reabilitação em ortopedia de pequenos animais

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CAIO RIBEIRO COUTINHO
REABILITAÇÃO EM ORTOPEDIA DE PEQUENOS ANIMAIS
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Londrina
2009
CAIO RIBEIRO COUTINHO
REABILITAÇÃO EM ORTOPEDIA DE PEQUENOS ANIMAIS
Orientador: Prof. Dr. Fernando de Biasi
Londrina
2009
COUTINHO, Caio Ribeiro. Reabilitação em ortopedia de pequenos animais. 2009. 63 p.
Monografia (graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2009.
RESUMO
Através de uma revisão de literatura, são apresentadas as principais modalidades de reabilitação e
fisioterapia utilizadas em pequenos animais, tais como crioterapia, amplitude passiva de
movimentos, termoterapia, exercícios terapêuticos, eletroterapia e massagem. São abordadas
diversas condições ortopédicas e seu manejo fisioterápico e reabilitação pós-cirúrgica, tais como:
fraturas, osteoartrose, ruptura de ligamento cruzado cranial, displasia coxo-femoral, luxações e
tendinopatias, entre outras. A aplicação correta das diversas modalidades é delineada
individualmente, através de uma avaliação criteriosa do paciente para uma progressão adequada
das atividades. Dentre os critérios, podem ser citados: presença de dor, inflamação, claudicação,
tempo de imobilização, estágio de cicatrização e obesidade. O comportamento do animal é outro
fator a ser considerado para um bom contato do terapeuta com o animal e evolução satisfatória do
paciente. A aplicação das diversas modalidades de fisioterapia oferece uma melhor qualidade de
vida aos pacientes, menor tempo de internação e menor incidência de complicações póscirúrgicas.
Palavras-chave: pequenos animais; ortopedia; reabilitação; fisioterapia.
1- INTRODUÇÃO
A fisioterapia tem como objetivos restaurar, manter e promover a melhora da função,
aptidão física, bem-estar e qualidade de vida (LEVINE et al., 2008).
Várias condições podem resultar em claudicação, tais como dor, traumatismo e
osteoartrite, contratura muscular ou luxações de patela. A avaliação da claudicação, sobretudo
quando discreta pode ser bastante difícil e subjetiva. Os aspectos biomecânicos tais como a teoria
das alavancas e impulsos, cinemática linear, trabalho, energia e potência são utilizados para a
avaliação do animal claudicante e para o planejamento correto de um programa de reabilitação
(WEIGEL et al., 2008).
As modalidades de reabilitação disponíveis em medicina veterinária são exercícios
terapêuticos, como caminhada em esteira, carrinho de mão, dança, exercícios aquáticos
(WEIGEL et al., 2008), terapia manual, que visa a uma melhor mobilidade articular
(SAUNDERS, 2008) e os agentes físicos, tais como a crioterapia, o calor e a estimulação elétrica
(STEISS & LEVINE, 2008). Outras modalidades mais recentemente utilizadas incluem o laser de
baixa potência, terapias por ondas de choque extracorpóreas e terapia com campo magnético
estático(MILLIS et al., 2008). Em grandes centros no Brasil, já é possível contar com serviços
especializados em reabilitação veterinária, contando com infra-estrutura específica para estes
pacientes.
2-OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é abordar, através de uma revisão de literatura, as principais
modalidades de reabilitação em ortopedia de pequenos animais, visando tanto a reabilitação póscirúrgica como o tratamento conservativo de doenças musculares e esqueléticas
3- REVISÃO DE LITERATURA
2.1- MODALIDADES DE TRATAMENTO
Amplitude de movimento
Os benefícios dos exercícios de amplitude passiva de movimento após a cirurgia incluem
diminuição da dor, melhor taxa de recuperação , prevenção de encurtamentos de tecidos moles,
manutenção da mobilidade entre camadas de tecido mole, aumento do fluxo sanguíneo e linfático
e melhora da produção e difusão de líquido sinovial (SHUMWAY, 2007).
O tratamento deve ser feito em local quieto e confortável, distante de distrações, como
barulhos altos, outros animais e pessoas que não estão ajudando no tratamento. Esse ambiente
favorece o relaxamento e maior receptividade do paciente. O paciente é colocado em decúbito
lateral com o membro afetado em cima do membro contralateral. A sessão é iniciada com 2 a 3
minutos de massagem, propiciando o relaxamento do paciente. Os ossos proximalmente e
distalmente à articulação devem ser apoiados para evitar estresse excessivo na articulação. O
terapeuta deve segurar gentilmente o membro e evitar áreas dolorosas, como incisões e feridas. O
movimento deve ser suave, lento e firme. As outras articulações do membro devem ser mantidas
em uma posição neutra (SHUMWAY, 2007).
É importante prestar atenção a qualquer sinal de desconforto exibido pelo paciente, como
tensionamento do membro, movimentação, vocalização ou movimentação da cabeça em direção
ao terapeuta. Caso ocorra desconforto, a técnica deve ser alterada (SHUMWAY, 2007).
Após realizar a movimentação da articulação afetada, deve ser feita a movimentação nas
outras articulações do membro. É importante flexionar e estender totalmente cada articulação. O
número de repetições e a freqüência do tratamento dependem da condição tratada. Na maioria das
rotinas pós-operatórias são realizadas 15 a 20 repetições 2 a 4 vezes por dia. Frequentemente, é
realizada massagem do membro afetado por 5 minutos, ao final da sessão (SHUMWAY, 2007).
A amplitude passiva de movimento é contra-indicada quando a movimentação pode
causar lesão adicional ou instabilidade, como fraturas instáveis próximas a articulações, lesões
ligamentares ou de tendão. Estes exercícios também devem ser limitados em pacientes com
hipermobilidade articular (luxação) ou ossos com osteopenia (SHUMWAY, 2007).
Cinesioterapia
A cinesioterapia significa tratamento pelo movimento, sendo que este pode ser ativo,
quando é realizado pelo paciente; passivo, quando é realizado pelo terapeuta ou ainda ativo
assistido, quando é realizado pelo paciente com auxílio do terapeuta (AMARAL, 2006).
Um tipo de atividade que deve ser usado em um programa de reabilitação é o
alongamento. Quando as fibras musculares são submetidas ao alongamento, ocorre aumento no
número e tamanho dos sarcômeros (DURIGON, 1995 apud AMARAL, 2006).
Deve-se observar a temperatura externa (ambiental), pois seu aumento
proporciona
inibição dos neurônios motores gama e possivelmente um aumento na flexibilidade. Já o frio
promove efeitos opostos (DANTAS, 2005, apud AMARAL, 2006). Portanto, a realização de
aquecimento prévio pode promover aumento na amplitude do movimento durante a realização do
exercício (STARRING et al., 1988 apud AMARAL, 2006)
O nível de performance e o tipo de atividade devem ser considerados no programa de
reabilitação de um cão, além do nível de condicionamento do animal. Cães braquiocefálicos
podem ter problemas de obstrução de vias aéreas e dificuldades com atividades aeróbicas.
Também devem ser consideradas condições como epilepsia, diabetes ou artrite antes da
prescrição de qualquer exercício (GROSS, 2002).
Quando o objetivo é o fortalecimento dos membros torácicos, pode ser realizado o
carrinho de mão ou exercícios com sustentação de peso, com auxílio de uma bola terapêutica ou
um rolo. O exercício de carrinho de mão é razoavelmente vigoroso, devendo ser realizado sem
dor e moderadamente. Pode-se iniciar com exercícios na bola terapêutica ou no rolo, em que o
terapeuta pode controlar quanto peso o animal apóia nos membros torácicos, sendo que a bola
oferece suporte de peso aos membros pélvicos e ao tronco (GROSS, 2002).
O apoio gradual do peso nos membros anteriores com a bola terapêutica ou o rolo são
úteis para aumentar a estabilidade e força dos membros torácicos, em pacientes em condições
pós-operatórias de membros torácicos, lesões escapulares, fortalecimento e fim de estágio de
reabilitação de condições de fraqueza no ombro e na escápula (GROSS, 2002).
Na dança, os membros torácicos são suspensos e o animal anda com os membros pélvicos
apenas. É utilizado para fortalecimento dos membros pélvicos, especificamente do quadril,
joelho e extensores da articulação tíbio-társica. Os membros torácicos são suspensos e o cão é
movimentado para trás. A dança também pode ser feita na água, para aumentar a quantidade de
resistência nos membros pélvicos (GROSS, 2002).
Deve-se tomar cuidado para não provocar dor no animal, pois uma quantidade
significativa de peso é colocada nos membros pélvicos. Caso o animal apresente instabilidade ou
dor na região lombar, pode-se tentar realizar a dança na piscina. Os principais casos em que se
aplica esse tipo de exercício são pós-operatórios de cirurgias do ligamento cruzado cranial ou do
Tendão de Aquiles e fraqueza de membros pélvicos (GROSS, 2002).
Podem ser utilizadas faixas elásticas para promover maior resistência, tomando alguns
cuidados, como: não amarrar a faixa muito apertada, para não restringir o fluxo de sangue para os
membros; utilizar uma toalha para não arrancar o pelo, principalmente em cães de pelagem muito
longa; e em casos de reparos de ligamento cruzado cranial, a faixa deve ser colocada na região
proximal da tíbia ou distal do fêmur, para evitar uma força de deslocamento cranial da tíbia ou do
fêmur. (GROSS, 2002).
Colocar a faixa em várias localidades dos membros torácicos proporciona resistência
enquanto o cão trota ou caminha. A faixa colocada distal ao cotovelo ou perto do carpo provém
uma resistência maior aos músculos do cotovelo e do ombro. No entanto, caso haja instabilidade
na articulação do cotovelo, como no pós-cirúrgico de não-união do processo ancôneo, colocar a
faixa distalmente pode aumentar o estresse no cotovelo. Uma posição mais proximal diminui o
estresse no cotovelo, aplicando resistência nos músculos do cotovelo e ombro (GROSS, 2002).
A faixa de elástico pode ser presa ao membro pélvico e torácico ipsilateral
simultaneamente, mimetizando o passo e oferecendo resistência ao movimento. A faixa também
pode ser presa no membro pélvico contralateral, para mimetizar o trote ou o andar. A faixa usada
distalmente nos membros pélvicos, oferece resistência à flexão e extensão do quadril e do joelho.
Colocar a faixa proximalmente, perto do joelho, oferece resistência e diminui o estresse no joelho
(GROSS, 2002).
Podem ser promovidas atividades com obstáculos, promovendo a flexão do carpo,
cotovelo e ombro. Os obstáculos podem ser de várias alturas, dependendo do quanto de flexão
será exigido do animal. Os objetos que podem ser usados são pedaços de madeira, rolos de toalha
ou pedaços de espuma (GROSS, 2002).
Obstáculos mais altos promovem a retração e rotação medial da escápula, sendo indicados
em casos de fraqueza dos músculos escápulo-torácicos ou em reabilitação pós-cirúrgica de
contratura do músculo infra-espinhoso, para fortalecimento dos músculos supra-espinhoso,
redondo menor e rombóide. A extensão e a estabilidade do membro de apoio também são
requeridas quando o animal realiza atividades de passar por obstáculos (GROSS, 2002).
Os exercícios resistidos estão indicados para aumentar a força e a amplitude de
movimento dos membros afetados, como pós-operatório de membros torácicos ou pélvicos,
fraqueza do membro pélvico ou torácico. A resistência pode ser aplicada manualmente com as
mãos do terapeuta ou com ferramentas, como uma faixa elástica, podendo ser aplicada a qualquer
região do corpo (GROSS, 2002).
Em exercícios de rampa, são realizadas contrações excêntricas e concêntricas dos
membros pélvicos e torácicos, incluindo ganhos na amplitude de movimento, estabilização
abdominal e da coluna vertebral. Ao subir a rampa, os movimentos de extensão do cotovelo e do
carpo são realizados, ao mesmo tempo em que é encorajada a sustentação de peso com os
membros pélvicos (GROSS, 2002).
Outro tipo de exercício é realizado com cones ou barras, que são colocadas umas atrás das
outras, estimulam o cão a passar pelas mesmas em movimentos de zigue-zague. Pode ser usado
para aumentar a estabilidade do tronco, balanço, propriocepção e fortalecimento dos membros
pélvicos e torácicos. (GROSS, 2002).
As bolas terapêuticas
existem
em
vários tamanhos
e devem
corresponder
aproximadamente à altura da escápula do animal, permitindo a troca do apoio de peso entre os
membros torácicos e pélvico. Aumento da amplitude de movimento da coluna, fortalecimento e
reações posturais podem ser trabalhados com a bola terapêutica. É possível rolar a bola de um
lado ao outro, com o objetivo de trabalhar os estabilizadores posturais do tronco, tomando-se
sempre o cuidado para o cão não cair da bola (GROSS, 2002).
Os exercícios de natação produzem uma diminuição no estresse das articulações, podendo
ser usados em condições como osteoartrite, patologias da coluna, obesidade, condições póscirúrgicas ou após traumatismos (GROSS, 2002). As piscinas devem ter uma rampa que permita
a entrada progressiva do animal na água e uma plataforma submersa, aonde os cães possam
descansar quando necessário (PRANKEL, 2008).
Quando o exercício é realizado em água aquecida, os principais efeitos fisiológicos são:
aumento da freqüência respiratória, aumento do suprimento sanguíneo para os músculo, aumento
da circulação periférica, aumento da freqüência cardíaca, aumento da quantidade de sangue que
retorna ao coração, aumento da taxa metabólica e relaxamento muscular geral (MIKAIL, 2006).
Os principais efeitos do exercício realizado em água gelada são: diminuição do
metabolismo celular, diminuição da permeabilidade capilar e alívio da dor (MIKAIL, 2006).
Podem ser utilizadas duchas, sendo que a pressão exercida pela água tem uma ação de
massagem sobre os tecidos e melhora a circulação sanguínea e linfática. Caso a intenção seja
melhorar a drenagem linfática, o jato de água deve acompanhar o sentido dessa circulação. Caso
seja utilizada na limpeza de uma ferida, remove os exsudatos e debris celulares delicadamente,
sem prejudicar o tecido em formação. A ducha pode ser fria ou quente, combinando-se os
benefícios do calor ou do frio com os da massagem (MIKAIL, 2006).
É possível utilizar botas com turbilhão, em que o membro do animal é posicionado em um
recipiente em forma de bota, no qual a água cria um turbilhão ao ser ligada com uma bomba
externa, podendo ser utilizada água quente ou gelada (MIKAIL, 2006).
Já os banhos de contraste consistem em aplicações de calor e frio, tem o objetivo de
provocar alterações vasomotoras. No caso de um edema crônico de extremidade, por exemplo,
pode ser utilizado 3 minutos de quente e 2 de frio por aproximadamente 20 minutos. Pode-se
começar com água quente para promover vasodilatação e posteriormente aplicar-se o frio para
promover a vasoconstrição (MIKAIL, 2006).
Bóias ou coletes podem ser utilizados para auxiliar na flutuação do animal,
proporcionando assistência para cães fracos ou descondicionados. Uma bóia colocada ao redor da
coxa do cão irá fazer com que sua coxa flutue na água e o cão usará os extensores do quadril e do
joelho para empurrar seu membro de volta para a água. É um exercício que pode ser aplicado
para displasia coxo femoral, pós-operatório de cirurgia do ligamento cruzado cranial, mielopatia
degenerativa ou fraqueza de membros pélvicos. Colocar a bóia ao redor do cotovelo ou do ombro
é indicado para o pós-operatório de ombro, cotovelo ou de contratura do músculo infraespinhoso, mielopatia degenerativa ou lesão no plexo braquial (GROSS, 2002).
É possível realizar a dança na água, o que proporciona resistência adicional, podendo
também ser usado para cães que tem dificuldade de realizar movimento fora da água.
Movimentos circulares podem ser realizados com o objetivo de fortalecimento dos músculos da
coluna. Para o fortalecimento dos extensores do carpo ou do tarso, o nível da água deve ser um
pouco abaixo das articulações do carpo e do tarso. Para o fortalecimento do joelho, o nível da
água deve ser distal ao joelho (GROSS, 2002).
As esteiras subaquáticas oferecem algumas vantagens em relação à natação. A
temperatura da água em esteiras pode ser mudada mais rapidamente do que nas piscinas e em
algumas esteiras é possível variar a inclinação, permitindo ao animal andar em aclives. Além
disso, é possível variar a velocidade da esteira (PRANKEL, 2008).
É importante usar um nível de água adequado, pois alguns cães, especialmente os
condrodistróficos ou com pescoço muito curto, podem forçar demais a coluna se tiverem que
levantar a cabeça enquanto avançam na água. Um cuidado especial também deve ser tomado
quando os cães são exercitados em níveis baixos de água, o que significa maior estresse articular
(PRANKEL, 2008).
Marsolais et al.(2003) realizaram análise cinemática das articulações coxo-femoral, do
joelho e do tarso de cães tratados cirurgicamente para ruptura de ligamento cruzado cranial e cães
normais (grupo controle). Todos os 13 cães do grupo controle eram da raça Retriever do
Labrador ou misturas desta raça. Os 7 cães do grupo tratado eram das raças Rottweiler, Retriever
do labrador e cães sem sem raça definida, mas todos cães de porte médio a grande (MARSOLAIS
et al., 2003).
Em ambos os grupos, a natação resultou em maior amplitude articular de todas as
articulações medidas do que a caminhada, sendo resultado da maior flexão obtida na água. A
velocidade angular, medida da velocidade que o ângulo articular é deslocado, foi
significantemente maior na água do que andando, nas articulações coxo-femoral e do tarso, mas
não do joelho. (MARSOLAIS et al., 2003).
Massagem
Os efeitos da massagem podem ser divididos em reflexos ou mecânicos. Os efeitos
reflexos são obtidos pela estimulação de receptores periféricos encontrados na pele que
transmitem impulsos por meio de fibras nervosas para a medula espinhal e para o cérebro,
produzindo sensações de prazer e relaxamento. Os efeitos mecânicos são maior retorno venoso,
linfático e que mobilização muscular. (AMARAL, 2006)
A sedação é obtida quando a massagem é realizada de forma suave e repetitiva, sem
variações agudas na pressão. O resultado é o relaxamento mental e muscular, que também pode
ser obtido por meio da acupressão (AMARAL, 2006).
As indicações da massagem são alívio da dor, redução de edema ou mobilização de
tecidos contraturados, podendo também ser utilizada para acalmar e relaxar os animais
(AMARAL, 2006).
É contra-indicada a massagem na presença de infecção ou tumores malignos no local,
doenças de pele, trombo-flebite, hemorragia ou trauma agudo (AMARAL, 2006).
Crioterapia
A crioterapia pode ser utilizada para atenuar os sinais da inflamação, sendo indicada
principalmente, para diminuição da dor e do metabolismo local de áreas que sofreram um trauma
e regiões adjacentes, levando a uma restrição na área inflamada (KNIGHT, 2000 apud
AMARAL, 2006).
Um efeito importante da crioterapia é a analgesia, que ocorre por diversos fatores
secundários ao frio, tais como: diminuição da transmissão nervosa das fibras de dor; diminuição
do metabolismo local, aliviando os efeitos deletérios da isquemia; aumento do limiar da dor; e a
liberação de endorfinas. A diminuição do espasmo muscular é outro efeito que pode ser obtido
pelo frio. (AMARAL, 2006).
Eletroterapia
A eletroterapia é uma modalidade da medicina que consiste na utilização de corrente
elétrica de baixa e média freqüência, com finalidades terapêuticas, podendo ser divididas em
correntes analgésicas e excitomotoras. Os efeitos fisiológicos relacionados ao sistema
neuromusculoesquelético são analgesia, estimulação muscular, vasodilatação, redução do edema
e diminuição da inibição reflexa (SANTOS, 2004).
Sob o estímulo da eletroterapia, ocorre alteração de permeabilidade da célula.
Inicialmente ocorre despolarização, com influxo rápido de sódio para o interior da célula e saída
lenta de potássio, ocorrendo então uma hiperpolarização. Posteriormente ocorre a ativação da
bomba de sódio e potássio e a célula volta ao seu estado de repouso (SANTOS, 2004).
Existem 2 modalidades de estímulos de eletroterapia: a NMES (Neuromuscular electrical
stimulation) e a TENS (Transcutaneous electrical nerve estimulation). Para cães, a NMES é usada
em programas de reabilitação para fortalecimento de músculos atrofiados, melhora da postura,
melhora de estabilidade articular amplitude de movimento. O fortalecimento muscular é
conseguido por contrações musculares intermitentes seguidos de períodos de descanso. Os
impulsos elétricos usados para despolarizar os nervos motores devem ter um limiar e durações
mínimas para despolarizar fibras nervosas do tipo Aα, sem despolarizar fibras Aδ e C, fibras
nociceptivas (SAWAYA, 2008).
Um experimento realizado com coelhos demonstrou que a estimulação elétrica de baixa
freqüência acelerou a restauração de estrutura e função do músculo sóleo em comparação com o
grupo controle, após atrofia e degeneração causadas por imobilização de 2 semanas (COTTER et
al., 1991).
Outro experimento com 10 cães da raça Beagle, de 5 a 8 anos, determinou o intervalo de
duração de pulsos nos músculos: supra-espinhoso, infra-espinhoso, deltóide, cabeça lateral do
tríceps braquial e extensor carpo radial nos membros torácicos; glúteo medial, bíceps femoral,
semitendinoso, vasto lateral, e tibial cranial nos membros pélvicos. Os limiares de impulso
elétrico avaliados nos músculos bíceps femoral, semitendinoso, extensor carpo radial e tibial
cranial foram menores do que aqueles utilizados em seres humanos (SAWAYA, 2008).
Estudo realizado com 12 cães comparou os efeitos de NMES (Neuromuscular Electrical
Stimulation) no tratamento de cães no pós-cirúrgico de ruptura do ligamento cruzado cranial. A
aplicação foi iniciada na 6ª semana e permaneceu até a 9ª semana de pós-operatório, enquanto o
grupo controle realizou repouso. Cães tratados apresentaram melhora da função do
membro,maior circunferência de coxa e menos sinais radiográficos indicadores de doença
articular degenerativa do que o grupo controle (JOHNSON et al., 1997).
Laser
Conforme o comprimento da onda, a luz é representada por uma cor, sendo a luz visível
encontrada apenas em parte do espectro eletromagnético (entre 400nm, violeta e 700nm,
vermelho). A maior parte dos aparelhos de laser utilizados com finalidade terapêutica emite
ondas entre 600 e 1000 nm (MIKAIL, 2006).
Muita da energia do laser é absorvida nos tecidos superficiais, mas efeitos mais profundos
podem ser obtidos. Aparentemente, a membrana celular absorve primariamente a energia,
resultando em efeitos intracelulares. Existe evidência indicando que o uso de laser em seres
humanos auxilia na cicatrização de feridas e promove alívio da dor (SHARP, 2008). Outros
efeitos obtidos no local da aplicação incluem: aumento do metabolismo celular, aumento da
circulação sanguínea, estímulo à formação de novos capilaes, aumento dos níveis de endorfina,
aumento na quantidade de fibroblasto e aumento da liberação de histamina e serotonina
(MIKAIL, 2006)
Termoterapia
O intervalo de calor com os melhores resultados terapêuticos situa-se entre 43ºC e 45ºC,
sendo que acima de 50ºC existe o risco de ocorrerem lesões. A termoterapia por conversão
converte um tipo de energia em calor, sendo utilizados o ultrassom e ondas curtas. (PEDRO,
2006).
O calor superficial tem como principais indicações a analgesia, o relaxamento muscular e
o aumento da amplitude articular. A penetração de calor varia de 1 a 10mm, de acordo com o
tempo, o recurso utilizado e a área a ser tratada. As contra-indicações são: fase aguda de
processos inflamatórios e pacientes termo e fotossensíveis (PEDRO, 2006).
O infravermelho é a forma de calor superficial com maior profundidade de penetração. A
distância entre a fonte de calor e o paciente deve ser de 50 cm, por período de 20 a 30 minutos.
Deve-se tomar cuidado para não ocorrerem queimaduras, pois o calor promove analgesia e o
paciente pode não perceber (PEDRO, 2006).
A parafina pode oferecer uma temperatura maior que a da água, com menores riscos de
provocar queimaduras cutâneas. É utilizada à temperatura de 51ºC a 54ºC, misturando-se 7 partes
de parafina para uma de óleo mineral. A aplicação é feita mergulhando o segmento a ser tratado
cerca de 10 vezes no preparado, até que se forme uma camada espessa de aproximadamente 1
cm. O tempo de aplicação é de 15 a 20 minuto, e não deve ser usado em pacientes com lesões
cutâneas ou infecção local (PEDRO, 2006).
O ultrassom é definido como uma forma de vibração acústica acima de 17000Hz,
inaudíveis ao ouvido humano. O ultrassom é gerado por um transdutor que transforma energia
elétrica em energia mecânica. Quando o ultra-som se desloca pelos tecidos, parte dele é
absorvido, gerando calor dentro do tecido. A quantidade de absorção pelo tecido depende de sua
natureza, vascularização e freqüência do ultra-som. Os tecidos com conteúdo protéico elevado
absorvem mais rapidamente do que os tecidos com maior conteúdo de gordura. Além disso,
quanto maior a freqüência, maior a absorção (PEDRO, 2006).
A propagação da energia ultrassônica depende principalmente das características de
absorção do meio biológico e reflexão da energia ultra-sônica nas interfaces teciduais. Ocorre
pouca reflexão entre tecidos moles, ao passo que nos ossos ou em implantes metálicos ocorre
muita reflexão. A energia que é convertida em calor na interface da gordura subcutânea é muito
pequena, havendo um pequeno aumento nos músculos e a maior parte da energia convertida em
calor na interface óssea (PEDRO, 2002).
Entre os efeitos térmicos do ultrassom, podem ser citados: analgesia, diminuição da
rigidez articular, aumento do fluxo sanguíneo, aumento da extensibilidade do tecido colágeno e
redução do espasmo muscular. Ocorre efeito não-térmico do ultra-som, acelerando a regeneração
de tecidos moles e reparo ósseo, sobretudo nas fases proliferativas precoces do processo de
reparação tecidual (PEDRO, 2006).
2.2 – REABILITAÇÃO ORTOPÉDICA
Gross, 2002 ressalta importância do manejo comportamental do cão para a
segurança do terapeuta e progresso da reabilitação. Um cão confortável e seguro irá responder
melhor à intervenção. O terapeuta deve evitar gestos que sugiram ameaça ao cão, tais como mão
erguida, voz alta, se inclinar muito em direção ao cachorro e movimentos rápidos.
É importante avaliar os sinais que o cão transmite ao terapeuta. Por exemplo, o cão
amigável tem um olhar tranqüilo e o corpo relaxado, com a cauda abanando ou em posição
neutra. A cabeça fica erguida e o cão costuma se aproximar e permitir a aproximação do
terapeuta (GROSS, 2002).
Já o cão assustado ou com medo, apresenta suas orelhas para trás, cabeça baixa e pupilas
dilatadas, sem olhar diretamente para os olhos do terapeuta. A cauda fica baixa ou entre as pernas
e o cão não se aproxima do terapeuta ou apresenta alguma relutância para se aproximar. O pêlo
pode estar eriçado e se tocado, ele pode atacar. Esse tipo de animal é um desafio para o terapeuta,
que deverá aos poucos ganhar sua confiança (GROSS, 2002).
O cão submisso tem uma postura similar ao cão assustado, sem as pupilas dilatadas. O cão
submisso tende a ficar imóvel ao toque ou assustado, e os exercícios ativos podem ser um
problema com este tipo de cão (GROSS, 2002).
Um cão dominante encara diretamente os olhos do terapeuta, sendo que o seu corpo e sua
cauda são mantidos eretos. Este cão também será um desafio ao terapeuta, que deve assumir uma
posição de comando sobre o cão, o que será difícil no primeiro contato (GROSS, 2002).
É ainda recomendado que situações que causem medo ao cão sejam associadas com algo
agradável, como algum tipo de alimento que o cão goste. É importante também que o cão e o
terapeuta brinquem antes ou após a sessão (GROSS, 2002).
2.2.1 FRATURAS
O grau de movimentação existente no local de fratura irá definir se a cicatrização será
primária ou secundária. A cicatrização primária ocorre quando há compressão intrafragmentária e a fixação rígida elimina a movimentação no local de fratura. Durante a
cicatrização, osso lamelar se forma a partir do local de fratura, seguido de remodelação, sem
formação de calo ósseo (DOYLE, 2004).
A cicatrização secundária é mais comum devido a micromovimentos presentes no local
da fratura e pode ser dividida nas fases de inflamação, reparação e remodelação. Durante a fase
inflamatória, o foco da reabilitação está em diminuir o processo inflamatório dos tecidos moles,
diminuição da dor, manutenção da flexibilidade das articulações acima e abaixo da área
imobilizada. Durante a fase aguda inflamatória deve ser evitada carga no osso fraturado, tendões,
ligamentos e músculos, para permitir a formação de tecido de reparação (DOYLE, 2004).
Precocemente na fase de reparação, a angiogênese e formação de tecido de granulação
podem
ser intensificados
estimulando o fluxo sanguíneo por
pequenos
graus
de
micromovimentação (CARTER et al. Apud DOYLE, 2004). Alguns autores sugerem que este
período é o mais efetivo para propiciar a melhora na cicatrização, promovendo melhor
recrutamento e diferenciação celular. Na fase de remodelamento, carga mecânica apropriada
garantirá retorno do osso à sua força mecânica original (CHAO et al. Apud DOYLE, 2004).
A osteoporose por desuso ocorre em níveis variados, dependendo do tempo de
imobilização, sendo mais pronunciada na parte distal dos ossos que suportam peso. Os animais
jovens perdem osso mais rapidamente do que aqueles que tem o esqueleto maduro (DOYLE,
2004). A massa óssea pode ser recuperada com a introdução progressiva de cargas controladas,
como apoio de peso e contrações musculares. Essa recuperação pode levar 5 a 10 vezes o tempo
da imobilização (MAZESS;WHEDON apud DOYLE, 2004).
A atrofia muscular começa com 72 horas de imobilização e a restauração da massa
muscular, força e metabolismo varia de 2 a 4 vezes a duração da imobilização (COOPER;
GOLDSPINK apud DOYLE, 2004), podendo ser conseguida mais rapidamente com exercícios
de força controlada e treinamento de resistência (DOYLE, 2004).
Experimento realizado com 22 cães da raça Beagle comparou os efeitos da administração
de hormônio do crescimento (IGF-1) na força muscular e diâmetro das fibras, de cães submetidos
ao uso fixador externo transarticular no membro direito por 10 semanas. Foi demonstrado
aumento significativo no diâmetro das fibras musculares e na força muscular na fase de
remobilização (a partir de 10 semanas) comparado com o grupo controle, que recebeu placebo
(LIEBER et al., 1997).
Também ocorrem alterações articulares e periarticulares a partir de 2 semanas de
imobilização, devido à falta de apoio de peso e falta de movimentos, o que é crítico para o fluxo
de fluido sinovial para as estruturas articulares. Podem ocorrer contraturas e desorganização das
fibras de colágeno, resultando em fraqueza (DOYLE, 2004).
Após a cirurgia, a reabilitação é iniciada no período pós-operatório imediato com a
crioterapia antes da imobilização temporária. As bolsas devem ser mantidas no local de fratura
por 10 a 20 minutos, podendo ainda ser repetidas a cada 2 ou 4 horas. A crioterapia resulta na
redução do edema, hemorragia e inflamação dos tecidos moles adjacentes à fratura. Deve ser
associada a bandagens compressivas para melhores efeitos (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008)
As fraturas articulares demandam fixação rígida e redução anatômica com a finalidade de
manter a superfície articular estável. É importante observar que uma dissecação extensa
aumentará o edema e a dor do paciente no pós-operatório, com conseqüente formação de tecido
fibroso em meio ao tecido muscular e periarticular. O excesso de tecido fibroso e uma cicatriz
muito grande podem levar a uma limitação na amplitude de movimento, principalmente nas
fraturas que envolvem a porção distal do úmero ou a região distal do fêmur (DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
Fraturas do fêmur
No pós-operatóro da fratura distal da fise femoral pode ocorrer uma contratura do
quadríceps, que se caracteriza pela formação de tecido fibroso aderido ao calo ósseo e ao terço
distal do fêmur. Nesse caso pode se desenvolver hiperextensão da articulação do joelho e grave
redução da amplitude de movimento articular. A probabilidade de ocorrer contratura é maior
durante o uso de talas, em que o membro é mantido em extensão. Quando a fibrose está instalada,
a realização de exercícios de amplitude articular pode levar a uma nova fratura do fêmur
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
A prevenção da contratura do quadríceps depende de vários fatores, como a redução o
mais cedo possível da fratura (se possível no máximo 24 horas após o acidente), a dissecação
sutil dos tecidos moles e a utilização de técnicas menos invasivas. Deve-se manter o quadríceps
mais em flexão do que em extensão no pós-operatório, podendo-se usar uma tipóia para manter o
membro em flexão durante as primeiras 72 horas pós-cirúrgicas ( CROWE apud DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
Nos casos em que houver uma boa amplitude de movimentos no joelho após a
osteossíntese, a crioterapia pode ser iniciada no pós-operatório imediato e logo depois pode-se
realizar amplitude passiva de movimentos, antes mesmo da recuperação analgésica. Deve ser
realizada analgesia pela associação de antiinflamatórios não esteroidais e narcóticos, devendo ser
iniciada antes da recuperação anestésica (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Após a recuperação, podem ser realizados crioterapia e exercícios de amplitude de
movimento durante 3 a 6 vezes por dia. Após a crioterapia, é realizada massagem leve por 2 a 3
minutos, com direção distal para proximal. Deve-se ainda, realizar movimentos de amplitude de
movimentos de flexão e extensão dos dedos, articulação tarsotibial, joelho e articulação
coxofemoral, com 15 a 20 repetições por articulação. A crioterapia pode ser utilizada por até 72
horas após a cirurgia (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Após a recuperação anestésica é importante avaliar o caminhar do paciente. Caso haja
limitação na amplitude do movimento, deve-se colocar uma tipóia de flexão (sob sedação). Caso
não haja limitação do movimento e o paciente consiga apoiar o membro no solo, o paciente
deverá executar exercícios de equilíbrio e caminhadas leves com coleira. Após 3 dias de
crioterapia, é iniciada a termoterapia, com o uso de bolsas quentes. O calor melhora a
extensibilidade dos tecidos conjuntivo e muscular, causa vasodilatação, aumenta o limiar de dor,
podendo ser útil antes da realização de exercícios, alongamentos e amplitude passiva de
movimentos. (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Caso o paciente esteja usando a tipóia de flexão, a crioterapia deve se estender até a
retirada desta, conjuntamente com a terapia analgésica. Após a remoção da tipóia devem ser
iniciadas sessões de massagem e de amplitude de movimentos (DAVIDSON; SHARON.;
MILLIS, 2008).
Separação fiseal da cabeça do fêmur
Como no caso anterior, a mínima dissecação dos tecidos moles e a cirurgia feita no menor
tempo possível resultarão na redução de complicações. O fragmento ósseo pode ser muito
pequeno e por isso costumam ser usadas tipóias de Ehmer por até 3 semanas após a cirurgia. O
ideal é a remoção precoce da tipóia e início em poucos dias da crioterapia (DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
Fraturas do côndilo lateral do úmero
Podem ser utilizadas técnicas como crioterapia, analgesia, massagem e amplitude passiva
de movimentos. A bola terapêutica pode ser útil na reabilitação de cães de raças pequenas porque
encoraja o apoio e a flexão do cotovelo sem manipulação direta nos membros. Os exercícios
devem ser mantidos até a constatação da consolidação óssea completa. Eles também podem ser
prolongados quando houver limitação da amplitude de movimento articular. O uso da
termoterapia é indicado antes dos exercícios, pois aumenta a extensibilidade do tecido
conjuntivo, facilitando o alongamento (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Fraturas de ossos longos
No caso de fraturas da diáfise ou metáfise, a crioterapia e amplitude passiva de membros
são sempre indicadas. Podem ser acrescentados exercícios ativos ao plano de reabilitação, tais
como dança, caminhada em esteira ou em esteira subaquática ou exercícios de sentar e levantar.
Em pacientes com fraturas de múltiplos membros, o plano de reabilitação deve ser mais intenso
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Fratura da escápula
As fraturas de escápula podem ser tratadas conservativamente ou cirurgicamente. O
tratamento conservativo inclui suspensão do membro por 4 a 6 semanas, exercícios de amplitude
passiva de movimentos e massagem. Durante o processo de cicatrização, os exercícios de
amplitude passiva de movimentos devem ser realizados especialmente no sentido crânio-caudal e
exercícios de rotação, aumentando suas quantidades em todos os planos para prevenir fibrose.
Calor superficial pode ser usado antes do exercício, permitindo aumento da extensibilidade
tecidual. A massagem pode ser realizada para prevenir ou desfazer adesões. Atividades como
hidroterapia ou caminhadas podem ser implementadas para recuperar a força muscular
(MARCELLIN-LITTLE, 2007).
Fixadores externos
A reabilitação é importante em pacientes com fixadores externos e o cirurgião deve tomar
cuidado para não perfurar, durante a colocação dos pinos, grandes massas musculares, feixes
neuromusculares e articulações, o que pode causar dor e limitação do movimento (MARTI;
MILLER apud DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008). As armações externas do fixador
podem dificultar a aplicação da crioterapia e de outras modalidades terapêuticas. Podem ser
aplicadas bolsas de gelo sobre a armação e, desta forma, a troca de calor ocorrerá por meio do
pino. No entanto, na presença de feridas abertas, a aplicação de modalidades térmicas direto
sobre as lesões é contra-indicada. Recomenda-se ainda, a realização de alongamentos, massagens
e exercícios de movimentação passiva articular para estes pacientes (DAVIDSON; SHARON.;
MILLIS, 2008).
No pós-operatório inicial devem ser realizados exercícios ativos que auxiliem na
recuperação da propriocepção e encorajem a utilização do membro. Podem ser usadas bolas
terapêuticas, caminhada em esteira terrestre ou aquática (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008).
Fraturas pélvicas bilaterais e fraturas múltiplas de membros
A reabilitação deve ser iniciada imediatamente no pós-operatório, de maneira agressiva,
sob analgesia, com crioterapia e exercícios de amplitude passiva de movimentos. Quando o
paciente puder caminhar, iniciam-se caminhadas com suporte. Esta atividade é realizada de 1 a 2
vezes por dia, com duração de 5 minutos.. O terapeuta pode iniciar as sessões com massagens e
exercícios passivos. Devem ser utilizadas tipóias de suporte para o membro pélvico, torácico ou
para todo o corpo, caso o paciente apresenta fraturas de membro pélvico e torácico
simultaneamente. No momento em que a linha de incisão estiver fechada e o cateter for
removido, é possível iniciar a hidroterapia, com caminhadas em esteiras aquáticas ou natação
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
A caminhada em esteiras aquáticas permite ao terapeuta controlar o suporte de peso.
Além disso, a temperatura, pressão hidrostática e empuxo da água, auxiliam no fluxo sanguíneo e
na redução do edema e do estresse articular durante a realização do exercício. Em pacientes em
recuperação pós-cirúrgica imediata, os exercícios são bastante exaustivos e deve haver
monitoração cardíaca constante. Inicialmente, a duração das sessões deve ser de 3 a 5 minutos
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008)
2.2.2 ARTROPATIAS
Após a cirurgia articular, ainda no período de recuperação anestésica, pode-se iniciar a
crioterapia, que pode ser útil na redução da reação inflamatória e na dor causada pelo
procedimento cirúrgico. Deve ser dada especial atenção à pele, já que o paciente não está
consciente para responder a estímulos. A amplitude passiva de movimentos é indicada,
auxiliando na manutenção da amplitude de movimentos e melhorando a sensibilidade local, a
circulação sanguínea e linfática. Após 15 a 30 minutos de crioterapia é usada bandagem
compressiva para restringir a formação de edema, sendo removida 12 a 24 horas após sua
colocação. Pode-se realizar massagem para diminuir a formação do edema (DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
A utilização de analgésicos é importante durante a reabilitação e antiinflamatórios não
esteroidais podem ser administrados antes de cada sessão de reabilitação. A eletroestimulação
nervosa transcutânea (TENS) pode trazer efeitos analgésicos no início do período pós-operatório
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Os exercícios terapêuticos têm como intuito estimular o fortalecimento muscular e
reeducar o posicionamento do membro. Os exercícios de apoio são importantes na prevenção da
atrofia óssea e cartilaginosa e na manutenção da tensão de ligamentos e outros tecidos moles.
Inicialmente, os exercícios devem ser controlados e de baixo impacto, como por exemplo
passeios na coleira. Caso o paciente não esteja utilizando o membro, pode-se tentar realizar a
hidroterapia para melhorar a amplitude de movimentos (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008).
As caminhadas em esteira aquática devem ser realizadas quando a cicatriz cirúrgica
estiver completamente cicatrizada e sem pontos de drenagem. Por exigir muito esforço, a natação
não é indicada no período inicial da recuperação pós-operatória (DAVIDSON; SHARON.;
MILLIS, 2008).
A eletroestimulação neuromuscular (NMES) pode ser aplicada todos os dias ou em dias
alternados, com o objetivo de fortalecer a musculatura. Após cada sessão de exercícios, a
crioterapia pode ser utilizada com o objetivo de reduzir a dor e a inflamação local. Após a fase
aguda do processo inflamatório (cerca de 4 a 5 dias), pode-se utilizar a termoterapia
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
A taxa de recuperação do paciente baseia-se em parâmetros como a circunferência do
membro (para avaliar a massa muscular) e a goniometria, que avalia a amplitude dos
movimentos. A avaliação da deambulação também é importante para avaliar a função e a
presença de dor (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Artroplastia excisional
O objetivo deste procedimento é a formação de tecido fibroso e a geração de uma pseudoartrose sem contato ósseo em casos de displasia coxo-femoral e luxação traumática. Após esse
procedimento, é recomendada a utilização precoce do membro, com o objetivo de controlar a
formação excessiva de tecido fibroso e a redução da amplitude de movimentos. A analgesia
durante o programa de reabilitação é um fator essencial para o sucesso nos resultados, podendo
ser usados opióides e anti-inflamatórios não esteroidais. A crioterapia também auxilia na redução
da dor e do processo inflamatório agudo. Os exercícios passivos podem ser iniciados no segundo
dia pós-operatório, devendo ser continuados até o momento em que o paciente estiver utilizando
bem o membro (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Com o término da fase aguda do processo inflamatório, inicia-se a utilização de bolsas
quentes ou do ultrassom terapêutico, facilitando a realização dos exercícios passivos e do
alongamento. A massagem também pode ser útil após os exercícios passivos. O nível de
exercícios ativos de apoio deve ser incrementado de acordo com a aceitação do paciente.(
DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
A artroplastia excisional mais comumente realizada é a colocefalectomia e após este
procedimento o fêmur tende a se posicionar mais dorsalmente do que o normal, ocorrendo
conseqüentemente encurtamento do membro. A reabilitação para colocefalectomia segue as
mesmas diretrizes de qualquer artroplastia excisional, enfatizando a recuperação da amplitude de
extensão (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Displasia coxo-femoral
Geralmente acomete cães de grande porte, estando envolvidos predisposição genética,
taxa de crescimento rápida e tipo de dieta. A instabilidade articular costuma se manifestar entre 4
e 12 meses de idade e os cães apresentam dificuldade para se levantar, diminuição da atividade
física, “andar de coelho” e perda da massa muscular dos membros pélvicos. A subluxação que
caracteriza essa doença pode levar à instabilidade articular e osteoartrose (DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
Pacientes com grau moderado podem ser tratados de forma conservativa, com o objetivo
de minimizar os efeitos do processo de evolução da artrose. Geralmente, estes pacientes
apresentam grau variado de hipotrofia da musculatura pélvica, contratura do músculo pectíneo,
dor variada e processo inflamatório crônico. O objetivo do tratamento é oferecer melhor
qualidade de vida, fortalecimento muscular, analgesia, aumento da amplitude de movimentos e
redução no uso de fármacos (ALVARENGA;PEDRO,2006).
A terapia pode ser iniciada com TENS por 20 minutos ou aplicação de ultrassom no
modo contínuo sobre a articulação coxo-femoral, produzindo relaxamento muscular e
aquecimento. Inicialmente, os exercícios de manipulação são realizados em decúbito lateral, com
mobilização suave e ampla dos movimentos de flexão, extensão, adução, abdução e rotação. Em
seguida, são feitos alongamentos dos grupos musculares anteriores e posteriores da coxa e do
músculo pectíneo, movimentos de vai-vem no sentido craniocaudal com o animal em estação e
crioterapia por 20 a 30 minutos. Outra forma de tratamento que pode ser utilizada é a
hidroterapia, que promove analgesia, relaxamento muscular e exercícios ativos de fortalecimento
muscular sem sobrecarga articular (ALVARENGA;PEDRO, 2006).
Um dos procedimentos cirúrgicos utilizado é a osteotomia tripla da pelve (OTP). É
realizada geralmente em cães com sinais clínicos iniciais de displasia coxofemoral, frouxidão
articular, sem evidências radiográficas significativas de osteoartrose e em cães com 4 a 10 meses
de idade. Após a cirurgia, a atividade física é restrita por 4 a 6 semanas. A reabilitação inclui a
crioterapia, anti-inflamatórios não esteroidais, realização de amplitude passiva de movimentos e
caminhadas supervisionadas por duas semanas, seguida de exercícios terapêuticos de baixo
impacto. Após a consolidação óssea completa, a reabilitação passa a ser direcionada para o
fortalecimento muscular dos membros pélvicos (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
No caso da sinfisiodese púbica juvenil, os cães operados têm entre 16 a 18 semanas de
idade, com grande potencial para desenvolver um quadro de displasia coxofemoral. A
reabilitação é direcionada para a promoção do fortalecimento muscular dos membros pélvicos
por meio de exercícios de baixo impacto (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Nos casos de dor persistente, mesmo com a realização do manejo conservador, pode ser
realizada a colocefalectomia e a substituição total da articulação coxofemoral por uma prótese
acetabular, sendo também a cabeça do fêmur removida e uma prótese femoral introduzida no
canal intramedular do fêmur. No pós-operatório inicial é indicado o uso de anti-inflamatórios não
esteroidais, crioterapia e movimentação passiva leve. A complicação mais comum costuma ser a
luxação coxofemoral, sendo o fortalecimento muscular de grande importância. Caso o cão seja
mantido sem supervisão durante o primeiro mês, o confinamento é muito importante
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Durante a deambulação inicial, o cão deve ser suspenso parcialmente por uma faixa ou
tipóia, com o objetivo de prevenir a abdução do membro e deslocamento da prótese. Para o
fortalecimento muscular, são indicadas caminhadas supervisionadas, em esteira e exercícios de
sentar e levantar. Deve também ser iniciada a reeducação da propriocepção e equilíbrio. Durante
os 3 primeiros meses de pós-operatório, os pacientes estão limitados a caminhadas com guia, sem
corridas ou saltos. O prognóstico, na maioria dos casos varia entre bom e excelente
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
CARPENTER et al. (1996) descrevem o caso de um cão Pastor Alemão que teve o
membro esquerdo amputado com 1 mês de vida devido a uma luxação coxo-femoral e contratura
do músculo quadríceps. Com 6 meses de idade, o mesmo cão apresentou sinal de Ortolani
positivo, sinais radiográficos de subluxação coxo femoral, arrasamento e irregularidade do
acetábulo no membro direito. A colocefalectomia foi recomendada e um plano de fisioterapia
com caminhadas diárias com auxílio de uma toalha para o suporte de peso foi realizada, com o
intuito de manter e aumentar a massa muscular (CARPENTER et al., 1996).
A cirurgia foi realizada 2 semanas mais tarde. Nas primeiras 2 semanas após a cirurgia, o
exercício foi limitado a pequenas caminhadas com assistência. Gradualmente, o proprietário
aumentou a distância percorrida com o cão. Após 3 meses após a cirurgia, o cão podia andar
distâncias consideráveis sem assistência e correr sem demonstrar sinais aparentes de desconforto
(CARPENTER et al., 1996).
Osteoartrose
A deterioração da articulação ocorre secundariamente à incongruência, instabilidade ou
lesão na cartilagem articular. As alterações biomecânicas decorrem da diminuição da elasticidade
e espessura da cartilagem, esclerose subcondral, sinovite e formação de osteófitos. Os sinais
clínicos incluem dor articular, crepitação e rigidez. A amplitude de movimento pode estar
significantemente diminuída e pode haver aumento de volume articular decorrente de sinovite,
derrame sinovial, osteófitos ou fibrose periarticular. A dor e rigidez podem gerar um quadro de
claudicação, com diminuição da atividade funcional, perda de massa e força muscular
(DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Os objetivos do tratamento são: controle da dor, manutenção da função, amplitude de
movimentos e manutenção ou recuperação da atividade normal. Para tanto, deve ser realizado
controle do peso, exercícios terapêuticos e uso de medicamentos (DAVIDSON; SHARON.;
MILLIS, 2008)
Os exercícios regulares de baixo impacto e baixo estresse articular tais como caminhadas
com guia, natação ou hidroterapia são indicados para a manutenção da força muscular e da
função articular. As atividades vigorosas como corrida e saltos, podem exacerbar a inflamação e
devem ser evitadas. A repetição de exercícios de sentar e levantar e as caminhadas em aclive são
indicadas para o tratamento dos membros pélvicos. Os exercícios devem ser delineados
individualmente e ajustados de acordo com os sinais clínicos dos pacientes, devendo ser
desafiadores, sem causar dor ao paciente (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Em animais com grave perda muscular pode ser usada eletroestimulação neuromuscular
(NMES). No intuito de promover a recuperação da amplitude de movimentos, o metabolismo e a
difusão de nutrientes na cartilagem são utilizados exercícios ativos, passivos, alongamentos e
exercícios de amplitude passiva de movimentos (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
O uso de bolsas quentes, ultrassom terapêutico ou massagem terapêutica podem ser úteis
na redução da dor e rigidez associadas ao espasmo muscular, aumento da circulação sanguínea
muscular e preparação para a prática de exercícios. A eletroestimulação nervosa transcutânea
(TENS) também pode trazer efeitos benéficos (JOHNSTON et al. Apud DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008). A
crioterapia pode ser utilizada na redução dos processos
inflamatórios agudos causados por exercícios e estresse articular excessivo. Mudanças no estilo
de vida do paciente podem ser benéficas, como mantê-lo dentro de casa em local seco e quente,
com piso antiderrapante e um colchão para dormir (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008)..
Foram atendidos 29 cães na universidade de Viena e divididos em 2 grupos. Os
proprietários de ambos os grupos foram instruídos a diminuir a alimentação de seus cães a 60%
da quantidade de ração de manutenção. Além disso, os proprietários de ambos os grupos
aprenderam princípios de massagem, sendo instruídos a massagearem seus cães por 10 a 15
minutos e a realizar exercícios de amplitude de movimento em todas as articulações com 10 a 15
repetições. As caminhadas deveriam durar 20 minutos inicialmente, aumentando o tempo de
acordo com o estado do cão (MLACNIK et al., 2006).
Os cães do grupo submetido à fisioterapia, adicionalmente, deveriam ir durante os 2
primeiros meses à clínica 2 vezes por semana. Durante as sessões na clínica, a performance
correta da fisioterapia realizada em casa era avaliada e repetida conjuntamente com os
proprietários. Depois disso, era realizada uma sessão de eletroestimulação nervosa transcutânea
(TENS). Cada tratamento durou 15 minutos e, após os 2 primeiros meses até o final do estudo,
com 6 meses de acompanhamento, tratamentos adicionais eram aplicados de acordo com as
necessidades individuais de cada cão. Durante o estudo, analgésicos adicionais não foram
administrados aos cães de ambos os grupos (MLACNIK et al., 2006).
A fisioterapia intensiva, incluindo o uso de eletroestimulação nervosa transcutânea em
combinação com uma restrição calórica foi mais eficiente em facilitar a perda de peso e melhora
de sinais clínicos do que a restrição calórica somente. Houve diminuição na dor e claudicação
em ambos os grupos e essa redução foi maior no grupo submetido à fisioterapia intensiva
(MLACNIK et al., 2006).
Artrodese
Após a artrodese, em decorrência do grande edema e inflamação pós-cirúrgicos, uma
bandagem compressiva deve ser mantida no pós-operatório imediato e devem ser administrados
antiinflamatórios não esteroidais e realizar-se a crioterapia (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008).
Em casos de fixação interna, são utilizadas talas ou bandagens como sistema de coaptação
externa, por aproximadamente 6 a 8 semanas, até que estejam presentes sinais radiográficos de
fusão óssea. Durante esse período devem ser realizados exercícios de amplitude passiva de
movimentos nas articulações adjacentes, devendo também ser instituído programa de
fortalecimento muscular. Quando a fusão óssea já estiver estabelecida, deve ser iniciado o
programa de treinamento para recuperar o padrão de locomoção o mais próximo possível do
normal (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Amputação de membro
Após o procedimento, o paciente deve ser estimulado e assistido para se levantar logo no
primeiro dia do período pós-operatório. Os primeiros exercícios se iniciam com o ato de levantar
e caminhar, evoluindo para atividades mais intensas que auxiliam o animal a se adaptar ao novo
centro de gravidade. Podem ser utilizadas pranchas de equilíbrio e caminhadas em terrenos
irregulares, com o objetivo de melhorar a força no membro e a propriocepção (DAVIDSON;
SHARON.; MILLIS, 2008).
Luxação do ombro
Sem levar em consideração o tipo de redução realizado, a reabilitação deve ser iniciada
após a remoção da tala, devendo ser restaurada a amplitude de movimento sem causar nova
luxação. No pós-operatório deve ser utilizado crioterapia e antiinflamatórios não esteroidais, para
minimizar o processo inflamatório (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Na reabilitação do ombro, durante as três primeiras semanas de reabilitação, a
movimentação passiva se limita ao plano sagital para evitar o estresse nas porções medial e
lateral da cápsula articular. Os exercícios de suporte de peso devem ser evitados. No caso de
luxação de cotovelo, os movimentos ativo e passivo também devem ser realizados no plano
sagital, minimizando o estresse varo e valgo (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
A proteção do membro é obtida limitando a atividade dos pacientes a caminhadas e trotes,
evitando galopes e saltos. Pacientes com reparos cirúrgicos devem usar bandagens (Velpeau ou
Spica, por exemplo). A imobilização pode levar à perda de mobilidade e adesões capsulares
focais, sendo estas alterações lentamente reversíveis. Por isso, a imobilização deve ser mantida
pelo menor tempo possível, apenas nas situações em que haja instabilidade articular. Sempre que
possível devem ser realizados exercícios de mobilidade passiva de movimentos ou exercícios
protegidos com suporte de peso parcial implementados durante a troca de bandagens. No período
pós-operatório ou pós-trauma imediato, deve ser realizada crioterapia para diminuir a dor,
inflamação e edema (MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
Instabilidade do ombro
Baseado nos resultados do exame ortopédico, teste de abdução e artroscopia, os pacientes
podem ser classificados em uma das 3 categorias: média, moderada ou severa. Para pacientes
com ângulos de abdução de 35º a 45º e achados de artroscopia compatíveis com patologia média
(inflamação sem ruptura ou frouxidão do ligamento glenoumeral medial, tendão subescapular e
cápsula articular), é indicado o tratamento conservativo. Este inclui exercícios de amplitude
passiva no plano sagital e exercícios de suporte de peso limitado em linhas retas e superfícies
planas (MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
Cães com patologia moderada têm ângulos de abdução variando de 45º a 65º, achados de
artroscopia demonstrando rompimento ou frouxidão do tendão subescapular, ligamento
glenoumeral medial, proliferação sinovial focal e hipertrofia ou hiperplasia sinovial. Achados
adicionais incluem, em alguns casos, aumento de volume do tendão do músculo supraespinhoso.
Os cães na categoria moderada são tratados com imbricação ou capsulorrafia térmica
(MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
Durante as três primeiras semanas de reabilitação, a movimentação passiva se limita ao
plano sagital para evitar o estresse nas porções medial e lateral da cápsula articular. Os exercícios
de suporte de peso devem ser evitados. Caso também haja luxação de cotovelo, os movimentos
ativos e passivos também devem ser realizados no plano sagital, minimizando o estresse varo e
valgo (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Cães com instabilidade severa do ombro têm ângulos de abdução maiores do que 65º.
Achados de artroscopia costumam incluir rupturas completas do ligamento glenoumeral medial,
severo rompimento do tendão subescapular e da cápsula articular. Neste caso é indicado a
capsulorrafia e reconstrução de outras estruturas envolvidas. Após a cirurgia, os cães podem ser
imobilizados com uma bandagem de Velpeau por 2 a 4 semanas. A reabilitação pode demorar de
4 a 6 meses nos casos severos (MARCELLIN-LITTLE, 2007).
Luxação do joelho
Em casos de lesões graves dos joelhos ou estresse muito grande no local de reparo, são
utilizadas bandagens ou talas para a proteção do reparo por duas a quatro semanas. Após a
retirada das bandagens, podem ser realizados exercícios de da amplitude de movimentos,
ultrassom terapêutico, alongamento, caminhadas lentas com guia, caminhadas em esteira,
hidroterapia e exercícios de suporte de peso Na ausência de bandagens, a movimentação passiva
é importante para prevenir a instalação de um quadro de contratura, promover a hemostasia da
cartilagem e estimular a cicatrização das linhas de estresse. (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008).
O estresse controlado no período de cicatrização estimula a remodelação e elasticidade
desse novo tecido. As atividades de resistência e alongamento podem ser iniciadas entre a quarta
e sexta semana do período pós-operatório. O prognóstico para luxação de joelho é reservado e os
problemas em longo prazo incluem: redução da amplitude de movimentos, instabilidade crônica e
desenvolvimento de osteoartrose (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Luxações da articulação tíbio-társica
Quando simultaneamente ocorre ruptura ou avulsão dos ligamentos colaterais, o reparo
ligamentar durante a fase de cicatrização deve ser protegido por meio da colocação de uma tala
ou um fixador externo durante três semanas. Durante a fase de reparo, o ligamento não está apto a
suportar o peso do animal. Após a remoção da tala ou fixador externo, deve-se iniciar a
remobilização das articulações adjacentes, exercícios de suporte de peso, recondicionamento
muscular e exercícios terapêuticos, devendo ser evitados os estresses varo ou vago sobre os
ligamentos colaterais (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
No caso da realização da artrodese, a reabilitação deve ser iniciada logo após a remoção
da tala. É realizada a mobilização das articulações adjacentes, exercícios de suporte de peso,
recondicionamento muscular e amplitude passiva de movimentos para os dedos, após a artrodese
do tarso (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008)
Luxações metacarpofalangeanas, metatarsofalangeanas e falangeanas
O tratamento dessas luxações pode ser feita por meio de reparo dos ligamentos colaterais
e da cápsula articular, utilizando-se a tala por 2 a 3 semanas. É indicada a troca da tala
semanalmente para tornar possível a realização de alguns exercícios de amplitude passiva de
movimentos das articulações distais. Após a remoção da tala os exercícios passivos devem
continuar e deve ser iniciada a execução do suporte de peso, aumentando o nível de exercício
gradualmente por 3 semanas (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
No caso da realização de artrodese (principalmente em animais com alto nível de
atividade), a bandagem deve ser mantida até a obtenção de evidências radiográficas de fusão
óssea. É indicada a troca de talas semanalmente para a realização de exercícios de amplitude
passiva de movimentos das articulações distais (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008)
Estudo avaliou tratamento de luxação talocrural em 9 gatos, com ênfase especial para o
manejo pós-operatório. Após o tratamento operatório, a articulação do tarso foi imobilizada por 4
a 7 semanas no grupo que não foi submetido à fisioterapia e por 10 dias no grupo que realizou a
fisioterapia. Neste grupo, os proprietários foram orientados realizar ciclos de extensão e flexão da
articulação.(SCHMÖKEL;EHRISMANN, 2001).
Após o tempo médio de 13 semanas, a partir do momento do 1º exame, foi realizada
reavaliação medindo-se os seguintes parâmetros: claudicação, espessamento periarticular,
debilidades na movimentação, aumento de volume articular, crepitação, dor à manipulação,
instabilidade, atrofia muscular, redução de amplitude de movimento e doença articular
degenerativa (avaliação radiográfica). Os resultados mostraram resultados melhores no grupo
submetido à reabilitação (SCHMÖKEL;EHRISMANN, 2001).
Displasia do cotovelo
A displasia do cotovelo comumente envolve a fragmentação do processo coronóide
medial, a não-união do processo ancôneo e a osteocondrite dissecante, podendo haver apenas
uma das lesões citadas (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS, 2008).
Fragmentação do processo coronóide medial
O crescimento exagerado da ulna em relação ao rádio parece ser o maior causador da
fragmentação do processo coronóide, promovendo carga anormal no côndilo medial do úmero e
no processo coronóide medial. Concomitantemente, essas estruturas estão fragilizadas devido a
uma ossificação retardada (ROMANO et al., 2006).
O tratamento é a remoção do processo coronóide por meio de artroscopia ou artrotomia.
As atividades no pós-operatório estão limitadas durante 2 a 4 semanas. O prognóstico é bom,
caso a remoção do processo coronóide seja anterior à instalação de osteoartrose avançada. A
reabilitação é sempre dirigida ao tratamento da osteoartrose (DAVIDSON; SHARON.; MILLIS,
2008).
Não-união do processo ancôneo
Decorre da falha na fusão do processo ancôneo da ulna ao olécrano, acometendo cães com
aproximadamente 5 meses de idade (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008). A principal causa
é o crescimento exagerado do rádio em relação à ulna. O rádio força a incisura troclear ulnar
contra os côndilos umerais na direção proximal e a base da fossa do olécrano exerce pressão
excedente à normal, lesionando o centro de ossificação no processo ancôneo (ROMANO et al.,
2006).
Os possíveis tratamentos são: remoção cirúrgica do processo ancôneo, fixação por
parafuso ou osteotomia do terço proximal da ulna. Independente do tratamento, há progressão da
osteoartrose, e o tratamento é direcionado para seu manejo (DAVIDSON; SHARON; MILLIS,
2008).
Se o tratamento for fixação por parafuso, o programa de reabilitação deve ter progressão
lenta das atividades de suporte de peso até a evidência de cicatrização por meio de radiografia, o
que pode durar até 12 semanas. Caso o processo ancôneo seja removido, a progressão do plano
de reabilitação pode ser mais rápida, baseando-se no grau de derrame articular, dor, amplitude de
movimentos e suporte de peso. Logo após a cirurgia, o tratamento é iniciado com amplitude
passiva de movimentos, hidroterapia e caminhadas curtas com guia. A crioterapia e
antiinflamatórios não esteroidais podem ser usados para controlar a inflamação e a dor
(DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Osteocondrite dissecante
Os cães acometido pela doença costumam apresentar inicialmente um quadro de
claudicação médio a grave, com quatro a nove meses de idade, podendo apresentar sinais de
atrofia muscular quando existe claudicação há várias semanas. Pode ocorrer dor durante a
extensão ou flexão da articulação afetada. A cirurgia é geralmente o tratamento de escolha
quando o diagnóstico está estabelecido, sendo realizada artroscopia ou artrotomia, objetivando a
remoção do fragmento de cartilagem e a curetagem do leito da lesão, estimulando a
neovascularização e o processo de cicatrização por formação de fibrocartilagem (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
O manejo conservativo da osteocondrite dissecante inclui a limitação de atividades físicas
a caminhadas com guia e trotes, crioterapia e exercícios de amplitude passiva de movimentos
(MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
No pós-cirúrgico é instituído tratamento de 2 a 4 semanas, com crioterapia,
antiinflamatórios não esteroidais, amplitude passiva de movimentos e caminhadas controladas
com guia. Passado o período inicial de cicatrização, podem ser aumentados os exercícios de
caminhada com guia e podem ser iniciados caminhadas em esteiras subaquáticas ou natação. Na
sexta semana podem ser iniciadas corridas leves. Caso ocorra seroma, uma complicação comum,
o nível de atividade deve ser reduzido até a resolução do problema (DAVIDSON; SHARON;
MILLIS, 2008). Programas de alongamento e fortalecimento devem ser implementados em cães
com perda crônica de amplitude de movimento (MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
O prognóstico para osteocondrite dissecante do ombro a longo prazo é excelente para a
maioria dos caso, mas nos casos que afetam o joelho ou articulação tarsotibial é reservado, pois
há progressão do quadro de osteoartrose, mesmo após a realização da cirurgia (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
Incongruência do cotovelo
Ocorre mais comumente em cães condrodistróficos com idade entre 4 e 5 meses,
ocorrendo devido a uma assincronia do crescimento entre rádio e ulna. Pode ocorrer a
fragmentação do processo coronóide medial e a não união do processo ancôneo associados à
incongruência do cotovelo. O fechamento de origem traumática das fises ósseas da ulna ou do
rádio pode estar associado ao crescimento assincrônico com subluxação do cotovelo e
deformidade angular do membro torácico (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
As possíveis cirurgias para a correção são osteotomia ou ostectomia do rádio ou ulna, com
estabilização por meio de placa óssea ou fixador externo. O prognóstico é ruim se o animal tiver
mais de nove meses de idade ou se a incongruência for grave (DAVIDSON; SHARON; MILLIS,
2008).
No pós-cirúrgico, a amplitude normal de movimento deve ser mantida nas articulações
proximal e distal ao reparo. A dor e o edema devem ser controlados pela administração de
antiinflamatórios não esteroidais e através de crioterapia. Quando o objetivo é aumentar o
comprimento do membro, a reabilitação é feita por meio de uso de ultra-som terapêutico,
exercícios de alongamento e movimentação passiva. Após a consolidação óssea podem ser
realizadas atividades de suporte de peso. A incongruência do cotovelo pode gerar osteoartrose do
cotovelo, realizando-se então a reabilitação direcionada ao manejo dessa condição (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
Luxação de patela
As luxações mediais são mais freqüentes do que as luxações laterais e a ruptura do
ligamento cruzado cranial é concomitante em 15 a 20% dos casos de luxação patelar crônica em
cães de meia-idade e idosos (PIERMATTER; FLO apud DAVIDSON; SHARON; MILLIS,
2008). A cirurgia é indicada nos casos em que haja claudicação e anormalidades na locomoção. A
correção cirúrgica inclui a técnica da transposição da crista da tíbia e fixação por pino e o
aprofundamento da tróclea (trocleoplastia) (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Nas primeiras semanas é utilizada crioterapia e anti-inflamatórios não esteroidais para o
controle do processo inflamatório.A utilização do membro é estimulada inicialmente com
caminhadas leves com guia. A amplitude passiva de movimentos é indicada para a cicatrização
da cartilagem articular, especialmente nos casos de trocleoplastia (ROUSH apud DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008). Os cães de raças pequenas costumam ser mais relutantes na
utilização do membro afetado, sendo indicados exercícios de apoio de peso e natação para
encorajar o uso do membro (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Decorridas algumas semanas, são iniciados exercícios para fortalecimento. Os
movimentos são limitados no plano sagital, devendo-se evitar o estresse no local do reparo
cirúrgico, não sendo realizados movimentos de rotação. O prognóstico é bom para os graus 2 e 3
e reservado para o grau 4 de luxação (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Ruptura do ligamento cruzado cranial
Caracteriza-se por grande instabilidade do joelho, em geral acompanhada pela
claudicação súbita. O ligamento pode sofrer ruptura parcial, causando menor instabilidade e
menor grau de claudicação. Em qualquer caso, instala-se um processo degenerativo no momento
da ruptura que tende a progredir com o tempo O diagnóstico da ruptura do ligamento cruzado
cranial é feito pela realização do movimento de gaveta cranial, podendo estar presente derrame
articular (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
É freqüente ocorrer lesão no pólo caudal do menisco medial em razão de instabilidade
articular. Os sinais clínicos da lesão meniscal são claudicação, redução da utilização do membro
ou estalo audível durante a flexão do joelho. É possível realizar meniscectomia parcial ou total,
por meio de artrotomia ou artroscopia (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
O tratamento conservador pode ser aplicado para cães de pequeno porte e inclui o
confinamento por 4 a 8 semanas. Desconsiderando-se o porte do cão, a cirurgia é o tratamento
indicado para a ruptura do ligamento cruzado cranial. Os procedimentos cirúrgicos são
classificados em extracapsulares, intracapsulares o osteotomia (DAVIDSON; SHARON;
MILLIS, 2008). O programa ideal de fisioterapia deve manter a força muscular da coxa,
estabilidade articular
e amplitude de movimento, promovendo retorno precoce à função e
diminuição da doença articular degenerativa (JOHNSON; JOHNSON, 1993).
Os procedimentos extracapsulares consistem na estabilização articular por meio da
transposição do tecido do próprio animal ou uso de materiais sintéticos externos à cápsula
articular. Nesse caso, a reabilitação é iniciada imediatamente após a cirurgia, com o uso de
crioterapia, anti-inflamatórios não esteroidais e amplitude passiva de movimentos. No primeiro
dia pós-cirúrgico são encorajadas caminhadas com guia supervisionada e o uso ativo do membro,
podendo ser realizadas caminhadas em esteira para estimular o suporte do peso (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
Após uma semana decorrida da cirurgia, pode ser iniciada a hidroterapia, desde que a
incisão esteja completamente cicatrizada e sem fístulas. A amplitude passiva de movimento deve
ser continuada com ênfase na extensão do joelho. O fortalecimento dos músculos pélvicos é
realizado por meio de exercícios de subir escadas, caminhadas em aclive, exercícios de sentar e
levantar e transposição de obstáculos. Conforme vai ocorrendo a resistência e o fortalecimento
muscular, a duração e intensidade das atividades podem ser aumentadas e incluir exercícios mais
intensos, como brincadeiras com bola e natação (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008) .
Durante os 3 primeiros meses, são contra-indicadas atividades explosivas, como saltos,
para evitar a ruptura da sutura do ligamento femoro-fabelar e evitar falhas na estabilização
articular (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Os procedimentos cirúrgicos intracapsulares são caracterizados pela substituição do
ligamento cruzado em posição própria à anatomia normal, sendo utilizados enxertos, materiais
sintéticos ou uma combinação de ambos. Podem ser necessários alguns meses para que o enxerto
alcance a tensão normal de um ligamento cruzado íntegro (DAVIDSON; SHARON; MILLIS,
2008).
A reabilitação é caracterizada pela utilização de crioterapia e antiinflamatórios não
esteroidais para o controle da dor e da inflamação. O material utilizado na cirurgia deve ser
levado em conta para o planejamento da reabilitação. Os enxertos autólogos e alógenos são
geralmente fortes, mas afrouxam sob tensão. O período de maior fragilidade do enxerto ocorre
durante a incorporação e vascularização, com duração de 2 a 20 semanas. A reabilitação é
semelhante para os procedimentos extracapsulares, mas a progressão da intensidade dos
exercícios deve ser mais lenta. Quando for associada a técnica intracapsular com uma técnica
extracapsular, a progressão dos exercícios segue as recomendações feitas para o procedimento de
reparo extracapsular (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Na osteotomia niveladora do platô tibial (TPLO) modifica-se a biomecânica do joelho e é
eliminado o movimento anormal. Uma osteotomia é feita na região proximal da tíbia e em
seguida essa porção proximal é rotacionada, nivelando a superfície articular. Finalmente, é
utilizada uma placa para promover a estabilização óssea da tíbia (DAVIDSON; SHARON;
MILLIS, 2008) .
No primeiro mês pós-cirúrgico a desmite patelar é a complicação mais comum e é
identificada por dor à palpação do ligamento patelar no ponto de inserção na tíbia. Outra possível
complicação é a avulsão da crista tibial. Devido a essas complicações, o estresse sobre o
ligamento patelar deve ser evitado no período inicial pós-operatório. Estão contra-indicadas
atividades que envolvam flexão excessiva do joelho. Caso ocorram complicações, podem ser
administrados antiinflamatórios não esteroidais, associado ao descanso e crioterapia.
Normalmente entre a terceira e quarta semana pós-cirúrgica ocorre a consolidação e cicatrização
teciduais, momento em que pode ser aumentada a intensidade dos exercícios. A hidroterapia pode
ser utilizada para reduzir o estresse de suporte de peso durante o reparo (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
A reabilitação pode ser dividida em 3 fases: a fase aguda, a fase avaçada e a última fase
de retorno às atividades normais. Os objetivos da fase aguda são diminuição da dor, aumento da
amplitude passiva de movimentos, retardar a atrofia muscular e deambulação sem auxílio. As
intervenções comuns nesta fase são: crioterapia, laser terapia, NMES, mobilização da patela,
mobilização de tecidos moles no local de incisão, exercícios isométricos e exercícios de
amplitude de movimento. Alguns exercícios que podem ser indicados para o proprietário realizar
em casa nesta fase, incluem: caminhadas com guia; exercícios de sentar; apoio em 3 membros, no
qual o membro que não foi operado é levantado do chão, estimulando o apoio do membro
operado (CANAPP, 2007).
Na fase avançada, os objetivos são aumento da força e resistência muscular. Os critérios
para se passar a esta fase são amplitude de passiva de movimentos total e efusão controlada. As
intervenções comuns incluem exercícios isotônicos, NMES, exercícios de propriocepção,
exercícios de flexibilidade e exercícios cardiovasculares. Exemplos de exercícios que o
proprietário pode realizar em casa são: caminhadas com guia, em aclives e dança (CANAPP,
2007).
Para passar à próxima fase, de retorno às atividades normais, é necessário que a força do
quadríceps corresponda a 80% ao menos do membro contralateral. O objetivo é preparar o
paciente para a atividade normal. Algumas intervenções comuns são exercícios isotônicos e
treinamento de agility. Alguns exercícios que podem ser realizados em casa são dança,
caminhadas em círculos e transposição de obstáculos longos. (CANAPP, 2007).
Estudo conduzido no hospital veterinário da universidade de Ohio, comparou os efeitos de
um grupo submetido a um protocolo de reabilitação e outro restrito a caminhadas curtas após
tratamento cirúrgico para ruptura de ligamento cruzado cranial (MARSOLAIS et al., 2002).
O grupo submetido à reabilitação foi submetido a caminhadas curtas até a retirada dos
pontos, que ocorreu entre 10 e 12 dias. A reabilitação foi realizada 2 vezes por dia durante as
semanas 3, 5 e 7 após a cirurgia. Nas semanas 4, 6 e 8 em diante, os proprietários foram
orientados a caminhar com guia com os animais a uma velocidade que encorajasse o uso do
membro afetado. As sessões de reabilitação consistiam de
massagem, amplitude passiva de
movimento, caminhada e natação (MARSOLAIS et al., 2002).
O grupo submetido à reabilitação pós-operatória, 6 meses após a cirurgia, obteve maior
pico de força vertical e maior impulso vertical medidos através de uma plataforma de força
(MARSOLAIS et al., 2002).
JANDI & SCHULMAN (2007) avaliaram 280 cães submetidos a osteotomia do platô
tibial (TPLO), incluindo o total de 412 cirurgias. Neste estudo, foi avaliada a amplitude de
movimento no pré e pós-operatório com o auxílio de um goniômetro e o grau de claudicação. Os
cães foram submetidos ao protocolo de reabilitação mostrado na tabela a seguir.
DIADA
Caminhadas com guia com auxílio de uma toalha permitindo apoio parcial do corpo.
CIRURGIA
DIAS 1-2
Caminhadas controladas com guia curta. Amplitude passiva de movimento, 10
repetições, 2 a 3 vezes ao dia., tentando atingir flexão e extensão total. Crioterapia 2-3
vezes por dia e massagem nos músculos do membro
SEMANA 1
Caminhadas controladas com guia curta por 5-10 minutos, 3-4 vezes por dia, se
tolerado. Amplitude passiva de movimento de todo o membro, 15 repetições, 2-3 vezes
por dia.
SEMANAS 2-3
Aumento das caminhadas controladas
para 10-20 minutos, 3-4 vezes por dia, se
tolerado.
SEMANAS 4-5
Aumento das caminhadas controladas para 20-30 minutos, 3 vezes por dia, se tolerado.
Início dos movimentos de sentar e levantar com o apoio da parede, 10-15 repetições, 23 vezes por dia. Andar em círculos fechados à esquerda e à direita.
SEMANAS 6-8
Aumentar as caminhadas para 30-40 minutos, 4 vezes por dia se tolerado. Iniciar trotes
leves em linha reta com guia. Continuar os movimentos de sentar e levantar com o
apoio da parede e andar em círculos fechados à esquerda e à direita.
SEMANAS
12
9-
Aumentar caminhadas controladas de acordo com a tolerância do animal e iniciar
corridas leves em linha reta. Com 12 semanas, aumentar a atividade a níveis normais
antes do procedimento. Corridas em círculos abertos e fechados.
Imagem 4 – quadro com o protocolo de reabilitação utilizado após cirurgia de
osteotomia do platô tibial (JANDI; SCHULMAN, 2007).
Com 12 ± 4 meses e 24 ± 8 meses foram realizadas medições de amplitude de
movimento, comparando-se com os valores pré-cirurgia. Em 322 cirurgias, não foi observada
perda de amplitude de movimento; em 78 cirurgias, ocorreu perda da amplitude de movimento de
menos de 10º em flexão ou extensão; em 12 casos ocorreu perda de amplitude de movimento de
mais de 10º de extensão ou flexão. É sugerido que a perda de amplitude de movimento de mais
de 10º em flexão ou extensão estava associada com aumento significante da claudicação, tendo
portanto maior relevância clínica (JANDI & SCHULMAN, 2007).
A perda na extensão foi menos sensível à reabilitação do que a perda na flexão,
provavelmente devido à localização anatômica do tecido fibroso, osteófitos ou corpos ósseos
intra-articulares na articulação femoro-tibial, causando obstrução mecânica. A melhora da perda
de flexão associada com claudicação clínica, pode ser resultado do aumento de força dos
músculos quadríceps alcançada através de reabilitação (JANDI & SCHULMAN, 2007).
Pesquisa realizada com 8 cães comparou os efeitos da fisioterapia e de exercícios
realizados em casa após osteotomia do platô tibial na amplitude de movimento articular,
circunferência da coxa, escores de claudicação e prontidão para levantar o membro contralateral.
Até 2 horas após a cirurgia, todos os animais receberam crioterapia no joelho por 20 minutos e
amplitude passiva de movimentos . No primeiro dia após a cirurgia, os cães saíram com guias
curtas para defecar e urinar, recebendo apoio com uma tipóia em caso de instabilidade (MONK;
PRESTON;McGOWAN, 2006).
A fisioterapia incluía massagem, exercícios de amplitude passiva de movimentos,
exercícios de apoio de peso, crioterapia, e caminhadas controladas da 1ª à 6ª semana após a
cirurgia. Adicionalmente, os proprietários retornavam ao hospital para realização de fisioterapia 3
vezes por semana, recebendo ainda treinamento adicional dos fisioterapeutas quando necessário.
A partir do 10º dia pós-cirúrgico, foi introduzida caminhada em esteira aquática ao final de cada
sessão de fisioterapia (MONK;PRESTON;McGOWAN, 2006).
Os animais submetidos à fisioterapia precoce tiveram maiores valores de circunferência
de coxa e maior amplitude de movimento articular 6 semanas após a cirurgia. Não foram
encontradas diferenças significativas entre os 2 grupos para escores de claudicação e prontidão
para levantar o membro contralateral (MONK;PRESTON;McGOWAN, 2006).
Souza et al. (2006) comparou os efeitos da fisioterapia após artroplastia do joelho em 8
cães divididos igualmente entre os que receberam o tratamento e o controle, que foi submetido
apenas a repouso. A técnica realizada foi o homoimplante ortópico tenopatelar e após a cirurgia, a
articulação foi imobilizada (SOUZA et al., 2006).
Após 24 horas da remoção do fixador externo foi iniciada a reabilitação, com
hidroterapia, massagem por deslizamento superficial, movimentação passiva da articulação e
caminhadas. Foi realizada medição da circunferência da coxa e amplitude de movimento antes da
cirurgia, após a remoção do fixador externo e 90 dias após a cirurgia articular. A marcha dos dois
grupos foi avaliada após a remoção do fixador externo durante 60 dias consecutivos (SOUZA et
al., 2006).
A avaliação clínica da marcha demonstrou que a reabilitação teve influência positiva no
retorno funcional do membro em relação ao tempo. Os animais submetidos à reabilitação também
obtiveram melhor recuperação da amplitude de movimento, atingindo valores iguais aos
atingidos antes da cirugia após 90 dias. Os animais de ambos os grupos não atingiram os mesmos
valores de circunferência de coxa medidos no pré-operatório, 90 dias após a cirurgia (SOUZA et
al., 2006).
Alongamento- método de Ilizarov
Foi realizado um experimento com 15 cães na UNESP- Botucatu, avaliando a
funcionalidade da montagem do aparelho de Ilizarov para alongamento simultâneo do rádio e
ulna na espécie canina. O alongamento foi iniciado no 6º. dia pós-operatório, na magnitude de 1
mm por dia. Os animais foram divididos em 5 grupos, recebendo os seguintes tratamentos: 1- oito
dias de alongamento; 2- 15 dias de alongamento; 3- 22 dias de alongamento; 4- 28 dias de
alongamento e oito dias de fase neutra; 5- 28 dias de alongamento, 60 dias de fase neutra com o
fixador e 45 dias sem o fixador (RAHAL et al., 2002).
Durante e após o alongamento foram realizados exercícios passivos na articulação
antebraquiocárpica.. Nos animais do grupo 5, durante o período de 45 dias sem o aparelho,
procurou-se reverter a flexão da articulação antebraquiocárpica por movimentos passivos de
flexão e extensão e marcha forçada. Talas de cloreto de polivilina (PVC) também foram aplicadas
na porção caudal do membro operado, com o objetivo de forçar a extensão da articulação
antebraquiocárpica (RAHAL et al., 2002).
Foram realizadas avaliações clínicas diárias e exames radiográficos semanais, avaliandose ainda a amplitude de movimento de flexão e extensão das articulações antebraquiocárpica e
úmero-radioulnar nos membros operado e controle através de um goniômetro (RAHAL et al.,
20002).
Durante o período de alongamento, os animais deixaram gradativamente de apoiar a mão
no solo, desenvolvendo contratura em flexão da articulação antebraquiocárpica, que se tornou
rígida e com movimentação limitada, mesmo com a aplicação de exercícios. No grupo 5, durante
a fase neutra com o fixador, foi evidente o processo de atrofia muscular em todo o membro.
(RAHAL et al., 2002).
Na avaliação radiográfica, aos 15 dias de alongamento, foi verificado início da formação
óssea. Aos 22 e 28 dias de alongamento, foram observadas colunas radiodensas no espaço do
alongamento, orientadas longitudinalmente na direção do alongamento e uma zona radiolucente
irregular central. Durante a fase neutra com o fixador, a zona radiolucente desaparesceu
gradativamente e ficou gradativamente mais radiopaca e com aspecto mais uniforme (RAHAL et
al., 2002).
Foi verificado que, quanto maior o período de alongamento, maior foi a restrição do arco
de movimento articular, apesar das medidas tomadas para tentar evitar essa restrição. A
regeneração óssea foi adequada e parece que o músculo foi o fator limitante em alongamento do
membro. Outros procedimentos que poderiam ter sido testados para evitar a contratura e a perda
do movimento articular são diminuição da velocidade de distração ou parada temporária,
associadas ao aumento da fisioterapia (VILLA et al., 1990 apud RAHAL et al., 2002).
2.2.3 TENDINOPATIAS
O entorse é caracterizado pelo cisalhamento ou ruptura de alguma parte da unidade
músculo-tendão, podendo acometer o tendão, a junção músculo-tendão, o músculo ou os pontos
de inserção. Após a lesão, o processo ideal de cicatrização ocorre com mínima formação de
fibrose e aderências, permitindo o livre deslizamento do tendão. A otimização do processo
cicatricial pode ser obtido por cuidadosa manipulação dos tecidos moles, assepsia e uma boa
hemostasia. Após a cirurgia, a movimentação ativa deve ser limitada de forma que o tendão tenha
um suporte sanguíneo adequado dos tecidos adjacentes, iniciando o processo cicatricial com
mínima formação de aderências (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008) .
A amplitude passiva de movimentos pode ser iniciada após 3 semanas de repouso. A
movimentação cuidadosa do tendão promove o remodelamento da fibrose peritendínea,
garantindo um bom deslizamento do tendão. Nesse momento a utilização de imobilização rígida é
contra-indicada, pois limita o aumento da força tensora do tendão. No período entre 3 e 6
semanas, os exercícios devem ser limitados. Podem ser utilizadas tipóias ou bandagens para
proteger a área de reparo do tendão, quando o animal não estiver realizando exercícios. Na sexta
semana, embora ainda não tenha alcançado a tensão máxima, o tendão já suporta o peso do
animal durante a deambulação (MONTGOMERY apud DAVIDSON; SHARON; MILLIS,
2008).
Goldfarb et al. (2001) comparou os efeitos de um programa de reabilitação com
movimentos de amplitude passiva de baixa ou alta força em cães que tiveram ruptura e reparo do
tendão flexor digital profundos intrasinovial . As variáveis comparadas foram: concentração total
de colágeno e quantidades relativas de componentes moleculares de colágeno que formam pontes
tranversas, aos 10, 21 e 42 dias de reabilitação no local de reparo. Níveis altos ou baixos de força
tiveram níveis similares de massa de colágeno, constituintes e maturação nas primeiras 6 semanas
de reabilitação. O que confere maior resistência ao tendão durante 3 a 6 semans é o espessamento
das fibras e dos ligamentos, que assumem posição mais paralela e longitudinal. (GOLDFARB et
al., 2001).
Foram comparados os efeitos de duas modalidades de amplitude passiva de movimento na
função de deslizamento e tensão em 20 cães que tiveram o tendão flexor profundo do 2º e 5º
dígitos seccionados e reparados cirurgicamente. Os animais foram divididos em 2 grupos
experimentais, sendo que um foi submetido a uma freqüência baixa de ciclos de flexão e extensão
(1 ciclo de flexão e extensão por minuto, durante 1 hora) e o outro a uma freqüência mais elevada
(12 ciclos por minuto durante 5 minutos), com o total de 60 ciclos por dia em ambos os grupos
(TAKAI et al., 1991).
Foi verificado que a freqüência e duração não tiveram influência na função de
deslizamento do tendão. No entanto, o grupo submetido à maior freqüência, apresentou maior
força, resistência e melhor cicatrização. É possível que o estímulo para a atividade celular possa
ser dose dependente, com aumento da proliferação, migração e produção de colágeno nos tendões
submetidos à alta freqüência de movimentos passivos (TAKAI et al., 1991).
Foram avaliados 16 cães SRD submetidos a protocolos de reabilitação ativa e mobilização
passiva, imediatamente após a laceração parcial e reparo do tendor flexor digital profundo, com 3
semanas de cicatrização. Foram avaliadas lacerações, adesões, deslizamento e última carga dos
tendões reparados e não reparados (contralaterais) do tendor flexor digital profundo do 2º e 5º
dígito. O grupo submetido à movimentação ativa irrestrita teve lacerações maiores e uma adesão,
o que sugere que houve inibição da cicatrização neste grupo. Já em termos de rotação articular,
deslizamento e força do tendão, ambos os grupos apresentaram resultados semelhantes
(GREWAL et al., 2006).
Em experimento com 16 cães, avaliou-se a perda de massa óssea após laceração de
tendão em seu local de inserção (flexor digital profundo), avaliando os efeitos isolados da
laceração tendínea e da movimentação passiva durante a reabilitação. O tratamento pósoperatório do grupo submetido à reabilitação consistiu de imobilização com tala e 10 minutos
diária de mobilização passiva com força baixa. Houve significativa perda da densidade mineral
óssea após laceração do tendão flexor profundo, reparo e mobilização passiva, aumentando
gradativamente com o passar dos dias em que foi feita a análise. Foi concluído que a mobilização
passiva do membro e a laceração tendínea, contribuem cada uma independentemente à perda
óssea observada após laceração, reparo e reabilitação (DITSIOS et al., 2003).
A reabilitação pós-operatória após ruptura tendínea deve produzir máxima movimentação
tendínea com a mínima força aplicada. Tanaka et al. (2005) conduziram um experimento para
comparar os efeitos da posição do cotovelo na tensão tendínea do tendão flexor digital profundo.
Foram realizadas movimentações passivas da articulação metacarpo-falangeana em membros
torácicos de animais submetidos à eutanásia. As menores forças foram encontradas com o
cotovelo em extensão, comparado com o cotovelo a 90º ou flexionado, que teve maiores forças
de tensão (TANAKA et al., 2005).
Estudo realizado com 12 cães verificou a quantidade de fator endotelial do crescimento
em cães que tiveram seus tendões flexores digitais profundos previamente rompidos e reparados.
Os dígitos foram submetidos à movimentação passiva por 10 minutos diariamente, à velocidade
de um ciclo de extensão e flexão por segundo. Os cães foram eutanasiados com 4, 7, 10 e 14 dias
após a cirurgia. Aumento quantitativo significante foi verificado nos dias 7 e 10 após a cirurgia
em relação ao dia da cirurgia (BOYER et al., 2001).
Tenossinovite Bicipital
Acomete principalmente cães de porte médio a grande, sendo caracterizada pela
claudicação dos membros torácicos. A causa pode ser trauma ou uso excessivo do membro.
Podem ser formadas aderências entre o tendão e a bainha sinovial, causando dor e limitação na
movimentação (LINCOLN; POTTER apud DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008). A
claudicação pode ser intermitente, se agravando após a realização de exercícios. Em casos
crônicos, pode haver atrofia dos músculos do ombro (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
O animal costuma manifestar dor quando o tendão é palpado durante o movimento de
extensão de flexão do ombro, com o cotovelo em extensão. Na radiografia, é possível observar
em alguns casos, calcificação do tendão do bíceps e formação de osteófitos no sulco
intertubercular. O diagnóstico pode ser difícil, sendo muitas vezes necessária a realização de
ressonância magnética, ultrassom ou observação durante a artroscopia (DAVIDSON; SHARON;
MILLIS, 2008).
Em casos agudos, o tratamento é baseado na redução do processo inflamatório, baseado
na administração de anti-inflamatórios não esteroidais e repouso por 4 a 6 semanas. Na ausência
de fragmentos articulares livres, podem ser utilizados esteróides intra-articulares (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008) .
Pode ser utilizado o ultrassom terapêutico em modo pulsátil, com 3,3 MHz na junção
músculo-tendínea ou sobre o próprio tendão (LEVINE; TAYLOR, MILLIS apud DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008). O ultrassom não deve causar aumento significante da temperatura
tecidual e a dor deve ser monitorada constantemente. A crioterapia é também indicada no
controle da dor. Pode também ser realizada eletroterapia (TENS) promovendo analgesia,
massagem e alongamento do tendão do bíceps (MARCELLIN-LITTLE et al., 2007).
A cirurgia é indicada nos casos de falha do tratamento cínico. Até 3 semanas após a
cirurgia, as atividades são limitadas a caminhadas leves com guia, associadas à crioterapia e
movimentação passiva. Após esse período, o objetivo do tratamento passa a ser o fortalecimento
muscular dos músculos bíceps e braquial, por meio da aplicação de NMES, caminhadas em
esteira ou hidroterapia. O controle da inflamação após o exercício pode ser realizado pela
crioterapia (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Calcificação do tendão supra-espinhoso
Geralmente acomete cães de porte médio a grande, sendo a etiologia desconhecida.
Caracteriza-se por claudicação média a severa, podendo também não exibir qualquer sinal clínico
ou dor à palpação do tendão. O diagnóstico é baseado na observação de calcificação nos exames
radiográficos e exclusão de outras causas relacionadas à claudicação do membro torácico
(DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
O tratamento clínico é baseado na administração de anti-inflamatórios não esteroidais,
crioterapia, amplitude passiva de movimentos, ultra-som terapêutico e repouso (LEVINE;
TAYLOR; MILLIS apud DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008). Em alguns casos pode ser
realizada a excisão cirúrgica do tecido calcificado, sendo utilizada uma bandagem de flexão do
carpo por 2 semanas para prevenir o apoio do peso. As atividades são limitadas por mais 2
semanas, sendo que a natação pode causar estresse tendíneo excessivo, sendo contra-indicada por
alguns meses. O prognóstico é bom e a recuperação total deve ocorrer entre 6 a 8 semanas
(DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Contratura do músculo infra-espinhoso
Geralmente acomete cães de caça ou de trabalho e causa claudicação leve. A causa pode
ser um traumatismo muscular agudo que resulta na ruptura incompleta do músculo infra-espinho
e na instalação de uma contratura por fibrose. A substituição das fibras musculares por tecido
fibroso pode ocorrer por dias ou semanas. O cotovelo é mantido em adução enquanto o carpo é
mantido em abdução. Ocorre limitação na amplitude de extensão do ombro e quando o animal
caminha, o membro faz um movimento circular (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
A reabilitação pode ter efeitos benéficos, caso o diagnóstico seja precoce. O ultrassom
terapêutico em modo contínuo e exercícios de alongamento podem ser empregados. Caso o grau
de contratura no momento do diagnóstico seja avançado, o sucesso do tratamento clínico é
limitado, podendo ser realizada a cirurgia nestes casos (LEVINE; TAYLOR; MILLIS apud
DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
No pós-operatório é permitida a utilização do membro, mas deve haver limitação da
atividade normal durante as primeiras semanas, pois atividades em excesso podem causar nova
lesão tecidual e determinar a formação de novo tecido fibroso. A amplitude passiva de
movimento deve ser realizada todos os dias. Após a realização dos exercícios, pode-se utilizar a
crioterapia para o controle da inflamação. Nos casos de atrofia significante dos músculos do
membro torácico, podem ser realizados exercícios de condicionamento físico, como caminhadas,
hidroterapia e exercícios de carrinho de mão. Em casos de atrofia grave, a utilização de NMES é
indicada para a recuperação da massa muscular (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Tendão do músculo extensor longo dos dedos
A avulsão do músculo extensor longo dos dedos é rara e geralmente acomete cães jovens.
Os sinais clínicos são derrame articular e dor na face craniolateral da articulação. Caso não seja
realizado tratamento, pode ocorrer a instalação de um quadro de osteoartrose e claudicação
crônica. O tratamento consiste na fixação do fragmento ósseo avulsionado ou na remoção desse
fragmento e fixação do tendão na região proximal da tíbia ou da cápsula articular (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
Caso o fragmento ósseo seja refixado, são utilizados anti-inflamatórios não esteroidais e
crioterapia para o controle da dor e da inflamação. Durante o período de consolidação, o paciente
deve realizar exercícios de reeducação muscular, propriocepção e de suporte de peso limitados.
Caso seja realizada a fixação do tendão com remoção do fragmento ósseo, os exercícios de
controle de suporte de peso podem ser realizados de forma mais precoce. O prognóstico é bom,
caso o tratamento seja realizado antes de ocorrer um quadro de osteoartrose (DAVIDSON;
SHARON; MILLIS, 2008).
Contratura do tendão flexor
Caracteriza-se pelo encurtamento da unidade tendão muscular, causada pela falta de
contração muscular ativa. Pode se estabelecer após períodos longos de imobilização ou de desuso
dos membros. Acontece uma limitação da extensão das articulações distais do tarso ou do
cotovelo, podendo comprometer a marcha (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Podem ser utilizados: o ultra-som terapêutico de 3,3 MHz, bolsas térmicas, exercícios de
alongamento manual e massagens para estimular o alongamento da unidade tendão-músculo. A
intensidade do alongamento deve ser limitada, pois pode ocorrer ruptura de fibras de tecido mole
ou fraturas ósseas. A reabilitação tem o objetuvo de alongar e realinhar os tecidos sem causar
qualquer tipo de lesão. Em alguns casos, pode ser realizada tenotomia (DAVIDSON; SHARON;
MILLIS, 2008).
Ruptura do tendão calcâneo
A ruptura pode ocorrer na junção musculotendínea ou próximo à inserção no tubérculo
calcâneo. Na ruptura do tendão é possível palpar sua porção final a 2 ou 3 cm acima do tubérculo
do calcâneo. Devido a desenvolvimento de tecido fibroso, o terço distal do tendão pode se tornar
espessado e duro (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Caso ocorra avulsão do tendão, ele pode ser suturado a túneis ósseos no calcâneo. Caso o
fragmento ósseo seja grande, pode ser fixado à posição normal com pino e banda de tensão. A
rafia é realizada quando a ruptura ocorre na porção média ou músculo-tendínea. Nos casos em
que ocorre ruptura parcial do tendão, o tratamento é realizado com o uso de talas e tipóias
(DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
No pós-operatório é feita imobilização da articulação tarso-tibial que é realizada sob
angulação anatômica, prevenindo tensão excessiva sobre a área operada. Essa imobilização é
mantida por 3 semanas ou mais, podendo ser feita com talas, parafusos posicionais ou fixador
externo. Os exercícios ativos controlados podem ser iniciados a partir da terceira semana após a
cirurgia. O estresse durante a realização de exercícios de suporte de peso e movimentação
articular, colabora para o alinhamento do tecido cicatricial local e o fortalecimento tendíneo
precoce (LEVINE; TAYLOR; MILLIS apud DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Tendões flexores digitais profundo e superficial
A laceração ou avulsão dos tendões flexores digitais profundo e superficial é de origem
traumática. Essa laceração ou avulsão determinam a movimentação anormal dos dedos. Após a
fixação ou reparo do tendão, a porção distal do membro deve ser imobilizada, mantendo-se uma
tala por 2 a 3 semanas (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
A tala deve ser trocada semanalmente, permitindo a realização de amplitude passiva de
movimentos das articulações adjacentes. A tala deve ser removida definitivamente na terceira
semana, pois a imobilização prolongada pode retardar a cicatrização e tornar o tecido reparado
mais frágil. É importante também a limitação de atividades físicas, evitando uma nova lesão.
Após a fase cicatricial, o objetivo da reabilitação é a recuperação da amplitude de movimento e
resistência do tecido. Caso exista contratura muscular ou tendínea, é indicado a utilização de
bolsas térmicas ou ultra-som terapêutico em modo pulsátil, de 3,3 MHz, associado ao
alongamento (DAVIDSON; SHARON; MILLIS, 2008).
Williams et al. (1997) apresentam 2 relatos de caso de 2 cães atendidos no Hospital
Veterinário da Universidade de Missouri. No primeiro, uma fêmea da raça Pointer Alemão
apresentava claudicação do membro pélvico esquerdo com 2 meses de duração. A cadela
apresentou laceração distal ao metatarso enquanto caçava. Apresentava dor durante a palpação do
3º dígito, atrofia do membro pélvico esquerdo e hiperextensão da articulação interfalangeana
distal. Ao exame radiográfico apresentava aumento de volume de tecidos moles na área da
articulação interfalangeal proximal, subluxação da articulação interfalangeal proximal do terceiro
dígito. Devido a esta apresentação, a suspeita foi de ruptura do tendão flexor digital profundo do
terceiro dígito (WILLIANS, et al.).
Foi realizada a tenorrafia e após a cirurgia foi colocada uma tala termoplástica com os
dedos mantidos em flexão por 6 semanas após a cirurgia. A bandagem era trocada semanalmente
e a atividade foi restringida por 6 semanas. Os proprietários foram orientados a aumentar a
atividade lentamente por 6 a 8 semanas após a retirada da tala. 6 meses após a cirurgia, conversas
com o proprietário indicaram que o cão estava usando o membro operado bem, sem sinais de dor
ou claudicação após o exercício, apresentando apenas ligeira hiperextensão da articulação
interfalangeal distal.
Não houve evidência de dor ou claudicação 2 anos após a cirurgia
(WILLIANS et al., 1997).
No segundo relato de caso, um cão macho da raça Retriver do Labrador, de 2 anos de
idade, apresentava claudicação após o exercício no membro torácio esquerdo, com dor à palpação
no quarto dígito e hiperextensão da articulação interfalangeana distal. Achados radiográficos
indicaram desvio dorsal da falange distal do quarto dígito, confirmando o diagnóstico de ruptura
do flexor digital profundo. Foi realizada a tenorrafia e o manejo pós-operatório foi semelhante ao
paciente anterior. Exames realizados um ano após a cirurgia demonstraram que o paciente estava
apoiando normalmente o membro operado, sem sinais de hiperextensão da ariculação
interfalangeana distal, sem qualquer sinal de dor ou claudicação, podendo retornar a atividade
vigorosa (WILLIANS et al., 1997).
2.2.4 SÍNDROME DO CÃO NADADOR
Condição relatada em cães e gatos neonatos em que os membros pélvicos e algumas vezes
os membros torácicos, são deslocados lateralmente. Malformação do tórax, articulações e de
ossos longos podem estar presentes (FOSSUM et al, 1989 apud VERHOEVEN, 2006).
Os animais tentam caminhar com movimentos semelhantes a movimentos de natação, e
quando estão em superfícies lisas, os sinais clínicos são exacerbados (SUTER, 1984 apud
VERHOEVEN, 2006). A etiopatogenia da doença permanece desconhecida, sendo considerados
fatores
hereditários,
ambientais,
nutricionais,
neurológicos
e
ortopédicos
(HOSSGOOD;HOSKINS, 1998 apud VERHOEVEN, 2006).
O tratamento com fisioterapia e bandagens tem mais sucesso quando iniciado com 3 ou 4
semanas porque as articulações e ossos são mais flexíveis e mais facilmente corrigíveis
(HOSGOOD; HOSKINS, 1998 apud VERHOEVEN, 2006)
Verhoeven (2006) apresenta 2 relatos de caso de 1 cão da raça Buldogue Inglês e uma
gata da raça Devon Rex. Os 2 animais apresentavam abdução dos membros pélvicos,
hiperextensão das articulações do tarso e impossibilidade de aduzir os membros pélvicos
(VERHOEVEN, 2006).
Na gata, o tratamento foi iniciado com 3 semanas de idade, aplicando bandagens nos
membros da gata, de forma a se obter rotação interna do membro. O proprietário foi orientado a
trocar a bandagem todos os dias e a evitar superfícies muito lisas. A fisioterapia foi realizada 3
vezes por dia, durante 10 minutos, com flexão e extensão passiva das articulações do tarso, joelho
e coxofemoral. Foi realizada massagem dos músculos tibial cranial, quadríceps e bíceps femoral.
O proprietário ainda realizava exercícios de suporte manual, mantendo os membros em posição
aduzida e gradativamente deixando o suporte manual, estimulando o uso ativo dos músculos
contra a gravidade (VERHOEVEN, 2006).
Uma semana após o início do tratamento, a gata era capaz de aduzir ambos membros
pélvicos e a rotação externa severa dos membros foi resolvida. A hiperextensão da articulação do
tarso ainda estava presente e foi aplicada uma tala para sua correção. Uma semana depois, as
talas foram retiradas e o animal era capaz de caminhar e tinha uma postura normal. Com 10
meses de idade o animal retornou para realizar uma ovariectomia e estava em condições físicas
normais, sem qualquer anormalidade articular (VERHOEVEN, 2006).
O cão tinha 4 meses de idade e além da síndrome do nadador, foi diagnosticado para
pectum excavatum, sendo realizada cirurgia para correção desta condição. Após a cirurgia, o
animal era mantido de pé com os membros aduzidos 10 minutos por dia, 7 a 8 vezes por dia. Foi
realizada a flexão e extensão passiva de todos os membros (VERHOEVEN, 2006).
Após 14 dias após a cirurgia, o animal voltou para casa, continuando a fisioterapia com
amplitude passiva de movimentos e manutenção da posição em pé com os membros aduzidos,
com o auxílio do proprietário. Um mês após a apresentação inicial, os 4 membros estavam
posicionados normalmente e o cão era capaz de realizar caminhadas curtas. O cão retornou para
reexames com 2, 3, 4, 6 e 15 semanas de idade com perfeita condição clínica, com condições
respiratória e ortopédica normais (VERHOEVEN, 2006).
CONCLUSÃO
Ao delinear um plano de reabilitação, vários aspectos devem ser considerados, tais como:
tempo de cicatrização, tempo de imobilização, presença de dor ou inflamação, obesidade e outras
condições que o animal pode apresentar. O comportamento do animal também deve ser levado
em conta, pois um bom contato entre o terapeuta e o animal pode levar a uma melhor progressão
do paciente. O paciente deve ser reavaliado constantemente, de maneira que o plano das
atividades de reabilitação seja feito de maneira individualizada.
As atividades apresentadas no trabalho, como a crioterapia, massagem, amplitude passiva
de movimentos, exercícios terapêuticos, entre outras, podem ser usadas no tratamento de diversas
doenças ortopédicas ou traumas, como fraturas. A utilização destas atividades promove menor
tempo de internação, menor risco de complicações pós-cirúrgicas e melhor qualidade de vida ao
paciente.
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