hidrografia - EAD Unimontes

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Eliane Ferreira Campos Vieira
Sandra Célia Muniz Magalhães
HIDROGRAFIA
GEOGRAFIA
4º PERÍODO
Eliane Ferreira Campos Vieira
Sandra Célia Muniz Magalhães
HIDROGRAFIA
Montes Claros - MG, 2010
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
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Ficha Catalográfica:
2010
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Coordenadora do Curso de Geografia a Distância
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AUTORAS
Eliane Ferreira Campos Vieira
Departamento de Geociências da Unimontes. Mestre em Geografia,
com ênfase em Análise Ambiental - UFMG. Especialista em
Geoprocessamento - UFMG
Sandra Célia Muniz Magalhães
Departamento de Geociências da Unimontes. Doutoranda em
Geografia - UFU. Mestre em Geografia - PUC/SP. Especialista em
Docência do Ensino Superior – Instituto Santo Agostinho. Especialista
em Gerenciamento de Recursos Hídricos – UFBA
SUMÁRIO
DA DISCIPLINA
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Unidade I: Á água no planeta Terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Hidrografia: ciências e aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 A água e suas múltiplas dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 A água no planeta terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4 As principais propriedades da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.5 O ciclo hidrológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.7 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade II: Os rios e as bacias hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Geomorfologia fluvial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 Bacia de drenagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Unidade III: Sistemas lacustres e águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . 47
3.1 Sistemas lacustres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 Águas Subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.4 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Unidade IV: Gestão de recursos hídricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.1 Conceitos de gestão de recursos hídricos. . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.2 Princípios básicos da gestão de recursos hídricos . . . . . . . . . . 67
4.3 Usos da água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.4 Arcabouço legal e institucional na gestão de recursos hídricos 71
4.5 Classificação das águas quanto à destinação . . . . . . . . . . . . . 76
4.6 O meio ambiente e os recursos hídricos . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.7 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.8 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . . 93
Atividades de Aprendizagem – AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
APRESENTAÇÃO
Bem-vindos à Disciplina Hidrografia!
A Hidrografia é um ramo da Geografia que se propõe estudar a
distribuição das águas no planeta Terra, abrangendo, portanto, rios, mares,
oceanos, lagos, geleiras, água do subsolo e da atmosfera.
Nesta disciplina vamos abordar conceitos relacionados ao bem
mais precioso e importante para a manutenção da vida no planeta Terra: a
água. Entendemos que os conhecimentos aqui compartilhados são de
extrema importância para a sociedade atual, pois em todas as atividades
humanas, tais como abastecimento humano, dessedentação animal,
indústria, irrigação, geração de energia, transporte, recreação, entre outras,
a água é um elemento essencial.
Nas últimas décadas, vêm ocorrendo diversas transformações no
meio ambiente que impõem à sociedade desafios até então desconhecidos.
Os recursos naturais de uso comum se apresentam com suas
disponibilidades ameaçadas pela escassez ou pela deterioração da sua
qualidade. No que se refere à água, observa-se uma situação preocupante.
Para o acadêmico de Geografia, os conhecimentos fundamentais
de Hidrografia apresentados nesta disciplina são muito importantes e
relevantes para toda a sua formação. Por quê?
Hoje, os danos ambientais causados pelo aumento da população
associado ao modelo econômico vigente implicam em escassez de recursos
naturais e poluição ambiental. Em função disso, há uma deterioração da
qualidade da água, fazendo com que a discussão sobre sua preservação
esteja na ordem do dia. Por isso, consideramos importante que o licenciado
em Geografia esteja munido dos conhecimentos básicos que possam
impulsionar atitudes positivas em relação ao cuidado com a água, pois,
como sabemos, é um recurso de disponibilidade restrita.
Ao elaborar esse material, buscamos incentivar você a desenvolver
noções básicas sobre a importância da água como elemento fundamental
para a vida, entre elas a humana. A água tem um papel singular, por
exemplo, em Geomorfologia, pois desagrega, transporta e deposita as
partículas de materiais alterando a paisagem, num sistema dinâmico.
Ao escrever, gostaríamos que você percebesse que em nossas ações
cotidianas podemos contribuir negativa ou positivamente para a melhoria da
qualidade ambiental e, mais especificamente, da água. Neste contexto,
desejamos que você encontre subsídios para uma reflexão sobre a
07
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
problemática da água e busque participar ativamente dos movimentos e
discussões em prol da manutenção da quantidade e qualidade da água.
A disciplina tem como objetivos:
Geral: analisar a distribuição e a disponibilidade dos recursos
hídricos em várias regiões do planeta Terra e refletir sobre a importância do
seu uso racional, bem como dos instrumentos de gestão.
Específicos:
?
Discutir a disponibilidade de água no planeta Terra, as principais
propriedades da água e a dinâmica do ciclo hidrológico;
?
Enfatizar a importância da bacia hidrográfica como unidade
fundamental de gestão dos recursos hídricos; os efeitos dos fatores que
influenciam no funcionamento da bacia hidrográfica;
?
Apresentar conceitos relativos às águas superficiais e às águas
subterrâneas;
?
Apresentar a política nacional de recursos hídricos e discutir os
principais instrumentos e instâncias para o gerenciamento desses recursos;
?
Abordar os principais impactos ambientais relacionados aos
recursos hídricos na atualidade.
Em cada Unidade, inserimos alguns trechos da declaração universal
dos direitos da água. A declaração na íntegra pode ser consultada no site:
http://www.ambientebrasil.com.br ou nos sites de busca na web. Esta
declaração deve ser lida e relida para que sempre nos lembremos sobre a
responsabilidade individual quanto à água.
Essa disciplina compreende um total de 75 h/a. A ementa da
disciplina é a seguinte: Hidrografia: Ciência e aplicação. A água no planeta
Terra; o ciclo hidrológico; a bacia de drenagem; sistemas lacustres; geomorfologia fluvial; águas subterrâneas; gestão dos recursos hídricos; o meio
ambiente e os recursos hídricos.
Para contemplar a ementa, optamos por distribuir o conteúdo em
quatro unidades. Cada unidade está dividida em tópicos ou subunidades.
Na Unidade 1, intitulada “A água no planeta Terra”, discutimos a hidrografia
como ciência, a distribuição irregular e restrita da água no planeta, a
importância da água para as necessidades humanas, as propriedades da
água e a dinâmica do ciclo hidrológico.
Na Unidade 2, denominada “Os rios e as bacias hidrográficas”, são
apresentados conhecimentos teóricos sobre Geomorfologia Fluvial e Bacias
de drenagem. Nestes tópicos, abordamos questões relativas aos rios como
um agente integrante e modelador da paisagem e a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento.
Na Unidade 3, intitulada “Sistemas Lacustres e águas subterrâneas”,
discutimos conceitos relativos aos diversos tipos de lagos e àquela porção de
água que nem sempre vemos, mas que é o suporte para a água da qual
dependemos, a água subterrânea.
08
Hidrografia
UAB/Unimontes
Na Unidade 4, denominada “Gestão de recursos hídricos”,
apresentamos os conceitos de gestão bem como seus principais instrumentos. No tópico “Meio ambiente e recursos hídricos”, abordamos os principais
impactos ambientais relacionados aos recursos hídricos na atualidade.
Em cada unidade, aparecem algumas dicas de estudo e sugestões
para acessar bibliotecas virtuais na web, bem como hipertextos que deverão
ser lidos e que comporão a base para a realização das atividades. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os seguintes
ícones:
PARA REFLETIR
DICAS
B GC
ATIVIDADES
GLOSSÁRIO
E
A
F
Para finalizar, deixamos as palavras de um amante da natureza, na
esperança que um dia possamos enxergar a água, bem como todos os
elementos da natureza, com a mesma sensibilidade do autor:
“Enquanto meu pai, meu avô, meus
primos olham aquela montanha e
vêem o humor da montanha e
vêem se ela está triste, feliz ou
ameaçadora, e fazem cerimônia
para a montanha, cantam para ela,
cantam para o rio (...), o cientista olha
o rio e calcula quantos megawatts
ele vai produzir construindo uma
hidrelétrica, uma barragem (...) Ali
não tem música, a montanha não
tem humor, e o rio não tem nome. É
tudo coisa.”
AILTON KRENAK
Bons estudos!
As autoras.
09
1
UNIDADE 1
A ÁGUA NO PLANETA TERRA
“No lombo de pedra da cachoeira claraas águas se
ensaboamantes de saltar. E lá embaixo, piratingas, pacus e
dourados dão pulos de prata, de ouro e de cobre,querendo
voltar, com medo do poçoda quarta volta do rio,largo,
tranqüilo, tão chato e brilhante,deitado a meio botecomo
uma boipeva branca.”
Os versos acima são um trecho do poema “O Caboclo d'Água”, de
João Guimarães Rosa. Nessas palavras, podemos refletir sobre as diferentes
dimensões da água: é importante para a vida, tem um significado espiritual,
determinou o desenvolvimento de civilizações ao longo da história. Enfim, a
água é objeto de estudo das mais diversas áreas.
A Hidrografia, especificamente, se interessa pela distribuição das
águas na Terra, seja em forma de rios, lagos, oceanos, mares ou águas subterrâneas.
Nesta Unidade, os objetivos são:
?
Compreender que a água é um recurso de disponibilidade
restrita no planeta Terra;
?
Refletir sobre as múltiplas dimensões da água para o ser huma-
no;
?
Analisar as principais propriedades da água;
?
Compreender a dinâmica do ciclo hidrológico;
?
Entender as consequências das alterações do ciclo hidrológico
na escala local e global.
Ao final da unidade, é importante ter uma visão geral sobre a
dinâmica da água, suas características, bem como sua disponibilidade no
mundo e no Brasil. Sendo assim, esta Unidade está dividida nos seguintes
tópicos:
1.1 Hidrografia: ciências e aplicações
1.2 A água e suas múltiplas dimensões
1.3 A água no planeta terra
1.4 As principais propriedades da água
1.5 O ciclo hidrológico
E lembre-se: “Pela sede, aprende-se a água”. (Emily Dickinson)
Bons Estudos!
11
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
1.1 HIDROGRAFIA: CIÊNCIAS E APLICAÇÃO
“A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada
cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos”.
Declaração Universal dos Direitos da Água
Ao se estudar a água em seus diferentes contextos, muitas vezes
confunde-se ou aborda-se como sendo semelhantes os termos Hidrologia e
Hidrografia. Dessa forma, é importante diferenciar essas duas áreas do
conhecimento que têm um objeto de estudo em comum: a água.
A Hidrologia é definida como a ciência que trata da água na Terra,
sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua reação com o meio ambiente, incluindo sua relação com as formas
vivas (Chow, citado por TUCCI, 2002). É uma ciência muito ampla, que
abrange grande parte do conhecimento humano. A Hidrologia pode ser
subdividia em diferentes áreas, tais como Hidrometeorologia (é a parte da
ciência que trata da água na atmosfera); Limnologia (refere-se ao estudo dos
lagos e reservatórios); Potamologia (trata do estudo dos arroios - pequenos
cursos d'águas e rios); Glaciologia (área da ciência relacionada com a neve e
o gelo na natureza); Hidrogeologia (aprofunda-se no estudo das águas
subterrâneas).
A Hidrografia, por sua vez, é a ciência que pesquisa e mapeia todas
as águas do planeta Terra. Pode ser entendida como uma ciência que trata da
descrição e da medida de todas as extensões de água na terra (oceanos,
mares, rios, lagos, reservatórios, etc.), sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades (físicas e químicas) e seus efeitos sobre o meio
ambiente e a vida.
Neste contexto, o estudo da hidrografia é fundamental para identificarmos os componentes naturais e antropogênicos relacionados à água.
Este conhecimento é imprescindível para qualquer intervenção que vise à
manutenção da qualidade ambiental.
1.2 A ÁGUA E SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES
A água é um recurso fundamental para a existência da vida. A vida
desde os seus primórdios surgiu na água. Muitas formas de vida existem até
hoje nas profundezas dos oceanos, onde a luz nunca chegou. Sendo assim, a
água é condição fundamental para a existência de todos os seres vivos.
O que dizer da importância da água para a vida humana? Água é
um bem imprescindível à vida do homem. É importante não apenas do
ponto de vista da sobrevivência física, como também pode envolver todo
um significado cultural. Leia o texto a seguir sobre as necessidades humanas
de água.
12
Hidrografia
UAB/Unimontes
Texto complementar 1: As necessidades humanas de água
As necessidades humanas de água são complexas e representam em primeiro lugar uma demanda fisiológica. Cerca de 60% a 70% do
peso de um ser humano, em média, é constituído por molécula de água.
Uma pessoa com 100 kg tem, portanto, entre 60 e 70 kg de água em seu
corpo, considerando-se 1 litro de água = 1kg de peso. Em níveis bioquímico e celular, há necessidade de água para atuar como solvente e para o
funcionamento do organismo. O consumo médio diário de uma pessoa
com 90 kg é de cerca de 3 litros, obtidos sob a forma de água, outras
bebidas ou alimentação. Em uma pessoa sadia, há um estado de equilíbrio entre a água ingerida sob diversas formas e a água eliminada sob a
forma de urina (53%), evaporação da pele e pulmões (42%) e nas fezes
(5%). A água também é utilizada na preparação de alimentos e cozimento, no banho, toalete e lavagem em geral, e muitos usos dependem da
cultura, local, regional ou nacional. O suprimento de água para as casas
pode ser considerado uma “produção reprodutiva” porque permite a
reprodução da espécie humana e, portanto, a sobrevivência da espécie.
Em muitos países, água também é utilizada em atividades religiosas,
portanto, parte do volume das águas de rios, lagos ou represas é utilizada
em atividades sagradas que são produto de culturas milenares; por
exemplo, casamentos coletivos as margens do Rio Ganges (FIG. 1), na
Índia, podem agregar uma multidão composta de 1 milhão de pessoas.
Adaptado de: TUNDISI, José Galizia. Água no Século XXI:
entendendo a escassez. São Paulo: Rima, IIE, 2003, p. 4.
Figura 1: Rio Ganges, na Índia
Fonte: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br
/espiritismo/artigo1457.html.
13
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Muitas civilizações antigas se desenvolveram ao longo de cursos
d´água e em algumas delas, como o Egito, um rio que era muito mais que um
curso d´água, determinava a ruína ou a vitória de um povo, como mostra o
texto no quadro a seguir.
Texto complementar 2: A dádiva do Nilo
“Até a construção da primeira barragem de Assuão, no início deste
século, todos os anos o Egito sofria uma inundação. Na época das
grandes chuvas, as águas do Nilo Azul carregavam-se de lodo nos
planaltos da Etiópia. Alguns meses mais tarde, nos finais de junho, estas
águas alcançavam o Egito. Quando, em setembro, a enchente atingia a
sua cota máxima, todo o vale se transformava num imenso lago de onde
emergiam apenas as aldeias, construídas sobre colinas e onde somente
de barco se podia circular. Ao baixarem, as águas deixavam na terra uma
camada de lodo fértil. Nesta região de clima seco, a vida dependia assim
da cheia, da sua regularidade e do seu nível. Sendo demasiado reduzida,
nem todas as terras podiam ser irrigadas, sendo demasiado forte, diques
e habitações corriam o risco de serem destruídos. A expectativa deste
acontecimento era plena de angústia. Já desde o Império Antigo o Estado
registrava o nível de cada cheia no intuito de prever a importância da
colheita e de determinar a base do imposto. No caso de um bom ano
agrícola, constituíam-se reservas de cereais na perspectiva dos anos de
fraca produção; mas, se pelo contrário, o Nilo se mostrava caprichoso
vários anos consecutivos, o país corria para a ruína”.
Adaptado de: NOVION, Hubert de. Sarkarah na Terra das Pirâmides. IN:
As grandes civilizações desaparecidas. Portugal: Seleções do Reader´s
Digest, 1981, pagina 22.
A água também representa um elemento bastante lúdico e tem um
significado cultural. A utilização do meio aquático data desde a pré-história
em que já se utilizava do ambiente aquático com muita frequência. Há
relatos históricos que há cerca de cinco mil anos, na Índia, já existiam
piscinas de água quente, nas quais figuras assírias de baixo relevo mostravam
estilos rudimentares de natação (TAHARA et al, 2006).
Em 460-375 a.C., Hipócrates usava água no tratamento de doenças
e os romanos utilizavam os banhos com finalidades recreacionais e curativas
(TAHARA et al., 2006). Além disso, a água é considerada como purificadora
na maioria das religiões, incluindo o Hinduísmo, Cristianismo, Judaísmo,
Islamismo, Xintoísmo e Wicca. O exemplo do batismo nas igrejas cristãs é
praticado com água, simbolizando o nascimento de um novo ser, purificado
com remissão dos pecados. Ainda no campo espiritual, verifica-se que são
muitas as lendas e crendices associadas à água.
14
Hidrografia
UAB/Unimontes
A água é um elemento fundamental na diferenciação dos climas em
todas as escalas, seja no clima global, em climas regionais ou microclimas: é
o fator água que determina o clima. A água é também um agente geomorfológico, ou seja, atua no ambiente transformando a paisagem através da
desagregação e transporte de partículas, estando envolvida nos processos de
deslizamentos, avalanches e outros movimentos que ocorrem nas vertentes.
1.3 A ÁGUA NO PLANETA TERRA
“A Terra é azul”. Esta frase célebre é atribuída a Yuri Gagarin, cosmonauta soviético, que em 1961, realizou a primeira viagem do homem ao
espaço. De lá do alto, estima-se que seja nítida a ocupação de 70% da
superfície do Planeta Terra pelas águas dos oceanos. Mas como teria surgido
tanta água no planeta?
Figura 2: A Terra é Azul
Fonte: http://hangover80.files.wordpress.com/2009/11/terra.jpg
O planeta Terra, atualmente é constituído por diversas esferas: a
hidrosfera, a litosfera e a atmosfera. A camada de água na Terra é chamada
de Hidrosfera, como se pode visualizar na FIG. 3.
A teoria mais aceita sobre a origem da Terra é aquela conhecida
como Teoria do Big Bang, segundo a qual a Terra seria uma bola incandescente proveniente da explosão de uma massa maior que, com o tempo, foi
se resfriando lentamente. À medida que resfriava, alguns gases eram liberados de seu interior como amônia, hidrogênio, metano e, junto com eles,
vapor d'água. A água evaporada, quando encontrava as camadas mais frias
da atmosfera, transformava-se em chuvas torrenciais. Num certo momento,
a água das chuvas passa a não retornar mais à atmosfera em forma de vapor e
passa, agora, em estado líquido, a escorrer pelas elevações, e a acumular-se
nas depressões da crosta terrestre. Essa água que se acumulou formaria os
15
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
lagos, os rios, os mares e os oceanos e assim, possivelmente, formou-se a
hidrosfera primitiva, de constituição diferente da atual.
Energia
Atmosfera
Hidrosfera
Energia
Biosfera
Energia
Lisofera
Energia
Figura 3: Esquema dos grandes conjuntos
do mundo natural e a interação entre as
diferentes esferas terrestres.
Fonte: Drew, 1989, p. 27.
Apesar de ser abundante em água, o planeta Terra é palco de
conflitos por esse elemento fundamental. A distribuição de água no planeta
é bastante irregular, como se observa nos gráficos da FIG. 4:
Distribuição da água no planeta Terra
b) Água doce
a) Total de água na Terra
Figura 4: Distribuição de água no planeta Terra.
Fonte: Adaptado a partir de Tundisi, 2003, p. 7.
Apesar da abundância de água no Planeta Terra, a água acessível ao
consumo humano direto, conforme Waldman (2002, p.3), é uma fração
mínima da existente no mundo que “[...] apresenta os pré-requisitos limnológicos considerados indissociáveis da potabilidade: a água como um
líquido puro, insípido, inodoro, incolor”. Como pode ser observado nos
gráficos A e B da FIG. 4, 97,5% das águas do planeta constituem-se em águas
dos mares, oceanos e lagoas salgados, impróprias para consumo humano
direto. Apenas 2,5% das águas correspondem a águas doces e desta porcentagem 68,9% constituem-se em águas das calotas polares, geleiras e neves;
29,9% formam as águas do subsolo e 0,9% compõem as águas salobras dos
pântanos e congeladas no subsolo. Assim, percebemos que a água doce em
estado livre na natureza é de apenas 0, 0002% do volume total mundial.
Outro fato que deve ser levado em consideração no que diz respeito à água é sua má distribuição, pois poucos países encontram-se em situa-
16
Hidrografia
UAB/Unimontes
ção privilegiada em relação a esse recurso, como é o caso do Brasil, Rússia,
Estados Unidos, Canadá, China, Índia, Indonésia, Colômbia, Peru, República Democrática do Congo e Papua Nova Guiné, conforme se vê no mapa da
FIG. 5.
Figura 5: Distribuição das disponibilidades de água por país.
Fonte: Rebouças, Braga, Tundisi, 2002, p. 17.
Os demais países do mundo passam por sérios problemas de
escassez quantitativa ou qualitativa das suas águas (WALDMAN, 2002).
Podemos verificar que são poucos os países com disponibilidade hídrica
muito alta, enquanto grande parte encontra-se situada em regiões onde
ocorre baixa ou catastroficamente baixa a disponibilidade de água. A tabela
a seguir mostra os onze países mais pobres de água no mundo.
Tabela 1: Os onze países mais pobres de água no mundo
País
Disponibilidade m 3 /hab/ano
Kuwait
Praticamente nula
Malta
40
Quatar
54
Faixa de Gaza
59
Bahamas
75
Arábia Saudita
105
Líbia
111
Bahrain
185
Jordânia
185
Singapura
211
União dos Emir ados Árabes
279
Fonte: Rebouças, Braga e Tundisi, 2002, p . 19.
O Brasil possui uma das maiores reservas de água doce do planeta,
encontrando-se numa situação privilegiada quanto a esse recurso. Apesar
disso, esta água não se apresenta uniformemente distribuída, pois 80%
concentram-se na Amazônia, onde vivem apenas 5% da população brasileira. O restante é dividido para os demais habitantes do território nacional
(MAGALHÃES, 2009).
17
PARA REFLETIR
Para tentar uma solução para o
problema de desabastecimento
de água, o Banco Mundial
estima a necessidade de
investimentos entre US$ 600 e
800 bilhões nos próximos dez
anos. A ONU estima um custo
de US$ 50 por pessoa.
Geografia
DICAS
Consulte o site:
http://www.uniagua.org.br/
Lá você vai encontrar material
sobre Água Mineral, Águas
subterrâneas, Aquífero
Guarani, Curiosidades,
Dessalinização da Água, Dicas
Úteis, entre outros.
Lá tem uma Cartilha ilustrada
pelo cartunista mineiro Ziraldo
bem informativa sobre a
necessidade de cuidar da Água.
Caderno Didático - 4 º Período
1.4 AS PRINCIPAIS PROPRIEDADES DA ÁGUA
A água cobre mais de 70% da superfície terrestre e é um elemento
importante para a vida. A sua disponibilidade é um dos fatores mais relevantes a moldar todos os ecossistemas terrestres. A água destaca-se entre os
demais elementos da natureza pelas seguintes propriedades:
?
é única porque ocorre nos três estados da matéria: sólido,
líquido e gasoso;
?
em seu estado natural mais comum, é um líquido transparente,
incolor, inodoro, insípido e assume a cor azul esverdeada em lugares
profundos;
?
possui uma densidade máxima de 1 g/cm3 a 4ºC e seu calor
específico é de 1 cal/ºC;
?
suas temperaturas de fusão e ebulição à pressão de uma
atmosfera são de 0 e 100ºC, respectivamente;
?
solvente universal;
?
elevada tensão superficial. A tensão superficial é um fator
fundamental para a sobrevivência de muitos organismos marinhos.
?
elevado calor específico, quer dizer, é capaz de adquirir ou
perder muito mais calor que outras substâncias comuns, quando submetida
à mesma temperatura;
?
fluidez;
?
viscosidade, medida da resistência ao fluxo;
?
única substância não-metal, inorgânica, que se apresenta em
estado líquido.
A água para ser considerada própria para o consumo humano
precisa responder a determinados requisitos, que são os padrões de potabilidade. O organograma da FIG. 6 a seguir mostra uma síntese dos parâmetros
associados à qualidade da água.
Metais
tóxicos
Cátions
Ânions
Turbidez
Gases
Dissolvidos
Qualidade
Física
Sintéticos
Constituintes
inorgânicos
Qualidade
Química
Figura 6: Organograma da árvore da qualidade total da água
Fonte: Rebouças, Braga e Tundisi, 2002, p.25.
18
Constituintes
orgânicos
Qualidade
Biológica
QUALIDADE TOTAL
Naturais
Hidrografia
UAB/Unimontes
A qualidade da água envolve diversos parâmetros, como se visualiza na FIG. 6: qualidade física, qualidade química e qualidade biológica.
1.5 O CICLO HIDROLÓGICO
Toda água disponível no planeta Terra, seja no estado líquido, sólido
ou gasoso está envolvida num processo denominado ciclo hidrológico (FIG.
7).
O ciclo da água ou ciclo hidrológico é um modelo que representa o
movimento contínuo da água em suas diferentes fases. Este ciclo é altamente
dependente da energia solar que provoca a evaporação das águas, ou seja, a
passagem do estado líquido para o estado gasoso. Segundo Popp (1998,
p.133), “o ciclo da água inicia-se virtualmente com a evaporação que se
processa nos mares, rios e lagos”. “A fração evaporada na atmosfera soma-se
ao vapor de água formado sobre o solo e aquele liberado pela atividade
biológica de organismos, principalmente plantas, através da respiração num
processo denominado evapotranspiração” (TEIXEIRA et al., 2000, p. 115).
Na forma de vapor, a água mistura-se ao ar, sendo responsável pela
umidade atmosférica. Quando o ar se esfria, o excesso de vapor se condensa
na forma de neblina, garoa ou, em grandes altitudes, formando nuvens. O
vapor condensado pode, dependendo da temperatura, formar gotas de
chuva ou congelar-se em flocos de neve. Nas grandes nuvens que se formam
ocorrem acúmulo de energia em forma de eletricidade, que são os raios. A
chuva acontece quando o vapor de água transforma-se em cristais de gelo e
atingem tamanho e peso suficientes para precipitar (TEIXEIRA et al., 2000).
No momento em que as chuvas caem no solo, dois caminhos
podem ser seguidos pelas gotículas de água: o primeiro é a infiltração, em
que a água passa a preencher os vazios no solo e acumula-se para formar
nascentes, regatos e rios. O outro caminho ocorre quando “a capacidade de
absorção de água pela superfície é superada e o excesso de água inicia o
escoamento superficial”, conforme TEIXEIRA et al., 2000, p.116.
Inicia-se aí uma espécie de devolução da energia ao meio ambiente, que pode ser utilizada para mover moinhos, turbinas, etc. ou causar
desastres, através do transporte de grandes quantidades de solo no processo
de erosão (BRANCO, 1989). As plantas realizam também uma transferência
de energia através da evapotranspiração. Todo esse ciclo pode ser visualizado na FIG. 7. Dessa forma, o ciclo hidrológico realiza o movimento da água
através da hidrosfera, atmosfera e litosfera e serve como um modelo de fluxo
cíclico de matéria entre as diferentes partes da Terra.
19
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Figura 7: O ciclo da água
Fonte: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercycleportuguesehi.html
ATIVIDADES
Leia no Texto complementar 3
informações de pesquisas
recentes sobre o ciclo da água.
Discuta com seus colegas,
sobre as consequências da
alteração do ciclo hidrológico.
Segundo Speidel et al., citado por Tundisi (2003, p. 5), os componentes do ciclo hidrológico podem ser sintetizados nos seguintes processos:
?
Precipitação: água adicionada à superfície da Terra a partir da
atmosfera. Pode ser líquida (chuva) ou sólida ( neve ou gelo).
?
Evaporação: processo de transformação da água líquida para a
fase gasosa (vapor d´água). A maior parte da evaporação se dá a partir dos
oceanos; nos lagos, rios e represas também ocorre evaporação.
?
Transpiração: processo de perda de vapor d´água pelas plantas,
o qual entra na atmosfera.
?
Infiltração: processo pelo qual á água é absorvida pelo solo.
?
Percolação: processo pelo qual a água entra no solo e nas
formações rochosas até o lençol freático.
?
Drenagem: movimento de deslocamento da água nas superfíci-
es, durante a precipitação.
Sobre as consequências da alteração do ciclo hidrológico, leia o
texto complementar 3.
Texto Complementar 3: Há um novo ciclo hidrológico
em funcionamento na atmosfera
Sempre foi conhecido e ensinado que o ciclo hidrológico
natural é formado pela evaporação da água cujo vapor sobe na atmosfera, se transforma em nuvem e, posteriormente, esta se converte em
chuva cuja água na superfície terrestre volta a se evaporar e a gerar
nuvens e chuva novamente e assim por diante.
O respectivo balanço de massa (água) na superfície terrestre
pode ser resumido pela seguinte equação matemática que traduz o ciclo
hidrológico convencional:
20
Hidrografia
UAB/Unimontes
Razão (variação) de acumulação de massa (na água, solo e
vegetação) = razão de entrada de massa nesse sistema (precipitação) –
razão de massa que sai desse sistema (evaporação).
Assim, em lugares onde houve maior precipitação (chuva, neve,
neblina) e menor evaporação durante um certo período, aconteceu uma
maior acumulação de água e estes lugares se tornaram mais úmidos. Em
lugares onde ocorreu maior evaporação do que precipitação aconteceu
uma menor acumulação de água e os lugares se tornaram mais secos.
Estas razões positivas ou negativas de acumulação de água em função da
evaporação são determinadas pelas condições dos parâmetros atmosféricos, conforme demonstrado em trabalhos científicos publicados
internacionalmente por este autor.
A equação deste ciclo hidrológico convencional se completa
fazendo-se o balanço de massa em uma camada da atmosfera superior,
que é o inverso do anterior, obviamente:
Razão de acumulação de massa (nuvens) = razão de massa que
entra nesse sistema (evaporação) – razão de massa que sai desse sistema
(precipitação).
Mas, há dados e medições de várias regiões do mundo de que
as quantidades de nuvens e chuva têm aumentado ao mesmo tempo em
que a evaporação tem diminuído em diversas partes do mundo, principalmente nos últimos 50 anos. Então uma pergunta surge: se não houve
reflorestamento substancial nesses lugares, como poderia menos água
evaporada gerar mais nuvens e mais chuva durante um longo tempo em
diversos países do mundo? O conhecimento de que em diversas partes
do mundo neste mesmo período tem ocorrido uma atividade industrial
mais acentuada e com maiores emissões de gases (sobretudo liberadas
por mais e maiores termoelétricas) bem como outras informações
apresentadas abaixo resolvem essa questão.
Assim, a solução para esta dúvida é dada através da explicação
de que a evaporação não tem sido a única fonte para a formação das
nuvens e as principais causas são as seguintes: a) as emissões de toneladas e toneladas de partículas sólidas a todo segundo em todo mundo
intensificam a formação de nuvens, porque elas são formadas através da
agregação de gotas de vapor d´água condensado em torno de microscópicas partículas de poeira; b) a atmosfera tem aproximadamente uma
quantidade constante de vapor d´água, mas as toneladas e toneladas de
gases superaquecidos emitidos para a atmosfera por usinas termoelétricas e outras fontes são liberadas com temperaturas que alcançam mais
de 1.000 oC e então a temperatura de ponto de orvalho do ar é alcançada mais freqüentemente e assim mais vapor d´água é condensado em
menor tempo; c) as emissões também contêm toneladas de vapor de
água e quando fazem contato com camadas mais frias da atmosfera mais
21
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
água condensada e nuvens se formam. Estas causas também explicam
porque a precipitação tem aumentado em vários lugares do mundo.
Portanto, fazendo o balanço de massa para um sistema ou
camada da atmosfera superior o novo ciclo hidrológico se torna:
Razão de acumulação de massa (nuvens) = razão de massa que
entra neste sistema (evaporação) + razão de massa que entra nesse
sistema (quantidade total de nuvens e de vapor de água causada por
fontes artificiais) – razão de massa que sai desse sistema (precipitação).
[... ] As emissões de gases geradas por atividades humanas
aumentam e aceleram a conversão do vapor d´água da atmosfera em
chuva e conseqüentemente alteram o funcionamento do ciclo hidrológico natural. Ou seja, o funcionamento, a quantidade de água, a regularidade de águas, a distribuição de chuvas e a velocidade do ciclo hidrológico não dependem mais unicamente dos processos naturais de
evaporação e precipitação como concebidos na Criação e há, portanto,
um novo ciclo hidrológico que já está afetado e modificado por causa de
atividades humanas. As altas, crescentes e superaquecidas emissões de
gases de termoelétricas e de outras fontes aumentam significativamente
o efeito estufa e o chamado aquecimento global e geram diversas
consequências, como veremos mais algumas a seguir.
[...] Muitas tecnologias convencionais utilizadas para a obtenção de energia, transporte e produção de bens ainda são baseadas na
queima de combustíveis especialmente os fósseis e esses processos e
panoramas precisam ser gradualmente revisados e mudados. Já existem
alguns esforços nesse sentido como os sistemas que podem eliminar o
calor das fumaças e reduzir a toxidade dos gases (só no Brasil, de 1986 a
2006, as emissões de gases de veículos em kg/km foram reduzidas em
180 vezes), o desenvolvimento e uso de biocombustíveis e a crescente
utilização de energias renováveis. Obviamente, boa vontade e consciência são necessárias para se alcançar mais este importante progresso
e bem-estar para a humanidade.
Adaptado de: www.aondevamos.eng.br/verdade/artigos/Novo_ciclo_hidrologico.htm
22
Hidrografia
UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
BRANCO, S. M. Energia e Meio Ambiente. São Paulo: Moderna, 1989.
DREW, David. Processos interativos Homem – Meio Ambiente. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
MAGALHÃES, Sandra Célia Muniz. A Expansão Urbana de Montes Claros
e suas Implicações na Ocorrência de Doenças de Veiculação Hídrica.
Dissertação (Mestrado). São Paulo: PUCSP, 2009.
NOVION, Hubert de. Sarkarah na Terra das Pirâmides. In: As grandes
civilizações desaparecidas. Portugal: Seleções do Reader´s Digest, 1981.
POPP, José Henrique. Geologia Geral. 5ªed. Rio de Janeiro: Ltc - Livros
Técnicos e Científicos, Editora Sa, 1998.
REBOUÇAS, Aldo da C.; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galizia. Águas
doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 3. ed. São Paulo:
Escritura Editora, 2006.
TAHARA, Alexander Klein. SANTIAGO, Danilo Roberto Pereira. TAHARA,
Ariany Klein. As atividades aquáticas associadas ao processo de bem
estar e qualidade de vida. Revista Digital, Buenos Aires, Ano 11, nº 103,
dezembro de 2006. Disponível em www.efdportes.com/efd103/atividadesaquaticas.htm, Acesso em: 27 dez. 2009.
TEIXEIRA, Wilson. TOLEDO, M. Cristina Motta. FAIRCHILD, Thomas Rich.
TAIOLI, Fabio. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.
TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. 3 ed. Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
TUNDISI, José Galizia. Água no Século XXI: entendendo a escassez. São
Paulo: Rima, IIE, 2003.
WALDMAN, Maurício. Recursos hídricos e a rede urbana mundial:
dimensões globais da escassez. In: XIII Encontro Nacional de Geógrafos.
João Pessoa - Paraíba, 2002.
Há um novo ciclo hidrológico em funcionamento na atmosfera.
Disponível em: <http://www.aondevamos.eng.br/verdade/artigos/Novo_ci
clo_hidrologico.htm>. Acesso em: 31 jan. 2010.
23
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
Documentário – PLANETA TERRA – ÁGUAS DOCES.
Título original: BBC - PLANET EARTH, traduzido: BBC - O
PLANETA TERRA. Documentário que traz uma visão abrangente de todo o
funcionamento do planeta - os animais, as plantas, o clima, os movimentos
internos, as influências externas. Sugerimos o debate do capítulo sobre a
água. Partes do vídeo também podem ser visualizadas e baixadas no site
www.youtube.com, digitando em pesquisa planeta terra - água doce 16.
24
2
UNIDADE 2
OS RIOS E AS BACIAS HIDROGRÁFICAS
A água, elemento formador da bacia hidrográfica, não é somente
importante como recurso natural, mas também desempenha um papel
essencial, por exemplo, na determinação da produção agropecuária.
Os rios são, em geral, as principais unidades morfológicas da bacia
hidrográfica e interagem diretamente com a atmosfera e seu entorno,
exibindo um constante intercâmbio de energia e matéria.
A bacia hidrográfica é uma unidade territorial composta por divisores de água, nascentes, fundos de vale e é definida usualmente como a área
na qual ocorre a captação de água (drenagem) para um rio principal e seus
afluentes. A história do homem sempre esteve muito ligada às bacias hidrográficas: a bacia do Rio Nilo foi o berço da civilização egípcia; os mesopotâmicos se abrigaram no valo dos Rios Tigre e Eufrates; os hebreus, na bacia do
Rio Jordão; os chineses se desenvolveram nas margens dos rios Yang – Tse e
Huang Ho.
Nesta unidade, discutimos conceitos básicos relacionados aos rios e
às bacias hidrográficas, tendo como referencial a importância dos rios como
componente e modelador da paisagem.
Os objetivos desta unidade são:
?
Conhecer os conceitos básicos da Geomorfologia Fluvial;
?
Identificar as principais formas originadas da deposição dos rios;
?
Diferenciar os termos rede de drenagem, bacia hidrográfica e
microbacia;
?
Enfatizar a importância da bacia hidrográfica como unidade
fundamental de gestão dos recursos hídricos; e
?
Identificar os fatores que influenciam o funcionamento da bacia
hidrográfica.
Ao final da unidade, esperamos que você seja capaz de entender
questões relativas aos rios como um agente integrante e modelador da
paisagem e a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
Esta unidade está dividida nos seguintes tópicos.
2.1 Geomorfologia fluvial
2.1.1 Os rios e o ciclo hidrológico
2.1.2 O fluxo dos rios
2.1.3 O trabalho dos rios
2.1.4 Principais formas originadas pela sedimentação dos rios
2.1.5 Tipos de leitos e canais fluviais
2.1.6 Terraços fluviais
2.2 Bacia de drenagem
2.2.1 Bacia de drenagem: repensando o conceito
25
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
2.2.2 Classificação das bacias quanto ao escoamento
2.2.3 Padrões de drenagem e hierarquia fluvial
2.2.4 Bacias hidrográficas do Brasil
2.2.5 Bacias hidrográficas de Minas Gerais
Invista tempo nos estudos e leituras e não se esqueça que...
“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão
uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe
faltasse uma gota.” (Madre Teresa de Calcutá)
2.1 GEOMORFOLOGIA FLUVIAL
“A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial
de vida de todo vegetal, animal ou ser humano.
Sem ela não poderíamos conceber como são
a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.”
Declaração Universal dos Direitos da Água
A Geomorfologia Fluvial interessa-se pelo estudo dos processos e
formas relacionados com o escoamento dos rios, segundo Christofoletti
(1980). É também um dos setores mais dinâmicos e complexos da geomorfologia em função de suas particularidades.
Sendo assim, neste tópico abordamos conceitos relativos aos rios e
seu papel como elemento modelador da paisagem, pois os rios constituem
os agentes mais importantes no transporte dos materiais que se desagregaram de outras rochas ou do solo de áreas elevadas para as mais baixas e dos
continentes para o mar.
No senso comum, são muitos os sinônimos para rio. Alguns termos
tentam fazer diferenciação de tamanho, mas todos dizem respeito a um
curso d´água: arroio, ribeira, ribeiro, riacho, ribeirão, entre outros. Segundo
Christofoletti (1980, p. 65) a “denominação rio aplica-se exclusivamente a
qualquer fluxo canalizado e, por vezes, é empregado para referir-se a canais
destituídos de água”.
O rio funciona como um canal de escoamento por onde flui carregado de sedimentos que vão erodindo as margens e depositando material. O
material transportado também chamado de detrítico é constituído por
sedimentos ou fragmentos desagregados de uma rocha, geralmente susceptível ao transporte, indo constituir os depósitos sedimentares. Os sedimentos
fluviais são aqueles que após erodirem, atingem os cursos d'água.
Assim, os sedimentos são transportados pelos rios através de três
maneiras diferentes: solução, suspensão e saltação. O transporte em solução
envolve o transporte de íons carregados em solução e o transporte de grãos
livres, aqueles grãos que apresentam liberdade de movimento em um fluido
pouco viscoso. O transporte em suspensão é constituído por partículas mais
finas, mantidas distantes do leito do canal pelo movimento da água (turbu-
26
Hidrografia
UAB/Unimontes
lência) e somente se depositam quando a velocidade do fluido diminui. O
transporte por saltação depende muito da gravidade, que faz com que os
sedimentos rolem, saltitem e sejam arrastados pelo fluxo. Por isso, este é o
modo de transporte das partículas mais graduadas.
2.1.1 Os rios e o ciclo hidrológico
O escoamento fluvial faz parte do ciclo hidrológico. Os rios são
alimentados pelas águas superficiais e subterrâneas em proporções variáveis
que dependem do clima, do tipo de solo, da rocha, da declividade, da
cobertura vegetal e outros fatores.
Os rios se alimentam das águas das chuvas, o denominado escoamento pluvial, e das águas que infiltram no solo. Uma parte da água dos rios
evapora. A outra parte que compõe o canal do rio é chamada de escoamento fluvial, que diz respeito “à quantidade de água total que alcança o canal”
(CHRISTOFOLETTI,1980, p.65). Esse volume de água do canal do rio pode
variar no decorrer do tempo em função da quantidade de chuva, das condições de infiltração, da drenagem subterrânea, entre outros fatores.
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Dois conceitos são
importantes:
Rios efluentes: rios de regiões
úmidas que recebem
contribuição contínua de água
do subsolo; e
Rios influentes: rios de regiões
secas que perdem água para o
subsolo.
2.1.2 O fluxo dos rios
Segundo Christofoletti (1980), o fluxo da água dos rios pode ser
laminar ou turbulento. É laminar quando a água escoa ao longo de um canal
reto, suave, a baixas velocidades. O fluxo é turbulento quando a velocidade
da água excede um determinado limite e é caracterizado por movimentos
caóticos, heterogêneos com muitas correntes secundárias, como pode ser
observado na FIG. 8.
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Regime fluvial: variação no
nível das águas do rio.
Montante: Sentido de vale
acima, de lado da nascente ou
de onde vem as águas do rio.
Jusante: No sentido de rio ou
talvegue abaixo para onde
correm as águas
Figura 8: Fluxo turbulento do Rio Aiuruoca, Minas Gerais
Fonte: http://www.integraminas.mg.gov.br/.
27
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
O fluxo turbulento pode ser classificado como corrente (típico dos
cursos fluviais) ou turbulento encachoeirado (como de cachoeiras e corredeiras). No fluxo turbulento, a intensidade da erosão é maior, pois “a turbulência e a velocidade estão intimamente ligados com o trabalho que o rio
executa: erosão, transporte de deposição dos detritos” (CHRISTOFOLETTI,
1980, p. 67).
2.1.3 O trabalho dos rios
O trabalho do rio envolve alguns processos, segundo Christofoletti
(1980, p. 75), a saber:
B GC
GLOSSÁRIO
E
A
Erosão: Entende-se por erosão
o processo de desagregação e
remoção de partículas do solo
ou fragmentos de rocha, pela
ação combinada da gravidade
com a água, vento, gelo ou
organismos.
F
?
Transporte: sedimentos são transportados de diferentes manei-
ras: 1) solução: carga dissolvida nos cursos d´água; 2) suspensão: partículas
de granulometria reduzida, como silte e argila; e 3) saltação: partículas de
granulometria maior como areia e cascalho que deslizam ou saltam ao longo
do leito do rio.
?
Erosão Fluvial: realizada por: 1) corrosão ( processo químico que
se realiza no contato entre a água e as rochas); 2) corrasão - desgaste por
atrito mecânico que pode se dar de duas formas: pela abrasão, observa-se
um suave polimento das rochas aflorantes no canal, pela evorsão observa-se
um tipo especial de corrasão originada pelo movimento turbilhonar sobre as
rochas no fundo do leito do rio; 3) cavitação (quando a água em velocidade
elevada facilita a fragmentação das rochas).
?
Deposição: ocorre quando há diminuição da capacidade fluvial.
A deposição dá origem a várias formas.
2.1.4 Principais formas originadas pela sedimentação dos rios
Ao longo do seu curso e dependendo da força da sua correnteza, o
rio vai delineando na paisagem algumas formas que são originadas do
processo de sedimentação (FIG. 9), tais como planície de inundação, diques,
cones de dejeção:
?
Planície de inundação: são as várzeas, são formadas por
materiais depositados no canal ou fora dele. É a parte inundada pelas águas
de transbordamento dos rios.
28
Hidrografia
UAB/Unimontes
Figura 9: Planície Fluvial do Rio Ribeira do Iguape
Fonte: Santana, 2008, p 132.
?
Diques Marginais: São saliências alongadas compostas por
sedimentos, bordejando os canais fluviais.
Cones de Dejeção: acúmulo de grande quantidade de detritos
?
na base do canal de escoamento.
Deltas: quando um rio escoa para o mar ou para um lago,
?
depositando uma carga detrítica maior que a carreada pela erosão, ocorre a
formação de deltas. Os deltas apresentam uma enorme variedade em
tamanho, forma, estrutura, composição e gênese, conforme a FIG.10.
Figura 10: Exemplos de formas espaciais apresentados pelos deltas
Fonte: Christofoletti, 1980, p. 79.
29
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
A FIG. 11 mostra o delta do rio
Nilo. O rio Nilo é o extenso e volumoso
curso de água que nasce em Uganda e
cuja foz se localiza no Egito, onde seu
delta se configura como umas regiões do
mundo com maior fertilidade do solo,
constantemente irrigado devido às suas
cheias periódicas.
?
Bacias de inundação: são as
partes mais baixas da planície; atuam
como área de decantação onde os
sedimentos mais finos se depositam.
Figura 11: O rio Nilo em imagem de
satélite
Fonte: esoterikha.com/ piramides/images/
rio-nilo.jpg
2.1.5 Tipos de Leitos e canais Fluviais
Os leitos são os espaços que podem ser ocupados pelo escoamento
das águas. Os leitos podem ser:
?
Leito de Vazante: utilizado para o escoamento das águas baixas.
?
Leito Menor: encaixado entre as margens bem definidas.
?
Leito Maior Periódico: também conhecido como sazonal por ser
ocupado em períodos de cheia, pelo menos uma vez a cada ano.
?
Leito Maior Excepcional: onde ocorrem as cheias mais elevadas,
as enchentes.
Figura 12: Tipos de leitos fluviais
Fonte: Christofoletti, 1980, p. 83.
A FIG. 12 mostra os diferentes tipos de leitos de um rio.
Quanto aos canais, os rios podem ser de diferentes tipos, conforme
a FIG. 13:
30
Hidrografia
UAB/Unimontes
a) meândrico b) anastomosado c) ramificado d) reticulado
Figura 13: Alguns tipos de canais fluviais
Fonte: Christofoletti, 1980, p. 87.
Para a definição dos tipos de canais, é utilizado o indicador denominado índice de sinuosidade, que é expresso através da relação entre o
comprimento do canal e distância do eixo de vale. Esse índice é calculado a
partir do comprimento do canal dividido pelo comprimento do eixo. A
medida de 1,5 é adotada por alguns pesquisadores para a definição de um
canal meandrante (CHRISTOFOLETTI, 1980).
O canal meândrico ou meandrante é aquele em que o rio descreve
curvas sinuosas largas. O canal anastomosado se forma quando o rio, ao
transportar material grosseiro, deposita parte desse material no próprio leito.
O canal ramificado surge quando existe um braço do rio que volta ao leito
principal formando uma ilha. O canal reto é aquele em que o rio faz uma
trajetória relativamente reta sem desvios até a foz.
2.1.6 Terraços fluviais
Os terraços fluviais representam antigas planícies de inundação que
foram abandonadas. Na paisagem, eles assumem uma feição de patamares
aplainados. Os terraços fluviais podem ser:
?
terraços aluviais: quando são compostos por materiais relaciona-
dos à antiga planície de inundação;
?
terraços rochosos: quando os terraços foram esculpidos sobre as
rochas componentes das encostas dos vales;
?
terraços estruturais: patamares ao longo das vertentes mantidos
por camadas de rochas resistentes.
31
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Existem várias hipóteses propostas para explicar a formação dos
terraços. Uma delas relaciona a existência dos terraços a uma tendência
continua do entalhamento fluvial, ou seja, o rio vai escavando em busca de
um equilíbrio. Outra hipótese relaciona a existência do terraço ao equilíbrio
dinâmico dos cursos de água. Observe na FIG. 14 os tipos de terraços
fluviais.
A
B
Figuras 14: Tipos de terraços fluviais, de acordo com a maneira pela qual há o
abandono da planície de inundação inicial
Fonte: Chistofoletti, 1980, p.85.
Na FIG. 14, aparecem vários tipos de terraços de acordo com a
forma em que há o abandono da planície de inundação inicial. Uma
oscilação climática, que provoca diminuição no débito do rio, pode dar
origem a uma nova planície de inundação. Uma nova fase erosiva sobre o
embasamento rochoso pode formar uma nova planície de inundação em
nível mais baixo. O entalhamento pode ser resultado também de movimentos tectônicos, que resultam nos chamados terraços encaixados.
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
2.2 BACIA DE DRENAGEM: REPENSANDO O CONCEITO
“Os recursos naturais de transformação da água
em água potável são lentos, frágeis
e muito limitados. Assim sendo,
a água deve ser manipulada com
racionalidade, precaução e parcimônia”
Declaração Universal dos Direitos da Água
Em Geografia, a bacia de drenagem ou bacia hidrográfica é
entendida como a “célula básica de análise ambiental” (BOTELHO E SILVA,
2004:153). Isso quer dizer que a bacia hidrográfica é a unidade básica cujo
estudo permite entender os processos e as interações que aí ocorrem.
Rodrigues e Adami (2005, p. 147) afirmam que “a bacia hidrográfica é uma
das referências espaciais mais consideradas em estudos do meio físico”.
Tucci (2004, p.40) afirma que “a bacia hidrográfica é uma área de
captação natural da água da precipitação que faz convergir os escoamentos
para um único ponto de saída, o seu exultório”.
32
Hidrografia
UAB/Unimontes
Essas diferentes definições permitem perceber que, em muitos
estudos, não existe uma definição precisa de bacia hidrográfica. Um
conceito que ratifica as proposições apresentadas acima é o apresentado por
Rodrigues e Adami (2005, p. 147), quando afirmam que:
“a bacia hidrográfica é definida como um sistema que
compreende um volume de materiais, predominantemente
sólidos e líquidos, próximo à superfície terrestre, delimitado
interna e externamente por todos os processos que, a partir
do fornecimento de água pela atmosfera, interferem no fluxo
de matéria e de energia de um rio ou de uma rede de canais
fluviais.”
Esses autores alertam para o fato de ser importante repensar o
conceito e entender que a bacia hidrográfica não é apenas a área drenada
por um rio, mas que numa bacia incluem-se também as vertentes, nas quais
os processos internos são de fundamental importância.
Para entender melhor esse conceito, observe a FIG. 15:
Figura 15: A bacia hidrográfica: limites e processos
Fonte: Rodrigues e Adami, 2005, p. 149.
Na FIG. 15, os autores tentam mostrar que os processos de circulação de matéria e energia não envolvem apenas os canais fluviais (rio e seus
afluentes). “A bacia hidrográfica compreende o volume de água considerando todos os processos relativos ao funcionamento de uma rede fluvial”
(RODRIGUES E ADAMI, 2005, p.148).
Dessa forma, todos os processos de alteração, influenciados direta
ou indiretamente pela água, estão incluídos na bacia hidrográfica. Até
mesmo os processos pedogenéticos, ou seja, de formação do solo, estão
incluídos numa bacia hidrográfica.
33
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Será que conseguimos ampliar o conceito de bacia hidrográfica?
Bacia hidrográfica é diferente de rede de drenagem? Para refletir sobre essa
pergunta, observe a FIG. 16.
Figura 16: Limite da bacia hidrográfica
Fonte: Vieira, 2007, p. 17
DICAS
Consulte o Glossário Geológico
no endereço
http://www.ig.unb.br/glossario/i
ndex.html
Na FIG. 16, observamos os limites da bacia do rio principal, Jacaré,
e os seus afluentes. A área pontilhada é o limite da bacia; as linhas contínuas
mostram a rede de drenagem. Concluímos que bacia hidrográfica é diferente sim de rede de drenagem. A rede de drenagem (o mesmo que rede fluvial
ou rede hidrográfica) é composta por todos os rios de uma bacia hidrográfica. É um dos principais mecanismos de saída da água.
É importante destacar a relação entre a bacia hidrográfica e as
vertentes. A vertente compreende o limite entre o divisor de águas e o
talvegue. Christofoletti (1980, p.60) aponta que “as vertentes constituem
partes integrantes das bacias hidrográficas e não podem ser descritas de
modo integral sem que se façam considerações a propósito das relações
entre elas e a rede hidrográfica”. O autor acrescenta ainda que “é impossível
considerar a vertente e os rios como entidades separadas”. Na FIG. 17,
observamos um corte transversal em uma bacia hidrográfica, em que se
verifica a delimitação da bacia a partir dos divisores de água (D.A,).
Figura 17: Corte transversal em uma bacia hidrográfica
Fonte: Vieira, 2007, p. 18.
E microbacia? Entre bacia e microbacia, qual termo utilizar?
A microbacia envolve os mesmos conceitos de bacia hidrográfica,
diferenciando-se pelo fato de a microbacia envolver uma área menor, cujo
deságue se dá em outro rio.
Não existe um consenso amplamente aceito sobre a diferenciação
entre os termos bacia hidrográfica e microbacia. A questão é de escala, ou
seja, o tamanho da área que se deseja analisar. Botelho e Silva (2004, p.157),
34
Hidrografia
UAB/Unimontes
definem da seguinte maneira,
Microbacia é toda bacia hidrográfica cuja área seja
suficientemente grande, para que se possam identificar as
inter-relações existentes entre os diversos elementos do
quadro socioambiental que a caracteriza, e pequena o
suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis
(materiais, humanos, tempo), respondendo positivamente à
relação custo/benefício existente em qualquer projeto de
planejamento.
2.2.2 Classificação das bacias de drenagem quanto ao escoamento
As bacias podem ser classificadas de acordo com o escoamento
global, como se observa no QUADRO 1.
Quadro 1: Classificação das bacias de acordo com o escoamento Global
Tipos de
drenagem
Endorréicas
Exorréicas
Arréicas
Criptorréicas
Características
Quando as drenagens são
internas e não possuem
escoamento para o mar.
Quando o escoamento das
águas se faz de modo contínuo
até o oceano.
Quando não há estruturação
em bacias hidrográficas, como
em áreas desérticas, em que
devido à baixíssima
precipitação, os canais não se
estruturam em linhas.
Quando as bacias são
subterrâneas, como nas áreas
cársticas. Os rios surgem em
fontes ou integram -se a rios
subaéreos.
Exemplos
o Negro, o Purus, o Paraná, o
Iguaçu, o Tietê
As bacias do s rios Amazonas,
São Francisco, Tocantins e
Parnaíba
Bacia do rio Peruaçú
Fonte: Organizado a partir de Christofoletti, 1980.
Na FIG. 18, observa-se um aspecto do rio Peruaçu, norte de Minas
Gerais, que em muitos trechos apresenta uma escoamento do tipo criptorréico, típico de regiões cársticas. Nas grutas, os cursos d´água superficiais são
capturados para sistemas integrados de condutos e passam a atuar como
drenos subterrâneos (Geoambiente online 2006, p.25).
35
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Figura 18: Aspecto do rio Peruaçu e o tipo de drenagem criptorréica
Fonte: portalsaofrancisco.com.br.
2.2.3 Padrões de drenagem e hierarquia fluvial
As bacias hidrográficas também se estruturam em diferentes formas.
Essas formas são denominadas padrões de drenagem, ou seja, “arranjamento espacial dos cursos fluviais” (Christofoletti, 1980, p.103). O padrão de
drenagem pode ser influenciado pela natureza das camadas rochosas, pela
declividade e pela evolução geomorfológica da área. Christofoletti (1980)
destaca os tipos básicos de padrões de drenagem, como se vê no QUADRO
2:
Quadro 2: Padrões de drenagem
TIPO DE
DRENAGEM
CARACTERÍSTICAS
Dendrítica
Semelhante à árvore. A
corrente principal se
assemelha ao tronco da
árvore; os afluentes a seus
ramos e as correntes de
menor importância a
raminhos e folhas.
Treliça
Rios principais correndo
paralelamente, e afluentes
em direção transversal. Há
um controle de um sistema
de falhas.
36
ILUSTRAÇÃO
Hidrografia
UAB/Unimontes
B GC
Retangular
Paralela
Radial
Anelar
É uma modificação do
sistema de Treliça. Aspecto
ortogonal devido a
alterações retangulares nas
correntes fluviais.
Quando os cursos escoam
quase paralelamente uns aos
outros. Está associado à
presença de vertentes com
declividades acentuadas.
Pode ser subparalelo ou
colinear.
Os rios se encontram
dispostos como os raios de
uma roda, em relação a um
ponto central. Pode ser
centrífuga ou centrípeta.
Assemelha-se a anéis; típica
de áreas com camadas
rochosas duras e frágeis.
Fonte: Organizado a partir de Christofoletti, 1980, p. 103 a 106.
Existem ainda as drenagens desarranjadas ou irregulares, correspondendo àqueles rios que foram desorganizados por um bloqueio ou
erosão, como a glaciação sobre amplas áreas.
A análise das bacias hidrográficas envolve análises morfométricas
(reconhecimento da espacialidade) e análises hidrodinâmicas (estuda os
aspectos dinâmicos da água e dos materiais por ela transportados). O
primeiro conjunto de estudos é desenvolvido na área da Geomorfologia e o
segundo conjunto de estudos é mais desenvolvido na área da Hidrologia.
Segundo Christofoletti (1980), a análise das bacias hidrográficas
compreende os seguintes parâmetros:
?
Hierarquia fluvial;
?
Análise linear da rede hidrográfica; relação de bifurcação,
relação entre comprimento médio dos canais de cada ordem, comprimento
do rio principal, extensão do percurso superficial, relação equivalente
vetorial, gradiente dos canais;
37
GLOSSÁRIO
A
E
F
Centrífuga: força que atua
radialmente a partir do centro
de rotação determinado pela
partícula no sistema girante, ou
seja, para fora.
Centrípeta: é a força resultante
que puxa o corpo para o
centro da trajetória em um
movimento curvilíneo ou
circular.
DICAS
Se você deseja aprofundar mais
nos estudos das bacias
hidrográficas e técnicas de
levantamento de dados,
consulte o texto Técnicas
Fundamentais para o Estudo de
Bacias Hidrográficas de
RODRIGUES E ADAMI;
referências na bibliografia
complementar.
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Análise areal das bacias hidrográficas: área da bacia, compri?
mento da bacia, relação entre o comprimento e a área, a forma da bacia,
densidade dos rios, densidade da drenagem, densidade dos segmentos da
bacia, relação entre as áreas das bacias;
Análise hipsométrica: curva hipsométrica, amplitude altimétri?
ca, relação de relevo, índice de rugosidade;
Análise topológica: maneira pela qual os vários canais se
?
encontram conectados.
De acordo com os objetivos do presente material, optou-se por
destacar apenas a hierarquia fluvial, que consiste no “processo de se estabelecer a classificação de determinado curso de água (ou da área drenada que
lhe pertence) no conjunto total da bacia hidrográfica na qual se encontra
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 106).
A hierarquia fluvial é um conceito de Horton aprimorado por
Strahler, através do qual a ordenação dos cursos fluviais é definida através da
lógica, em que:
“segmentos de canais formadores, sem tributários, são
denominados de primeira ordem; da confluência de dois
canais de primeira ordem surgem os segmentos de canais de
segunda ordem que só recebem afluentes de ordem inferior
(segmentos de canais de primeira ordem). Da confluência de
dois segmentos de canais de segunda ordem surgem os
segmentos de terceira ordem que recebem afluentes de
ordem inferiores (no caso, segmentos de primeira e segunda
ordem)” (GUERRA e CUNHA, 2007. p.221 - 223).
Dessa forma, os rios podem ser:
Rio de 1a ordem: aquele que drena diretamente a partir da
?
nascente.
Rio de 2a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios de 1a
?
ordem.
Rio de 3a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios de 2a
?
ordem e assim sucessivamente.
A FIG. 19 mostra a hierarquia hidrográfica:
Figura 19: Hierarquia da Rede segundo Horton
Fonte: Rodrigues e Adami, 2005, p. 163.
38
Hidrografia
UAB/Unimontes
2.2.4 Bacias hidrográficas do Brasil
O Brasil tem uma extensão de 8.514.876,599 Km2 (IBGE, 2009),
sendo o 5° maior país em extensão territorial. Possui uma das maiores bacias
fluviais do mundo em extensão e volume de água. Tanta riqueza de água
deve-se à distribuição da pluviosidade no território brasileiro, em que se
registram em média valores superiores a 1500 mm anuais.
Os principais rios brasileiros procedem de três grandes centros
dispersores: Planalto das Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro. Os rios são utilizados para produzir energia, abastecer de água a população e irrigar terras. Como a maioria dos rios são de planalto, o país detém um
dos maiores potenciais hidráulicos do mundo (CUNHA, 2001).
Figura 20: Bacias Hidrográficas do Brasil
Fonte: www.ana.gov.br
Segundo informações retiradas integralmente do site da Agência
Nacional das Águas (ANA), o Brasil se divide nas seguintes bacias hidrográficas (FIG. 20):
?
Região Hidrográfica Amazônica: conhecida mundialmente por
sua disponibilidade hídrica e pela quantidade de ecossistemas, como matas
de terra firme, florestas inundadas, várzeas, igapós, campos abertos e
cerrados. A Região Hidrográfica Amazônica é constituída pela bacia
hidrográfica do rio Amazonas, situada em território nacional, pelas bacias
hidrográficas dos rios existentes na Ilha de Marajó, além das bacias hidrográficas dos rios situados no estado do Amapá que deságuam no Atlântico Norte
(Resolução CNRH n° 32, de 15 de outubro de 2003), perfazendo um total de
3.870.000 km².
?
Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia: apresenta grande
potencialidade para a agricultura irrigada, especialmente para o cultivo de
frutíferas, de arroz e outros grãos (milho e soja). Atualmente, a necessidade
39
DICAS
Visite o site
www.ana.gov.br, e acesse mais
informações sobre cada uma
das bacias hidrográficas
brasileiras.
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
de uso de água para irrigação corresponde a 66% da demanda total da região
e se concentra na sub-bacia do Araguaia devido ao cultivo de arroz por
inundação. A área irrigável (por inundação e outros métodos) é estimada em
107.235 hectares. A Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia possui uma
área de 967.059 km² (11% do território nacional) e abrange os estados de
Goiás (26,8%), Tocantins (34,2%), Pará (20,8%), Maranhão (3,8%), Mato
Grosso (14,3%) e o Distrito Federal (0,1%). Grande parte situa-se na Região
Centro-Oeste, desde as nascentes dos rios Araguaia e Tocantins até a sua
confluência, e daí para jusante, adentra na Região Norte até a sua foz.
?
Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental: está situada,
basicamente, no Maranhão e numa pequena porção oriental do estado do
Pará. Sua área é de 254.100 km², cerca de 4.3% da área do Brasil, sendo que
9% dessa área pertencem ao estado do Pará e os restantes 91% ao estado do
Maranhão. A população total na região, em 2000, era de 4.742.431
habitantes, o equivalente a 3% da população brasileira, dos quais 58% vivem
em áreas urbanas. A região apresenta uma vazão média de 2.514 m³/s, ou
seja, 1% do total do País. As sub-bacias dos rios Mearim e Itapecuru são as
maiores, com áreas de 101.061 quilômetros quadrados e 54.908 quilômetros quadrados, respectivamente, é onde se concentra a maior demanda por
m³/s de água. A principal necessidade da água na bacia é para consumo
humano, correspondendo a 64% do total. Em seguida, vem a demanda
animal, com 15% do uso total e a demanda para irrigação, com 17%.
?
Região Hidrográfica do Parnaíba: é hidrologicamente a segunda
mais importante da Região Nordeste. Sua região hidrográfica é a mais
extensa dentre as 25 bacias da Vertente Nordeste e abrange o estado do
Piauí e parte dos estados do Maranhão e do Ceará. A região, no entanto,
apresenta grandes diferenças inter-regionais tanto em termos de desenvolvimento econômico e social quanto em relação à disponibilidade hídrica. A
escassez de água, aliás, tem sido historicamente apontada como um dos
principais motivos para o baixo índice de desenvolvimento econômico e
social. Entretanto, os aquíferos da região apresentam o maior potencial
hídrico da Região Nordeste e podem, se explorados de maneira sustentada,
representar um grande diferencial em relação às demais áreas do Nordeste
brasileiro no que se refere à possibilidade de promover o desenvolvimento
econômico e social.
?
Região Hidrográfica do São Francisco: abrange 521 municípios
em seis estados: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Goiás; além do Distrito Federal. Com 2.700km, o rio São Francisco nasce na
Serra da Canastra, em Minas Gerais, e escoa no sentido Sul-Norte pela Bahia
e Pernambuco, quando altera seu curso para o Sudeste, chegando ao
Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe. Devido à sua extensão e
aos diferentes ambientes que percorre, a região está dividida em Alto,
Médio, Sub-Médio e Baixo São Francisco. A área de drenagem ocupa 8% do
território nacional e sua cobertura vegetal contempla fragmentos de Cerrado
40
Hidrografia
UAB/Unimontes
no Alto e Médio, Caatinga no Médio e Submédio e de Mata Atlântica no Alto
São Francisco, principalmente nas cabeceiras. A bacia concentra a maior
quantidade e diversidade de peixes de água doce da região Nordeste. A
vazão natural média anual do rio São Francisco é de 2.850 metros cúbicos
por segundo, mas ao longo do ano pode variar entre 1.077m³/s e 5.290m³/s.
Na FIG. 21 podemos observar o rio São Francisco na cidade de
Pirapora-MG, onde o rio passa a ser navegável até Juazeiro-BA.
Figura 21: Cheia do Rio São Francisco , em Pirapora, Minas Gerais
Fonte: http://static.panoramio.com/photos/original/860126.jpg
?
Região Hidrográfica Atlântico Leste: contempla as capitais dos
estados de Sergipe e da Bahia, alguns grandes núcleos urbanos e um parque
industrial significativo, estando nela inseridos, parcial ou integralmente, 526
municípios. A Região tem uma área de 374.677 km², equivalente a 4% do
território brasileiro. A população da Região Hidrográfica Costeira do Leste,
em 2000, era de 13.641.045 habitantes, representando 8% da população
do País. Seguindo a tendência da distribuição populacional brasileira, 70%
(aproximadamente 9,8 milhões de pessoas) desse contingente está nas
cidades, principalmente nas regiões metropolitanas de Salvador e Aracaju.
Na região existe uma densidade demográfica de 36 hab/km², enquanto a
média do Brasil é de 19,8 hab/ km².
?
Região Hidrográfica do Paraguai: inclui uma das maiores
extensões úmidas contínuas do planeta, o Pantanal, considerado Patrimônio
Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Reserva da Biosfera pela
UNESCO, no ano de 2000. O rio Paraguai nasce em território brasileiro e
sua região hidrográfica abrange uma área de 1.095.000 km², sendo 33% no
Brasil e o restante na Argentina, Bolívia e Paraguai. Cerca de 1,9 milhão de
pessoas vivem na região, o que equivale a 1% da população do Brasil, sendo
84,7 % em áreas urbanas. As cidades de Cuiabá-MT (483 mil hab.), Várzea
Grande-MT (215 mil hab.), Rondonópolis-MT (150 mil hab.), Corumbá-MS
(95 mil hab.) e Cáceres-MT (85 mil hab.) são os principais centros populacionais.
41
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Região Hidrográfica do Paraná: com 32% da população
?
nacional, apresenta o maior desenvolvimento econômico do País. Com uma
área de 879.860 Km², a região abrange os estados de São Paulo (25% da
região), Paraná (21%), Mato Grosso do Sul (20%), Minas Gerais (18%), Goiás
(14%), Santa Catarina (1,5%) e Distrito Federal (0,5%). Cerca de 54,6
milhões de pessoas vivem na região (32% da população do País), sendo 90%
em áreas urbanas. A região possui a cidade mais populosa da América do
Sul, São Paulo, com 10,5 milhões de habitantes. Outros importantes centros
populacionais são: Brasília, Curitiba, Goiânia, Campinas, Campo Grande e
Uberlândia. A maior parte de população se concentra nas unidades hidrográficas dos rios Tietê e Grande, que, juntas, correspondem a 62% da
população total.
Região Hidrográfica do Sudeste: é conhecida nacionalmente
?
pelo elevado contingente populacional e pela importância econômica de
sua indústria. O grande desenvolvimento da região, entretanto, é motivo de
problemas em relação à disponibilidade de água. Isso ocorre porque, ao
mesmo tempo em que apresenta uma das maiores demandas hídricas do
País, a bacia também possui uma das menores disponibilidades relativas.
Nesse contexto, promover o uso sustentado dos recursos hídricos na região,
garantindo seu uso múltiplo, representa um grande desafio. Esse trabalho
implica em colocar em prática formas de gestão que conciliem o crescimento econômico e populacional da região com a preservação ambiental.
A Região Hidrográfica Atlântico Sudeste: tem 229.972 km² de
?
área, o equivalente a 2,7% do País. Os seus principais rios são o Paraíba do
Sul e o Doce, com respectivamente 1.150 e 853 quilômetros de extensão.
Região Hidrográfica do Uruguai: tem grande importância para o
?
País em função das atividades agroindustriais desenvolvidas e pelo seu
potencial hidrelétrico. O rio Uruguai possui 2.200 quilômetros de extensão
e se origina da confluência dos rios Pelotas e Canoas. Nesse trecho, o rio
assume a direção Leste-Oeste, dividindo os estados do Rio Grande do Sul e
Santa Catarina. A bacia hidrográfica possui, em território brasileiro,
174.612km² de área, o equivalente a 2,0% do território nacional. Em função
das suas características hidrológicas e dos principais rios formadores, a área
foi dividida em 13 unidades hidrográficas, sendo que quatro ficam no estado
de Santa Catarina e nove no estado do Rio Grande do Sul. Cerca de 3,8
milhões de pessoas vivem na parte brasileira da região hidrográfica do
Uruguai, com maior concentração nas unidades hidrográficas de Chapecó,
Canoas, Ibicui e Turvo.
Região Hidrográfica Atlântico Sul: destaca-se por abrigar um
?
expressivo contingente populacional, pelo desenvolvimento econômico e
por sua importância para o turismo. A região se inicia ao norte, próximo à
divisa dos estados de São Paulo e Paraná, e se estende até o arroio Chuí, ao
sul. Possui uma área total de 185.856 Km², o equivalente a 2% do País.
Abrangendo porções dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
42
Hidrografia
UAB/Unimontes
Sul, a região tem cerca de 11,6 milhões de habitantes, sendo que 85 % estão
localizados na área urbana. A região abriga 451 municípios e 411 sedes
municipais, entre os quais destacam-se no contexto socioeconômico:
Paranaguá, no Paraná; Joinville e Florianópolis, em Santa Catarina; Caxias do
Sul, Santa Maria, Pelotas e a Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul.
2.2.5 Bacias hidrográficas de Minas Gerais
Minas Gerais abriga em seu território as nascentes de importantes
rios e insere-se em importantes bacias hidrográficas brasileiras. Dentre
tantos rios de Minas Gerais, podemos destacar: São Francisco, Paraná,
Jequitinhonha e Doce.
Figura 22: Bacias hidrográficas de Minas Gerais
Fonte: Organizado pelas autoras.
A FIG. 22 mostra um mapa com as bacias hidrográficas de Minas
Gerais. Quase metade da área do estado está inserida na região hidrográfica
do Rio São Francisco, que tem em curso um projeto de transposição de suas
águas (Texto complementar 4). Parte do território do estado está inserida na
bacia do rio Paraná, da qual é obtida grande parte da energia elétrica no
estado. O Rio Jequitinhonha é um importante rio que banha a região de mais
baixos indicadores sociais do estado, sendo parte integrante da riqueza
cultural dessa região. O rio Doce, por sua vez, abrange municípios do norte
da Zona da Mata, leste da Região Metropolitana de Belo Horizonte e o Vale
do Rio Doce, em que se insere a Região Metropolitana do Vale do Aço.
43
ATIVIDADES
Leia o texto complementar 4 e
realize com sua turma um júri
simulado sobre a Transposição
do Rio São Francisco.
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Texto Complementar 4: Transposição do Rio São Francisco
O projeto de transposição do Rio São Francisco é um tema
bastante polêmico, pois engloba a suposta tentativa de solucionar um
problema que há muito afeta as populações do semi-árido brasileiro, a
seca; e, ao mesmo tempo, trata-se de um projeto delicado do ponto de
vista ambiental, pois irá afetar um dos rios mais importantes do Brasil,
tanto pela sua extensão e importância na manutenção da biodiversidade, quanto pela sua utilização em transportes e abastecimento.
O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra em Minas
Gerais e, depois de passar por cinco estados brasileiros e cerca de 2,7 mil
km de extensão, deságua no Oceano Atlântico na divisa entre Sergipe e
Alagoas.
Considerado o “rio da unidade nacional”, o Velho Chico, como
também é chamado, passa por regiões de condições climáticas as mais
diversas. Em Minas Gerais, que responde por apenas 37% da sua área
total, o São Francisco recebe praticamente todo o seu deflúvio (cerca de
75%) sendo que nas demais regiões por onde passa o clima é seco.
O projeto de transposição do São Francisco surgiu com o
argumento de sanar essa deficiência hídrica na região do Semi-Árido
através da transferência de água do rio para abastecimento de açudes e
rios menores na região Nordeste, diminuindo a seca no período de
estiagem.
O projeto é antigo, foi concebido em 1985 pelo extinto DNOS
– Departamento Nacional de Obras e Saneamento, sendo, em 1999,
transferido para o Ministério da Integração Nacional e acompanhado
por vários ministérios desde então, assim como pelo Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco.
O projeto prevê a retirada de 26,4m³/s de água (1,4% da vazão
da barragem de Sobradinho) que será destinada ao consumo da população urbana de 390 municípios do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte através das bacias de Terra Nova, Brígida Pajeú,
Moxotó, Bacias do Agreste em Pernambuco, Jaguaribe, Metropolitanas
no Ceará, Apodi, Piranhas-Açu no rio Grande do Norte, Paraíba e
Piranhas na Paraíba.
O Eixo Norte do projeto, que levará água para os sertões de
Pernambuco, Paraíba, Ceará e rio Grande do Norte, terá 400 km de
extensão alimentando quatro rios, três sub-bacias do São Francisco
(Brígida, Terra Nova e Pajeú) e mais dois açudes: Entre Montes e Chapéu.
44
Hidrografia
UAB/Unimontes
O Eixo Leste abastecerá parte do sertão e as regiões do agreste
de Pernambuco e da Paraíba com 220 km aproximadamente até o Rio
Paraíba, depois de passar nas bacias do Pajeú, Moxotó e da região
agreste de Pernambuco.
Ambos os eixos serão construídos para uma capacidade máxima de vazão de 99m³/s e 28m³/s respectivamente, sendo que trabalharão com uma vazão contínua de 16,4m³/s no eixo norte e 10m³/s no eixo
leste.
Por outro lado, a corrente contra as obras de transposição do
Rio São Francisco afirma que a obra é nada mais que uma “transamazônica hídrica”, e que além de demasiado cara a transposição do rio não
será capaz de suprir a necessidade da população da região uma vez que
o problema não seria o déficit hídrico que não existe, o problema seria a
má administração dos recursos existentes uma vez que a maior parte da
água é destinada a irrigação e que diversas obras, que poderiam suprir a
necessidade de distribuição da água pela região, estão há anos inconclusas.
Para se ter uma idéia, o nordeste é a região mais açudada do
mundo com 70 mil açudes nos quais são armazenados 37 bilhões de m³
de água. Portanto, o problema da seca poderia ser resolvido apenas com
a conclusão das mais de 23 obras de distribuição que estão paradas nos
municípios contemplados pela obra de transposição a um custo muito
mais barato e viável do que a transposição do maior rio inteiramente
nacional.
Fonte: www.infoescola.com/hidrografia/transposicao-do-rio-sao-francisco/
Acesso em: 31 jan. 2010.
REFERÊNCIAS
BOTELHO, R. G. M.. SILVA, A S da. Bacia hidrográfica e Qualidade
Ambiental. In: Vitte, A. C., Guerra, A J. T. Reflexões sobre a Geografia Física
no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher,
1980.
CUNHA, Sandra Baptista da. Bacias Hidrográficas. In: Cunha, S.B. Guerra,
A J T. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
GUERRA, Antonio José T.; CUNHA, Sandra B. da (organizadores).
Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7ª Edição. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
45
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
RODRIGUES, C. ADAMI, Samuel. Técnicas Fundamentais para o estudo
de Bacias Hidrográficas. IN: Venturi, L. A Bittar. Praticando Geografia:
Técnicas de campo e laboratório em Geografia e Análise Ambiental. São
Paulo:Oficina de Textos, 2005.
TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora
da UFRGS/ABRH, 2004.
VIEIRA, Edson de Oliveira. Curso de Especialização em “Recursos
Hídricos e Ambientais. Montes Claros: S.N, 2007. (Apostila do curso de
Especialização em Recursos Hídricos, Instituto de Ciências Agrárias,
Universidade Federal de Minas Gerais).
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
Transposição do São Francisco - parte 1 a 3.
Vídeos explicativos sobre o projeto de transposição do Rio São
Francisco. O vídeo explica como funciona o projeto, as mudanças no curso
do rio, os locais por onde ele passa. São 4 vídeos de aproximadamente 1:05
min. de duração.
Disponível em: http://videos.hsw.uol.com.br/transposicao-1-video.htm Acesso em:
30 jan. 2010.
46
3
UNIDADE 3
SISTEMAS LACUSTRES E AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Como vimos na Unidade 2, os rios são corpos d´água essenciais a
diversas atividades humanas. Contudo, a água está disponível sob uma
infinidade de formas, tais como lagos e também em subsuperfície, as chamadas águas subterrâneas.
Os lagos são corpos d´água que não possuem conexão direta com o
mar, geralmente suas águas são estagnadas. Denomina-se água subterrânea
aquela porção de água que nem sempre vemos, mas que é o suporte para a
água da qual dependemos. Tanto os lagos como as águas subterrâneas têm
grande importância ecológica, econômica e social, justificando o nosso
empenho no seu conhecimento e preservação.
Nesta Unidade, abordamos os principais conceitos relativos aos
lagos e às águas subterrâneas. Ela está dividida nos seguintes tópicos:
3.1 Sistemas lacustres
3.1.1 Classificação dos sistemas lacustres
3.1.2 Sistemas lacustres no mundo
3.1.3 Sistemas lacustres no Brasil
3.2 Águas Subterrâneas
3.2.1 Conceituando águas subterrâneas
3.2.2 Origem das águas subterrâneas
3.2.3 Classificação dos aquíferos
3.2.4 Nível das águas nos aquíferos e funções
3.2.5 Águas subterrâneas no mundo e no Brasil
3.2.6 Qualidade das águas subterrâneas
Os objetivos da Unidade são:
?
definir e classificar os sistemas lacustres;
?
conhecer os principais sistemas lacustres no mundo e no Brasil;
?
definir águas subterrâneas;
?
diferenciar e classificar os aquíferos; e
?
refletir sobre a importância da manutenção da qualidade das
águas subterrâneas.
Ao final da Unidade, esperamos que você tenha clareza dessas duas
formas sobre as quais a água se apresenta, sendo capaz de descrever suas
características básicas.
Dedique-se ao seu curso e invista tempo nos estudos. Lembre-se
das palavras de William Shakespeare: “As falhas dos homens eternizam-se
no bronze. As suas virtudes, escrevemos na água”.
47
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
3.1 SISTEMAS LACUSTRES
“ O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da
preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a
continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende
em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde
os ciclos começam.”
Declaração Universal dos Direitos da Água
Os lagos são corpos d'água interiores que não possuem comunicação direta com o mar, e suas águas têm em geral baixo teor de íons dissolvidos se comparadas às águas oceânicas. Os lagos são fenômenos de curta
durabilidade na escala geológica, surgindo e desaparecendo no transcorrer
do tempo (ESTEVES, 1988). Por isso, alguns autores consideram que o lago
completa seu ciclo de vida: nasce, cresce, envelhece e morre.
Duas características dos lagos os diferenciam dos rios: baixa taxa de
renovação de 02 dissolvido na água e elevada estratificação da água em
função da profundidade.
Os lagos têm importantes funções para a sociedade como lazer,
além de representar uma fonte de água para consumo humano em suas
diferentes atividades.
3.1.1 Classificação dos Sistemas Lacustres
Os lagos, lagoas e lagunas podem ser classificados sob diversos
aspectos tais como origem, grau de salinidade das águas, drenagem ou grau
de isolamento, etc.
Quanto à sua origem, pode estar associada à ocorrência de fenômenos de natureza geológica, formando-se a partir de processos endógenos
(originários do interior da crosta terrestre) e exógenos (a partir de causas
exteriores à crosta), como podemos observar na FIG. 23. Sua gênese natural
pode ocorrer a partir de diversos fenômenos. A seguir, detalharemos as
diversas formas de origem dos lagos, segundo Sperling (1999):
Movimentos tectônicos: estão associados aos movimentos de
?
elevação e abaixamento da camada superficial (movimentos epirogenéticos)
e às falhas em decorrência das descontinuidades da crosta terrestre.
Figura 23: Origem tectônica de lagos
Fonte: Sperling, 1999.
48
Hidrografia
UAB/Unimontes
Vulcanismo: qualquer cavidade vulcânica que não possua
?
nenhuma drenagem natural; no decorrer do tempo acumula água das
precipitações atmosféricas e se transforma em um lago. As formações são a
partir de dois processos. (FIG. 24)
a) represamento de águas de rios por meio de lava vulcânica
(magma solidificado);
b) explosões vulcânicas criando depressões e cavidades.
Figura 24: Origem vulcânica de lagos
Fonte: Sperling, 1999.
De acordo com Sperling (1999), ocorrem também outras probabilidades de combinação de processos vulcânicos e tectônicos na formação de
lagos:
Ação glacial: como consequência da erosão e sedimentação,
?
decorrentes da movimentação do gelo, formaram-se milhares de depressões
sobre a superfície do planeta, as quais posteriormente se encheram de água.
Esta é a origem mais comum dos lagos, principalmente para aqueles situados
em regiões de clima temperado (FIG. 25).
Figura 25: Vales barrados por morenas glaciais
Fonte: Sperling, 1999.
Dissolução de rochas: estes lagos se formam pela dissolução de
?
rochas calcárias a partir da ação da água (proveniente da chuva ou lençóis
subterrâneos), criando depressões que após o enchimento dão origem a
lagos, que recebem o nome de dolinas (FIG. 26).
49
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Figura 26: Lagos formados por dissolução de rochas
Fonte: Sperling, 1999.
?
Impacto de meteoritos: são lagos formados em crateras decor-
rentes da queda de meteoritos (FIG. 27).
Figura 27: Lagos formados por impacto de meteoritos
Fonte: Sperling, 1999.
?
Atividade do vento: são lagos originados pela ação do vento (deslocamento de dunas
de areia) (FIG. 28). Geralmente, são lagos temporários que apresentam uma alta tendência a
salinização.
Associados
?
à linha costeira: os
lagos costeiros ou
lagunas são formaFigura 28: Lagos de duna
das por diferentes
Fonte: Sperling, 1999.
processos geológicos
que acontecem na região próxima ao litoral.
Formam-se, principalmente, por sedimentos
transportados pelas correntes marinhas que no
decorrer do tempo isolam a enseada (FIG. 29).
Os lagos também podem ser classificados quanto ao grau de Salinidade, podendo
ser de água doce, de água salobra, de água
50
Figura 29: Lagos formados por
isolamento de enseadas
Fonte: Sperling, 1999.
Hidrografia
UAB/Unimontes
salgada. Como um exemplo de lago de água salgada, podemos citar Salt
Lake City, que fica na cidade de mesmo nome, no estado de Utah, Estados
Unidos.
Quanto à drenagem, os lagos podem ser classificados como
exorréicos ou endorréicos, se o escoamento for para o mar ou para dentro
do continente.
3.1.2 Sistemas Lacustres no Mundo
As águas continentais possuem um volume total que representa
2,7% da água do planeta. Boa parte dessa água está disponível sob a forma
de lagos, que se apresentam em grandes extensões caracterizando a
paisagem de diversos países, como mostramos na Tabela 2 .
Tabela 2: Os maiores lagos de água doce da Terra
Lago
(km2)
Volume (km3)
Superior
Vitoria
Huron
Michigan
Taganica
Baikal
Nyasa
Great Bear
Great Slave
Erie
Winnipeg
Ontário
Ladoga
Chad
Maracaibo
Tonlé Sap
Onega
Rudolf
Nicarágua
Titicaca
Athabasca
Reindeer
TungTing
Vanern
Zaisan
Winnipegosis
Albert
Mweru
82.680
69.000
59.800
58.100
32.900
31.500
30.900
30.200
27.200
25.700
24.600
19.000
17.700
16.600
13.300
10.000
9.630
8.660
8.430
8.110
7.900
6.300
6.000
5.550
5.510
5.470
5.300
5.100
11.600
2.700
3.580
4.680
18.900
23.000
7.725
1.010
1.070
545
127
1.710
908
44,4
40
295
108
710
110
180
53
16
64
32
Profundidade
máxima (m)
406
92
299
281
1.435
1.741
706
137
156
64
19
236
230
12
35
12
127
73
70
230
60
10
100
8,5
12
57
15
Continente
América Norte
África
América Norte
América Norte
África
Ásia
África
América Norte
América Norte
América Norte
América Norte
América Norte
Europa
África
América Sul
Ásia
Europa
África
América Central
América Sul
América Norte
América Norte
Ásia
Europa
Ásia
América Norte
África
África
Fonte: Rebouças, Braga e Tundisi, 2002.
Na FIG. 30, podemos observar o Lago Balkhash visto do Espaço.
Esse lago cobre 16.996 Km², ocupa uma depressão na Ásia Central, na zona
sul oriental do Cazaquistão. Tem como afluentes o rio Ili, Lepsa ou Karatal. O
lago está reduzindo por causa do uso extensivo que consome a água
procedente de seus rios tributários.
51
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Figura 30: Lago Balkhash, visto do Espaço
Fonte: http://www.joaoleitao.com/viagens/2008/04/08/maiores-lagos-do-mundo-lagos-commaior-volume-de-agua-no-planeta/
3.1.3 Sistemas Lacustres no Brasil
Considerando a dimensão territorial do Brasil e a sua riqueza
hídrica, podemos considerar que a existência de lagos é restrita. No Brasil, a
maioria dos ecossistemas lacustres tem sua gênese associada à dinâmica de
rios (ESTEVES, 1988). Deste modo, através de processos de erosão e sedimentação, foram formados os principais sistemas lacustres brasileiros. Os
lagos existentes podem ser agrupados em três categorias: costeiros, formados pelo fechamento de uma restinga ou cordão arenoso (caso das lagoas
dos Patos, Mirim e Mangueira, no Rio Grande do Sul; Araruama e Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro – FIG. 31); fluviais ou de transbordamento,
originados pelo transbordamento de cursos fluviais (como o Manacapuru,
no Amazonas; Mandioré e Cáceres, em Mato Grosso) e lagos mistos (Lagoa
Feia, no Rio de Janeiro e Manguaba em Alagoas).
52
Hidrografia
UAB/Unimontes
Figura 31: Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro
Fonte: http://www.rentanapartmentinrio.com/lagoa_rodrigo_de_freitas_foto.jpg
A TAB. 3 mostra alguns lagos brasileiros, segundo Guerra (1993):
Tabela 3: Lagos Brasileiros
Estado
Rio Grande do Sul
Rio de Janeiro
Alagoas
Lago
Patos
Mirim
Mangueira
Itapema
Feia
Araruama
Saquarema
Camorim
Marapendi
Rodrigo de Freitas
Manguaba
Mundaú
Jequiá
Poxim
Área em Km2
9850
9850
815
120
328
207
36
11
03
03
57
30
20
10
Fonte: Guerra, (1993).
Na TAB. 3, podemos visualizar alguns dados de lagos do Brasil como
Patos e Mirim no Rio Grande do Sul com 9.850 Km2, a famosa lagoa Rodrigo
de Freitas no Rio de Janeiro com 3 Km2, a Manguaba e Mundaú em Alagoas
com 57 e 30 Km2, respectivamente.
Texto Complementar 5: Lagos do Rio Doce
No médio Rio Doce em uma área no planalto sudeste do Brasil,
conhecida como as "terras baixas interplanálticas" do médio Rio Doce,
encontram-se 150 lagos não conectados com o Rio Doce, formando,
portanto, um verdadeiro sistema lacustre natural. A vegetação original
das bacias hidrográficas era constituída por Mata Atlântica Tropical,
presentemente substituída por extensas plantações de Euealyptus sp. A
53
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
origem deste sistema de acordo com Pflug (1969), Meis & Moura (1984),
Meis & Tundisi (1997), está relacionada com períodos de intensa precipitação e seca os quais sucessivamente, modelaram a paisagem, produzindo barramentos nos afluentes do Rio Doce, dando origem aos lagos
do atual sistema. Fases de deposição e de erosão de sedimentos formaram ao redor dos lagos colinas côncavas ou convexas as quais são
importantes quantitativamente para o transporte e deposição de sedimentos nos lagos.
Os lagos atualmente representam redes hidrográficas seccionadas. As dimensões variam desde pequenos lagos com 1-2 km2 até lagos
com 28km2 e profundidade de aproximadamente 30 metros.
Este sistema foi considerado por Meis & Tundisi (1997) como
um paradigma para a compreensão de processos geomorfológicos que
deram origem a lagos de diferentes profundidades, morfometrias e
dimensões. Estabilidade térmica, de 8 a 9 meses seguida de isotermia,
no inverno (2-3 meses) é devida ao aquecimento e resfriamento térmico, ao efeito das águas de precipitação que produzem gradientes
verticais acentuados de densidade e à ausência de ventos.
Ciclos diurnos de temperatura estudados por Barbosa (1981)
mostram a importância destes processos no controle químico e biológico nos lagos.
O sistema de lagos foi impactado pela remoção da Mata
Atlântica Tropical e plantação de Euealyptus sp, pesca intensiva e
introdução de espécies exóticas de peixes (CieMa oeeelaris-tueunaré),
remoção de áreas alagadas para uso intensivo em cultivo, construção de
estradas e uso de fertilizantes em plantações. (Tundisi et al., 1997).
Os lagos do rio Doce constituem um importante testemunho da
interação Mata Atlântica Tropical, sistemas aquáticos, e são relictos
fundamentais que devem ser preservados. Estudos intensivos nestes sistemas (Tundisi & Saijo, 1997) demonstram o potencial para a compreensão de processos de interações sistema terrestre/sistema lacustre e de
mecanismos evolutivos. Estudos recentes sobre palinologia. (Dumont &
Tundisi, 1997; Spadano, 1998.), demonstraram os efeitos de várias
mudanças climáticas no funcionamento dos lagos.
Extraído de: REBOUÇAS, BRAGA e TUNDISI, 2002, p. 166.
54
Hidrografia
UAB/Unimontes
3.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
“A água não é somente herança de nossos predecessores; ela
é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua
proteção constitui uma necessidade vital, assim como a
obrigação moral do homem para com as gerações presentes
e futuras”.
Declaração Universal dos Direitos da Água
Conforme você aprendeu, a água no planeta Terra desenvolve um
ciclo denominado ciclo hidrológico no qual a água percorre diferentes
caminhos. A água proveniente da chuva se infiltra nos espaços encontrados
no solo e nas rochas até não encontrar mais espaços vazios, quando começa
a se movimentar horizontalmente em direção às áreas de baixa pressão. A
água que não se infiltra no solo escorre para os rios, riachos, ribeirões, mares,
oceanos e lagos, podendo ainda se acumular em forma de gelo.
A ciência que tem o objetivo de estudar as águas subterrâneas, seu
movimento, ocorrência, propriedades, interações com o meio físico e
biológico, bem como os impactos das ações dos seres humanos na qualidade
e quantidade nessas águas (poluição, contaminação e superexplotação) é a
Hidrogeologia. (MMA, 2007).
3.2.1 Conceituando águas subterrâneas
Conforme a Resolução Nº 15 do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos ( CNRH), as águas podem ser classificadas como:
I - Águas Subterrâneas - as águas que ocorrem naturalmente
ou artificialmente no subsolo;
II - Águas Meteóricas - as águas encontradas na atmosfera em
quaisquer de seus estados físicos;
III- Aqüífero - corpo hidrogeológico com capacidade de
acumular e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou
espaços resultantes da dissolução e carreamento de
materiais rochosos;
IV - Corpo Hídrico Subterrâneo - volume de água armazenado no subsolo.
De acordo com Rebouças (2006, p. 116-117): as águas subterrâneas são todas as águas que ocorrem:
Abaixo da superfície de uma determinada área – água do
solo, água da zona não-saturada, água da zona saturada,
água de camadas aflorantes muito permeáveis (aqüífero
livre), água de camadas encerradas entre outras relativamente menos permeáveis (aqüífero confinado), água de camadas
relativamente argilosas (aquitardes), água de camadas muito
argilosas (aquicludes) -, daí a denominação atual mais
freqüente de águas subterrâneas.
55
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Dessa forma, podemos concluir que a água subterrânea é a parcela
do ciclo da água que permanece no subsolo, fluindo de maneira bastante
lenta, indo descarregar em corpos d'água na superfície da terra, interceptadas por raízes de plantas ou extraídas em poços. É de fundamental importância para o fluxo dos rios, lagos, brejos e para manter a umidade do solo.
Conforme o Instituto Geológico Mineiro (2001), as águas subterrâneas são encontradas entre os espaços vazios existentes entre os grãos do
solo, rochas e fissuras (rachaduras, quebras, descontinuidades e espaços
vazios). Na FIG. 32, podemos observar todo o caminho percorrido pelas
águas:
Figura 32: Os caminhos da água subterrânea
Fonte: Instituto Geológico Mineiro, 2001.
No limite entre as zonas saturadas e não saturada, ocorre o nível
freático, que demarca o contato entre estas, conhecido popularmente como
lençol freático. A zona não saturada compreende a área onde a água e o ar
preenche os espaços vazios entre os grânulos; a zona saturada é onde a
maioria dos espaços vazios é preenchida por água.
3.2.2 Origem das águas subterrâneas
De acordo com Rebouças (2006, p. 118) “as águas subterrâneas
representam a parcela da hidrosfera que ocorre na subsuperfície da terra”.
Essas águas têm três origens principais: meteórica, conata e juvenil.
Meteórica: são as mais importantes por constituírem cerca de 97%
dos estoques de água doce em estado líquido nos continentes e ilhas ( terras
emersas). São constituídas pela infiltração de águas de chuva, neve e neblinas. Essas águas podem ser utilizadas para abastecimento humano, em
indústrias e atividades agropecuárias.
56
Hidrografia
UAB/Unimontes
Conatas: são águas que estão retidas nos sedimentos desde a
formação dos depósitos, sendo, portanto, chamadas também de águas de
formação. Em função disso, possui altos teores salinos.
Origem juvenil: são águas geradas pelos processos magmáticos da
Terra. Possui um volume de água insignificante se comparadas ao volume de
águas subterrâneas meteóricas.
3.2.3Classificação dos aquíferos
Os aquíferos podem ser classificados quanto à:
a) Posição e estrutura
Aquífero livre: formação geológica permeável e parcialmente
saturada de água. É limitado na base por uma camada impermeável. O nível
da água no aquífero está à pressão atmosférica.
Aquífero Confinado: formação geológica permeável e completamente saturada de água. É limitado no topo e na base por camadas impermeáveis. A pressão da água no aquífero é superior à pressão atmosférica.
Semiconfinados: situação intermediária entre os dois anteriores.
Os tipos de aquífero livre e confinado estão representados na FIG.
33. Observamos que o aquífero confinado (camada B) está limitado na base
e no topo pelas camadas impermeáveis C e A, enquanto o aquífero livre
(camada D) é limitado na base pela camada C.
Figura 33: Aquíferos e sua posição
Fonte: Instituto Geológico Mineiro, 2001.
57
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
b) Porosidade e Permeabilidade
Para a existência de água subterrânea, é necessário que ela atravesse e circule através das formações geológicas que têm de ser porosas e
permeáveis. Uma formação é porosa quando é formada por grãos que
contêm espaços vazios (poros) que podem ser ocupados por água. Outras
formações existentes são as diáclases e fraturas, formadas por material
rochoso (FIG. 34).
Figura 34: Os aquíferos e a permeabilidade
Fonte: Instituto Geológico Mineiro, 2001.
Existem três tipos de aquíferos quanto à permeabilidade:
Aquífero poroso: onde a água circula através de poros do solo e
grãos constituintes de rochas sedimentares.
Aquífero cárstico: onde a água circula pelas aberturas ou cavidades causadas pela dissolução de rochas, principalmente nos calcários;
Aquífero fissural: no qual a água circula pelas fraturas, fendas e
falhas nas rochas.
3.2.4 Nível das águas nos aquíferos e funções
?
Conforme o Instituto Geológico Mineiro (2001, p. 8) O nível da
água nos aquíferos é variável de acordo com:
?
a precipitação ocorrida;
?
a extração de água subterrânea;
?
os efeitos de maré nos aquíferos costeiros;
?
a variação súbita da pressão atmosférica, principalmente no
Inverno;
58
Hidrografia
UAB/Unimontes
as alterações do regime de escoamento de rios influentes (que
?
recarregam os aquíferos);
a evapotranspiração, entre outros.
?
De acordo com Rebouças (2006), os aquíferos podem exercer
diferentes funções devido às suas características e propriedades:
Produção: Corresponde aos usos múltiplos das águas, ou seja,
?
abastecimento humano, industrial, agrícola;
Função Ambiental: Fornecimento de água de qualidade,
?
avaliando os fatores que podem impactar negativamente o solo/subsolo e as
águas subterrâneas;
Função Transporte: Transporte de água entre zonas de recarga
?
artificial ou natural e áreas de extração excessiva;
Função Estratégica: Gerenciamento integrado das águas
?
superficiais e subterrâneas de áreas metropolitanas;
Função Filtro: São atuantes como filtros naturais, minimizando
?
os custos de tratamento para consumo;
Função Energética: Fonte de energia elétrica ou termal;
?
Função Estocagem e Regularização: armazenamento de água
?
em período de chuva e distribuição em rios e lagos em épocas de estiagem.
3.2.5 Águas Subterrâneas no mundo e no Brasil
Nos últimos anos, as águas subterrâneas vêm ganhando importância para usos diversos. Em muitas regiões do mundo, como é o caso da
Europa, Rússia, Norte da África e Oriente Médio, a maior parte da água
potável é de origem subterrânea. Na FIG. 35, podemos observar a distribuição dos recursos hídricos subterrâneos do planeta.
DICAS
Legenda do quadro ao lado:
Principais bacias
higrogeológicas com aquíferos
altamente produtivos
Área com estrutura
complexa incluindo alguns
aquíferos importantes
Área com aquíferos
geralmente pobres, localmente
coberto por aquíferos
aluvionares
Gelo permanente
Figura 35: Recursos Hídricos Subterrâneos no mundo
Fonte: UNESCO, 2006
59
Lagos grandes
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Na FIG. 35, podemos verificar que é grande o potencial de águas
subterrâneas no mundo; entretanto, o seu uso intenso, principalmente nas
zonas áridas, tende a alterar o quadro de abundância da atualidade. A TAB. 4
mostra os principais aquíferos no mundo, seus respectivos países, área e
volume.
Tabela 4: Principais Aquíferos do Mundo
Nome
1
2
3
4
Sistema Aqüífero do
amazonas (Solimões, Iça,
Alter do Chão)
Núbia
Norte do Sahara
Sistema Aqüífero Guarani
5
6
7
8
9
Grande Bacia Artesiana
High Plain
North China Plain
Vecht
Kalahari/Karoo Basin
10
11
12
Índia River Plain
Leste Prússia
Aquifero Rio Grande
Bolívia, Brasil, Colômbia,
Equador, Peru, Venezuela
3,95
Volume
estimado
(milhões
/m3)
-
Líbia, Egito, Chad, Sudão
Algéria, Líbia e Tunísia
Argentina, Brasil, Paraguai,
Uruguai
Austrália
China
China
Alemanha e Holanda
Namíbia, Botswana, África
do Sul
Índia e Paquistão
Rússia, Polônia e Lituânia
Estados Unidos e México
2
1,03
1.2
75
60
37
1,7
0,14
0,14
0,38
0,144
20
5
5
Países
Área
(milhões
/km2)
0,560
0,108
-
-
Fonte: UNESCO, 2006.
B GC
GLOSSÁRIO
E
A
Províncias: regiões onde os
sistemas aquíferos apresentam
condições semelhantes de
armazenamento, circulação e
qualidade de água.
F
Podemos perceber que Colômbia, Equador, Venezuela, Bolívia,
Peru, Austrália, Líbia, Algéria e Tunísia são países privilegiados em relação às
águas subterrâneas.
O Brasil possui grandes potenciais de águas subterrâneas, tanto na
forma de umidade do solo como água que flui no subsolo. De acordo com o
Relatório do Plano Nacional de Recursos Hídricos (2006), há estimativas da
existência de pelo menos 400 mil poços no Brasil. Conforme Rebouças
(2006, p. 141) “as reservas de água subterrânea móvel são estimadas em 112
mil Km³, sendo que cerca de 5 mil m³/hab/ano poderiam ser extraídos de
forma racional”.
Na FIG. 36,
podemos observar as
províncias e subprovíncias hidrogeológicas
brasileiras, onde
verificamos o grande
potencial hídrico do
Brasil, principalmente
nas Províncias
Amazonas, Paraná e
Escudo Oriental.
Figura 36: Províncias hidrogeológicas do Brasil
Fonte: Rebouças, Braga e Tundisi, 2002, p. 131.
60
Hidrografia
UAB/Unimontes
A água, tanto de poços como de fontes, vem sendo bastante
utilizada para múltiplos usos, como abastecimento humano, irrigação,
indústria e lazer. Dos domicílios brasileiros, 15,6% utilizam exclusivamente a
água subterrânea, que representa o principal manancial hídrico de algumas
áreas do Brasil, embora seja utilizada como complementar ao superficial em
muitas regiões.
Apesar do grande potencial hídrico, temos crise de água. Como
afirma Rebouças (2006), a crise da água é uma crise como outra qualquer,
como a da saúde, educação, habitação, entre outras. Como sabemos, esses
problemas são em decorrência da falta de vontade política, que ao longo da
história favorece “o interesse de uns poucos”.
Texto Complementar 6: Aqüífero Guarani
O termo Aqüífero Guarani (Rocha, 1997) é a denominação
dada ao sistema hidroestratigráfico Mesozóico, constituído por depósitos de origem flúvio/lacustre/eólicos do Triássico (Formações Pirambóia
e Rosário do Sul no Brasil, Buena Vista no Uruguai) e por depósitos de
origem eólica do Jurássico (Formações Botucatu no Brasil, Misiones no
Paraguai e Tacuarembó no Uruguai e Argentina). Sua área de ocorrência,
de 1. 195.200km2, extrapola a porção brasileira da Bacia do Paraná
com mais de 839.800 km2 (MS = 213.200 km2, RS = 157.600 km2, SP
= 155.800 km2, PR = 131.300 km2, GO = 55.000 km2, MG =
51.300, SC = 49.200 km2 e MT = 26.400 km2) e estende-se na direção
do Paraguai (71.700 km2), Argentina (225.300 km2) e Uruguai (58.400
km2). O aqüífero é confinado pelos basaltos da Formação Serra Geral
(Cretáceo) e por sedimentos permo-triássicos de baixa permeabilidade.
As reservas de água subterrânea da parte brasileira desse sistema aqüífero são estimadas em 48.000 km3, sendo as recargas naturais nos
118.000 km2 de afloramento da ordem de 26 km3/ano, enquanto as
recargas indiretas induzidas pelos potenciais hidráulicos superiores das
águas acumuladas nos basaltos e sedimentos do Grupo Bauru/Caiuá, da
ordem de 140 km3/ano, ou seja, um total de 166 km3/ano. O tempo de
renovação de suas águas é de 300 anos, contra 20 mil anos na Grande
Bacia Artesiana da Austrália, por exemplo. As águas são de excelente
qualidade para consumo doméstico, industrial e irrigação e, em função
das temperaturas serem superiores a 30°C em todo o domínio confirmado, vêm sendo muito utilizadas para desenvolvimento de balneários.
Sobre cerca de 70% da área de ocorrência, onde as cotas topográficas
são inferiores aos 500 m, há possibilidade de os poços serem jorrantes.
O extrativismo é dominante e o desperdício é flagrante, exigindo
medidas urgentes, nos planos nacional e internacional (Rebouças,
1976).
61
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
3.2.6 Qualidade das águas subterrâneas
PARA REFLETIR
Água Mineral é aquela
proveniente de fonte natural,
que possui em sua composição
elementos que a tornam
diferente das águas comuns, e
lhe conferem propriedades
comprovadamente
terapêuticas ou
medicamentosas.
Há falta de estudos sistemáticos sobre a qualidade química e
bacteriológica das águas subterrâneas no Brasil. As informações são dispersas, se concentrando apenas próximo às capitais.
Avaliando as informações disponíveis, as águas subterrâneas no
Brasil de um modo geral são de boa qualidade, possuindo propriedades
físico-químicas e bacteriológicas adequadas ao uso humano e demais usos.
No entanto, podem existir algumas restrições de uso por não se adequar aos
parâmetros de potabilidade, como elevada dureza, sólidos totais dissolvidos.
Essas restrições relacionam-se a águas de áreas específicas como regiões com
ocorrência de rochas calcárias (PLANO NACIONAL DE RECURSOS
HÍDRICOS, 2006, p. 62).
Como a maioria dos recursos naturais, as águas subterrâneas
também vêm sendo alteradas pelas atividades antrópicas. Conforme o
referido relatório, entre os principais problemas estão:
?
a perfuração de poços desprovida de projetos construtivos e em
desobediência às normas técnicas;
?
ocorrências localizadas de contaminação em razão da carência
de sistemas de saneamento;
?
excessivo bombeamento de poços na região costeira, que
aumenta a intrusão da cunha de água do mar, gerando problemas de
salinização das águas;
?
vazamentos de tanques de armazenamento de combustíveis;
?
uso de insumos agrícolas, com grande potencial de contamina-
ção difusa, entre outros problemas.
O grande potencial de água subterrânea brasileiro, no contexto da
globalização, deveria ser utilizado como estratégia de desenvolvimento, já
que, como destaca Rebouças (2006, p. 141), “as águas subterrâneas
representam um insumo econômico mais importante do que o petróleo, na
medida em que a água é um recurso insubstituível”. A água deve ser melhor
estudada, como também protegida através de Leis específicas, para que seja
usada racionalmente evitando a sua contaminação.
62
Hidrografia
UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
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capital ecológico, uso e conservação. 3. ed. São Paulo: Escritura Editora,
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pré-viabilidade. São Paulo, 1976.
ROCHA, Gerôncio Albuquerque. O Grande Manancial do Cone Sul.
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63
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
RODRIGUES, C. ADAMI, Samuel. Técnicas Fundamentais para o estudo
de Bacias Hidrográficas. In: Luis Antônio Bittar Venturi. (Org.). Praticando
geografia: técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de textos,
2005.
SPERLING, E. V. Morfologia de lagos e represas. DESA/UFMG. Belo
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TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora
da UFRGS/ABRH, 2004.
UNESCO. El água como fonte de conflictos: repaso de los conflictos em el
mundo. In Oficina Regional de Ciência e Tecnologia da UNESCO, 2006.
http://www.yearofplanetearth.org/ Água subterrânea - reservatório para um
planeta com sede?
http://www.joaoleitao.com/viagens/2008/04/08/maiores-lagos-do-mundolagos-com-maior-volume-de-agua-no-planeta/
http://www.rentanapartmentinrio.com/lagoa_rodrigo_de_freitas_foto.jpg
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
Como Nasceu Nosso Planeta - Os Grandes Lagos
Os Grandes Lagos da América do Norte são as maiores extensões de
água doce do mundo. O documentário de 5 partes de duração de 6 a 10
minutos, investiga a origem e a situação atual dos grandes lagos.
?
Para visualizar o vídeo é só entrar no site www.youtube.com,
digitando em pesquisa Como Nasceu Nosso Planeta - Os Grandes Lagos.
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=UR4dAWCi20k&feature=related.
Acesso em 30 jan. 2010.
64
4
UNIDADE 4
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Na Conferência de Mar Del Plata, realizada em 1977, o período de
1981 a 1990 - foi declarado como “A década Internacional do Abastecimento de Água e Saneamento”, época em que foram estabelecidas metas pelos
países membros da Organização das Nações Unidas – ONU de proporcionar, até 1990, “[...] abastecimento adequado de água segura e saneamento
apropriado para todos”, uma vez que "[...] todos os povos, quaisquer que
sejam seu estágio de desenvolvimento e suas condições sociais e econômicas, têm direito ao acesso à água potável em quantidade e qualidade à altura
de suas necessidades básicas" (HESPANHOL, 2006, p. 269).
Na atualidade, percebemos que os objetivos daquela proposta não
foram efetivados, ainda que leis e tratados tenham sido elaborados no
sentido de buscar a Gestão dos Recursos Hídricos de forma racional e
equilibrada garantindo seus múltiplos usos.
Nesta unidade vamos abordar os conceitos relativos à Gestão dos
Recursos Hídricos e suas implicações no meio ambiente.
Os objetivos dessa unidade são:
?
Apresentar a política nacional de recursos hídricos;
?
Discutir os principais instrumentos e instâncias para o gerencia-
mento desses recursos;
?
Analisar os principais impactos ambientais relacionados aos
recursos hídricos na atualidade.
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes tópicos.
4.1 Conceitos de gestão de recursos hídricos
4.2 Princípios básicos da gestão de recursos hídricos
4.3 Usos da água
4.3.1 Usos múltiplos da água
4.4 Arcabouço legal e institucional na gestão de recursos hídricos
4.4.1 Lei 9.433/97
4.4.2 Instrumentos da política nacional de recursos hídricos
4.5 Classificação das águas quanto à destinação
4.6 O meio ambiente e os recursos hídricos
4.6.1 Poluição das águas
4.6.2 Tipos de poluição
4.6.3 Principais fontes de poluição na atualidade
4.6.4 A água e a saúde humana
Ao final da unidade, esperamos que você seja capaz de identificar
os conceitos e princípios básicos da Gestão de Recursos Hídricos bem como
as consequências da poluição da água sobre a saúde humana.
65
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Não se esqueça: “Perto de muita água, tudo é feliz" (Guimarães
Rosa). Estude bastante.
As Autoras.
4 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
“A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um
valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes,
rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em
qualquer região do mundo.”
Declaração Universal dos Direitos da Água
A água é um bem essencial à vida e à sociedade; é limitada; face aos
seus usos, é escassa na natureza e, portanto, um bem econômico; e é um
bem público.
Por todos esses motivos, torna-se imprescindível uma maior preocupação acerca da sua quantidade e qualidade, devendo o poder público
estruturar um sistema de gerenciamento. Esse sistema deve contemplar a
proteção das fontes naturais, a conservação quantitativa e qualitativa da
água e o seu uso racional e justamente distribuído, garantindo os seus
múltiplos usos para a população.
Figura 37: Á água e a sua limitação
Fonte: http://www.apea.pt/xFiles/scContentDeployer_pt/images/image174.gif
4.1 CONCEITOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
Gestão de recursos hídricos, segundo Barth (1987), é a forma pela
qual se almeja equacionar e resolver as questões de sua escassez relativa.
Grigg (1996) a define como sendo a aplicação de medidas estruturais e não-
66
Hidrografia
UAB/Unimontes
estruturais para controlar os sistemas hídricos, naturais e artificiais, em
benefício humano e atendendo a objetivos ambientais.
De acordo com Teixeira (2004), a gestão das águas, no sentido lato,
é o conjunto de procedimentos organizados no intuito de solucionar os
problemas referentes ao uso e ao controle dos recursos hídricos. O objetivo
da gestão é atender, dentro de princípios de justiça social e com base nas
limitações econômicas e ambientais, às necessidades de água da sociedade,
a partir de uma disponibilidade limitada.
Em síntese, Gestão de Recursos Hídricos é a maneira pela qual se
almeja equacionar e resolver as questões de escassez relativa dos recursos
hídricos, como também fazer o uso adequado, visando a otimização dos
recursos em benefício da sociedade.
Para que a gestão de recursos hídricos seja efetivada, é fundamental
a motivação política, que possibilitará planejar e controlar os recursos
hídricos, fornecendo também os meios para a implantação de obras e
medidas necessárias ao bom andamento dos trabalhos planejados.
4.2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Nos últimos anos determinados princípios básicos e critérios
referentes à gestão dos recursos hídricos vêm se consolidando a partir do
apoio consensual de técnicos, cientistas, pesquisadores, gestores e usuários.
Alguns destes princípios são fundamentais para a Gestão:
I - a água é um bem de domínio público;
II- a água é um recurso natural limitado, dotado de valor e c o n ô m ico;
III- em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos
é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV- a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o u s o
múltiplo das águas;
V- a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI- a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar
com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
A gestão de recursos hídricos é composta de três subfunções:
Planejamento
Administração
67
Regulamentação
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Estas subfunções se configuram em um conjunto de ações, atividades e instrumentos que possibilitam organizar, regrar e controlar as disponibilidades e os múltiplos usos da água, no que se refere à quantidade e à
qualidade, garantindo assim as condições mínimas de satisfação da sociedade.
4.3USOS DA ÁGUA
A água pode ser vista por diferentes prismas: químico, físico,
biológico, teológico, da engenharia, sob a ótica do direito e sob o ponto de
vista econômico, dependendo da análise a ser realizada. Em se tratando do
direito, de acordo com Carrera-Fernandes e Garrido ( 2002, p. 21), “no
Brasil, a água é um bem público de uso comum, não suscetível de direito de
propriedade”. Sob o enfoque econômico é “um recurso natural renovável,
porém limitado e escasso, de grande valor econômico, pelo menos em
termos de valor de uso”. Apesar da grande quantidade de água existente na
terra, a água potável disponível é na realidade um recurso escasso.
USO CONSUNTIVO - Nos usos consuntivos, a água é retirada de
seus mananciais através de captação ou derivações, porém apenas parte
dessa água retorna a suas fontes de origem. Os principais usos consuntivos
dos recursos hídricos são: abastecimento humano, animal (dessedentação),
industrial e irrigação.
USO NÃO CONSUNTIVO - Nos usos não consuntivos, a água é
utilizada em seus próprios mananciais sem retirá-la do sistema ou após sua
captação, são retornadas integralmente aos seus mananciais. A geração de
energia elétrica, a navegação, a diluição de efluentes, a preservação da flora
e fauna e a recreação são exemplos desses usos.
4.3.1 Usos múltiplos da água
A água era utilizada anteriormente para dessedentação, usos
domésticos, criação de animais e usos agrícolas através da chuva, e muito
pouco utilizada para irrigação. Com o desenvolvimento das técnicas,
aumenta-se também a demanda por outros tipos de uso da água. Desde o
início do Séc. XX, com o advento da industrialização brasileira tem início a
tradição pelo uso múltiplo dos Recursos Hídricos, momento em que a
economia predominantemente agrícola passa para a economia industrial
(CARRERA-FERNANDES E GARRIDO, 2002).
O uso múltiplo das águas tem a finalidade de evitar ou eliminar os
conflitos pelo seu uso. Dessa forma é reconhecido pela Política Nacional de
Recursos Hídricos como um dos princípios norteadores da Gestão de
Recursos Hídricos. Entretanto, é necessário que as principais características
de cada um dos usos dos Recursos Hídricos seja conhecida para estabelecimento das prioridades e necessidades de cada usuário.
68
Hidrografia
UAB/Unimontes
A) ABASTECIMENTO HUMANO
Em situação de escassez, o abastecimento humano é um dos usos
prioritários dos Recursos Hídricos de acordo com a Política Nacional de
Recursos Hídricos. A demanda de água para esse uso vai depender de
algumas características como a localidade que pode ser em cidades grandes,
médias ou pequenas e a população a ser abastecida. A população a ser
abastecida depende de peculiaridades inerentes a cada comunidade,
podendo ser socioeconômica, naturais e tecnológicos. Portanto a demanda
vai depender de uma série de características, como o tamanho da população, os seus hábitos, das atividades socioeconômicas, da infraestrutura
existente para captação da água, das condições naturais da localidade, grau
de reutilização da água, entre outros.
B) DESSEDENTAÇÃO ANIMAL
A dessedentação animal também faz parte do uso prioritário da
água, conforme a Política Nacional de Recursos Hídricos. A alta demanda
para este uso é basicamente determinada pela atividade pecuária.
C) ABASTECIMENTO INDUSTRIAL
São diversas as utilidades da água neste setor, sendo essencial nas
atividades industriais. Dos vários usos podemos citar: a limpeza, como
matéria-prima, elemento para produção de vapor, absorvente de calor,
como veículo para o despejo de efluentes líquidos, entre outros.
D) AGRICULTURA IRRIGADA
A agricultura irrigada é o setor que demanda maior uso de água no
mundo. A quantidade demandada vai depender também de diversas
características como tipo de cultivo e período, sistema de irrigação e superfície a ser irrigada. Na FIG. 38, vemos a distribuição da água captada por setor.
Figura 38: Distribuição do volume total captado por setor
Fonte: ANEEL, SEIH, 2000.
69
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Como pode ser observado no Gráfico da FIG. 38, do total de água
utilizada no mundo, cerca de 70% são para irrigação, 20% para consumo
industrial e 10% para consumo doméstico, podendo ser confirmada a
grande demanda de água para irrigação no mundo.
E) GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
A água é um elemento essencial para a produção de energia hidráulica. Ainda que esse uso seja considerado não consuntivo, CarreraFernandes e Garrido (2002) afirmam que o aproveitamento hidrelétrico e a
operação de plantas termelétricas podem afetar, de forma significativa, o
regime hídrico de uma bacia ou região hidrográfica. Devido ao grande
potencial hídrico brasileiro, mais de 90% da geração de energia é de origem
hidrelétrica o que dificulta a Gestão dos Recursos Hídricos.
F) PESCA
A pesca é um dos usos não consuntivos da água e tem a vantagem
de ser compatível com outros usos, além de ser uma atividade importante
para a economia, pois gera alimentos, emprego, renda e arrecadação de
impostos.
G) PISCICULTURA E AQUICULTURA
Fazem parte dos usos não consuntivos. Do ponto de vista econômico, a piscicultura e a aquicultura são importantes atividades; entretanto, é
fundamental que a água para o desenvolvimento dessa atividade seja de boa
qualidade para se obter uma produção adequada.
H) NAVEGAÇÃO
A navegação é um importante sistema de circulação pela economia
gerada, porém apesar do grande potencial de navegabilidade dos rios
brasileiros, esse meio de transporte é pouco utilizado. A navegação é uma
atividade de uso não consuntivo, porém o seu estudo é importante no
sentido de garantir condições de navegabilidade ao curso de água.
Existem ainda outras formas de uso da água como o lançamento, a
diluição e o transporte de efluentes, uso para esporte, lazer e turismo, além
das demandas ecológicas. Todos esses usos são importantes para o desenvolvimento econômico, como também para a melhoria das condições de vida
das populações. Dessa forma é necessário um gerenciamento apropriado
das bacias hidrográficas, no intuito de atender os usos múltiplos das águas,
evitando, assim, os conflitos entre os seus diversos usuários.
Na FIG. 39, podemos observar a predominância do uso da água por
setor de atividade, por país.
70
Hidrografia
UAB/Unimontes
Figura 39: Uso da água predominante por setor por país
Fonte: UNESP, 2004.
Legenda:
Cor rosa choque: Uso Industrial dominante
Cor roxo: Uso industrial dominante com significativo uso doméstico
Cor rosa claro: Uso industrial e agrícola igualmente dominantes
Cor azul petróleo: Uso doméstico dominante
Cor azul claro: Uso doméstico e agrícola dominantes
Cor pêssego: Uso agrícola altamente dominante com significativo uso
industrial
Cor laranja: Uso agrícola dominante com significativo uso industrial
Cor verde claro: Uso agrícola dominante com significativo uso doméstico
Cor verde escuro: Uso agrícola dominante
Cor cinza: Dados não disponíveis
Podemos verificar que nos países em desenvolvimento há a predominância do uso agrícola, enquanto na maioria dos países desenvolvidos
sobressai-se o uso industrial.
No Brasil, desde os primórdios coloniais, a agricultura e a mineração apresentam-se como atividades de grande potencial de desenvolvimento econômico. Nessa época, poucos conflitos de água ocorriam e, quando
ocorriam, se limitavam a questões de direitos de vizinhanças e de empecilhos de navegação nos cursos d'água, que eram resolvidos pelas autoridades
através dos instrumentos vigentes na época.
4.4 ARCABOUÇO LEGAL E INSTITUCIONAL NA GESTÃO DOS
RECURSOS HÍDRICOS
Embora somente nos últimos anos a questão da água tenha despertado maior atenção na esfera governamental, o Brasil possui, há décadas,
normas legais e órgãos destinados a promover seu gerenciamento, ainda que
nem sempre visando à gestão sustentável desse recurso.
71
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Na Constituição de 1824, não há uma preocupação com a questão
da água, pois não menciona sobre o uso, o domínio e a sua regulação;
porém, em 1890, no Código Penal, já se faz presente no Art. 162 o estabelecimento de prisão de um a três anos para quem “corrompesse ou conspurcasse a água potável de uso comum ou particular, tornando-a impossível de
beber ou nociva a saúde”.
A Constituição de 1891 limita a dispor sobre a competência da
União na legislação sobre navegação. Entretanto, em 1934, através do
Código das Águas, há a preocupação em elaborar normas legais de regulamentação e normatização da sua utilização. Ainda que voltado para a
priorização da energia elétrica, o Código de Águas de 1934 dá início a
mudanças de conceitos relativos ao uso e a propriedade da água, abrindo
espaço para o estabelecimento de uma Política Nacional de Gestão de
Águas.
No Código das Águas de 1934, fica claro a preocupação com a
contaminação das águas, momento em que há a institucionalização de
regras de conduta que são válidas até os dias atuais. Essa preocupação pode
ser verificada nos artigos seguintes:
Art. 109 - A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as
águas que não consome, com prejuízo de terceiros.
Art. 110 - Os trabalhos para salubridade das águas serão
executados à custa dos infratores, que, além de responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos
que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos
regulamentos administrativos.
Apesar da grande importância do Código das Águas como marco
jurídico na Gestão das Águas, fica claro que muito da sua legislação deixou
de ser cumprida, principalmente no que diz respeito à conservação da
qualidade da água. Contudo, mudanças bastante significativas em relação à
gestão das águas ocorreram em 1988, com a Constituição da República
Federativa Brasileira, consistindo em um grande progresso em relação aos
dispositivos anteriores, uma vez que atribui a Gestão das Águas aos domínios
da União e dos Estados, forçando-os a incluir em suas constituições disposições relativas à gestão das águas superficiais e subterrâneas. No entender de
Rebouças (2006, p.33), com a descentralização é facultado “aos estados
legislar sobre as águas, em caráter supletivo e complementar à União”,
propiciando ao país, rapidamente, arcabouço legal imprescindível para a
gestão dos recursos hídricos.
72
Hidrografia
UAB/Unimontes
4.4.1 Lei 9.433/97
O grande avanço em relação à Gestão das Águas ocorreu em 1997,
quando foi sancionada a Lei 9.433/97, que institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SINGREH). A Lei 9.433/97, mais conhecida como Lei das águas,
foi criada objetivando assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, como também o desenvolvimento sustentável através da utilização
racional e integrada dos recursos hídricos, além da prevenção e defesa
contra eventos hidrológicos críticos. No Plano Nacional de Recursos Hídricos (2006, p.53) consta que:
Esta política demonstra a importância da água e reforça seu
reconhecimento como elemento indispensável a todos os
ecossistemas terrestres, como bem dotado de valor
econômico, além de estabelecer que sua gestão deve ser
estruturada de forma integrada, com necessidade da efetiva
participação social.
O SINGREH é constituído por um conjunto de instituições governamentais e não governamentais, a saber, o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, Secretarias de recursos hídricos (SRH/MMA), Agência Nacional de
Água (ANA), Conselhos de Recursos hídricos dos estados e do Distrito
Federal, órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais, bem como dos Comitês de bacias hidrográficas e Agências de
bacia. Essa estrutura tem assegurado uma ampla participação de instituições
públicas de diferentes níveis governamentais, de usuários de recursos
hídricos, de instituições de classe e de representantes da sociedade civil,
possibilitando uma gestão dos recursos hídricos de forma descentralizada e
participativa. A FIG. 40 apresenta a constituição do SINGREH.
Figura 40: Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
Fonte: http://alfaconnection.net/meio%20ambiente/gerenciamento%20das%20aguas.htm
73
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
A seguir, são apontadas as principais atribuições das instituições
governamentais que constituem o SINGREH, segundo o Ministério do Meio
Ambiente:
?
Conselhos - subsidiar a formulação da Política de Recursos
Hídricos e dirimir conflitos.
?
MMA/SRHU - formular a Política Nacional de Recursos Hídricos
e subsidiar a formulação do Orçamento da União.
?
ANA - implementar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos,
outorgar e fiscalizar o uso de recursos hídricos de domínio da União.
?
Órgão Estadual - outorgar e fiscalizar o uso de recursos hídricos
de domínio do Estado.
?
Comitê de Bacia - decidir sobre o Plano de Recursos Hídricos
(quando, quanto e para quê cobrar pelo uso de recursos hídricos).
?
Agência de Água - escritório técnico do comitê de Bacia.
A Lei 9.433/97 estabeleceu novos princípios de organização para a
Gestão compartilhada do uso da água; porém, para o bom andamento da
Política é necessário o apoio de todas as instituições governamentais
descritas acima, bem como de todos os usuários de água representados
através dos Comitês de Bacia Hidrográfica.
4.4.2 Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos
O capítulo IV, no seu artigo 5º, a Lei 9.433/97 apresenta como
instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - Os Planos de Recursos Hídricos;
II- O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os
usos preponderantes da água,
III- A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV- A cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V- A compensação a municípios;
VI - O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
Dessa forma, a Lei 9.433/97 vem reafirmar a instituição dos
instrumentos de gestão das águas, no sentido de se fazer uma gestão
integrada das águas, com a participação de todos os setores da sociedade
como estratégia de melhoria da qualidade ambiental.
A Lei Federal 9.433/97 enfatiza ainda a necessidade de cobrança
pelo uso de recursos hídricos que é um instrumento da política nacional de
gestão do uso da água dos mananciais, prevista no código de águas de 1934.
Carrera-Fernandes e Garrido (2002) discutem a necessidade de manutenção desse instrumento no sentido de induzir uma postura de racionalidade
do usuário da água para que o mesmo a utilize sem desperdício.
74
Hidrografia
UAB/Unimontes
A) PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS
São planos diretores que visam à fundamentação e orientação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e ao gerenciamento dos recursos
hídricos. Tem como competência fazer o diagnóstico situacional da bacia no
que diz respeito à população, atividades produtivas, padrões de ocupação
do solo, balanço entre disponibilidade e demanda dos recursos hídricos em
quantidade e qualidade, como também os possíveis conflitos.
Fazem parte também dos planos de recursos hídricos, as metas de
racionalização do uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos disponíveis, assim como a adoção de medidas para o
atendimento dessas metas através da implantação de programas e projetos.
A outorga de direitos de uso dos recursos hídricos, as diretrizes e critérios
para a cobrança e as propostas para criação de áreas com uso restrito
também são de competência desses planos diretores. Os Planos de Recursos
Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País.
B) ENQUADRAMENTO DOS CORPOS D'ÁGUA
O enquadramento dos corpos d'água em classes, segundo usos
preponderantes, objetivam assegurar às águas qualidade compatível com os
usos mais exigentes a que forem destinadas, e diminuir os custos de combate
à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes.
C) OUTORGA
A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos é o instrumento
que tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos
usos da água superficiais e subterrâneas e o efetivo exercício dos direitos de
acesso à água. Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso
estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em
que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de condições
adequadas ao transporte aquaviário; deverá, também, preservar o uso
múltiplo destes.
D) COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA
A cobrança pelo uso da água tem como objetivo reconhecer a água
como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor,
incentivando a racionalização do uso da água, como também a obtenção de
recursos para o financiamento de programas e intervenções contemplados
nos planos de recursos hídricos.
Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que
foram gerados, sendo utilizados para custear estudos, projetos e programas
para a melhoria da qualidade e quantidade das águas na bacia, beneficiando
a coletividade.
75
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
E) SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS
HÍDRICOS
É um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação e divulgação de informações relevantes sobre recursos hídricos e fatores
relacionados à sua gestão. Tem ainda como objetivo a atualização das
informações sobre a disponibilidade e demanda de recursos hídricos em
todo o território nacional, subsidiando a elaboração dos Planos de Recursos
Hídricos.
4.5 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS QUANTO À DESTINAÇÃO
Cabe ainda ressaltar a relevância do Conselho Nacional de Meio
Ambiente – CONAMA no que diz respeito à Gestão das águas, sendo
considerado um avanço nessa direção. As águas são classificadas de acordo
com a Resolução 20 do CONAMA (1986), em águas doces (grau de salinidade igual ou inferior a 0,50%); salobras (entre 0,50% e 30%); e salinas
(superior a 30%). O conhecimento desses parâmetros é de grande importância para os usuários, gestores e técnicos responsáveis pelas avaliações de
direito do uso das águas, sendo fundamental para a outorga de direito de
uso. No Quadro 3 é apresentado a classificação das águas quanto a sua
destinação.
Em função dos diversos usos, foram criadas nove classes de qualidade. No quadro 3 são apresentados os usos preponderantes das classes
relativas à água doce, sendo que a Classe Especial pressupõe os usos mais
nobres, e a Classe 4, os menos nobres. As Classes 5 e 6 são relativas às águas
salinas e as Classes 7 e 8 às águas salobras.
Quadro 3: Classes de Usos – (Resolução CONAMA Nº 20 18/06/1986)
76
Hidrografia
UAB/Unimontes
Na Gestão de Recursos Hídricos, costuma-se levar em consideração primordialmente o aspecto quantitativo das águas, porém não deve ser
dissociado o aspecto quantitativo do qualitativo, já que as águas contaminadas não podem ser consideradas como parte das disponibilidades para a
maioria dos usos. (CARRERA-FERNANDES E GARIDO, 2002).
4.6 O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS HÍDRICOS
“A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem
envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita
com consciência e discernimento para que não se chegue a
uma situação de esgotamento ou de deterioração da
qualidade das reservas atualmente disponíveis”.
Declaração Universal dos Direitos da Água
Nas últimas décadas, é perceptível uma maior preocupação acerca
dos recursos naturais, uma vez que estes se apresentam com suas disponibilidades ameaçadas pela escassez, ou pela deterioração da sua qualidade.
A cultura do desperdício, que ao longo dos anos tem acompanhado
a população mundial, por entender que tais recursos eram infinitos, tem
diminuído consideravelmente a quantidade e a qualidade dos recursos de
uso comum essenciais à vida humana. O relatório da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) aponta
que é imprescindível um melhor gerenciamento desses recursos para que
atenda às necessidades do presente, não comprometendo o uso das
gerações futuras.
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, mais conhecida como Eco 92, Rio 92, Cúpula ou Cimeira
da terra, realizada em junho de 1992, com o intuito de conciliar desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da
terra, foi um marco nas discussões acerca do meio ambiente. Nessa época,
foram estabelecidas as bases da Agenda 21; e termos como
Desenvolvimento Sustentável, Efeito Estufa, Planejamento Ambiental,
Mobilização Social, Camada de Ozônio passaram a fazer parte do cotidiano
das pessoas, suscitando discussões e programas no intuito de recuperar os
recursos naturais, especialmente os cursos d'água.
O advento da sociedade urbano-industrial, juntamente com o
modelo econômico vigente, favorece o surgimento de impactos ambientais
(Leia o texto complementar 7) que agravam a situação de degradação dos
ecossistemas terrestres, pois trazem novas formas de uso da água e uso e
ocupação do solo, aumentando a demanda, os conflitos pelo uso e os
choques de interesse pela sua utilização. Nesse contexto, as transformações
nas condições do estado dos recursos ambientais (água, ar, solo e biodiversidade) têm afetado significativamente a saúde e a qualidade de vida dos
habitantes do planeta (MAGALHÃES, 2009).
77
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Texto Complementar 7: DRENAGEM URBANA
O ciclo hidrológico sofre fortes alterações nas áreas urbanas
devido, principalmente, à alteração da superfície e à canalização do
escoamento, aumento de poluição devido à contaminação do ar, das
superfícies urbanas e do material sólido disposto pela população. Esse
processo apresenta grave impacto nos países em desenvolvimento,
onde a urbanização e as obras de drenagem são realizadas de forma
totalmente insustentável, abandonada pelos países desenvolvidos já há
trinta anos.
IMPACTOS DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA DRENAGEM
A urbanização produz grande impermeabilização do solo. [...]
O aumento da vazão máxima depende da impermeabilização do solo e
da ocupação da bacia pela população. O aumento relativo pode ser
superior a seis vezes com a relação à situação de pré-desenvolvimento.
Este aumento ocorre em detrimento da redução da evapotranspiração e
do escoamento subterrâneo e da redução do tempo de concentração da
bacia.
O impacto sobre a qualidade da água é resultado do seguinte:
(a) poluição existente no ar que se precipita junto com a água; (b)
lavagem das superfícies urbanas contaminadas com diferentes componentes orgânicos e metais; (c) resíduos sólidos representados por sedimentos erodidos pelo aumento da vazão (velocidade do escoamento) e
lixo urbano depositado ou transportado para a drenagem; (d) esgoto
cloacal que não é coletado e escoa através da drenagem. A carga de
contaminação dos três primeiros itens pode ser superior à carga resultante do esgoto cloacal sem tratamento. Deve-se considerar de 90% da
carga do escoamento pluvial ocorre na fase inicial da precipitação
(primeiros 25 mm). Em Curitiba, a bacia do rio Belém (42 km2) que
drena o centro da cidade, com cerca de 60% de áreas impermeáveis,
mostrou um aumento de seis vezes na vazão média de inundação com
relação às suas condições rurais.
DESENVOLVIMENTO URBANO
O grande desenvolvimento urbano no Brasil ocorreu no final
dos anos 1960 até o final dos anos 1990, quando o país passou de 55 %
de população urbana para 76 % (5). Esta concentração de população
ocorreu principalmente em grandes metrópoles com aumento da
poluição e da frequência das inundações em função da impermeabiliza-
78
Hidrografia
UAB/Unimontes
ção e da canalização. Nos últimos anos, o aumento da população
urbana ocorre principalmente na periferia das metrópoles, ocupando
áreas de mananciais e de risco de inundação e de escorregamento. Este
processo descontrolado atua diretamente sobre as inundações pela falta
de infra-estrutura e da capacidade que o poder público possui para
cobrar a legislação.
MEDIDAS ATUAIS DE CONTROLE
A política existente de desenvolvimento e controle dos impactos quantitativos na drenagem se baseia no conceito de escoar a água
precipitada o mais rápido possível. Este princípio foi abandonado nos
países desenvolvidos no início da década de 1970. A consequência
imediata dos projetos baseados neste conceito é o aumento das inundações a jusante devido à canalização. Na medida em que a precipitação
ocorre, e a água não é infiltrada, este aumento de volume, da ordem de
seis vezes, escoa pelos condutos. Para transportar todo esse volume, é
necessário ampliar a capacidade de condutos e canais ao longo de todo
o seu trajeto dentro da cidade até um local onde o seu efeito de ampliação não atinge a população. A irracionalidade dos projetos leva a custos
insustentáveis, podendo chegar a ser dez vezes maior do que o custo de
amortecer o pico dos hidrogramas e diminuir a vazão máxima para
jusante através de uma detenção. Portanto, o paradoxo é que países
ricos verificaram que os custos de canalização e condutos eram muito
altos e abandonaram esse tipo de solução (início dos anos 1970),
enquanto países pobres adotam sistematicamente essas medidas,
perdendo duas vezes: custos muito maiores e aumento dos prejuízos.
Por exemplo, no rio Tamanduateí o custo da canalização foi de US$ 50
milhões/km (com retorno das inundações), enquanto que no rio Arrudas, em Belo Horizonte, chegou a US$ 25 milhões/km (logo após sua
conclusão sofreu inundações), ambos os valores muito elevados.
CONTROLE MODERNO E SUSTENTÁVEL
As medidas de controle podem ser classificadas de acordo com
o componente da drenagem em medidas:
na fonte: que envolve o controle em nível de lote ou qualquer
área primária de desenvolvimento; na microdrenagem: medidas
adotadas em nível de loteamento;
na macrodrenagem: soluções de controle nos principais rios
urbanos.
Essas medidas são adotadas de acordo com o estágio de desenvolvimento da área em estudo. As principais medidas sustentáveis na
79
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
fonte têm sido: a detenção de lote (pequeno reservatório), que controla
apenas a vazão máxima; o uso de áreas de infiltração para receber a
água de áreas impermeáveis e recuperar a capacidade de infiltração da
bacia; os pavimentos permeáveis. Estas duas últimas medidas minimizam também os impactos da poluição. [...]
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
Para implementar medidas sustentáveis na cidade é necessário
desenvolver o Plano Diretor de Drenagem Urbana. O Plano se baseia
em princípios onde os principais são os seguintes: (a) os novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão máxima de jusante; (b) o
planejamento e controle dos impactos existentes devem ser elaborados
considerando a bacia como um todo; (c) o horizonte de planejamento
deve ser integrado ao Plano Diretor da cidade; (d) o controle dos efluentes deve ser avaliado de forma integrada com o esgotamento sanitário e
os resíduos sólidos. [...]
CONCLUSÕES
Os prejuízos devidos às inundações na drenagem urbana nas
cidades brasileiras têm aumentado exponencialmente, reduzindo a
qualidade de vida e o valor das propriedades. Este processo é decorrência da urbanização e a conseqüente impermeabilização junto com a
canalização do escoamento pluvial. As obras e o controle público da
drenagem têm sido realizados por uma visão local e setorizada dos
problemas, gerando mais impactos do que os pré-existentes e desperdiçando os parcos recursos existentes nas cidades. A defasagem técnica
dos profissionais e a falta de regulamentação da transferência de impactos dentro das cidades, o limitado conhecimento dos decisores sobre o
assunto são as principais causas dessas perdas. O aspecto mais sério
desse problema é que os órgãos financiadores continuam defasados
tecnicamente e não aceitam os investimentos sustentáveis, além de
muitas escolas de engenharia civil e sanitária ainda ensinarem soluções
inadequadas, com graves prejuízos para a população.
Para mudar esse processo é necessária uma nova geração de
engenheiros, arquitetos e projetistas e a atualização da geração existente, para planejar o espaço de forma mais sustentável. Além disso, a
legislação de controle é essencial para que os empreendedores sejam
convencidos a adotar as medidas na fonte.
Extraído de: TUCCI, Carlos E. M. Drenagem urbana. Cienc. Cult., São Paulo, v. 55, n. 4,
Dec. 2003. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php>
80
Hidrografia
UAB/Unimontes
4.6.1 Poluição das águas
A relação entre o homem e a água é bastante complexa, pois ao
utilizá-la, em muitos casos, a contamina de tal forma que inviabiliza o seu
uso para consumo. Apesar dos avanços em pesquisas nessa direção,
observamos que muitos componentes químicos ainda não são conhecidos o
bastante, devido à variedade que surge constantemente. Quanto aos
patogênicos, há também certo desconhecimento, particularmente sobre os
vírus, dificultando o diagnóstico das doenças.
Na atualidade, as populações dos grandes centros urbanos, centros
industriais e áreas de grande desenvolvimento agrícola, que utilizam maior
quantidade de insumos químicos, vêm se deparando com problemas de
escassez qualitativa de água para consumo. De acordo com Rebouças
(2006, p.25), “[...] se a escassez quantitativa de água constitui fator limitante
ao desenvolvimento, a escassez qualitativa engendra problemas muito mais
sérios à saúde pública, à economia e ao ambiente em geral”.
Nesse contexto, conclui-se que não basta que uma população
tenha quantidade de água suficiente para suprir suas necessidades. O mais
importante é que essa água tenha um padrão mínimo de qualidade,
determinado por órgãos competentes.
4.6.2 Tipos de Poluição
A poluição das águas decorre da adição de qualquer substância ou
forma de energia que,
direta ou indiretamente,
alterem a natureza do
corpo d'água, vindo a
prejudicar os legítimos
usos que deles são
feitos. As fontes de
poluição podem ser
classificadas em duas
formas: poluição
pontual e poluição
difusa (SPERLING,
1996). As inter-relações
entre algumas atividades com potencial
poluidor em uma bacia
hidrográfica, através das
rotas de transporte dos
poluentes, são apresen- Figura 41: O esgoto é uma das fontes de poluição das águas
Fonte: www.folhadonorte.com.br/
tadas na FIG. 41.
81
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Poluição Pontual: a poluição atinge o corpo d'água de forma
concentrada no espaço. Os efluentes são lançados em locais específicos dos
corpos d'água. Ex.: esgotos domésticos (não tratados ou parcialmente
tratados), efluentes industriais, minas subterrâneas e navios petroleiros. São
mais fáceis de serem identificadas, monitoradas e controladas, por se
encontrarem em locais específicos.
Poluição difusa: os poluentes aderem-se ao corpo d'água ao longo
de sua extensão. Resultam de ações dispersas na bacia hidrográfica não
podendo ser identificada em um único local de descarga. Por cobrir extensas
áreas são difíceis de ser identificadas e controladas. São de diversas origens e
formas de ocorrência, provenientes do solo, da atmosfera e das águas
subterrâneas.
Barros (2008, p. 45), citando Novotny (2003), resume as condições
características das fontes de poluição difusa:
?
o lançamento da carga poluidora é intermitente e está relaciona-
do basicamente à precipitação e aos usos do solo na bacia;
?
os poluentes são transportados a partir de extensas áreas;
?
as cargas poluidoras não podem ser monitoradas a partir de seu
ponto de origem, mesmo porque não é possível identificar sua origem;
?
o foco do monitoramento e redução das cargas de origem difusa
deve ter caráter extensivo (sobre a bacia hidrográfica) e preventivo, com
medidas de gerenciamento do escoamento superficial e não visando apenas
o tratamento de efluentes.
É difícil o estabelecimento de padrões de qualidade para o lançamento do efluente, uma vez que a carga poluidora lançada varia de acordo
com a intensidade e a duração dos eventos meteorológicos, a extensão da
área de produção naquele específico evento, entre outros fatores.
4.6.3 Principais Fontes de Poluição na atualidade
?
Esgotos Sanitários: constitui-se de todas as águas utilizadas na
higiene pessoal e cozimento de alimentos, como também a lavagem de
utensílios. Segundo Tucci (2004), é composto por matéria orgânica biodegradável, microorganismos (bactérias, vírus, etc.), nutrientes (nitrogênio,
fósforo), óleos, graxas e detergentes.
?
Águas Residuárias Industriais: de acordo com Tucci (2004),
possuem três pontos de origem:
?
Águas de Processo: resultante do contato com a matéria-prima
do produto processado;
?
Águas de refrigeração: usadas para resfriamento;
?
Águas sanitárias: efluentes de banheiros e cozinhas;
?
Resíduos sólidos: conforme Tucci (2004), os resíduos sólidos são
rejeitos originados de atividades industriais, hospitalares e agricultura. Sua
82
Hidrografia
UAB/Unimontes
composição depende de vários fatores como poder aquisitivo, nível de
educação, hábitos e costumes da população;
?
Águas de Drenagem Urbana: as águas pluviais impactam
significativamente no que diz respeito à lavagem do solo urbano, pois
conduzem impurezas e detritos encontrados nas ruas, lançando-os nos
cursos de água.
Como podemos observar na FIG. 42, a água pode ser poluída de
diversas formas.
Figura 42: Diversas fontes de poluição da água
Fonte: http://www.educared.net
Fontes acidentais: ocorre quando não há um despejo contínuo de
poluentes no ambiente. Ex.: acidentes ocorridos em depósitos de produtos
perigosos, derramamento de óleo por petroleiros, explosões de caráter
radioativo (Chernobyl), transporte de material tóxico em rodovia, ferrovia,
hidrovia (TUCCI, 2004).
Fontes atmosféricas: a queima de combustíveis fósseis lança
poluentes na atmosfera causando efeito estufa, abertura na camada de
ozônio e retorno desses poluentes ao solo/água através das chuvas ácidas.
4.6.4 A água e saúde humana
O capitulo 18 da Agenda 21, na área programática D Abastecimento de água potável e saneamento – aponta que a oferta de água
segura, bem como o saneamento ambiental são essenciais para a proteção
do meio ambiente, implicando a melhoria da saúde e mitigação da pobreza.
Consta, ainda, nessa área programática que a estimativa é de que “80 por
cento de todas as moléstias e mais de um terço dos óbitos dos países em
desenvolvimento sejam causados pelo consumo de água contaminada”. É
destacado também que, “[...] em média, até um décimo do tempo produtivo
83
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
de cada pessoa se perde devido a doenças relacionadas com a água”. Além
do uso da água imprópria e do mau saneamento acarretarem altos custos à
sociedade, ceifando, inclusive, milhares de vidas, há vários outros entraves.
É visível a total ausência do Estado diante dessa situação, mostrada
também em relatórios desenvolvidos por várias organizações como
Organização das Nações Unidas (ONU), Banco Interamericano de
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Pan-Americana de
Saúde, dentre outros. Esses relatórios apresentam os dados da dimensão
dos problemas que ocorrem no mundo devido à falta do serviço de saneamento; ainda assim o “mundo” continua indiferente a essa problemática.
Com o objetivo de ratificar a abordagem feita, destacam-se na
íntegra alguns dos custos para o desenvolvimento humano, que constam no
Relatório Mundial para o Desenvolvimento (2006, p. 5-6):
Cerca de 1,8 milhões de mortes de crianças por ano
causadas por diarréia (4.900 mortes por dia), ou seja, uma
população menor de cinco anos de dimensão equivalente à
existente em Nova Iorque e Londres combinadas. Em
conjunto, a água e o mau saneamento constituem a segunda
maior causa mundial de morte infantil. As mortes por
diarréia em 2004 foram seis vezes mais numerosas do que a
média anual de mortes em conflitos armados nos anos 90. A
perda de 443 milhões de dias escolares por ano devido a
doenças relacionadas com a água. Perto de metade do total
de pessoas dos países em desenvolvimento sofrem, em
determinada altura, de um problema de saúde causado pela
falta de acesso a água e saneamento. Milhões de mulheres
passam várias horas por dia a recolher água. Ciclos de vida de
desfavorecimento afetam milhões de pessoas, com as
doenças e as oportunidades de educação perdidas na
infância resultando em pobreza na vida adulta.
O Relatório aponta ainda a desigualdade na distribuição dos
serviços de saneamento em relação aos países desenvolvidos e países em
desenvolvimento e as disparidades na distribuição dos próprios serviços,
reforçando a necessidade de adotar políticas que possibilitem acesso ao
saneamento básico em todos os continentes.
Diante do agravamento crescente dos problemas ambientais,
resultantes do uso indiscriminado de água para irrigação, energia, indústria,
lançamento de esgotos sanitários nos cursos d'água, é imprescindível analisar
os instrumentos e ações que têm sido adotadas ou desenvolvidas pelos
poderes públicos e pela sociedade para controlar os problemas decorrentes
do uso indiscriminado dos recursos hídricos.
Portanto, podemos concluir que cada indivíduo deve contribuir em
suas ações cotidianas para a preservação da quantidade e qualidade da
água, pois implica diretamente no desenvolvimento da sociedade bem
como, num sentindo mais amplo, na manutenção da vida no planeta Terra.
84
Hidrografia
UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
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de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que
modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em
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85
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
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86
Hidrografia
UAB/Unimontes
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SITES INTERESSANTES SOBRE A ÁGUA
Secretaria dos Recursos Hídricos http://www.recursoshidricos.sp.gov.br
CETESB http://www.cetesb.sp.gov.br
Conselho Nacional dos Recursos Hídricos www.cnrh-srh.gov.br
Centro de Educação Ambiental do SENAC http://www.senac.br
Ministério do Meio Ambiente http://www.mma.gov.br
Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Obras http://www.recursosh
idricos.sp.gov.br
Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do
Estado de São Paulo http://www.sirgh.sp.gov.br
Legislação sobre Recursos Hídricos http://www.sirgh.sp.gov.br/sigrh/baseco
n/lrh2000/indice_le.htm
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
Reportagem intitulada Planeta Água: com duração de 4:30 min,
as imagens que chocam mostram uma região conhecida como Ilha de Deus,
em Recife, parte dos moradores não tem água encanada, e os que têm
recebem água que às vezes é misturada com esgoto.
Disponível em http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,
GIM659742-7823- PLANETA+AGUA,00.html
Águas do ceará: Acesse o site www.youtube.com e na barra de
busca escreva “águas do Ceará. Com duração de 6:59 min, o video aborda
as fontes de poluição da água e algumas práticas de conservação desenvolvido em comunidades locais para preservar os rios.
Documentário “Uma verdade inconveniente”: Duração: 100
min.
Cineasta mostra os esforços de Al Gore a fim de alertar a população
mundial em relação ao super-aquecimento global. No site www.youtube.com.br o documentário está dividido em partes.
87
RESUMO
A Hidrologia é definida como a ciência que trata da água na Terra,
sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua relação com o meio ambiente, incluindo sua relação com as
formas vivas.
A Hidrografia, por sua vez, é a ciência que pesquisa e mapeia todas
as águas do planeta Terra. Pode ser entendida como uma ciência que trata da
descrição e da medida de todas as extensões de água na terra (oceanos,
mares, rios, lagos, reservatórios, etc.), sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades (físicas e químicas) e seus efeitos sobre o meio
ambiente e a vida.
A água é um elemento fundamental na diferenciação dos climas em
todas as escalas, seja ela no clima global, em climas regionais ou microclimas: é o fator água que determina o clima. A água é também um agente
geomorfológico, ou seja, atua no ambiente transformando a paisagem
através da desagregação e transporte de partículas, estando envolvida nos
processos de deslizamentos, avalanches e outros movimentos que ocorrem
nas vertentes.
Apesar da abundância de água no Planeta Terra, a água acessível ao
consumo humano direto é uma fração mínima da existente no mundo que
“[...] apresenta os pré-requisitos limnológicos considerados indissociáveis da
potabilidade: a água como um líquido puro, insípido, inodoro, incolor”.
Os componentes do ciclo hidrológico podem ser sintetizados nos
seguintes processos: Precipitação; Evaporação; Transpiração; Infiltração;
Percolação; Drenagem.
O fluxo dos rios pode ser laminar ou turbulento. É laminar quando a
água escoa ao longo de um canal reto, suave, a baixas velocidades. O fluxo é
turbulento quando a velocidade da água excede um determinado limite e é
caracterizado por movimentos caóticos, heterogêneos com muitas correntes
secundárias O trabalho do rio envolve alguns processos, a saber: Transporte,
Erosão Fluvial e Deposição. As principais formas originadas pela sedimentação dos rios: planície de inundação, diques, cones de dejeção.
Os leitos são os espaços que podem ser ocupados pelo escoamento
das águas. Os terraços fluviais representam antigas planícies de inundação
que foram abandonadas. Na paisagem, eles assumem uma feição de patamares aplainados.
89
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Existem várias hipóteses propostas para explicar a formação dos
terraços. Uma delas relaciona a existência dos terraços a uma tendência
continua do entalhamento fluvial, ou seja, o rio vai escavando em busca de
um equilíbrio. Outra hipótese relaciona a existência do terraço ao equilíbrio
dinâmico dos cursos de água. Observe na FIG. 14 os tipos de terraços
fluviais.
Em Geografia, a bacia de drenagem ou bacia hidrográfica é entendida como a “célula básica de análise ambiental”. “A bacia hidrográfica é
uma área de captação natural da água da precipitação que faz convergir os
escoamentos para um único ponto de saída, o seu exultório”. Essas diferentes definições permitem perceber que, em muitos estudos, não existe uma
definição precisa de bacia hidrográfica.
As bacias podem ser classificadas de acordo com o escoamento
global. Elas podem ser endorréicas, exorréicas, arréicas, e criptorréicas.
As bacias hidrográficas também se estruturam em diferentes
formas. Essas formas são denominadas padrões de drenagem, ou seja,
“arranjamento espacial dos cursos fluviais”. O padrão de drenagem pode ser
influenciado pela natureza das camadas rochosas, pela declividade e pela
evolução geomorfológica da área.
A hierarquia fluvial é um conceito de Horton aprimorado por
Strahler através do qual se dá a ordenação dos cursos. Dessa forma, os rios
podem ser: Rio de 1a ordem: aquele que drena diretamente a partir da
nascente; Rio de 2a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios de 1a
ordem; Rio de 3a ordem: aquele que resulta da junção de dois rios de 2a
ordem e assim sucessivamente.
O Brasil tem uma extensão de 8.514.876,599 Km2 (IBGE, 2009),
sendo o 5° maior país em extensão territorial. Possui uma das maiores bacias
fluviais do mundo em extensão e volume de água. Tanta riqueza de água
deve-se à distribuição da pluviosidade no território brasileiro, em que se
registram em média valores superiores a 1500 mm anuais.
Os principais rios brasileiros procedem de três grandes centros
dispersores: Planalto das Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasileiro. Os rios são utilizados para produzir energia, abastecer de água a população e irrigar terras. Como a maioria dos rios é de planalto, o país detém um
dos maiores potenciais hidráulicos do mundo (CUNHA, 2001).
Minas Gerais abriga em seu território as nascentes de importantes
rios e insere-se em importantes bacias hidrográficas brasileiras. Dentre
tantos rios de Minas Gerais, podemos destacar: São Francisco, Paraná,
Jequitinhonha e Doce.
Os lagos são corpos d'água interiores que não possuem comunicação direta com o mar, e suas águas têm em geral baixo teor de íons dissolvidos se comparadas às águas oceânicas. São fenômenos de curta durabilidade na escala geológica, surgindo e desaparecendo no transcorrer do tempo,
90
Hidrografia
UAB/Unimontes
por isso, alguns autores consideram que o lago completa seu ciclo de vida:
nasce, cresce, envelhece e morre.
Os lagos têm importantes funções para a sociedade, como o lazer,
além de representar uma fonte de água para consumo humano em suas
diferentes atividades. Quanto à sua origem, pode estar associada à ocorrência de fenômenos de natureza geológica, formando-se a partir de processos
endógenos (originários do interior da crosta terrestre) e exógenos (a partir de
causas exteriores à crosta). Os lagos também podem ser classificados quanto
ao grau de salinidade, podendo ser de água doce, de água salobra, de água
salgada.
A água subterrânea é considerada a parcela de água que permanece no subsolo, fluindo de maneira bastante lenta, indo descarregar em
corpos d'água na superfície da terra, interceptadas por raízes de plantas ou
extraídas em poços. É de fundamental importância para o fluxo dos rios,
lagos, brejos e para manter a umidade do solo.
As águas subterrâneas são encontradas entre os espaços vazios
existentes entre os grãos do solo, rochas e fissuras (rachaduras, quebras,
descontinuidades e espaços vazios).
O Brasil possui grandes potenciais de águas subterrâneas, tanto na
forma de umidade do solo como água que flui no subsolo. Avaliando as
informações disponíveis, as águas subterrâneas no Brasil, em geral, são de
boa qualidade, possuindo propriedades físico-químicas e bacteriológicas
adequada ao uso humano e demais usos. No entanto, podem existir algumas
restrições de uso por não se adequar aos parâmetros de potabilidade, como
elevada dureza, sólidos totais dissolvidos. Essas restrições relacionam-se a
águas de áreas específicas como regiões com ocorrência de rochas calcárias.
É essencial que tenhamos ciência da importância da água para a
continuidade da vida, como também conheçamos os artifícios jurídicos para
entender a trajetória do gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil e
como essas políticas repercutem em escala local. Dessa forma, apresentamos um breve resumo dessa unidade para melhor entendimento da temática.
A água é um bem essencial à vida e à sociedade; é limitada; face aos
seus usos, é escassa na natureza e, portanto, um bem econômico; e é um
bem público. Por todos esses motivos, torna-se imprescindível uma maior
preocupação acerca da sua quantidade e qualidade, devendo o poder
público estruturar um sistema de gerenciamento. Esse sistema deve contemplar a proteção das fontes naturais, a conservação quantitativa e qualitativa
da água e o seu uso racional e justamente distribuído, garantindo os seus
múltiplos usos para a população.
Gestão de Recursos Hídricos é a maneira pela qual se almeja
equacionar e resolver as questões de escassez relativa dos recursos hídricos,
como também fazer o uso adequado, visando a otimização dos recursos em
benefício da sociedade.
91
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Para que a gestão de recursos hídricos seja efetivada, é fundamental
a motivação política, que possibilitará planejar e controlar os recursos
hídricos, fornecendo também os meios para a implantação de obras e
medidas necessárias ao bom andamento dos trabalhos planejados.
A água pode ser vista por diferentes prismas: químico, físico,
biológico, teológico, da engenharia, sob a ótica do direito e sob o ponto de
vista econômico, dependendo da análise a ser realizada.
Portanto, podemos concluir que cada indivíduo deve contribuir em
suas ações cotidianas para a preservação da quantidade e qualidade da
água, pois implica diretamente no desenvolvimento da sociedade bem
como, num sentindo mais amplo, na manutenção da vida no planeta Terra.
92
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http://www.rentanapartmentinrio.com/lagoa_rodrigo_de_freitas_foto.jpg
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www.mma.gov.br/recursoshidricos
www.ana.gov.br
www.cprm.gov.br
www.abas.org.br
www.sg-guarani.org
www.oas.org/dsd/isarm/ISARM_index.htm
SITES INTERESSANTES SOBRE A ÁGUA
Secretaria dos Recursos Hídricos
http://www.recursoshidricos.sp.gov.br
CETESB
http://www.cetesb.sp.gov.br
Conselho Nacional dos Recursos Hídricos
www.cnrh-srh.gov.br
Centro de Educação Ambiental do SENAC
http://www.senac.br
Ministério do Meio Ambiente
http://www.mma.gov.br
Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Obras
http://www.recursoshidricos.sp.gov.br
Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos
do Estado de São Paulo
http://www.sirgh.sp.gov.br
Legislação sobre Recursos Hídricos
http://www.sirgh.sp.gov.br/sigrh/basecon/lrh2000/indice_le.htm
97
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
- AA
1) Considere o texto a seguir e analise a charge.
A água constitui aproximadamente 75% dos corpos dos seres vivos. Sendo
assim, é indispensável à vida. A água é um excelente solvente, ajuda a
dissolver os alimentos, capta substâncias que tomam parte nas reações
químicas que ocorrem em nossos corpos, carrega as substâncias pelo seu
corpo e toma parte no controle da temperatura. (...) Fonte:
http://educacao.uol.com.br/ciências. Acesso em 2 set. 2009
Figura 43
Responda:
a) Quais são as principais fontes de poluição da água?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
2) Elabore um comentário analítico para a charge a seguir, ressaltando a
questão da disponibilidade da água:
Figura 44
3) Comente em linhas gerais o projeto de Transposição do Rio São Francisco:
Figura 45
100
Hidrografia
UAB/Unimontes
4) Observe a letra da canção, o fragmento de texto e o mapa a seguir, que
tratam de assuntos convergentes:
O homem chega,
já desfaz a natureza tira gente põe represa,
diz que tudo vai mudar. (...)
E, passo a passo,
vai seguindo a profecia do beato que dizia
que o sertão ia alagar.
O sertão vai virar mar,
dá no coração,
o medo que algum dia o mar também vire sertão.
Adeus Remanso,
Casa Nova, Sento Sé,
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira,
por cima da cachoeira o Gaiola vai sumir.
(Sá e Guarabira)
... não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do
termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente
cinco mil soldados. (p. 514, Editora Francisco Alves)
Figura 46
101
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
Em relação ao que a canção, a narração de uma das mais importantes obras
literárias nacionais e o mapa retratam, é correto afirmar:
a) ( ) Érico Veríssimo lamenta em sua obra Olhai os lírios do campo o
desaparecimento de Sete Quedas na formação do lago de Itaipu para a
construção da usina homônima lembrada na canção.
b) ( ) O excerto refere-se à Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
A personagem e a usina mencionadas na canção são, respectivamente,
Antonio Conselheiro e Sobradinho, no rio São Francisco.
c) ( ) O texto Deus e o Diabo na terra do sol de Gláuber Rocha e a
canção fazem a exaltação a Antonio Conselheiro e mencionam a usina
hidrelétrica de Tucuruí, que cobriu com uma barragem esse cenário da
história no Brasil central.
d) ( ) A personagem mencionada na canção é Antonio Conselheiro e a
referência é à usina hidrelétrica de Sobradinho, construída sobre o palco
de Canudos, cuja saga fora narrada por Euclides da Cunha na obra citada.
e) ( ) A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, narra a batalha de
Canudos onde outrora fora o palco daquilo que é hoje a usina hidrelétrica de Paulo Afonso, Bahia, contida na canção de Sá e Guarabira.
5) Observe as figuras abaixo sobre os tipos de canais fluviais. Identifique e
caracterize cada um dos quatro tipos.
A
B
C
D
Figura 47
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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102
Hidrografia
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6) Analise a figura a seguir e responda: o que é bacia hidrográfica?
Figura 48
7) Marque V para as alternativas VERDADEIRAS e F para as FALSAS, e em
seguida assinale a opção que corresponde à alternativa correta:
I- ( ) A ECO 92 foi um marco nas discussões acerca do meio ambiente,
época em que são estabelecidas as bases da Agenda 21, e termos como
Desenvolvimento Sustentável, Efeito Estufa.
II- ( ) O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) aponta uma piora no gerenciamento
dos recursos.
III- ( ) A poluição d'águas é um tema importante para discussão, apesar
da pouca complexidade.
IV- ( ) O advento da sociedade urbano-industrial, juntamente com o
modelo econômico vigente, favorece o surgimento de impactos ambientais que agravam a situação de degradação dos ecossistemas terrestres.
V- ( ) As transformações nas condições do estado dos recursos ambientais (água, ar, solo e biodiversidade) têm afetado significativamente a
saúde e a qualidade de vida dos habitantes do planeta.
Portanto a assertiva CORRETA é:
a) (
) FFFVF
b) (
) VFFVV
c) (
) VVFVF
d) (
) FVFFV
103
Geografia
Caderno Didático - 4 º Período
8) Em geral, as águas subterrâneas no Brasil são de boa qualidade possuindo
propriedades físico-químicas e bacteriológicas adequadas ao uso humano e
demais usos. De outro lado, existem águas com qualidade inferior. Analise a
figura abaixo e, atentando para os principais problemas que atacam as águas
subterrâneas, responda a assertiva CORRETA:
Figura 49
a) ( ) ocorrências localizadas de contaminação em razão da carência de
sistemas de saneamento.
b) ( ) o excessivo bombeamento de poços na região costeira, em pouco
aumenta a intrusão da cunha de água do mar, gera problemas de salinização das águas.
c) ( ) às vezes os vazamentos de tanques de armazenamento de combustíveis.
d) ( ) uso de insumos industriais, com média potencial de contaminação
difusa, entre outros problemas.
9)A Resolução CONAMA 357/05 é a legislação ambiental que estabelece
as classes de corpos visando ao enquadramento dos mesmos, conforme o
previsto no Art. 10 da Lei 9.433/97. Esta resolução estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, segundo
seus usos preponderantes. Em relação ao preconizado por esta Resolução,
assinale a afirmativa correta.
a) (
%.
) As águas salinas são aquelas com salinidade igual ou superior a 5
b) ( ) As águas salinas enquadradas como classe 2 podem ser destinadas
à navegação.
c) ( ) As águas doces enquadradas como classe 1 podem ser destinadas
à irrigação de hortaliças.
d) ( ) As águas salobras enquadradas como classe 4 podem ser destinadas à harmonia paisagística.
104
Hidrografia
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10) A figura a seguir representa o padrão de drenagem denominado anelar.
Quais são os outros tipos de padrões de drenagem?
Figura 50: Padrão de drenagem anelar
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