COMPOSITORES BIOGRAFIAS ALBERT ROUSSEL (1869-1937) Nasceu em Tourcoing e morreu em Royan. É um dos grandes compositores franceses do século XX, mas também um dos mais incompreendidos. Embora desde criança revelasse tendência para a música, foi no entanto o mar a sua primeira paixão. Em 1887, iniciou uma carreira como oficial da Marinha, na Escola Naval de Brest, causando-lhe uma profunda influência a sua comissão de serviço na Indochina. Em 1894 pediu a demissão e instalou-se em Paris, onde estudou Harmonia, Contraponto e Fuga com Eugène Gigout, organista reputado, e, depois, Orquestração com Vincent d’Indy, na Schola Cantorum. A ópera-bailado Padmâvati e algumas peças de música de câmara confirmam o seu talento, mas é pelas suites de bailado – O Festim da Aranha e Bacchus et Ariane – e pelas sinfonias – sobretudo a Sinfonia n.º 1, O Poema da Floresta – que Roussel é mais conhecido do público de concertos. A sua estética impressionista revela uma clara influência de Debussy. ALBERTO GINASTERA (1916-1983) Compositor argentino, nasceu em Buenos Aires em 1916. Estudou no Conservatório Williams, nessa cidade, entre 1928 e 1935, e no Conservatório Nacional entre 1936 e 1938. A suite de ballet Panambi foi interpretada em Buenos Aires, em 1937. Em 1942 recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim. Viveu em Nova Iorque entre 1945 e 1947. No ano seguinte regressou à Argentina para ensinar e compor, tendo entretanto atravessado um período difícil durante o regime de Perón. Fundou várias escolas de música incluindo o Centro para Estudos Superiores de Música em Buenos Aires, do qual foi diretor entre 1962 e 1969. Em 1971 muda-se para Genebra onde vem a falecer em 1983. Se até 1958 a sua música se baseava em idiomas nacionalistas, mais tarde adota procedimentos mais avançados, como o serialismo (utilizado pela primeira vez na sua Sonata para piano), os microtons e os ritmos aleatórios. ALDEMARO ROMERO (1928-2007) Aldemaro Romero (12 de Março de 1928 – 15 de Setembro de 2007) foi um pianista, compositor, arranjador e maestro de orquestra venezuelano. Nasceu em Valência, Estado de Carabobo. Foi um compositor prolífico, criando uma grande variedade de música – do Caribe, jazz e valsas venezuelanas –, compreendendo obras para orquestra, para orquestra e solista, para orquestra e coro, música de câmara e obras sinfónicas. Iniciou os seus estudos musicais com o seu pai, Rafael Romero. Em 1941 mudou-se para Caracas e trabalhou como pianista em bares nocturnos e em orquestras de dança. Em 1949 foi para Cuba e depois para Nova Iorque. Três anos depois regressou a Caracas e estabeleceu a sua própria orquestra de dança. Em 1951 Romero tornou-se arranjador na editora RCA Victor, em Nova Iorque. Como parte deste contrato, lançou o seu álbum Dinner in Caracas, primeiro da série de álbuns Dinner In..., com música popular latino-americana. Nos Estados Unidos colaborou com muitos músicos, entre os quais Dean Martin, Jerry Lee Lewis, Stan Kenton, René Touzet, Machito e Tito Puente. Também fez várias digressões, tocando em vários países: México, Porto Rico, Colômbia, Peru, Brasil, Argentina, Espanha, França, Grécia, Suíça, Suécia, Itália, Rússia, Egipto e Japão. Romero é considerado o criador do estilo New Wave venzuelano, derivado do joropo e da brasileira bossa nova. Além do seu trabalho em música popular, Romero esteve envolvido em música de concerto. Fundou a Orquestra Filarmónica de Caracas em 1979 e foi o seu primeiro maestro. Também foi convidado a dirigir a Orquestra Sinfónica de Londres, a Orquestra de Câmara Inglesa, a Orquestra Nacional da Rádio da Roménia e a Royal Philharmonic Orchestra. Romero é pai do biólogo Aldemaro Romero Jr. e de Ruby Romero-Issaev, produtor e director de marketing do Arts Ballet Theatre da Florida, nos EUA. ALEXANDRE DELGADO (n.1965) Nasceu em 1965 em Lisboa e estudou na Fundação Musical dos Amigos das Crianças. Foi aluno particular do compositor Joly Braga Santos e obteve o diploma de violino e de composição do Conservatório Nacional (como aluno externo) em 1983. Fez o Curso Superior de Composição com Jacques Charpentier no Conservatório de Nice (como bolseiro da SEC), obtendo o 1.º prémio em 1990. Aluno de Barbara Friedhoff em violeta, foi vencedor do Prémio Jovens Músicos em 1987 e integrou a Orquestra Juvenil da Comunidade Europeia e a Orquestra Gulbenkian. Em 1992 ganhou o Prémio João de Freitas Branco e recebeu encomendas de festivais do País de Gales e de Londres. Antagonia para violoncelo solo foi seleccionada pelo júri da SIMC para os Dias Mundiais da Música 93, na Cidade do México. É autor da ópera de câmara O Doido e a Morte, baseada na farsa de Raul Brandão, cuja estreia dirigiu no Teatro Nacional de São Carlos em Novembro de 1994 e em Berlim em Dezembro de 1996, numa versão em inglês (Death and the Madman). Dedica-se assiduamente à música de câmara e fez diversas estreias de obras suas e de colegas, tendo realizado recitais com piano em Roma e em Paris, cidade onde gravou a Sonatina de Armando José Fernandes para a etiqueta Coriolan. Estreou o seu Concerto para violeta como solista em Portugal (com a Orquestra Gulbenkian) e na Holanda, onde foi compositor convidado do Festival de Maastricht em 2001. A sua obra Tresvariações, encomendada pela Fundação Gulbenkian para a sua orquestra, foi tocada em Janeiro de 2003 na abertura de Coimbra Capital Nacional da Cultura. É autor do livro A Sinfonia em Portugal, lançado pela Editorial Caminho em 2002. Foi crítico musical na imprensa (1990-2001) e assina desde 1996 um programa de análise musical na Antena 2 (“A Propósito da Música”). Tem realizado conferências e concertos comentados no país e no estrangeiro e é desde 2002 director artístico do Festival de Música de Alcobaça. ANTON WEBERN (1882-1945) Nasceu em Viena em 1882. Compositor e maestro austríaco iniciou os estudos com sua mãe, que era pianista. Estudou em Klagenfurt com Edwin Komauer, compondo as suas primeiras obras em 1899. Entrou na Universidade de Viena em 1902, estudando musicologia com Guido Adler. Estudou composição com Pfitzner e posteriormente tornou-se aluno de Schoenberg (1904-1908). Foi amigo íntimo de Alban Berg. Em Viena foi muito ativo no ambiente da Sociedade de Execuções Privadas de Schoenberg (1918-1922) e dirigiu concertos sinfónicos para trabalhadores (1922-1934). A sua música foi proibida pelos nazis, tendo sido classificada como “bolchevismo cultural”, embora Webern tivesse alguma simpatia pela causa nazi, como se reflete no texto das suas cantatas. Foi morto acidentalmente por uma sentinela americana, em 1945. A música de Webern, ignorada em vida por quase todos (exceto pela BBC), tomou-se o elemento de união da geração de compositores europeus posterior a 1945, incluindo Stockhausen, Boulez e Maderna, e mesmo de compositores mais velhos como Stravinsky e Eimert. Muito embora a vanguarda do pós-guerra tenha admirado a sua música pelas inovações técnicas que contém, como a serialização das durações e dos níveis dinâmicos, não se deve esquecer que Webern pertence acima de tudo à tradição romântica, como se deduz dos textos que escolheu para as suas obras vocais. ANTONÍN DVOŘÁK (1841-1904) Nasceu na Boémia. Formou-se na escola de organistas de Praga. Violinista e posteriormente violetista no teatro da cidade, ainda muito jovem começou a compor as suas primeiras partituras de música de câmara e sinfónica. Organista da Igreja de Saint-Adalbert, de 1871 a 1878, foge à pobreza partindo para Viena, onde travou conhecimento com Brahms. Este ajudou-o a editar Danças Eslavas para dois pianos que, juntamente com as Duetos Morávios, dão início ao período da sua maturidade criativa, onde se assiste a uma reconciliação com as suas raízes eslavas. Efetuou, em seguida, diversas viagens, de Inglaterra à Rússia, até ao Novo Mundo. Em 1892, foi nomeado diretor do Conservatório de Nova Iorque, cargo que abandona em 1895 para lecionar no Conservatório de Praga, do qual posteriormente foi diretor, em 1901. O seu nome será sempre associado a obras sinfónicas como a Sinfonia n.º 9 “do Novo Mundo” e à sua música de câmara, mas Dvořák abordou com igual mestria repertórios de ópera, de música coral profana e de música sacra. Com Smetana, contribuiu para dar à música checa uma dimensão internacional. ANTÓNIO AUGUSTO AGUIAR (n.1968) Após a sua formação na ESMAE com Florian Pertzborn, graduou-se em 2000 com Distinção no Mestrado em Performance MMUS na Royal Academy of Music – Londres, com Duncan Mctier. Foi premiado com o Major Prize “Special Foundation Award” e obteve o diploma “Licenciate – Double Bass teacher”. Venceu o concurso “Manlio & Selma Di Veroli Double Bass Prize” (1999). Solista do grupo de música contemporânea Remix Ensemble desde 2000, gravou uma dezena de CD dedicados à música contemporânea. Integra o grupo de câmara Camerata Senza Misura com o qual gravou o CD Miguel Torga – retratos e paisagens - Numérica. Desenvolve desde 1992 uma sólida actividade na área do jazz. Foi durante cinco anos contrabaixista da Orquestra de Jazz de Matosinhos. Destaca-se a participação nos CD A Lenda de Carlos Azevedo, Encomenda do Quinteto de Mário Santos, Narsad Suite de Luis Lapa, Ad Libitum para contrabaixo solo, Raku de Hugo Danin Trio e Nuvem do quarteto de Mário Santos. A sua obra Pandora (Improvisação) foi interpretada pelo Remix Ensemble na Casa da Musica (Porto), nos Açores, em Clairemont Ferrain (França) e no Festival de Huddersfield (Inglaterra). É professor na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo. António Aguiar concluiu em 2012 o Doutoramento em Música na Universidade de Aveiro com o tema: Forma e memória na Improvisação. ANTONIO SACCHINI (1730-1786) Antonio Maria Gasparo Gioacchino Sacchini (Florença, 14 de Junho de 1730 – Paris, 6 de Outubro de 1786) foi um compositor de ópera italiano, e um dos principais compositores da ópera séria. Sua obra é notada pela melodia expressiva e pela variedade harmónica. Nasceu em Florença mas cresceu em Nápoles, onde recebeu educação musical em Sant'Onofrio a Capuana. Já no Santa Maria di Loreto era um dos alunos preferidos, tornandose segundo maestro em 1761. Começou a escrever óperas tanto cómicas quanto sérias, para Nápoles e Roma, entre outros. Em 1768 mudou-se para Veneza a fim de assumir a directoria do Conservatório do Ospedaletto. Após breve período na Alemanha, mudou-se em 1772 para Londres, onde se manteve com grande sucesso até 1781. Por fim, mudou-se para Paris, onde permaneceu até à morte. ARNOLD SCHOENBERG (1874-1951) Nasceu em Viena em 1874. Durante a juventude aprendeu violoncelo e violino. Começou a compor cedo, tendo estreado em 1897 um quarteto de cordas e algumas canções. Em 1899 compôs Verklärte Nacht e em 1900 começou a trabalhar nos Gurrelieder, ambas num estilo romântico pós-wagneriano. Como reconhecimento do mérito dos Gurrelieder obteve uma bolsa e o lugar de professor no Conservatório Stern de Berlim, recomendado por Richard Strauss. Regressou a Viena em 1903. Nas composições efetuadas entre 1903 e 1907, Schoenberg explorou até ao limite a harmonia cromática e as estruturas tonais tornaram-se cada vez mais indefiníveis até que, em 1909, chegou à atonalidade com 3 Peças para piano, op. 11 e o ciclo de canções Das Buch der hängenden Gärten. Em 1911 publicou o seu magistral Tratado de Harmonia. Em 1918 fundou em Viena a Sociedade para Execuções Musicais Privadas, onde nenhum programa podia ser previamente anunciado e o aplauso era proibido. Depois de um período em que pouco escreveu, em 1923 as suas novas composições introduziram o método de composição dodecafónica que constituía a técnica de Schoenberg para organizar música atonal. Em 1925 foi convidado para ensinar composição na Academia Prussiana de Artes, onde permaneceu até 1933, data em que foi demitido pelos nazis e abandonou a Alemanha. Foi também um pintor de talento. Morreu em Los Angeles em 1951. ARTIE SHAW (1910-2004) Arnold Jacob Arshawsky, conhecido como Artie Shaw (Nova Iorque, 23 de Maio de 1910 — Thousand Oaks, 30 de Dezembro de 2004), foi um clarinetista de jazz estado-unidense, famoso por clássicos como Begin the Beguine e Oh, Lady Be Good. Em 1940 Shaw participou do filme Second Chorus, estrelado por Fred Astaire e Paulette Goddard, no papel dele mesmo e recebeu duas nomeações para o Óscar pela Melhor Banda Sonora e Melhor Canção (Love of My Life). A sua autobiografia The Trouble With Cinderella: An Outline of Identity foi publicada em 1952 e, mais tarde, reeditada em 1992 e em 2001. ARVO PÄRT (n. 1935) Nasceu numa pequena cidade próxima de Taline, capital da Estónia. Assistiu à ocupação do seu país pela União Soviética, durante mais de cinquenta anos, o que teve um efeito profundo na sua vida e obra. Realizou os seus estudos na Escola Secundária de Música de Taline e no Conservatório de Taline, onde teve aulas de composição com Heino Eller. Durante dez anos, trabalhou para a rádio da Estónia como técnico de gravação, ao mesmo tempo que escrevia música para teatro e recebia numerosas encomendas para bandas sonoras de filmes. Nekroloog foi a sua primeira composição a usar o serialismo, tendo prosseguido nesta mesma linha com as peças Sinfonia n.º 1, Sinfonia n.º 2 e Perpetuum Mobile. Cansado do rigor dominante, experimentou trazer aos seus trabalhos colagens técnicas, de que é exemplo Collage über Bach. A partir de 1976 descobriu uma nova técnica a que chamou “tintinnabuli” (do latim, pequenos sinos), a que se manteve fiel. Depois de deixar a Estónia, na década de 1980, concentrou-se em textos religiosos, com coros e ensembles, que se tornaram conhecidos por todo o mundo. No seu sexagésimo primeiro aniversário, os seus trabalhos foram condecorados pela American Academy of Arts and Letters. Em Maio de 2003 foi galardoado com o Contemporary Music Award na cerimónia Classical Brit Awards no Royal Albert Hall, em Londres. ASTOR PIAZZOLA (1921-1992) Nasceu em Mar del Plata, Argentina, em 1921. Em 1925 a família foi viver para Nova Iorque, onde se manteve até 1936. Aos 8 anos o seu pai ofereceu-lhe o seu primeiro bandoneón, instrumento que estudou durante um ano com Andrés D’Áquila; fez a sua primeira gravação, Marionette Spagnol – um disco fonógrafo (não comercial) na Radio Recording Studio em Nova Iorque. A versatilidade vem-lhe das influências que recebeu na juventude: durante a sua estadia em Nova Iorque, estudou com a pianista húngara Bela Wilda, discípula de Rachmaninov, com quem aprendeu a gostar de Bach. Pouco depois, conheceu Carlos Gardel que se tornou um grande amigo da família. Em 1936 voltou com a família para Mar del Plata, onde começou a tocar em algumas orquestras de tango. Em 1943 começou o seu trabalho em música clássica com Suite para Cuerdas y Arpas e em 1946 funda a sua primeira orquestra, que se dissolveu em 1949. Em 1946 compôs El Desbande, considerada por Piazzolla o seu primeiro tango formal, e pouco depois começou a compor bandas sonoras para filmes. Entre 1950 e 1954 compõe uma série de trabalhos, totalmente diferentes da concepção de tango do seu tempo, que posteriormente virá a definir o seu estilo único: Para lucirse, Tanguango, Prepárense, Contrabajeando, Triunfal, Lo que vendrá Esteticamente, levou o tango aos seus limites, de tal forma que muitos não tiveram a capacidade de o acompanhar ou entender. Foi um músico versátil, hoje reconhecido pelo legado da música argentina, mas também criador de um repertório que integra os programas de formações de câmara e de orquestras sinfónicas. Com elementos heterogéneos e não convencionais (jazz, música clássica, experimental) produziu uma música única dominada pela influência do Tango. BÉLA BARTÓK (1881-1945) Nasceu em Nagyszentmiklos, cidade húngara na altura, mas que hoje pertence à Roménia. Cresceu numa família de músicos e teve as suas primeiras aulas de piano com a mãe. Estudou Direcção com Lazlo Erkel até 1889, quando foi admitido na Academia Real de Música de Budapeste e aí estudou com Istvan Thoman, que fora aluno de Liszt. Em 1902 ouviu uma interpretação de Also Sprach Zarathustra, de Richard Strauss, que estimulou de tal maneira as suas potencialidades como compositor que em 1903 escreveu o poema sinfónico nacionalista Kossuth. Foi um dos fundadores da etnomusicologia – estudo e etnografia da canção popular – e é considerado um dos grandes compositores do século XX. No virar do século, torna-se amigo de Zoltan Kodály, com quem inicia uma pesquisa sobre as tradições musicais populares. Já nomeado professor da Academia de Budapeste, atinge a maturidade nos anos que antecedem a Primeira Guerra Mundial. Compõe óperas notáveis, como O Castelo de Barba-Azul, mas o piano permaneceu o seu instrumento de eleição. Pouco reconhecido no seu país, Bartók parte em diversas digressões e, com a invasão da Hungria pelos nazis, emigra para os EUA, onde viria a morrer de leucemia em 1945. BENJAMIN BRITTEN (1913-1976) Compositor, pianista e maestro inglês. A influência das suas raízes inglesas está muito presente na sua música: a influência que o folclore britânico exerceu sobre a sua inspiração, o culto que votou durante toda a sua vida a Purcell, a sua predileção pela vocalidade. No entanto, Britten é também conhecido pelo seu ecletismo: uma vasta cultura, o seu perfeito conhecimento das músicas dos seus contemporâneos, um modo muito pessoal de “tocar em tudo”. Britten é reconhecido, pelo menos no seu país, como um “clássico”. Nada, de resto, predispunha este feroz independente para as revoluções estéticas: um humor sólido, a sua aversão a qualquer género de ênfase e os seus gostos de artesão escrupuloso permitiram-lhe resistir a todas as solicitações vanguardistas. Inicialmente aluno de Frank Bridge, fez os estudos de composição com John Ireland, no Royal College of Music de Londres, e os estudos de piano, de que viria a ser um excelente executante, com Arthur Benjamin). Notavelmente dotado, começou muito cedo a compor. A sua primeira obra marcante, uma Sinfonietta para orquestra de câmara, data de 1932; as Variações sobre um tema de Frank Bridge, escritas cinco anos depois, estabeleceram a sua reputação. De 1939 a 1942, Britten, profundamente antimilitarista, exilou-se nos Estados Unidos; no entanto, tomou depois a corajosa decisão de regressar a Inglaterra em plena Guerra, para se instalar definitivamente na costa do mar do Norte, em Aldeburgh. Entretanto, a sua ópera Peter Grimes confirmaria uma vocação para o teatro lírico, até então pouco conseguida na obra anterior. Foi a confirmação dessa vocação que o levou a escrever algumas das obras-primas do século (sobretudo Sonho de Uma Noite de Verão e The Turn of the Screw) e a participar na fundação do English Opera Group, modesta mas brilhante companhia votada à criação de óperas “de câmara” que o compositor muito estimava. O melhor da sua produção, uma espantosa facilidade de escrita, um catálogo bem fornecido, parece estar, incontestavelmente, na sua música vocal (óperas, obras diversas para vozes e orquestra, ciclos de melodias). Contudo, não é possível ignorar tudo o que Britten escreveu para orquestra, para orquestra com vozes ou em estilo concertante. CAMILLE SAINT-SAËNS (1835-1921) Compositor e pianista, nasceu em Paris, onde iniciou os seus estudos de piano aos dois anos e meio, com a sua tia. Aos sete anos, sob a orientação de Pierre Maledin, teve as primeiras aulas de composição. Foi ainda aluno de Stamaty e de Boëly antes de entrar no Conservatório em 1948, onde estudou órgão e composição e teve como professor Halévy. Com pouco mais de 20 anos, tinha já conquistado a admiração de Berlioz, Liszt, Gounod, Rossini, entre outros notáveis do mundo da música. Foi organista na Madeleine e professor na Ecole Niedermayer, onde Fauré foi seu aluno. Cofundou a Société Nationale de Musique. Apesar de na sua terra natal não ter recebido a mesma aclamação, em Inglaterra e nos Estados Unidos foi considerado o melhor compositor francês da sua geração, recebendo particular atenção nos concertos que apresentou em terras norte-americanas em 1915. Compôs sonatas, música de câmara, sinfonias, concertos e óperas. Compôs também quatro poemas sinfónicos num estilo influenciado por Liszt. Morreu em 1921, na Algéria. CARL PHILIPP EMANUEL BACH (1714-1788) Nascido em Weimar em 1714, foi o quinto filho de J. S. Bach. Estava destinado à carreira de jurista mas acabou por se dedicar à música durante a sua estada na Universidade de Frankfurt. Em 1738 tornou-se cravista, em Berlim, na corte de Frederico, o Grande, mantendo este lugar até 1767, quando sucedeu a Telemann como director de música religiosa em Hamburgo. Tentou, sem sucesso, suceder ao pai em Leipzig. O seu principal contributo residiu no desenvolvimento da forma sonata, dando-lhe maior peso e imaginação, qualidades evidentes nas suas sonatas para tecla, das quais existem mais de duzentas, mas também nas suas sinfonias, concertos (mais de 50) e sonatas para violino. Também compôs vinte e duas paixões, duas oratórias e muitas canções. Escreveu um célebre tratado sobre a arte de tocar teclado. Morreu em Hamburgo em 1788. CÉSAR GUERRA PEIXE (1914 -1993) César Guerra-Peixe nasceu em Petrópolis (RJ) em 18 de Março de 1914, de ascendência portuguesa. Aos sete anos já tocava violão, violino e piano de ouvido. Dos sete aos dez anos viajou por algumas localidades dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Iniciou seus estudos de violino com o professor Gao Omacht, no Conservatório Santa Cecília de Petrópolis, no ano de 1925. Neste estabelecimento estudou também piano e teoria musical. Mais tarde, na Escola Nacional de Música, estudou com Paulino d’Ambrósio. No período que vai de 1930 a 1933, compôs música popular, que instrumentava, a fim de adquirir prática. Em 1934 foi definitivamente para o Rio de Janeiro e fez parte de orquestras de salão em confeitarias, bares e cafés e, esporadicamente, em orquestras sinfónicas. Em 1938 iniciou novos estudos de harmonia no curso particular com o professor Newton Pádua, ingressando depois no Conservatório Brasileiro de Música, no ano de 1943, onde fez cursos de aperfeiçoamento em composição, contraponto e fuga com Newton Pádua e H. J. Koellreutter, que o iniciou à técnica dodecafónica. Foi um dos fundadores do Grupo Música Viva, que abandonou em 1949, por ocasião de uma viagem a Recife, onde assistiu a diversas apresentações folclóricas; e tão impressionado ficou com o Maracatu, que, finalmente decidiu abandonar definitivamente o dodecafonismo, voltando a professar o nacionalismo musical. Teve a sua Sinfonia n.º 1 (1946) executada pela Orquestra da BBC de Londres. Mais tarde, seu Noneto foi regido por Hermann Scherchen, que o convidou para a residir na Europa. Mas Guerra Peixe preferiu assinar contrato com uma emissora de rádio do Recife, como orquestrador e compositor, a fim de poder estudar os aspectos menos divulgados do folclore nordestino. Ali aprofundou suas pesquisas, colhendo temas, anotando ritmos, observando cada peça e reunindo conclusões que seriam publicadas, em 1956, em sua esplêndida obra Maracatus do Recife. Realizou também pesquisas em São Paulo. Fixou residência no Rio de Janeiro a partir de 1962, tornando-se violinista da Orquestra Sinfônica Nacional e professor de composição do Seminário de Música Pró Arte. Leccionou também na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e na Escola de Música Villa-Lobos. Foi o criador da Escola Brasileira de Música Popular. Faleceu no Rio de Janeiro em 26 de Novembro de 1993. Guerra Peixe é autor de uma obra vasta, abrangendo praticamente todos os géneros musicais. Compôs duas sinfonias, uma das quais dodecafónica. Compôs ainda duas suítes sinfónicas, numerosas peças de música de câmara (Noneto, Trio 1945, Quarteto 1947), três peças para violão (Ponteio, Acalanto e Choro) além de obras para flauta, violino, fagote, piano. CHARLES GOUNOD (1818-1893) Nasceu em Paris em 1818. Filho de um pintor e de uma admirável pianista, foi desde muito jovem aluno de Reicha, e posteriormente estudou nos Conservatórios de Halévy, de Lesueur e de Paer. CHARLES KOECHLIN (1867-1950) Charles Koechlin foi um compositor, musicólogo, crítico musical e escritor francês. Foi mais conhecido como teórico e professor do que como compositor, apesar de possuir um vasto catálogo de obras, que têm vindo a ser mais valorizadas nas últimas décadas do que durante a vida do compositor. Foi aluno de Jules Massenet e Gabriel Fauré no Conservatório de Paris, conviveu com Claude Debussy, e liderou um movimento de músicos que tentavam marcar uma nova postura na música francesa, junto com Maurice Ravel e Florent Schmitt. Durante o período como aluno do conservatório, dedicou-se especialmente ao estudo do contraponto, à música modal e às canções folclóricas. CHRISTOPH WILLIBALD GLUCK (1714-1787) Compositor clássico alemão, ficou conhecido pelas óperas que compôs, nomeadamente Orfeo ed Eurydice (1762), Alceste (1767), Paride ed Elena (1770), Iphigénie en Aulide (1774), a versão francesa de Orfeo (1774), e Iphigéne en Tauride (1779). Gluck iniciou os seus estudos musicais num colégio jesuíta de Komotau, onde aprendeu canto, piano, órgão e violino. Estudou música em Praga, Viena e Milão, onde estudou composição com o organista e compositor Giovanni Battista Sammartini e onde as suas primeiras óperas obtiveram um enorme sucesso. Em 1745, viajou para Londres a convite do Lord Middlesex. Nesse ano Gluck e Handel deram um concerto juntos no Teatro de Haymarket. Depois de Londres, Gluck visitou Paris e teve contacto com a ópera de Rameau, cujo dramatismo o levou a alterar a sua concepção de teatro musical. De regresso a Viena, aprofundou a estética musical e estudou línguas e a literatura, o que o levou a conviver com a sociedade culta. Nesse círculo conheceu o Duque de Lafões, D. João de Bragança, a quem dedicou a ópera Paride ed Elena. Algum tempo depois, viajou para Praga, onde compôs Ezio (1750) e Issipile (1751-53). Compôs peças para bailados dramáticos, como Semiramide e Iphigénie (1765) e Achille (1770). Passou os últimos oito anos da sua vida em Viena, onde, com a colaboração do poeta J. B. von Alxinger, compôs a versão alemã de Iphigénie en Tauride. CLAUDE BALBASTRE (1727-1799) Balbastre nasceu em Dijon e recebeu as suas primeiras lições de música de seu pai, Bénigne, um organista de igreja. Provavelmente também estudou com o irmão de Jean-Philippe Rameau, Claude, a quem sucedeu como organista na catedral de St. Étienne em 1743. O seu grande manuscrito de 75 peças de vários géneros, principalmente para cravo ou órgão, vem deste período inicial, e é datado de 1749. Em 1750 Balbastre foi para Paris estudar composição com Jean-Philippe Rameau e órgão com Pierre Février. Em 1756 tornou-se organista em Saint-Roch, onde as suas apresentações eram extremamente populares e bem recebidas, o mesmo acontecendo em Notre-Dame e no Concert Spirituel (série de concertos parisienses). Foi revisto no prestigiado Mercure de France e foi descrito brilhantemente pelo famoso historiador da música Charles Burney no seu livro The Present State of Music in France and Italy [o estado presente da Música em França e na Itália] (1771). O arranjo de Balbastre sobre os movimentos da ópera Pygmalion, de Rameau, vem deste período, pois foi realizado em 1754 na casa de Le Riche de La Pouplinière, patrono da música de Rameau. Em 1776 Balbastre foi nomeado organista do irmão do rei Luís XVI, ele próprio tornado rei, o exilado Luís XVIII, após a morte do irmão. Durante esse tempo os seus alunos de cravo incluíam pessoas da realeza e dignitários da época, nomeadamente Maria Antonieta, o duque de Chartres, e as filhas de Thomas Jefferson durante a sua longa visita a França. O legado musical de Balbastre é multifacetado: continuou a forte tradição da música para cravo francesa da primeira metade do século XVIII, e abraçou novos estilos em voga, decorrentes de influências italianas (incluindo Scarlatti), e música de salão. No fim de contas usou os seus talentos para dar apoio patriótico à República emergente. CLAUDE DEBUSSY (1862-1918) Nasceu em Saint-Germain-en-Laye e morreu em Paris. Recebeu uma educação musical pouco formal quando criança, embora o seu engenho musical tenha sido canalizado para aulas de piano com a sogra de Verlaine, Madame Mauté de Fleureville, aluna de Chopin, que o preparou para a entrada no Conservatório de Paris aos dez anos. Aí passou 12 anos, adquirindo uma sólida formação musical. A sua reputação era de um pianista excêntrico e rebelde em questões de harmonia e teoria. Depois de acompanhar a baronesa Von Meck, protectora de Tchaikovsky, em várias viagens, como pianista, instala-se definitivamente em Paris em 1887. Outras influências resultantes desses anos a viajar vieram-lhe da amizade com os pintores do movimento impressionista e, ainda mais importante, com escritores e poetas como Mallarmé e os simbolistas. Em 1989, substituiu o simbolismo por Wagner, reconhecendo a sua grandeza, mas também o facto de que este representava a “linha morta” para outros compositores. Foi um dos maiores e mais importantes compositores do século XX, não só pelo que produziu, mas também pelos caminhos que abriu para outros explorarem. Daí a homenagem que compositores posteriores como Boulez, Messiaen, Webern e Stravinsky lhe têm prestado. Depois do sucesso de Nocturnos, no início do século XX dedica-se a uma vasta produção musical, com o piano a ocupar sempre uma posição central. CLAUDIO MONTEVERDI (1567-1643) Claudio Monteverdi cresceu num meio bastante abastado. Revelando uma grande precocidade, publicou aos 15 anos as suas primeiras obras, tendo a noção dos limites da polifonia tradicional e da necessidade de evolução da linguagem musical. Em 1590 ingressou na corte do Duque de Mântua como violinista, cantor e compositor. Tendo ouvido e apreciado a inovadora Euridice de Peri, o Duque Vincenzo Gonzaga encomendou a Monteverdi um espectáculo musical escrito “da mesma maneira”: assim surgiu em 1607 o fabuloso Orfeo. Após a morte do seu protector, em 1612, Monteverdi deixou Mântua, “célebre, mas pobre”, acabando finalmente por ser nomeado para a catedral de São Marcos de Veneza, onde se dedicou à música religiosa. Iniciou-se aqui um período conturbado da sua vida, no qual passou por diversas desventuras (epidemias, ataques directos da Inquisição ao seu filho, guerra de sucessão no Ducado de Mântua). Só tardiamente Monteverdi voltou à ópera, escrevendo para os teatros públicos de Veneza O Regresso de Ulisses à Pátria (San Cassiano, 1640) e A Coroação de Popeia (San Giovanni e Paolo, 1643), mas o seu contributo para a história do género - bem como para toda a música barroca - permanece indelével e incontornável. COLE PORTER (1891-1964) Cole Porter iniciou a sua carreira compondo música e escrevendo letras de peças teatrais em 1916. A sua consagração, porém, chegou muito mais tarde com o musical Kiss me, Kate estreado em 1948 em Nova Iorque, que foi representado várias vezes. No ano de 1953 obteve outro grande sucesso com o musical Cancan. Também compôs a música do filme Alta Sociedade (1956), com Bing Crosby, Grace Kelly, Frank Sinatra e Louis Armstrong. Muitos dos seus musicais foram adaptados para o cinema e algumas de suas canções continuam a desfrutar de grande popularidade, destacando-se as célebres I've Got You Under my Skin e Anything Goes, interpretadas por Frank Sinatra. Cole Porter é notório pelas letras sofisticadas (às vezes vulgares), ritmos inteligentes e formas complexas. Ele é um dos maiores contribuidores do Great American Songbook. DARIUS MILHAUD (1892-1974) Compositor francês famoso pelo desenvolvimento da politonalidade na sua música, Milhaud nasceu em Aix-en-Provence, no seio de uma família judaica. Iniciou os seus estudos de música com o violino, dedicando-se mais tarde à composição. Estudou com Paul Dukas e Vincent d’Indy no Conservatório de Paris. Durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1916 e 1918, viveu no Rio de Janeiro, ao serviço da diplomacia francesa e do dramaturgo e poeta Paul Claudel, então diplomata na cidade brasileira, de quem se tornaria amigo e para cujas peças de teatro comporia várias vezes. Uma das suas famosas suites para piano, Saudades do Brasil (1921), reflecte as influências desta estada no compositor. Durante as décadas de vinte e trinta, regressado a Paris, Milhaud dedicou-se a compor e a ensinar com intensidade, vendo-se obrigado a abandonar a França em 1939, com o despoletar da Segunda Guerra Mundial. Estabeleceu-se então nos Estados Unidos, onde continuou a compor e a ensinar, na Mills College na Califórnia. Regressando mais tarde ao ensino na Europa, no Conservatório de Paris, acaba por morrer na Suíça, em 1974. Milhaud foi um compositor prolífico, deixando-nos um número impressionante de obras, entre as quais nove óperas, doze sinfonias, numerosos concertos, canções, dezoito quartetos de cordas, suites para piano e música para filmes, peças de teatro e de dança. DMITRI SCHOSTAKOVICH (1908-1975) Nasceu em São Petersburgo, a 25 de Setembro de 1908 e faleceu em Moscovo, a 9 de Agosto de 1975. Fez os seus estudos musicais no Conservatório da sua cidade natal, com Nikolaev na disciplina de Piano e com Steinberg na de Composição. A sua personalidade inovadora afirmase cedo nas suas duas primeiras sinfonias e na ópera O Nariz (1928). Schostakovitch pertenceu à Associação para a Música Contemporânea e apaixonou-se pelas obras de Berg, de Bartók, de Krenek e do Grupo dos Seis – que foram largamente difundidas na URSS. Na mesma altura começou a escrever músicas de filmes e trabalhou durante algum tempo no teatro com Meyerhold. Em 1936, a sua segunda ópera, Lady Macbeth de Mzensk, foi violentamente criticada pelo jornal Pravda. No ano seguinte, a 5ª sinfonia foi considerada a obra com a qual se redimia. Nesse mesmo ano foi nomeado professor do Conservatório de Leninegrado e depois, a partir de 1943, do de Moscovo. Em 1942, a sua 7ª sinfonia Leninegrado consagrava-o definitivamente – tanto na URSS como no mundo inteiro – como o maior sinfonista soviético. Ao longo da sua vida recebeu as mais elevadas recompensas e distinções, ocupou os cargos mais importantes – alternadas com duras chamadas de atenção (sobretudo aquando da campanha “antiformalista” conduzida por Khrennikov, em 1948). A imagem do compositor oficial por excelência que o regime soviético deu dele foi refutada nas suas Memórias póstumas, publicadas por Solomon Volkov e nas quais revelou o drama das pressões a que foi submetido e o das duas caras que sempre foi obrigado a mostrar. Tal como nas suas óperas e na sua música de câmara, foi nas suas quinze sinfonias e seis concertos que patenteou todas as facetas da sua ciência musical. Influências tão diversas como as de Tchaikovski, de Borodine, de Glazunov e, muito especialmente, de Mahler são assumidas e postas ao serviço de uma personalidade multiforme, ora épica, ora queixosa, ora sarcástica. DUARTE LOBO (c.1563-1646) Foi o compositor português mais importante do seu tempo. A par com Filipe de Magalhães, Manuel Cardoso e Estevão Lopes Morago, representa o momento de maior produção e brilho da música polifónica portuguesa. Trata-se da chamada escola de Évora e deve o seu destaque principalmente ao facto de terem chegado aos nossos dias muito mais fontes musicais do séc. XVII que do anterior. Não obstante, revela um desenvolvimento tardio da polifonia portuguesa. Muito arreigada na influência de compositores flamengos como J. Ockeghem (c.1410 – 1497) e Josquin Desprez (c.1440 - 1521). Também G. B. Palestrina (1525 – 1594) e F. Guerrero (1528 – 1599) ocorrem como referências para o estilo da escola de Évora. Duarte Lobo dedicou-se exclusivamente à música religiosa. Depois de ter estudado com Manuel Mendes na escola da Claustra da Sé de Évora, foi mestre de capela do Hospital Real de Lisboa. A partir de 1591 ocupou, na mesma cidade, as mesmas funções já na Sé Catedral. A sua obra denota uma grande austeridade e rigor no tratamento contrapontístico e na interpretação expressiva do texto. O conservadorismo espelha bem o isolamento cultural do país. Enquanto em Itália se vive um período de intensa experimentação, Portugal, que contacta artisticamente apenas com Espanha, vive uma conjuntura que o torna impermeável às novidades. Desde 1536 é o único país em que a Inquisição tomou a força de lei. É também o único em que são aceites todas as resoluções do Concílio de Trento (1543 – 1563). Por outro lado a queda do Império, o fim das elites e, corolário disto tudo, o domínio filipino, forçam uma relação muito débil entre a cena musical portuguesa e a europeia. Toda ela é dominada pela prática religiosa algo atrasada no estilo mas que motiva obras de grande qualidade. A publicação da música de Duarte Lobo é feita sem interesse comercial. Relaciona-se mais com uma questão de prestígio. A maioria é editada já no fim da sua vida. EDGAR VARÈSE (1883-1965) Nasceu em Paris, em 1883. Os seus trabalhos dos anos 20 e 30 eram bastante mais "modernos" do que de outros compositores, devido à importância que os sons percussivos assumem na sua obra, assim como à complexidade rítmica, à estridente dissonância e à liberdade da forma de desenvolvimento que lhe são inerentes. Já nessa altura, Varèse antevia novos meios que lhe permitissem realizar as ideias que, até então, não poderiam passar de sonhos, e que viria a concretizar na música electrónica. Quando os gravadores de fitas se tornaram acessíveis, nos anos 50, Varèse criou duas das primeiras obras de referência de toda a música electrónica até aos nossos dias (Déserts, para orquestra e fita, e Poème Electronique, para fita solo). Estudou com Roussel na Schola Cantorum, e com Widor, no Conservatório de Paris. Depois seguiu para Berlim onde privou com Busoni, cujo Sketch for a New Aesthetic of Music muito o influenciou, com Hofmannsthal, e com Strauss que lhe proporcionou a execução do seu poema sinfónico Bourgogne. Em 1913 regressa a Paris, deixando a maioria da sua música em Berlim, onde foi destruída pelo fogo. No final de 1915, embarcou para os Estados Unidos e estabeleceu-se em Nova Iorque como compositor e maestro. Entre os anos 1918 e 1927 escreveu seis grandes obras sinfónicas e para orquestra de câmara nas quais utilizou a memória da música que o impressionara na Europa - Débussy, um Schönberg atonal, e um Stravinsky da Sagração e de Petrushka, excedendo os seus modelos através do seu desejo pela inovação. Ideias melódicas evitavam implicações harmónicas, privilegiando a insistência numa única nota (como acontece em Intégrales e em Hyperprisme). A consituição de acordes é ditada por uma saturação cromática e, particularmente, pela necessidade de dissonância estridente. As suas "massas sonoras" são postas em jogo, numa constante mudança de combinações. Entre 1928 e 1933 regressou a Paris, onde continuou a sua exploração de novas fontes. Escreveu Ionisation, para orquestra de percussões, e usou dois dos novos instrumentos de Martenot em Ecuatorial. No final dos anos 30, já de volta aos Estados Unidos, sonha com um trabalho no qual pudesse envolver vários executantes espalhados pelo planeta, em diferentes estações de rádio (Espace). No início dos anos 50, retoma a composição escrita com Déserts. Em 1953, a oferta de um gravador de fitas permite-lhe usar música para fita. Todavia, depois de Déserts e do Poème Electronique, não terminou mais nenhuma obra. Nocturnal foi concluída postumamente pelo seu aluno Chou Wen-Chung. Edgar Varèse morreu em Nova Iorque, em 1965. ÉDOUARD LALO (1823-1892) Édouard-Victoire-Antoine Lalo (27 de Janeiro, 1823 – 22 de Abril, 1892) foi um compositor francês de ascendência espanhola. Nasceu em Lille, na França setentrional. Participou, durante a sua juventude, na actividade musical do conservatório da sua cidade. Aos 16 anos estudou no Conservatório de Paris. Durante vários anos trabalhou como professor nessa mesma cidade. Julie Besnier de Maligny, contralto bretã, tornou-se sua esposa em 1865. Começou a interessar-se pela ópera e isso levou-o a compor obras para o palco. Morreu em Paris com 69 anos de idade, com várias obras inacabadas. EMMANUEL CHABRIER (1841-1894) Emmanuel Alexis Chabrier (Ambert, 18 de Janeiro de 1841 – Paris, 13 de Setembro de 1894) foi um compositor francês da época romântica. Chabrier estudou piano como amador desde os seis anos de idade, e também mostrava grande apetência para compor. Apesar disto, o seu pai fê-lo estudar Direito. Começou a trabalhar no Ministério Francês do Interior em 1862. Fez a sua primeira visita à Alemanha em 1879, acompanhado de Henri Duparc, onde assistiu a uma apresentação da obra Tristão e Isolda de Richard Wagner na cidade de Munique. Impressionado com a obra decide dedicar-se inteiramente à música, pedindo demissão do cargo que mantinha no Ministério do Interior em 1880. No período em que ainda trabalhava no ministério, Chabrier compôs as suas primeiras óperas: L'Étoile em 1877, e Une Éducation manquée em 1879. Juntamente com Vincent d'Indy, Henri Duparc e Gabriel Fauré, fundou o grupo conhecido como Le Petit Bayreuth. Também se identificava muito com os pintores impressionistas. ERNEST CHAUSSON (1855-1899) Amedée-Ernest Chausson (Paris, 20 de Janeiro de 1855 – Le Limay, 10 de Junho de 1899) foi um compositor francês. De origem aristocrática, estudou inicialmente Direito, e em 1880 ingressou no Conservatório de Paris, onde foi aluno de Massenet. Se Marcel Proust tivesse escrito música, esta poderia ter soado algo como a de Ernest Chausson: intensamente apaixonada, mas raramente dada a exibicionismos. A eficácia da linguagem musical de Chausson – ardente, mesmo erótica –, deriva, em grande parte, do estilo cromático deslizante que herdou do seu professor mais importante, César Franck. Não sendo um compositor prolífico (Chausson morreu em 1899 com 44 anos, de ferimentos sofridos num acidente de bicicleta), a sua morte silenciou a voz mais marcante na música francesa da geração imediatamente anterior a Debussy. Na verdade, a música de Chausson formou uma elegante, ainda que oscilante, ponte entre a exuberância de Franck, o romantismo de Wagner e a sensual linguagem impressionista de Debussy. ERNŐ DOHNÁNYI (1877-1960) Ernő Dohnányi, também conhecido como Ernst von Dohnányi, (Bratislava, 27 de Julho de 1877 — Nova Iorque, 9 de Fevereiro de 1960) foi um pianista e compositor húngaro. Em 1894 ingressou na Academia de Budapeste onde foi aluno de Hans von Koessler e Stephan Thomán. Tendo obtido notável domínio do piano, apresentou-se como concertista em vários países, tornando-se um dos mais famosos pianistas húngaros. Emigrou para os Estados Unidos em 1949. Exerceu actividades como professor e regente. Como compositor revelou-se influenciado por Brahms, ainda que suas obras para piano mostrem uma virtuosidade em tudo semelhante a Liszt. A sua obra mais conhecida é Variações sobre uma Canção de Ninar (1914) para piano e orquestra. É autor de duas Sinfonias, dois Concertos para violino, dois Concertos para piano, dois quintetos para piano, três quartetos de cordas e várias peças para piano. ESTEVÃO DE BRITO (1575-1641) Estêvão de Brito, compositor português do barroco (polifonia). Estudou música na Sé Catedral de Évora com Filipe de Magalhães. Em Janeiro 1597 já era Mestre de Capela da Catedral de Badajoz (Espanha), onde permaneceu até 1613. Nesse ano foi para a catedral de Málaga e sucedeu a Francisco Vásquez com a mesma função de Cristóbal de Morales, 50 anos antes. Ficou em Málaga até à sua morte em 1641. Sabe-se que compôs numerosos villancicos e cançonetas, a maioria para as festas de Natal e de Corpus Christi. Infelizmente essas obras foram perdidas. No entanto, o mais relevante dos seus trabalhos são as peças litúrgicas: 4 -, 5 -, 6 - e 8- para voz, missas, motetes, salmos, hinos. ESTEVÃO LOPES MORAGO (c.1575–1630). O facto de Estêvão Lópes (ou Esteban López) Morago, figura significativa da história musical portuguesa, ser, na verdade, espanhol de nascimento, é indicativo dos processos naturais de intercâmbio cultural entre os países naquela época; um intercâmbio independente de Portugal ter estado sob o domínio espanhol de 1581 a 1640. Morago foi um dos três alunos conhecidos de Filipe de Magalhães em Évora; os outros dois, Estêvão de Brito e Manuel Correia, seguiram o rumo oposto ao de Morago e foram trabalhar para Espanha. Morago nasceu em Vallecas (agora parte de Madrid) em cerca de 1575, mas passou quase toda a sua vida em Portugal. Após estudar em Évora com Magalhães, tomou-se cónego e Mestre de Capela da Catedral de Viseu (no norte do país) de 1599 até 1628. Então, retirou-se para o mosteiro franciscano em Orgens, perto de Viseu, e morreu em 1630 ou depois. A sua música sobrevive nos arquivos de Viseu. A influência de Magalhães aparece claramente na límpida técnica contrapontual de Morago, mas o que causa impacto especial na sua música é a utilização ousada da dissonância, e, em várias obras de carácter harmónico mais directo, um interesse em efeitos antifonários. Motetes como Oculi mei, de tonalidade ambígua e intercalados com inúmeras quartas reduzidas, demonstram perfeitamente o uso expressivo a que essa ousadia harmónica se presta. As alternâncias desse tipo intenso de composição imitativa e elaborada minuciosamente com espasmos súbitos de homofonia rítmica também são características de Versa est in luctum e Commissa mea; de facto, a composição de Morago para textos penitenciais e fúnebres é sensível ao extremo. Compositores anteriores como Cardoso, jamais poderiam ter concebido o tipo de justaposição abrupta que ocorre em Versa est, quando a palavra ‘organum’ subitamente salta do contexto polifónico, ‘sublinhada’, por assim dizer, num clarão de homofonia dançante. O cúmulo plangente de suspensões em ‘nibil sunt dies mci’, mais adiante na peça, decerto foi antecipado por outros compositores, mas, mesmo assim, quanto à intensidade de efeito em apenas quatro partes, Morago é único. Peças como Laetentur caeli e Montes Israel demonstram que Morago era igualmente capaz de responder a outros tipos de texto, como também o demonstram suas composições e responsórios sobreviventes para matinas de Natal; mas é pelo que tem frequentemente sido chamado de qualidades ‘maneiristas’ de suas composições de textos mais emotivos que ele é conhecido, e que é algo com frequência considerado representativo da música ibérica desse período à custa de outros aspectos como o ênfase moderno sobre Misso pro Defunctis para a Rainha Vitória e os Responsórios Tenebrae à custa de suas outras composições para missa ou motetos é o principal exemplo desse fenómeno. Apesar disso, a música de Morago, precisamente por esse motivo, complementa muito bem a do compositor posterior Diogo Dias Melgás. FERNANDO LOPES-GRAÇA (1906-1994) Compositor e musicólogo português, estudou em Coimbra, no Conservatório Nacional, e apresentou-se pela primeira vez como compositor, em 1929, com as Variações sobre Um Tema Popular Português, para piano, e com Poemeto, para orquestra de cordas. De 1932 a 1936 colabora com o grupo literário da Presença, em Coimbra. Parte, no ano seguinte, para Paris, onde frequenta a cadeira de musicologia da Sorbonne. É nesta altura que se dá, no seu estilo, a viragem decisiva no sentido de uma orientação de timbre nacionalista, com o aproveitamento e a elaboração, na sua linguagem, dos elementos harmónicos, melódicos e rítmicos do folclore português. Em 1939 regressa a Lisboa, exercendo uma intensa actividade como compositor, crítico, pianista, publicista, conferencista, organizador e regente de coros populares, e, no ano seguinte, recebe o Prémio de Composição do Círculo da Cultura Musical, com o 1.º Concerto para Piano e Orquestra, prémio que volta a conquistar também em 1942, 1944 e 1952. Em 1942, fundou uma organização de concertos de música moderna intitulada Sonata, criando em 1951 a revista Gazeta Musical. A sua orientação nacionalista reafirma-se e amadurece em obras como Suite Rústica (para orquestra, sobre melodias tradicionais portuguesas), os cinco Velhos Romances Portugueses (para pequena orquestra), as Nove Canções Populares Portuguesas (para voz e orquestra), os Natais Portugueses e Melodias Rústicas Portuguesas (para piano), além de numerosos ciclos de harmonizações de canções populares, para voz e piano, e para coro a capella. FRANCIS POULENC (1899-1963) Nascido e criado em Paris, num ambiente familiar de músicos, começou a aprender piano aos cinco anos com sua mãe e a compor aos sete anos. Estudou com Ricardo Viñes, que encorajou a sua ambição de compor e o apresentou a Casella, Auric e Satie, entre outros. Este último terá uma grande influência no pianista. Rapsódia Negra deu ao seu nome uma proeminência notável em Paris, como um dos compositores encorajados por Satie e Cocteau – grupo dos seis, também conhecido por Les Nouveaux Jeunes. Em 1920, para aperfeiçoar os seus conhecimentos técnicos, estuda harmonia com Koechlin. Nunca estudou contraponto nem orquestração – os seus conhecimentos eram de certa forma intuitivos. As suas obras mais conseguidas são as canções para voz e piano, particularmente as que foram escritas a partir de 1935. Das suas obras instrumentais merece especial destaque o Concerto para Órgão, de 1938, pela sua grande originalidade no tratamento do instrumento solista. FRANK MARTIN Frank Martin nasceu a 15 de Setembro de 1890 em Genebra, Suíça. Foi o décimo e o mais novo filho da família de um clérigo. Começou a tocar e a improvisar ao piano antes de ir para a escola. Com nove anos de idade já tinha composto algumas canções infantis perfeitamente equilibradas, sem nunca ter aprendido as formas musicais ou a harmonia. A interpretação da Paixão Segundo São Mateus, aos doze anos, deixou-lhe uma impressão duradoura do compositor, J. S. Bach, o qual se tornou o seu verdadeiro mestre. Aprendeu línguas clássicas no ensino secundário e, para agradar aos pais, estudou matemática e física na Universidade de Genebra, durante dois anos. Simultaneamente começou a estudar piano e composição com Joseph Lauber, o qual o iniciou na “arte”, especialmente na instrumentação. Entre 1918 e 1926 Frank Martin viveu em Zurique, Roma e Paris, trabalhando por conta própria em busca de uma linguagem musical pessoal. Em 1926 fundou a Sociedade de Música de Câmara de Genebra, que dirigiu como pianista e cravista durante dez anos. Ensinou improvisação e teoria do ritmo no Instituto JacquesDalcroze e música de câmara no Conservatório de Música de Genebra. Foi director artístico da Technicum Moderne de Musique (1933-1940) e presidente da Associação Suíça de Músicos entre 1942 e 1946. Em 1932 interessou-se pela técnica de doze tons de Arnold Schönberg. Incorporou alguns elementos na sua própria linguagem musical, criando uma síntese das técnicas cromáticas e dodecafónicas, sem no entanto abandonar o sentido do tom, ou seja, as relações hierárquicas entre as notas. Le Vin Herbe (1941) foi o seu primeiro trabalho em que já domina completamente esta linguagem muito pessoal. Esta obra, juntamente com a Petite Symphonie Concertante (1944-1945), estabeleceu a sua reputação internacional. As muitas actividades musicais de Martin na Suíça interferiram com a paz e a concentração necessárias para as suas obras. Por conseguinte, decidiu mudar-se para a Holanda em 1946. Durante dez anos viveu no centro de Amesterdão, antes de finalmente se estabelecer na pequena cidade de Naarden, em 1956. Entre 1950 e 1957 leccionou composição na Staatliche Hochschule für Musik, em Colónia. Posteriormente, cessou todas as actividades de ensino, preferindo trabalhar em casa, fazer digressões ocasionais com o violoncelista suíço Henri Honegger e aceitar convites para conduzir sua própria música nas mais importantes salas de concerto, nomeadamente nos Estados Unidos da América. Recebeu muitas homenagens e prémios, de todo o mundo. Na extensa obra de Frank Martin, os oratórios desempenham um papel importante. Em Maio de 1973 realizou a estreia mundial de seu Requiem na Catedral de Lausana, obra que deixou uma profunda impressão no grande público. As suas composições mantiveram a mesma vitalidade até o final da sua vida. Trabalhou na cantata Et la vie l'emporta até dez dias antes de sua morte, em 21 de Novembro de 1974. FRANZ JOSEPH HAYDN (1732-1809) Nasceu em Rohrau, na fronteira entre a Áustria e a Hungria, perto de Viena. Aos seis anos de idade iniciou os estudos com um parente, Mathias Frank. Durante nove anos integrou o coro dos pequenos cantores da Catedral de Santo Estêvão de Viena, em cuja escola completou os seus estudos gerais e musicais. Em 1761, entra ao serviço do príncipe Paul II Esterhazy na qualidade de segundo mestre de capela. Primeiro em Eisenstadt, depois no palácio de Esterhazy, Haydn manter-se-á sempre ao serviço desta família, com toda a liberdade para se dedicar às suas práticas musicais. Aos poucos, sem se dar conta, adquire grande fama por toda a Europa. Em 1790, Anton, o sucessor de Nicolaus, O Magnífico, dissolve a orquestra e o teatro da sua corte, o que proporciona a Haydn a ocasião de viajar, aos 58 anos. A convite de Johann Peter Salomon permanece em Londres duas longas temporadas (17911792 e 1794-1795) que farão de Haydn o músico mais admirado do seu tempo. É neste período que se dedica à composição das suas últimas doze sinfonias. Em 1795, ao regressar à Áustria, o príncipe Nicolaus II, filho de Anton, decide restaurar a capela. Nesta última fase da sua vida Haydn compõe quartetos, as suas grandes missas e oratórias (A Criação e As Estações) que renovam inteiramente o estilo e entusiasmam toda a Europa. FRANZ LISZT (1811-1886) Nasceu em Raiding, na Hungria, e morreu em Bayreuth. Durante a sua infância recebeu a influência das obras de Mozart, Haydn e Beethoven. E com apenas 15 anos já se tinha celebrizado como pianista de um virtuosismo ímpar. Em 1821 foi para Viena, onde estudou com Salieri e Czerny. Tocou em Paris em 1823 e em Londres em 1824. Em Paris, conheceu Berlioz e Chopin, de quem se tornou muito amigo, e outras figuras literárias e pintores importantes. Grande viajante, alcançou enorme êxito por toda a Europa. Nos concertos em que participou, a dado momento introduziu algumas inovações, nomeadamente o facto de ter sido o primeiro pianista a tocar sem pauta. Como compositor, foi de uma grande abertura de espírito, dando especial atenção à música popular, aos compositores do passado e às obras dos seus contemporâneos. As tradições musicais populares fazem parte do seu processo de evolução criativa. Inicialmente voltado para o piano, Liszt viria posteriormente a dedicar-se à orquestra. Mais tarde surgem os temas religiosos, com extensas partituras que irão marcar o final da sua carreira de compositor. Foi um dos músicos mais apreciados pelos seus contemporâneos, mas também um dos mais solitários que o século XIX conheceu. FRYDERYK CHOPIN (1810-1849) Nasceu perto de Varsóvia e a sua vida tem suscitado inúmeras lendas. Quem não conhece a imagem desnaturada do músico, ao mesmo tempo apaixonado e afectado, tumultuoso e hipersensível? A sua relação com George Sand, o seu comportamento mesquinho, a luta contra a tuberculose e a morte prematura quando ainda não completara quarenta anos, contribuíram para a sua imagem. Todavia, a sua resistência aos músicos contemporâneos românticos, o seu gosto pela música de Handel (sua referência musical), o facto de Bach e Mozart serem para ele os modelos de perfeição e o abandono da sua carreira como virtuoso, revelam a ambiguidade do seu temperamento. Embora inicialmente se tenha esforçado por se conformar com o ideal clássico, depressa surgiu a preocupação de encontrar as origens populares da música polaca, uma mistura de nostalgia e de sonho, à qual irá dar uma extrema expressividade. A invasão da Polónia pela Rússia provocou nele um desespero patriótico que o levou a questionar-se de forma pungente. O sofrimento de viver longe do seu país conduziu-o a identificar o seu próprio sofrimento com o da Polónia oprimida. Chopin, cuja evolução na composição é tão pessoal, dedicou a sua imaginação criativa quase exclusivamente ao piano, fazendo deste instrumento o meio de expressão musical por excelência, mais do que qualquer outro músico romântico. "Reconheçam, meus senhores, é um génio", foi o grito de admiração de Schumann a propósito de Chopin. GABRIEL FAURÉ (1845-1924) Fauré nasceu em Pamiers e morreu em Paris. Foi um organista brilhante. Como compositor, a sua produção não é vasta mas é de grande qualidade. O seu talento musical excepcional foi detectado muito cedo, tendo sido admitido gratuitamente na célebre École Niedermeyer, em Paris, onde estudou com Niedermeyer e Saint-Saëns. Em 1870 foi nomeado organista em St. Suplice, em Paris, e St. Honoré. A partir de 1877 é mestre de coro na Madeleine. Professor de composição do Conservatório de Paris teve como alunos Ravel, Boulanger, Enescu, Schmitt, Koechlin e Roger-Ducasse. A sua música demorou a ser aceite fora de França, mas hoje Fauré é considerado um dos maiores compositores franceses, um poeta do teclado e um excelente compositor de música de câmara, com estilo delicado e elegante, a qual, embora não seja harmonicamente arrojada liberta uma sedutora força emocional. A sua ópera Penélope é considerada por muitos a sua obra-prima. Da produção para piano destacam-se, entre outras composições, a Balada (com orquestra), os Nocturnos e Dolly (para quatro mãos). GASPAR FERNANDES (1566-1629) Gaspar Fernandes foi compositor e organista português. Activo na catedral de Santiago de Guatemala e Puebla de los Ángeles, Nova Espanha (México nos dias de hoje). A maioria dos estudiosos concorda que Gaspar Fernandes, cantor na catedral de Évora, é a mesma pessoa que Gaspar Fernández, que foi contratado em 16 de Julho de 1599 como organista da catedral de Santiago da Guatemala. Em 1606 Fernandes foi abordado por dignitários da catedral de Puebla, convidando-o para suceder ao seu amigo falecido Pedro Bermúdez como mestre capela. Deixou Santiago de Guatemala em 12 Julho de 1606 e iniciou o seu mandato em Puebla a 15 de Setembro. Aí permaneceu até à sua morte em 1629. O seu mais importante legado para a posteridade foi a compilação, em 1602, de vários livros contendo coro litúrgico católico romano polifónico, vários dos quais estão na Guatemala. Estes manuscritos contêm música de compositores espanhóis como Francisco Guerrero, Cristóbal de Morales e Pedro Bermúdez. Para completar esses livros, Fernandes compôs um ciclo de oito Benedicamus Domino, o versículo que segue o Magnificat de algumas missas, e um hino para as Festa do Guardian Angels. GEORGE FRIDERIC HANDEL (1685-1759) Nascido em Halle, na Saxónia prussiana, Haendel revelou desde cedo um carácter muito forte ao conseguir que o seu reticente pai o autorizasse a iniciar uma formação musical com o organista Zachow. O seu percurso conduziu-o primeiro a Hamburgo (1703) e depois a Itália (a partir de 1706). Aí adquiriu um domínio excepcional da arte de composição para voz, que lhe valeu um grande sucesso em Roma, no campo da música sacra, mas sobretudo em Veneza, com a sua primeira ópera, Agrippina (1709). Após uma curta passagem por Hanôver, partiu em 1710 para Inglaterra, decidido a conquistar um país a cuja tradição local se saberá adaptar (tomando habilmente a seu cargo as músicas festivas, as odes de celebração ou divertimentos da corte, domínios em que anteriormente se tinha destacado Purcell), e ao qual imporá o seu estilo, nomeadamente a ópera “à italiana”, em que se tornou um especialista, seguindo um percurso que vai de Rinaldo (1711) a Deidamia (1741), passando por Júlio César (1724), Orlando (1733) e Alcina (1735). Atravessou um período difícil, marcado por reveses financeiros e profissionais e, ainda, graves problemas de saúde (1737), do qual ressurgiu, libertando-se das restrições do palco, com magníficas oratórias – Israel no Egipto (1739), Saul (1739), O Messias (1742), Judas Macabeu (1747) e Jephta (1752). Ficou para a posteridade como um dos maiores compositores de todos os tempos. GEORGE GERSHWIN (1898-1937) Filho de pais emigrantes russo-judaicos, Gershwin nasceu em Brooklyn e cresceu na baixa de Manhattan. Em criança, começou a tocar os êxitos da época no piano de um vizinho, ainda sem ter recebido qualquer formação. Aos 13 anos, começou a ter aulas de piano com Charles Hambitzer e mais tarde estudou teoria e harmonia com Edward Kilenyi, para quem escreveu um quarteto de cordas. Tornou-se, entretanto, pianista a tempo inteiro. Viajou muito, compondo a maioria dos temas teatrais com o irmão, Ira Gershwin. Viveu o último ano de vida em Hollywood, onde compôs temas para vários filmes. A sua composição mais famosa é Rhapsody in Blue que tem um estilo novo, o de aplicação da linguagem do jazz a obras de concerto. Gershwin foi não só o criador da idade de ouro dos musicais americanos da Broadway, mas também um compositor de música para orquestras, com aproximações às sonoridades do jazz. Os seus dotes melódicos eram fenomenais, a mistura de simplicidade e sofisticação existente na sua música confere-lhe um poder atrativo e individualidade. As suas canções contêm a essência dos anos vinte em Nova Iorque e mereceram terem-se tornado clássicos do repertório do século XX. GEORGES BIZET (1838-1875) Nascido Alexandre César Léopold Bizet, Georges Bizet (Paris, 25 de Outubro de 1838 — Bougival, 3 de Junho de 1875) foi um compositor francês, principalmente de óperas. Numa curta carreira devido à sua prematura morte, atingiu poucos sucessos antes do seu trabalho final, Cármen, que se viria a tornar uma das mais populares e frequentemente interpretadas óperas no repertório operático. Durante uma brilhante carreira como estudante no Conservatório de Paris, Bizet venceu muitas competições, incluindo o prestigiado Prix de Roma, em 1857. Foi reconhecido como um excelente pianista, embora raramente tenha tocado em público. Regressado a Paris, após quase três anos em Itália, descobriu que os principais teatros de ópera parisienses preferiam o repertório clássico, estabelecido pelas obras recém-compostas, pelo que as suas composições sinfónicas e para piano foram ignoradas, e Bizet ganhava a vida organizando e transcrevendo a música dos outros. Começou muitos projectos teatrais durante a década de 1860, a maioria dos quais foram abandonados. Duas óperas suas, Les pêcheurs de perles e La jolie fille de Perth, dominaram os palcos, sendo sucessos imediatos. Após a guerra Franco-Prussiana (1870 – 1871), em que Bizet serviu na Guarda Nacional, o compositor obteve pequenos sucessos com a ópera em um acto Djamileh e com uma suite orquestral, L'Arlésienne, que se tornou instantaneamente popular. A produção da última ópera de Bizet, Cármen, foi adiada, por se temer que os seus temas de traição e assassinato chocassem o público. Após a estreia, a 3 de Março de 1875, Bizet convenceu-se do insucesso do seu trabalho e morreu de ataque cardíaco três meses depois, sem saber do êxito espectacular e duradouro da obra. GIROLAMO FRESCOBALDI (1583-1643) Frescobaldi nasceu em Ferrara, então um dos maiores centros musicais de Itália. Estudou com o célebre organista Luzzaschi. Mais tarde partiu para Roma, onde se tornou organista em S. Pedro, em 1608. De 1628 a 1633 viveu em Florença, onde ocupou as funções de músico do grão-duque da Toscânia, antes de regressar novamente a Roma. Virtuoso e compositor, a sua reputação foi imensa, não só em Itália mas também no estrangeiro, e os seus contemporâneos reconheciam o enorme papel que ocupava na evolução da música para teclado. De facto, a parte mais importante da sua composição – que inclui motetes e madrigais – é reservada ao teclado, nas tocatas, fugas, ricercari e capriccios que compôs para cravo e órgão. É considerado um dos grandes representantes do início do Barroco italiano. A sua música teve uma forte influência na música alemã através de Froberger, seu aluno. GIUSEPPE VERDI (1813-1901) Giuseppe Fortunino Francesco Verdi (Roncole, 10 de Outubro de 1813 – Milão, 27 de Janeiro de 1901) foi um compositor de óperas do período romântico italiano, sendo na época considerado o maior compositor nacionalista de Itália, do mesmo modo que Richard Wagner na Alemanha. Foi um dos compositores mais influentes do século XIX. As suas obras são executadas com frequência em casas de ópera de todo o mundo e, transcendendo os limites do género, alguns dos seus temas – como «La donna è mobile», de Rigoletto, «Va, pensiero» (Coro dos Escravos Hebreus) de Nabucco, «Libiamo ne' lieti calici» (Valsa do Brinde) de La Traviata e «Gloria al Egito e ad Iside» (Marcha Triunfal) de Aida – estão há muito enraizados na cultura popular. Embora a sua obra tenha sido algumas vezes criticada por usar de modo geral uma expressão musical diatónica (em vez de cromática) e com uma tendência para o melodrama, as obras-primas de Verdi dominam o repertório-padrão, um século e meio depois de terem sido compostas. GUSTAV MAHLER (1860-1911) Nasceu em Kalist, Boémia, e morreu em Viena. Compositor, maestro e pianista austríaco, de origem judia, foi não só um dos mais conhecidos regentes austríacos, como um compositor fundamental na passagem da música do século XX para o período moderno. Começou a aprender piano aos seis anos, dando o primeiro recital quando tinha dez. Em 1875 entrou no Conservatório de Viena, onde estudou piano com J. Epstein, harmonia com R. Fuchs e composição com Franz Krenn. Foi ainda no Conservatório que se tornou amigo e seguidor de Bruckner. Começou a carreira como maestro em Hall, depois noutras cidades austríacas, entre as quais Kassel, onde teve um caso amoroso infeliz que ficou registado no ciclo de canções Lieder eines fahrenden Gesellen. Foi maestro titular da Ópera de Budapeste e da Ópera de Hamburgo. Mahler dividia o seu tempo entre a composição, no verão, e a direcção, no inverno. A sua época de maior prestígio corresponde à data da sua nomeação para director da Ópera de Viena, em 1897, ano em que se converteu ao cristianismo, abandonando o judaísmo. Em Viena revoluciona a produção e iluminação das óperas. Em 1907, é atingido por três fatalidades: a perda – na sequência de ataques anti-semitas – do seu posto em Viena; a morte da filha mais velha; e a descoberta de uma doença cardíaca incurável. Convidado pelo director da Metropolitan Opera, vai para Nova Iorque, onde passa o outono e o inverno durante quatro anos. Quando morre, a 18 de Maio de 1911, em Viena, deixa três grandes obras póstumas: a canção sinfónica Das Lied von der Erde e as Sinfonias 9 e 10. Como maestro, a sua competência e talento nunca foram contestados, enquanto as suas composições não alcançaram unanimidade: sendo alvo da admiração obstinada dos seus discípulos, mas também repudiadas por um grande número de músicos. HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959) Nasceu no Rio de Janeiro em 1887. Recebeu de seu pai as primeiras lições de música e chegou a ter aulas de harmonia com outro professor, mas foi em todos os restantes domínios um autodidacta, ganhando a vida a tocar em cafés. Tocou violoncelo na Ópera do Rio e em várias orquestras sinfónicas, absorvendo influências dos nacionalistas russos, bem como de Stravinski e Strauss, sob cuja direcção tocou em 1920. Amigo de Milhaud quando este era secretário de Claudel na embaixada francesa, e desde 1921 de Arthur Rubinstein, que tocou muitas das suas obras para piano. Viveu na Europa nos anos de 1923-24 e residiu em Paris entre 1927 e1930, tendo sido influenciado por Satie e Milhaud e pelo neoclassicismo então na moda. O resultado foi uma série de obras intitulada Bachianas Brasileiras em que as formas barrocas são recriadas com um “colorido” brasileiro. Regressado ao Brasil em 1930, ensinou em várias escolas. Fundou o Conservatório Nacional de Canto Orfeónico em 1942 e a Academia Brasileira de Música em 1945. Embora a sua música pareça ter características folclóricas, são raras ou nulas as vezes em que se baseou em canções populares, devendo-se o sabor brasileiro das suas obras a efeitos de colorido e de ritmo. Personalidade romântica e melodista, usou a forma do choro popular como base para uma série de peças de carácter nacionalista, para diversas combinações de vozes e instrumentos. Morreu no Rio de Janeiro em 1959. HENRI DUPARC (1848-1933) Henri Duparc (Paris, 21 de Janeiro de 1848 – Mont-de-Marsan, 12 de Fevereiro de 1933) teve uma vida longa mas escreveu muito pouco. Iniciou os estudos musicais tardiamente com Cesar Franck (1822-1890) no colégio jesuíta onde se estava a formar em Direito. Mesmo tendo um contacto com a composição relativizada por outras ocupações, a primeira colecção de canções, publicada em 1868, expressa um talento que não se equipara com o total de obras acabadas que nos legou: apenas treze. A razão de tão curta obra é o abandono, em 1885, do exercício da composição e isto devido a complicações do foro neurológico. Além disso, a sua personalidade perfeccionista ajuda também a perceber o número reduzido das suas obras que eram constantemente alvo de processos de revisão. A sua criatividade estendia-se também ao domínio da pintura assinando várias aguarelas, além de que mantinha um enorme gosto pela poesia tendo como referências principais Baudelaire e Verlaine. IGOR STRAVINSKI (1882-1971) Nasceu em Oranienbaum, na Rússia. Começou por estudar direito e, simultaneamente, música com Rimski-Korsakov. A partir de 1908 colabora com Diaghilev e compõe vários bailados que rapidamente o tornam célebre (O Pássaro de Fogo, A Sagração da Primavera). Acompanha os Ballets Russes quando estes partem para França e conhece músicos como Debussy, Ravel, Satie entre outros. A Revolução de 1917 afasta-o da Rússia até 1962. Instala-se em França, onde alarga as suas fontes de inspiração e desenvolve igualmente uma carreira de pianista e de maestro. Fixa-se definitivamente nos Estados Unidos na altura da Segunda Guerra Mundial. Em 1962 efectua uma viagem triunfal pela Rússia. Durante o seu primeiro período de composição Stravinski inspira-se no repertório russo integrando-o em estruturas formais e harmónicas mais abstractas, provenientes do Ocidente, e desenvolvendo uma rítmica muito inovadora. Compôs depois num estilo “neo-clássico”, com referências às polifonias antigas e à modalidade. No fim da sua vida, tentou também a música serial. O estilo extremamente pessoal de Stravinski e as suas contribuições para a linguagem musical, nomeadamente nos planos harmónico e rítmico, fazem-no um dos mais importantes compositores do século XX; o seu génio é universalmente reconhecido. JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) Rousseau é sem dúvida mais conhecido como filósofo e escritor do que como compositor. No entanto, teve uma influência directa no desenvolvimento da ópera cómica e melodrama franceses. As primeiras óperas foram um insucesso mas a ópera Intermedie Le devin du Village, em 1752, foi bastante popular deviso ao lado cómico. A obra Pygmalion (1770) era um drama falado com uma música de fundo parte de uma história melodramática. Das composições de Rousseau também estão incluídos mais de 50 motetos, canções e obras instrumentais incluindo duas sinfonias. Rousseau também teve uma profunda influência no desenvolvimento da música romântica através da sua escrita que expressava uma visão enigmática, na sua época, que a música que devia expressar sentimentos porque só a escrita podia expressar pensamentos. JEAN-PHILIPPE RAMEAU (1683-1764) Contemporâneo de Bach, Handel e Domenico Scarlatti, Rameau representa o classicismo francês no seu apogeu. Com a formação musical a cargo do seu pai, organista da catedral de Dijon, começou por ocupar vários cargos de organista na província, acabando por se fixar em Paris em 1722, ano em que publicou o Traité d’harmonie réduite à ses principes naturels, que o celebrizou. Em 1727, conheceu Le Riche de La Pouplinière, um importante membro da corte que o apoiará generosamente durante vinte e cinco anos. Embora já tivesse composto peças notáveis para cravo e várias cantatas, Rameau afirmou-se brilhantemente a partir de 1733 no domínio da ópera, com Hippolyte et Aricie, primeira de uma série de obras-primas como Les Indes Galantes (1733), Castor et Pollux (1737), Dardanus (1739) e Platée (1745). A partir de 1752, a nova moda da ópera italiana em Paris suscita muita polémica (a “Querelle des Bouffons”), mas isso não desencoraja um Rameau combativo, que escreverá aos 80 anos uma das suas mais belas óperas, Les Boréades, que não chegou a ver representada. Em vida, Rameau era considerado por muitos como uma pessoa seca, egoísta e taciturna mas, na realidade, tinha um espírito sensível e um gosto requintado, aliados a uma enorme inteligência. JOÃO DOMINGOS BOMTEMPO (1771-1842) João Domingos Bomtempo nasceu em Lisboa, em 28 de Dezembro de 1771. Foi aluno de seu pai, Francisco Xavier Bomtempo, músico da câmara real, oboísta italiano que trabalhava para a corte de D. José; e depois no seminário Patriarcal. Antes de completar catorze anos, foi admitido na Irmandade de Santa Cecília na qualidade de cantor da Bemposta. Em 1804, foi para Paris para tentar a sorte como pianista onde publicou suas primeiras obras uma sonata e dois concertos - que denotam a influência do estilo de Clementi. Em 1810, destacou-se pela sua Sinfonia n.º 1, que foi bem acolhida pela crítica. Ainda nesse mesmo ano, mudou-se para Londres, onde Clementi apresentava as suas obras mais recentes, como Capriccio and god save the king, op. 8, as Grandes Sonatas para piano, op. 9 (3) - a terceira com violino -, o Hino Lusitano op. 10 para piano, coro e orquestra, o Concerto para piano n.º 4 op. 12, a Grande Fantasia para piano op. 14, duas árias e uma ária popular com canções op. 15, para piano e violino. Em 1814, regressou a Portugal, onde, ao contrário do que esperava, só conseguiu apresentarse em público numa festa diplomática em que apresentou a sua cantata O anúncio da paz. Desiludido, foi para Londres, onde publicou mais algumas obras, entre as quais, o Quinteto para piano op. 16 e a Sinfonia n.º 1 op. 11. Nos finais de 1816 regressou a Lisboa, onde viveu, com dificuldades durante os dois anos seguintes. Uma vez mais, deixou a pátria e fixou-se em Paris, onde publicou a Missa Requiem consagrada a Camões. Relacionou-se com Field e Clementi, músico cuja editora publicou grande parte das suas obras. Em Portugal lutou por causas liberais, esteve ligado à criação do Conservatório Nacional e fundou a Sociedade Filarmónica, pioneira na divulgação de música instrumental. Em 1833 foi nomeado professor de música de D. Maria II e, em 1835, director do Conservatório, cargo que manteve até a morte, a 18 de Agosto de 1842. JOÃO MADUREIRA (n.1971) João Madureira nasceu em Lisboa em 1971. Após os estudos de Composição em Portugal, na Escola Superior de Música de Lisboa, com António Pinho Vargas e Christopher Bochmann, estudou também com Franco Donatoni, com York Höller na Hochschule für Musik Köln (com o apoio do Centro Nacional de Cultura), e com Ivan Fedele. Frequentou cursos e seminários de composição com Emmanuel Nunes, György Ligeti, Jonathan Harvey, Michael Jarrell e Magnus Lindberg. As suas composições têm sido regularmente apresentadas em Portugal, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Croácia e Espanha. Algumas das suas obras foram encomendadas por instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Culturgest, a Fundação das Descobertas, a Casa da Música, o IPPAR, Expo 98, Porto 2001, Teatro Nacional de S. João, Miso Music Portugal e Presidência da República. Em 1998 João Madureira recebeu o Prémio ACARTE / Maria Madalena Azeredo Perdigão (Fundação Gulbenkian), em ex aequo com o compositor Carlos Caires, pelo concerto “Melodrama”. Foi também nomeado compositor residente da OrchestrUtopica em 2003. É professor de composição na Escola Superior de Música de Lisboa e na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto. JOAQUIM TURINA (1882-1949) Nascido em Sevilha em 1882, Joaquim Turina exerceu actividade como compositor, maestro e pianista. Estudou em Sevilha e em Madrid, e posteriormente na Schola Cantorum, em Paris, entre 1905 e 1913 onde teve a oportunidade de estudar composição com d’Indy. Foi director de ballet em Espanha e professor de composição no Conservatório de Madrid. De entre a sua obra, essencialmente de estilo nacionalista, destacam-se as óperas Margot (1914) e Jardín de Oriente (1923); as obras para orquestra La procesión del Rocio (1913), Danzas fantásticas (1920), Sinfonia Sevillana (1920), Ritmos (1928), Concerto para Piano (1931); peças para música de câmara como o Quarteto de cordas (1911); La oración del torero, para quarteto de cordas (também orq. de cordas) (1925); várias obras para piano, para voz e piano e para guitarra. Morreu em Madrid em 1949. JOHANN SCHOBERT (c.1735-1767) Johann Schobert foi um compositor e cravista. A sua data e local de nascimento são contestadas. Algumas fontes dizem que ele nasceu em Schlesien, Silésia, ou Nuremberga. A data de nascimento Schobert é dada várias vezes como cerca de 1720, 1735, ou 1740. Em 1760, Schobert mudou-se para Paris, onde serviu na casa de Louis François I de Bourbon, príncipe de Conti. Compôs muitos livros de sonatas para cravo, a maioria deles com uma parte de acompanhamento de um ou mais instrumentos. Schobert também compôs concertos para cravo, sinfonias e a ópera cómica Le Garde-Chasse et le Braconnier. Em Paris Schobert entrou em contacto com Wolfgang Amadeus Mozart. JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750) Nasceu em Eisenach, na Turíngia, num ambiente familiar com uma longa tradição musical. O seu pai e, mais tarde, o irmão mais velho foram os seus mentores na apreensão metódica de todo o domínio musical do seu tempo. Assimilou de forma notória a herança dos contrapontistas do Norte da Alemanha (Bohm, Reinken e Buxtehude), o lirismo e dramatismo dos italianos (Frescobaldi e Vivaldi), e o sentido da forma e do ritmo tão caro aos franceses (Grigny e Couperin). Se as diversas etapas da sua carreira de organista e de director musical (Kapellmeister) nem sempre lhe proporcionaram a realização pessoal que esperava – Lüneburg (1700), Arnstadt (1703), Mühlhausen (1707), Weimar (1708), Cothen (1717) e por último Leipzig (1723) – permitiram-lhe, porém, reunir uma série de obras-primas em todos os géneros e modos de expressão à excepção da ópera: música religiosa (corais, motetes, cantatas, paixões e missas), música para órgão (tocatas e fugas), música de tecla ou para instrumentos solistas como o violino, o violoncelo ou a flauta (invenções, prelúdios e fugas, suites e partitas) e música para orquestra (suites e concertos). Bach sintetiza e influencia a história da música ocidental, tanto aquela de que foi o herdeiro genial, como a que se lhe seguiu, pois é uma grande referência para muitos dos seus sucessores. JOHANN STRAUSS (filho) (1825-1899) Compositor austríaco famoso pelas suas valsas vienenses e pelas operetas que compôs. Nasceu em 1825, em Viena, na Áustria, e morreu em 1899, também em Viena. Filho do famoso compositor Johann Strauss, o jovem Strauss Jr. teve que lidar com a proibição, imposta pelo pai, de seguir uma carreira musical. Mesmo assim, demonstrou sempre uma maior dedicação às suas lições secretas de violino, em detrimento do trabalho na escola. O seu primeiro concerto, em 1844, aconteceu num subúrbio de Viena, conseguindo um êxito assinalável e que depressa catapultou o seu nome para o reconhecimento público. Na ocasião da morte do pai, em 1849, Strauss Jr. era já uma referência nos meios culturais austríacos, conquistando nesses meandros o epíteto de rei da valsa vienense. Graças a esse estilo musical, do qual não pode ser dissociado, fez furor a nível mundial, granjeando o apoio de inúmeros seguidores da sua música. Viajou pela Áustria, Polónia e Alemanha. Em 1855, foi contratado para uma série de actuações, durante dez anos, no Petropaulovsky Park, em São Petersburgo. Depois da valsa, influenciado pelas operetas de Offenbach, Strauss Jr. produziu algumas peças nesse formato. De entre as 17 operetas que compôs, merece nota de destaque a sua primeira, Die Fledermaus (1871). Além deste, o seu trabalho mais célebre, comummente designado O Danúbio Azul, tornou-se uma espécie de hino não oficial da Áustria e, simultaneamente, a sua peça mais conhecida. Em 1872, conduziu vários concertos em Nova Iorque e em Boston. A sua obra é relativamente extensa e abarca diversos estilos. Johann Strauss Jr. compôs 17 operetas, um bailado inacabado (Cinderella 1899) e cerca de 400 valsas, polcas e outras danças. Para além das peças já referidas, uma menção para as valsas Rosen aus dem Süden (Rosas do Sul, 1880), Kaiser - Waltzer (A Valsa do Imperador, 1888) e Geschichten aus dem Wienerwald (Histórias dos Bosques de Viena, 1868). JOHANNES BRAHMS (1833-1897) Nasceu em Hamburgo. Em criança, imaginou um sistema de notação musical, sem saber que o mesmo já existia. Foi um génio, dotado precocemente para o piano e a composição. Foi introduzido no meio musical pelo pai, contrabaixista do Teatro Estatal de Hamburgo, com quem aprendeu a tocar violino. Estudou piano com Otto Cossel e composição com Eduard Marxsen. Como pianista, fez a sua primeira apresentação pública em Hamburgo, aos 15 anos. Em 1853, conhece Joseph Joachim, que se impressionou com as suas composições e o apresentou a Liszt e Schumann. Foi neste período que escreveu os primeiros opus –as três Sonatas para piano e as Variações sobre um tema de Schumann, bem como as quatro Baladas op. 10. Depois da morte de Schumann tornou-se professor de piano da princesa Friederike e maestro coral na corte de Lippe-Detmol. A composição para este instrumento irá estar presente em mais de 50 peças. Brahms considerava o piano como o seu confidente de todos os dias, uma espécie de diário onde podia depositar os pensamentos mais íntimos. Foi um mestre em qualquer forma de composição, exceto a ópera que nunca abordou. Evitou a música programática e escreveu nas formas clássicas, embora a sua natureza fosse essencialmente romântica. JOLY BRAGA SANTOS (1924-1988) Compositor e maestro, nasceu em Lisboa em 1924. Foi aluno de Luís de Freitas Branco em Lisboa e mais tarde de Hermann Scherchen em Veneza. Foi colega de Luigi Nono e Bruno Maderna. Foi compositor e maestro assistente na Emissora Nacional, professor no Conservatório Nacional e crítico musical. Dirigiu as três principais orquestras portuguesas: Orquestra Sinfónica do Teatro de São Carlos, Orquestra Sinfónica do Porto e Orquestra Sinfónica da Radiodifusão Portuguesa, onde foi responsável pela estreia portuguesa de várias obras contemporâneas portuguesas e estrangeiras (de Ginastera, Jorge Peixinho, Penderecki, entre outros). Foi membro-fundador da Juventude Musical Portuguesa, a que dedicou a sua Quarta Sinfonia, que inclui no último andamento o Hino à Juventude. A sua música, embora dividida grosso modo em duas fases, manteve um traço comum: a influência da música tradicional portuguesa e da polifonia renascentista. Inicialmente vincadamente influenciada por Luís de Freitas Branco, com estruturas clássicas e harmonias mais simples, foi-se tornando mais complexa a partir do fim dos anos 50. O domínio das possibilidades instrumentais e da paleta de cores da orquestra foram uma das marcas definidoras da obra de Joly Braga Santos. JUAN BAUTISTA PLAZA (1898-1965) Foi um dos mais importantes vultos da composição erudita venezuelana. Nasceu em 1898 em Caracas. Em 1920 rumou a Roma para estudar música sacra. De regresso a Caracas, foi organista e mestre de capela na catedral e professor na Escola Superior. Foi aí responsável pelo restauro e classificação dos manuscritos de música colonial venezuelana, encontrados em 1935. Durante dois anos foi director da Cultura do Ministério de Educação. Desde o início da colonização e até depois da Independência, em 1821, o ensino e a divulgação da música erudita na Venezuela — como em quase toda a América Latina — estiveram a cargo das missões religiosas. Seguiu-se um período romântico e marcadamente nacionalista até ao final da Primeira Guerra Mundial. Assim, a música de Plaza deu continuidade ao nacionalismo vigente, marcado por uma independência de apenas um século, tendo escrito muito para os coros e vozes das escolas onde ensinou. Foi no entanto na sua música para piano solo que mais se aventurou na aplicação das novidades que chegavam da Europa. JUAN DE ANCHIETA (1462-1523) Juan de Anchieta nasceu numa proeminente família basca: a sua mãe foi tia-avó de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Ignora-se a data exacta do seu nascimento e sabe-se muito pouco da sua juventude e de onde fez os seus estudos musicais e sacerdotais. Em 1489 foi nomeado capelão e cantor da capela da rainha Isabel, a Católica, e em 1495 tornou-se mestre-capela do infante D. João, após cuja morte, em 1497, regressou ao serviço da rainha, passando, depois da morte desta em 1504, para o serviço da nova rainha, Joana, a Louca. Ocupou vários cargos eclesiásticos desde 1518, como Abade de Arbs, passando os seus últimos anos num convento franciscano que havia fundado em Azpeitia. Algumas das trinta composições de Juan de Anchieta sobreviveram, entre elas duas missas completas, dois Magnificat, uma Salve Rainha, quatro atributos da Paixão, outras obras sacras e quatro composições profanas, com textos em castelhano. Foi um dos principais compositores espanhóis da sua geração, escrevendo música para a muito dotada capela da corte dos Reis Católicos. JULES MASSENET (1842-1912) (Montaud, 12 de Maio de 1842 – Paris, 13 de Agosto de 1912) Ainda antes de se tornar no mais prolífero compositor de ópera do fim do século XIX em França, Massenet fazia parte, durante os anos sessenta, do grupo de compositores que procuravam o sucesso em Paris: Saint-Saëns, Bizet, Delibes, Lalo, Fauré e também Duparc com quem manteve uma relação de amizade. Além da ópera era a cultura de salão que mantinha os compositores ocupados devido à constante procura de canções acompanhadas. Havia que abastecer o mercado sempre ávido deste género musical que se oferecia sob forma de canções individuais ou agrupadas em ciclos. Era este o gosto musical da belle époque. KENT OLOFSSON (n.1962) Kent Olofsson nasceu em Karlskrona, em 1962. Está associado principalmente à música de câmara, muitas vezes escrita para instrumentos em combinação com a electrónica – composições meticulosas que evoluem de uma estreita colaboração com músicos particulares e com ensembles. O próprio é guitarrista, tendo começado a sua carreira musical no grupo de rock sinfónico Opus Est em finais dos anos setenta e em início dos anos oitenta do século passado, antes de estudar composição em Malmö entre 1984 e 1991. A guitarra assumiu um papel central em muitas das suas obras. Um exemplo notável é o grandioso Il Liuto d' Orfeo para violão e fita, uma peça complexa e singularmente melancólica composta especialmente para o amigo guitarrista Stefan Östersjö. Com este trabalho obteve o primeiro prémio de Música Electrónica Acústica no Concurso Internacional de 1999, em Bourges, França. A par da sua série de obras centrada sobre certos aspectos do som e da tecnologia situam-se as peças, mais provocadoras, de instrumento a solo. Todos os trabalhos da série são intitulados Treccia (entrançado), nome que trai a estética e os métodos de composição. Na verdade Olofsson tem música escrita em muitos géneros – orquestral, concerto solo, vocal, electroacústica, rock (escreve para a banda art rock Dame Wiggens, na qual é também guitarrista) – e compôs música para teatro, para exposições de arte e para apresentações de dança com a companhia de dança do coreógrafo Efva Lilja, nomeadamente The Illuminated Dream Aflame, de 2001, uma produção gigantesca no Museu Guggenheim, em Bilbau, a que assistiram mais de 7000 visitantes. Com títulos e temas que remetem para o mundo conceptual da antiguidade, e com influências da música oriental e do universo técnico e tonal do renascimento, Olofsson atravessa um terreno expressivo muito vasto. A relativa complexidade técnica é muitas vezes compensada por um imediatismo surpreendente, nascido da confiança que deposita no seu ouvido quanto à textura acústica e quanto à experiência puramente humana de transmutação tonal. Esta sensibilidade "psicoacústica" empresta à sua música, sem compromisso, a capacidade de se imiscuir na intimidade do ouvinte. Kent Olofsson também trabalha como professor na Academia de Música de Malmo. LÉO DELIBES (1836-1891) Clément Philibert Léo Delibes (21 de Fevereiro de 1836 - 16 de Janeiro de 1891) nasceu em Saint-Germain-du-Val, agora uma região de França. Estudou no Conservatório de Paris com Adolphe Adam e obteve um primeiro prémio de solfejo em 1850. Em 1866, aquando da criação do bailado La Source, composto em colaboração com um especialista do género, Léon Minkus, a escrita de Delibes chama a atenção de músicos e apreciadores do bailado, o que lhe vale a encomenda de um novo bailado Copélia ou a Rapariga dos Olhos de Esmalte. Representado na Ópera de Paris, teve um êxito estrondoso. Em 1876 publica Sílvia ou a Ninfa de Diana, bailado cuja acção decorre na Grécia. Grande amador da dança, Tchaikovsky admirava estes dois bailados. Em 1882, Delibes escreveu uma miscelânea de árias e danças antigas para O Rei Diverte-se, de Victor Hugo, o qual havia anteriormente fornecido o enredo do Rigoletto, de Verdi. A sua célebre ópera Lakmé, que narra o amor impossível de um oficial britânico e da filha de um padre de Brahma, na Índia do século XIX, confirmou a sua glória. A ária mais conhecida é o «Dueto das Flores», sendo igualmente famoso o duo «D’où viens-tu? Que veuxtu?». Em 1884 Delibes é eleito membro da Academia das Belas-Artes. Morre em 1891, deixando inacabada a ópera Kassya que viria a ser orquestrada por Jules Massenet. LEOŠ JANÁČEK (1854-1928) Nasceu em Hukvaldy, Morávia do Leste, em 1854. Compositor, maestro, organista e professor. Embora tivesse já 47 anos quando se iniciou o século XX, é considerado um compositor deste século. Filho de um organista de paróquia estudou música com Pavel Krzysztowski e frequentou a Escola de Órgão de Praga. Aperfeiçoou a técnica nos conservatórios de Leipzig e Viena, respectivamente com Grill e Krenn. Em 1881 fundou a Escola de Órgão de Brno, da qual foi director até 1919. As suas composições tiveram pouco sucesso, mas gradualmente envolveu-se na música popular da Morávia trabalhando com Bartós na edição, harmonização e execução de canções tradicionais. O compositor é conhecido sobretudo pelas suas óperas e peças sinfónicas. A sua obra para piano é bastante reduzida, destacando-se Num Caminho Coberto de Vegetação, os dois movimentos da Sonata 1.º de Outubro 1905 e as quatro peças Nas Brumas, que contêm passagens de uma originalidade incontestável. LUCIANIO BERIO (1925-2003) Foi um compositor italiano, nascido em 1925 e falecido em 2003. Originário de uma família de músicos, começou a estudar música em casa. Uma ferida na mão pôs fim à sua carreira de pianista, tendo-se então concentrado na composição. Foi casado com a cantora norte-americana Cathy Berberian, com quem explorou todas as possibilidades técnicas e expressivas da voz. Tendo estudado com Dallapiccola em Tanglewood, foi em 1953 pela primeira vez a Darmstadt, onde tomou contacto com alguns dos mais importantes da sua geração. No entanto, Berio manteve alguma distância face à estética ali dominante. As suas fontes eram a literatura e a linguística. Em 1955 fundou com Bruno Maderna o Estúdio de Fonologia Musical da RAI de Milão. Mais tarde foi professor em diversas universidades e conservatórios na Europa e nos EUA, até que foi convidado por Pierre Boulez para dirigir a secção de electroacústica do IRCAM. Tendo ali adquirido experiência no domínio da transformação sonora em tempo real, fundou em 1987 o Tempo Reale — instituto de electrónica em tempo real localizado em Florença. LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Beethoven nasceu em Bona, mas foi em Viena, a cidade celebrizada por Haydn e Mozart, que se fixou em 1792, iniciando uma brilhante carreira de pianista e de compositor. Beethoven ocupa um lugar à parte na história da música, em parte devido às circunstâncias que caracterizaram a sua vida (a Revolução Francesa e as suas consequências, e também o advento do romantismo), mas, sobretudo, graças à força com que soube enfrentar um destino excepcional e ao seu génio, que lhe permitiu renovar profundamente a linguagem musical. Cedo foi atingido pelo mais cruel destino que pode ter um músico: a surdez, que logo em 1802 se revelou incurável. Numa primeira fase, sentiu-se completamente desesperado, tendo mesmo pensado no suicídio, mas conseguiu dominar o intenso sofrimento, encarando a criação musical como o meio para continuar a transmitir a mensagem de que se considerava portador. Assim, a partir de 1802, Beethoven intensificou a sua actividade criadora. Do ponto de vista musical e formal, a sua obra, impregnada da magnífica herança dos seus antecessores, caracteriza-se pelo alargamento constante das fronteiras de cada género, transformando os sistemas estabelecidos, em particular no domínio sinfónico, na obra para piano, que já “contém” todo o século XX, e possivelmente, de uma forma ainda mais acentuada, no domínio do quarteto para cordas, em que revolucionou verdadeiramente a escrita. Mas a sua música não deixa de transmitir à humanidade uma mensagem consoladora e fraterna. LUÍS TINOCO (n.1969) Nasceu em Lisboa em 1969. Formou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa e, posteriormente, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do Centro Nacional de Cultura completou um Mestrado em composição na Royal Academy of Music em Londres. Presentemente encontra-se a fazer estudos de Doutoramento na Universidade de York, sob orientação de Nicola LeFanu. Em 1999 foi-lhe atribuído o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte, pelo IPAE/Ministério da Cultura Português. Foi também distinguido com os prémios de composição Lopes-Graça, Cláudio Carneyro, Galliard Ensemble; e, na Royal Academy of Music, foram-lhe atribuídos os prémios Edward Echt, Mosco Carner, Battison Haynes, Charles Lucas e Howard Carr Memorial Prize. A sua música tem sido programada por agrupamentos e orquestras nacionais e internacionais, tais como: Quarteto Arditti, Apollo Saxophone Quartet, Drumming Grupo de Percussão, Birmingham Contemporary Music Group, Le Nouvel Ensemble Moderne, Remix Ensemble, Solistas da Ópera de Berlim, OrchestrUtopica, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra Nacional do Porto, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Gulbenkian, Albany Symphony Orchestra, El Paso Symphony Orchestra, Orchestra e Royal Philharmonic Orchestra. Paralelamente à sua actividade enquanto compositor, tem exercido funções docentes na Escola Superior de Música de Lisboa e em outras instituições de ensino. Enquanto programador e divulgador musical, destaca-se a sua colaboração com a Antena 2 da RTP e, mais recentemente, assumindo a direcção artística do Prémio Jovens Músicos. Em 2008, estreou no Teatro Municipal São Luiz Evil Machines, uma fantasia musical com libreto do exMonty Python Terry Jones, figurinos de Vin Burnham e coreografia de Paulo Ribeiro. MANUEL CARDOSO (1566-1650) Frei Manuel Cardoso é o principal compositor do grupo de polifonistas de Évora, os maiores expoentes do período áureo da música religiosa portuguesa. A música que compuseram caracteriza-se pela inexistência de acompanhamento de qualquer instrumento. Foi professor de Frei Manuel Cardoso, Manuel Mendes, nomeado Mestre de Claustra da Sé de Évora, cargo que desempenhou até 1589. Entre os quatro nomes de compositores que mais se salientaram – Estêvão de Brito), Filipe de Magalhães, Duarte Lobo e Frei Manuel Cardoso, foi este último quem conseguiu misturar com maior sucesso o antigo e o novo, produzindo um estilo pessoal muito característico. Frei Manuel Cardoso passou a sua vida como frade carmelita no Convento do Carmo em Lisboa. Antes de fazer os votos em 1589, foi menino do coro na Catedral de Évora. Entre 1618 e 1625, esteve ao serviço do Duque de Barcelos, mais tarde, de D. João IV, um patrono, ele mesmo músico distinto e compositor de mérito. As obras de Frei Manuel Cardoso que chegaram até nós estão impressas em cinco colecções, das quais duas foram pagas por D. João IV. Destas, a primeira e a última (1613 e 1648) incluem motetos e Magnificats, ao passo que as outras três (1615, 1636 e 1636) contêm Missas. Não podemos saber se Cardoso experimentou outros tipos de música barroca, porque o resto das suas obras (como as de tantos outros músicos) foi destruída pelo terramoto de 1755. A sua obra mais conhecida é a Missa de Requiem, para seis vozes (SSAATB), que está incluída no livro de Missas de 1625. O “Libera me” final é para quatro vozes (SATB). Existem muitas edições internacionais em disco das suas obras, em especial, da Missa de Requiem. MANUEL JOSÉ VIDIGAL (1796-1826) Apesar de ter sido um guitarrista famoso, não se consegue recolher muita informação sobre este músico, que morreu muito jovem. Consta que era disputado nos salões da boa sociedade lisboeta da época e dava concertos públicos nas salas de espectáculo da capital. Nas memórias de um viajante inglês, que em 1826 publicou um livro intitulado Sketches of Portguese Life, lêse que era um “homem de grande talento e excelente poeta por natureza”. MANUEL MACHADO (1605-1646) Era natural de Lisboa e foi discípulo de Duarte Lobo. Tocava primorosamente vários instrumentos. Recebeu a nomeação de músico da capela real de Filipe II de Portugal. O Catálogo da Livraria de D. João IV menciona as seguintes músicas de sua autoria: Cogitavit Dominus, a 4 vozes; Lamentações da Quinta-feira Maior, a 4 vozes; Salve Regine, a 8 vozes; e quatro vilancicos. MARCELO NISINMAN (n.1970) Nascido em Buenos Aires, em 1970, Marcelo Nisinman é um conceituado bandoneonista, compositor e arranjador. Nisinman estudou bandoneón com Julio Pane e composição com Guillermo Graetzer, em Buenos Aires, e Detlev Müller-Siemens, em Basileia. É convidado com regularidade para colaborar com os mais consagrados músicos, agrupamentos e orquestras. Tocou, entre outros, com Gidon Kremer, Gary Burton, Fernado Suarez Paz, Irmãos Assad e com a Orquestra de Filadélfia, sob a direcção de Charles Dutoit. Apresentou-se como solista com a WDR Big Band sob a direcção de Vince Mendoza, a Orquestra de Câmara Arpeggione a Orquestra Filarmónica de Belgrado, entre outras. As suas composições caracterizam-se pela originalidade, partindo das suas origens em Buenos Aires e sendo ricas em novas formas e técnicas, criando um estilo muito pessoal que quebra as regras da chamada “Música Porteña”. Em 2008, Marcelo Nisinman foi compositor em residência no Festival de Música de Câmara de Oxford e, desde então, tem sido convidado para participar, enquanto compositor ou intérprete, em vários festivais, incluindo o Festival de Música de Câmara de Kuhmo, na Finlândia, e o Sonoro Festival, em Bucareste. Nisinman compôs também alguns trabalhos vocais, entre os quais se destacam “Desvios” (2009), com texto de Carlos Trafic, e a sua versão de “Maria de Buenos Aires” (2010), ambos lançados pela Acqua Records. O seu CD “Tango” foi gravado com agrupamento contemporâneo dinamarquês “Tango Orkestret”. Compôs e tocou a música para o CD "Nacar" com a Orquestra de Câmara Mayo, sob a direcção de Pedro I. Calderón. MARIE-ANTOINETTE DE FRANCE (1755-1793) Maria Antonia de Habsburgo, imortalizada como Marie-Antoinette, Dauphine de France entre 1770 e 1774 e finalmente rainha de França até 1792 - é falar de uma das personagens mais controversas da História. Guilhotinada pelos revolucionários em 1793, Marie-Antoinette é ainda hoje amada por uns e odiada por outros. Símbolo do requinte e da superioridade estética e intelectual da corte francesa, mas também apontada como imagem da frivolidade, da decadência, e da injustiça, encarnou indubitavelmente as qualidades e as fraquezas de um grupo social, e sobretudo de uma forma de entender a Vida e o Mundo que estava inexoravelmente condenado a desaparecer de uma forma violenta e radical. Marie-Antoinette foi uma artista exímia e uma grande mecenas: foi aluna de Glück, tocava exemplarmente harpa e cantava razoavelmente; apoiou compositores e intérpretes franceses mas também estrangeiros, tais como Dussek, Saint-George, Piccinni e Sachinni; dinamizou um importante salão musical, e organizou famosas soirées de ópera no seu pequeno teatro no Palácio do Trianon. MAURICE RAVEL (1875-1937) Nasceu na região basca, mas passou a infância em Paris onde ingressou no Conservatório, estudando piano com Bériot e composição com Fauré. Ravel demonstrou sempre uma personalidade extremamente original, não obstante ter sido durante muito tempo considerado seguidor de Debussy. De facto, do seu universo sonoro estão ausentes as significações profundas e misteriosas que se encontram na música do seu conterrâneo, e os contactos ou influências de outras artes ou correntes estéticas, como o impressionismo ou o simbolismo, não se manifestam de forma tão evidente. Contudo, é possível encontrar alguns pontos comuns, embora com abordagens diferentes, como a evocação de atmosferas exóticas ou antigas. Este posicionamento distante encontra-se na origem da visão de Ravel como o compositor que resgatou a “música pura”, que regressou à organização racional dos sons, ao caráter artesanal da música manifestando uma constante – e quase obsessiva – preocupação por uma estrutura equilibrada e bem proporcionada que espelhasse a sua paixão por todo o tipo de mecanismos de precisão, como os relógios. Com efeito, Ravel procurou obter o máximo de clareza formal, melódica e rítmica, cujo clímax será naturalmente atingido com o Bolero (1928). A ideia subjacente é sempre a de um mundo extremamente ordenado e conduzido por si só, que se traduz em obras de contornos límpidos, mesmo quando faz uso de estruturas mais livres. MERLE ISAAC (1898-1996) Merle John Isaac (12 Outubro 1898 – 11 Março 1996) foi um arranjador prolífico, focado em fazer arranjos de peças famosas para artistas com menos experiência, especialmente para orquestras de escolas. Depois de se formar no Vandercook College of Music em 1932, começou a leccionar na John Marshall Metropolitan High School, em Chicago, Illinois. Nesse período, percebeu que havia pouca boa música disponível para orquestras menos referenciadas, e começou a arranjar a música para sua orquestra, começando com Perpetual Motion, de Bohm. Depois de trabalhar 35 anos em escolas da região de Chicago, retirou-se da educação, embora continuasse a ser maestro convidado por todo o país e prosseguisse o seu trabalho de arranjo musical. Em 1993, a American String Teachers Association concedeu a Isaac um prémio vitalício e, anualmente até 1997, continuou a dar prémios com o seu nome. A mesma associação também lança anualmente um concurso de composição Merle J. Isaac, para «incentivar a composição, a publicação e a interpretação de música de qualidade, em benefício dos programas de orquestras escolares.» MODEST MUSSORGSKY (1839-1881) Nasceu em Karov, uma das províncias da Rússia e morreu em São Petersburgo. Compositor russo, desde muito cedo demonstrou algum talento musical mas foi destinado à carreira militar, onde atingiu o posto de tenente. Em 1857 conheceu em São Petersburgo Cesar Cui e Balakirev, com quem estudou, e em 1859 decidiu consagrar-se à música. Em 1862 participou na criação do Grupo dos Cinco (constituído por Balakirev, Borodine, Cui, Mussorgsky e RimskyKorsakov). Representar a verdade (e não a beleza) numa linguagem musical sincera era o seu objectivo. Esta preocupação está patente nas suas melodias, onde integra um “recitativo” que lhe é muito próprio. Por volta de 1868 lançou-se na composição da sua principal ópera, Boris Godunov. O Grupo dos Cinco desfaz-se e Mussorgsky, perturbado, imerge na solidão e no alheamento. Deixa numerosas obras inacabadas, devendo-se a Rimsky-Korsakov o trabalho meritório de as concluir, o que vai contribuir, de forma decisiva, para o reconhecimento do seu talento. O arquitecto Viktor Hartmann, amigo de Mussorgsky e do Grupo dos Cinco, está na origem de Quadros de Uma Exposição, uma das obras mais célebres de Mussorgsky (composta para piano, mas também muito conhecida graças à célebre orquestração que Ravel fez desta peça). No início de 1874, pouco depois da morte de Hartmann, foi organizada uma exposição dos seus desenhos e maquetas. Foi essa exposição que inspirou Mussorgsky. NICCOLÒ PICCINNI (1728-1800) Niccolò Piccinni nasceu em Bari, no dia 16 de Janeiro de 1728. O pai era músico e a mãe, irmã do compositor G.Latilla. Destinado inicialmente ao sacerdócio, foi por recomendação do bispo de Bari, enviado para o Conservatório de San Onofrio, de Nápoles, onde veio a ser aluno de Leo e Durante (1742-1754). Começou a sua carreira de compositor de teatro em 1754, e o êxito de La Cecchina, ossia la buona figliuola (Roma, 1760) fez desta ópera bufa uma das mais populares de seu tempo. Foi representada em toda a Europa, provocando grande entusiasmo. L'Olimpiade (ópera séria), oito anos mais tarde, teve mais êxito do que qualquer das obras de Caldara, Vivaldi, Leo, Pergolesi, Galuppi, Hasse, Traetta e Jommelli sobre o mesmo tema. Em 1776, tendo assegurada a protecção de Maria Antonieta, partiu para Paris onde Marmontel dedicou-se a ensinar-lhe francês. A composição da sua primeira ópera francesa, Roland, tomou-lhe todo o ano de 1777. Na mesma época, começou a ridícula guerra dos panfletos conhecida pelo nome de "Querela entre gluckistas e piccinistas" - uma espécie de réplica da famosa "Querelle des bouffons" que, vinte anos antes, tinha posto em dúvida a verdadeira adequação da língua francesa ao canto da ópera, afirmando que a verdade residia unicamente na ópera italiana. Contra a sua vontade, Piccinni foi escolhido, por alguns amadores que se sentiam exasperados pelos preconceitos exclusivos dos admiradores de Gluck, para representar a oposição ao gluckismo. Do lado de Gluck defendia-se a depuração da herança barroca e a exaltação dos ideais clássicos aliados à continuidade dramática da acção. Do lado de Piccinni, estava a concepção tradicional napolitana. Piccinni, sempre protegido pela rainha, deu-lhe lições de canto, em Versalhes, e foi-lhe confiada a direcção da companhia italiana que se apresentava na Opéra. Mais tarde, em 1784, foi nomeado professor da Escola Real de Canto e de Declamação. Quando da Revolução de 1789, Piccinni, acusado de servir a coroa, viu-se obrigado a abandonar Paris e a voltar para Nápoles. Ironia do destino, quando em Itália a monarquia se viu ameaçada por revoluções republicanas, o compositor foi denunciado como sendo jacobino e colocado numa espécie de prisão domiciliária durante quatro anos. Depois destes tempos difíceis, aquando do tratado de paz entre o Reino de Nápoles e a Republica Francesa, Piccinni pôde finalmente regressar a Paris onde foi recebido com entusiasmo. Pouco antes de sua morte, foi nomeado inspector do Conservatório. Piccinni morreu em Passy (França), em 7 de Maio de 1800. A elegância das suas melodias, a qualidade dos seus conjuntos, o seu instinto teatral, tornaram as suas obras extremamente sedutoras e algumas das suas comédias (entre as quais La Cecchina) inserem-se na melhor tradição da ópera bufa italiana. Foi inovador quando trabalhou os finais de acto, anunciando os grandes finais mozartianos. Escreveu 33 óperas sérias e 76 óperas cómicas italianas (óperas bufas, intermezzi, drammi giocosi, comédias), 9 óperas sérias e 6 óperas cómicas francesas, 3 oratórios, uma missa, salmos, entre outras. OLIVIER MESSIAEN (1908-1992) Nasceu em Avignon, filho da poetisa Cécile Sauvage e de Pierre Messiaen, professor de inglês e conhecido tradutor de Shakespeare. Interessou-se pela música desde muito cedo começando a ter aulas de piano. A partir de 1919, ano em que a família foi viver para Paris, ingressou no Conservatório onde estudou até 1930. Nesse período teve aulas com Paul Dukas e com o organista Marcel Dupré, entre outros. Com vinte e dois anos, Messiaen foi nomeado organista na Igreja La Trinité em Paris, posto que ocupou durante toda a vida, tendo composto três ciclos de música para órgão, entre 1934 e 1939. Em Junho de 1936, o grupo La Jeune France, formado por Messiaen e pelos compositores André Jolivet, Daniel Lesur e Yves Baudrier, organiza o seu primeiro concerto. O objectivo era rejuvenescer a música francesa, dando-lhe vida e tornando-a mais humana. Nesse mesmo ano, Messiaen é nomeado professor na Ecole Normale de Musique e na Schola Cantorum. Feito prisioneiro durante a Guerra pelo exército de ocupação nazi, foi enviado para um campo de concentração na Silésia, onde compôs o célebre Quatuor pour la fin du temps, uma das suas poucas obras de música de câmara, mas uma das mais conhecidas, e certamente uma das mais emblemáticas do século XX. As inovações rítmicas, harmónicas e melódicas pelas quais Messiaen é conhecido, e que mais tarde explicou com a publicação, em 1944, do tratado Technique de mon langage musical, como os ritmos não reversíveis, o valor adicionado e os modos de transposição limitada, assim como a transcrição e adaptação do canto dos pássaros, começaram a surgir durante a década de 1930 e manifestaram-se em toda a sua obra. ORLANDO CARDOZO Licenciado em Música, cum laude em Composição, formou-se na Universidad Nacional Experimental de Las Artes UNEARTE (antigo IUDEM). Como intérprete de clarinete, bandolim e baixo, tocou com vários agrupamentos, tanto na Venezuela como no estrangeiro. Está actualmente a terminar o mestrado em Música na Universidad Simón Bolívar e é responsável pelas cadeiras de Composição e Música de Câmara da Venezuela, na UNEARTE. Durante sua carreira como compositor e arranjador, produziu obras dos géneros popular, de câmara, coral, sinfónica, a solo e electroacústica, enquadradas na nova corrente estético-musical do Crioulismo Académico Venezuelano. PIOTR ILICH TCHAIKOVSKY (1840-1893) Estudou Direito antes de entrar no Conservatório de São Petersburgo, onde estudou composição com Anton Rubinstein (1863-1865). Foi para Moscovo em 1866, tornando-se professor de Harmonia no novo conservatório, que estava sob a direcção de Nicolau Rubinstein. Durante os primeiros dois anos escreveu a 1.ª Sinfonia e a ópera Voyevoda. Em 1868 encontra-se com um grupo nacionalista de jovens compositores russos liderado por Rimski-Korsakov, e rende-se ao seu entusiasmo, como demonstra a 2.ª Sinfonia. De 1869 a 1875 escreveu mais três óperas e o primeiro concerto para piano. Foi crítico musical do Russkiie vedomosti, em nome do qual se deslocou ao primeiro festival de Bayreuth. Por esta altura tornou-se seu mecenas uma viúva rica, Nadezhda von Meck, sua grande admiradora, que lhe concedeu uma pensão anual. Tchaikovsky dedica-lhe a 4.ª Sinfonia. Pode então compor livremente. Desenvolve também uma carreira de maestro e viaja pela Europa e pelos Estados Unidos. O mais romântico dos compositores russos, e também o mais europeu, não cultivava a consciência política e nacional tão essencial ao grupo dos Cinco (formado por Balakirev, Borodine, Cui, Mussorgski e Rimski-Korsakov). Não cedeu às influências de Brahms e Wagner, mas admirava a música de Bizet e Saint-Saëns, e particularmente Mozart. A obra de Tchaikovsky tornou-se famosa em todos os géneros: as suas seis sinfonias; as óperas Eugène Onegin e A Dama de Espadas, para citar apenas as duas mais célebres; a música de câmara (trio “À memória de um grande artista” em homenagem a Nicolau Rubinstein, peças para quarteto de cordas, para sexteto de cordas, etc.); os seus bailados O Quebra-Nozes, O Lago dos Cisnes, são alguns exemplos, entre muitos outros, de obras que entraram no património musical universal. Tchaikovsky morreu em São Petersburgo, deixando-nos muitas das páginas mais célebres de toda a música russa. RICHARD STRAUSS (1864-1949) Considerado o último dos grandes românticos, Richard Strauss nasceu em Munique, onde o seu pai tocava trompa na Orquestra de Ópera da Corte. Começou a compor com apenas seis anos e, quando aos 17 escreveu Serenade for 13 Winds, op. 7, o consagrado maestro Hans von Bülow referiu-se a ele como o jovem compositor mais surpreendente desde Brahms. Aos 20 anos, as composições de Richard Strauss eram já interpretadas pelas melhores orquestras e dirigidas pelos mais importantes maestros. As suas maiores influências foram Wagner, Berlioz e Liszt. Em 1885, foi nomeado maestro da Orquestra de Meiningen, ocupando o lugar de Von Bülow, de quem fora assistente e, em 1894, sucedeu novamente a Von Bülow, desta vez como maestro da Orquestra Filarmónica de Berlim. Quatro anos depois, foi nomeado maestro da Ópera da Corte de Berlim, cargo que ocupou até ao estalar da Primeira Guerra Mundial. Entre 1919 e 1925, foi co-director da Vienna Staatsoper. Consagrado igualmente como maestro e compositor, entre as suas obras destacam-se os poemas sinfónicos, nomeadamente Don Juan (1889), Till Eulenspiegel's Merry Pranks (1895) e Also Sprach Zarathustra (1896), e as óperas Guntram (1892-1894), Feursnot (1900-1901), Salome (1903-1905), Elektra (1906), Ariadne auf Naxos (1912), Die Frau Ohne Schatten (1919) e Die Ägyptische Helena (1928). RICHARD WAGNER (1813-1883) Nasceu em Leipzig num ambiente familiar vocacionado para o teatro. Wagner hesitou durante muito tempo entre esta vertente artística e a música, optando por englobar estas duas formas de arte. Viveu cheio de dificuldades e frustrações, ficando a dever muito da sua obra à amizade de várias pessoas, dádiva que, pelo seu enorme egoísmo, nem sempre soube merecer. Envolvido na Revolução Liberal de Maio de 1849 em Dresden, a derrota do movimento pelas tropas prussianas obrigou-o a um exílio de treze anos em Zurique, Veneza e Lucerna. Liszt foi grande defensor da sua obra. Amnistiado em 1862, viu-se pouco depois obrigado a um novo exílio na Suíça onde casou, pela segunda vez, com a filha de Liszt, Cosiam. Em 1876, viu concretizado o seu grande sonho com a inauguração, em Bayreuth, de um teatro com a estrutura adequada para a produção das suas obras de “Arte Total” (Gesamtkunstwerk). Wagner levou ao extremo todas as características da ópera romântica alemã. Se a partir de Lohengrin (1846-1848) estabeleceu a estrutura de composição contínua (durchkomponiert), com o Ouro do Reno (a primeira parte da tetralogia de O Anel do Nibelungo) apresentou a sua concepção de “Drama Musical”. Tanto na narrativa como na estrutura musical, a sua obra deixou uma ideia inovadora de espectáculo, em que todas as formas são reunidas numa verdadeira explosão formal onde é exigida a adesão absoluta do espectador. ROSENDO MENDIZABAL (1868-1913) Mendizabal nasceu em Buenos Aires, Argentina. Na época a sua família desfrutava de uma posição económica saudável e próspera. Infelizmente, com três anos, ele e o seu irmão ficaram órfãos devido à morte prematura de seu pai. Em 25 de Outubro de 1897, um dia histórico, foi o dia em que Rosendo Mendizabal lançou a sua primeira peça de piano «La Casita» na casa de baile de Maria, a Basca, e o seu tango «El Entrerriano». Foi o início do tango estruturado, o qual, ao contrário dos exemplos primitivos de uma ou duas partes, apresenta as três composições que caracterizaram a velha guarda. O primeiro artista do tango nasceu em 21 de Abril de 1868, e assinou as suas obras com o nome A. Rosendo. Actuou geralmente como solista em casas de baile, como as de Maria, a Basca, A da Laura, A velha Eustáquia, Adelina, a parda, Tarana, entre outras. Até 1898 Rosendo escreve composições inolvidáveis: «Don José Maria», «Reina de Saba» e «Z Club» (este famoso tango foi dedicado à associação formada por quarenta rapazes, que davam um baile mensal apenas para os seus associados, bailes dirigidos pelas orquestras de Rosendo). De facto, em algumas ocasiões Rosendo dirigiu conjuntos como o quinteto de baile formado por Ernesto Ponzio (violino), Vincent Pecci (flauta), Eusébio Aspiazu (guitarra) e "Cieguito" Gaudin (cujo instrumento é desconhecido). Além do seu mais conhecido trabalho, «El Entrerriano», compôs os tangos «Don Padilla», «México», «Don Enrique», «Matilde», «El torpedero», «Contraflor al resto», «Tres arroyos», «Don Santiago», «Tigre hotel», «Don José María», «Don Enrique», «Don Horacio», «Don Santiago», «Viento en popa», «El torpedero», «Polilla», «Final de una garufa», «Le petit parisien», «Alberto», «Contra flor y el resto», «Pronto regreso», «A la larga», «Los dos leones», «Por aquí que no hay espina», «Rosendo» e «Arrabalera» (milonga), entre outros. Quase cego, paralítico, os seus últimos dias foram tristes, passados quase na miséria. Morreu a 30 de Junho de 1913. Apesar da sua curta vida produziu a carreira mais longa do tango: O Entrerriano, que ainda aparece no repertório de quase todos os locais de tango. SAMUEL BARBER (1910-1981) Frequentemente criticado pelos seus contemporâneos pela forte componente lírica e neoromântica dos seus trabalhos, Barber foi um dos mais importantes compositores norteamericanos de sempre. Nasceu em West Chester, na Pensilvânia, e começou a compor com apenas sete anos. Em 1924, ingressou no Curtis Institut of Music, em Filadélfia, onde estudou voz com Emílio de Gogorza, composição com Rosário Scalero e piano com Isabelle Vengerova. Foi ali que conheceu Gian Carlo Menotti, seu companheiro durante toda a vida e autor dos libretos de Vanessa, ópera com que Barber venceu o Pulitzer em 1958, e de A Hand of Bridge. A sua peça mais famosa é Adagio for Strings, trabalho que partiu de um quarteto de cordas que compusera em 1936 e que Barber adaptou para orquestra de cordas dois anos depois. A primeira apresentação desta obra teve lugar pela mão do consagrado maestro Arturo Toscanini à frente da NBC Symphony Orchestra em Nova Iorque. Barber foi também um prolífico compositor de canções, sendo ele próprio um talentoso barítono. Knoxville: Summer of 1915, composto a pedido da soprano Eleanor Steber é outro dos seus famosos trabalhos, inspirado na poesia de James Agee. Em 1966, a sua ópera Antony and Cleópatra inaugurou o novo auditório da Metropolitan Opera, no Lincoln Centre for the Perfoming Arts, em Nova Iorque. No entanto, a reacção da crítica foi tão hostil que Barber pouco mais terá composto até ao fim da sua vida. SERGEI PROKOFIEV (1891-1953) Nasceu na Ucrânia. Desde muito cedo foi encorajado a dedicar-se à composição por Taneiev, tendo estudado, entre outros, com Rimsky-Korsakov. Impôs-se como pianista e compôs com um estilo que alia força e lirismo. Em 1918 emigra para os Estados Unidos e depois para França, onde estabelece relações com Diaghilev (que tinha encontrado em Londres em 1914), Milhaud, Stravinsky, Poulenc, Ravel, entre outros. Todavia, deseja cada vez mais voltar à União Soviética. Nos anos de 1930 recebe várias encomendas da Rússia e compõe num estilo mais clássico: Tenente Kijé, Pedro e o Lobo, Romeu e Julieta. Em 1937 volta à Rússia e aceita ser um músico do regime soviético. Colabora com o cineasta Eisenstein. Como muitos outros músicos, Prokofiev foi vítima, em 1948, dos ataques da campanha antiformalista de Jadanov: algumas das suas obras são condenadas e censuradas. A sua morte, que ocorreu no mesmo dia da de Estaline, passou despercebida. A obra de Prokofiev permanece, a maior parte das vezes, fiel ao sistema tonal, mesmo quando faz incursões pela politonalidade e pela tonalidade. Abordou todos os géneros de música, com excepção da música religiosa; a obra para piano contribuiu decisivamente e de forma original para o repertório para este instrumento, pela sua linguagem harmónica e rítmica muito pessoal, e pela subtil mistura de lirismo e de realismo que a caracteriza. SERGEI RACHMANINOV (1873-1943) Nasceu em Oneg. Compositor, pianista e maestro russo, foi o último grande representante da tradição romântica de Liszt e Rubinstein. Estudou no Conservatório de Moscovo com Taneiev e Arenski, e desde muito cedo desenvolveu uma brilhante carreira como pianista. Após o insucesso da sua primeira sinfonia, em 1897, abandonou a composição, retomando a actividade só três anos mais tarde. Entre 1901 e 1917, compôs as suas obras mais importantes, designadamente as peças para piano solo e os segundos e terceiros concertos para piano, bem como os dois magníficos ciclos de música religiosa: a Liturgia de São João Crisóstomo e as Vésperas. Deixou a Rússia em 1917 e viveu em diversos países antes de se estabelecer definitivamente nos Estados Unidos. Sempre nostálgico em relação à Rússia, a sua obra revela uma íntima ligação ao romantismo de Chopin, Liszt e Tchaikovsky. Se o seu estilo, sempre fiel ao sistema tonal, é bem menos progressista que o dos seus conterrâneos (o segundo concerto é composto sete anos após o Prelúdio à sesta de um fauno de Debussy e 12 anos antes de A Sagração da Primavera de Stravinsky), a composição de Rachmaninov não é menos original. A sua aproximação ao repertório pianístico é absolutamente incontornável. SÉRGIO AZEVEDO (n.1968) Nasceu em Coimbra. Estudou composição com Fernando Lopes-Graça, e concluiu o Curso Superior de Composição com 20 valores na ESML, onde trabalhou com Constança Capdeville e Christopher Bochmann. Ganhou diversos prémios de composição, nacionais e internacionais, e as suas obras têm sido encomendadas e tocadas em vários países pelos mais prestigiados intérpretes, como Jürgen Bruns, Marc Foster, Pascal Roffé, Lorraine Vaillancourt, Brian Schembri, Luca Pffaf, Emily Ray, Fabian Panisello, Jonathan Stockhammer, Emily Ray, David Alan Miller, Aline Czerny, Ronald Corp, Álvaro Cassuto, Cesário Costa, Artur Pizarro, António Rosado, Berlin Kammerorchester, Remix Ensemble, Mission Chamber Orchestra, OrchestrUtopica, Galliard Ensemble, Proyecto Gerhard, Le Concert Impromptu, Ensemble Télémaque, Plural Ensemble ou Le Nouvel Ensemble Moderne. Publicou, em 1999, A Invenção dos Sons (Caminho); em 2007, Olga Prats – Um Piano Singular (Bizâncio), e colabora com The New Grove Dictionary of Music and Musicians. É professor na ESML e colaborador da RDP desde 1993. Está actualmente a realizar o doutoramento no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, sob a orientação de Elisa Lessa e Christopher Bochmann, sendo ainda o revisor principal da edição das obras de Fernando Lopes-Graça pelo Museu da Música Portuguesa (Cascais). A sua música é publicada pela AVA – Musical Editions. STEVE REICH (n.1936) Steve Reich foi recentemente considerado ”o nosso maior compositor vivo” (New York Times); “… o maior compositor vivo da América” (The Village VOICE); “…o pensador de música mais original do nosso tempo” (The New Yorker); e “...está entre os maiores compositores do século” (New York Times). Das suas primeiras gravações, It’s Gonna Rain (1965) e Come Out (1966), à ópera em vídeo digital Three Tales, em colaboração com Beryl Korot, o trajecto de Reich abrangeu, não só expressões da música clássica ocidental, mas ainda estruturas, harmonias e ritmos não ocidentais e da música indígena americana, em particular do jazz. “Há apenas um grupo restrito de compositores vivos que podem legitimamente reivindicar a alteração do rumo na história da música e Steve Reich é um deles”, defende o The Guardian (Londres). Em 2006, várias organizações por todo o mundo assinalaram as comemorações do 70.º aniversário do seu nascimento, com festivais e concertos especiais. Na sua cidade natal, Nova Iorque, The Brooklyn Academy of Music (BAM), Carnegie Hall e Lincoln Center juntaram-se para apresentar programas complementares de música, e em Londres, o Barbican organizou uma grande retrospectiva. Foram apresentados concertos em Amesterdão, Atenas, Bruxelas, Baden-Baden, Barcelona, Birmingham, Budapeste, Chicago, Colónia, Copenhaga, Denver, Dublin, Freiburgo, Graz, Helsínquia, Los Angeles, Paris, Porto, Vancouver, Viena e Vilnius, entre outros. Paralelamente, Nonesuch Records lançou uma segunda série de obras do compositor, Phases: A Nonesuch Retrospective, em Setembro de 2006. A colecção de cinco CD compreende 14 das suas obras mais conhecidas, abrangendo os 20 anos da sua relação com esta etiqueta. Em Outubro de 2006, em Tóquio, foi galardoado com o prémio Preamium Imperial em Música. Este importante prémio internacional é concedido na área das artes que não são abrangidas pelo Prémio Nobel. Os primeiros agraciados com este prémio em diversos campos incluem Pierre Boulez, Luciano Berio, Gyorgi Ligeti, Willem de Kooning, Jasper Johns, Richard Serra e Stephen Sondheim. Em Maio de 2007, recebeu o Prémio The Polar da Academia de Música Real Sueca. O prémio foi entregue pelo rei Carlos XVI Gustavo da Suécia. A Academia Sueca referiu: " […] Steve Reich transpôs questões sobre a fé, sociedade e filosofia para a sonoridade hipnótica da música que inspirou músicos e compositores de todo os géneros." Dos primeiros vencedores do Polar Prize destacam-se Pierre Boulez, Bob Dylan, Gyorgi Ligeti e Sir Paul McCartney. Em Dezembro de 2006 teve a honra de ser convidado para a Franz Liszt Academy em Budapeste e em Abril de 2007 foi premiado pelo Chubb Fellowship na Yale University. Em Maio de 2008 foi seleccionado para pertencer à Royal Swedish Academy of Music. Nasceu em Nova Iorque, cresceu entre esta cidade e a Califórnia. Formou-se com distinção em Filosofia na Universidade de Cornell, em 1975. Durante os dois anos seguintes, estudou composição com Hall Overton e, de 1958 a 1961, estudou na Juilliard School of Music com William Bergsma e Vincent Persichetti. Reich fez o mestrado em Música no Mills College, em 1963, onde trabalhou com Luciano Berio e Darius Milhaud. Durante o Verão de 1970, com uma bolsa do Instituto para a Educação Internacional, Reich estudou percussão no Instituto de Estudos Africanos da Universidade do Gana, em Accra. Entre 1973 e 1974, estudou Gamelan Semar Pegulingan (gamelões do Bali) e Gamelan Gambang na Sociedade Americana para as Artes Orientais, em Seattle e Berkeley, Califórnia. De 1976 a 1977, estudou as formas tradicionais dos cânticos das escrituras hebraicas em Nova Iorque e Jerusalém. Em 1966, Steve Reich fundou o seu próprio ensemble com três músicos, que rapidamente cresceu para 18 ou mais membros. Desde 1971, Steve Reich and Musicians têm tocado frequentemente em todo o mundo, em salas com lotação esgotada, como o Carnegie Hall e o Bottom Line Cabaret. A peça de Reich de 1988, Different Trains, marcou um novo método de composição, com raízes em It’s Gonna Rain e Come Out, em que gravações de discursos deram origem ao material musical para os instrumentos. O New York Times saudou Different Trains como “uma obra de uma originalidade tão espantosa que ultrapassa qualquer descrição possível […] com um impacto emocional lancinante.” Em 1990, Reich recebeu o Grammy de Melhor Composição Contemporânea, pela gravação de Different Trains do Kronos Quartet na etiqueta Nonesuch. Em Junho de 1997, nas comemorações dos 60 anos de Reich, a Nonesuch lançou uma retrospectiva com 10 CD, integrando várias gravações novas e algumas obras remasterizadas. Em 1999, foi galardoado com o Grammy de Melhor Pequeno Ensemble pela sua peça Music for 18 Musicians, também editado pela Nonesuch. Em Julho de 1999, foi organizada uma importante retrospectiva do seu trabalho pelo Lincoln Center Festival. Anteriormente, em 1988, o South Bank Centre, em Londres, apresentara uma série semelhante de concertos retrospectivos. Em 2000, recebeu o Prémio Schuman da Universidade de Columbia e distinções académicas como o Montgomery Fellowship do Dartmouth College, o Regent’s Lectureship da Universidade da Califórnia em Berkeley, o doutoramento honorário do Instituto das Artes da Califórnia e foi nomeado Compositor do Ano pela revista Musical America. The Cave, de Steve Reich e Beryl Korot, uma peça de vídeo-teatro musical que explora a história bíblica de Abraão, Sara, Hagar, Ismael e Isaac, foi recebida pela revista Time como “uma visão fascinante do que a ópera poderá ser no século XXI”. Na estreia em Chicago, John von Rhein, do Chicago Tribune, escreveu: “As técnicas adoptadas por esta obra têm o potencial de enriquecer a ópera, enquanto arte viva, inestimável […]. The Cave impressiona, em última análise, como uma poderosa e imaginativa obra de teatro musical high-tech que faz com que o perturbado presente entre num diálogo ressonante com o passado distante e convida-nos, a todos, a considerar de novo a nossa herança cultural comum.” Three Tales, uma vídeo-ópera documental e digital em três partes, é o segundo trabalho em colaboração com Steve Reich e Beryl Korot sobre três eventos bem conhecidos do século XX, numa reflexão sobre o crescimento e as implicações da tecnologia do século XX: Hindenburg, sobre a queda do zepelim alemão em New Jersey em 1937; Bikini, sobre os testes com bombas nucleares no atol Bikini, entre 1946 e 1954, e Dolly, a ovelha clonada em 1997, e as questões decorrentes da engenharia genética e robótica. Three Tales é uma obra de teatro musical em três actos, onde filmes históricos e vídeos, entrevistas gravadas em vídeo, imagens e textos, e especialmente stills construídos são recriados em computador, transferidos para vídeo e projectados em ecrã gigante. Músicos e cantores tomam os seus lugares no palco juntamente com o ecrã, apresentando a polémica acerca da natureza física, ética e religiosa do desenvolvimento tecnológico. A obra estreou no Festival de Viena em 2002 e foi em digressão pela Europa, América, Austrália e Hong Kong. A Nonesuch lançou um DVD/CD da peça no Outono de 2003. Ao longo dos anos, Steve Reich tem recebido numerosas encomendas, nomeadamente do Barbican Centre, Londres, Holland Festival; San Francisco Symphony; The Rothko Chapel; Festival de Viena; Hebbel Theater, Berlim; Brooklyn Academy of Music para o guitarrista Pat Metheny; Spoleto Festival, EUA; West German Radio, Colónia; Settembre Musica, Turim; Fromm Music Foundation para o clarinetista Richard Stoltzman; Saint Louis Symphony Orchestra; Betty Freeman para o Kronos Quartet e o Festival d’Automne, Paris, para as comemorações do 200.º aniversário da Revolução Francesa. A música de Steve Reich tem sido interpretada pelas principais orquestras e ensembles mundiais, incluindo a London Symphony Orchestra dirigida por Michael Tilson Thomas; a New York Philharmonic Orchestra dirigida por Zubin Mehta; a San Francisco Symphony dirigida por Michael Tilson Thomas; o Ensemble Modern dirigido por Bradley Lubman; o Ensemble Intercontemporain dirigido por David Robertson; a London Sinfonietta dirigida por Markus Stenz e Martyn Brabbins, o Theater of Voices dirigido por Paul Hillier, o Schoenberg Ensemble dirigido por Reinbert de Leeuw, a Brooklyn Philharmonic Orchestra dirigida por Robert Spano, a Saint Louis Symphony dirigida por Leonard Slatkin, a Los Angeles Philharmonic dirigida por Neal Stulberg, a BBC Symphony dirigida por Peter Eötvös e a Boston Symphony Orchestra dirigida por Michael Tilson Thomas. Vários coreógrafos de renome criaram coreografias para a música de Steve Reich, incluindo Anne Teresa de Keersmaeker (Fase, 1983, para quatro obras antigas e Drumming, 1998, e Rain para a Music for 18 Musicians), Jirí Kylían (Falling Angels para Drumming Part I), Jerome Robbins para o New York City Ballet (Eight Lines) e Laura Dean, que encomendou Sextet. A peça Impact estreou-se no Brooklyn Academy of Music’s Next Wave Festival e valeu a Steve Reich e Laura Dean um Bessie Award em 1986. Outros importantes coreógrafos, como Eliot Feld, Alvin Ailey, Lar Lubovitch, Maurice Béjart, Lucinda Childs, Siobhan Davies e Richard Alston, usaram a música de Reich. Em 1994, Steve Reich foi eleito para a American Academy of Arts and Letters, em 1995 para a Bavarian Academy of Fine Arts e, em 1999, foi agraciado com a medalha de Commandeur de L’Ordre des Arts et Lettres. VIRGÍLIO MELO (n.1961) Compositor, professor e musicógrafo, nasceu em Lisboa, em 1961. Iniciou estudos musicais no Conservatório Nacional de Lisboa em violino e composição, tendo sido particularmente marcado pelas aulas de Constança Capdeville e de Santiago Kastner. Estudou composição com Emmanuel Nunes em Paris e em Colónia como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Obteve o Diploma de Composição, por unanimidade, na Ecole Normale de Musique de Paris, o Primeiro Prémio de Estética do Conservatório Superior de Musica de Paris e o Segundo Prémio de Música Electrónica no Conservatório Real de Musica de Liège (Bélgica). Frequentou o Curso de Técnico de Som no Institut des Arts de Diffusion em Louvain-la-Neuve (Bélgica). Como compositor teve obras interpretadas em Portugal, França, Alemanha, Bélgica e Hungria. Participou nos Encontros de Música Contemporânea de Lisboa, no Festival Música em Novembro, no Festival Ars Musica em Bruxelas e no Festival Música Viva. Já recebeu encomendas de instituições tais como Porto 2001, Universidade de Aveiro, Escola Profissional de Viana do Castelo e Artave, nomeadamente para várias obras pedagógicas. Tem editadas partituras na Oficina Musical, nas Ediciones Cecilia Colien Honegger e no Núcleo de Jornalismo Académico do Porto. Presentemente é representado pelas Edições do Atelier de Composição que têm no prelo várias obras. Estão igualmente disponíveis registos de obras suas em CD. Como musicógrafo colaborou com diversos textos tanto para publicações especializadas, como para outras de carácter mais generalista, nomeadamente no jornal Público, na revista Colóquio/Artes, Arte Musical, em diversos programas de concertos para Gulbenkian, TNSC, entre outros, e na colecção Compositores Portugueses Contemporâneos. Esta vertente da sua actividade tem recebido a atenção da crítica especializada que salientou a "...fineza analítica e [...] solidez e pertinência teórica" (Público, Mil Folhas, 7.Dez.2002), e "... no âmbito da musicologia nacional, se perfila como um dos mais finos intérpretes da música portuguesa contemporânea." (Público, Mil Folhas, 22.Maio.2004). Realiza regularmente sessões de audição comentadas, em particular no Norte do País, com a Associação Músicas e Músicos, de que é vice-presidente. Possui igualmente experiência de direcção musical de agrupamentos vários, tendo tido aulas privadas de direcção de orquestra com Luca Pfaff e Jean-Claude Harteman. Actualmente lecciona na Universidade de Aveiro e no Conservatório Regional de Música de Vila Real. VÍTOR FARIA (n.1978) Nasceu em Guimarães em 1978. Iniciou os seus estudos musicais aos 8 anos de idade em piano e guitarra clássica com o seu pai. Posteriormente prosseguiu os seus estudos em trombone na Escola Profissional e Artística do Vale do Ave e na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto com os professores Alexandre Fonseca, Emídio Coutinho e Jon Etterbeek. Participou em masterclass com: Joseph Alessi, Ricardo Casero, Benny Schulin, Scott Hartmann e Ed Neumeister. Foi premiado em 1994 e 1995 com o Prémio Jovens Músicos/RDP na Categoria de Música de Camara com o 3.º Prémio nível médio e nível superior respectivamente. Apresentou-se a solo com a Orquestra Artave e com a Orquestra Nacional de Sopros dos Templários. Tem uma vasta experiência enquanto pedagogo, sendo convidado a orientar regularmente Cursos de Aperfeiçoamento, dos quais se destacam Conservatório de Coimbra, Escola da Banda de Música de Vale de Cambra, Escola Profissional de Música de Espinho e Universidade do Minho. Colabora como músico convidado com as Orquestra Nacional do Porto, Remix Ensemble, Orquestra do Algarve, Orquestra da Madeira, Orquestra do Minho, Real Philarmonia da Galiza e Orquestra Gulbenkian. Actualmente é solista da Orquestra Sinfónica Portuguesa e desempenha funções de docente na Universidade do Minho e no Instituto Piaget de Almada. Paralelamente à sua intensa carreira como instrumentista tem-se dedicado à composição e arranjos para as mais variadas formações, que têm sido interpretadas em Portugal, Japão, Itália, Bélgica e Canadá. Destacam-se as peças dedicadas ao Quarteto Vintage e gravadas no seu primeiro CD Tributo a Zeca e Fado a Quatro, diversos arranjos para octeto de trompas e quinteto de metais, e a ópera Serrana-fragmentos (sobre a ópera Serrana de Alfredo Keil) para quarteto de clarinetes, piano, percussão e 4 vozes solistas. É membro fundador da Associação Outrarte. WOLFGANG AMADEUS MOZART (1756-1791) Apesar da vida de Mozart ter sido curta, foi também particularmente densa. Os seus dons de menino-prodígio, absolutamente extraordinários, foram cedo descobertos e desenvolvidos pelo seu pai Leopold, também ele músico e pedagogo. Alvo da admiração de todos, percorre a Europa com o seu pai e a sua irmã Nannerl. Relaciona-se com compositores como Johann Schobert e Johann Christian Bach que complementam a sua educação musical. Passada a idade do “menino-prodígio”, Mozart confronta-se com as dificuldades de encontrar um cargo. Em Salzburgo, sua cidade natal, o príncipe-arcebispo oferece-lhe o lugar de Konzertmeister da corte. A pequena cidade e os constrangimentos impostos ao músico de corte cedo se tornam para Mozart muito limitativos. As numerosas viagens, com o intuito de encontrar uma nova situação, em nada resultam. Contudo consegue tirar proveito delas para estudar com grandes mestres. Aos 25 anos, já consciente do seu génio, Mozart decide instalar-se em Viena e casa com Constanze Weber. Vivem das lições que Mozart se vê obrigado a dar e das encomendas que lhe vão sendo feitas, mas a situação financeira nunca chega a ser estável. Da sua colaboração com o libretista Lorenzo da Ponte resultaram três das suas grandiosas óperas: As Bodas de Fígaro, Don Giovanni e Così fan tutte. A entrada para a loja maçónica terá como pano de fundo A Flauta Mágica. Nos últimos anos de vida a sua situação financeira degrada-se progressivamente. Mozart adoece gravemente e concentra as últimas forças na composição de encomendas importantes que lhe aparecem: A Flauta Mágica, La Clemenza di Tito, o Concerto para clarinete e o Requiem, que deixa inacabado. Será o seu discípulo dilecto Franz Xaver Süssmayr a concluir a sua última obra-prima.