EIXO TEMÁTICO 2: Estratégias, Materiais e Recursos Didáticos na Educação em Ciências e Biologia. MODALIDADE: COMUNICAÇÃO ORAL – CO.37 O USO DO GÊNERO TEXTUAL HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO ENSINO DE GENÉTICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Luiza Gabriela de Oliveira (PG)– Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas – ICEB. Campus Universitário - Morro do Cruzeiro, Ouro Preto, MG. E-mail: [email protected] Marco Antonio Melo Franco (PQ)– Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Rua do Seminário S/N, Centro, Mariana, MG. E-mail: [email protected] Resumo: Este artigo apresenta um recorte dos dados coletados através de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo investigar como a dinâmica das aulas, auxiliada pela introdução do gênero textual História em Quadrinhos, pode contribuir para a construção de conceitos sobre Genética com alunos do 9ᵒ ano do Ensino Fundamental. A metodologia do trabalho constou da elaboração e aplicação de um Almanaque contendo exemplares do gênero em questão. Os resultados parciais são relativos às respostas de uma das atividades do Almanaque e mostraram que a interpretação do texto contribuiu para a construção dos conceitos propostos uma vez que os alunos se apropriaram da linguagem científica e souberam utilizá-la com propriedade na interpretação dos fenômenos em estudo. Palavras-chave: Ensino de ciências, História em quadrinhos, Genética. 1 INTRODUÇÃO Este estudo aborda a utilização do gênero textual História em Quadrinhos no ensino de genética para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. O uso do gênero se deu, como uma alternativa ao trabalho com um conteúdo, visto como complexo por alunos e professores de Ciências. Esclarecemos que estaremos aqui apresentando apenas um recorte de um estudo mais amplo. É sabido que o estudo das teorias e conceitos científicos envolvidos no ensino de ciências pode ser, para os alunos, de difícil compreensão, devido a sua “complexidade e alto nível de abstração” (BRASIL, 1998, pág. 26). Isso ocorre, pois muitas vezes o seu entendimento não está diretamente vinculado ao cotidiano desses alunos. Assim a transmissão direta de conteúdos não deve surtir grandes efeitos na construção desses conhecimentos (BRASIL, 1998). Justina e Rippel (2003, p. 1) defendem a importância do estudo da genética através da sua problematização e aplicação na vida cotidiana dos discentes para que se promova o entendimento dos “mecanismos de ação de algumas doenças”, o que pode gerar uma maior significação desses conceitos para os alunos. A fim de minimizar a dificuldade no ensino e aprendizagem dos conceitos científicos, promovendo uma maior significação dos conceitos, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais indicam, como um dos objetivos do ensino de ciências, a utilização de diversas linguagens em sala de aula como: “verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal” (BRASIL, 1998, pág. 8). No âmbito das linguagens verbais, gráfica e plástica podemos incluir o gênero textual História em Quadrinhos uma vez que essa é uma arte sequencial, assim como o cinema, onde a mensagem (linguagem verbal) é veiculada através de textos e imagens ou somente imagens (linguagens gráfica e plástica) (FEIJÒ, 1997). Apesar de a leitura de quadrinhos ser preferência entre jovens brasileiros não é comum a valorização pelos professores desse gênero em sala de aula. Talvez por estes considerarem que as imagens e os textos, curtos e simples, simplificam a leitura, ou até mesmo que o gênero possui qualidade textual duvidosa (DIONISIO; BEZERRA; MACHADO, 2002). Para esses autores, a associação de imagens, com a narrativa quadrinística, pode ser um poderoso recurso didático que pode tornar conteúdos complexos mais acessíveis aos alunos. As palavras dos autores nos direcionam que a utilização desse gênero pode ser um recurso auxiliar no aprendizado de conceitos abstratos. Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo investigar se a introdução do gênero textual história em quadrinhos nas aulas de ciências de uma turma de 9º ano do ensino fundamental pode auxiliar os alunos na construção de conceitos científicos como: genótipo, fenótipo e fatores ambientais. 2 ENSINO DE GENÉTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL Os avanços observados nas pesquisas no campo da genética desde o início do século XX tornaram a temática conhecida por muitas pessoas, e o interesse e a curiosidade sobre essa ciência foi crescendo na medida em que os avanços científicos ocorriam. Porém, toda essa curiosidade não significou um domínio dos conhecimentos científicos envolvidos uma vez que muito do que foi, e ainda é, noticiado não condiz com a realidade ou mesmo com o que é cientificamente aceito. Diante disso, surge a necessidade de se preparar os cidadãos que, de posse dos conhecimentos científicos, pudessem compreender e opinar sobre o que é divulgado pela mídia (BARNI, 2010). Para Justina e Ripel (2003), entender os mecanismos genéticos se torna necessário, frente aos avanços científicos, para a não marginalização de cidadãos que não compreendem e não fazem uso dos conhecimentos acerca desse avanço. Essa marginalização torna vulneráveis grupos, que alheios ao conhecimento científico, ficam a mercê de falsas propagandas e argumentos parciais de pequenos grupos, detentores do conhecimento, que podem facilmente manipular os interesses e posições dos outros. Os conhecimentos sobre a composição, transmissão e expressão gênica podem proporcionar ainda ao cidadão bases para a compreensão das características genéticas humanas. Esse conhecimento pode ser importante para o estabelecimento do respeito e compreensão de suas características e as dos outros seres vivos. Esse conhecimento pode ser a base para o abandono de preconceitos como os raciais, étnicos e sexuais na medida em que o cidadão compreende que todos os seres humanos possuem as mesmas bases genéticas (BUGALLO, 1995; BARNI, 2010). Justina e Ripel (2003) afirmam que a base desses conhecimentos deveria ser oferecida pela escola, uma vez que, nela o aluno adquire uma nova forma de ver o mundo, através da visão da ciência, podendo compreender e atuar de forma consciente e crítica sobre os assuntos de natureza científica que estão diretamente ligados ao seu cotidiano. A compreensão dos conceitos envolvidos no estudo da de genética não é uma tarefa simples e a preocupação com a sua prática é tema recorrente em cursos de formação de professores, eventos e pesquisas. Professores de cursos de formação continuada em ensino de Biologia apontam como uma grande necessidade o desenvolvimento de pesquisas sobre o ensino e aprendizagem de genética devido a sua importância social, econômica e às dificuldades inerentes a sua prática (SCHEID e FERRARI, 2006). A dificuldade de se aprender genética pode estar relacionada diretamente a natureza desse conhecimento, ou seja, o fato de que seus conceitos escapam ao acesso sensorial direto, o cotidiano, dos alunos (CID e NETO, 2005). A compreensão da terminologia científica é outro problema no ensino de genética como apontado por Scheid e Ferrari (2006, p.17). Para os autores, os alunos não compreendem bem a terminologia científica e confundem diferentes conceitos configurando um “pseudo-saber” sobre o tema e que a utilização de práticas como a memorização e o ensino descontextualizado não favorecem a construção dos conhecimentos necessários à compreensão da genética. Barni (2010) argumenta que a compreensão de conceitos como material genético, herança, interações e alterações no material genético são temáticas essenciais, porém difíceis devido à grande abstração e à necessidade de compreensão de outros conceitos científicos relacionados. O autor aponta ainda que esses conceitos básicos não são bem compreendidos pelos estudantes o que dificulta a compreensão de outros, ainda mais complexos, tornando a aprendizagem sobre genética uma árdua tarefa. A autora aponta que muitos alunos mencionam que aprender genética é uma tarefa difícil, pois as aulas são pouco dinâmicas, cansativas, e que o professor usa somente o livro didático. Na visão dos alunos, essas práticas não favorecem a relação conceitual necessária ao entendimento da genética. Tais leituras indicam que uma mudança na forma como a genética é tratada por alunos e professores, possivelmente, passa por mudanças nas práticas em sala de aula. De fato, a natureza complexa e abstrata do conteúdo é imutável, por outro lado, a forma como professores e alunos se relacionam com esses conhecimentos pode ser modificada por meio de práticas pedagógicas que favoreçam uma relação mais ativa dos alunos. Nessa relação podemos incluir a introdução de novas formas de acesso ao conhecimento, como a introdução de diferentes gêneros textuais na sala de aula de ciências. Gêneros esses, que não somente os escolarizados, como os presentes nos livros didáticos. Essas estratégias podem ser aliadas na construção de conceitos científicos complexos como os pertinentes ao ensino de genética. Os PCN orientam a introdução de diferentes gêneros textuais na escola (BRASIL, 1998). O documento preconiza a necessidade de se desenvolver a leitura, a escrita e a oralidade, a partir de uma diversidade textual, tendo em vista que os alunos, cotidianamente, possuem contato com os mais diversos gêneros, que não somente aqueles normalmente praticados na escola. A escola como local de construção de conhecimento se torna essencial na imersão dos alunos em diferentes práticas de linguagem sejam elas escolares e/ ou sociais (BARBOSA E CAMPOS, 2012). Sob essa perspectiva da escolarização dos gêneros, Santos (2010) afirma que a escola tem o importante compromisso de desenvolver a linguagem por meio de diferentes gêneros textuais para que os alunos façam uso dela dentro e fora da escola. Os gêneros textuais se configuram em instrumentos de ensino uma vez que aproximam os alunos de sua língua, ao mesmo tempo em que articulam diferentes conteúdos. No caso dessa articulação no campo dos conhecimentos das Ciências Naturais, o trabalho com uma diversidade de gêneros pode contribuir para que o aluno possa “compreender a linguagem da Ciência, seu método de produção e seus limites” (BARBOSA E CAMPOS, 2012, p. 5). Se considerarmos que o ensino de ciências pressupõe o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e habilidades inerentes à compreensão e uso dos conhecimentos científicos, o acesso a diferentes gêneros pode fornecer ao aluno a possibilidade de estar em contato com diferentes linguagens e pontos de vista, podendo exercitar seu senso crítico à medida que desenvolve essas habilidades. Schneuwly e Dolz (1999) criticam as práticas escolares que não fazem uso de gêneros externos à escola, mas presentes no cotidiano dos alunos. Os chamados gêneros escolares, aqueles que são referências nos manuais e práticas escolares, muitas vezes não fazem parte das relações discursivas que os alunos praticam no seu cotidiano e a utilização destes gêneros fica restrita ao meio escolar. Por outro lado, gêneros com os quais os alunos se deparam diariamente não têm lugar na escola, como no caso desse trabalho o gênero História em Quadrinhos. Para Rama e Vergueiro (2009), a inclusão dos quadrinhos nas práticas pedagógicas não gera rejeição por parte dos alunos, muito pelo contrário, a sua utilização em sala de aula é motivadora e gera uma maior participação dos alunos na execução das atividades. A associação de imagens e textos auxilia o leitor, no caso o aluno, na interpretação da informação e compreensão de conceitos desenvolvidos em sala de aula (RAMA e VERGUEIRO, 2009). Essa associação desperta o interesse do leitor e a sua leitura pode ser considerada mais ampla, por exigir do seu leitor a decodificação da mensagem através de elementos gráficos e não somente textuais. Nos quadrinhos, a imagem e o texto se complementam onde a imagem dá um significado concreto à palavra. Essa relação, além de ser mais significativa ao seu leitor, satisfaz a necessidade da criança e do jovem na realização de atividades lúdicas e criativas (SANTOS, 2001). Outra perspectiva importante na qual os quadrinhos podem prestar uma contribuição diz respeito à ampliação do vocabulário dos alunos. É possível afirmar isso uma vez que esse gênero possui uma linguagem simples, de fácil entendimento. Além disso, apresentam expressões que representam aspectos da comunicação, muitas vezes, oral e que juntamente com as expressões faciais e gestuais, auxiliam na compreensão do texto verbal. No caso de histórias que abordam aspectos do conhecimento científico essa relação pode auxiliar o leitor na apropriação de novas palavras, como termos científicos, de forma natural (RAMA e VERGUEIRO, 2009). Por fim, com relação ao aproveitamento da leitura de quadrinhos e a faixa de escolarização de seus leitores, Rama e Vergueiro (2009) apontam uma característica fundamental dos alunos do ensino fundamental II, atuais 6º ao 9º ano, nos quais se incluem os enunciados dos alunos apresentados nesse relato de experiência. Para os autores, esses alunos possuem a característica de identificar detalhes das narrativas em quadrinhos e realizar uma associação entre eles e seu cotidiano (RAMA e VERGUEIRO, 2009). Essa característica pode ser apreciada em práticas pedagógicas que privilegiam o contexto sociocultural na aquisição de conhecimentos pelos alunos, práticas essas como a proposta da atividade apresentada nesse trabalho, que apresenta elementos comuns ao cotidiano dos alunos, como a comparação entre características fenotípicas entre irmãos e a influência dos hábitos alimentares nessas características. 3 CAMINHOS METODOLÓGICOS Durante a pesquisa acadêmica mais ampla, fonte do recorte apresentado nesse trabalho, foi desenvolvido um Almanaque contendo histórias em quadrinhos, tirinhas, charges e cartuns, extraídos de revistas, livros e sites da internet. A seleção dos conteúdos para a montagem do Almanaque seguiu como referência os conteúdos sugeridos pelos PCN (BRASIL, 1998) e o Currículo Básico Comum de Minas Gerais (CBC) (MINAS GERAIS, 2006) de Ciências Naturais para o 9º ano do Ensino Fundamental. Para cada história em quadrinhos apresentada, no Almanaque, foi proposta uma atividade de leitura e interpretação, resolução de questões, problemas ou produções de textos. As atividades desenvolvidas propunham despertar nos alunos o interesse pela temática, a apresentação de conceitos científicos e situações problema, através da leitura e exploração dos elementos textuais e gráficos de cada história em quadrinhos. Para a apresentação desse recorte dos dados selecionamos um episódio, o desenvolvimento de uma das atividades do Almanaque (Figura 1), relacionada aos conceitos de fenótipo, genótipo, fatores ambientais e a sua relação na definição de características físicas e estabelecimento de doenças. Cada aluno da turma recebeu um exemplar do Almanaque, a condução e orientação da realização das atividades foram realizadas pela professora de Ciências da turma. Ao iniciarmos o trabalho na sala de aula, primeiramente a professora leu com os alunos a tira (Figura 1) e explorou oralmente os conceitos científicos envolvidos utilizando as falas dos personagens. Durante a leitura do primeiro quadrinho, no qual um dos irmãos questiona porque eles têm características físicas tão diferentes se são irmãos, a professora explorou o conceito de fenótipo. No segundo quadrinho, o outro irmão responde que é a “Genética” uma vez que um pode herdar algumas características, no caso a altura, do pai e o outro da mãe (exploração do conceito de genótipo). No terceiro quadrinho, o irmão mais alto indaga “Então eu puxei o lado gordo da família, culpa...” buscando atribuir a sua característica física à herança genética, mas o irmão menor rebate a indagação dizendo que a culpa é de sua alimentação (exploração do conceito de fatores ambientais) e não da herança genética. Após a interpretação da tirinha, os alunos foram orientados e responderam às questões em casa. Em um segundo momento, a professora realizou a correção da atividade. O objetivo da questão “a” foi de levar aos alunos a refletirem sobre as características fenotípicas que são definidas pelo genótipo do indivíduo e dificilmente são alteradas por fatores ambientais. No caso da tira, esperava-se que os alunos respondessem que seria a altura, que o irmão menor herdou de sua mãe e provavelmente o maior herdou de seu pai. A seguir faremos uma análise dos enunciados, apresentados pelos alunos, nas respostas às questões da atividade. A partir das respostas dos alunos estabelecemos algumas categorias que nos ajudaram a agrupá-las. As categorias estabelecidas foram: a) Dentro dos padrões da linguagem científica; b) Aproxima dos padrões da linguagem cientifica, c) Dentro dos padrões do senso comum. Figura 1- Atividade do Almanaque Fonte: Tira Cômica: Tiago Valadão. Disponível em:< http://www.ottoeheitor.com/>. Acesso em: 10 de abril de 2014. Questões elaboradas pelos autores. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A questão “a”, “Qual das características dos irmãos é definida por genes e dificilmente é alterada por fatores ambientais? Explique:”, foi respondida por 24 alunos, as respostas foram agrupadas de acordo com as categorias apresentadas anteriormente e são apresentadas no quadro 1 a seguir: Quadro 1: Respostas dos alunos à questão “a” Categorias das Quantidade de Exemplos respostas alunos responderam Dentro dos padrões “A altura herdada pelos genes dos pais” 6 da linguagem científica Aproxima dos “O menino ser baixo, porque ele puxou da 12 padrões da mãe dele.” linguagem cientifica “É definida a altura dos irmãos, porque o garoto pode ser gordo, mas é porque o garoto come muito MacDonald’s.” Dentro dos padrões do senso comum 6 “A altura e o cabelo cacheado.” “Cada um puxou um lado da família, um gordo e o outro magro” “O DNA porque se eles são irmãos eles têm o mesmo DNA.” A questão “b”: “Qual delas pode também ser considerada hereditária, mas é fortemente influenciada pelos fatores ambientais? Explique:”, foi respondida por 22 alunos, as respostas foram agrupadas e são apresentadas no quadro 2 a seguir: Quadro 2: Respostas dos alunos à questão “b” Categorias das Quantidade de Exemplos respostas alunos responderam Dentro dos padrões “A obesidade que pode ser passada de 16 da linguagem geração em geração através dos genes, mas científica que pode ser também, consequência de uma alimentação não tão saudável.” Aproxima dos 0 padrões da linguagem cientifica Dentro dos padrões do senso comum 6 “A gordura de um dos irmãos. Isso não é consequência da hereditariedade, e sim do ambiente onde o menino vive.” “A obesidade que pode ser passada de geração em geração.” A questão “c”: “Você conhece mais alguma característica ou até mesmo uma doença que pode ser definida pela herança genética, mas que também é muito influenciada por fatores ambientais? Cite e explique:”, foi respondida por 27 alunos, as respostas foram agrupadas, como as anteriores, e são apresentadas no quadro 3 a seguir: Quadro 3: Respostas dos alunos à questão “c” Categorias das Quantidade de Exemplos respostas alunos responderam Dentro dos padrões “Pressão alta pode ser herdada ou causada 8 da linguagem por stress, ou a diabetes que também pode científica estar nos genes ou resultado de uma má alimentação.” Aproxima dos “Sim, diabetes pode ser influenciado pela 19 padrões da família ou pode ser excesso de açúcar no linguagem sangue e acabar a ter essa doença.” cientifica “Tipo de Cabelo, Hipertensão e Cor de pele.” Dentro dos padrões 0 do senso comum A exploração das ilustrações da atividade, próprias do gênero em estudo, auxiliaram os alunos na compreensão do que são as características fenotípicas e como os fatores ambientais interferem na sua manifestação. As respostas dos alunos mostram que eles interpretaram as imagens e não somente as falas dos personagens, como por exemplo, ao responderem que o tipo de cabelo, característica apresentada nas ilustrações e não nas falas, e a altura dos irmãos são características definidas por genes, em oposição ao peso de um dos irmãos que tem influência de seus hábitos de vida. A compreensão e utilização correta dos termos científicos: herança genética e genes, nas respostas à questão “a”, nos mostram que os alunos além de interpretarem a tira através dos conceitos científicos se apropriaram desta linguagem, evidenciando um movimento em direção à construção dos conceitos envolvidos. As respostas dadas a questão “b” evidenciam as concepções que os alunos têm sobre a influência da alimentação inadequada nas características fenotípicas das pessoas, e não somente a sua tendência hereditária em desenvolver ou não a obesidade. Nas respostas orais, durante a correção da questão “c”, os alunos apresentaram exemplos pessoais como “meu pai possui diabetes por isso minha nutricionista acompanha a minha alimentação para que eu não desenvolva a doença”, demonstrando como ocorreu a apropriação dos conceitos científicos trabalhados através da atividade e como os alunos utilizam esse conhecimento no entendimento do mecanismo de ocorrência de algumas doenças assim como apontado por Justina e Rippel (2003). Dentre as respostas dos alunos às questões obtivemos aquelas que se encaixam no padrão da linguagem científica, evidenciando o movimento em direção à construção dos conceitos trabalhados, mas também tivemos aquelas que se aproximaram dessa linguagem. A presença de respostas que se aproximam do discurso científico não é um problema como aponta Vygotsky (2005), uma vez que o uso do discurso de senso comum aliado ao discurso científico na construção do conhecimento científico é valorizado na teoria sócio cultural proposta por Vygotsky. Para o autor a compreensão dos conceitos científicos deve ter para o sujeito traços do seu pensamento espontâneo, uma vez que os não espontâneos não fazem parte da vida cotidiana deles e são construídos a partir de um esforço intelectual. As duas categorias de conceitos se relacionam na medida em que um influencia na compreensão do outro, portanto, nenhum dos dois deve ser desconsiderado na formação de um novo conceito (VYGOTSKY, 2005). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou analisar como a utilização do gênero textual história em quadrinhos pode ser uma ferramenta didática na construção e problematização de conceitos científicos que são muitas vezes tidos como de difícil ensino e aprendizagem. O gênero dos quadrinhos, ao utilizar uma linguagem cômica acrescida de elementos gráficos, ilustrações, pode tornar a leitura mais prazerosa e significativa. A partir da análise das respostas dos alunos podemos inferir que os resultados da realização da atividade proposta foram positivos uma vez que a dinâmica das aulas, auxiliada pela introdução do gênero textual história em quadrinhos, provocou um movimento em direção à construção dos conceitos de genótipo, fenótipo e fatores ambientais. A atividade auxiliou os alunos na compreensão da relação entre esses conceitos e alguns fenômenos observáveis em seu cotidiano, como a determinação e alteração de características físicas como altura, tipo de cabelo e doenças como obesidade e diabetes. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. C. CAMPOS, L. S. A Leitura nas aulas de Ciências Naturais e Biologia. IV SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO E PRÁXIS EDUCACIONAIS. Vitória da Conquista, Bahia, 2012. BARNI, G. S. 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