Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra Fisiologia Análises Clínicas e de Saúde Pública 1.º Semestre 1.ºano Fisiologia do Tecido Ósseo Constituição O tecido ósseo é constituído por camadas concêntricas, ou lamelas, de material calcificado disposto em torno dos vasos sanguíneos (fig.1). As células formadoras de osso, ou osteoblastos, envolvidas por material calcificado, ficam “presas” em cavidades chamadas lacunas. Estas células, agora denominadas osteocitos, permanecem vivas porque possuem prolongamentos citoplasmáticos que se estendem até aos vasos sanguíneos dos canalículos (fig.1). Os vasos sanguíneos encontram-se no interior de canais centrais, canais de Havers, envolvidos por anéis concêntricos de lamelas com os seus osteocitos. Estas unidades são chamadas Sistema de Havers (fig.1). Fig. 1 2 O osso é formado por uma matriz orgânica resistente, consideravelmente reforçada por depósitos de sais de cálcio. Matriz orgânica: Fibras de colagénio: dão origem á força tênsil (90 a 95%) Substancia fundamental: engloba o líquido extracelular, mucoproteínas, sulfato de condroitina e ácido hialurónico (5%). Sais do osso – depositam-se essencialmente sais de cálcio e de fosfato, sendo os cristais de hidroxiapatite – Ca10(PO4)6(OH)2 – os mais importantes. Outros sais: de magnésio, sódio, potássio e carbonato. Formação de osso Os osteoblastos (fig.2) secretam moléculas de colagénio e de substancia fundamental. O colagénio polimeriza-se formando fibras de colagénio e originase um tecido chamado osteóide (fig.2.). ao formar-se este tipo de tecido os osteoblastos ficam “aprisionados” e passam a denominar-se osteócitos (fig.2). Após alguns dias, começam a depositar-se sais de cálcio, vindos do sangue. Quando activos, os osteoblastos produzem fosfatase alcalina, que funciona como um marcador de formação óssea. Reabsorção de osso Os osteoblastos libertam enzimas proteolíticas e ácidos que vão “digerir” a matriz orgânica, com dissolução da hidroxiapatite e consequente libertação de fosfatos de cálcio no sangue. Desta forma, a formação e reabsorção de osso, vão interferir nas concentrações de cálcio e fosfato no plasma. Para além destes dois processos, também a absorção intestinal e a excreção urinária, interferem com tais concentrações. Na sua totalidade, tais processos são regulados por sua vez pela parathormona, 1,25-dihidroxivitamina D3 e a calcitonina. 3 Fig. 2 A formação e reabsorção de osso ocorrem constantemente a taxas determinadas pela actividade relativa dos osteoblastos e dos osteoclastos. Esta constante actividade dos osteoblastos e dos osteoclastos permite que o osso se remodele ao longo da vida. Em condições normais, com excepção dos ossos em fase de crescimentos, as velocidades de formação e reabsorção ósseas são iguais, permanecendo constante a massa total óssea. Os osteoclastos formam massas que digerem osso durante cerca de três semanas, até formarem uma cavidade com cerca de 1mm de diâmetro. Após isso, convertem-se em osteoblastos que vão formar osso novo osso, preenchendo a cavidade. A formação óssea suspende-se quando os vasos sanguíneos que irrigam a zona começam a ser comprimidos, formando-se os canículos de Havers. A importância da manutenção da concentração de cálcio a um nível normal de 5meq/l, deve-se ao facto de este ião ser importante na formação de osso, na contracção muscular, em actuar como 2.º mensageiro de algumas hormonas e em manter a permeabilidade da membrana celular. Em situações 4 de hipocalcémia, a permeabilidade da membrana celular ao sódio e outros iões aumenta, o que condiciona um aumento da excitabilidade dos nervos e dos músculos, o subsequentemente originará um quadro de tetania. Parathormona (PTH) Quando ocorre uma diminuição plasmática de cálcio, as paratiróides são estimuladas a sintetizar parathormona, a qual vai actuar a três níveis: 1. Estimula a síntese de vitamina D3 (fig4); 2. Promove a reabsorção de cálcio no rim (inibindo a reabsorção de fosfato); 3. Estimula a reabsorção óssea de cálcio. Como resultado final ocorre um aumento da concentração plasmática de cálcio. Daí que, em cirurgias em que se remove a tiróide (e consequentemente as paratiróides), ocorra uma situação de hipocalcémia que condiciona um quadro de tetanismo. 1,25-dihidroxivitamina D3 (fig.3) Sob a acção da luz solar, o 7-dehidrocolestrol existente na pele é convertido em vitamina D3, a qual se comporta como uma pré-hormona, ainda nãofuncionante. Esta ao passar no fígado sofre uma primeira hidroxilação, sob a acção da parathormona, surgindo então a 1,25- dihidroxivitamina D3. Esta constitui a forma activa da vitamina que vai estimular: 1. Absorção intestinal de cálcio e fosfato – a sua principal acção; 2. Reabsorção óssea de cálcio e fosfato; 3. Reabsorção renal de cálcio e fosfato. Assim ocorre um aumento das concentrações plasmáticas de cálcio e fosfato que se vão depositar no osso sob a forma de cristais de hidroxiapatite. A carência desta vitamina causa osteomalácia nos adultos e raquitismo nas crianças. 5 Fig. 3 6 Mecanismo de controlo de feedback negativo no equilíbrio de cálcio e fosfato (figs. 4 e 5) Fig. 4 Fig. 5 7 Calcitonina Um aumento da concentração plasmática de cálcio estimula as células parafoliculares da tiróide a produzir calcitonina, um polipeptídeo constituído por 32 aminoácidos. Esta hormona vai actuar a nível dos osteoclastos inibindoos, e consequentemente a reabsorção óssea. Por outro lado vai estimular a excreção urinária de cálcio e fosfato, ao inibir a reabsorção de tais iões. No cômputo final ocorre uma diminuição da concentração plasmática de cálcio (fig.6). Fig. 6 8 Fisiologia do Tecido Muscular Estrutura e acções do musculo esquelético Estrutura (fig.7) O tecido conjuntivo fibroso dos tendões estende-se em torno do músculo formando o epimisium. Por sua vez este emite prolongamentos para o interior que formam o perimisium e dividem o músculo em fascículos. Cada fascículo é composto por várias fibras musculares ou miofibras, cada uma delas envolvida por uma membrana celular, o sarcolema, que se encontra também envolvido por tecido conjuntivo – o endomisium. Fig. 7 9 As fibras musculares correspondem ás células musculares. Estas células são muito alongadas, possuindo organelos idênticos aos das restantes células, sendo no entanto multinucleadas (fig.8). mas o mais característico é o seu aspecto estriado ao microscópio – bandas negras e bandas claras, alternadamente dispostas ao longo da largura da fibra (fig.8). As bandas negras denominam.se de Bandas A e as claras de Bandas I. Ao microscópio electrónico podem ver-se linhas negras na espessura das bandas I; são denominadas linhas Z. Fig. 8 Unidades Motoras Cada fibra muscular recebe um único axónio terminal de um neurónio motor somático (fig.9). O neurónio motor estimula a fibra muscular a contrairse pela libertação de acetilcolina na junção neuromuscular. A região especializada do sarcolema nesta junção chama-se placa motora terminal (fig.9). O corpo celulardo neurónio motor somático está localizado no corno ou haste ventral da substância cinzenta da espinal medula, e origina um axónio que emerge na raiz anterior de um nervo espinal (fig.10). Cada axónio pode originar uma série de ramificações que vão enervar um número idêntico de fibras musculares. Cada neurónio motor somático, conjuntamente com todas as fibras musculares que enerva, forma a unidade motora (fig.10). 10 Fig. 9 Fig. 10 11 Mecanismo de contracção Ao microscópio electrónico cada fibra muscular é constituída por várias subunidades, as miofibrilhas (fig.11). Estas têm cerca de 1µm de diâmetro e estendem-se paralelamente em toda a longitude da fibra muscular. Ao microscópio electrónico podemos ver que na realidade as miofibrilhas é que são estriadas (fig.12). Cada miofibrilha contém por sua vez os miofilamentos (fig.11). As bandas A (fig.12) contêm filamentos grossos que lhe dão o aspecto negro. As bandas I (fig.12) contêm filamentos finos. Os primeiros são essencialmente constituídos por miosina e os segundos por actina. As bandas I correspondem às zonas claras das miofibrilhas, que se estendem do extremo de um grupo de filamentos grossos ao extremo do seguinte grupo de filamentos grossos. Contudo, os filamentos finos que as constituem não terminam nas extremidades daqueles, mas estendem-se parcialmente às bandas A em ambos os extremos. Uma vez que os dois tipos de filamentos se sobrepõem nas extremidades das bandas A, estas são mais escuras nesse ponto do que no centro, que é mais claro – bandas H (fig.12). No centro das bandas I existe uma linha Z (fig.12), de cor negra. Os filamentos finos e grossos situados entra as duas linhas Z adjacentes formam a subunidade básica do músculo estriado – o sarcómero. Fig. 11 12 Fig. 12 Teoria do deslizamento filamentar Quando um músculo se contrai, o seu comprimento diminui como resultado do encurtamento das suas fibras individuais. Por sua vez, o encurtamento destas é produzido pelo encurtamento das suas miofibrilhas, o que ocorre como resultado do encurtamento da distância entra as linhas Z. Apesar dos sarcómeros encurtarem, as bandas A não o fazem, mas ao invés, aproximam-se umas das outras. As bandas I, que representam a distância entre as bandas A, diminuem em comprimento (fig.13). Contudo, os filamentos finos das bandas I não se encurtam. Ambos os tipos de filamentos mantêm o mesmo comprimento durante a contracção. O encurtamento dos sarcómeros não é produzido pelo encurtamento dos filamentos, mas pelo deslizamento dos filamentos finos por cima e entre os filamentos grossos. Os filamentos finos em ambas as extremidades da banda A deslizam mais profundamente nesta. Assim as bandas I e as H ficam mais curtas (fig.13). 13 Fig. 13 O deslizamento dos filamentos é produzido pela acção das numerosas “pontes cruzadas”, que se estendem da miosina á actina (fig.14). Estas pontes são parte das proteínas de miosina, que se estendem do eixo dos filamentos, formando “braços” que terminam em “cabeças globulares” (fig.14). A proteína de miosina tem duas “cabeças globulares” que funcionam como pontes cruzadas. A orientação das cabeças num extremo do sarcómero é oposta á do outro extremo, e assim quando as cabeças de miosina formam pontes cruzadas com a actina, elas puxam a actina de cada extremo para o centro. 14 Fig. 14 Cada cebeça globular de miosina de uma ponte cruzada contém um sítio de ligação de ATP, estreitamente associado com um local de ligação á actina. As cabeças globulares funcionam como miosina ATPases, que convertem ATP em ADP e fosfato inorgânico. Esta reacção ocorre antes das cabeças de miosina se combinarem com a actina, e torna-se necessária para activar estas cabeças. O ADP e o fosfato inorgânico p+ermanecem unidos á cabeça até que ocorra a ligação á actina (fig.15) A miosina ao ligar-se á actina, leva á libertação do fosfato inorgânico o que causa uma alteração da conformação da miosina, resultando num golpe activo (da cabeça) (fig.15) que puxa os filamentos através do centro da banda A. O ADP liberta-se quando as pontes cruzadas se ligam a novo ATP no final do golpe activo (fig.15). A libertação de ADP é requerida para que as pontes cruzadas quebrem a sua ligação com a actina no final do golpe activo. A miosina ATPase vai então clivar o novo ATP. De notar que a clivagem do ATP é requerida antes que a ponte cruzada se ligue á ponte cruzada e origine um golpe activo, devendo ainda ligar-se um novo ATP para que a ponte cruzada se liberte da actina. 15 Fig. 15 Regulação da contracção O filamento de actina – actina F – é um polímero formado por 300 a 400 subunidades globulares – actina G – estrutura numa dupla hélice (fig.16). Um diferente tipo de proteína, a tropomiosina, existe no interior da hélice. Unida a esta proteína existe uma terceira, a troponina (fig.16). Ambas as proteínas trabalham em conjunto para regularem a ligação das pontes cruzadas á actina. No relaxamento, a posição da tropomiosina nos filamentos é tal que impede a ligação destas pontes. Assim, para que estas se liguem á actina é necessário que a tropomiosina se remova, o que requer a interacção da troponina com o cálcio. 16 Fig. 16 Papel do cálcio na contracção muscular No músculo relaxado, quando atropomiosina bloqueia a ligação das pontes cruzadas á actina, a concentração de cálcio no sarcoplasma é muito baixa. Quando a célula muscular é estimulada a contrair-se, a concentração de cálcio no sarcoplasma aumenta. Algum deste cálcio une-se a uma subunidade de troponina, causando uma alteração de conformação que movimenta a troponina e a tropomiosina ligadas para fora do sítio de ligação das pontes cruzdas na actina (fig.17). A posição do complexo troponina-tropomiosina no filamento fino é ajustável: quando o cálcio não está ligado á troponina, a tropomiosina está numa posição que inibe a união das pontes cruzadas á actina, e deste modo a contracção muscular; na presença de cálcio passa-se o inverso. 17 Fig. 17 Acoplamento excitação contracção Para que ocorra a contracção muscular e a concentração intracelular de cálcio deve subir acima de 10-6 molar, e para o relaxamento deve diminuir abaixo desse nível. 18 O relaxamento muscular é produzido pelo transporte activo de cálcio do sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático (fig.18), que é uma forma modificada do reticulo endoplasmático, consistindo em sacos e tubullos interligados envolvendo cada miofibrilha da célula muscular. A maior parte do cálcio numa fibra muscular relaxada está armazenado em expansões do reticulo sarciplasmatico, as cisternas terminais (fig.18). Quando uma fibra muscular é estimulada a contrair-se, o cálcio armazenado é libertado do reticulo sarcoplasmático e liga-se á troponina. Quando a fibra deixa de ser estimulada, o cálcio do sarcoplasma é activamente transportado para o interior do reticulo sarcoplasmático. As cisternas terminais estão separadas entre si pelos tubulos transversos ou túbulos T (fig.18) que são túbulos membranosos formados a partir do sarcolema e encontrando-se em continuidade com este. Desta forma, estes túbulos abrem-se no meio extracelular através de poros situados na superfície da célula e são capazes de conduzir potenciais de acção. A libertação de acetilcolina a partir dos axónios terminais na junção neuromuscular (placa motora terminal), causa activação eléctrica das fibras musculares, originando um potencial de acção. Tais potenciais envolvem o fluxo de iões entre o meio extra e intracelular através da membrana celular. Nas células musculares, os potenciais de acção podem ser conduzidos ao interior da fibra, através da membrana dos túbulos T. Os potenciais de acção nos túbulos T causam a libertação de cálcio a partir do reticulo sarcoplasmático. Tal processo é conhecido como acoplamento excitação-contracção. Enquanto os potenciais de acção são produzidos, ou seja, enquanto a estimulação neuronal permanece, o cálcio mantém-se unido á troponina e a contracção continua. Quando aqueles cessam o reticulo sarcoplasmático activamente acumula cálcio e o relaxamento muscular ocorre. De notar, que o retorno de cálcio ao reticulo sarcoplasmático envolve um transporte activo e assim requer hidrolise de ATP. Como tal, o ATP é necessário ao relaxamento e contracção muscular. 19 Fig. 18 20 Fisiologia do aparelho respiratório Significados do termo “respiração”: Ventilação – processo mecânico que permite a entrada e a saída de ar nos pulmões; Troca de gases: o Ar sangue; o Sangue tecidos. Utilização de O2: o Tecidos. Ao nível do aparelho respiratório temos de considerar a existência de duas zonas funcionais (fig.19): Zona de condução – conduz o ar á zona respiratória; Zona respiratória – onde se efectua a troca de gases entre o ar e o sangue (alvéolos e bronquíolos respiratórios). Fig. 19 Quando [O2] ar> [O2] sangue, logo, difusão arsangue. Quando [CO2] sangue> [CO2] ar, logo, difusão sanguear. 21 Estrutura Possuímos cerca de 300 milhões de alvéolos (fig.20), correspondendo a uma área de 68-80m2. É através destes, cuja parede é muito fina, que ocorre a difusão de gases. Fig. 20 Funções adicionais da zona de condução: Aquecimento e humidificação – quando o ar inspirado atinge a zona respiratória apresenta uma temperatura de 37oC e está saturado com vapor de água; Filtração – o muco retém pequenas partículas inaladas que são removidas pelos cílios das células epiteliais; 300 cílios/célula em movimento no sentido da faringe; muco deglutido ou espectorado; partículas com mais de 6µm de diâmetro normalmente não penetram na zona respiratória; Limpeza – nos alvéolos, os macrófagos fagocitam as partículas e digerem-nas. NOTA: o tabaco diminui a actividade dos cílios e macrófagos. 22 Ventilação – aspectos físicos O movimento de entrada e saída de ar dos pulmões ocorre devido a uma diferença de pressões induzida por alterações nos volumes pulmonares. Tal movimento ocorre de altas para baixas pressões, sendo directamente proporcional á diferença de pressão e inversamente proporcional á resistência ao fluxo de ar. Na respiração, o ar entra nos pulmões porque a pressão atmosférica é superior á pressão intrapulmonar ou intraalveolar. Como normalmente a pressão atmosférica não se altera, a pressão intrapulmonar deve descer abaixo da anterior para que ocorra a inspiração – tal pressão é denominada de subatmosférica ou negativa. Um fenómeno inverso ocorre na expiração. A ausência de ar no espaço pleural origina uma pressão intrapleural negativa, inferior á pressão intrapulmonar; daí que os pulmões permaneçam aplicados é parede torácica e não colapsem. Pressão transpulmonar = P.intrapulmonar – P.intrapleural Segundo a Lei de Boyle, a pressão de uma dada quantidade de gás é inversamente proporcional ao seu volume. Desta forma, na inspiração, em que há um aumento do volume pulmonar, a pressão intrapulmonar diminui. Inversamente, na expiração ocorre uma diminuição do volume pulmonar e consequentemente a pressão intrapulmonar aumente. Tais alterações de volume estão interligadas com as propriedades físicas do pulmão (compliance, elasticidade e tensão superficial), e consequentemente a ventilação também. Propriedades Físicas do Pulmão Compliance: o Distensibilidade pulmonar; o Diminuída pela fibrose. Elasticidade: o Capacidade de o pulmão retomar á posição inicial após se ter distendido, face ao elevado conteúdo de elastina na sua estrutura; o Opõe-se á distensão. Tensão superficial: o Opõe-se á distensão; 23 o Levada a cabo pelo fluido alveolar; o É devida á forte atracção das moléculas de água entre si na superfície alveolar; o Isto origina uma força dirigida para o interior do alvéolo, aumentando a pressão no seu interior. Segundo a Lei de LaPlace (fig.21), a pressão no interior do alvéolo é directamente proporcional á tensão superficial e inversamente proporcional ao raio do alvéolo. Logo a pressão num alvéolo de menor dimensão será maior que num alvéolo de maior dimensão, se a tensão superficial for igual em ambos. Mas normalmente tal não acontece, pois a tensão superficial diminui nos alvéolos menores. Fig. 21 24 Surfactante Pulmonar O fluido alveolar contém um fosfolípido – dipalmitoillecitina – que diminui a tensão superficial. É este fosfolípido que se denomina surfactante pulmonar (fig._). Ele dispersa-se entre as moléculas de água diminuindo as forças de atracção entre elas e consequentemente a tensão superficial. Tal capacidade aumenta quando o alvéolo é menor, em virtude das moléculas de surfactante ficarem mais concentradas á medida que o alvéolo diminui. Desta forma, o alvéolo não colapsa durante a expiração. Mesmo após uma expiração forçada, existe sempre um Volume residual de ar. O surfactante é produzido por pneumócitos do tipo II a partir do 8.º mês de vida intra-uterina. Fig. 22 Nos bebés prematuros, por carência de surfactante, ocorre o colapso alveolar originando o Síndroma da Dificuldade Respiratória (SDR) ou Doença das Membranas Hialinas. 25 Mecanismos da respiração – ventilação pulmonar No decorrer de uma inspiração normal (fig.23 e 24), sucede uma contracção do diafragma e dos músculos intercostais (excepto dos internos) conduzindo a um aumento de todos os diâmetros da caixa torácica, com um consequente aumento do volume pulmonar. Desta forma a pressão intrapulmonar diminui (cerca de 3mmHg) e ocorre a entrada de ar nos pulmões. Numa inspiração forçada ocorre a contracção dos músculos escaleno, pequeno peitoral e por vezes do erternocleidomastoideu, que conduz a uma diminuição da pressão intrapolmunar de cerca de 20mmHg favorecendo a entrada de mais ar nos pulmões. Por outro lado, numa expiração normal (fig.23), estamos perante um processo passivo em que ocorre o relaxamento dos músculos envolvidos na inspiração e a retracção elástica do pulmão, com uma consequente retomada da posição de repouso por parte da parede torácica e do pulmão. Desta forma, sucede uma diminuição do volume pulmonar, seguida de um aumento da pressão intraalveolar de cerca de 3mmHg e dá-se a saída de ar do pulmão. Na expiração forçada sucede a contracção dos músculos intercostais internos (baixam as costelas) e dos músculos abdominais, que no seu conjunto condicionam uma diminuição do volume do tórax e do pulmão, aumentando acentuadamente (cerca de 30mmHg) a pressão intraalveolar. Fig. 23 26 Fig. 24 Fig. 25 27 Testes de Função Pulmonar Através da espirometria, técnica na qual um individuo respira para o interior de um sistema fechado composto por uma coluna de água e um registador – o Espirómetro (fig.26) – (hoje em dia já existem aparelhos mais sofisticados, é possível determinar os diferentes volumes e capacidades pulmonares que nos permitem avaliar a função pulmonar e estabelecer diferentes diagnósticos (ex: diagnóstico diferencial entre doenças pulmonares abstrutivas – asma ou enfisema – e restritivas – fibrose pulmonar). Fig. 26 Volume – quantidade de ar que entra, sai ou permanece no pulmão. Capacidade- resulta da soma de 2 ou mais volumes. Volumes pulmonares (fig.27) Volume corrente ou “Tidal Volume” – quantidade de ar expirado ou inspirado numa respiração normal. Volume de reserva inspiratória – quantidade máxima de ar que pode ser inspirado durante uma inspiração forçada em adição ao volume corrente. Volume de reserva expiratória – quantidade máxima de ar que pode ser expirado durante uma expiração forçada em adição ao volume corrente. Volume residual – volume de ar que permanece nos pulmões após uma expiração máxima ou forçada (não determinável por espirometria). 28 Capacidades Pulmonares (fig.27) Capacidade vital – quantidade máxima de ar que pode ser expirado após uma inspiração máxima. Corresponde á soma do volume de reserva inspiratória com o volume corrente e o volume de reserva expiratória. Capacidade pulmonar total – quantidade total de ar nos pulmões após uma inspiração máxima. Capacidade residual funcional – quantidade de ar permanecendo nos pulmões após uma expiração normal. Capacidade inspiratória – quantidade máxima de ar que pode ser inspirado após uma expiração normal. Fig. 27 Espaço morto atómico: o Corresponde á zona de condução (nariz, boca, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos); o O ar que permanece neste espaço apresenta um volume constante, e tem uma maior concentração de CO2 e uma menor concentração de O2, relativamente ao ar inspirado. Dispneia – dificuldade em respirar; Apneia – ausência de respiração; Eupneia – respiração normal; Hiperventilação – ventilação alveolar excessiva; Hipoventilação – ventilação alveolar deficitária; Espaço morto fisiológico – espaço morto atómico, mais os alvéolos subventilados ou sub- perfundidos. 29 Trocas Gasosas Segundo a Lei de Dalton, a pressão total de uma mistura gasosa é igual á soma das pressões parciais de cada gás que compõe essa mistura. Por outro lado, a pressão parcial de um gás é igual ao produto da pressão total da mistura gasosa pela fracção do gás nessa mistura. Desta forma, sabendo que a pressão atmosférica, ao nível da água do mar, é de 760mmHg e que P.Atmosférica = PN2+PO2+PCO2 , logo: Descendo estes valores para 105 e 568mmHg, respectivamente, ao nível do alvéolo, face á PH2O resultante da humidificação do ar na zona de condução. Com o aumento da altitude a pressão atmosférica e as pressões parciais diminuem. A Lei de Henry diz-nos que a quantidade de gás que se dissolve num líquido depende: - Da solubilidade do gás no fluido; - Da temperatura do fluido (aumenta com o frio e aumenta com o calor); - Da pressão parcial de gás. Uma vez que no caso do ar inspirado os dois primeiros factores são praticamente constantes, a solubilidade no sangue, dos gases que o constituem, só vai depender da pressão parcial dos mesmos. Sangue arterial: PO2 – 100mmHg (hemoglobina praticamente saturada); PCO2 – 40mmHg Sangue Venoso: PO2 – 40mmHg PCO2 – 46mmHg 30 Fig. 28 A medição da PO2 no plasma não nos dá o valor total de O2 no sangue uma vez que não determina o O2 ligado á Hemoglobina, constituindo este a maior parte do O2 arterial. Por outro lado, dá-nos uma ideia da função pulmonar. Circulação pulmonar e ratio Ventilação/Perfusão A perfusão (irrigação) dos alvéolos é maior nas bases pulmonares, ao invés da ventilação dos mesmos, que é maior nos vértices. Desta forma a relação ventilação/perfusão é maior nos vértices, existindo aí alvéolos que se encontram sobre-ventilados ou sub-perfundidos. Por outro lado, tal relação é menor nas bases, local onde existem alvéolos sobre-perfundidos ou subventilados. Assim se pode explicar a diferença de 5mmHg entre PO2 alveolar e a PO2 arterial. Regulação da respiração Os neurónios motores da medula espinhal que controlam os músculos respiratórios são controlados por duas vias descendentes, oriundas de neurónios presentes no centro respiratório da medula oblonga e do cortéx cerebral: uma controla a respiração voluntária, a outra, controla a respiração involuntária. O controlo involuntário do ritmo respiratório é influenciado por receptores sensíveis a variações de PCO2, PO2 e pH arteriais, através de um mecanismo de feedback. 31 Ao nível da medula oblonga encontra-se o Centro de ritmicidade (fig.29), que controla a respiração automática. Por sua vez, o funcionamento deste centro é influenciado pelos centros da ponte (fig.29): Centro apneustico (estimula a inspiração) e Centro pneumotáxico (inibe o anterior). O controlo automático da respiração também é influenciado por dois tipos de quimiorreceptores (fig.31): Quimiorreceptores centrais – presentes na medula oblonga; Quimiorreceptores periféricos – presentes na aorta e nas artérias carótidas. Na aorta localizam-se no arco aórtico, denominando-se de Corpo aórtico (fig.30). Enviam informação á medula oblonga através do nervo vago (10.º par). Nas carótidas comuns, localizam-se no seu ponto de bifurcação, sendo chamados de Corpo carotídeo (fig.30). Enviam informação á medula oblonga através do nervo glossofaríngeo (9.º par). Fig. 29 32 Fig. 30 33 Fig. 31 Numa situação de hipoventilação (fig.33) a PCO2 aumenta (hipercapnia) e consequentemente o pH diminui. A PO2 diminui lentamente devido á reserva de O2 na hemoglobina. Em situações de hiperventilação a PCO2 diminui (hipocapnia), logo o pH aumenta. A PO2 aumenta pouco uma vez que a hemoglobina está quase saturada. Assim se constata que a PCO2 e o pH são mais influenciados pela ventilação do que a PO2, funcionando como estímulos mais potentes no controlo reflexo da respiração. O H+ não consegue atravessar a barreira hematoencefálica. Por outro lado o CO2 consegue fazê-lo, diminuindo o pH no líquido cefalorraquídico. Desta forma estimula os quimiorreceptores da medula oblonga, que são responsáveis por 70 a 80% do aumento da ventilação, mas actuando de uma forma lenta. A resposta imediata é efectuada pelos quimiorreceptores periféricos, que não são estimulados pelo CO2, mas sim pela concentração arterial de H+. 34 Fig. 32 Fig. 33 A PO2 afecta indirectamente a ventilação, ao influenciar a sensibilidade dos quimiorreceptores (corpo carotídeo) ás variações de PCO 2. Esta sensibilidade aumenta se a PO2 decresce e diminui quando a mesma aumenta. Só actua directamente sobre os quimiorreceptores quando a PO2 é inferior a 50mmHg. Hipoxémia – PO2 arterial inferior á normal; 35 Hipóxia – PO2 diminuída nos pulmões e nos tecidos; Hipercapnia – PCO2 arterial elevada (superior a 40mmHg). Hemoglobina e transporte de O2 O sangue arterial possui 20mlO2/100ml sangue, dos quais 0,3 se encontram no plasma e os restantes ligados á hemoglobina (Hgb). Hemoglobina (fig.34) Constituída por 4 cadeias polipeptídicas – globinas – (2 cadeias α e 2 cadeias β) e 4 moléculas de pigmento – Heme – cada uma contendo no centro uma molécula de Fe2+ que se liga ao O2. Cada molécula de globina liga-se a um grupo Heme, pelo que uma molécula de Hgb tem a capacidade de transportar 4 moléculas de O2. O heme contém ferro na forma reduzida (Fe2+ ou ferro ferroso). Desta forma, pode partilhar electrões e ligar-se ao oxigénio formando oxihemoglobina. Quando esta se dissocia para libertar o oxigénio para os tecidos, o ferro permanece na forma reduzida e a Hgb passa a denominar-se de desoxihemoglobina ou Hgb reduzida. Fig. 34 Formas anómalas de Hgb: - Hgb oxidada ou metahemoglobina: o Possui Fe3+ ou ferro férrico; o Não se liga ao O2; o Em circunstâncias normais existe em pequenas quantidades no sangue. - Carboxihemoglobina: o O heme reduzido está ligado ao monóxido de carbono (CO), cuja ligação é cerca de 200 vezes mais forte que a ligação do O2; 36 o Remove o oxigénio da Hgb. A capacidade de transporte de O2 é directamente proporcional á concentração de Hgb normal no sangue. Está diminuida nas anemias e aumentada na policitémia (aumento acima do normal do numero de eritrócitos). A produção de Hgb e de eritrócitos é feita na medula óssea, sob o estímulo da eritropoietina, sendo esta por sua vez produzida nos rins. A produção desta hormona aumenta quando a PO2 diminui nos tecidos. A produção de eritrócitos também é estimulada por androgénios, daí que o homem tenha 1 a 2gr/100ml de sangue a mais do que a mulher. Pulmões A direcção da reacção depende: - Da PO2 do ambiente; - Da afinidade da Hgb para o O2. Cerca de 97% da Hgb que deixa os pulmões é oxihemoglobina. Curva de dissociação (fig.35) Fig. 35 Sangue arterial sistémico: - PO2 – 100mmHg; - Saturação da Hgb – 97%; - 20ml O2/100ml sangue. Sangue venoso sistémico: - PO2 – 40mmHg; 37 - Saturação da Hgb – 75% (em repouso, descendo bastante no exercício físico), estes 75% servem como reserva de O2 no caso de paragem respiratória ou quando as necessidades de O2 são acrescidas. - 15,5ml O2/100ml sangue. Efeito do pH e da temperatura no transporte de O2 O pH e a temperatura afectam a afinidade da Hgb para o O2. Uma diminuição do pH diminui tal afinidade e um aumento incrementa a mesma – este é o denominado Efeito de Bohr. Quando o pH diminui e consequentemente a afinidade também, a curva de dissociação desloca-se para a direita (fig.36). Desta forma os tecidos recebem o oxigénio. Se o pH aumenta, a afinidade aumenta e a curva de dissociação deslocase para a esquerda (fig.36). Fig. 36 No caso da temperatura, um incremento desta condiciona uma diminuição da afinidade e a curva desloca-se para a direita. Se a temperatura desce, observa-se o inverso. No exercício físico ocorre uma diminuição do pH e um aumento da temperatura que condicionam uma diminuição da afinidade, com a consequente libertação de oxigénio nos tecidos. 38 Efeito do 2,3-bifosfoglicerato no transporte de O2 Os eritrócitos não possuem núcleo nem mitocôndrias, pelo que obtêm energia por respiração anaeróbia. No decurso da via glicolítica ocorre a formação de 2,3-bifosfoglicerato (2,3-BFG), cuja enzima que o origina é inibida pela oxihemoglobina. Nas circunstâncias em que a concentração de oxihemoglobina está diminuída (anemia, baixa PO2 atmosférica) a produção de 2,3-BFG aumenta, ocorrendo também uma libertação do oxigénio existente nos tecidos (diminui a afinidade, desvio da curva para a direita). Tal sucede, pois a ligação de 2,3-BFG á desoxihemoglobina torna-se mais estável e consequentemente uma maior proporção de oxihemoglobina tenderá a converter-se em desoxihemoglobina. Transporte de CO2 e equilíbrio ácido-base O CO2 é transportado no sangue sob três formas: - Dissolvido no plasma (1/10); - De carbaminohemoglobina (1/5); - De – principal forma. No interior dos eritrócitos (fig.37), localizados nos capilares sistémicos, a reacção catalisada pela anidrase carbónica, a partir do CO2 e da H2O, origina a formação de H2CO3 que por sua vez se dissocia em H+ e . O H+ combinase com a Hgb originando uma carga positiva no interior da célula. Desta forma ocorre a entrada de Cl- e a saída de . Por outro lado, o aumento do H+ condiciona a libertação de O2 conduzindo á passagem da oxihemoglobina a desoxihemoglobina. Esta ultima liga-se mais fortemente ao H+ do que a oxihemoglobina. Nos capilares pulmonares (fig.38) face à elevada PO2 ocorre a formação de oxihemoglobina com a consequente libertação de H+ no interior dos eritrócitos, atraindo do plasma e formando-se H2CO3. 39 Fig. 37 Fig. 38 40 Ventilação e equilíbrio ácido-base (fig.39) A hipoventilação conduz a uma acidose respiratória (ocorre um aumento de CO2 e consequentemente de H+). Por seu lado a hiperventilação origina uma alcalose respiratória (diminui o CO2 que cconduz a uma diminuição do H+). Fig. 39 Acidose – pH arterial inferior a 7,35. Alcalose – pH arterial superior a 7,45. Efeito do exercício e das grandes altitudes na função respiratória A ventilação durante o exercício Durante o exercício físico a ventilação aumenta, torna-se mais rápida e profunda (hiperpneia), mas as PO2, PCO2 e o pH permanecem constantes. 41 Adaptação às grandes altitudes Quando subimos a grandes altitudes, uma vez que a PO2 atmosférica diminui, a PO2 arterial, a saturação da Hgb e a quantidade total de O2 no sangue diminuem também, o que conduz a uma fadiga rápida. Torna-se necessário haver uma adaptação rápida que é conseguida através de alterações de ventilação, na afinidade da Hgb e na concentração total de Hgb. Alterações na ventilação Quando a PO2 diminui ocorre a hiperventilação com um consequente decréscimo da PCO2 e uma alcalose respiratória que vai atenuar a mesma hiperventilação. Como resultado final temos um aumento do volume corrente, mas a PO2 não aumenta. Alterações na afinidade da Hgb A afinidade diminui porque a oxihemoglobina diminui, ocorrendo então um aumento do 2,3-BFG e consequentemente uma diminuição da afinidade. Esta acção do 2,3-BFG sobrepõe-se á acção da alcalose respiratória para aumentar a afinidade. Alterações na concentração de Hgb e no número de eritrócitos A hipoxia tecidual conduz a uma resposta renal com e produção de eritropoietina, aumentando assim a produção de Hgb e eritrócitos. 42 Fisiologia do Aparelho Circulatório Funções e componentes Funções Transporte o Das substâncias essenciais ao metabolismo celular; o Substâncias respiratórias – O2 e CO2. o Substâncias nutritivas – lipidos, hidratos de carbono, aminoácidos, provenientes da digestão e absorção no sistema digestivo. o Substâncias residuais – residuos metabólicos (ex: ureia), excesso de H2O e iões e outras moléculas desnecessárias, são conduzidas aos rins e eliminados na urina. Regulação o Hormonal - o sangue transporta as hormonas desde o seu local de origem até às células alvo, onde vão actuar. o Tempratura -é auxiliada pela “derivação” do sangue dos vasos profundos para os mais superficiais ou vice versa. Quando a temperatura ambiente aumenta, o sangue é deslocado dos vasos profundos para os superficiais, ajudando o arrefecimento corporal. Quando a temperatura ambiente diminui observa-se o fenómeno inverso. Protecção o Coagulação – protege contra a perda de sangue quando os vasos são danificados o Imunitária – levada a cabo pelos leucócitos, que protegem o organismo de vários agentes patogénicos (vírus, bactérias, toxinas, fungos) Principais componentes Sistema circulatório: Sitema cardiovascular – coração e vasos sanguíneos 43 Sistema linfático – vasos linfáticos, tecidos linfóides, baço, timo, amigdalas e nódulos linfáticos Estrutura do coração Câmaras: Auriculas (direita e esquerda) – recebem sangue do sistema venoso Ventriculos (direito e esquerdo) – ejectam sangue no sistema arterial Fig. 40 Válvulas auriculo-ventriculares: Tricuspide Bicuspide ou mitral A abertura e o encerramento destas válvulas resulta da diferença de pressoes entre a aurícula e o ventriculo. 44 Quando os ventriculos estão relaxados, o retorno venoso de sangue ás aurículas leva a um aumento de pressão nas aurículas, superior á pressão dos ventriculos. Desta forma, as valvulas auriculo-ventriculares abrem-se e o sangue entra nos ventriculos. Quando os ventriculos se contraem, ocorre um aumento da pressão intraventricular, supeerior á pressão auricular e as valvulas auriculo-ventriculares encerram. Esta elevada pressão intraventricular poderia levar a uma eversão das valvulas auriculo-ventriculares, mas tal não ocorre devido á contracção simultânea dos musculos papilares, que a elas estão unidos pelas cordas tendinosas. Válvulas semilunares: Aórtica Pulmonar Fig. 41 45 Ciclo cardíaco e sons cardíacos Ciclo cardíaco: Sistole – contracção dos ventrículos e aurículas Diástole – relaxamento dos ventrículos e aurículas A contracção auricular ocorre durante o fim da diástole ventricular. Quando os ventrículos se contraem, as aurículas encontram-se relaxadas. As aurículas contraem-se simultaneamente e cerca de 0,1 a 0,2 segundos depois ocorre a contracção ventricular. Quando as aurículas e os ventrículos se encontram em diástole, o retorno venoso enche as aurículas. A pressão intraauricular aumenta, as válvulas aurículo-ventriculares abrem-se e o sangue flui das aurículas para os ventrículos. Antes de ocorrer a sístole auricular, cerca de 80% dos ventrículos está preenchido com sangue. Após a sístole, os restantes 20% são adicionados, atingindo-se o Volume Diastólico Final (volume total de sangue nos ventrículos no fim da diástole). A contracção dos ventrículos ejecta 2/3 do volume contido – volume de ejecção – deixando 1/3 da quantidade inicial – Volume Sistólico Final. Cada ciclo demora na totalidade 0,8segundos (com um ritmo de 75 batimentos/min), 0,5 de diástole e 0,3 de sístole (fig.42). (falta pág 4 e 5) Fig. 42 46 Alterações de pressão durante o ciclo cardíaco Quando o coração está em diástole a pressão nas artérias sistémicas é de 80mmHg. No inicio da contracção ventricular a pressão intraventricular aumenta e as válvulas aurículo-ventriculares encerram. Neste momento os ventrículos não recebem nem ejectam sangue, pois a pressão intraventricular ainda não subiu o suficiente para abrir as válvulas semilunares – Fase de Contracção Isovolumétrica. Quando a pressão no ventrículo esquerdo é superior á aorta, a válvula aórtica abre-se – Fase de Ejecção. A pressão no ventrículo esquerdo e na aorta aumenta até 120mmHg. Quando a pressão no ventrículo esquerdo desce abaixo da pressão da aorta, a válvula aórtica encerra. A pressão na aorta desce até 80mmHg, enquanto que no ventrículo esquerdo desce até cerca de 0mmHg. No Relaxamento Isovolumétrico as quatro válvulas estão fechadas, durando esta fase até que a pressão nos ventrículos desça abaixo da pressão auricular. Quando tal acontece, as válvulas auriculoventriculares abrem e a Fase de Enchimento Rápido dos ventrículos ocorre. Em seguida, a contracção ou Sístole Auricular ejecta a quantidade final de sangue nos ventrículos, imediatamente antes da fase de contracção isovolumétrica (fig.43). Idênticos eventos ocorrem no ventrículo direito e na artéria pulmonar, mas as pressões são menores. Fig. 43 47 Sons Cardíacos Originados pelo encerramento das válvulas. 1.º Som – produzido pelo encerramento das válvulas aurículo-ventriculares durante a contracção isovolumétrica dos ventrículos; durante a inspiração pode-se notar um componente tricúspide e outro mitral. 2.º Som – produzido pelo encerramento das válvulas semilunares quando a pressão ventricular desce abaixo da pressão nas artérias; ouve-se quando os ventrículos relaxam, no inicio da diástole. Murmúrios cardíacos – sons cardíacos anormais, produzidos por fluxos anormais de sangue no coração; grande parte são produzidos por válvulas anormais de origem congénita ou adquirida (ex: endocardite reumática devido a febre reumática). Estenose mitral – a válvula calcificada e espessada provoca uma diminuição do fluxo aurículo-ventricular, com a consequente acumulação de sangue na aurícula esquerda, a pressão nesta aumenta, aumentando também a pressão das veias pulmonares, o que origina Hipertensão Pulmonar e mais tarde Hipertrofia compensador do ventrículo direito. As válvulas dizem-se incompetentes, quando não encerram adequadamente, permitindo que o sangue regurgite e provoque murmúrios – na sua origem podem estar lesões dos músculos papiplares. Os murmúrios também podem ser provocados por fluxos sanguíneos através de defeitos septais; são sobretudo congénitos e podem ocorrer em ambos os septos. Geralmente, o sangue passa do lado esquerdo para o lado direito, devido á elevada pressão no lado esquerdo do coração, este aumento de sangue e de pressão no lado direito poderá conduzir a hipertensão pulmonar e edema. Actividade eléctrica do coração e electrocardiograma (e.c.g.) As células do miocárdio são pequenas, “ramificadas” e interligadas por “gap junctions” que funcionam como sinapses eléctricas. Nódulo sino-auricular ou sinusal Localizado na aurícula direita, junto da abertura da veia cava superior; Pacemaker – zona capaz de produzir espontaneamente estímulos eléctricos (despolarização espontânea que causa potenciais de acção); 48 Responsável pela automaticidade; As suas células não mantêm o potencial de membrana em repouso; Exibe uma lenta e espontânea despolarização chamada Potencial de Pacemaker durante o período de diástole. O potencial de membrana começa a cerca de -60mV e despolariza gradualmente até -40mV, o qual é o limite para produzir um potencial de acção nestas células. Tal deve-se á difusão de Ca2+ através dos canais lentos de Ca2+, bem como á acção dos canais de Na+ dependentes de voltagem, ocorrendo a entrada de Ca2+ e Na+ nas células. A repolarização ocorre pela abertura dos canais de K + e saída do mesmo da célula. Quando a repolarização atinge -60mV, um novo potencial de pacemaker inicia-se, terminando com um novo potencial de acção no fim da diástole (fig. 44). Fig. 44 Outras áreas do coração (como o nódulo aurículo-ventricular) também são capazes de produzir potenciais de pacemaker, mas a taxa de despolarização destas células é menor do que a do nódulo sinusal. Desta forma, elas são estimuladas por potenciais de acção provenientes deste, antes que consigam originar os potenciais de pacemaker. As outras células do miocárdio têm um potencial de repouso de -90mV. Quando estimuladas pelos potenciais de acção do pacemaker, sofrem uma 49 despolarização até ao limiar (-40mV), altura em que ocorre a abertura dos canais de Na+ dependentes de voltagem. O potencial de membrana rapidamente diminui até cerca de -15mV, mantendo-se assim por 200/300mseg. – Fase de Plateau – devido a uma entrada de Ca2+ nas células. A rápida repolarização que ocorre no final da fase de Plateau é atingida pela abertura dos canais de K+ e rápida difusão deste ião para fora das células (fig.45). Fig. 45 Tecidos condutores do coração Os potenciais de acção originados no nódulo sinusal, dispersam-se no miocárdio de ambas as aurículas através de “gap junctions” entre as células miocárdicas. Daí o impulso é conduzido ao nódulo a auriculo-ventricular, localizado na porção inferior do septo interauricular. Em seguida, é conduzido pelo Feixe de His (situado na espessura do septo interventricular), que se divide em dois ramos (direito e esquerdo), os quais se ramificam originando a Rede de Purkinje na espessura das paredes ventriculares (fig.46). 50 Fig. 46 Condução do impulso Os potenciais de acção originados no nódulo sinusal dispersam-se rapidamente através de ambas as aurículas, á taxa de 0,8 a 1m/seg. Tal velocidade diminui no nódulo aurículo-ventricular (0,03 a 0,05m/seg). Depois de atravessarem este nódulo, a velocidade de condução pelo feixe de His e da rede de Purkinje aumenta (até cerca de 5m/seg). Desta forma a contracção ventricular ocorre 0,1 a 0,2seg após a contracção auricular. O coração não pode ser estimulado até que esteja relaxado, pelo que as células miocárdicas têm um Período Refractário longo que corresponde á longa duração dos seus potenciais de acção (fig.47). A soma de contracções é assim prevenida e o miocárdio deve relaxar após cada contracção. O “bombeamento” rítmico do coração é assim mantido. 51 Fig. 47 O electrocardiograma Registo resultante da condução das diferenças de potenciais eléctricos do coração á superfície corporal, e registados por eléctrodos colocados na pele. Existem dois tipos de eléctrodos ou derivações (fig.48): Derivações bipolares dos membros – registam a voltagem entre os eléctrodos colocados nos punhos e nas pernas. Incluem: o LI (braço direito braço esquerdo) o LII (braço direito perna esquerda) o LIII (braço esquerdo perna esquerda) Derivações unipolares – a voltagem é registada entre o “eléctrodo explorador” colocado no corpo e o eléctrodo situado electrocardiógrafo, mantido a um potencial de zero. Incluem: o Derivações unipolares dos membros AVR (braço direito) AVL (braço esquerdo) AVF (perna esquerda) o Derivações unipolares do tórax V1 (4.º espaço intercostal, á direita do esterno); V2 (4.º espaço intercostal, á esquerda do esterno); V3 (5.º espaço intercostal, á esquerda do esterno); 52 no V4 (5.º espaço intercostal, ao nível da linha clavicular média); V5 (5.º espaço intercostal, á esquerda de V4); V6 (5.º espaço intercostal, ao nível da linha axilar média) Fig. 48 Cada ciclo cardíaco produz três ondas distintas no e.c.g. (fig.49 e 50), que não são potenciais de acção, mas representam mudanças no potencial entre duas regiões da superfície cardíaca. 53 Fig. 49 Fig. 50 54 A despolarização dos ventrículos (indicada pelo complexo QRS) estimula a contracção. Assim, a onda QRS ocorre no inicio da sístole. O aumento da pressão intraventricular resultante, provoca o encerramento das válvulas aurículo-ventriculares, produzindo o 1.º som cardíaco que é produzido logo após a onda QRS (fig.51). A repolarização dos ventrículos (indicada pela onda T), ocorre aquando do relaxamento ventricular no inicio da diástole. A resultante diminuição da pressão intraventricular causa o encerramento das válvulas semilunares, originando o 2.º som cardíaco, que ocorre logo após o inicio da onda T (fig.51). Fig. 51 Vasos sanguíneos As paredes das artérias e das veias são constituídas por três túnicas (fig.52): Túnica externa – tecido conjuntivo; Túnica média – músculo liso; 55 Túnica interna – três porções: o Endotélio – epitélio escamoso; o Membrana basal – glicoproteinas; o Lamina elástica interna – contém elastina. Fig. 52 As artérias possuem uma camada muscular mais desenvolvida; muitas veias têm valvas, que não existem nas artérias Artérias. As artérias de grande calibre apresentam numerosas camadas de fibras elásticas entre o músculo liso da túnica média. Estas artérias elásticas expandem quando a pressão sanguínea aumenta, face á contracção cardíaca; recolhem á 56 posição inicial quando a pressão sanguínea diminui, durante o relaxamento dos ventrículos. As pequenas artérias e as arteríolas são menos elásticas e possuem uma camada muscular mais grossa relativamente ao seu diâmetro. Desta forma, o diâmetro destas artérias musculares altera-se ligeiramente consoante a pressão sanguínea aumente ou diminua. Como têm um lúmen estreito, oferecem resistência ao fluxo sanguíneo através do sistema arterial. Arteríolas (20-30µm de diâmetro) – a este nível podem existir anastomoses arterio-venosas. Capilares (7-10µm de diâmetro) – onde ocorrem as trocas de gases e nutrientes. Capilares Contêm na sua totalidade 250ml de sangue. A quantidade de sangue fluindo através de um leito capilar é determinada em parte pela acção de fibras musculares circulares situadas nas origens dos capilares – esfíncteres précapilares (fig.53). o fluxo de sangue a um dado órgão é regulado pela acção destes esfíncteres e pelo grau de resistência ao fluxo nas pequenas artérias e arteríolas do órgão. Fig. 53 A parede dos capilares é composta por uma única camada – endotélio (ausência de musculo liso e tecido conjuntivo). 57 Capilares: Contínuos – as células endoteliais adjacentes estão estreitamente unidas entre si; - Ex.: musculo, pulmões, s.n.c. Fenestrados – com poros intercelulares largos, cobertos por uma parte de mucoproteinas (diafragma); - Ex.: rins, intestinos. Descontínuos – a distância entre as células é tal, que eles se parecem pequenas cavidades (sinusóides). - Ex.: fígado, baço, medula óssea. Veias Grande parte do volume total de sangue está no sistema venoso. As veias distendem-se á medida que acumulam sangue. A sua pressão média é de 2mmHg, ao contrário da das artérias que é de 100mmHg. A baixa pressão venosa é insuficiente para promover o retorno de sangue ao coração, sobretudo dos membros inferiores. Contudo, as veias passam através dos músculos, que ao contraírem, como que as massajam. Ocorre então o fluxo de sangue, que é unidireccional devido á presença de válvulas venosas (fig.54). A acção bombeadora dos músculos esqueléticos permite a passagem de sangue venoso dos membros inferiores para as veias abdominais. A passagem desse sangue para as veias torácicas é devida á inspiração. Nesta ocasião o diafragma contrai-se, aumentando a pressão intraabdominal e diminuindo a pressão intratorácica. 58 Fig. 54 Ateroscleros e arritmias Aterosclerose É a forma mais comum de arteriosclerose (endurecimento das artérias); grande causa de doença cardíaca e acidente vascular cerebral (a.v.c.). Placas localizadas ou ateromas, fazem protusão no lúmen arterial e diminuem o fluxo sanguíneo (fig.55). As placas de ateroma, por sua vez, funcionam como locais de formação de trombos (coágulos sanguíneos), o que pode ocluir o vaso, impedindo o suprimento sanguíneo de um órgão. 59 Pensa-se que este processo se inicia como resultado de um dano no endotélio, produzido pelo tabaco, hipertensão arterial, elevados níveis de colesterol e diabetes. Fig. 55 Doença cardíaca isquémica A principal causa é a aterosclerose das artérias coronárias. A isquémia do miocárdio origina um aumento da concentração de ácido láctico no sangue, produzido pela respiração anaeróbia do tecido isquémico. Surge dor retro-esternal, por vezes com irradiação para o ombro esquerdo – angina de peito. Se a isquémia e a respiração anaeróbia persistem, pode surgir necrose do miocárdio (destruição irreversível) e temos então um enfarte do miocárdio. O diagnóstico é estabelecido pelo infradesnivelamento do segmento ST (fig.56) no electrocardiograma, e pelo aumento das enzimas CPK e LDH no sangue. 60 Fig. 56 Arritmias detectadas pelo e.c.g. Bradicardia: - Ritmo cardíaco inferior a 60 batimentos/min; - Normal em atletas. Taquicardia: - Ritmo cardíaco superior a 100 batimentos/min; - Normal em actividade e situações de perigo; - Anormal se ocorre num indivíduo em repouso, devido a um ritmo aumentado do nódulo sinusal (ex: drogas) ou por focos ectópicos muito rápidos. Taquicardia Ventricular pode ocorrer com focos ectópicos muito rápidos nos ventrículos, originando contracções ventriculares muito rápidas, que se forem independentes das das aurículas originam uma Fibrilhação Ventricular. Flutter – 200 a 300 contracções/min, mas coordenadas. Fibrilhação – contracção de diferentes grupos de fibras miocárdicas que ocorre em diferentes momentos, originando uma descoordenada acção bombardeada das câmaras cardíacas. O flutter auricular geralmente degenera em fibrilhação auricular. Vai afectar a capacidade da aurícula em bombear. Mas como 80% do ventrículo já está preenchido com sangue antes da contracção auricular, o coração bombeia uma quantidade suficiente de sangue. Estas pessoas conseguem sobreviver por muitos anos. Na fibrilhação ventricular (fig.57) só se consegue viver por uns minutos. É causada por um mecanismo de reentrada, quando certas fibras miocárdicas saem do período refractário antes das restantes fibras. 61 Fig. 57 Bloqueio aurículo-ventricular (fig.58) Normalmente o intervalo P-R dura cerca de 0,12 a 0,20 segundos. - Bloqueio de 1.ºgrau – o intervalo P-R > 0,20; - Bloqueio de 2.ºgrau – apenas um de 2, 3 ou 4 estimulos passa através do nódulo auriculoventricular; ondas P sem QRS. - Bloqueio de 3.ºgrau – nenhum estímulo passa no nódulo auriculoventricular; ondas P com ritmo sinusal e complexos QRS com ritmo mais lento. Fig. 58 62 Sistema Linfático Funções Transporte de fluido intersticicial – formado por filtração do sangue; é conduzido ao sangue. Transporte de gordura – absorvida no intestino delgado; também é conduzida ao sangue. Defesa – levada a cabo pelos linfócitos situados nos gânglios linfáticos. Constituição Capilares linfáticos (fig.59) – os mais pequenos vasos do sistema linfático; formam uma rede de vasos microscópicos nos espaços intercelulares dos órgãos; as suas paredes são formadas por células endoteliais com poros, o que permite a entrada de fluido intersticial, gorduras, proteínas e microorganismos, elementos estes que na sua totalidade constituem a linfa. Fig. 59 Canais linfáticos – recebem a linfa vinda dos capilares linfáticos; têm pequenas paredes semelhantes ás das veias, com 3 camadas e válvulas; conduzem a linfa por contracção peristáltica. 63 Canal torácico e Canal linfático direito (fig.60) – recebem a linfa vinda dos canais linfáticos, que por sua vez drenam a linfa nas veias subclávicas esquerda e direita, respectivamente. Nódulos linfáticos (fig. 60) – situados ao longo do trajecto dos vasos linfáticos; filtram a linfa; contêm células fagocitárias e centros germinativos, onde se produzem linfócitos. Órgãos linfóides (fig.60) – amígdalas, timo, baço; contêm centros germinativos. Fig. 60 Débito cardíaco É o volume de sangue ejectado/minuto pelos ventriculos. Sendo a frequencia cardiaca de 70 batimentos (contracções)/min e o volume esjectado em cada batimento (contracção) de 70 a 80ml, temos: 64 Regulação da frequencia cardáca As fibras nervosas simpaticas e parassimpáticas (nervo vago) modificam a frequencia com que o nódulo sinusal se despolariza. A noradrenalina (libertada pelas terminações nervosas simpáticas) e a adrenalina (libertada pela medula suprarrenal em resposta á estimulação simpática) estimulam um aumento da frequencia de despolarização daquele nódulo. A acetilcolina, libertada pelas terminações nervosas parassimpáticas, hiperpolariza o nódulo sinusal e assim diminui a sua frequencia de despolarização. O ritmo cardiaco resulta do efeito contrabalançado destas substancias, que se diz terem um efeito cronotópico, positivo no caso da adrenalina e noradrenalina e negativo no caso da acetilcolina Durante o exercicio fisico, a frequencia cardiaca aumenta como resultado da diminuição da inibição levada a cabo pelo nervo vago no nódulo sinusal e também pelo aumento da estimulação simpática. A regulação autónoma da frequencia cardiaca é coordenada pelo centro Cardíaco, situado na medula oblonga. Este por sua vez é influenciado por áreas cerebrais superiores e por feedback de receptores de pressao – barorreceptores – situados na aorta e nas artérias carótidas. Um aumento da pressão sanguínea origina um reflexo que inibe a frequencia cardíaca. Regulação do volume de ejecção É efectuado através de três variaveis: Vvolume diastólico final – volume de sangue no interior dos ventriculos no final da diastole; funciona como uma pré-carga; o volume de ejecção é ddirectamente proporcional a ele. Contractibilidade – força de contracção do ventriculo; o volume de ejecção também é directamente proporcional a ela. Resistencia periférica total – resistência das artérias ao fluxo sanguineo; funciona como uma pós-carga; o volume de ejecção é inversamente proporcional a ela. A proporção de volume diastolico final que é ejectado contra uma dada pós-carga depende da força de contracção ventricular. Normalmente, esta é suficiente para ejectar 70 a 80ml de sangue diastólico final, sendo este na sua totalidade de 110 a 130ml. A fracção de ejecção é assim de cerca de 60%. 65 Lei de Frank-Starling – diz-nos que a força de contracção ventricular varia directamente com o volume diastólico final. Controle intrinseco da força de contracção O controle intrinseco da froça de contracção e consequentemente do volume de ejecção, é devido a variações no grau de estiramento do miocárdio condicionado pelo volume diastólico final. Quando este aumenta, o miocárdio é progressivamente estirado e como resultado contrai-se mais fortemente – Lei de Frank-Starling. Isto explica como um coração saudável se adapta a um aumento na resistencia periferica total. Quando este aumento ocorre, o volume de ejecção diminui, permanecendo mais sangue no ventriculo, o que vai aumentar o volume diastólico final. Logo o grau de estiramento miocardico é superior e o ventriculo contrai-se mais fortemente para ejectar mais sangue. Controle extrinseco da força de contracção – depende da actividade do sistema nervoso simpatico. A noradrenalina e adrenalina aumentam a força de contracção, ao provocarem um aumento de Ca2+ nos miócitos. Desta forma têm um efeito inotrópico positivo. O sistema parassimpático não afecta directamente a força de contracção dos ventriculos, contudo, o aumento do volume diastólico final que resulta de uma frequencia cardiaca mais lenta condicionada por este sistema, aumenta a força da contracção, através do mecanismo de Frank-Starling. Retorno venoso O volume diastólico final, e consequentemente o volume de ejecção, são controlados por factores que regulam o retorno venoso. A taxa a que as auriculas e os ventriculos são preenchidos com sangue venoso depende do volume total de sangue e da pressão venosa, sendo esta, a força que conduz o sangue ao coração. As veias têm paredes mais finas, com menos musculo do que as artérias, logo têm uma maior compliance – a uma dada pressão, distendem muito mais do que as artérias, abarcando assim muito mais sangue (2/3 do volume total de sangue está nas veais). São denominadas por isso vasos de capacitância. 66 Apesar das veias conterem 70% do volume total de sangue, a pressão venosa média é de apenas 2mmHg, comparando com os 90/100mmHg da pressão arterial média. Tal deve-se á queda de pressão entre as artérias e os capilares e á maior compliance venosa. Contudo, o sangue retorna ao coração devido á diferença de pressão entre as vénulas (10mmHg) e a junção das veias cava com a auricula direita (praticamente 0mmHg). Em adição a este factor, concorrem também para esse fim: - A actividade nervosa simpatica que produz contracção do musculo liso das veias; - Actividade muscular esquelética, sobretudo nos membros inferiores; - A diferença de pressão entre as cavidades toracica e abdominal, que ocorre durante a inspiração. Volume sanguineo Dois terços do volume total da água corporal encontra-se no comportamento intracelular e o restante terço no compartimento extracelular, sendo que 80% desta água está no fluido intersticial e 20% no plasma sanguineo (fig.61). Fig. 61 A distribuição de água entre o fluido intersticial e o plasma é determinada pelo balanço entre as forças opostas actuando nos capilares. A pressão sanguínea promove a formação de líquido intersticial, enquanto as forças osmóticas drenam água dos tecidos para o sistema vascular. 67 O volume total de fluido intra e extracelular é mantido por um balanço entre a perda e o ganho de água. Mecanismos que afectam o acto de beber, o volume urinário e a distribuição de água entre o plasma e o fluido intersticial, ajudam a regular o volume de sangue e consequentemente o débito cardíaco e o fluxo sanguíneo. Troca de fluido entre capilares e os tecidos Tal troca encontra-se num estado de equilíbrio dinâmico. A filtração através do endotélio capilar resulta da pressão sanguínea dentro dos capilares, ou seja de uma Pressão Hidrostática. Na extremidade arteriolar do capilar tal pressão é de 37mmHg, enquanto que na extremidade venular é de 17mmHg. A pressão de filtração “líquida” é igual á diferença entre a pressão hidrostática do sangue capilar e a do fluido intersticial, variando esta última de tecido para tecido. A glicose, outras moléculas de semelhante tamanho, sais e iões são filtrados conjuntamente com a água através dos capilares. A concentração destas moléculas no fluido intersticial é praticamente igual á do plasma. No entanto, a concentração de proteínas no fluido intersticial é menor, devido á restrição de filtração das mesmas através dos poros capilares. Assim, a pressão osmótica exercida pelas proteínas do plasma – Pressão colóide osmótica – é superior á do fluido intersticial. A diferença entra as duas denomina-se de Pressão oncótica. A pressão coloide osmotica do fluido intersticial é negligenciável, sendo a pressão oncótica semelhante á pressão colóide osmotica do plasma (25mmHg). Desta forma, ocorre movimento de água para o interior dos capilares. Estas forças opostas (fig.62) que afectam a distribuição de fluido através dos capilares são conhecidas como Forças de Starling, e os seus efeitos podem ser calculados de acordo com a seguinte equação: Pc – pressão hidrostática capilar Πi – pressão colóde osmótica do fluido intersticial Pi – pressão hidrostática do fluido intersticial Πp – pressão colóide osmótica plasmática - saída de fluido do capilar – entrada de fluido no capilar 68 Fig. 62 85% do filtrado capilar retorna aos capilares na extremidade venular e os restantes 15% (2L/dia) retornam á circulação sanguínea pelo sistema linfático. Causas de edema: O edema é a acumulação excessiva de fluidos nos tecidos, sendo prevenida por um adequado balanço entre a filtração capilar e o “uptake” de água, bem como uma drenagem linfática adequada. São suas causas: - Pressão arterial elevada, que conduz a uma elevação da pressão capilar e consequentemente a uma filtração excessiva. - Obstrução venosa, que produz um aumento congestivo da pressão capilar (ex.: flebite, gravidez). - Perda de proteínas plasmáticas para o fluido intersticial, o que vai diminuir o fluxo osmótico de água para os capilares (ex: reacções inflamatórias e alérgicas que aumentam a permeabilidade capilar). - Mixedema – produção excessiva de glicoproteínas (mucina) no espaço intersticial, causada pelo hipotiroidismo. - Baixa concentração plasmática de proteínas, ocorrida na sequência de uma doença hepática ou renal (proteínas excretadas na urina). - Obstrução da drenagem linfática. 69 Regulação do volume sanguíneo pelos rins A formação de urina ocorre através da filtração do plasma através dos poros capilares (glomerulos). Os rins produzem 180L/dia de filtrado e apenas excretam 1,5L/dia de urina. 98 a 99% desse filtrado é reabsorvidopara o sistema vascular. A percentagem de filtrado glomerular reabsorvido é ajustada (e assim o volume de urina e sangue) de acordo com as necessidades do corpo, por acção de hormonas que actuam no rim. Hormona anti-diurética (HAD) ou vasopressina É produzida no hipotálamo, transportada á hipófise posterior e libertada por esta glândula de armazenamento em resposta á estimulação pelo hipotálamo. Tal ocorre quando os neurónios hipotalâmicos (osmorreceptores) detectam um aumento da osmolaridade (pressão osmotica), devido a uma desidratação ou ingestão de sal. A ingestão dos osmorreceptores provoca a sensação de sede e a libertação de HAD, a qual por sua vez estimula a reabsorção de água do filtrado glomerular. Desta forma o volume de urina excretada diminui, bem como a osmolaridade plasmática e o volume sanguíneo aumenta (fig. 63). Fig. 63 70 Sistema renina – angiotensina – aldosterona Uma certa quantidade de sal dietético é requerida para manter o volume e a pressão sanguíneos. Como o Na+ e o Cl- são facilmente filtrados no rim, torna-se necessário reabsorvê-los quando faltam na nossa dieta. Quando tal carência ocorre, a pressão e volume sanguíneos diminuem, sendo tal detectado pelo aparelho justaglomerular do rim, o qual em resposta produz renina. Esta é libertada no sangue e vai converter o angiotensinogénio em angiotensina I, o qual, sob a acção da enzima conversora da angiotensina, é convertido em angiotensina II. Esta molécula por um lado vai produzir vasoconstrição das arteriolas (o que produz um aumento da pressão sanguínea) e por outro lado, estimula o córtex suprarrenal a produzir uma hormona esteróide, a aldosterona. Esta actua ao nível do rim, estimulando a reabsorção de NaCl (fig.64) e indirectamente promove a retenção de água, em parte pela acção da HAD. Assim o volume sanguíneo aumenta mas não se altera a osmolaridade plasmática, porque ocorre a absorção proporcional de água e sal (a HAD só promove a retenção de água). A angiotensina II também actua nos centros da sede hipotalâmicos estimulando-os e assim mais água é ingerida, aumentando o volume sanguíneo e consequentemente a pressão. Factor natriurético auricular (FNA) Em resposta a um elevado volume e pressão sanguíneos, as aurículas secretam FNA (polipeptideo) que actua no rim aumentando a excreção de Na+ na urina – natriurese – que consigo arrasta água, diminuindo o volume e pressão sanguíneos. Resistência vascular ao fluxo sanguíneo O débito cardíaco de 5 a 6L/min está distribuído desigualmente pelos diferentes órgãos: - 2,5L/min – fígado, rins e aparelho gastrointestinal. - 1,2L/min – músculo-esquelético. - 750ml/min – cérebro. - 250ml/min – coração. - 500 a 1100 ml/min – outros orgãos. 71 Fig. 64 O fluxo sanguíneo através do sistema vascular depende em parte da diferença de pressões nas duas extremidades do sistema. Se as pressões são idênticas não ocorre fluxo, mas se a pressão numa extremidade é superior á da outra extremidade, o sangue vai fluir da maior para a menor pressão (fig. 65). A taxa de fluxo sanguíneo é assim proporcional á diferença de Pressão (ΔP). 72 Fig. 65 Por outro lado, a taxa de fluxo sanguineo é inversamente proporcional á resistencia friccional ao fluxo de sangue atraves dos vasos. Logo Taxa fluxo = ΔP / resistencia. A resistencia (R) por sua vez é directamente proporcional ao comprimento do vaso (C) e á viscosidade sanguinea (η), pelo que R = Cη/r 4. (r – raio do vaso). Assim temos a Lei de Poiseuille’s: O comprimento dos vasos e a viscosidade sanguinea não variam significativamente em condições normais, apesar da viscosidade estar aumentada na desidratação severa e na policitémia (como adaptação ás altitudes elevadas). Os principais reguladores fisiologicos do fluxo sanguineo atraves de um orgão são a pressão arterial média e a resistencia vascular. A uma dada pressão arterial média o sangue pode ser derivado de um orgão a outro através da vasoconstrição ou vasodilatação, sobretudo das arteriolas. Regulação extrinseca do fluxo sanguineo Levada a cabo pelo sistema nervoso autonomo e pelo sistema endocrino. No caso deste ultimo, temos substancias como a angiotensina II, que estimula a contracção do musculo liso dos vasos (vasoconstrição), e a HAD que tambem tem um efeito vasoconstritor em altas concentrações. 73 Regulação simpática A estimulação simpatica aumenta o debito cardiaco e a resistencia vascular periferica, resultando este ultimo efeito da estimulação dos receptores alfa – adregernicos pela adrenalina e noradrenalina, o que causa vasoconstrição das arteríolas viscerais e da pele. Em “situações de alerta” as fibras simpáticas adrenérgicas (libertam adrenalina e noradrenalina) estimulam os receptores alfa e causam a já referida vasoconstrição na pele e nas vísceras. Por outro lado, as fibras simpáticas colinergicas que estimulam as arteriolas do musculo esqueletico, libertam acetilcolina que causa vasodilatação. Tambem a medula suprarrenal liberta noradrenalina que actua sobre os receptores beta do musculo esqueletico, causando vasodilatação. Regulação parassimpática As terminações nervosas são colinergicas, libertando-se por isso acetilcolina que causa vasodilatação a nivel do tubo digestivo, dos genitais externos e das glandulas salivares. Regulação parácrina O endotelio produz substancias que provocam vasodilatação (óxido nitrico, bradicininas, prostaciclinas) e vasoconstrição (endotelina – 1 ). Regulação intrinseca do fluxo sanguineo Mecanismos miogénicos No cérebro, quando a pressão arterial sistémica diminui, os seus vaos dilatam e por outro lado, quando aquela aumenta, os vasos contraem-se. Mecanismos metabólicos Determinadas condições quimicas locais conduzem á vasodilatação, como baixas concentrações de oxigenio, altas concentrações de dioxido de carbono, baixo pH e libertação de adenosina ou K+ pelas células. 74 Pressão arterial A resistencia ao fluxo no sistema arterial á maior nas arteriolas porque estas são os vasos de menor diametro. Assim, o fluxo sanguineo e a pressão nos capilares são reduzidos. Acima das arteriolas (artérias de grande e médio calibre) a pressão está aumentada. Os factores que influenciam a pressão arterial são: - Frequencia cardiaca; - Volume de ejecção; Débito cardíaco - Resistencia periferica total. A pressão arterial é regulada pelos rins, que controlam o volume sanguineo e consequntemente o volume de ejecção, e pelo sistema nervoso simpatico. Um aumento da actividade deste conduz a um aumento da pressão arterial, através da vasoconstrição das arteríolas, aumentando a resistencia periferica total, e através de um aumento do débito cardiaco. Tambem pode afectar o volume de sangue indirectamente, por estimular a contracção dos vasos renais e assim reduzir a produção de urina. Reflexo baroreceptor Os barorreceptores localizados no arco aórtico e no seio carotídeo detectam variações de pressão sanguínea, enviando esta informação, por intermédio dos nervos glossofaringeo (IX) e vago (X), aos centros de controle vasomotor e centros de controle cardiaco, situados na medula oblonga. Através dos nervos simpaticos e do vago, estes centros controlam respectivamente, a vasoconstrição/vasodilatação e a frequencia cardiaca (fig. 66 e 67). Este mecanismo é mais sensivel a diminuições de pressão arterial, sobretudo aquelas que são bruscas. 75 Fig. 66 Fig. 67 76 Reflexo de tensão auricular Os receptores de tensão ao serem activados por um aumento do retorno venoso: - Estimulam a taquicardia reflexa (atraves de um aumento da actividade do sistema nervoso simpatico). - Inibem a libertação de HAD, o que vai aumentar o volume de urina e diminuir o volume de sangue. - Promovem a secreção de FNA. Outros mecanismos - Controle reflexo da libertação de HAD pelos osmorreceptores hipotalâmicos. - Controle pelo aparelho justaglomerular, da produção de angiotensina II e secreção de aldosterona. Medição da pressão arterial Metodo auscultatório – é um método indirecto em que se estabelece uma correlação entre a pressão arterial e os sons arteriais. Quando o fluxo através dos vasos é laminar não se escutam quaisquer sons (silencio). Por outro lado, quando é turbulento ouvem-se ruidos, o que acontece quando a pressão da braçadeira insuflável do esfingomanómetro é superior á pressão diastólica e inferior á pressão sistólica (fig.68). O valor da pressão arterial média é de 120/180mmHg. 77 Fig. 68 78 Fisiologia do Aparelho Digestivo Introdução Funções Digestão – os polímeros (macromoléculas) são hidrolizados em monómeros (moléculas simples) (fig.69). Fig. 69 Absorção – transporte de monómeros através da parede do intestino delgado, para o sangue e linfa. Motilidade – movimento da comida através do tubo digestivo pelo processo de: o Ingestão o Mastigação o Deglutição o Peristaltase – contracção em ondas ritmicas. Secreção: 79 o Exocrina – água, acido hidrocloridrico, bicarbonato, enzimas digestivas o Endocrino – hormonas (libertadas pelo estômago e pelo intestino delgado) que ajudam a regular o sistema digestivo. Anatomica e funcionalmente Camadas do tubo digestivo Apresenta quatro camadas ou túnicas (fig.70), do exófago ao canal anal: Mucosa – a mais interna das tunicas; tem funçoes de absorção e secreção. o Consiste num epitélio cilindrico simples assente na lâmina própria (tecido conjuntivo com nódulos linfáticos); o Acima da lâmina própria encontra-se a muscularis mucosa, que ao contrair-se origina pregas que aumentam a sperficie de absorção; o Possui células especializadas que secretam muco. Submucosa – situada acima ou por fora da mucosa. o Tecido conjuntivo muito vascularizado. o As substâncias absorvidas na mucosa entram nos seus vasos o Possui tambem glandulas e plexos nervosos (plexo submucoso ou de Meissner – dá nervos á muscularis mucosa). Muscular – ou muscular externa. o Responsável por contracções segmentares e pelos movimentos peristalticos; o Tem uma camada circular interna e uma longitudinal externa; o Situado entre estas duas camadas encontra-se o plexo mientérico ou de Auerbach, que origina nervos (simpaticos e parassimpaticos). Serosa – funções de protecção e revestimento. o Tecido conjuntivo coberto por uma camada de epitélio escamosos simples. 80 Fig. 70 Enervação do tubo digestivo Parassimpático – estimula a motilidade e a secreção; o nervo vago estimula o esófago, o estomago, o pancreas, a vesicula biliar, o intestino delgado e a parte superior do intestino grosso; a porção inferior do intestino grosso é estimulada pelos nervos espinhais sagrados. Simpático – reduz a peristaltase e a secreção; estimula a contracção dos esfincteres. Exófago e estômago Mastigação – mistura os alimentos com a saliva (secretada pelas glândulas salivares); a saliva contém muco, agentes animicrobianos e amilase salivar ou ptialina, uma enzima que degrada parcialmente o amido. 81 Deglutição – começa como um processo volutário, em seguida iniciamse contracções musculares involuntárias. Esófago Tubo muscular que liga a faringe ao estomago; Mede aproximadamente 25cm de comprimento; Apresenta um epitelio escamoso estratificado não queratinizado; O terço superior apresenta musculo esquelético, o treço medio uma mistura de musculo esqueletico e liso e o terço inferior, musculo liso; Os alimentos são conduzidos por peristaltase em resposta á distenção do tubo por um bolus (massa de comida); o movimento ocorre porque o musculo liso circular contrai-se acima do bolus e relaxa-se abaixo do mesmo, e ainda pelo estreitamento do tubo pelo musculo longitudinal (fig.71); estas contracções ocorrem num sentido descendente; A porção terminal do lumen apresenta um estreitamento, devido a um engrossamento das fibras circulares – esfincter esofagico inferior (impede a regurgitação do conteudo gastrico). Fig. 71 Estômago Funções: armazenar comida, iniciar a digestão das proteínas, destruir as bactérias e conduzir o quimo ao intestino delgado; 82 A superfície mucosa é rugosa, apresentando numerosas pregas, as células que se encontram no fundo das pregas secretam substâncias – glândulas gástricas (fig.72) Glândulas gástricas: o Células caliciformes – secretam muco; o Células parietais – secretam HCl; o Células zimogénicas – secretam pepsinogénio; o Células enterocromafin – secretam histamina; o Células G – secretam gastrina; o Células D – secretam somatostatina. Ainda produz, pelas células parietais, factor intrínseco, essencial para a absorção da vitamina B12 na porção terminal do íleon, esta vitamina é importante na maturação dos eritrócitos, o seu deficit origina anemia perniciosa. Estas secrreções, conjuntamente com a água, constituem o suco gástrico. Fig. 72 Pepsina e secreção de ácido cloridrico As celulas parietais secretam H+ por transporte activo, através da bomba H+/K+ ATPase que retira K+ do lúmen e secreta H+. a secreção é estimulada indirectamente pela gastrina produzida pelas células G e pela acetilcolina libertada pelas terminações do vago. A gastrina e a acetilcolina actuam sobre as 83 células enterocromafin, estimulando a produção de histamina, a qual por sua vez estimula directamente as células parietais, produzindo estas HCl. O facto de o suco gástrico ser ácido (PH < 2) favorece: A hidrolise da estrutura terciária das proteinas, tornando-as mais digeriveis; A conversão do pepsinogenio (forma inactiva da pepsina) em pepsina (fig.73); A actividade da pepsina (é mais activa em PH ácido). Fig. 73 As proteinas são parcialmente digeridas no estômago e a amilase salivar é inactivada pela acidez gástrica. Os hidratos de carbono e as gorduras não são digeridos e a absorção é praticamente nula. Intestino Delgado Estende-se do esfincter pilário á válvula íleo-cecal; No duodeno e no jejuno, ocorre a absorção dos hidratos de carbono, lipidos, aminoacidos, calcio e ferro, no íleon são absorvidos os sais biliares, a vitamina B12, a água e os electrólitos; A mucosa e a submucosa formam pregas – plicas circulares (fig.74); A mucosa forma pregas microscópicas – vilosidades (fig.74); A membrana das células epiteliais forma pregas só visualiuzáveis ao microscópio electrónico – microvilosidades. 84 Fig. 74 Vilosidades e microvilosidades Vilosidades (fig.75) – pregas de forma digital que se projectam no lúmen o Constituidas por células epiteliais cilindricas e celulas caliciformes, a lâmina própria apresenta linfócitos, capilares e vasos linfáticos; o Os monossacáridos e os aminoácidos absorvidos, são secretados nos capilares, ao passo que as gorduras o são nos linfáticos; o O epitélio da base invagina e forma as criptas intestinais ou de LieberKühn. Microvilosidades (fig.76) 85 Fig. 75 Fig. 76 Enzimas intestinais A membrana celular das microvilosidades contém enzimas (sacarase, maltase, lactase, aminopeptidase, enteroquinase) que hidrolizam dissacáridos, polipeptídeos e outras moléculas. Não são libertadas no lúmen mas permanecem unidas à membrana. A enteroquinase actua sobre o tripsinogénio do suco pancreático activando-o em tripsina. 86 Peristaltase – é menos potente do que no estômago e no esófago, o movimento do quimo é mais lento. Segmentação (fig.77) – constitui a principal actividade contractil. Consiste na constrição muscular do lúmen, que ocorre simultaneamente em diferentes segmentos ajudando também a misturar o quimo com as enzimas digestivas. Fig. 77 Intestino Grosso A mucosa contém linfócitos, nódulos linfáticos e apresenta um epitélio cilindrico com células caliciformes e criptas de LieberKühn; Não apresenta vilosidades; Tem uma pobre função digestiva e absorve água, electrólitos, vitaminas do complexo B e vitamina K; As bactérias residentes produzem vitamina K e ácido fólico que aí são absorvidos. 87 Absorção de fluidos e electrólitos Diáriamente bebemos cerca de 1,5l de água por dia, mas ao intestino delgado chegam cerca de 7 a 9l/dia, isto como resultado da secreção de fluidos para o tubo digestivo, pelas glândulas salivares, estomago, pancreas, figado e vesicula. O intestino delgado absorve a maior parte e passam 1,5l a 2l/dia de fluido ao intestino grosso, o qual vai absorver cerca de 90% deste volume perdendo-se menos de 200ml nas fezes. Neste, a absorção de água ocorre passivamente devido ao gradiente osmótico criado pelo transporte activo de iões. Por outro lado, tambem secreta água no lúmen, mas em menor proporção do que absorve, ocorrendo esta secreção por osmose resultante do transporte activo de sódio ou cloro para o lúmen. Defecação As fezes acumulam-se na ampola rectal ocorrendo um aumento da presão rectal (que conduz ao reflexo da defecação) bem como um relaxamento do esfincter anal interno. O reflexo da defecação ocorre quando a pressão rectal aumenta até a um dado valor, que é determinado pelo hábito. Quando tal valor é atingido, o esfincter anal externo relaxa-se e as fezes enrtram no canal anal. O musculo longitudinal da parede rectal contrai-se aumentando ainda mais a pressão e os esfincteres relaxam-se. A excreção das fezes pode ser ajudada pela contracção dos musculos abdominais e da pélvis, que aumentam a pressão intraabddominal, comprimindo assim o recto. Fígado, Vesicula Biliar e Pâncreas Estrutura do fígado Hepatócitos – formam lamelas hepaticas, as quais etão separadas entre si por longos capilares – sinusoides. Estes por sua vez são revestidos pelas células de Kupffer (fagócitos) que fazem parte do sistema reticuloendotelial. A existencia de largos espaços intracelulares entre estas, torna estes capilares muito permeáveis (fig.78). 88 Fig. 78 Sistema porta-hepático Os produtos da digestão absorvidos para os capilares intestinais não vão directamente para a circulação sistémica, mas passam primeiro pelo fígado. Os capilares do tubo digestivo drenam para a veia porta, seguindo o sangue pelos capilares hepáticos para as veias hepáticas, entrando então na circulação sistémica. Lóbulos hepáticos As lamelas hepáticas organizam-se em lóbulos. No centro destes encontramos a veia central e na periferia, ramos da veia porta e da artéria hepática, que se abrem nos sinusóides situados entre as lamelas. O sangue arterial e venoso mistura-se e flui da periferia para o centro (fig.79). As veias centrais dos diferentes lóbulos unem-se e formam as veias hepáticas que vão drenar na veia cava inferior. A bílis produzida pelos hepatócitos é secretada pelos canaliculos biliares localizados no interior das lamelas. Estes por sua vez drenam para a periferia, para os canais biliares (fig.79), os quais por sua vez drenam para os canais hepáticos. 89 Fig. 79 Circulação enterohepática Para além dos constituintes normais da bílis, uma grande quantidade de substâncias são secretadas pelo fígado nos canais biliares. Desta forma o fígado efectua a depuração do sangue, removendo substâncias e excretando-as no intestino com a bílis, sendo depois eliminadas nas fezes, mas sim absorvidas no intestino delgado, entrando no sangue porta. Assim, regressam ao fígado, onde poderão ser novamente secretadas pelos hepatocitos dos canais biliares – circulação enterohepática (fig.80). Funções do fígado Produção e secreção de bilis O figado produz e secreta 250 a 1500ml/dia de bilis. Sendo esta constituida por: Pigmentos (bilirrubina); Sais biliares; Fosfolipidos (lecitina); Colestrol; Iões inorgânicos. A bilirrubina é produzida no baço, figado e medula óssea, como derivado da catabolismo dos grupos heme da hemoglobina. A bilirrubina livre 90 é pouco soluvel em água, sendo transportada no sangue ligada á albumina, não podendo assim ser filtrada pelos rins, nem excretada pelo figado. Este retira-a do sangue e conjuga-a com o ácido glicurónico, originando a bilirrubina conjugada, soluvel em águaa, e assim sendo secretada na bilis. No intestino a bilirrubina conjugada é convertida pelas bactérias em outro pigmento – urobilinogénio (fig.80) (os seus derivados dão a cor castanha ás fezes). Cerca de 30 a 50% do urobilinogénio é absorvido no intestino e entra na veia porta. Desta percentagem, uma parte é secretada na bilis (circulação enterohepática) (fig.80) e a restante entra na circulação sistémica. No sangue, o urobilinogénio não se liga á albumina, sendo por isso filtrado nos rins e os seus derivados originam a cor amareelada da urina (fig.80). Fig. 80 Os sais biliares são derivados do colesterol que têm 2 a 4 grupos polares. Os principais são os ácido cólico e quenodesoxicólico. Em solução aquosa estas moléculas agragam-se em micelas. A lecitina, o colesterol e outros lipidos 91 presentes no intestino delgado entram nas micelas, contribuindo assim estes sais para a emulsificação das gorduras do quimo. Detoxificação do sangue O fígado pode remover do sangue hormonas, drogas e outras moléculas biologicamente activas, por: Excreção das substâncias na bílis; Fagocitose pelas células de Kupffer; Alterações químicas das substâncias, nos hepatócitos. A amónia, uma molécula muito tóxica produzida pela desaminação dos aminoácidos no fígado e pela acção das bactérias intestinais, é convertida por enzimas hepáticas em ureia. Esta substância é menos tóxica, sendo secretada pelo fígado no sangue e seguidamente eliminada pelos rins, na urina. O fígado também converte porfirinas tóxicas em bilirrubina e purinas tóxicas em ácido úrico. Hormonas esteroides e muitas drogas são inactivadas aquando da sua passagem no fígado. Este, através das suas enzimas, converte estas moléculas não polares em moléculas mais polares, por hidroxilação e conjugação com grupos altamente polares (sulfato, ácido glicurónico). Estes derivados polares são biologicamente menos activos, e como são mais solúveis, são mais facilmente excretados na urina. O fígado possui um complexo enzimático – citocromo P450 – que metaboliza toxinas exógenas. A sua constituição é variável de pessoa para pessoa. Secreção de glicose, triglicerídeos e corpos cetónicos O fígado ajuda a regular a glicemia através da remoção ou adição de glucose ao sangue. Após uma refeição rica em hidratos de carbono, o fígado remove alguma glicose do sangue porta e converte-o em glicogénio e triglicerideos, através da glicogénese e lipogenese, respectivamente. No jejum o fígado secreta glicose no sangue através da clivagem de glicogénio armazenado (glicogenolise) ou então converte moléculas que não sejam hidratos de carbono (ex: aminoácidos), em glicose (gluconeogénese). Também possui enzimas que, durante o jejum, convertem ácidos gordos livres em corpos cetónicos (cetogénese), que são libertados no sangue. Produção de proteínas plasmáticas 92 A albumina plasmática e a maior parte das globulinas plasmáticas (com excepção das imunoglobulinas) são produzidas no fígado. Estas proteínas desempenham várias funções: Pressão colóide osmótica sanguínea (sobretudo a albumina); Transporte de colesterol, triglicerídeos, hormonas tiroideias e esteróides; Inibição da actividade da tripsina; Coagulação sanguínea (fibrinogénio, protrombina, factores III, V, VII, IX e XI). Vesicula biliar Armazena e concentra bilis, possuindo um esfincter ao nivel do colo, que impede a saída daquela. A contracção da sua camada muscular ejecta a bilis através do canal cistico para o canal biliar comum e daí para o duodeno. A bilis é continuamente produzida pelo figado e drenada, através dos canais hepático e comum, para o duodeno. Quando o intestino delgado está vazio, o esfincter da ampola (esfincter de Oddi), situado na extremidade terminal do canal hepático comum, contrai-se, e a bilis é forçada a regredir para o canal cistico e daí para a vesicula, onde fica armazenada. Pâncreas Função endócrina – levada a cabo pelos ilhéus pancreáticos ou de Langerhans; produzem insulina e glucagon. Função exócrina – levada a cabo pelos ácinos; produzem suco pancreático. Suco pancreático – contém: o Água o Bicarbonato o Enzimas digestivas Amilase Tripsina Lipase A maior parte destas enzimas são produzidas na sua forma inactiva (zimógenos) para diminuir o risco de auto-digestão do pâncreas. 93 Sob acção da enteroquinase, o tripsinogénio é convertido em tripsina, activando esta por sua vez as outras enzimas, através da clivagem de sequencias polipeptídicas. O pancreas produz uma pequena quantidade de tripsina que é inactivada, até ao duodeno, pelo inibidor pancreático da tripsina. Regulação neuronal e endócrina do sistema digestivo A visão, o cheiro e o gosto dos alimentos originam um refluxo, em que o nervo vago estimula as secreções salivar e gástrica. Regulação da função gástrica A motilidade e secreção gástricas são, até certo ponto, automáticas: Ondas de contracção iniciadas espontaneamente ao nivel da grande curvatura, por acção de células com actividade electrica espontanea; Secreção de HCl e pepsinogénio, estimulada pela presença de proteinas no estomago. Fase cefálica – controlada pelo cérebro, através do nervo vago, duração de cerca de 30min. A visão, o cheiro, o gosto dos alimentos, origina um reflexo, em que o nervo vago vai estimular as células zimogénicas a produzir pepsinogénio, as células G a secretar gastrina e as células enterocromafin a secretar histamina. Por sua vez a gastrina tambem actua sobre estas ultimas estimulando-as a produzir histamina. Esta actuando sobre as células parietais (liga-se aos receptores do tipo H2) estimula a produção de HCl (fig.81). 94 Fig. 81 Fase gástrica Nesta fase, a chegada de alimentos ao estômago provoca a distenção deste, o que reflexivamente estimula o nervo vago, com todas as consequências daí advindas. Por outro lado, a presença de aminoácidos e polipéptideos no estômago estimula as células G que produzem gastrina (fig.81), estimulando esta por sua vez as células zimogénicas e as enterocromafin. Respectivamente obtém-se: Pepsinogénio, que é convertido em pepsina que vai hidrolizar as proteínas originando mais aminoácidos e polipeptideos que vão estimular as células G; Histamina, que estimula as células parietais a produzir HCl que vai auxiliar a digestão das proteínas em aminoácidos e polipeptideos. Estamos assim na presença de um mecanismo de feedback positivo. A glicose não vai ter qualquer efeito sobre a secreção gástrica, e os lipidos inibem-na. Por outro lado, a diminuição do pH vai estimular as células D a produzirem somatostatina que inibe as células G produtoras de gastrina, inibindo desta forma a secreção gástrica. Neste caso, temos um mecanismo de feedback negativo. Esta inibição inicia-se quando o pH é de 2,5 e é totalmente interrompida quando o pH atinge o valor de 1. 95 A presença das proteínas e polipeptideos no estômago ajuda a tamponar a acidez e desta forma previne uma diminuição rápida do pH, ou seja, estimula a secreção gástrica pela inibição do mecanismo de feedback negativo, para além do mecanismo de feedback positivo. Assim, a quantidade de secreção ácida é ajustada á quantidade de proteínas ingeridas. Fase intestinal – ocorre a inibição da actividade gástrica quando o quimo entra no intestino delgado. A chegada do quimo ao duodeno causa um aumento da osmolaridade e a contracção do duodeno, efeitos esses que, por um mecanismo de reflexo, vão inibir a motilidade e as secreções gástricas. A presença de gordura no quimo, por sua vez estimula o duodeno, o íleon e o cólon a produzirem um conjunto de susbstâncias que também vão inibir a motilidade e as secreções gástricas: Peptideo inibitório gástrico Somatostatina Enterogastrina Colecistocinina Peptídeo glucagon-like-1 (GLP-1) O peptideo inibitório gástrico e o GLP-1 estimulam a secreção de insulina em resposta á presença de glicose no intestino delgado, antecipando assim a subida da glicemia. Regulação da função intestinal O intestino através dos plexos submucoso e mientério, possui um sistema nervoso entérico, que é constituido por neurónios sensores, interneurónios e neurónios motores. A presença de um bolus de quimo no intestino estimula os neurónios sensores, que por sua vez vão estimular os interneurónios e estes os neurónios motores. Acima do bolus, estes neurónios libertam acetilcolina e susbstância P, que causam contracção muscular da parede intestinal. Abaixo, os neurónios motores libertam oxido nitrico, peptídeo intestinal vasoactivo e ATP, que causam relaxamento muscular (fig.82). 96 Fig. 82 Reflexo gastrointestinal – um aumento da actividade gástrica vai originar um reflexo, que aumenta a motilidade do íleon e a passagem do quimo através da válvula íleo-cecal. Reflexo ileogástrico – a distensão do íleon origina um reflexo que diminui a motilidade gástrica. Reflexo intestino-intestinal – a sobredistensão de um segmento do intestino conduz a um relaxamento através dos restantes segmentos do mesmo. 97 Guanilina – produzida pelo íleon e pelo cólon; activa a enzima guanilato ciclase, produzindo GMP ciclico que actua sobre as células epiteliais intestinais, estimulando a secreção de cloro e água inibindo a absorção de sódio; desta forma aumenta a perda de água e sal nas fezes. Regulação da secreção de bilis e suco pancreático A chegada de quimo ao duodeno estimula a secreção de bilis e suco pancreático, através de mecanismos reflexos neuronais e hormonais. Secreção de suco pancreático Quando o pH no duodeno desce abaixo de 4,5, ocorre a secreção de secretina por este, indo estimular as células acinares do pâncreas a produzir bicarbonato que vai neutralizar o pH ácido. Ocorre uma subida deste que vai inibir a secreção de secretina. As proteinas e gorduras presentes no quimo, estimulam a secreção de colecistocinina pelo duodeno, indo esta estimular as células acinares do pâncreas a produzir as enzimas digestivas. Secreção de bílis O duodeno atraves da secreção de secretina e colecisticinina, vai aumentar a secreção de bilis (a secretina estimula o figado a secretar bicarbonato). A colecistocinina tambem estimula ainda a contracção da vesicula biliar e a consequente ejecção de bilis. Digestão e absorção de Hidratos de Carbono, Lípidos e Proteinas Digestão e absorção de Hidratos de carbono A amilase salivar actua sobre o amido originando algumas moléculas de glicose, mas a maior parte deste vai ser degradado pela amilase pancreática em maltose (dissacárido), maltriose (trissacárido) e oligossacáridos (fig.83), que por 98 sua vez, sob a acção das enzimas digestivas da superfície intestinal são degradados em moléculas de glicose. Fig. 83 Outros açúcares, como a sacarose e a lactose, sob a acção de enzimas da superfície intestinal (sacarase e lactase), são degradados respectivamente em, glucose+frutose e glucose+galactose. Os monossacáridos assim obtidos, entram nas células epiteliais por transporte activo e são secretados para os capilares sanguíneos. Digestão e absorção de Proteinas A sua digestão inicia-se no estômago, sob a acção da pepsina, originando alguns aminoácidos e polipeptídeos de cadeia curta. A maior parte da digestão vai ocorrer no duodeno e no jejuno. Aí, as endopeptidases (trispsina, quimiotripsina, elastase) clivam as ligações peptideas no interior das cadeias e as exopeptidases (carboxi e aminopeptidases) os aminoácidos das extremidades carboxil e amino destas cadeias (fig.84). como resultado obtêm-se aminoácidos, di e tripeptideos. Os aminoácidos são absorvidos por co-transporte com o sódio e seguidamente secretados no sangue. Os di e tripeptideos entram nas células por um transportador de membrana e no interior delas são clivados em aminoácidos que vão para a corrente sanguinea (fig.84). 99 Fig. 84 Digestão e absorção de lípidos A chegada de lípidos ao duodeno estimula a secreção de bilis, que através dos seus sais procede à emulsificação das gorduras – formação de pequenas e numerosas gotas de gordura. Digestão A emulsificação ajuda a digestão, porque as numerosas e pequenas gotas de gordura emulsificadas, apresentam uma maior área de superfície do que as gotas não emulsificadas. A digestão ocorre á superfície das gotas, através da lipase pancreática, sendo ajudada por uma protéina, a colipase. A lipase remove dois ácidos gordos e um monogçicerídeo. 100 Os fosfolípidos sob acção da fosfolipase A, originam ácidos gordos livres e lisolecticina. Os triglicerideos degradados pela lipase vão dar ácidos gordos livres e um monoglicerídeo. Todos estes produtos resultantes são mais polares, associam-se com micelas de sais biliares, lecitina e colestrol, formando micelas mistas. Estas micelas movimentam-se até à superfície vilosa so intestino e aí ocorre a sua absorção. Absorção Os ácidos gordos, os monoglicerídeos e a lisolecticina podem abandonar as micelas e passam através da membrana celular, ou então as micelas são transportadas intactas para o interior da célula e depois os produtos da digestão são removidos. Tais produtos, uma vez no interior da célula, são utilizados na ressintese de triglicerideos e fosfolipidos. Os triglicerideos, os fosfolipidos e o colestrol são combinados com proteínas (apoproteínas) e formam os quilomicrons que são secretados nos capilares linfáticos. Transporte de lipidos no sangue Sob a acção da lipoproteína lipase, presente no endotélio dos vasos, os triglicerídeos dos quilomicrons são removidos. A enzima hidroliza os triglicerídeos em ácidos gordos e glicerol, que são utilizados pela célula. As partículas remanescentes (quilomicrons remanescentes), contendo colestrol, são removidas pelo fígado. O colestrol e os triglicerídeos produzidos pelo fígado são combinados com apoproteínas e secretados no sangue como lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), as quais entregam triglicerídeos aos diferentes orgãos. Uma vez este removidos, as VLDL convertem-se me lipoproteínas de baixa densidade (LDL) que transportam colestrol a diversos orgãos, incluindo os vasos sanguíneos. O excesso de colestrol é removido destes órgãos para o fígado, através das lipoproteínas de alta densidade (HDL). 101 Fisiologia do Aparelho Urinário Estrutura e função dos rins Funções A função primária é a regulação do fluido extracelular, através da formação da urina. Regulam: - O volume do plasma sanguíneo (contribuindo para a regulação da pressão arterial) - A concentração de produtos residuais no sangue - A concentração de electrólitos no sangue (sódio, potássio, bicarbonato e outros) - O pH do plasma. Estrutura microscopia Nefrónio (fig.85 e 87) – unidade funcional responsável pela formação de urina; existe em número superior a um milhão; consiste um túbulos e pequenos vasos sanguíneos. Vasos sanguíneos renais (fig.86 e 87) 102 Fig. 85 Fig. 86 103 Fig. 87 Túbulos néfricos (fig.87) o Cápsula glomerular ou de Bowman (fig.88) – envolve o glomérulo; conjuntamente com este forma o corpúsculo renal, localizado no córtex. Possui uma camada epitelial visceral e outra parietal. O espaço situado entre as duas está em continuidade com o lúmen do Túbulo e recebe o filtrado glomerular. o Túbulo contornado proximal – composto por uma camada de células cubóides com microvilosidades; também situado no córtex. o Ramos descendente e ascendente da ansa de Henle – situados na medula renal. o túbulo contornado distal – é mais curto que o proximal e tem menos microvilosidades; situados no córtex. o Tubo colector – recebe o fluido proveniente do túbulo contornado distal de vários nefrónios; o fluido é drenado do córtex até á medula, á medida que o tubo atravessa uma pirâmide e vai drenar num pequeno cálice. Nefrónio: o Justamedular (fig.88) – situado no interno do córtex; possui ansas de Henle longas; papel importante na concentração da urina. 104 o Cortical (fig.88) – mais numerosos; situados nos externos do cortéx Fig. 88 Filtração glomerular As células endoteliais dos capilares glomerulares possuem largos poros chamados fenestrações, o que os torna mais permeáveis á água e solutos plasmáticos, mas não permitindo a saída de eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Antes do filtrado penetrar no interior da cápsula tem de atravessar os poros capilares, a membrana basal (camada de glicoproteínas que reveste o endotélio) e a camada interna (visceral) da membrana glomerular. Esta é constituída por células denominadas podócitos (fig.), que apresentam prolongamentos com inúmeros pedículos que se interdigitam em torno dos capilares, deixando pequenos espaços entre si e pelos quais o filtrado passa ao interior da cápsula. 105 Fig. 89 Apesar dos poros dos capilares serem suficientemente largos para permitirem a passagem de proteínas, o fluido que entra no espaço capsular apenas contem uma pequena quantidade destas. Tal, é em parte resultante da repulsão entre a carga negativa das proteínas e das glicoproteínas da membrana basal. Ultrafiltrado glomerular Fluido que entra na cápsula e que é formado devido à pressão hidrostática do sangue. Esta força é contrariada pela pressão hidrostática na cápsula glomerular. A pressão colóide osmotica do plasma á superior à do túbulo, uma vez que a sua concentração proteica é maior, o que favorece o 106 retorno do fluido ao capilar. Estas forças opostas originam uma pressão de filtração “líquida” de 10mmHg. Devido á grande permeabilidade dos capilares e á sua extensa superfície, esta modesta pressão origina um grande volume de filtrado. Taxa de filtração glomerular – volume de filtrado formado pelos rins por minuto. O valor médio é de 125ml/min, o que dá um total de 180L/dia. Regulação da taxa de filtração glomerular A vasoconstrição das arteríolas aferentes afecta o fluxo sanguíneo e consequentemente a taxa de filtração glomerular (TFG). Efeito dos nervos simpáticos Um aumento da actividade simpática conduz á constrição das arteríolas aferentes e logo a uma diminuição da TFG (fig.90). Fig. 90 107 Autorregulação renal Quando a pressão arterial sistémica diminui abaixo de 70mmHg, ocorre uma dilatação das arteríolas aferentes, que mantém a TFG constante. Quando a pressão arterial sistémica se torna elevada, dá-se a constrição das arteríolas aferentes, mantendo-se a TFG constante. Ao ocorrer um aumento do filtrado glomerular, a mácula densa detecta essa alteração e condiciona a constrição das arteríolas aferentes, diminuindo assim a TFG – feedback tubuloglomerular. Reabsorção de sal e água Diariamente formam-se 180 L de filtrado, mas apenas excretamos 1 a 2L de urina, o que significa que cerca de 99% daquele regressa ao sistema vascular. Por dia, temos necessidade de eliminar um volume mínimo de 400ml, a fim de excretarmos os resíduos metabólicos. A água deve retornar ao sistema vascular para que o volume e pressão sanguíneos se mantenham. Tal retorno ocorre por osmose. Reabsorção – retorno ao sangue, das moléculas filtradas no glomérulo e presentes nos túbulos. Reabsorção no túbulo proximal (figs.91 e 92) A osmolaridade do filtrado é semelhante á do plasma (300mosm/L), ou seja, o filtrado é isosmótico. Transporte activo e passivo As células epiteliais que constituem o túbulo contornado proximal (TCP) estão unidas por estreitas junções, apenas no seu lado apical. Estas células têm uma menor concentração de sódio, parcialmente devido á baixa permeabilidade da membrana celular a este ião e parcialmente devido ao transporte activo de sódio para fora da célula, pela bomba de sódio/potássio localizada nas porções laterais e basais da membrana celular. Desta forma, origina-se um gradiente que favorece o movimento de sódio do túbulo para o interior da célula, através da membrana apical, sendo depois retirado para o tecido envolvente pela bomba sódio/potássio. Assim sendo, cria-se uma diferença de potencial eléctrico entre o tecido intersticial e o lúmen do túbulo, sendo este o pólo negativo. Este gradiente eléctrico favorece o 108 transporte passivo de cloro para o tecido intersticial. A osmolaridade e a pressão osmótica neste aumenta, sobretudo nos espaços laterais entre as células epiteliais. Cria-se um gradiente osmótico, e como as células TCP são permeáveis á água, esta move-se por osmose para as células epiteliais e daí para o tecido intersticial. A água e o sal assim reabsorvidos, movem-se passivamente para o interior dos capilares peritubulares. Fig. 91 109 Fig. 92 Significância de reabsorção no TCP 65% do sal e da água do ultrafiltrado é reabsorvido no TCP. O volume do fluido tubular restante está reduzido, mas é isosmótico devido á boa permeabilidade das células TCP à água. Cerca de 20% da água e do sal são reabsorvidos na porção descendente da ansa de Henle, sendo esta reabsorção, tal como a anteriormente descrita, constante, independente do estado de hidratação da pessoa, ou seja, não sujeita a regulação hormonal. Assim, 85% do filtrado é reabsorvido na porção próximal do nefrónio e os restantes 15% são-no no TCD e no tubo colector, de acordo com o estado de hidratação do corpo, ou seja, sob regulação hormonal. Mecanismo multiplicador de contracorrente A pressão osmotica do fluido intersticial na medula renal á bastante mais alta que no plasma, devido á acção dos nefrónios justaglomerulares. Isto resulta parcialmente da curvatura do túbulo, permitindo uma interacção entre as porções descendente e ascendente, sendo esta a porção activa. 110 Porção ascendente da ansa de Henle O cloreto de sódio passa activamente da porção ascendente para o tecido intersticial. O sódio difunde-se para o interior da célula epitelial acompanhado pelo transporte secundário activo de potássio e cloro (1Na+/1K+/2Cl-). O sódio depois é activamente transportado através da membrana basolateral para o fluido intersticial, pela bomba de sódio/potássio. O cloro segue passivamente o sódio (devido á atracção eléctrica) e o potássio difunde-se para o filtrado (fig.93). Fig. 93 A membrana das células epiteliais da porção ascendente não é permeável á água, pelo que o fluido tubular é diluído á medida que ascende para o córtex, enquanto que o tecido intersticial á volta da ansa de Henle, na medula, fica concentrado. O fluido tubular que penetra no TCD do córtex é hipotónico. Porção descendente da ansa de Henle As regiões profundas da medula, em torno das extremidades da ansa dos nefrónios justaglomerulares, atingem altas concentrações de solutos (1200 a 1400mosm). Isto deve-se me parte ao facto dos vasos em torno da ansa não removerem todo o NaCl reabsorvido na porção ascendente. Por outro lado, a porção descendente não transporta activamente sal e pensa-se que seja mesmo impermeável á difusão passiva deste. Uma vez que o 111 fluido intersticial é hipertónico, a água sai por osmose da porção descendente e entra nos capilares. A concentração do fluido tubular aumenta e o volume diminui, fazendo com que este tenha a mesma osmolaridade do fluido intersticial envolvente (1200 a 1400mosm). Chega assim á porção ascendente uma elevada concentração de NaCl que aumenta o transporte deste nesse segmento, aumentando consequentemente a sua concentração no tecido intersticial (fig.94). Fig. 94 Multiplicação de contracorrente Quanto mais sal a porção ascendente reabsorve, maior será a concentração no fluido intersticial e consequentemente maior a concentração do fluido tubular que passa da porção descendente para a ascendente. Este mecanismo de feedback positivo multiplica a concentração de NaCl no fluido intersticial e no fluido intersticial e no fluido da porção descendente sendo assim um sistema multiplicador de contracorrente. Cria-se desta forma, um gradiente osmótico entre o córtex (300mosm) e a medula (1200 a 1400mosm). Vasa recta Para que este mecanismo seja efectivo, é necessário que o sal reabsorvido se mantenha e a água que sai da porção descendente seja removida para o 112 sangue. Isto é conseguido pelos vasa recta – vasos finos, longos, paralelos á ansa de Henle dos nefrónios justamedulares. Os vasa recta mantêm a hipertonicidade da medula renal por um mecanismo de troca de contracorrente. O NaCl e outros solutos (ureia) que estão em altas concentrações na medula, difundem para os vasa recta descendentes e seguidamente, difundem passivamente dos vasa recta ascendentes para a medula. Isto acontece porque a concentração de solutos é maior nos vasa recta ascendentes do que no fluido intersticial, e maior neste do que nos vasa recta descendentes. Os solutos recirculam e ficam retidos na medula. A parede dos vasa recta é permeável á agua, ao NaCl e á ureia, mas não às proteínas, o que faz com que estes tenham uma pressão coloide osmotica superior á do fluido intersticial, o que resulta no movimento de entrada de água nos vasa recta ascendentes e descendentes, eliminando água da medula. Efeitos da ureia A porção ascendente e a porção terminal do tubo colector situada na parte profunda da medula, são permeáveis á ureia, a qual se acumula no fluido intersticial e aumenta a osmolaridade. Tubo colector: efeito da HAD A região medular do tubo colector é impermeável ao NaCl, mas é permeável á agua, o que faz com que esta saia por osmose para o tecido intersticial, mas não o dilui porque é levada pelos capilares para a circulação sistémica. A taxa a que esta osmose ocorre depende do número de aquaporinas (canais de transporte de água) existentes nas células epiteliais do tubo colector. Na ausência de estímulo, estas estão presentes no citoplasma. A HAD ao ligarse aos seus receptores na membrana das células do tubo colector, promove a união das aquaporinas á membrana. O tubo colector fica assim mais permeável á água. Quando cessa a acção da HAD as aquaporinas são removidas da membrana. A HAD é produzida no hipotálamo e libertada pela hipófise posterior, quando os osmorreceptores hipotalâmicos detectam um aumento da osmolaridade sanguínea. Mesmo na ausência de HAD, alguma água é reabsorvida no tubo colector. 113 Clearance renal plasmática Volume de plasma do qual é removida uma dada substância por minuto, sendo excretada na urina. O excesso de iões e os produtos residuais, são eliminados por filtração e secreção. Secreção – as moléculas saem dos capilares peritubulares para as celulas tubulares e daí são transportados activamente para o lúmen tubular. É um processo oposto à reabsorção. Clearance renal de insulina: medição da TFG Insulina – polímero do monossacárido frutose, de origem vegetal que não é reabsorvida nem secretada, pelo que a quantidade que é filtrada é igual á excretada. V – volume de urina U – concentração da urina P – concentração no plasma Cálculo da clearance Se um soluto filtrado é reabsorvido, logo a clearance renal plasmática é inferior á TFG. Se o soluto é secretado, a clearance é superior á TFG. Clearance de ácido paraaminohipúrico (PAH): medição do fluxo renal Nem todo o sangue que passa no glomérulo é filtrado. Para que os compostos que vão no sangue não filtrado possam ser excretados, estes têm de ser secretados por transporte activo. É o caso do PAH, em que a clearance deste permite-nos determinar o fluxo sanguíneo renal total. Reabsorção de glicose A glicose e os aminoácidos são facilmente filtrados pelos glomérulos, mas não vão estar presentes na urina, ou seja, ocorre a sua reabsorção total através de um transporte activo mediado por transportadores de membrana que cotransportam sódio e glicose. 114 Controlo renal do equilíbrio ácido-base e electrolítico Os rins ajudam a regular a concentração plasmática de sódio, potássio, cloro, bicarbonato e fosfato. O controlo da concentração de sódio é importante na regulação do volume de sangue e da pressão arterial. O controlo da concentração de potássio é importante para manter as funções cardíaca e muscular dentro da normalidade. Papel da aldosterona no balanço sódio/potássio Aproximadamente 90% do sódio e do potássio são reabsorvidos na porção proximal do nefrónio, antes do filtrado atingir o TCD. Esta reabsorção ocorre a uma taxa constante e não está sujeita a controlo hormonal. A concentração final de potássio e de sódio na urina varia de acordo com as necessidades do corpo, através de um processo que ocorre no TCD e na porção cortical do tubo colector, sob a acção da aldosterona (mineralocorticóide produzido no córtex suprarrenal). Reabsorção de sódio Cerca de 90% do sódio filtrado é reabsorvido na porção proximal do nefrónio. Na ausência de aldosterona, 80% do restante sódio é reabsorvido no TCD e no tubo colector (porção cortical) o que corresponde a 8% do filtrado glomerular. Logo, apenas 2% do sódio é excretado na urina. Na presença de aldosterona, todo o sódio é reabsorvido não se encontrando presente na urina. Secreção de potássio Na ausência de aldosterona, todo o potássio é reabsorvido, sobretudo no tubo colector, pelo que não se excreta na urina. Na presença daquela, ocorre a secreção de potássio no tubo colector (porção cortical). Controlo da secreção de aldosterona Um aumento da concentração sanguínea de potássio estimula a secreção de aldosterona. Uma diminuição da concentração sanguínea de sódio origina uma diminuição do volume sanguíneo que por sua vez vai estimular a secreção de aldosterona. 115 Aparelho justaglomerular (fig.95) Localizado na região do nefrónio onde a arteríola aferente entra em contacto com a parte terminal da porção ascendente da ansa de Henle. A arteríola aferente e a ansa de Henle apresentam uma estrutura diferenciada nesta zona. A arteríola aferente apresenta células granulares que secretam renina, a qual vai converter o angiotensinogénio em angiotensina I. esta por sua vez é convertida em angiotensina II pela enzima conversora da angiotensina, sobretudo ao nível dos pulmões. A angiotensina II estimula o córtex suprarrenal a produzir aldosterona – Sistema renina – angiotensina – aldosterona. Fig. 95 Regulação da secreção de renina (fig.96) Uma diminuição do sal na dieta conduz a uma diminuição da osmolaridade plasmática, o que vai inibir a secreção de HAD. Desta forma, aumenta a água excretada pelos rins e consequentemente o volume de urina. Concomitantemente, ocorre uma diminuição do volume sanguíneo, diminuindo também o fluxo sanguíneo renal, o que vai estimular a secreção de renina. Por outro lado a diminuição do volume sanguíneo e consequentemente da pressão arterial, conduz a uma estimulação dos barorreceptores, que desencadeiam um reflexo mediado pelos nervos simpáticos e que vai originar a secreção de renina. 116 Fig. 96 Papel da mácula densa A mácula densa é uma região da ansa ascendente em contacto com as células granulares que vai ajudar a inibir a secreção de renina, quando a concentração sanguínea de sódio aumenta. Assim, quando a concentração sanguínea de sódio ou a TFG aumentam, a concentração de sódio no filtrado que chega ao TCD também aumenta. As células da mácula densa detectam tal alteração e vão inibir as células granulares a secretar renina. Desta forma, a secreção de aldosterona também é inibida, o que conduz a um aumento de sódio na urina e a uma diminuição no plasma. Peptídeo natriurético auricular (PNA) Um aumento do volume sanguíneo ou da pressão arterial, causam uma distensão auricular, ocorrendo a secreção de PNA. Este por sua vez, vai favorecer a eliminação de sódio e água pelo rim, causando uma diminuição do volume sanguíneo e da pressão arterial. 117 Relação entre Na+, K+ e H+ A reabsorção de sódio no tubo colector cortical é acompanhada pela secreção de potássio. Isto deve-se a um gradiente eléctrico criado entre o lúmen e o lado basolateral do tubo. A concentração de K+ no plasma afecta indirectamente a concentração de H+ (PH) e vice-versa. Quando a concentração de H+ no plasma aumenta, esse ião entra nas células e o potássio sai das mesmas para o fluido extracelular. Desta forma a concentração plasmática de H+ diminui e a de potássio aumenta. Nas células de TCD e do tubo colector cortical, o H+ e o potássio são secretados em resposta á polaridade criada pela reabsorção de sódio. Em situações de acidose, aumenta a excreção renal de H+ e diminui a de potássio, pelo que a concentração sanguínea deste aumenta. Em situações de hipercaliémia, a secreção renal de potássio aumenta e a de H+ diminui, ocorrendo um aumento da concentração deste no sangue (acidose). Quando ocorre a privação de potássio na dieta, ocorre alguma absorção deste ião no tubo colector, ao nível da medula externa. Regulação ácido-base Os rins regulam o pH excretando H+ e reabsorvendo bicarbonato. O H+ entra no filtrado por filtração glomerular e secreção nos túbulos, sobretudo no TCD, por troca com a reabsorção de sódio. Como os rins praticamente reabsorvem todo o bicarbonato e excretam H+, a urina é um pouco ácida (PH = 5 a 7). Reabsorção de bicarbonato no TCP (figs.97 e 98) A membrana apical das células tubulares é impermeável ao bicarbonato. Assim, quando o filtrado glomerular é ácido, o bicarbonato (HCO 3-) conjuga-se com o H+ originando H2CO3 que sob acção da anidrase carbónica presente na membrana apical do TCP é convertido em CO 2 e água (H2O). O dióxido de carbono difunde-se para o interior da célula tubular, e aí a anidrase carbónica presente no citoplasma conjuga-o com a água originando H2CO3, que logo se decompõe em H+ e bicarbonato. Este agora já se pode difundir através da membrana basolateral para o sangue. O H+ passa ao filtrado se estamos perante uma situação de acidose (ajuda a reabsorver bicarbonato) ou então para o sangue, nas situações de alcalose (diminui a reabsorção de bicarbonato). 118 Fig. 97 Tampões urinários (fig.98) Quando o pH sanguíneo é inferior a 7,35, o pH da urina deve diminuir abaixo de 5,5, mas o nefrónio não consegue produzir um pH significativamente inferior a 4,5. Para que o excesso de H+ possa ser excretado, este tem de ser tamponado, não servindo para tal o bicarbonato uma vez que é completamente reabsorvido. Como alternativa o rim utiliza o fosfato (HPO42-) e a amónia (NH3). Os fosfatos entram na urina por filtração e a amónia é produzida nas células tubulares por desaminação dos aminoácidos. 119 Fig. 98 120