Felippe Jr. Câncer e Dieta

Propaganda
mb-0039.pdf
1 de 2
http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/mb-0039.htm
CÂNCER E DIETA
José de Felippe Junior
A carcinogênese, é um processo crônico de origem multifatorial, que se estende por uma ou varias décadas e que envolve pelo menos
duas etapas bem definidas: iniciação e promoção. O longo intervalo de tempo entre o primeiro evento carcinogênico e o aparecimento do
clone de células malignas, nos oferece a oportunidade de intervir no processo, seja para estancá-lo, seja para diminuir a sua velocidade de
progressão.
No câncer humano o intervalo entre o primeiro estimulo carcinogênico e o aparecimento clinico do tumor, pode variar de uma década
para as leucemias até 2 à 3 décadas para a maioria dos tumores sólidos.
Estima-se que aproximadamente 90% das neoplasias malignas nos EUA sejam determinadas por fatores associados ao estilo de vida,
como o fumo, o álcool e a dieta, e portanto potencialmente evitáveis. Em extensa revisão de literatura, onde levou-se em consideração
fatores ambientais específicos, determinantes do câncer, constatou-se que 35% das neoplasias malignas (faixa de 10 a 75%) podem ser
causadas por componentes da dieta. Se esta estimativa estiver correta, a dieta será o segundo fator mais importante na determinação
do câncer, vindo atrás somente do cigarro.
Os alimentos podem conter fatores inibidores ou facilitadores da carcinogênese. A dieta rica em gorduras aumenta a incidência de
câncer de mama, próstata e cólon. Os nitratos, quando reduzidos a nitritos, contribuem para o desenvolvimento do câncer de estômago.
As frituras ou os alimentos grelhados em carvão, contém carcinógenos: hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.
As frutas, verduras e legumes possuem vitaminas e sais minerais que funcionam como antioxidantes, protegendo o DNA da ação dos
radicais livres, na fase de iniciação do câncer e também possuem outras propriedades inibidoras da carcinogênese.
Atualmente na Europa, as recomendações dietéticas de combate ao câncer são muito simples:
1. aumentar o consumo de frutas, vegetais frescos e fibras vegetais.
2. Diminuir a ingestão de gorduras
3. Evitar a obesidade
Discutiremos agora alguns fatores da dieta associados com a maior ou menor incidência de
câncer. Necessitamos no presente momento de recomendações nutricionais que sejam mais detalhadas, mais precisas e mais
convincentes.
Vitamina A pré formada e Caroteno
O principal papel fisiológico da vitamina A é controlar a diferenciação celular. Sendo a perda da diferenciação celular um dos fatores
básicos para o aparecimento do câncer, é justo suspeitar que o estado da vitamina A no organismo se relacione com a maior incidência
de neoplasias malígnas.
Quando a ingestão de vitamina A é baixa, aumenta a freqüência de câncer de bexiga, do trato gastrointestinal e de mama. Na
Noruega, os homens que ingerem vitamina A acima da média, apresentem metade da incidência de câncer de pulmão, quando
comparado com os homens que ingerem menores quantidades. Estes dados foram confirmados no Japão, Singapura e EUA.
Entretanto, quando nos aprofundamos na metodologia, verificamos que os questionários empregados nestes estudos, perguntavam
mais sobre as fontes vegetais de vitamina A (Betacaroteno e Carotenóides) do que sobre as fontes animais (Vitamina A pré formada).
Desta maneira, tais investigações mostraram na verdade o papel protetor desempenhado pelo betacaroteno e carotenóides, e sabemos
muito bem que a molécula de betacaroteno, além de se transformar em duas moléculas de retinol, possui efeitos já bem estabelecidos
como varredoe de radicais livres, particularmente do oxigênio “Singlet”.
Em trabalhos prospectivo recente, verificou-se que apenas o betacaroteno apresentava papel protetor contra o câncer. Um outro
estudo verificou aumento, sim,aumento da incidência de câncer de pulmão nos homens que ingeriam maior quantidade de vitamina A,
porém do tipo pré formada, isto é, de origem animal.
Outros nada conseguiram revelar, porém, a maioria destes estudos populacionais baseados em inquéritos alimentares são unânimes
em mostrar o papel protetor do betacaroteno, principalmente em nível de pulmão. Entretanto, os estudos populacionais, feitos a partir de
inquéritos alimentares, são muito sujeitos à erros metodológicos e o que realmente nos interessa saber nas populações são os níveis de
retinol e de caroteno no sangue.
Entre 1971 e 1973 mediu-se no plasma de 2.974 homens, as principais vitaminas antioxidantes, incluindo o caroteno. Durante 12
anos de observação (1974 e 1985) morreram 553 pessoas, 204 com câncer (68 de câncer de pulmão, 20 de estômago, 17 de cólon,
99: miscelânea). Encontrou-se menores níveis plasmáticos de caroteno, nas 204 pessoas que faleceram dos mais variados tipos de
câncer, quando comparados com os 2.421 sobreviventes. O risco relativo das pessoas com baixo nível de caroteno, foi melhor
observado no câncer de pulmão.
A conclusão foi que baixos níveis de caroteno no plasma associa-se a um maior risco das pessoas adquirirem vários tipos de câncer,
especialmente o de pulmão.
Vários trabalhos avaliaram o retinol no soro, de pacientes que subseqüentemente desenvolveram neoplasias malignas, comparando
os resultados com níveis de retinol de pessoas da mesma região, com mesma idade e sexo, porém, sem câncer. A incidência de câncer
foi maior nas pessoas com menores níveis séricos de retinol, embora tais níveis estivessem na faixa normal das tabelas atualmente
vigentes. A correlação mais significante foi com o câncer de pulmão.
Estudos em animais geralmente mostram que o retinol e alguns retinóides (análogos sintéticos do retinol),diminuem a freqüência de
vários tipos de câncer induzidos por uma grande variedade de agentes, e este efeito inibitório estava presente mesmo quando o retinol
era administrado após a indução do câncer. O betacaroteno protege camundongos contra tumores gastrointestinais induzidos
quimicamente e contra tumores de pele induzidos pela luz ultra violeta e carcinogênicos químicos.
A vitamina A, além de regular a diferenciação celular aumenta a imunidade celular. O betacaroteno, além de se transformar em
vitamina A, age, como já dissemos, como varredor de radicais livres, protegendo o DNA. O betacaroteno não é tóxico, porém, são bem
conhecidos os efeitos do excesso de ingestão da vitamina A.
É importante frisarmos neste momento um dado à respeito dos tão criticados estudos epidemiológicos: e possível que constituintes
ainda desconhecidos, presentes nos vegetais verdes e amarelos, possuam a capacidade de reduzir a incidência de câncer, e nós médicos
não devemos apenas nos restringir na prescrição de nutrientes quimicamente puros, devemos sim incentivar o consumo de vegetais e
frutas.
VITAMINA C
Regiões da Grã Bretanha onde é baixa a ingestão de vitamina C, possuem alta incidência de neoplasias malignas. Na Islândia o baixo
17/10/2011 15:01
mb-0039.pdf
2 de 2
http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/mb-0039.htm
consumo de ácido ascórbico se associa ao câncer de estômago e no Irã ao câncer de esôfago. Uma investigação tipo case – control de
câncer de laringe encontrou efeito protetor da associação vitamina A e vitamina C. O mesmo autor em outro estudo não encontrou
relação entre a vitamina C e o câncer oral.
Em animais existem estudos pertubadores. Um deles sugeriu que a vitamina C pode realmente estimular o crescimento de alguns tipos de
sarcoma em roedores. Em cobaias com tumores já presentes, a administração diária de 1,0 g/Kg de ácido ascórbico, acelera o
crescimento do tumor. Em cultura de tecidos a vitamina C aumenta a sobrevivência de células tumorais de ovário submetidos à radiação.
Sabemos que o ácido ascórbico, sem a presença de tocoferol ou sem os elementos protetores do complexo C, como a rutina, a
quercetina e a hesperidina, se transforma no radical livre ascorbil, capaz de quebrar o DNA e facilitar a fase de iniciação do câncer.
Sabemos também que a formação do radical ascorbil é imensamente acelerada, na presença de íons ferro, sendo a associação ácido
ascórbico – sal ferroso, um dos modelos de geração de radical hidroxila “in vitro”.
São estas as razoes de, na prática clínica, administramos o ácido ascórbico na forma de complexo C ou, juntamente com a vitamina
E, principalmente nos pacientes com aumento das reservas corporais de ferro (aumento da ferritina sérica).
Devemos interpretar estes estudos em animais com muita cautela. Em primeiro lugar porque são condições artificiais, onde é muito
provável que esteja ocorrendo aumento da geração do radical ascorbil e do radical hidroxila, e em segundo lugar porque cada vez mais
crescem as evidencias benéficas da vitamina C, em vários tipos de neoplasias melígnas nos seres humanos.
Recentemente, uma grande revisão bibliográfica sobre o assunto mostrou que são muito fortes as evidencias epidemiológicas do
efeito protetor da vitamina C no câncer não dependente de hormônio. Em 46 estudos, 33 mostraram proteção estatisticamente
significante, sendo que o aumento de vitamina C conferiu o dobro de proteção quando comparado com o baixo consumo.
Em 29 estudos adicionados onde acrescentou-se a pergunta sobre a ingestão de frutas, 21 deles mostraram proteção significante. As
evidências são fortes no câncer de esôfago, laringe, cavidade oral, pâncreas, estômago, reto, mama e colo de útero. No câncer de
pulmão também foi encontrado efeito protetor significante, com ou sem aumento de ingestão de betacaroteno.
A vitamina C interfere na manutenção da integridade da matriz celular, aumenta a imunidade humoral e celular e funciona como
poderoso antioxidante nos líquidos corporais. Ela também bloqueia a conversão de nitratos tanto no estômago como nos alimentos
enlatados. Recentemente, Wrigth mostrou que metade dos pacientes portadores de câncer, dos mais variados tipos, apresentavam altos
níveis plasmáticos de lipoproteínas a (Lpa acima de 35 mg %) e sabe-se que o ácido ascórbico possui a capacidade de diminuir a
concentração desta lipoproteína e, consequentemente, de diminuir a incidência de vários tipos de neoplasias malígnas.
VITAMINA E
O alfa tocoferol é um poderoso antioxidante, hidrófobo, isto é, seu papel se faz em nível de membrana e de lipoproteínas.
Estudos clínicos e experimentais sugerem que a vitamina E pode oferecer proteção contra o câncer. Na Finlândia, analisou-se a
concentração plasmática do alfa-tocoferol em 36.265 adultos durante um “followup” de 8 anos, foi diagnosticado câncer em 766
pessoas. As pessoas com menos níveis plasmáticos de vitamina E, no inicio do estudo, apresentaram risco 1,5 vezes maior de adquirir
vários tipos de neoplasias malignas, quando comparado com as pessoas com níveis mais altos de vitamina. A associação mais forte foi
com o câncer gastrointestinal e com aqueles relacionados ao cigarro. Outra associação muito forte ocorreu entre os homens fumantes e
entre mulheres com baixo nível plasmático de selênio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Slater TF and Block G. Antioxidant vitamins and betacarotene in disease prevention: Proceedings of a Conference held in London.
Am. J. Nutr. 53: 189 s –394 s, 1991.
2. Willett W.C and Mac Mahon B. Diet and Cancer. An Overview. New Engl. J. Med 3/0 (10): 633-638, 1984.
1. Wright L. C. et al: Elevated apoliprotein (a) levels in cancer patients. Int. J. Cancer 43: 241-244, 1989
17/10/2011 15:01
Download