RESUMO A ferrugem, que é causada pelo fungo Hemileia vastatrix, é considerada uma das principais doenças do cafeeiro. Nas condições brasileiras, a ferrugem causa prejuízos da ordem de 35 a 50% na produção dos cafeeiros, e a disponibilização de cultivares resistentes tem sido um constante desafio para os melhoristas. No Brasil, a ferrugem atinge todas regiões cafeeiras e quase todas variedades de café cultivadas são susceptíveis a esta doença, portanto o controle químico é eficiente e muito utilizado nas lavouras de café, porém o melhoramento genético demonstra também uma ótima alternativa para o controle desta doença. Portanto os programas de pesquisa tem um papel importante na busca de novas cultivares resistentes, visto que ao longo do tempo as plantas podem se tornar susceptíveis a novas raças do patógeno, que apresenta elevada variabilidade genética. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a severidade da doença e a resistência de diferentes genótipos de cafeeiro à ferrugem, no sistema de plantio adensado. O delineamento foi o de blocos casualisados, com doze tratamentos e duas repetições. Os dados foram analisados pelo programa SASM – Agri e submetidos ao teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Foi avaliada a porcentagem de severidade da doença e posteriormente calculado a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD). O genótipo H586 – 6 foi o que apresentou os melhores resultados. PALAVRAS-CHAVE: CAFÉ, GENÓTIPOS, RESISTÊNCIA. 5 ABSTRACT The ergot, which is caused by the fungus Hemileia vastatrix, is considered the main disease of the coffee. Under Brazilian conditions, ergot causes damage in the order of 35 to 50% in the production of coffee, and the availability of resistant cultivars has been a constant challenge for breeders. In Brazil, the ergot affects all coffee regions and almost all coffee varieties grown are susceptible to this disease, so the chemical control is efficient and widely used in the coffee plantations, but genetic improvement also demonstrates a great alternative for controlling this disease. Therefore research programs have an important role in the search of new resistant cultivars, since over time the plants can become susceptible to new races of the pathogen, which exhibits high genetic variability. Therefore, the objective of this study was to evaluate the severity of the disease and the resistance of different coffee genotypes to ergot in the high density planting system. The design was a randomized block design with twelve treatments and two replications. The dice were analyzed by program SASM – Agri and submitted to the Scott-Knott test at 5% probability. The percentage of disease severity and subsequently calculated the area under the disease progress curve was evaluated (AACPD). The H586-6 genotype, showed the best results. KEYWORDS: COFFEE, GENOTYPES, RESISTANCE. 6 7 1. INTRODUÇÃO O centro de origem do Coffea arabica L. é no sudoeste da Etiópia e do Coffea canéfora Pierre é na Libéria até o Sudão e na região do Rio Congo. As primeiras mudas de café foram trazidas da Guiana Francesa por volta de 1727, pelo padre Francisco de Mello Palheta e foram plantadas no Pará. Posteriormente o café foi cultivado no Maranhão e no Rio de Janeiro e, em 1825, houve um aumento bastante expressivo no plantio de café no Vale do Paraíba, São Paulo e Minas Gerais devido ao clima favorável. Em 1925, houve a dispersão do café para o Paraná e Espírito Santo e, atualmente, existem lavouras no Mato Grosso e Rondônia. O gênero Coffea é representado por mais de 100 espécies, porém as espécies C. arabica e C. canephora são as de maior importância econômica, embora outras espécies sejam valiosas em diferentes propostas do melhoramento genético, devido à variabilidade genética. A espécie C. arabica é a mais comercializada no mundo, por apresentar uma bebida com qualidade superior (SOUZA et.al. 2013). No Brasil, a produção de café arábica em 2014 foi de 32,5 milhões de sacas, correspondendo a 72 % da produção brasileira (CONAB, 2014). Uma das principais doenças do cafeeiro é a ferrugem, que é causada pelo fungo Hemileia vastatrix (Berk. & Broome). No continente Americano, foi constatada pela primeira vez, no Brasil, no município de Aurelino Leal, estado da Bahia, por A.G. Medeiros em janeiro de 1970, e hoje encontra-se espalhada por quase todos os países da América do Sul; América Central e México (SOUZA et.al. 2013; CARVALHO, 1991). Folhas com sintoma de ferrugem, posteriormente necrosam e causam a queda das folhas, caso nenhuma medida de controle seja adotada. A seca progressiva dos ramos reduz a vida útil da lavoura, tornando-a antieconômica (COSTA, 2007). 8 Nas condições brasileiras, a ferrugem causa prejuízos da ordem de 35 a 50% na produção dos cafeeiros, e a disponibilização dos cultivares resistentes tem sido um constante desafio para os melhoristas. As principais fontes usadas para a obtenção de resistência à ferrugem são plantas provenientes de cruzamentos entre o Híbrido de Timor e o Icatu. A maior ou menor intensidade dessa doença está associada ao ambiente, ao patógeno, ao hospedeiro e aos manejos culturais (ZAMBOLIM et.al., 2002; OLIVEIRA, 2012). No Brasil, a ferrugem atinge todas as regiões cafeeiras e quase todas as variedades de café cultivadas são susceptíveis a esta doença, portanto o controle químico a base de triazol e estrobirulina é eficiente e muito utilizado atualmente nas lavouras de café. Porém, o melhoramento genético demonstra também uma ótima alternativa para o controle desta doença, além de ser economicamente viável por reduzir o uso de defensivos agrícolas e vantajoso para o meio ambiente e para a população. Portanto, os programas de pesquisa e melhoramento têm um papel extremamente importante, na busca de novas cultivares resistentes, visto que ao longo do tempo as plantas podem se tornar susceptíveis a novas raças do patógeno, que apresenta elevada variabilidade genética. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a severidade da doença e a resistência de diferentes genótipos de cafeeiro à H. vastatrix, no sistema de plantio adensado. 9 2. REVISÃO DE LITERATURA O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, com produção estimada em 45,145 milhões de sacas para a safra 2013/2014 (Conab, 2014), representando uma das principais fontes de renda para o país. Destaca-se como o maior produtor de café, o estado de Minas Gerais, atingindo uma produção de aproximadamente 23 milhões de sacas, o que corresponde a mais da metade da produção nacional de café. A produção de café arábica representa quase 72 % (32,5 milhões de sacas beneficiadas) da produção do país, tendo como maior produtor o Estado de Minas Gerais com 66,20% dessa produção (FERNANDES et. al., 2009). O café é um dos produtos agrícolas de maior importância no quadro de exportações do Brasil há vários anos, gerando milhares de empregos diretos e indiretos (SILVA et.al., 2006). 2.1. Ferrugem: sintomatologia e fatores moduladores A ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo parasita obrigatório H. vastatrix, foi constatada pela primeira vez no Brasil no sul da Bahia em 1970 e apesar das várias medidas tomadas na época para conter a disseminação do patógeno, hoje sua presença é verificada em todas as regiões cafeeiras do país (SILVA et.al., 2006; PINTO et. al., 2007; FERNANDES et. al., 2009; LOPES et. al., 2009). Os primeiros sintomas da doença são manchas cloróticas com diâmetro de 1 a 3 mm, posteriormente formam-se pequenas manchas circulares de coloração amareloalaranjada na face inferior da folha, com diâmetro que pode chegar a mais de 1 cm. Sobre a mancha forma-se uma massa pulverulenta de uredósporos. Na face superior da 10 folha, nas áreas correspondente à massa de uredósporos da face inferior verificam-se manchas cloróticas (PINTO et. al., 2007). Os principais danos causados pela ferrugem são ocasionados pela queda precoce das folhas e seca dos ramos produtivos, resultando em diminuição da taxa fotossintética da planta, e consequentemente, afeta negativamente a produtividade da lavoura. Essa seca constante dos ramos reduz a longevidade dos cafeeiros, tornando a lavoura gradativamente antieconômica (SILVA et.al., 2006; PINTO et. al., 2007; FERNANDES et. al., 2009; LOPES et. al., 2009). A ferrugem alaranjada é a doença mais importante do cafeeiro, pois atinge com gravidade grandes áreas de lavouras causando prejuízos na produtividade de cerca de 50 % nas condições climáticas ideias e sem adoção de nenhum método de controle. Com isso, os custos de produção de café aumentam, já que o controle da doença apresenta custo elevado (LOPES et. al., 2009; SILVA et.al., 2006; OLIVEIRA et. al., 2011; FERNANDES et. al., 2009; BONOMO et. al. 2011; OLIVEIRA et. al., 2007; PINTO et. al., 2007; MARTIELLO et.al., 1981). De acordo com Bonomo et. al. (2011), Zambolim et. al. (2002) e Silva et. al. (2006) as perdas na produção brasileira de café, ocasionadas pela ferrugem, é de cerca de 5 milhões de sacas, que nos preços atuais equivale a um prejuízo aproximado de 2,5 bilhões de reais para os cafeicultores brasileiros. Pode ocasionar consideráveis perdas na produção de café, dependendo das condições climáticas, do sistema de cultivo, da cultivar plantada e do manejo da lavoura (LOPES et.al., 2009; BONOMO et. al. 2011). As condições ambientais influenciam a taxa de desenvolvimento do patógeno, sendo que temperaturas entre 20 e 25ºC e umidade relativa alta favorecem o desenvolvimento do fungo. A temperatura exerce influência em todas as etapas do ciclo de vida de um patógeno, ou seja, infecção, colonização, reprodução e sobrevivência. A doença torna-se 11 mais severa em anos de altas produções e em plantios adensados. O problema torna-se ainda mais sério no Brasil, pois cerca de 90% do parque cafeeiro nacional é composto de cultivares suscetíveis, principalmente por ‘Catuaí’ e ‘Mundo Novo’ (OLIVEIRA et. al., 2007; PINTO et. al., 2007; FILHO et. al., 2009). Com relação à umidade relativa, sabe-se que acima de 90% o molhamento foliar favorece o desenvolvimento do fungo. Além disso, a umidade na forma de chuva ou irrigação atua na disseminação dos uredósporos e no aumento da doença no campo, além de proporcionar água em estado líquido para a germinação (FILHO et. al., 2009). O conhecimento das condições climáticas de determinada região, assim como suas projeções futuras poderá ser de extrema importância para o manejo de doenças, visto que a delimitação das regiões climaticamente homogêneas poderão determinar as áreas mais propensas à sua ocorrência (SILVA et.al., 2006). De acordo com Lopes et. al. 2009 apud Theodoro, 2002: A ocorrência da ferrugem é dada nos diferentes sistemas de manejo, sejam convencionais, organo-minerais ou orgânicos. Para efeitos de definição o sistema convencional de produção é aquele embasado no uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Já o sistema orgânico adota tecnologias que otimizem o uso dos recursos naturais e sócioeconômicos e a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação de emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, e o sistema organomineral que também pode ser denominado de SAT (sem agrotóxicos), trata-se de um manejo no qual o agricultor elimina da propriedade toda e qualquer forma de aplicação de agrotóxicos, mas continua utilizando, por um período determinado, fertilizantes sintetizados quimicamente. Dentre os fatores do hospedeiro que influenciam a taxa de desenvolvimento da doença pode-se citar a densidade de plantio, o nível de resistência da cultivar e a predisposição da cultura à alta produção (LOPES et. al. 2009 apud VALE et al., 2000). 12 2.2. Formas de controle da ferrugem do cafeeiro Antes mesmo de a ferrugem chegar ao Brasil, em um estudo realizado em 1968, já se analisava a possibilidade de criar genótipos do café resistentes à ferrugem, como meio de controle (SILVA et.al., 2006). Nos últimos anos, várias cultivares de cafeeiros resistentes à essa doença foram lançadas. No entanto, o contínuo aparecimento de novas raças fisiológicas do fungo tem superado a resistência de alguns genótipos (VÁRZEA et. al., 2002). De acordo com BONOMO et. al. (2011): Os fungos biotróficos, causadores das ferrugens, normalmente apresentam grande variabilidade genética. No caso da ferrugem alaranjada do cafeeiro, seu agente causal apresenta mais de 45 raças fisiológicas identificadas. O potencial de surgimento de novas raças é um problema difícil e iminente, que os melhoristas precisam antever e enfrentar constantemente no melhoramento visando resistência às doenças. Este fato está relacionado com a pressão de seleção exercida pelos genes de resistência do hospedeiro sobre aqueles de virulência do patógeno. Portanto, nos programas de melhoramento do cafeeiro visando resistência a ferrugem os melhoristas têm que trabalhar simultaneamente com as características genéticas do cafeeiro e com as do fungo H. vastatrix. O trabalho dos melhoristas têm sido constantes no intuito de superar a patogenicidade das novas raças de H. vastatrix que surgem e ao mesmo tempo tem-se dado ênfase nos programas de melhoramento genético do cafeeiro, à obtenção de cultivares resistentes à ferrugem (SILVA et.al., 2006; OLIVEIRA et. al., 2011; FERNANDES et. al., 2009; BONOMO et. al. 2011; OLIVEIRA et. al., 2007; PINTO et. al., 2007). Dentre as medidas de controle da ferrugem, a utilização de cultivares resistentes é a mais fácil e econômica de ser implementada, visando minimizar os prejuízos causados pela doença. Essa tecnologia possibilita ao produtor diminuir a utilização de produtos fitossanitários na lavoura cafeeira, contribuindo para o desenvolvimento de uma 13 cafeicultura sustentável e competitiva, conseguindo assim uma redução de custos no controle químico (SILVA et.al., 2006; OLIVEIRA et. al., 2011; FERNANDES et. al., 2009; BONOMO et. al. 2011; OLIVEIRA et. al., 2007; PINTO et. al., 2007). Como medidas alternativas de controle de doenças têm-se a indução de resistência em plantas, que envolve a ativação de mecanismos de defesa existentes nas plantas, em resposta de tratamentos com agentes bióticos e abióticos, representados por barreiras bioquímicas ou estruturais, que aumentam a resistência geral da planta (FERNANDES et. al., 2009 apud UKNES et al., 1996). A utilização de produtos contendo nutrientes como fosfitos tem ganhado importância no controle de doenças, estando estes entre os produtos citados na literatura como indutores de resistência. (FERNANDES et. al., 2009) 2.3. Hereditariedade e fator de resistência à ferrugem De acordo com Oliveira et. al. (2007) apud Bettencourt (1973): A principal fonte de resistência à ferrugem, utilizada nos programas de melhoramento, é o germoplasma derivado do Híbrido de Timor. Este é um híbrido derivado do cruzamento natural entre C. arabica (2n=4X=44) e C. canephora (2n=2X=22) e possui numerosos fatores de resistência à ferrugem provenientes do genitor diplóide (Bettencourt, 1973). Outra característica interessante desse germoplasma é a facilidade de cruzamento com cultivares do tipo arábica, pois a maioria das linhagens do Híbrido de Timor é tetraplóide (2n=44), produzindo descendentes férteis já na primeira geração. O germoplasma denominado Icatu é outra fonte de resistência à ferrugem, também muito utilizada nos programas de melhoramento do cafeeiro. O Icatu, à semelhança do Híbrido de Timor, é um híbrido interespecífico, desenvolvido no IAC pelo cruzamento artificial entre C. arabica e C. canephora. As cultivares de Arábica tradicionalmente cultivadas no Brasil são altamente produtivas, apesar da maioria delas não apresentarem resistência genética à ferrugem alaranjada, a principal doença do cafeeiro (BONOMO et. al., 2011). 14 A espécie C. arabica é caracterizada por apresentar estreita base genética, em que a maioria de suas cultivares são derivadas de poucos cafeeiros distribuídos para plantio ao redor do mundo. A transferência de genes de resistência a H. vastatrix de acessos coletados nos centros primários de diversidade ou de espécies diplóides selvagens de Coffea spp tem sido um desafio constante dos programas de melhoramento genético do cafeeiro, visando resistência à ferrugem (OLIVEIRA et. al., 2011). Nove genes de efeito maior e dominantes de resistência a H. vastatrix foram identificados e inferidos com base na teoria gene-a-gene. Portanto, a resistência do cafeeiro à ferrugem parece ser condicionada por pelo menos nove genes designados SH1-SH9, isolados ou em associação, enquanto os genes de virulência correspondentes são denominados como V1-V9 (BETTENCOURT & RODRIGUES, 1988). Dos fatores de resistência mencionados, SH1, SH2, SH4 e SH5 são derivados da espécie C. arabica. Os outros genes, SH6, SH7, SH8 e SH9 são oriundos da espécie diplóide C. canephora, enquanto o gene SH3 originou-se, provavelmente, de C. liberica, uma outra espécie diplóide (BETTENCOURT & RODRIGUES, 1988). As principais fontes usadas para a obtenção de resistência à ferrugem foram plantas provenientes de cruzamentos com Híbrido de Timor e com Icatu. As progênies oriundas destes cruzamentos têm sido selecionadas pelo método genealógico e encontram-se atualmente em geração F5 ou F6. Algumas destas progênies já estão disponíveis para plantio comercial (MARTIELLO et. al., 1981). As cultivares resistentes à ferrugem disponibilizadas para cultivo comercial ao longo do tempo, podem tornar se suscetíveis a novas raças do patógeno, que se desenvolvem por meio de mutações genéticas, com potencial para superar a resistência de determinados cafeeiros (OLIVEIRA et. al., 2011). 15 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Agroteste, localizada na BR 365 Km 604, município de Uberlândia – MG, a 18º 56' 04.7" latitude Sul e 48º 12' 03.4" longitude Oeste, a 965 m de altitude, no período de 01 de fevereiro de 2014 a 01 de julho de 2014. De acordo com a análise química e física do solo, o experimento foi instalado em área classificada como Latossolo Vermelho, de textura média. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados (DBC – bloco A e bloco B), com doze tratamentos e duas repetições. As parcelas experimentais constituíram-se de três linhas com 4,2 metros de comprimento e 1,8 de largura cada, totalizando uma área de 7,56 m² por parcela, 24 plantas no total, sendo considerado um sistema de plantio adensado. O período de condução do experimento foi de fevereiro a junho de 2014, foram realizadas cinco avaliações de porcentagem de severidade da doença utilizandose a escala diagramática da Embrapa Café (Cunha et. al., 2001). Avaliaram-se 10 ramos por parcela, coletávamos as folhas do 3° e 4° nó do terço médio da planta, e as avaliações foram feitas somente na linha do meio da parcela, com intervalo de 20 dias. A partir dos dados de severidade, calculou-se a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) (Campbell; Madden, 1990), baseado na fórmula: AACPD = Σ(yi + yi+1)/2 * (ti+1 – ti ), onde: n = número de avaliações; y = severidade de H. vastatrix (%); t = tempo (dias). As informações climáticas do local do experimento são conforme classificação de Koppen, clima Aw Tropical quente e úmido, com inverno frio e seco, precipitação anual média de 1479 mm e temperatura média anual de 21,5° C. 16 Os dados obtidos foram submetidos à análise do programa SASM – Agri que é um sistema para análise e separação de médias em experimentos agrícolas, usando-se o teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Os genótipos IBC - 12, Mundo Novo, Catuaí IAC 99, Catuaí IAC 114 e o Catuaí IAC 144 já estão disponíveis comercialmente e os genótipos H638 – 5, H586 – 6, H556 – 7, H567 – 6, UFV – 7723, UFV – 7704 e o UFV – 7664 estão em fase de pesquisa. 17 3.1. Descrição dos genótipos As novas linhagens são resultado de quase meio século de pesquisa, em instituições como a Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Federal de Viçosa e a Empresa Mineira de Pesquisa Agropecuária – EPAMIG. As sementes dos materiais avançados chegaram à Uberlândia (UFU) há 15 anos, e a partir daí o trabalho de pesquisa foi intensificado em condições de sequeiro (sem irrigação suplementar, por mais de seis meses durante 15 anos). Foram selecionados nos últimos 15 anos os materiais que apresentaram maior estabilidade genotípica e estabilidade na produção, além da resistência à ferrugem do cafeeiro. Foram selecionadas para as condições de cerrado as seguintes progênies com seleção contínua ano a ano para as melhores plantas: i. H586-6, com o nome CATUFU-EPA1 (Supremo), referente ao cruzamento entre UFV2054-372-T16-PN (Catimor) X UFV 2000-310-T9-PN (Catimor). Estas sementes foram recebidas 1999 na sua geração F2. Foram realizados três ciclos de seleção para manter a uniformidade do material em relação a frutos vermelhos, peneira média e plantas com no máximo 2 m de altura no espaçamento 2,0x1,0 m. Apresenta alta resistência a Hemileia vastatrix, além da tolerância a seca. ii. H567-6-CATUFU-EPA2 (Sem rival). Linhagem selecionada a partir do cruzamento UFV2000-310-T9-PN (Catimor) X UFV 1603-232-T15-PN (Catimor). Estas sementes foram recebidas 1999 na sua geração F2. Foram realizados três ciclos de seleção para manter a uniformidade do material em relação a frutos vermelhos, peneira média e plantas com no máximo 2 m de 18 altura no espaçamento 2,0x1,0 m. Apresenta alta resistência a Hemileia vastatrix, além da tolerância a seca. iii. H556-7. Oriundo do cruzamento entre UFV1603-231-T15-PN (Catimor) X UFV 200-310-T9-PN (Catimor). Estas sementes foram recebidas 1999 na sua geração F2. Foram realizados três ciclos de seleção para manter a uniformidade do material em relação a frutos vermelhos, peneira média e plantas com no máximo 2 m de altura no espaçamento 2,0x1,0 m. Apresenta alta resistência a Hemileia vastatrix, além da tolerância a seca. iv. H638-5. Material proveniente do cruzamento entre UFV 2151-78-EL8 (Mundo Novo) X CIFC 832/1 (Híbrido de Timor). Estas sementes foram recebidas 1999 na sua geração F2. Foram realizados três ciclos de seleção para manter a uniformidade do material em relação a frutos vermelhos, peneira média e plantas com no máximo 2 m de altura no espaçamento 2,0x1,0 m. Apresenta alta resistência a Hemileia vastatrix, além da tolerância a seca. v. UFV-7664 – CATUFU-EPA 3 (Vencedor). Este material foi recebido na geração F7 de Catimor em 1999 e mostrou-se uma alta resistência à ferrugem, além da sua estabilidade e tolerância à seca. Dado a sua estabilidade e por apresentar frutos vermelhos foi selecionada para multiplicação de sementes no cerrado mineiro. vi. UFV-7723. Este material também foi recebido na geração F7 de Catimor em 1999 e mostrou-se uma alta resistência à ferrugem, além da sua estabilidade e tolerância à seca. Dado a sua estabilidade e por apresentar frutos vermelhos foi selecionada para multiplicação de sementes no cerrado mineiro. vii. UFV-7704. Este material também foi recebido na geração F7 de Catimor em 1999 e mostrou-se uma alta resistência à ferrugem, além da sua estabilidade e 19 tolerância à seca. Dado a sua estabilidade e por apresentar frutos vermelhos foi selecionada para multiplicação de sementes no cerrado mineiro. 3.2. Materiais já disponíveis no mercado: viii. IBC – 12. Um Sarchimor da CV 1669-13, selecionado em Varginha a partir de material oriundo do IAC. ix. Catuaí – 99, 114, 144. Originou-se como produto de recombinação, a partir de um cruzamento artificial entre cafeeiros selecionados pela produtividade, das cultivares Caturra Amarelo de prefixo IAC 476-1 e Mundo Novo, IAC 374-19, de C. arábica. x. Mundo Novo (IAC 379-19). Corresponde a uma recombinação resultante de um cruzamento natural entre as cultivares Sumatra e Bourbon Vermelho. 20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas cinco avaliações e ao longo dessas verificou-se a evolução da doença de forma gradual com significativa queda no período da segunda avaliação, provavelmente por ser um ano de baixa carga, a falta de chuvas e a irregularidade das mesmas no ano de 2014, ocasionou um déficit hídrico bastante expressivo e consequentemente isso influenciou negativamente na esporulação e prejudicou a evolução da doença na lavoura. A figura 1 apresenta um resumo da análise de variância de diferentes genótipos de Coffea spp em função do tempo, avaliando a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de Hemileia vastatrix. Já a figura 2 apresenta as médias de diferentes genótipos de Coffea spp em função do tempo, avaliando a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de H. vastatrix. O figura 3, demonstra a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) até os cem dias. A partir dos dados obtidos, podemos dividir em dois grupos de genótipos: um indicando resistência à ferrugem e outro grupo indicando suscetibilidade à ferrugem. A época de avaliação influenciou na porcentagem de severidade da doença, comprovando a evolução da doença no tempo. O genótipo IBC - 12 apresentou alta resistência à ferrugem e segundo Zambolim et al. (2002), o IBC-12, um Sarchimor da CV1669-13, selecionado em Varginha a partir de material oriundo do IAC, vem apresentando boa produtividade e alta resistência à ferrugem. De acordo com Carvalho (2008), o Catuaí IAC 99 destaca-se pelo alto vigor vegetativo, boa arquitetura de planta, alta produtividade e tolerante a ferrugem, além de 21 apresentar qualidade de bebida semelhante às cultivares comerciais Catuaí e Mundo Novo. Dentre os manejos e métodos de controle previstos para a ferrugem na cultura do cafeeiro, o controle genético está cada vez mais ganhando espaço na pesquisa, pois conforme mencionado por Várzea et al. (2002), é importante obter novas cultivares de café com resistência a ferrugem e que possam dispensar, total ou parcialmente, a aplicação de fungicidas para substituição de cultivares tradicionais de C. arabica suscetíveis. Porém, segundo Zambolim et al. (1999), para essa doença o controle químico ainda é o mais utilizado, no entanto, embora seja eficiente, eleva os custos de produção e coloca em risco a saúde dos trabalhadores, podendo causar também a contaminação do meio ambiente. Todos os genótipos em estudo apresentaram resistência horizontal, visto que nenhum deles apresentou resistência total, imunidade ou suscetibilidade total. De acordo com Vanderplank (1963), enquanto uma única alteração genética no patógeno é suficiente para vencer a resistência vertical, condicionada por um único ou poucos genes, são necessárias diversas alterações genéticas para o patógeno vencer a resistência horizontal. Os genótipos UFV 7704, UFV 7723, H638-5 e H556-7 apresentaram alta resistência à Hemileia vastatrix. De acordo com Melo (2014), os genótipos UFV 7704 e UFV 7723 foram resistentes a Meloidogyne incognita e Meloidogyne paranaenses (nematóide das galhas) e os genótipos H638-5, H556-7 e UFV 7723 foram resistentes ao Pratylenchus coffeae (nematóide das lesões). 22 Figura 1. Resumo da análise de variância de diferentes genótipos de Coffea spp em função do tempo, avaliando a área abaixo da curva de progresso da doença de Hemileia vastatrix. Fonte de G. L. Variação 1 Blocos Genótipos 11 11 Resíduo 23 Total 23,17 % CV (%) S.Q. Q.M. Fcalc. 8743,98 8743,98 0,298 n.s. 1999470,16 181770,01 6,19** 322796,30 29345,12 2331010,4 F (5%) F (1%) 4,84 2,82 9,64 4,46 **Demonstra que foi significativo a 0,01 de significância. Figura 2. Tabela com as médias dos diferentes genótipos de Coffea spp em função do tempo, avaliando a área abaixo da curva de progresso da doença de Hemileia vastatrix. Tratamentos AACPD "UFV7664" 1332,0 b "Mundo Novo" 1048,4 b "Catuaí 114" 1032,4 b "UFV7704" 912,9 b "UFV7723" 796,6 b "H567-6" 767,1 b "Catuaí 99" 655,6 a "Catuaí 144" 635,9 a "H638-5" 489,55 a "H556-7" 460,4 a "IBC12" 409,2 a "H586-6" 331,9 a CV % 23,17 Letras distintas na coluna diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Scott-Knott a 0,05 de significância. 23 Figura 3. Gráfico em barras, demonstrando área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) até os cem dias. AACPD 1400 b 1200 b 1000 b b 800 a 600 400 b a b a a AACPD a a 200 0 Genótipos 24 5. CONCLUSÕES De acordo com os dados estatísticos, os genótipos podem ser divididos em 2 grupos com diferentes graus de resistência à ferrugem, um com resistência e outro suscetível. 25 6. REFERÊNCIAS BEDENDO, I.P. Ferrugens. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIN, L. Manual de fitopatologia: princípio e conceitos. 3ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p. 872-880. BETTENCOURT, A.J.; RODRIGUES, J. Principles and practice of coffee breeding for resistance to rust and other disease. In: CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (eds) Coffee, vol 4. Agronomy. Elsevier, London, p.199-234, 1988. BONOMO, V. S. et. al. Comportamento de Cafeeiros Portadores de Resistência à Ferrugem em Viçosa, Minas Gerais. In: VII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil. Araxá – MG, 2011. CALDWELL, R. M. J. F.; SCHAFER, L. E. C.; PATTERSON, F.L.Tolerance to cereal leaf rusts. Crop Science, Nova Iorque, v. 128, p. 714-715, 1958. CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. (Ed.). Introduction to plant disease epidemiology. 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