- SBEnBio

Propaganda
EIXO TEMÁTICO 2: Estratégias, Materiais e Recursos Didáticos na Educação em Ciências e Biologia.
MODALIDADE: COMUNICAÇÃO ORAL – CO.37
O USO DO GÊNERO TEXTUAL HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO ENSINO DE
GENÉTICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Luiza Gabriela de Oliveira (PG)– Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto
de Ciências Exatas e Biológicas – ICEB. Campus Universitário - Morro do Cruzeiro, Ouro
Preto, MG. E-mail: [email protected]
Marco Antonio Melo Franco (PQ)– Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto
de Ciências Humanas e Sociais. Rua do Seminário S/N, Centro, Mariana, MG. E-mail:
[email protected]
Resumo: Este artigo apresenta um recorte dos dados coletados através de uma pesquisa de
mestrado que teve como objetivo investigar como a dinâmica das aulas, auxiliada pela
introdução do gênero textual História em Quadrinhos, pode contribuir para a construção de
conceitos sobre Genética com alunos do 9ᵒ ano do Ensino Fundamental. A metodologia do
trabalho constou da elaboração e aplicação de um Almanaque contendo exemplares do gênero
em questão. Os resultados parciais são relativos às respostas de uma das atividades do
Almanaque e mostraram que a interpretação do texto contribuiu para a construção dos
conceitos propostos uma vez que os alunos se apropriaram da linguagem científica e
souberam utilizá-la com propriedade na interpretação dos fenômenos em estudo.
Palavras-chave: Ensino de ciências, História em quadrinhos, Genética.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo aborda a utilização do gênero textual História em Quadrinhos no ensino de
genética para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. O uso do gênero se deu, como uma
alternativa ao trabalho com um conteúdo, visto como complexo por alunos e professores de
Ciências. Esclarecemos que estaremos aqui apresentando apenas um recorte de um estudo
mais amplo.
É sabido que o estudo das teorias e conceitos científicos envolvidos no ensino de
ciências pode ser, para os alunos, de difícil compreensão, devido a sua “complexidade e alto
nível de abstração” (BRASIL, 1998, pág. 26). Isso ocorre, pois muitas vezes o seu
entendimento não está diretamente vinculado ao cotidiano desses alunos. Assim a transmissão
direta de conteúdos não deve surtir grandes efeitos na construção desses conhecimentos
(BRASIL, 1998).
Justina e Rippel (2003, p. 1) defendem a importância do estudo da genética através da
sua problematização e aplicação na vida cotidiana dos discentes para que se promova o
entendimento dos “mecanismos de ação de algumas doenças”, o que pode gerar uma maior
significação desses conceitos para os alunos.
A fim de minimizar a dificuldade no ensino e aprendizagem dos conceitos científicos,
promovendo uma maior significação dos conceitos, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) de Ciências Naturais indicam, como um dos objetivos do ensino de ciências, a
utilização de diversas linguagens em sala de aula como: “verbal, musical, matemática, gráfica,
plástica e corporal” (BRASIL, 1998, pág. 8). No âmbito das linguagens verbais, gráfica e
plástica podemos incluir o gênero textual História em Quadrinhos uma vez que essa é uma
arte sequencial, assim como o cinema, onde a mensagem (linguagem verbal) é veiculada
através de textos e imagens ou somente imagens (linguagens gráfica e plástica) (FEIJÒ,
1997).
Apesar de a leitura de quadrinhos ser preferência entre jovens brasileiros não é comum
a valorização pelos professores desse gênero em sala de aula. Talvez por estes considerarem
que as imagens e os textos, curtos e simples, simplificam a leitura, ou até mesmo que o gênero
possui qualidade textual duvidosa (DIONISIO; BEZERRA; MACHADO, 2002). Para esses
autores, a associação de imagens, com a narrativa quadrinística, pode ser um poderoso recurso
didático que pode tornar conteúdos complexos mais acessíveis aos alunos. As palavras dos
autores nos direcionam que a utilização desse gênero pode ser um recurso auxiliar no
aprendizado de conceitos abstratos. Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo
investigar se a introdução do gênero textual história em quadrinhos nas aulas de ciências de
uma turma de 9º ano do ensino fundamental pode auxiliar os alunos na construção de
conceitos científicos como: genótipo, fenótipo e fatores ambientais.
2 ENSINO DE GENÉTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Os avanços observados nas pesquisas no campo da genética desde o início do século
XX tornaram a temática conhecida por muitas pessoas, e o interesse e a curiosidade sobre essa
ciência foi crescendo na medida em que os avanços científicos ocorriam. Porém, toda essa
curiosidade não significou um domínio dos conhecimentos científicos envolvidos uma vez
que muito do que foi, e ainda é, noticiado não condiz com a realidade ou mesmo com o que é
cientificamente aceito. Diante disso, surge a necessidade de se preparar os cidadãos que, de
posse dos conhecimentos científicos, pudessem compreender e opinar sobre o que é divulgado
pela mídia (BARNI, 2010).
Para Justina e Ripel (2003), entender os mecanismos genéticos se torna necessário,
frente aos avanços científicos, para a não marginalização de cidadãos que não compreendem e
não fazem uso dos conhecimentos acerca desse avanço. Essa marginalização torna
vulneráveis grupos, que alheios ao conhecimento científico, ficam a mercê de falsas
propagandas e argumentos parciais de pequenos grupos, detentores do conhecimento, que
podem facilmente manipular os interesses e posições dos outros.
Os conhecimentos sobre a composição, transmissão e expressão gênica podem
proporcionar ainda ao cidadão bases para a compreensão das características genéticas
humanas. Esse conhecimento pode ser importante para o estabelecimento do respeito e
compreensão de suas características e as dos outros seres vivos. Esse conhecimento pode ser a
base para o abandono de preconceitos como os raciais, étnicos e sexuais na medida em que o
cidadão compreende que todos os seres humanos possuem as mesmas bases genéticas
(BUGALLO, 1995; BARNI, 2010).
Justina e Ripel (2003) afirmam que a base desses conhecimentos deveria ser oferecida
pela escola, uma vez que, nela o aluno adquire uma nova forma de ver o mundo, através da
visão da ciência, podendo compreender e atuar de forma consciente e crítica sobre os assuntos
de natureza científica que estão diretamente ligados ao seu cotidiano.
A compreensão dos conceitos envolvidos no estudo da de genética não é uma tarefa
simples e a preocupação com a sua prática é tema recorrente em cursos de formação de
professores, eventos e pesquisas. Professores de cursos de formação continuada em ensino de
Biologia apontam como uma grande necessidade o desenvolvimento de pesquisas sobre o
ensino e aprendizagem de genética devido a sua importância social, econômica e às
dificuldades inerentes a sua prática (SCHEID e FERRARI, 2006).
A dificuldade de se aprender genética pode estar relacionada diretamente a natureza
desse conhecimento, ou seja, o fato de que seus conceitos escapam ao acesso sensorial direto,
o cotidiano, dos alunos (CID e NETO, 2005). A compreensão da terminologia científica é
outro problema no ensino de genética como apontado por Scheid e Ferrari (2006, p.17). Para
os autores, os alunos não compreendem bem a terminologia científica e confundem diferentes
conceitos configurando um “pseudo-saber” sobre o tema e que a utilização de práticas como a
memorização e o ensino descontextualizado não favorecem a construção dos conhecimentos
necessários à compreensão da genética.
Barni (2010) argumenta que a compreensão de conceitos como material genético,
herança, interações e alterações no material genético são temáticas essenciais, porém difíceis
devido à grande abstração e à necessidade de compreensão de outros conceitos científicos
relacionados. O autor aponta ainda que esses conceitos básicos não são bem compreendidos
pelos estudantes o que dificulta a compreensão de outros, ainda mais complexos, tornando a
aprendizagem sobre genética uma árdua tarefa. A autora aponta que muitos alunos
mencionam que aprender genética é uma tarefa difícil, pois as aulas são pouco dinâmicas,
cansativas, e que o professor usa somente o livro didático. Na visão dos alunos, essas práticas
não favorecem a relação conceitual necessária ao entendimento da genética.
Tais leituras indicam que uma mudança na forma como a genética é tratada por alunos
e professores, possivelmente, passa por mudanças nas práticas em sala de aula. De fato, a
natureza complexa e abstrata do conteúdo é imutável, por outro lado, a forma como
professores e alunos se relacionam com esses conhecimentos pode ser modificada por meio
de práticas pedagógicas que favoreçam uma relação mais ativa dos alunos. Nessa relação
podemos incluir a introdução de novas formas de acesso ao conhecimento, como a introdução
de diferentes gêneros textuais na sala de aula de ciências. Gêneros esses, que não somente os
escolarizados, como os presentes nos livros didáticos. Essas estratégias podem ser aliadas na
construção de conceitos científicos complexos como os pertinentes ao ensino de genética.
Os PCN orientam a introdução de diferentes gêneros textuais na escola (BRASIL,
1998). O documento preconiza a necessidade de se desenvolver a leitura, a escrita e a
oralidade, a partir de uma diversidade textual, tendo em vista que os alunos, cotidianamente,
possuem contato com os mais diversos gêneros, que não somente aqueles normalmente
praticados na escola. A escola como local de construção de conhecimento se torna essencial
na imersão dos alunos em diferentes práticas de linguagem sejam elas escolares e/ ou sociais
(BARBOSA E CAMPOS, 2012). Sob essa perspectiva da escolarização dos gêneros, Santos
(2010) afirma que a escola tem o importante compromisso de desenvolver a linguagem por
meio de diferentes gêneros textuais para que os alunos façam uso dela dentro e fora da escola.
Os gêneros textuais se configuram em instrumentos de ensino uma vez que aproximam
os alunos de sua língua, ao mesmo tempo em que articulam diferentes conteúdos. No caso
dessa articulação no campo dos conhecimentos das Ciências Naturais, o trabalho com uma
diversidade de gêneros pode contribuir para que o aluno possa “compreender a linguagem da
Ciência, seu método de produção e seus limites” (BARBOSA E CAMPOS, 2012, p. 5). Se
considerarmos que o ensino de ciências pressupõe o desenvolvimento de conceitos,
procedimentos e habilidades inerentes à compreensão e uso dos conhecimentos científicos, o
acesso a diferentes gêneros pode fornecer ao aluno a possibilidade de estar em contato com
diferentes linguagens e pontos de vista, podendo exercitar seu senso crítico à medida que
desenvolve essas habilidades.
Schneuwly e Dolz (1999) criticam as práticas escolares que não fazem uso de gêneros
externos à escola, mas presentes no cotidiano dos alunos. Os chamados gêneros escolares,
aqueles que são referências nos manuais e práticas escolares, muitas vezes não fazem parte
das relações discursivas que os alunos praticam no seu cotidiano e a utilização destes gêneros
fica restrita ao meio escolar. Por outro lado, gêneros com os quais os alunos se deparam
diariamente não têm lugar na escola, como no caso desse trabalho o gênero História em
Quadrinhos. Para Rama e Vergueiro (2009), a inclusão dos quadrinhos nas práticas
pedagógicas não gera rejeição por parte dos alunos, muito pelo contrário, a sua utilização em
sala de aula é motivadora e gera uma maior participação dos alunos na execução das
atividades.
A associação de imagens e textos auxilia o leitor, no caso o aluno, na interpretação da
informação e compreensão de conceitos desenvolvidos em sala de aula (RAMA e
VERGUEIRO, 2009). Essa associação desperta o interesse do leitor e a sua leitura pode ser
considerada mais ampla, por exigir do seu leitor a decodificação da mensagem através de
elementos gráficos e não somente textuais. Nos quadrinhos, a imagem e o texto se
complementam onde a imagem dá um significado concreto à palavra. Essa relação, além de
ser mais significativa ao seu leitor, satisfaz a necessidade da criança e do jovem na realização
de atividades lúdicas e criativas (SANTOS, 2001).
Outra perspectiva importante na qual os quadrinhos podem prestar uma contribuição
diz respeito à ampliação do vocabulário dos alunos. É possível afirmar isso uma vez que esse
gênero possui uma linguagem simples, de fácil entendimento. Além disso, apresentam
expressões que representam aspectos da comunicação, muitas vezes, oral e que juntamente
com as expressões faciais e gestuais, auxiliam na compreensão do texto verbal. No caso de
histórias que abordam aspectos do conhecimento científico essa relação pode auxiliar o leitor
na apropriação de novas palavras, como termos científicos, de forma natural (RAMA e
VERGUEIRO, 2009).
Por fim, com relação ao aproveitamento da leitura de quadrinhos e a faixa de
escolarização de seus leitores, Rama e Vergueiro (2009) apontam uma característica
fundamental dos alunos do ensino fundamental II, atuais 6º ao 9º ano, nos quais se incluem os
enunciados dos alunos apresentados nesse relato de experiência. Para os autores, esses alunos
possuem a característica de identificar detalhes das narrativas em quadrinhos e realizar uma
associação entre eles e seu cotidiano (RAMA e VERGUEIRO, 2009). Essa característica pode
ser apreciada em práticas pedagógicas que privilegiam o contexto sociocultural na aquisição
de conhecimentos pelos alunos, práticas essas como a proposta da atividade apresentada nesse
trabalho, que apresenta elementos comuns ao cotidiano dos alunos, como a comparação entre
características fenotípicas entre irmãos e a influência dos hábitos alimentares nessas
características.
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
Durante a pesquisa acadêmica mais ampla, fonte do recorte apresentado nesse
trabalho, foi desenvolvido um Almanaque contendo histórias em quadrinhos, tirinhas, charges
e cartuns, extraídos de revistas, livros e sites da internet. A seleção dos conteúdos para a
montagem do Almanaque seguiu como referência os conteúdos sugeridos pelos PCN
(BRASIL, 1998) e o Currículo Básico Comum de Minas Gerais (CBC) (MINAS GERAIS,
2006) de Ciências Naturais para o 9º ano do Ensino Fundamental. Para cada história em
quadrinhos apresentada, no Almanaque, foi proposta uma atividade de leitura e interpretação,
resolução de questões, problemas ou produções de textos.
As atividades desenvolvidas propunham despertar nos alunos o interesse pela
temática, a apresentação de conceitos científicos e situações problema, através da leitura e
exploração dos elementos textuais e gráficos de cada história em quadrinhos. Para a
apresentação desse recorte dos dados selecionamos um episódio, o desenvolvimento de uma
das atividades do Almanaque (Figura 1), relacionada aos conceitos de fenótipo, genótipo,
fatores ambientais e a sua relação na definição de características físicas e estabelecimento de
doenças. Cada aluno da turma recebeu um exemplar do Almanaque, a condução e orientação
da realização das atividades foram realizadas pela professora de Ciências da turma.
Ao iniciarmos o trabalho na sala de aula, primeiramente a professora leu com os
alunos a tira (Figura 1) e explorou oralmente os conceitos científicos envolvidos utilizando as
falas dos personagens.
Durante a leitura do primeiro quadrinho, no qual um dos irmãos questiona porque eles
têm características físicas tão diferentes se são irmãos, a professora explorou o conceito de
fenótipo. No segundo quadrinho, o outro irmão responde que é a “Genética” uma vez que um
pode herdar algumas características, no caso a altura, do pai e o outro da mãe (exploração do
conceito de genótipo). No terceiro quadrinho, o irmão mais alto indaga “Então eu puxei o
lado gordo da família, culpa...” buscando atribuir a sua característica física à herança genética,
mas o irmão menor rebate a indagação dizendo que a culpa é de sua alimentação (exploração
do conceito de fatores ambientais) e não da herança genética. Após a interpretação da tirinha,
os alunos foram orientados e responderam às questões em casa.
Em um segundo momento, a professora realizou a correção da atividade. O objetivo da
questão “a” foi de levar aos alunos a refletirem sobre as características fenotípicas que são
definidas pelo genótipo do indivíduo e dificilmente são alteradas por fatores ambientais. No
caso da tira, esperava-se que os alunos respondessem que seria a altura, que o irmão menor
herdou de sua mãe e provavelmente o maior herdou de seu pai.
A seguir faremos uma análise dos enunciados, apresentados pelos alunos, nas
respostas às questões da atividade. A partir das respostas dos alunos estabelecemos algumas
categorias que nos ajudaram a agrupá-las. As categorias estabelecidas foram: a) Dentro dos
padrões da linguagem científica; b) Aproxima dos padrões da linguagem cientifica, c) Dentro
dos padrões do senso comum.
Figura 1- Atividade do Almanaque
Fonte: Tira Cômica: Tiago Valadão. Disponível em:< http://www.ottoeheitor.com/>. Acesso
em: 10 de abril de 2014. Questões elaboradas pelos autores.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A questão “a”, “Qual das características dos irmãos é definida por genes e dificilmente
é alterada por fatores ambientais? Explique:”, foi respondida por 24 alunos, as respostas
foram agrupadas de acordo com as categorias apresentadas anteriormente e são apresentadas
no quadro 1 a seguir:
Quadro 1: Respostas dos alunos à questão “a”
Categorias das
Quantidade de
Exemplos
respostas
alunos responderam
Dentro dos padrões
“A altura herdada pelos genes dos pais”
6
da linguagem
científica
Aproxima dos
“O menino ser baixo, porque ele puxou da
12
padrões da
mãe dele.”
linguagem
cientifica
“É definida a altura dos irmãos, porque o
garoto pode ser gordo, mas é porque o
garoto come muito MacDonald’s.”
Dentro dos padrões
do senso comum
6
“A altura e o cabelo cacheado.”
“Cada um puxou um lado da família, um
gordo e o outro magro”
“O DNA porque se eles são irmãos eles têm
o mesmo DNA.”
A questão “b”: “Qual delas pode também ser considerada hereditária, mas é
fortemente influenciada pelos fatores ambientais? Explique:”, foi respondida por 22 alunos, as
respostas foram agrupadas e são apresentadas no quadro 2 a seguir:
Quadro 2: Respostas dos alunos à questão “b”
Categorias das
Quantidade de
Exemplos
respostas
alunos responderam
Dentro dos padrões
“A obesidade que pode ser passada de
16
da linguagem
geração em geração através dos genes, mas
científica
que pode ser também, consequência de uma
alimentação não tão saudável.”
Aproxima dos
0
padrões da
linguagem
cientifica
Dentro dos padrões
do senso comum
6
“A gordura de um dos irmãos. Isso não é
consequência da hereditariedade, e sim do
ambiente onde o menino vive.”
“A obesidade que pode ser passada de
geração em geração.”
A questão “c”: “Você conhece mais alguma característica ou até mesmo uma doença
que pode ser definida pela herança genética, mas que também é muito influenciada por fatores
ambientais? Cite e explique:”, foi respondida por 27 alunos, as respostas foram agrupadas,
como as anteriores, e são apresentadas no quadro 3 a seguir:
Quadro 3: Respostas dos alunos à questão “c”
Categorias das
Quantidade de
Exemplos
respostas
alunos responderam
Dentro dos padrões
“Pressão alta pode ser herdada ou causada
8
da linguagem
por stress, ou a diabetes que também pode
científica
estar nos genes ou resultado de uma má
alimentação.”
Aproxima dos
“Sim, diabetes pode ser influenciado pela
19
padrões da
família ou pode ser excesso de açúcar no
linguagem
sangue e acabar a ter essa doença.”
cientifica
“Tipo de Cabelo, Hipertensão e Cor de
pele.”
Dentro dos padrões
0
do senso comum
A exploração das ilustrações da atividade, próprias do gênero em estudo, auxiliaram os
alunos na compreensão do que são as características fenotípicas e como os fatores ambientais
interferem na sua manifestação. As respostas dos alunos mostram que eles interpretaram as
imagens e não somente as falas dos personagens, como por exemplo, ao responderem que o
tipo de cabelo, característica apresentada nas ilustrações e não nas falas, e a altura dos irmãos
são características definidas por genes, em oposição ao peso de um dos irmãos que tem
influência de seus hábitos de vida. A compreensão e utilização correta dos termos científicos:
herança genética e genes, nas respostas à questão “a”, nos mostram que os alunos além de
interpretarem a tira através dos conceitos científicos se apropriaram desta linguagem,
evidenciando um movimento em direção à construção dos conceitos envolvidos.
As respostas dadas a questão “b” evidenciam as concepções que os alunos têm sobre a
influência da alimentação inadequada nas características fenotípicas das pessoas, e não
somente a sua tendência hereditária em desenvolver ou não a obesidade. Nas respostas orais,
durante a correção da questão “c”, os alunos apresentaram exemplos pessoais como “meu pai
possui diabetes por isso minha nutricionista acompanha a minha alimentação para que eu não
desenvolva a doença”, demonstrando como ocorreu a apropriação dos conceitos científicos
trabalhados através da atividade e como os alunos utilizam esse conhecimento no
entendimento do mecanismo de ocorrência de algumas doenças assim como apontado por
Justina e Rippel (2003).
Dentre as respostas dos alunos às questões obtivemos aquelas que se encaixam no
padrão da linguagem científica, evidenciando o movimento em direção à construção dos
conceitos trabalhados, mas também tivemos aquelas que se aproximaram dessa linguagem. A
presença de respostas que se aproximam do discurso científico não é um problema como
aponta Vygotsky (2005), uma vez que o uso do discurso de senso comum aliado ao discurso
científico na construção do conhecimento científico é valorizado na teoria sócio cultural
proposta por Vygotsky. Para o autor a compreensão dos conceitos científicos deve ter para o
sujeito traços do seu pensamento espontâneo, uma vez que os não espontâneos não fazem
parte da vida cotidiana deles e são construídos a partir de um esforço intelectual. As duas
categorias de conceitos se relacionam na medida em que um influencia na compreensão do
outro, portanto, nenhum dos dois deve ser desconsiderado na formação de um novo conceito
(VYGOTSKY, 2005).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou analisar como a utilização do gênero textual história em
quadrinhos pode ser uma ferramenta didática na construção e problematização de conceitos
científicos que são muitas vezes tidos como de difícil ensino e aprendizagem. O gênero dos
quadrinhos, ao utilizar uma linguagem cômica acrescida de elementos gráficos, ilustrações,
pode tornar a leitura mais prazerosa e significativa.
A partir da análise das respostas dos alunos podemos inferir que os resultados da
realização da atividade proposta foram positivos uma vez que a dinâmica das aulas, auxiliada
pela introdução do gênero textual história em quadrinhos, provocou um movimento em
direção à construção dos conceitos de genótipo, fenótipo e fatores ambientais. A atividade
auxiliou os alunos na compreensão da relação entre esses conceitos e alguns fenômenos
observáveis em seu cotidiano, como a determinação e alteração de características físicas como
altura, tipo de cabelo e doenças como obesidade e diabetes.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, R. C. CAMPOS, L. S. A Leitura nas aulas de Ciências Naturais e Biologia. IV
SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO E PRÁXIS EDUCACIONAIS. Vitória
da Conquista, Bahia, 2012.
BARNI, G. S. A Importância e o sentido de estudar Genética para estudantes do terceiro
ano do Ensino Médio em uma escola da rede Estadual de ensino em Gaspar (SC).
Dissertação (Mestrado) Universidade Regional de Blumenau – FURB. Blumenau, SC, 2010.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências
Naturais. Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998.
BUGALLO, R. A.. La Didáctica de La Genética: revision bibliográfica. Enseñanza de las
Ciencias, v.13, n.3, p.379-385, 1995.
CID, M. e NETO, A. J. Dificuldades de Aprendizagem e Conhecimento Pedagógico do
Conteúdo: o Caso da Genética. Enseñanza de las Ciencias, número extra. VII Congreso,
2005.
DIONISIO, A. P.; BEZERRA, M. A.; MACHADO, A. R. (Org.). Gêneros textuais e Ensino.
2. ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002. v. 1. 229p.
FEIJÓ, M. Quadrinhos em ação- Um século de história. Editora Moderna, 1 ed. 79 p. São
Paulo, 1997.
JUSTINA, L.A.D., RIPEL, J. L. Ensino de Genética: Representações da Ciência da
Hereditariedade no Nível Médio. In: IV ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 2003, BAURU. Atas do Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação em Ciências. Bauru: ABRAPEC, 2003.
MINAS GERAIS. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. Conteúdo Básico
Comum. Educação Básica - Ensino Fundamental (5ª a 8a séries). Belo Horizonte, MG,
2006.
RAMA, Â.; VERGUEIRO, W. (orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de
aula. 3. ed. 3ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009.
SANTOS, R. E. Aplicações da História em Quadrinhos. Comunicação & Educação, São
Paulo, (22): 46 a 51, set./dez. 2001
SANTOS, R. M. A. S. Os Gêneros Textuais como ferramenta didática para o ensino da
linguagem. Recife, PE. 2010. Dissertação (Mestrado)- Universidade Católica de Pernambuco.
SCHEID, N. M. J.; FERRARI, N. A história da ciência como aliada no ensino de
genética. Genética na Escola, Ribeirão Preto, v. 1, n. 1, p. 17-18, 2006.
SCHNEUWLY, B. DOLZ, J. Os gêneros escolares Das práticas de linguagem aos objetos de
ensino. Tradução de Glaís Sales Cordeiro. Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago
1999.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Download