O Império Romano

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Fronteiras naturais
Roma expandiu-se, ao longo da República e início do Império, até onde as
fronteiras naturais fossem capazes de resguardar seus domínios. Ao sul, a
fronteira natural era o Saara, impossibilitando invasões advindas do centro e do
sul da África. A oeste, o Império estendia-se até o Atlântico, garantindo sua
fronteira ocidental com o domínio da Bretanha. A fronteira oriental do Império
era garantida pelo deserto da Arábia, o Cáucaso, o mar Negro e as montanhas
do planalto iraniano. Ao norte, os rios Reno e Danúbio eram os principais
componentes do limes.
Assim, conforme vimos, o Alto Império apenas consolidou os domínios
romanos. Mesmo as conquistas da Dácia e da Mesopotâmia obedeceram ao
critério do guarnecimento em fronteiras naturais. No caso da primeira, ela
levava o Império até os montes Cárpatos. A segunda, apenas estendia os seus
domínios por um vale imensamente fértil, mas facilmente defensável pela
presença dos rios Tigre e Eufrates e pelo carácter montanhoso e desértico de
seu entorno.
Dessa forma, percebemos que as conquistas romanas cessaram pela total
inexistência de áreas a conquistar. Ao norte do Império, por exemplo, além do
Reno e do Danúbio, estendia-se uma vasta planície que, praticamente sem
interrupções, seguia até os montes Urais, criando uma região gigantesca e
impossível de ser defendida.
Consequências do fim das
conquistas
Embora fundamental de imediato para consolidar o domínio romano, o fim das
conquistas trouxe consigo efeitos que, a longo prazo, se revelariam desastrosos
para as estruturas do Império.
Em primeiro lugar, o ímpeto de conquistas havia gerado a formação de um
gigantesco e dispendioso exército, que só poderia ser mantido se Roma fosse
capaz de garantir a manutenção do fluxo de riquezas obtido com as guerras e
vitórias. Assim, a estabilidade das fronteiras tornou-se frágil diante das
dificuldades de se garantir o abastecimento de todo o exército.
Além disso, o fim das conquistas trouxe um efeito sobre a estrutura de mão-deobra do Império. Conforme vimos anteriormente, grande parte da economia
romana assentava-se sobre a mão-de-obra escrava, cuja fonte de abastecimento
mais forte era o afluxo de prisioneiros de guerra estrangeiros. As péssimas
condições de vida, o alto índice de mortalidade, a baixa expectativa média de
vida, além do pequeno índice de natalidade dos escravos, pelo fato de que o
número de mulheres escravas era sempre mais baixo, geravam um crescimento
vegetativo negativo.
A esse dado some-se o efeito da pregação cristã, que, ao defender a igualdade e
negar a escravidão, servia de estímulo a fugas e revoltas de escravos. A única
forma de repor essa mão-de-obra seria por meio das conquistas, cessadas desde
o início do século I.
Da crise ao Principado
Os séculos II e I a.C. são tidos como o período de crise da República romana. O modelo político
centrado na supremacia do Senado, enquanto instrumento de poder da elite patrícia, sofreu uma
forte contestação, fruto da acção de diferentes sectores da sociedade: uma camada de
comerciantes extremamente enriquecidos com a expansão de Roma; a massa de plebeus
miseráveis e descontentes; e o enorme contingente de escravos. Além disso, não podem ser
descartadas as pretensões políticas dos generais, fortalecidos pela crescente importância do
Exército na vida romana.
Assim, esses dois séculos foram marcados por uma imensa instabilidade política, na qual
revoltas de escravos, guerras civis, ditaduras, tentativas de golpe e governos formalmente ilegais
sucederam-se. As ditaduras de Mário e Sila foram uma mostra clara da incapacidade do Senado e
das instituições formais da República em fazer frente às novas forças sociais em conflito - embora
a ditadura fosse uma magistratura legal, prevista nas leis romanas como um instrumento
excepcional de governo.
Em meio a essa crise, formou-se uma aliança envolvendo Crasso e Pompeu, dois generais que se
fizeram eleger cônsules em 62 a.C. Paralelamente, entretanto, crescia a fama de Caio Júlio,
também general, que havia acabado de conquistar a Gália, detentor de um prestígio cada vez
mais amplo junto à plebe romana - e, notadamente, junto ao Exército.
Líder do chamado partido popular - uma entidade informal, mas que congregava os sectores
não ligados à velha aristocracia patrícia -, Júlio era sobrinho e herdeiro de Mário, ex-ditador,
detentor de imensa fortuna e respeitado pelo Exército. Caio Júlio somou a esses elementos uma
notável capacidade militar, responsável por inúmeros triunfos, tão caros à mentalidade
expansionista romana.
Primeiro Triunvirato
A ascensão de César marca o
fim da República Romana
Ante o crescente prestígio de Júlio, Crasso e Pompeu viram-se obrigados a
aceitar sua presença no poder, criando uma fórmula chamada de
Triunvirato, ilegal e não prevista na composição institucional da
República.
A morte de Crasso, em 53 a.C., fez com que a oposição entre Pompeu,
directo representante dos interesses da aristocracia patrícia, e Júlio
ficasse explícita. O fortalecimento militar de Júlio, que acabara de
derrotar definitivamente os gauleses, fez com que o Senado passasse a
temer suas ambições políticas. Por isso, numa tentativa de detê-lo, em 49
a.C. Pompeu foi nomeado cônsul único pelo Senado. Ao mesmo tempo,
chamou Júlio de volta a Roma, numa clara manobra para esvaziar seu
poder militar.
Pronunciando a famosa frase Alea jacta est ("A sorte está lançada"), Caio
Júlio entrou em Roma à frente de seus exércitos, configurando um
inegável golpe de Estado. Aclamado pela população e pelas tropas que
deveriam defender Roma, Júlio se impôs ao Senado. Abalado pelo
prestígio popular de Júlio, Pompeu fugiu para a Grécia, onde foi
derrotado em 48 a.C.
O amplo prestígio popular e militar de Júlio obrigou o Senado a se curvar
diante dele. A concessão do título de César, que lhe dava formalmente o
poder ditatorial, foi a prova mais concreta desse recuo senatorial.
Entretanto, tal recuo não se manifestou de modo concreto. Os quatro
anos da ditadura de Júlio César foram marcados por crescentes atritos
com o Senado. Tais atritos nasciam de sua origem pobre, ainda que
aristocrática, e, principalmente, da percepção que os senadores tinham
do real projecto político de César: instalar um regime monárquico,
fortemente apoiado no Exército; regime no qual, inevitavelmente, o
Senado teria sua importância restringida.
Paralelamente, César buscava ampliar sua base de apoio junto ao
Exército, cercando-se cada vez mais de seus generais, principalmente
Marco António, e afastando gradativamente o Senado das decisões.
Também as conquistas militares, como as da Hispânia e do Egipto,
aumentaram ainda mais sua popularidade, ampliando a necessidade de o
Senado conter a ameaça representada pelo herdeiro de Mário. Isso foi
obtido por meio do assassinato de Júlio César, perpetrado por um grupo
de senadores ligados a Pompeu e, também, de senadores do próprio
círculo íntimo de César.
Segundo Triunvirato
Entretanto, a reacção militar e popular que se seguiu ao assassinato de César
deteve o projecto senatorial de restaurar o poder. Ao contrário do que
pretendia o Senado, a morte do ditador teve o efeito de motivar a unidade do
Exército e de transformá-lo em um real elemento de poder.
Assim, na prática, foi o Exército que assumiu o controle de Roma, o que pode
ser facilmente observado pela composição do governo que ascendeu logo a
seguir, composto por Octávio, sobrinho-neto e herdeiro de Júlio César,
Lépido, antigo comandante das forças de cavalaria de César, e Marco
António, o general mais hábil do ditador assassinado. Foram eles que, em 43
a.C., formaram o Segundo Triunvirato.
A ascensão do Segundo Triunvirato ao poder sintetiza uma realidade: a
República estava definitivamente superada, mesmo que ainda existisse
formalmente. O título de cônsul, dado a António e Octávio, era apenas uma
tentativa de amparar legalmente um poder que, de fato, se centrava no
Exército - e não mais nas instituições republicanas.
Em 33 a.C., Lépido foi afastado do poder e os domínios romanos foram
divididos entre António, que controlava as províncias orientais do Império, e
Octávio, governando a Itália e as províncias ocidentais. Essa divisão do poder
era apenas um prenúncio do conflito entre ambos.
O conflito envolveu o Egipto, então governado por Cleópatra, antiga amante
e aliada de César (tendo inclusive gerado um filho deste). Foi com ela que
Marco António buscou aliar-se contra Octávio. A última guerra civil da
República terminou em 31 a.C., com os suicídios de António e Cleópatra, após
a grande derrota de Ácio, na Grécia, e a vitória definitiva de Octávio, que
transformou o Egipto em sua província pessoal.
A sagração de Octávio
marca o início e o apogeu
do Império romano
O Principado
Forjava-se assim um poder pessoal que passava muito distante da autoridade formal do Senado.
O uso da riqueza egípcia por Octávio permitiu-lhe financiar um exército poderoso, directamente
submetido a ele. Ao mesmo tempo, parte da colheita egípcia foi seguidamente utilizada para a
distribuição de trigo à plebe romana, o que concedeu a Octávio um amplo apoio popular.
Diante de tal poder, o Senado se viu obrigado à submissão, concedendo a Octávio uma série de
títulos. O primeiro deles foi o de Príncipe Senatus, ou Primeiro Senador, o que lhe permitia
presidir o Senado. A simples concessão desse título já representa uma clara inversão na própria
estrutura da República.
A existência de um poder acima do Senado significava um passo decisivo no caminho da
centralização do poder. Esse período, inclusive, é conhecido como Principado, dando a entender
que já não é exactamente a forma republicana de governo que tem o poder em Roma.
Os demais títulos recebidos por Octávio apenas confirmaram essa tendência: Imperador, ou
Comandante-em-chefe do Exército; Tribuno da Plebe, que lhe dava o direito de falar em nome do
povo nas reuniões do Senado; e Pontífice Máximo, que lhe concedia a chefia da religião oficial.
Outro título, o de Procônsul, dava a ele a autoridade sobre as províncias do Império.
O último e mais importante título de Octávio foi o de Augusto. Tal título não tem exactamente
uma conotação política, mas, sim, religiosa. Seu significado, o de um soberano que se assemelha
aos deuses, dava-lhe um poder acima do poder meramente terreno. Significava um poder
absoluto, vitalício, bem como o direito de escolher seu sucessor. Esse título, por seu carácter
formal, consolida a tendência que já se verificava: a do retorno de Roma à ordem monárquica,
pondo fim, definitivamente, à República - e dando início ao Alto Império.
IMPÉRIO ROMANO
- ALTO IMPÉRIO
Da sagração de
Octávio à plenitude do
Império
Chamamos de Alto Império o período que se estende da
sagração de Octávio (ver o texto Império Romano - República
- Da crise ao Principado), em 27 a.C., até meados do século 3
d.C. Basicamente, esse é o período de consolidação e apogeu
do poder romano.
A ordem política imperial teve como elemento mais
importante a centralização das decisões nas mãos do
imperador. A manutenção do Senado - necessária por ser ele a
mais tradicional instituição romana e para impedir a
caracterização de um regime despótico - foi acompanhada de
uma drástica redução do seu poder efectivo, restando-lhe
apenas a administração da Itália e das províncias sem
guarnições militares (Províncias Senatoriais).
O imperador controlava a religião, o Exército, as funções
legislativa e judiciária, as finanças do Estado, a política
externa e as províncias mais importantes. A redução do poder
do Senado causou choques entre este e o poder imperial,
choques que sempre foram resolvidos pelo uso da força
militar, na qual se apoiava o imperador.
O Exército, com um efectivo de mais de 300.000 homens, foi
estacionado ao longo das fronteiras do Império, o chamado
limes, para resguardar Roma dos ataques bárbaros. O Exército
era composto por uma força profissional (as legiões, de
recrutamento obrigatório entre os cidadãos romanos) e por
forças auxiliares, de recrutamento provincial. Octávio
Augusto criou também uma força militar de elite, a Guarda
Pretoriana, aquartelada em Roma, para a protecção pessoal do
imperador.
Organização social e económica do
Império
A sociedade foi dividida em três ordens, segundo um critério censitário: a Senatorial, que
possuía privilégios políticos; a Equestre, que permitia o acesso aos cargos públicos; e a
Inferior, que abrangia a maioria dos cidadãos. Com isso, Octávio ganhava o apoio dos
comerciantes ricos, enquanto que, como forma de compensar a perda de poder do
Senado, cumulava os senadores com regalias que os tornavam dependentes do poder
imperial.
O controle sobre a plebe era efectuado por meio da política de concessão de alimentos,
política essa iniciada por Júlio César e ampliada por Octávio. A isso se somou a criação de
grandes espaços públicos para a realização de jogos, corridas de bigas e combates de
gladiadores, de modo a dar à plebe uma forma de diversão que permitisse manter a
revolta social em um nível controlável. Era a política do "pão e circo". Ao mesmo tempo,
o controle sobre a massa de escravos era realizado por uma ampla política repressiva,
natural num Estado plenamente militarista como era o Império Romano.
Em termos económicos, o Império assentava-se sobre o trabalho escravo e o domínio das
províncias. O escravo era a base de toda a produção romana, tanto na agricultura quanto
na mineração. Era também largamente empregado em actividades não produtivas,
notadamente urbanas: professores, serviçais domésticos, músicos, etc.
Quanto às províncias, eram fundamentais não apenas pelos tributos que pagavam, mas
também pelo comércio altamente lucrativo que Roma mantinha com elas, permitindo o
escoamento da vasta produção dos latifúndios escravistas.
A plenitude do Império
A consolidação do poder romano explica-se, em grande parte, pelo refreamento
do ímpeto das conquistas. Se comparado ao período da República, o Império
representou muito mais uma fase de consolidação das fronteiras e do domínio
romano do que propriamente de expansão.
Cláudio, que governou entre 41 e 54, conquistou a Mauritânia e consolidou o
domínio sobre a Bretanha. Trajano (98-117) realizou as últimas conquistas do
Império, incorporando a Dácia (actual Roménia), a Arménia e a Mesopotâmia.
A partir daí tratava-se apenas de consolidar os domínios do Império. Adriano
(117-138) deu início à edificação de grandes muralhas de pedra nas fronteiras
imperiais; Marco Aurélio (161-180), o "imperador filósofo", defendeu as
fronteiras do Danúbio das invasões bárbaras.
O fim das conquistas significou, a curto prazo, a plenitude do Império. Seu
efeito imediato foi o da paz interna, da consolidação das fronteiras, com o
dinheiro antes usado em guerras sendo utilizado para investimentos na
actividade económica. Não por acaso, o século 2 é o período da Pax Romana, a
paz romana, significando o apogeu e a prosperidade de Roma e das províncias.
Entretanto, embora o primeiro efeito do fim das conquistas tenha sido benéfico,
seus efeitos num intervalo mais longo foram terríveis para a estrutura romana.
Veremos essas consequências ao analisarmos o período conhecido como Baixo
Império. Antes, é necessário estudarmos uma importante força social que
surgiu naquela época: o Cristianismo.
- BAIXO IMPÉRIO
Crises e decadência
Para conter a crise do
Império, Diocleciano limitou
salários e preços com o Édito
Máximo
Chamamos de Baixo Império
o período final do Império
Romano
do
Ocidente,
caracterizado
por
sua
decadência e queda, em 453,
em meio às invasões dos povos
germânicos. A origem mais
remota dessa crise está
directamente
ligada
à
combinação entre a estrutura
económica do Império e sua
incapacidade de dar sequência
à saga de conquistas, única
forma capaz de manter os
domínios de Roma.
Crise económica
Assim, lentamente, o número de escravos declinou ao longo do Alto Império, chegando, no século 3, a
uma situação de escassez definitiva. E o primeiro efeito da crise do escravismo foi a crise económica,
gerando alta de preços, escassez e desabastecimento das cidades.
Tal situação obrigava o Império a um aumento sistemático das importações de produtos agrícolas,
inclusive de regiões de fora do Império. Isso significava um aumento da saída de moedas do Império,
agravado pelo fato de as minas de metais preciosos estarem esgotadas. Outro elemento agravante era
a alta natural de preços gerada pela escassez. O somatório desses elementos gerou uma grave crise
financeira que, por sua vez, provocou o declínio do comércio e de toda a actividade urbana.
Algumas medidas foram tentadas para deter a crise. Ainda no final do século 3, o imperador
Diocleciano decretou o Edito do Máximo, limitando salários e preços de uma série de géneros. Mas
eram medidas meramente paliativas ante a dimensão de uma crise que, longe de ser passageira,
apresentava um carácter estrutural.
O agravamento da crise passou, já a partir do século 4, a apresentar efeitos militares e administrativos.
Ocorreu o desequilíbrio entre a força do Exército e a massa de bárbaros que pressionava as fronteiras
do Império. Desequilíbrio esse que era apenas a consequência mais visível de outros importantes
desequilíbrios: entre as despesas do Estado e sua arrecadação; entre a produção e o consumo; entre o
campo e a cidade; e entre a proporção de escravos e a de homens livres.
Toda a estrutura social, económica e administrativa do Império começava a se desagregar. O
enfraquecimento do Exército tornava o Império mais vulnerável a revoltas de províncias e de escravos,
enfraquecendo-o ainda mais. Ao mesmo tempo, tornava mais desprotegida a extensa fronteira do
Império. Era o princípio da desintegração.
Divisão e invasões bárbaras
O desguarnecimento do limes (ou fronteiras) tornava-se ainda mais grave naquelas regiões onde as
fronteiras naturais do Império (desertos, montanhas, oceano) eram mais frágeis. E essa fragilidade
mostrava-se mais acentuada na fronteira do Império com a vasta região conhecida como Germânia,
a
qual
tinha
como
fronteira
básica
os
rios
Reno
e
Danúbio.
A região conhecida pelos romanos como Germânia abrigava uma série de povos, genericamente
chamados de germânicos, como francos, vândalos, visigodos, ostrogodos, anglos, saxões, jutos,
hérulos, burgúndios, lombardos e vários outros. Tais povos representavam um potencial numérico
muito grande e uma ameaça efectiva ao Império, notadamente num quadro de retracção do seu
poderio
.
militar
Tetrarquia e divisão do Império
Decadência e êxodo urbano
A crise económica teve também uma clara manifestação
administrativa. A redução da arrecadação gerou uma queda no
número de funcionários do Estado, tornando a administração
mais difícil, principalmente nas províncias mais distantes de
Roma.
Numa tentativa de sanar esse problema, o imperador
Diocleciano dividiu o Império em duas partes: o Ocidente, com
capital em Roma, e o Oriente, com capital em Bizâncio, às
margens do mar Negro. Em cada uma dessas partes havia um
imperador, com o título de Augusto, e um outro governante para
as regiões mais distantes, com o título de César. Por contar com,
na verdade, 4 governantes, essa forma de divisão foi chamada de
Tetrarquia.
A Tetrarquia durou pouco tempo. Já no início do século 4, o
imperador Constantino reunificou o Império. Entretanto, como
o risco de invasão fosse maior na parte ocidental, ele transferiu a
capital para Bizâncio, mais protegida e, na época, mais rica. Ali,
ele ergueu uma cidadela para servir de sede ao governo, dando a
ela o nome de Constantinopla, nome que, durante séculos,
acabou designando toda a cidade.
.
Durante o século 4, o Império manteve-se unificado, com sua
sede em Constantinopla. No final do século, o imperador
Teodósio estabeleceu, em 395, a divisão definitiva: Império
Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano
do Oriente, também chamado de Império Bizantino, com capital
em Constantinopla.
Ao mesmo tempo em que o Império se debatia com toda a sorte
de dificuldades administrativas e militares, os aspectos
económico e social da crise iam gerando uma nova realidade. O
declínio do comércio gerava uma decadência de toda a
actividade urbana. E a incapacidade crescente do Estado romano
de manter a ordem e a paz internas transformava as cidades em
alvo de ataques e saques. Outro elemento era a impossibilidade
de manter a política de concessão de alimentos à plebe
miserável, tornando impossível sua permanência em Roma.
Esses elementos vão gerar um processo de êxodo urbano. A
grande massa que sai das cidades para o campo vai passar a viver
e trabalhar naqueles mesmos latifúndios em que, até então,
utilizava-se a mão-de-obra escrava. O declínio da escravidão
abria espaço, portanto, para o trabalho plebeu, mas em
condições significativamente diferentes.
Tais latifúndios continuavam com sua mesma extensão, sendo
necessário que várias famílias vivessem e trabalhassem dentro de
uma mesma propriedade. Assim, a paisagem rural do Império,
notadamente no ocidente, passou a se caracterizar por um tipo
de propriedade à qual os romanos davam o nome de vilas, nas
quais várias famílias de trabalhadores vivem e trabalham numa
terra que não lhes pertence
Bases do
feudalismo
Esse processo de ruralização apresentava outras
características. Esses trabalhadores, apesar de serem livres,
não eram proprietários da terra. Ao mesmo tempo, a
escassez de moedas inviabilizava o pagamento de salários.
Dessa forma, a única possibilidade de vida para esses
trabalhadores era extrair da terra o seu sustento, entregando
ao proprietário um excedente - como forma de pagamento
pelo uso da terra. São os primeiros rudimentos económicos
do feudalismo, já presentes na crise do Império.
Ao lado desses elementos, outra realidade se desenrolava.
Desde o início do século 3, o Império havia adoptado a
política de permitir que tribos bárbaras se instalassem
dentro das suas fronteiras. Essa relação estabelecia-se com o
Império cedendo a essas tribos terras, chamadas pelos
romanos de feudos.
Esses bárbaros eram admitidos na condição de colonos,
segundo a qual, em troca da terra, eles se comprometiam a
cultivá-la, pagar tributos ao Império e, por lei, estar presos à
terra, não podendo deixá-la. Isso se explica pela necessidade
romana de usar esses povos para a própria defesa das regiões
fronteiriças. Tanto que esses bárbaros eram também
considerados como federados ao Império, termo que tinha
uma conotação de aliados militares. Jesus Cristo teria
nascido na Palestina, naquele que acabou sendo estabelecido
como o ano 1 da Era Cristã, durante o reinado de Octávio
Augusto, primeiro imperador romano. Sua morte ocorreu,
provavelmente, em 33 d.C., no reinado de Tibério, o segundo
imperador. Ao longo dos 3 séculos seguintes, o Cristianismo
foi largamente perseguido no Império Romano, até sua
legalização, no reinado de Constantino, em 313, e sua
posterior oficialização como religião do Império por
Teodósio, em 390.
Assim, percebemos que as origens e a evolução do
Cristianismo estão organicamente vinculadas à evolução do
Império Romano. Da mesma forma, a definitiva expansão da
nova crença fez-se paralelamente ao declínio de Roma.
O imperador Constantino legalizou o
Cristianismo no Império romano
Tensões sociais na Palestina
O Cristianismo surgiu na Palestina, região sob o domínio romano desde 64 a.C. Tem como origem a tradição judaica de
crença na vinda de um Messias, o redentor, o salvador, o filho de Deus, cuja vinda seria uma redenção para todos
aqueles que acreditassem nele.
As circunstâncias em que Jesus Cristo, já adulto, teria surgido na cidade de Jerusalém eram altamente explosivas. A
Palestina jamais se submetera totalmente ao domínio romano, levando o Império a uma postura repressiva em relação
à população local, que reagia inclusive por meio de movimentos armados contra a presença romana.
Foi em meio a esse clima politicamente tenso que Jesus procurou exprimir uma mensagem baseada no amor ao
próximo, no perdão às ofensas e no desapego aos bens materiais. Tal mensagem em nada ameaçava o domínio romano,
mesmo porque, segundo os Evangelhos, Jesus sempre enfatizou que sua pregação nada tinha de política, que o reino a
que se referia não era um reino terrestre.
Por outro lado, o carácter explosivo da região, aliado à postura romana de combater sistematicamente o surgimento de
lideranças que pudessem ofuscar o predomínio do Império, faziam de Jesus um inimigo potencial para Roma. Outro
elemento a ser considerado é a atitude comum do Estado romano, de procurar aliar-se às elites das áreas dominadas,
utilizando-as como um elemento de controle sobre os sectores populares.
Dessa forma, a condenação a Jesus imposta pelos romanos seria um ato de simpatia para com as autoridades religiosas
judaicas, que já o haviam repudiado como blasfemo.
Segundo os Evangelhos, Jesus foi preso pelos romanos, sob a acusação de conspirar contra o Império. Torturado, foi
condenado à morte e crucificado no ano de 33, a mando do procurador romano Pôncio Pilatos.
Primeiros cristãos
É a partir da morte de Jesus que se criou toda a tradição que gerou o Cristianismo. Ela foi obra
primeiramente dos apóstolos, que se encarregaram de disseminar a nova doutrina, destacando-se
Pedro - apontado por Jesus como o responsável pela fundação de sua igreja - e Paulo, que deu ao
Cristianismo um sentido universal, tornando-o acessível a todos os povos pagãos (não cristãos) e
descaracterizando-o como privilégio de um povo supostamente eleito por Deus.
Duramente perseguidos, os cristãos tiveram de criar uma estrutura bastante sólida de organização
como forma de sobreviver. No plano local, os presbíteros cuidavam de atender às necessidades
espirituais dos fiéis. Surgiram, posteriormente, os bispos, encarregados de comandar a actividade dos
religiosos em cada província sob sua autoridade. Essa estrutura, contando ainda com os
metropolitana (bispos de capitais provinciais) e patriarcas (bispos das grandes cidades), era
centralizada na figura do bispo de Roma, o papa. Assim, forjava-se uma estrutura centralizadora e
altamente organizada, capaz de manter a coesão entre os fiéis e entre o próprio clero.
As perseguições sofridas pelos cristãos, ordenadas por imperadores como Nero, Domiciano, Trajano,
Marco Aurélio e Septímio Severo, tiveram um carácter mais político do que propriamente religioso.
Primeiro, os cristãos recusavam-se a cultuar a deusa Roma, símbolo da unidade imperial, e a aceitar a
divinização dos imperadores. E, segundo, graças a sua mensagem redentora, o Cristianismo obteve
enorme sucesso entre os excluídos da sociedade romana - mulheres, pobres e, especialmente, escravos
-, atestando o carácter socialmente perigoso da nova crença.
Religião oficial do Império
As perseguições acabaram por fortalecer o Cristianismo. Seus adeptos uniram-se, aceitando o martírio sem hesitação,
na certeza da salvação, e seu exemplo fez novos e numerosos adeptos, especialmente em uma época de crise e de
falência dos poderes públicos. Mais do que isso, o Cristianismo era a única opção de consolo espiritual para a grande
massa de miseráveis que o Império produzia.
Da mesma forma, a mensagem de igualdade e pacifismo - negando o carácter divino do Império -, e a própria
escravidão contribuíram para a desagregação das bases sociais e políticas em que se assentava o Império.
O crescimento do número de fiéis, bem como a rigidez da organização cristã, tornou as perseguições cada vez mais
difíceis. A partir do século 3, momento em que se iniciou a crise do Império, conforme veremos quando analisarmos o
Baixo Império, aumentava significativamente o número de despossuídos, justamente a camada que teria no
Cristianismo sua única perspectiva de consolo espiritual.
A última perseguição foi decretada pelo imperador Diocleciano, na segunda metade do século 3. Já era, nesse
momento, difícil para o Império manter a postura repressiva sobre uma parcela cada vez mais significativa da
população. Tanto que, no início do século 4, em 313, o imperador Constantino publicou o Edito de Milão, concedendo
liberdade de culto aos cristãos.
Mais do que isso, à medida que a crise do Império se agravava, suas próprias estruturas administrativas se deterioravam.
O imperador Teodósio, por meio do Edito de Tessalónica, em 390, tornou o Cristianismo a religião oficial do Império.
Com esse ato, ele buscava não apenas exercer um controle sobre a crença cristã, mas, dando ao Cristianismo um
carácter oficial, também utilizar a estrutura da Igreja como instrumento organizativo do Império.
Gilberto Salomão
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
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