborado pelo embargado é errôneo.
2) Nunca haverá vírgula entre o sujeito e o verbo?
Em alguns casos, é permitido (mas não obrigatório) usar a vírgula entre o sujeito e
o verbo. Pensemos neste exemplo:
Colégio XX - quem faz, aprova.
Qual é o sujeito do verbo aprovar? Quem aprova? Quem faz... esse é o sujeito.
Pela regra, não poderíamos pospor-lhe a vírgula, não é verdade? Porém, ele
termina em verbo ("Quem faz"), e logo após aparece outro ("aprova"). Nesse
caso, é permitido o seu uso: "Quem faz, aprova".
114
Quando o sujeito for extenso, também será lícita a vírgula. Exemplo:
Aqueles três homens de ternos laranja que se encontram em frente ao mercado da
esquina, parecem suspeitos.
Qual é o sujeito do verbo parecer? Quem parece suspeito? Aqueles três homens
de terno laranja que se encontram em frente ao mercado da esquina. Como o
sujeito é relativamente extenso, poderia ter sido usada a vírgula. Facultativamente.
3) Que preciso saber para virgular bem?
Para nunca errar na virgulação, o ideal mesmo seria uma excelente noção de
análise sintática. Mas, como não é objetivo deste material o aprofundamento
teórico, tentaremos, nas próximas linhas, abordar somente os termos estritamente
necessários para uma boa pontuação.
Para começar, é interessante notar que a ordem direta das orações, geralmente, é
a seguinte:
A) SUJEITO; B) VERBO; C) COMPLEMENTOS; D) CIRCUNSTÂNCIAS.
Na ordem direta, acima indicada, normalmente não há por que usar vírgula!
Na dúvida, NÃO a use.
Falemos um pouco sobre cada um dos termos da oração citados.
O sujeito e o verbo você já conhece.
O primeiro é o ser ou a ideia sobre os quais o verbo informa algo. Basta perguntar
Quem? ou Quê? a cada verbo para encontrar o seu sujeito.
O verbo é palavra de noção intuitiva. Indica fatos e sofre flexões de tempo, modo,
número e pessoa.
115
E os complementos? Como o próprio nome diz, são os termos que completam
os verbos e nomes, chamados pela Gramática de objetos direto e indireto e
complemento nominal. Por exemplo, o verbo amar, na maioria das vezes, não tem
sentido sem um complemento. Imagine alguém lhe dizendo: "Eu amei...”. Não
faltou algo? Afinal, quem ama ama alguma coisa ou alguém. Esse alguma coisa,
ou alguém, seria o complemento do verbo.
Exemplos de complementos verbais (em negrito):
Todos precisam de justiça; (precisar de algo)
A esse testemunho, não dei credibilidade; (dar algo a algo)
Os alunos, bastante quietos, assistiam ao filme. (assistir a algo)
Os complementos, além de verbais, podem ser nominais, quando completam o
sentido de um nome, como se vê nos seguintes exemplos, nos quais os nomes
estão sublinhados: Ele tinha necessidade de carinho; O amor à pátria era
fantástico; Não há necessidade de chorar.
As circunstâncias (expressas pelo que a Gramática chama de advérbios e
palavras denotativas) são as condições em que o fato indicado pelo verbo ocorre.
As circunstâncias mais comuns são as de tempo, lugar, modo, intensidade,
afirmação, negação, dúvida, causa, concessão, finalidade e outras. Exemplos (as
circunstâncias vêm em destaque):
Os ministros não se encontraram na festa do Presidente da República (lugar);
Os dois se abraçaram agressivamente (modo);
Talvez nos tenha sido melhor essa situação (dúvida).
116
Ficando claras essas quatro definições, já podemos começar a entender melhor a
vírgula.
Primeira regra: a vírgula deve ser usada para separar sujeitos, verbos,
complementos ou circunstâncias que não estejam ligados por conjunção.
Exemplos:
Homens, mulheres, animais e crianças se desesperaram (usou-se a vírgula para
separar os sujeitos homens, mulheres, animais; crianças não foi precedido por
vírgula porque está acompanhado da conjunção e);
Eles choraram, gritaram, beberam e morreram (usou-se a vírgula para separar os
verbos choraram, gritaram, beberam; morreram não foi precedido por vírgula
porque está acompanhado do e);
Todos amam a TV, o rádio, as fofocas e a família (usou-se a vírgula para separar
os complementos a TV, o rádio, as fofocas; a família não foi precedido por
vírgula porque está acompanhado do e);
O evento acontecerá no sábado, às 15h, no Hotel Fênix [usou-se a vírgula para
separar as circunstâncias no sábado (tempo), às 15h (tempo), no Hotel Fênix
(lugar)].
Segunda regra: a vírgula marca o deslocamento dos termos na oração. Como
já vimos, a ordem direta é A B C D (A - sujeito; B - verbo; C - complementos; D circunstâncias).
Veja este exemplo:
[Os funcionários da embaixada] [encontraram] [o presidente] [durante o
encontro internacional].
A (sujeito) - Os funcionários da embaixada
B (verbo) - encontraram
117
C (complemento) - o presidente (quem encontra encontra alguém)
D (circunstância) - durante o encontro internacional (tempo)
Usar-se-iam duas vírgulas para isolar um elemento deslocado dessa ordem.
Exemplo 1: A B, D, C
Os funcionários da embaixada encontraram, durante o encontro internacional, o
presidente (a circunstância está isolada entre vírgulas, por estar fora de sua
posição natural, que seria o final da oração).
Exemplo 2: A, D, B, C
Os funcionários da embaixada, durante o encontro internacional, encontraram o
presidente.
Exemplo 3: D, A B C
Durante o encontro internacional, os funcionários da embaixada encontraram o
presidente.
Observação: quando o elemento deslocado está no começo da frase, usa-se, é
claro, apenas uma vírgula.
4) Então todo elemento deslocado vem com vírgula?
Não! Só a(s) use se os elementos deslocados forem suficientemente extensos para
“atrapalhar” a sequência da frase. Tomemos o exemplo anterior:
Os funcionários da embaixada encontraram o presidente durante o encontro
internacional.
118
Substituamos a circunstância, que é relativamente extensa, por outra, de menor
tamanho. A palavra hoje, que também indica tempo, serve como exemplo:
Os funcionários da embaixada encontraram o presidente hoje.
Se deslocarmos essa circunstância, não haverá a necessidade da(s) vírgula(s),
devido ao seu pequeno tamanho:
Os funcionários da embaixada encontraram hoje o presidente.
Entretanto, pode(m)-se usar a(s) vírgula(s) para enfatizar a circunstância:
Os funcionários da embaixada encontraram, hoje, o presidente.
Vale ressaltar: se o elemento estiver intercalado e você decidir pontuá-lo, use
DUAS VÍRGULAS, e não uma. Assim estaria ERRADA esta forma:
Os funcionários da embaixada encontraram hoje, o presidente.
5) Há outros elementos que interferem na ordem natural da frase?
Sim! Tudo o que está deslocado e interfere na ordem natural da frase é elemento
interferente. E, se tiver um tamanho considerável, deve vir isolado pela
pontuação. Para detectar esses elementos, é importante que tenhamos uma visão
sintática da frase. Urge identificarmos A, B, C, e D (sujeito, verbo, complementos
e circunstâncias). O que estiver “no meio” desses termos pode ser isolado por
vírgulas. Uma prova de que esses elementos são interferentes é o fato de poderem
ser excluídos da frase, sem prejuízo sintático. Vamos a um exemplo (os elementos
interferentes vêm em negrito):
Os marinheiros, pelo menos dizem por aí, não se comportaram na nova cidade.
E, como não bastasse, aterrorizaram as mulheres do porto, que, por serem
bastante recatadas, ficaram chocadas.
119
Veja que os elementos em negrito são intercalados e estão entre vírgulas. Se os
excluirmos, a frase continuará sintaticamente perfeita:
Os marinheiros não se comportaram na nova cidade. E aterrorizaram as
mulheres do porto, que ficaram chocadas.
As três orações presentes a esse trecho estão na ordem direta e, por isso, não
levam vírgula:
Oração 1 - Os marinheiros (A); comportaram-se (B); na nova cidade (D lugar);
Oração 2 - Os marinheiros (A - sujeito oculto); aterrorizaram (B); as mulheres
do porto (C);
Oração 3 - As mulheres (A - esse sujeito está sendo substituído pelo pronome
que); ficaram (B); chocadas (C).
6) Elementos intercalados: duas vírgulas ou nenhuma!
Cuidado: como já repisado, a vírgula não depende somente da pausa. Depende,
principalmente, da posição daqueles quatro elementos básicos da oração (sujeito,
verbo, complementos e circunstâncias - A B C D).
Vamos pensar no seguinte trecho do tópico anterior:
E, como não bastasse, aterrorizaram as mulheres do porto.
Notou a presença do e? Trata-se de uma conjunção, elemento responsável por
ligar orações ou termos da oração. Vamos entender melhor esse conceito.
120
Observe estas duas orações, a título de ilustração: Os diretores da multinacional
são egoístas; têm ajudado bastante os funcionários ultimamente. Primeiramente,
sei que são duas orações porque há dois verbos (um deles - têm ajudado - é uma
locução verbal, porque são dois verbos que valem por um). Como poderíamos
unir essas duas orações? Usando uma conjunção, claro! Ela funciona como um
conectivo: Os diretores da multinacional são egoístas, MAS têm ajudado
bastante os funcionários ultimamente. Foi escolhida a conjunção mas em virtude
de a segunda oração introduzir uma ideia contrária à expressa pela primeira. Se
alguém nos diz que fulano é egoísta, espera-se que este não ajude ninguém, não é
verdade?
Sempre que usamos uma conjunção para ligar orações, devemos ter em mente que
esse elemento conectivo introduz uma oração. Isso mesmo! Se há conjunção, na
maioria das vezes ela introduz, inicia uma oração. Voltemos ao exemplo:
E, [como não bastasse], aterrorizaram as mulheres do porto.
Qual é a oração que a conjunção e introduz? Se você respondeu aterrorizaram as
mulheres do porto, acertou! A oraçãozinha como não bastasse está entre a
referida conjunção e a oração que ela introduz, “atrapalhando o caminho”. É por
isso que se devem usar DUAS VÍRGULAS. Elas isolam qualquer elemento que
esteja interferindo na sequência natural da frase.
Outros exemplos (as orações interferentes vêm entre colchetes, para facilitar a
visualização):
Os meliantes demonstraram melhora; entretanto, [como era de se esperar], não
demoraram a fazer nova rebelião;
Isso não é justo porque, [como o senhor mesmo sabe], eu não fui registrado em
sua empresa;
Eles nem têm diploma. E, [mesmo assim], ganham mais que os outros.
121
Veja que os elementos em negrito acima poderiam ser retirados da oração, sem
prejuízo sintático. Como estão "atrapalhando" a sequência das orações, devem vir
isolados por DUAS VÍRGULAS. Contudo, se forem de pequena extensão
(exemplo 3), podem-se omitir as vírgulas: (...) E mesmo assim ganham mais que
os outros.
Detalhe importante: como já ressaltado, nesses elementos intercalados pequenos,
usam-se duas vírgulas ou nenhuma. Em hipótese alguma se deve usar apenas
uma (erro: "E mesmo assim, ganham...").
7) Vírgula após verbo e após “que”: pense muito bem antes de usar
Sempre que tiver vontade de usar uma vírgula no texto, pense duas vezes. Afinal,
se a oração estiver na ordem direta (sujeito, verbo, complementos e
circunstâncias), em regra não há motivo para se usar a vírgula. Caso você a use
mesmo assim, poderá separar, equivocadamente, o sujeito e o verbo, o verbo e o
complemento ou este e a circunstância.
Não é muito raro, nos textos jurídicos, encontrarmos uma vírgula logo após a
conjunção “que”, separando-a erroneamente da oração que esse conectivo
introduz. Da mesma forma, eventualmente se vê uma vírgula entre o verbo e essa
mesma conjunção “que”.
Guarde esta regra:
NA CONSTRUÇÃO “VERBO + QUE”, NUNCA HAVERÁ UMA SIMPLES
VÍRGULA ENTRE O VERBO E “QUE” OU LOGO APÓS “QUE”.
Isso porque não se separa um verbo de seu complemento por vírgula na ordem
direta, assim como não se separa a conjunção “que” da oração que ela introduz.
Na prática, se houver dúvida, não use vírgula.
Vejamos alguns exemplos ERRADOS:
122
a) O réu contestou no evento 14.5. Alegou QUE, o contrato contém cláusulas
abusivas.
b) Aduziu ainda, QUE fora induzido a erro.
c) A testemunha declarou outrossim, QUE não conhece o réu.
d) Esperava com isso, QUE a situação se resolvesse.
Note que, se entre o verbo e o “que” por ele introduzido houver qualquer elemento
intercalado, como nas três últimas frases anteriormente citadas, poderá haver
DUAS VÍRGULAS ou NENHUMA, mas jamais uma só.
Assim, as três últimas frases poderiam ser construídas sem qualquer vírgula OU
com duas:
Aduziu(,) AINDA(,) que fora induzido a erro.
A testemunha declarou(,) OUTROSSIM(,) que não conhece o réu.
Esperava(,) COM ISSO(,) que a situação se resolvesse.
Da mesma forma, se entre “que” e a oração por ele introduzida houver qualquer
elemento intercalado, poderá haver DUAS VÍRGULAS ou NENHUMA, mas
jamais uma só.
Retomemos o primeiro exemplo (letra “a”), desta vez com elemento intercalado
após o “que:
O réu contestou no evento 14.5. Sustentou que, APESAR DO ALEGADO NA
INICIAL, o contrato contém cláusulas abusivas.
123
Nesse caso, só foi possível a utilização de vírgula após “que” para o isolamento
do termo “apesar do alegado na inicial”. Repare que foram usadas DUAS
VÍRGULAS para isolá-lo. Jamais poderia ter sido usada uma só.
Em resumo:
a) VERBO + QUE: nunca haverá uma simples vírgula entre eles. Se houver
elemento intercalado, haverá DUAS ou NENHUMA. Exemplos:
A testemunha declarou que desconhecia o corréu. (sem vírgulas)
A testemunha declarou AINDA que desconhecia o corréu. (sem vírgulas)
A testemunha declarou, AINDA, que desconhecia o corréu. (duas vírgulas)
b) QUE + ORAÇÃO: nunca haverá uma simples vírgula entre eles. Se houver
elemento intercalado, haverá DUAS ou NENHUMA. Exemplos:
A testemunha declarou QUE desconhecia o corréu. (sem vírgulas)
A testemunha declarou QUE ATÉ ENTÃO desconhecia o corréu. (sem vírgulas)
A testemunha declarou QUE, ATÉ ENTÃO, desconhecia o corréu. (duas
vírgulas)
Antes de encerrarmos este tópico, é importante destacar mais uma vez que, quanto
mais curto for o elemento intercalado, menos necessária será a utilização das
vírgulas. Consequentemente, quanto mais extenso for o elemento intercalado,
mais necessária será a utilização das vírgulas. A título de ilustração, vejamos estes
exemplos:
É importante considerar que(,) ATUALMENTE(,) a situação de risco não
subsiste.
É importante considerar que, A DESPEITO DAS INFORMAÇÕES TRAZIDAS
NO ESTUDO SOCIAL DE FLS 145/148, a situação de risco não subsiste.
No primeiro, o termo intercalado (em destaque) é curto e poderia vir com vírgulas
ou sem nenhuma, a critério do autor do texto. No segundo, o termo intercalado é
124
extenso e, por essa razão, é fundamental que venha isolado pelas vírgulas, para
que não se comprometa a clareza da frase.
8) Antes do e nunca haverá vírgula?
Estamos habituados a nunca pôr a vírgula antes da conjunção e, mas existem
casos (bastante comuns, por sinal) em que ela deve existir. Exemplo:
Muitos sofreram, e poucos ganharam.
Aqui a vírgula é perfeita. Por quê? Porque o e introduz uma oração de sujeito
diferente do da anterior. Perceba que, nessa frase, há dois verbos; logo, dois
sujeitos: quem sofreu? Muitos é o primeiro sujeito; quem ganhou? Poucos é o
segundo sujeito. Viu só? A segunda oração tem sujeito diferente do da primeira.
Outros exemplos:
Há muitos problemas neste país, e temos que nos esforçar para mudá-lo (quem
há? O verbo haver no sentido de existir não tem sujeito; quem tem que se
esforçar? Nós é o sujeito);
ONU oferece ajuda, e Brasil recusa (quem oferece ajuda? ONU é o sujeito; quem
recusa? Brasil é o sujeito);
Inúmeras pessoas só cantam e dançam nas férias (nessa frase, não caberia a
vírgula antes do e, já que os dois verbos - cantar e dançar - compartilham o
mesmo sujeito. Quem canta? Inúmeras pessoas; quem dança? Inúmeras
pessoas).
Há outra situação em que a vírgula antes do e é obrigatória. Repare neste
exemplo:
Floriano, muito cansado da viagem, e sua esposa deitaram cedo.
125
O termo muito cansado da viagem está atribuindo uma qualificação a Floriano e
vem isolado por duas vírgulas. Veja que as vírgulas isolam esse termo.
Obrigatoriamente deve haver duas vírgulas. Ou duas, ou nenhuma. Veja este outro
exemplo:
As roupas, sujas como pau de poleiro, e a barba por fazer denunciavam-lhe a
algazarra noturna.
A vírgula antes do e faz par com a antes de sujas. Elas isolam o termo sujas como
pau de poleiro. Tanto isso é verdade que, se eliminarmos o termo isolado, a frase
continuará a ter sentido: As roupas  e a barba por fazer (...).
9) “Oi Fernando!” Essa frase está certa?
Não! O termo Fernando é, segundo a Gramática, um vocativo, termo que serve
para invocar, chamar, pedir a presença de qualquer ente, real ou imaginário. E,
por ser um vocativo, deve ser isolado por vírgula(s). Logo, o certo seria Oi,
Fernando! Com vírgula! Um detalhe: se o vocativo estiver acompanhado da
interjeição ó, os dois serão isolados. Exemplos: Veja só, caros amigos, o que foi
feito; Ó Maria, será que não me vês?; Venha logo aqui, rapaz!
10) E vírgula antes do mas? Existe?
É de praxe separar por vírgula as orações que indicam ideias contrárias (como é o
caso da oração introduzida por mas). Exemplos: Contestou, mas não provou; O
réu afirma a inépcia da inicial, porém exerceu plenamente seu direito de defesa.
Quanto às orações subordinadas introduzidas por conectivos que indicam tempo,
causa,
finalidade,
lugar,
explicação,
condição,
consequência,
modo,
conformidade e proporção, a vírgula torna-se mais importante quando essas
orações aparecem antes de outras. Vindo depois, a vírgula deve ser usada somente
se sua omissão comprometer a clareza da frase ou se a oração da esquerda (a
principal) for extensa. Exemplos (as vírgulas entre parênteses são dispensáveis):
126
Eu fiquei deveras feliz quando cheguei a casa (a oração grifada indica tempo; não
é necessária a vírgula, porque a oração da esquerda, principal, não é extensa);
Quanto mais se aprende, menos se sabe (a oração grifada indica proporção e vem
antes da outra);
Cheguei perto dela a fim de que me contasse todos os seus segredos (a oração
grifada indica finalidade);
Sem se cuidar, penará muito! (a oração grifada indica condição e vem antes da
outra).
Em síntese:
a) ORAÇÃO PRINCIPAL + ORAÇÃO SUBORDINADA: vírgula somente se a
primeira oração for extensa e houver pausa.
b) ORAÇÃO SUBORDINADA + ORAÇÃO PRINCIPAL: vírgula em regra.
11) Antes do porque a vírgula também é facultativa?
Existem dois porquês que merecem atenção: o causal e o explicativo. Antes do
explicativo, sempre use a vírgula; antes do causal, use quando a oração que vier
antes do porque for extensa.
Você deve querer saber como reconhecer o causal e o explicativo, não é? Vamos
aos exemplos:
1) Não corra, porque o chão está molhado;
2) Ela não veio porque está doente.
127
Todo porque explicativo pode ser substituído pela palavrinha que (Não corra,
QUE o chão está molhado); já o causal não pode (Ela não veio PORQUE está
doente). Notemos que em 1 a pausa é marcada pela fala, o que não acontece em 2.
Vamos a outros exemplos, adotando a seguinte regra prática: vírgula necessária
antes de porque substituível por que; caso contrário, usemos o sinal de pontuação
somente se a oração da esquerda for extensa.
3) Não era muito fã de trabalho(,) porque a família lhe ensinou assim (não cabe
que no lugar desse porque - causal; a vírgula é facultativa, já que a oração da
esquerda não é tão grande);
4) É bom ela vir logo, porque não tenho muita paciência (cabe que no lugar desse
porque - explicativo; usemos a vírgula);
5) O Governo insistiu em não assinar o acordo com os demais países, porque
julgou improcedentes as acusações (não cabe que no lugar desse porque - causal;
apesar disso, é interessante usarmos a vírgula, haja vista a grande extensão da
oração da esquerda).
12) Como se comporta a vírgula com conjunções como pois, entretanto e
todavia?
Vamos começar pelo pois. Essa conjunção pode ser explicativa (tendo o mesmo
valor de porque) ou conclusiva, com o sentido de logo, portanto, dessa maneira.
Quando ela introduz uma explicação, geralmente há vírgula antes, separando-a
da oração anterior. Vírgula depois, só se houver um elemento intercalado,
“atrapalhando” a sequência da frase.
O pois pode, ainda, introduzir uma conclusão. Nesse caso, vem entre vírgulas.
Exemplos:
128
As garotas se portaram bem, [pois as portas ficaram abertas] (o pois introduz
uma explicação; a vírgula vem antes);
As garotas se portaram bem, [pois, como já era combinado, as portas ficaram
abertas] (o pois também introduz uma explicação, tendo vírgula antes. A vírgula
que vem depois serve para isolar a oração intercalada, em negrito);
[O argumento, pois, não procede] (aqui o pois não está no começo da oração; tem
valor conclusivo e deve ser isolado por vírgulas).
As conjunções porém, contudo, todavia, entretanto e no entanto - que
introduzem ideias contrárias, assim como o mas - obedecem à mesma regra do
pois. A diferença é que no pois, dependendo de sua posição, há mudança de
sentido (explicativo ou conclusivo); as outras sempre conservam o valor
adversativo (ideias contrárias), independentemente de aparecerem no início da
oração (com uma vírgula antes, separando-a da anterior) ou no meio dela (isoladas
por vírgulas). Exemplos:
Esperei bastante, [contudo não desanimei];
Esperei bastante. [O desânimo, contudo, não tomou conta de mim];
Aquele garoto come muito, [no entanto continua magro];
Aquele garoto come muito. [Continua, no entanto, magro].
Obs.: As conjunções porém, contudo, todavia, entretanto e no entanto podem
iniciar frases após ponto. Nesse caso, usa-se a vírgula depois:
Muitos compareceram à festa daquele garoto. [Contudo, ele não tem amigos de
verdade].
13) E a vírgula antes do "que"?
129
Para usá-la corretamente, você deve ter em mente um conceito muito importante,
já abordado em outros tópicos: o pronome relativo. Entre várias funções, o que
pode desempenhar a de pronome relativo. E é antes dele que a vírgula costuma
aparecer de maneira equivocada.
Pronome relativo é todo vocábulo que retoma um termo, substituindo-o, e
introduz um verbo (oração). Veja este exemplo:
Essa é a mulher que eu amo.
Para saber se o que é pronome relativo, basta conferir se ele retoma um nome (que
não precisa ser, necessariamente, um nome de pessoa; pode ser qualquer
substantivo ou, ainda, pronome ou numeral). O nome que vem antes do que é
mulher (a mulher que eu amo). Vamos tentar colocar mulher no lugar do que,
para ver se a oração que o que introduz continuará a fazer sentido: a mulher eu
amo. Sim, fez sentido! Para ficar ainda melhor, é só inverter a ordem da oração: eu
amo a mulher. Se o que retomou um nome, pode-se dizer com certeza que é um
pronome relativo. E há outro detalhe, também importante: todo pronome
relativo introduz uma oração (enunciado com verbo). Veja só: Fulana é a
mulher [que eu amo]. Viu? A oração que eu amo está ligada ao nome mulher.
Vejamos mais um exemplo:
As músicas de que gosto não constam no CD.
A oração que o que introduz é de que gosto (se houver preposição - a, de, com,
em, para, sobre, etc. - antes do que, ela integrará a oração que ele introduz). O
nome que vem antes do que é músicas (músicas de que gosto). Se colocarmos
músicas no lugar do que, a oração fará sentido: de músicas gosto (ou gosto de
músicas). Pronto! O que é pronome relativo! E a oração que ele introduz está
ligada a um nome: As músicas [de que gosto] não constam no elepê.
130
Outro exemplo:
Todos nós queremos que ela melhore.
O que introduz a oração que ela melhore. Será que ele é pronome relativo? Será
que retoma um nome? Vamos tentar pôr o nós em seu lugar: "nós" ela volte. Não
fez sentido. Se não retomou um nome, esse que não é relativo. E pode ver que a
oração que ele introduz não está qualificando um nome, mas complementando um
verbo: Todos nós queremos [que ela melhore]. A oração que ela melhore
completa o verbo queremos. E nunca devemos separar por vírgula um verbo de
seu complemento.
Dica: quando pronome relativo, o que, na maioria das vezes, poderá ser
substituído por O QUAL, A QUAL, OS QUAIS ou AS QUAIS.
Bem, provavelmente você já deve ter compreendido o que como pronome relativo.
Já sabe que ele sempre introduz uma oração. Pois é justamente essa oração que
pode ou não ser isolada por vírgula(s). Tudo vai depender de seu significado, que
pode ser RESTRITIVO ou EXPLICATIVO. Vamos entender?
Veja estes dois exemplos:
1) O homem que fuma vive menos;
2) O homem, que é um ser vivo, deve rever suas atitudes.
A oração que fuma não vem entre vírgulas; a que é um ser vivo, por sua vez,
aparece isolada. Por que isso aconteceu?
Ambas são introduzidas por um que relativo, certo? Vejamos qual dessas orações
restringe, delimita o significado do nome a que está ligada. Nos dois casos, o
nome é homem. A oração que fuma está restringindo o significado de homem. De
todos os homens do mundo, a oração que fuma restringe, delimita, aponta
somente aqueles que fumam. Isso quer dizer que a frase em questão não se refere
131
a todos os homens do mundo. Diz respeito somente àqueles que fumam. Por isso,
a oração que fumam é restritiva.
A oração destacada no item 2, que é um ser vivo, não restringe nada. Ela nos
fornece uma ideia essencial do homem: todos os homens são seres vivos. É,
portanto, explicativa. Perceba que ela não nos traz novidade alguma. Tanto isso é
verdade que ela poderia ser excluída da frase, sem prejuízo ao significado: O
homem  deve rever suas atitudes.
Viu só? As explicativas sempre aparecem com vírgula(s). As restritivas,
nunca!

Como saber se a oração é restritiva ou explicativa?
Tenha em mente que a restritiva restringe, delimita. Seleciona um ou mais seres
dentre vários. A explicativa somente explica algo que é essencial ao ser a que se
refere. Antes de conferirmos novos exemplos, adotemos o seguinte raciocínio
lógico: uma oração só poderá restringir um nome se ele pertencer a um
grupo. Como delimitarei, restringirei um ser que é único? Não é possível! Logo,
todas as orações iniciadas por pronome relativo que estiverem ligadas a um
ser único serão explicativas: sempre com vírgula(s). Vamos a alguns exemplos:
1) (...) a reserva é rasgada pela BR - 376, que liga Curitiba ao interior do
Estado;
2) Uma empresa demoliu A ESTRADA ASFALTADA que levava ao parque;
3) A erosão está fortíssima. O PROBLEMA, que atinge outras áreas, não foi
controlado a tempo.
É interessante notar que todas as orações grifadas estão ligadas a um termo
nominal (BR - 376, estrada asfaltada e problema, respectivamente). E o que, nas
três orações, retoma os nomes, podendo ser substituído por o qual ou a qual. Isso
nos faz ter a certeza de que, em todos os casos, ele é relativo.
132
Em 1, a oração que liga Curitiba ao interior do Estado foi separada por vírgula
porque é explicativa. Não restringe BR - 376. Aliás, como poderíamos restringir a
BR - 376? Há várias estradas com esse nome por aí? Claro que não. Por esse
motivo, a oração ligada a ele só poderia ser explicativa. E com vírgula.
Em 2, a oração que levava ao parque restringe, delimita o nome estrada
asfaltada. Existem diversas estradas asfaltadas, e a referida oração restringiu,
delimitou uma.
No exemplo 3, a oração que atinge outras áreas explica o nome problema. Já
sabemos algo sobre o nome problema. Ele se refere a erosão, que aparece um
pouco antes. Desse modo, não se poderia restringir o problema, tendo em vista que
se trata de um já especificado. A oração é explicativa (com vírgula), portanto.
Vejamos outros exemplos:
4) Os efeitos da revelia incidiram contra o réu, que não contestou.
5) Os efeitos materiais da revelia não incidirão contra o réu que não contestou.
6) Segundo a testemunha fulana de tal, que não presenciou o fato, o réu é pessoa
de boa conduta social.
7) Segundo a testemunha que presenciou o fato, o réu é pessoa de boa conduta
social.
Em 4, como foi usada a vírgula antes do relativo que, subentende-se que só há UM
RÉU no processo. Como é ser único, não há como restringi-lo.
Em 5, como não foi usada a vírgula, subentende-se que haja mais de um réu e que
a informação se refere especificamente àquele que não contestou.
133
No exemplo 6, como foi nomeada a testemunha, trata-se de ser único, plenamente
identificado, o qual, por isso, não tem como ser restringido. A oração introduzida
pelo pronome relativo que só poderia ser explicativa.
Por derradeiro, na frase 7, observa-se que foi usada a palavra “testemunha” sem
qualquer especificação, de modo que não se pode saber a qual delas o autor se
refere. Como não foi usada vírgula antes do que, subentende-se que haja mais de
uma testemunha e que o autor se refere, especificamente, àquela que presenciou o
fato.

Só o que pode ser pronome relativo?
Não. Qualquer palavrinha que retome um termo nominal e o introduza em uma
nova oração é pronome relativo. Outros pronomes relativos comuns: onde, quem,
cujo, o qual, a qual. Exemplos:
1) Meus parentes moram em Ribeirão Preto, onde a água é mais límpida;
2) Josias é um homem a quem devo muito respeito;
3) Não tenho tempo para essa garota, cujas ofensas já aturei o bastante.
Em 1, onde retoma o nome Ribeirão Preto (a água é mais límpida em Ribeirão
Preto). A oração que ele introduz - onde a água é mais límpida - é explicativa,
porque se refere a um ser único (Ribeirão Preto).
No segundo exemplo, a oração a quem devo muito respeito está ligada ao nome
homem. E obviamente o está restringindo: de todos os homens existentes, esse é
um a quem devo respeito.
No exemplo 3, a oração cujas ofensas já aturei o bastante está ligada ao nome
garota, que é um ser único, já delimitado pelo pronome essa (...essa garota). Pela
134
frase, supõe-se que o falante já conheça a moça. Se é um ser único, não pode ser
especificado. A oração a ele ligada, logo, é explicativa (com vírgula).
Detalhe importante: lembre-se de que, se retirarmos as orações explicativas, não
haverá prejuízos ao sentido da frase. Imagine os exemplos 1 e 3 sem as
explicativas: 1) Meus parentes moram em Ribeirão Preto ; 3) Não tenho tempo
para essa garota . Tudo certo, não? Porém, se retirarmos a oração restritiva de 2,
a frase terá o sentido original prejudicado, porquanto ficará vaga: Josias é um
homem ...

Tudo o que for explicativo deve vir com vírgula(s)?
Sim! Até agora, você só viu as orações explicativas (se são orações, possuem
verbos). Há ainda os termos explicativos, sem verbos. Veja estes exemplos:
1) E o deputado, funcionário do povo, não quis atender o povo;
2) Muito aflito, o açougueiro mal podia falar;
3) João Fernandes, dono de uma grande loja no centro de Curitiba, é
considerado o maior comerciante do Estado.
Os termos isolados por vírgula(s) explicam ou qualificam um nome. Chamá-losemos de explicativos, apesar de a Gramática tradicional distinguir o aposto
explicativo do predicativo do sujeito, termos técnicos aos quais não nos
reportaremos agora, a fim de que você não se confunda. Em todos eles, pode
perceber, é possível construir uma oração com pronome relativo. Veja:
1) E o deputado, que é um funcionário do povo, não quis...;
2) O açougueiro, que estava muito aflito, mal podia falar;
135
3) João Fernandes, que é dono de uma grande loja no centro de Curitiba, é
considerado o maior comerciante do Estado.
Todos os termos entre vírgulas são explicativos porque se referem a um ser único,
já conhecido e citado pelo texto. Não restringem, somente explicam algo essencial
a tais nomes. Podem, inclusive, ser retirados da frase, sem grandes prejuízos a ela.

Essa regra também se aplica aos nomes de pessoas?
Sim. Uma construção bastante frequente é a posposição de um nome de pessoa a
um cargo ou qualificação. Chamaremos a essa estrutura de qualificação / nome,
só para simplificar. Quando ela ocorre, o nome pode ter a mesma função
restritiva de algumas orações, como as vistas logo acima. Ou pode, ainda, ser
explicativo, isolado pela(s) vírgula(s). Vejamos dois exemplos bastante simples:
O professor da UEL João Freitas foi considerado...;
O reitor da UEL, Fulano de Tal, assinou convênio...
Perceba que, em ambas as frases, há a sequência qualificação / nome (professor /
João; reitor / Fulano de Tal). Na primeira, o nome não veio isolado pela
pontuação, por ser um elemento restritivo. Quando se fala de professor da UEL,
refere-se a um grupo de pessoas. Não existe somente um professor na instituição.
Logo, o nome (João Freitas, no caso) restringe o professor de que se fala. Se é
restritivo, não pode vir com vírgulas de modo algum. Porém, em se tratando do
reitor, é sabido que somente uma pessoa ocupa esse cargo nas universidades.
Dessa forma, o nome (Fulano de Tal) não pode restringir ou delimitar o sentido da
palavra reitor, pois há somente um. O nome torna-se um elemento explicativo,
isolado obrigatoriamente pela pontuação.
É interessante reiterar que o elemento explicativo pode ser retirado da frase: O
reitor da UEL  assinou convênio. Como só há um reitor, a ausência do nome não
compromete o sentido. Todavia, se retirarmos o nome restritivo em O professor da
136
UEL João Freitas foi considerado... ("O professor da UEL  foi considerado"), o
leitor simplesmente não saberá de quem se trata, uma vez que há vários
professores na universidade, e o nome delimitaria esse grupo. Outros exemplos:
1) O réu, fulano de tal, faleceu (há somente um réu no processo);
2) O réu fulano de tal faleceu (há mais de um réu no processo);
3) A testemunha fulano de tal faleceu (há mais de uma testemunha no processo);
4) O Prefeito de Londrina, beltrano, vetou a lei... (há somente um prefeito);
5) O ex-Prefeito de Londrina beltrano não concorda com... (há vários exprefeitos)
Se o nome da pessoa, entretanto, vier em primeiro lugar, a qualificação sempre
estará isolada por vírgula(s), por ser termo explicativo: João Freitas, professor da
UEL, foi considerado...; Fulano de tal, reitor da UEL, assinou...; Fulano de tal,
Presidente da República, viajou....
Obs.: Só se usará o cargo com valor restritivo após o nome se houver em questão
mais de uma pessoa com o mesmo nome. Exemplo: Você conhece o João dono da
padaria (supondo que haja um João mecânico também). Esse tipo de construção,
porém, é pouco comum na linguagem formal.
14) Isto é, ou seja, ou melhor, aliás... entre vírgulas?
Quando essas expressões introduzem uma explicação, um esclarecimento,
costuma-se isolá-las por vírgulas. Exemplos: A criança mostrou-lhe a vida, isto é,
a maneira certa de viver; Resolvi mudar de vida, ou seja, parar de fumar.
15) Tanto ele, quanto ela são meus amigos – essa vírgula existe?
137
Não. Vamos pensar um pouco nessa frase? Você usou um verbo (são), que,
provavelmente, tem um sujeito. Vamos achá-lo: quem são meus amigos? Tanto
ele quanto ela. Perceba que, na verdade, há dois núcleos do sujeito: ele e ela. Eles
são ligados por estruturas correlatas (Tanto... quanto), caso em que a vírgula é
desnecessária. Veja alguns exemplos: Tanto ele quanto ela são meus amigos;
Não só Carlos mas também João vieram à festa; Tanto eu como meu primo
fomos prejudicados.
16) Antes de e sim se usa a vírgula?
Certamente. A expressão e sim, que introduz uma ideia contrastante, uma
correção da anterior, deve ser precedida de vírgula. Entretanto, não se deve isolar
o sim com vírgulas. Use somente uma, antes do e. A regra também vale para e
não. Exemplos: Ele não fez as tarefas de que foi incumbido, e sim as que ele quis;
Ela quis agradar-me, e não ofender-me.
17) Vírgula e também
Em regra, não se devem isolar por vírgulas as palavras denotativas* (como
também, apenas, até, etc.), a não ser naqueles casos em que se queira enfatizar
algumas delas. Exemplos:
O delegado também assinou o abaixo-assinado (e não "O delegado, também,
assinou...");
O delegado até assinou o abaixo-assinado;
O delegado apenas assinou o abaixo-assinado;
O delegado assinou também o abaixo-assinado...
* O termo palavra denotativa refere-se a alguns vocábulos que se assemelham a
advérbios. Como muitas vezes não exercem a função primordial dessa classe de
138
palavras (modificar verbo, advérbio, adjetivo ou oração), ganharam denominação
especial. Exemplos: também - palavra denotativa de inclusão; apenas - palavra
denotativa de exclusão; até - palavra denotativa de inclusão.
18) Vírgula e parênteses
Nunca haverá vírgula antes de parênteses. Poderá, sim, haver depois deles,
quando, por exemplo, estiverem no fim de um elemento intercalado. Exemplo:
Os acusados, assim como suas mulheres (ou namoradas), estão detidos na...
A oração comparativa assim como as suas mulheres está “atrapalhando” a ordem
natural da frase. E, no fim dessa oração, há uma observação entre parênteses. A
vírgula que isolou a oração foi obrigatoriamente mantida.
19) Antes de nem há vírgula?
Somente se o nem for repetido: Nem... nem. Exemplo: Nem os bancários, nem
os banqueiros compareceram; Não querem saber nem de conversa, nem de paz.
Aliás, todas as conjunções repetidas são marcadas por vírgula (antes da segunda,
obviamente): Ora...ora; quer... quer; ou... ou;. etc. Exemplos: Ora viaja, ora fica
em casa; Estarei em casa quer queira, quer não queira.
Se as conjunções nem e ou estiverem sozinhas, será usada a vírgula se a oração da
esquerda for extensa. Exemplo: Eles não enviaram as informações necessárias ao
desenvolvimento da empresa em que trabalhavam, nem avisaram ao chefe (veja
como a oração da esquerda é extensa).
20) Vírgula antes de como
Observemos estas duas frases: 1) Elas gostam de artistas como Tom Jobim,
Gilberto Gil e Caetano Veloso; 2) Elas gostam de vários artistas, como Tom
Jobim, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Notou que antes do segundo como há
139
vírgula? O primeiro como introduz uma oração comparativa: Elas gostam de
artistas (que sejam) como (é) Tom Jobim, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Nesse
caso, não se usa a vírgula. No segundo caso, o como introduz uma enumeração,
isto é, palavras que enumeram e exemplificam o que acabou de ser dito. Perceba
que o nome antes do como veio determinado por uma palavra (vários, no caso).
Isso é muito comum quando em seguida vem uma enumeração: Elas gostam de
vários artistas, como (por exemplo) Tom Jobim, Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Notou a diferença?
Logo, fique atento à intenção do como. Se ele introduzir uma enumeração
(exemplos), a vírgula, em regra, será necessária, em razão da pausa na fala. Em
se tratando de comparações, não.
21) Vírgula antes do etc.
Alguns gramáticos a recomendam, outros não. Estes dizem que, pelo significado –
e outras coisas –, a vírgula deve ser dispensada, pois já existe o e (sabe-se que,
geralmente, antes do e não há a vírgula). O argumento é bom, mas os modelos
(leia-se A Vírgula, de Celso Pedro Luft) são mais fortes. Grandes autores e obras –
inclua-se o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – usam a vírgula. Para
padronizar o uso, recomenda-se o uso da vírgula antes de etc.
22) Vírgula e artigos de leis
Quando se cita somente o artigo da lei, não há vírgula. Se, além do artigo, houver
menção a parágrafo, inciso ou alínea, deverão estes ser isolados por duas
vírgulas (jamais uma só). Cada parágrafo, inciso ou alínea citados devem ser
interpretados como termos intercalados e, por isso, ser isolados por duas vírgulas.
Exemplos:
Artigo 1º da Lei X.
Artigo 1º, parágrafo 2º, da Lei X.
Artigo 1º, parágrafo 2º, inciso III, da Lei X.
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