Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ ARCA DE NOÉ FLORIDA: SABERES E PRÁTICAS MEDICINAIS ANCESTRAIS DA AMÉRICA LATINA Isabel Maria Madaleno Instituto de Investigação Científica Tropical - Programa de Desenvolvimento Global (GEO-DES) [email protected] Resumo O estudo da botânica medicinal e dos conhecimentos ancestrais sobre práticas de cura na América Latina representa e fundamenta proposta alternativa para paliar dores, mitigar mal-estares e resolver problemas de saúde que a todos afligem. Durante nove anos (1998-2006) visitei feiras e mercados, consultei curandeiros e médicos, inquiri agricultores urbanos e periurbanos que cultivavam espécies com valor terapêutico nas áreas metropolitanas de quatro urbes latino-americanas: Cidade do México, capital mexicana; Lima, capital do Peru; Santiago, capital do Chile; Belém, capital do estado do Pará, na Amazónia brasileira. A pergunta que orientou o processo de investigação foi a seguinte: Como é que os residentes nas cidades da América Latina que vivem abaixo do limiar de pobreza, sem acesso a sistemas convencionados de saúde e assistência, tratam doenças crónicas e curam infecções? Questionários comuns guiaram as conversas com as três categorias de informantes, durante as dez missões de investigação científica aos países em apreço, que totalizaram 838 inquéritos e 131 entrevistas. Os objectivos fundamentais do processo de investigação foram: 1) a avaliação da importância da flora nativa nas preferências de consumo; 2) a avaliação do peso da influência europeia colonial nos usos actuais e nas espécies medicinais introduzidas; 3) compilação de receituário de infusões e mezinhas usadas em quatro enfermidades específicas – diabetes, artrite, cancro e afecções da visão. A expectativa foi a de resgatar e documentar as tradições e práticas terapêuticas ancestrais, usando exclusivamente espécies da flora medicinal, por serem mais acessíveis e menos dispendiosas, porque o direito à saúde é universal Palavras-chave: Plantas medicinais; América Latina; Peru; Brasil; Chile; México 1. OBJECTIVOS E METODOLOGIA Os estudos sobre plantas com uso terapêutico iniciaram-se no Brasil, durante as missões de investigação científica às práticas agrícolas intra e periurbanas na cidade de Belém, capital do estado do Pará, nos idos de 1998, subsidiados pelo Programa Praxis XXI e realizados em colaboração com o Museu Paraense Emílio Goeldi. Em 2002 a investigação prosseguiu na área metropolitana de Santiago do Chile, no âmbito de um convénio de cooperação firmado com a Universidade do Chile, financiado pelo Gabinete de Relações Internacionais de Portugal (GRICES) e sua congénere chilena (CONICYT). O ano 2004 marcou o início da pesquisa na Cidade do México, continuada em 2006 por meio de um acordo cultural com a Universidade Nacional Autónoma do 1 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ México, subsidiada também pelo GRICES. Nesse ano realizou-se uma outra missão ao Peru e à Ilha da Páscoa, ambas com a colaboração de centros de pesquisa latinoamericanos, respectivamente a Pontifícia Universidade Católica do Peru e o Centro de Estudos da Ilha da Páscoa (Universidade do Chile). Os objectivos específicos formulados para a investigação realizada na América Latina foram os seguintes: -Avaliar a importância da flora medicinal nativa, segundo as preferências de consumo recolhidas entre as populações inquiridas e entrevistadas em 4 áreas metropolitanas: Belém, Brasil; Santiago, Chile; Cidade do México, México; Lima, Peru. -Avaliar o peso da influência colonial europeia nos usos e espécies medicinais introduzidas. -Compilar receituário de ervas, cascas e plantas medicinais usadas para mitigar ou resolver quatro enfermidades específicas: diabetes, reumatismo, afecções da visão e cancro. A metodologia aplicada ao processo de investigação estruturou-se em duas fases e oito etapas: A) Fontes Primárias: 1. Extracção de amostras espaciais entre agricultores urbanos e periurbanos (Fig. 1), sob a forma de inquéritos com questionário estruturado aos tipos de cultivos, práticas agrícolas, alimentação do agregado familiar e receituário de remédios caseiros, sobretudo entre as populações mais idosas 2. Extracção de amostras intencionais e casuísticas, entre comerciantes grossistas, entre vendedores de mercados de bairro, vendedores de feiras e venda ambulante nas ruas das cidades investigadas ou à porta dos mercados municipais urbanos, compilando simultaneamente as suas prescrições e receituário. 3. Realização de entrevistas semi-estruturadas detalhadas sobre as plantas medicinais entre uma população seleccionada de agricultores, comerciantes, curandeiros e médicos naturistas, a fim de desvendar processos terapêuticos ancestrais, de compilar práticas de cura utilizadas em cada meio urbano, de aprofundar o inventário de espécies de uso medicinal recomendadas aos pacientes menos dotados de recursos financeiros e/ou mais confiantes nas propriedades curativas das plantas. Esta etapa incluiu notas de trabalho, registos sonoros e gravações vídeo. 2 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ 4. Identificação botânica das espécies inventariadas, estabelecendo correspondência entre os nomes vernáculos usados nas quatro metrópoles e sua nomenclatura científica. 5. Hierarquização da produção e uso das plantas medicinais em cada cidade e no conjunto das quatro áreas metropolitanas estudadas. 6. Redacção de comunicações a Conferências Internacionais e artigos publicados em revistas nas disciplinas de Geografia, Botânica e Farmácia, assim como participação em exposições internacionais sobre a temática das plantas medicinais, numa abordagem comparativa. A recolha de informação primária totalizou 969 testemunhos extraídos entre 1998 e 2006, sintetizada no quadro da Fig. 1. Fig. 1 – Recolha de informação primária sobre espécies de uso medicinal Urbes seleccionadas Amostra das plantas cultivadas e vendidas (inquéritos) Entrevistas a actores seleccionados Número de espécies de uso medicinal registadas 570 132 34 100 836 15 25 38 55 133 140 70 60 70 340 Belém do Pará Santiago do Chile Lima do Peru Cidade do México TOTAL Fonte: Amostragens de Madaleno, 1998 a 2006 B) Fontes Secundárias: 7. Análise das estatísticas dos sectores agrícola e comercial metropolitanos, nos 4 países investigados, com o fito de avaliar as bases de dados locais referentes à economia formal e informal. 8. Selecção, consulta e análise de fontes documentais históricas, geográficas, etnográficas e botânicas. No ano de 1999 realizei pesquisa à agricultura urbana praticada na Cidade de Presidente Prudente, no estado de S. Paulo, que veio corroborar o lugar de destaque dado à medicina doméstica no Brasil (Madaleno, 2001), tanto entre as populações locais como entre os imigrantes, em particular os japoneses. Pela riqueza da flora medicinal 3 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ amazónica e por se tratar da décima cidade do Brasil, decidi focalizar este estudo comparativo apenas em Belém do Pará. 2. ANÁLISE DOS RESULTADOS O primeiro resultado da pesquisa efectuada à produção, venda e consumo de espécies vegetais medicinais em quatro áreas metropolitanas da América Latina, ao longo de nove anos, foi a de que a espécie mais cultivada e/ou mais vendida era facilmente consumida por meio de infusão e bastante eclética. Buscava-se primeiro uma espécie digestiva, depois uma planta que mitigasse dores e finalmente um chá para aliviar o stress de que inevitavelmente padece quem vive nas cidades. Na Figura 2 estão listadas as plantas preferidas por área metropolitana investigada e país, devendo sublinhar-se que foi fácil estabelecer o ranking das espécies medicinais mais consumidas por serem mais abundantes as prescrições que contêm uma só espécie. O segundo resultado foi, surpreendentemente, o registo do enorme peso que a influência colonial europeia tem até aos dias de hoje, mormente a espanhola no México, no Peru e no Chile e a portuguesa, no caso do Brasil. O quadro 2 mostra já esta tendência, pois em Santiago como em Lima, a planta medicinal que está no topo do ranking de preferências é de origem europeia. Tal registo não diminui a importância das espécies nativas, já que em ambos os países a flora endémica é riquíssima, como veremos. O terceiro resultado respeita às doenças e afecções pesquisadas com maior detalhe, sendo de notar a diversidade de prescrições por país e em cada cidade estudada, assim como de assinalar os usos diferenciados que cada espécie tem, sendo quase tantas as terapêuticas quantos os nomes vernáculos atribuídos, como notáveis as receitas domésticas e imaginosas as recomendações dos curandeiros índios. 4 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 2 – Plantas mais consumidas nas metrópoles latino-americanas investigadas Nome Ciudad de México Cidade vernáculo Identificação Botânica Usos (FAMÍLIA) Recomendados Agastache mexicana Kunth Sedativo, anti-stress, carminativo e digestivo Toronjil (LABIATAE) Anti-inflamatório, antiespasmódico, Carminativo, sedativo e digestivo (int.) Conjuntivite (ext.) Belem Santiago Lima Matricaria Chamomilla L Manzanilla M. recutita L (COMPOSITAE) Sedativo e antiespasmódico, digestivo Melissa officinalis L. Melisa ou Toronjil Erva-Cidreira (LABIATAE) Lippia alba (Miller) HBK. Carminativa, analgésica, digestiva e sedativa Propriedades Farmacológicas Actividade antiespasmódica registada nas flores. Efeitos sedativos em toda a planta, variedades branca e rosa (morada) (1) Reconhecida actividade anti-inflamatória, antiespasmódica. Efeitos antibacterianos e antifúngicos comprovados. É anti-séptica, sedativa e febrífuga (2)(3) Registadas actividades antibacterianas, antifúngicas e antiespasmódicas. Digestivo e anti-séptico. Sedativo, com efeitos antivirais contra o herpes simplex (2) (3) Registadas actividades antiespasmódicas e sedativas. Tem efeitos anticonvulsionantes (4) (VERBENACEAE) Amostragens: 1998-2006 (1) Ochoa y Alonso, 1996; (2) Cunha, Silva e Roque, 2003; (3) Muñoz, Montes y Wilkomirsky, 2004; (4) Agapito y Sung, 2004. 3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: 3.1. Espécies Medicinais Europeias Comuns na América Latina A colonização do Novo Mundo propiciou o avanço da farmacologia e da medicina de quatrocentos com dois sentidos: enriqueceu os conhecimentos científicos da época com a botânica nativa das Américas; levaram-se para a América espécies usadas na Europa, que logo se integraram na medicina doméstica dos indígenas. A 5 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ aceitação das plantas originárias da Europa foi tão extraordinária, que algumas são percebidas como nativas de América até aos nossos dias. Outro fenómeno comum, tanto a países de colonização espanhola, como ao Brasil, país de colonização portuguesa, foi a adopção de nomes vernáculos da farmácia europeia a espécies endémicas ou nativas da América, apesar de pertencerem a família botânica distinta, denominações baseadas em aplicações terapêuticas idênticas. Tal é o caso da espécie mais consumida em Belém, a Lippia alba, (Verbenaceae), que tem a designação popular da Melissa officinalis, (Labiateae), espécie europeia ou ainda do Agastache mexicano (outra Labiateae) que tomou o nome de toronjil no México Central, onde é a planta medicinal mais comummente consumida em infusões digestivas, carminativas e calmantes. Quando é que uma planta pode ser considerada medicinal? Cientificamente só quando forem avaliados em laboratório os seus princípios activos, com especial recurso à química, é que se pode qualificar uma dada espécie vegetal como medicinal natural. Contudo, desde a antiguidade, bem antes dos avanços das ciências exactas e experimentais, já se usavam espécies botânicas com reconhecidos efeitos benéficos para o ser humano ou para os animais domésticos dos quais se cuidava. A tradição e o método terapêutico são, portanto, outras formas de valorizar os usos curativos não convencionais reconhecidos desde tempos imemoriais. Em medicina tanto a natural como a de síntese química resulta às vezes o efeito placebo, que é inexplicável. O registo etno-botânico da flora nativa e da farmacopeia doméstica e indígena usada em processos de cura na América Latina constitui um direito dos povos indígenas e está consagrado na legislação internacional. Esse registo deve ser sistematicamente realizado sob pena de que grandes empresas multinacionais do poderoso domínio da moderna farmácia venham a registar patentes com flora endémica, como já sucedeu com boa parte da botânica da Amazónia, apesar de que as normas da Convenção da Biodiversidade tenham sido discutidas precisamente no Rio de Janeiro (1992). A Fig. 3 exibe algumas das plantas europeias mais consumidas nos estudos de caso vertentes. 6 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 3 – Plantas medicinais europeias vulgarmente consumidas na América Latina Nomes vernáculos (por país) Romero (México) Romero (Perú) Romero (Chile) Alecrim (Brasil) Cola de caballo (México) Cola de caballo (Perú) Cola de caballo (Chile) Cana de jacaré (Brasil) Identificação botânica Usos medicinais e terapêuticos Actividade farmacológica Rosmarinus officinalis L. Dor de cabeça (M). Artrite e diabetes, diurético e digestivo. Sedativo (P) Artrite. Antitumoral e tónico capilar (Ch) Digestivo e carminativo. Analgésico e anti-inflamatório usado contra dores reumáticas (B) Reconhecem-se actividades de normalização de perturbações digestivas, como tónico circulatório e hipertensor. Estimulante do couro cabeludo e coadjuvante no tratamento do reumatismo. Tem actividades reconstituintes e mineralizantes. Ajuda a aumentar as defesas do sistema imunológico. Cicatrizante, com acções diuréticas devidas aos sais de potássio que contém. Reconhecido valor como expectorante, como antiespasmódico e anti-séptico. Aprovada como analgésico em cólicas abdominais e reconhecida espécie carminativa. Encontraram-se alcalóides em toda a planta. Actividade antifúngica e diurética fortemente activa. Actividade antiinflamatória e emoliente nas flores e folhas. As sementes actuam em problemas ginecológicos. Comprovadamente antioxidante, anti-inflamatório, antitumoral e cicatrizante. Diminui lípidos totais, colesterol, lipoproteínas e triglicéridos no sangue. Reconhecido hemostático e antipirético, oxitócico e antidisentérico. Acção antimicrobiana e anti-sudorífera. Anti-séptica e de reconhecida acção reguladora do climatério. As folhas, flores e raízes contêm glucósidos, cianogénicos (sambunigrina). As cascas são diuréticas e hemostáticas, com reconhecidos poderes cicatrizantes. Ch = Chile LABIATAE Equisetum arvense L. EQUISETACEAE Hinojo (México) Hinojo (Perú) Hinojo (Chile) Funcho (Brasil) Foeniculum vulgare Miller Borraja (México) Borraja (Perú) Borraja (Chile) Borrage (Brasil) Borrago officinalis L. Llantén (México) Llantén (Perú) Llantén (Chile) Tansagem (Brasil) Plantago major L. Poleo (México) Poleo (Perú) Poleo (Chile) Salva (Brasil) Sauco (Mexico) Sauco (Perú) Sauco (Chile) Sabugueiro (Brasil) M = México UMBELLIFERAE BORAGINACEAE PLANTAGINACEAE Salvia officinalis L. LABIATAE Sambucus nigra L. CAPRIFOLACEAE P = Peru Úlceras e dores de rins (M) Antioxidante, diurético e antiinflamatório (P) Diabetes, cicatrizante e diurético (Ch) Diurético (B) Carminativa e digestiva (M) Carminativa e digestiva (P) Bronquite e digestiva (Ch) Inflamações de mucosas, olhos e faringe (B) Emprega-se contra a bronquite e febres (M) Diurético e regulador hormonal (P) Gripe e resfriados. Problemas de pele (Ch) Problemas cutâneos e regulador do fluxo menstrual (B) Diarreia, infecções vaginais (M) Cancro (P) Cancro (Ch) Curas de emagrecimento (B) Sinusite e tosse (M) Diabetes (P) Digestiva, colite nervosa (Ch) Menopausa e estimulante do apetite. Catarro e resfriados (B) Rinite alérgica (M) Resfriados (P) Cólicas, diarreia (Ch) Sarampo (B) B = Brasil Fonte: Amostra de Madaleno, 1998 a 2006 Literatura Científica Recomendada: Agapito y Sung, 2004; Alonso , Ochoa, Rodriguez e Essayag, 1999; Cunha, Silva e Roque, 2003; Ochoa y Alonso, 1996; Ross, 2003. 3.2. Plantas Medicinais Registadas no Brasil País de dimensões continentais foi o único do Novo Mundo a ser colonizado pelos portugueses. Os fluxos migratórios, forçados ou voluntários, aliados à sua fabulosa diversidade climática, tornaram-no no mais rico cadinho de saberes etnobotânicos da América Latina. Registei 140 espécies com usos medicinais durante o trabalho de campo, que incluiu 555 inquéritos à agricultura urbana e 15 inquéritos e 7 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ entrevistas a vendedores e curandeiras. As cinco missões de investigação científica do IICT à Amazónia assinalaram seis grupos de influências culturais no uso de mezinhas: 1) As espécies nativas da Amazónia utilizadas pelos povos indígenas; 2) Outras espécies brasileiras levadas por migrantes para a Amazónia; 3) Espécies de outras partes da América Latina, importadas ou cujo uso foi introduzido por imigrantes dos países limítrofes; 4) Espécies europeias; 5) Espécies africanas, levadas por nordestinos e escravos fugidos das plantações de açúcar, que ainda hoje residem em Quilombos, nas margens do Rio Amazonas; 6) Espécies asiáticas introduzidas por imigrantes japoneses. Na Fig. 4 estão listadas doze espécies seleccionadas entre as mais usadas pelos belenenses ou por razão da originalidade das prescrições, em especial as referentes ao reumatismo e à diabetes, duas das enfermidades pesquisadas com maior detalhe. Começamos pela já referenciada Erva-Cidreira, que é uma planta herbácea brasileira, que cresce até cerca de dois metros de altura, tem folhas dentadas e dá flor de cor branca; encontrámos esta espécie tanto nos quintais de Belém (170 registos), onde era a espécie de uso medicinal mais cultivada, quanto no Pantanal. As aplicações terapêuticas consistem em infusões a tomar após as refeições e xaropes da folha liquefeita com mel, em caso de gripes e de constipações. Dentre o receituário fitoterápico recomendado, destaco a seguinte prescrição de mãe de família do Bairro da Pedreira: Deixar ferver meia dúzia de folhas em meio litro de água durante 15 minutos e depois tomar com açúcar ou mel a gosto. Sublinho que, tendo embora o mesmo nome vernáculo da Melissa europeia, esta espécie é nativa. O Açaizeiro (Huasai, no Peru) é uma palmeira de espique fino, com 25 a 30 metros de altura, que tem raízes aéreas e longas folhas compostas e pendentes. O fruto é uma drupa vermelho-purpúrea, comestível, que cresce em cachos e cuja polpa é usada na bebida mais emblemática do estado do Pará (Ferrão, 2001). As raízes aéreas são mastigadas para curar a dor de dentes ou colocam-se nas gengivas doridas. Com a decocção da raiz aplicam-se emplastros sobre feridas cutâneas e partes doridas devido a afecções reumáticas e para estancar hemorragias. Esta espécie cresce em regiões de clima equatorial, em especial ao longo dos igarapés do Baixo Amazonas, em solos húmidos e alagados. O açaizeiro é a planta silvestre mais abundante nos quintais e lotes periurbanos de Belém do Pará. O suco (“vinho”) de açaí faz parte da dieta diária das 8 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ famílias belenenses por ter valor calórico superior ao do leite e assinalável riqueza em sais minerais e vitaminas, constituindo um notável complemento alimentar das classes sociais mais desfavorecidas Fig. 4 – Plantas medicinais brasileiras Nome Vernáculo Erva-Cidreira Açaí Mastruz Pata-de-Vaca Amor Crescido Canarana Identificação botânica Lippia alba (Miller) H.B.K. VERBENACEAE Euterpe oleracea C. Mart. PALMAE Chenopodium ambrosioides L. CHENOPODIACEAE Bauhinia nitida Benth., B. forficata Link, B. glabra Jacq. LEGUMINOSAE Portulaca pilosa L. PORTULACACEAE Costus spicatus Roscoe ZINGIBERACEAE Pirarucu Bryophyllum calycinum Salisb. CRASSULACEAE Capim Santo Cymbopogon Citratus (DC.) Stapf GRAMINEAE Catinga de Mulata Aeolanthus suavis C. Mart. LABIATAE Marupazinho Pariri Anador Eleuterine plicata Herb. IRIDACEAE Arrabidaea Chica (Humb. & Bonpl.) Verlot BIGNONEACEAE Plectranthrus barbatus Andr. LABIATAE Aplicações Medicinais Modo de preparação Parte da planta usada Carminativa, analgésica, digestiva e sedativa Infusão, Xarope Folhas A raíz é cicatrizante e anti-reumática. O fruto é nutracêutico. Paus colocados nas gengivas ou mastigados Antifúngica e vermífuga, antigripal, antipirética e analgésica, cicatrizante. Infusão, Xarope Toda a planta Antidiabética e diurética, antibacteriana e antidiarreica. Infusão. Macerada Folhas, flores, casca e raízes Lavagem do couro cabeludo. Infusão e decocção. Toda a planta Cataplasmas. Infusão, Macerada Folhas Cicatrizante e diurética. Diurética. Afecções da visão. Anti-séptico, antiinflamatório, bactericida, antiulceroso e anti-reumático. Analgésico. Antibacteriano, antifúngico, antiinflamatório e antiespasmódico. Infusão, decocção. Suco (visco da folha) pingado nos olhos, xarope. Raiz aérea e fruto Folhas Infusão Folhas Dor de ouvidos. Vermífuga e aromática, é antigripal. Banhos Toda a planta Antidiarreico e vermífugo. Antianémico, tratamento de úlceras e hepatites, inflamações uterinas. Decocção “batatinha” (bolbo) Decocção Folha e flor Analgésico, diurético e antitússico Infusão, macerada Folhas Fonte: Amostras de Madaleno, 1998 e 2005. Literatura Científica Recomendada: Van den Berg, 1993; Vieira, 1992; Martins, 1989. . 9 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Mastruz ou Epazote (designação que lhe é dada no México) ou Paico (Peru e Chile) é uma herbácea de meio metro de altura e odor fétido usada em infusões recomendadas às crianças que têm lombrigas e adequadas para a cura de gripes e constipações. O receituário fitoterápico recomendado consiste em xaropes da folha liquefeita com leite condensado, ingeridos contra a tosse e usados até em casos graves, como a tuberculose. Algumas avós de Belém acrescentavam canela à receita doméstica. Não se devem usar doses muito elevadas, nem por períodos prolongados, por ser tóxico. Na Amazónia utiliza-se Mastruz nos galinheiros para afugentar piolhos. No México as folhas são consumidas em tortilhas e guisados, usadas em vez da salsa por serem digestivas, mas a principal aplicação do Epazote é no combate à malária. No Chile era usada diariamente em infusões para tratamento de colites (receita de enfermeira da Ilha da Páscoa). A Pata de Vaca é uma planta arbustiva ou pequena árvore, de caule erecto e muito ramificado, com folhas ovaladas ou cordiformes e bifoliadas, e bela flor branca com aspecto de orquídea. No respeitante às aplicações terapêuticas, a literatura científica referencia que as folhas possuem substância que substitui a insulina (trigonelina) e são diuréticas (Cunha, Silva e Roque, 2003). A flor é purgante e a raiz vermífuga. Quanto ao receituário fitoterápico, a receita mais vulgar consistia na maceração de 100 gramas de cascas, folhas e flores num litro de álcool. O líquido coado deve ser tomado à razão de 30 gotas em meio copo de água, em jejum, ao acordar. Para controlar a diabetes a recomendação anotada foi a da toma adicional de 15 gotas ao almoço e ao jantar. A espécie forficata é originária da Ásia, mas existem diversas espécies no Brasil, em especial no sul do país. Encontrei as três espécies referenciadas na Fig. 4, nos quintais de Belém; em Santiago do Chile, nos “huertos obreros e familiares” do município de La Pintana, encontrei a Bauhinia candicans, usada para reduzir o colesterol. No México, a espécie divaricata é designada Pata de Cabra, usando-se exclusivamente as flores em cataplamas para cicatrização de feridas e golpes (Madaleno, 2006ab, 2007; Madaleno & Gurovich, 2004). O Amor Crescido é uma planta herbácea da América Tropical, anual erecta, carnosa, com folhas alternas e flores alaranjadas, vermelhas ou lilás. É utilizada em preparados e infusões contra a queda de cabelo. A infusão das folhas aplica-se em emplastros contra queimaduras e afecções da pele. O receituário fitoterápico que recolhemos foi variado, pois tanto se cultivava em quintais como se vendia a planta 10 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ fresca nos mercados, sendo a mais vendida no Ver-o-Peso. Uma das prescrições, de vovó do Bairro do Condor, foi a seguinte: Misturar um punhado de folhas de AmorCrescido e outro de folhas de Jambu (Spilanthes oleracea) em água fria e levar ao lume. Deixar levantar fervura e tomar em substituição da água, durante todo o dia, esta decocção que é excelente diurético e protege o fígado. Prolífica no Peru, cresce tanto nas zonas costeiras como nos Andes (Cuzco e Arequipa), onde toma o nome de “Flor de Mediodía” e é usada em infusões digestivas. A Canarana é uma planta herbácea erecta do Baixo Amazonas, de 1 a 3 metros de altura, com folhas alternas e pilosas. As infusões das folhas são recomendadas em tomas regulares e usadas externamente em cataplasmas. Duas prescrições são de destacar: 1) Juntar uma folha de Canarana a um punhado de folhas de Abacateiro (Persea americana) e um punhado de Quebra-Pedra (Phyllantus orbiculatus) num litro de água e tomar maceradas durante o dia para curar infecções urinárias. 2) Colocar folhas frescas de Canarana aquecidas em óleo de Andiroba (Carapa guianensis) sobre os rins e bexiga, cataplasmas recomendados contra tumores. Com 55 ocorrências (10% da amostra de 1998), esta espécie ocupava o 6º lugar no ranking das mais cultivadas nos quintais de Belém do Pará (Madaleno, 2002). O Pirarucu é planta herbácea perene, de folhas carnosas e dentadas como as escamas do peixe homónimo do Rio Amazonas. Infusões das folhas usam-se em aplicações internas contra a gastrite. O suco pingado nos olhos é recomendado em caso de cataratas e de glaucoma. Receituário fitoterápico: 1) Ferver 2 ou 3 folhas de Pirarucu em meio litro de água e tomar contra dores de estômago e diarreias. (Receita de proprietária de banca do “Jogo do Bicho” do bairro da Sacramenta, que exercia a actividade informalmente à porta da sua casa, em Belém do Pará, 1998). 2) Colocar 2 ou 3 folhas suculentas num pouco de água. Juntar açúcar a gosto. Levar ao lume e deixar ferver até apurar. Depois de arrefecer, espremer a mistela, coando-a. O xarope antitússico pode ser tomado várias vezes ao dia, usando uma colher de sopa como medida. (Receita de vendedora do Mercado Ver-o-Peso, 2005). O Pirarucu cresce no Baixo Amazonas e no estado do Maranhão, onde se conhece pela designação de Erva de Santa Quitéria. O Pirarucu foi a 11ª espécie do ranking das plantas medicinais cultivadas nos quintais de Belém do Pará, de acordo com os resultados do trabalho de campo realizado nas duas primeiras missões Científicas à Amazónia, em 1998 (Madaleno, 2000). 11 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Capim Santo ou Capim Limão prolifera nas regiões tropicais, sendo chamada Té Limón no México e Yerbaluisa no Peru. Trata-se de herbácea de 1 metro de altura e cerca de 1 cm de largura, cuja infusão é analgésica e sedativa, usada no combate à dor em tomas abundantes. Em Belém tanto existe cultivada nos quintais, como prolifera silvestre à beira das estradas e caminhos dos bairros das baixadas ribeirinhas e lotes periurbanos. Depois da erva-cidreira é a mais cultivada nos quintais de Belém. É a segunda planta mais vendida nos mercados de Lima, no Peru e a 4ª na Cidade do México, de acordo com o estudo comparativo que realizei entre 1998 e 2006 (Madaleno, 2007). A Catinga de Mulata é planta herbácea de um metro de altura, de caule erecto com folhas ovaladas, flor tubulosa de corola amarela. Aromática, é antigripal. A decocção é usada em clister por ser vermífuga. Também é usada externamente em “banhos de cheiro” durante as “festas juninas” (santos populares do mês de Junho). Deve-se evitar a ingestão, por ser tóxica. A prescrição mais interessante é a usada em caso de dor de ouvidos: Batem-se as folhas no liquidificador e pinga-se o suco nos ouvidos. O estudo desta planta endémica da Amazónia deve-se ao botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, que explorou a Amazónia durante três longos anos (1817). A Flora Brasiliensis, entre outros escritos, tornou-se obra de referência da botânica da Amazónia, contendo um total de 22 767 espécies brasileiras. Martius naufragou no rio Amazonas, em frente a Santarém do Pará, tendo escapado milagrosamente juntamente com o seu precioso acervo. O Marupazinho é planta herbácea erecta com bolbo (“batatinha”) de cor lilás que se usa para fins terapêuticos por ser antidiarreico e vermífugo. Utilizam-se decocções do bolbo contra as desinterias e amebíases. O receituário fitoterapêutico recomendado consiste em deixar ferver duas “batatas” (bolbos) de Marupaa ou Marupazinho em meio litro de água. Deixar arrefecer, coar e tomar o líquido decocto antes das refeições. (Receita de vovó de 70 anos, do Bairro do Marco – 2ª Missão à Amazónia, Madaleno, 1998). O Pariri foi a quarta espécie registada nos quintais de Belém, um arbusto de folhas compostas e pigmentadas, nativo da Amazónia (chamado Puca Panga, no Peru). Tem aplicações diversas nas “doenças femininas”. Em 1998 recolhemos a seguinte receita de mãe de família do bairro de Curió-Utinga: juntar 4 a 5 folhas de Pariri a um 12 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ litro e meio de água; levantar fervura e consumir o líquido decocto de cor avermelhada diariamente (Madaleno, 2002: 141). Combate a anemia e as inflamações uterinas. O Anador foi a quinta espécie do ranking das mais cultivadas em Belém, de acordo com os resultados da mesma amostra, uma espécie endémica que tomou a designação de um conhecido analgésico vendido nas farmácias de todo o Brasil. A prescrição doméstica foi a seguinte: um par de folhas por xícara de água a ferver. Macerado com hortelã-pimenta (Mentha piperita) combate as cólicas estomacais e intestinais, minora afecções hepáticas e combate catarros brônquicos. 3.3. Plantas Medicinais Registadas no Chile País singular, que atravessa 38º de latitude, numa distância superior à de Lisboa a Moscovo (4 300 km de comprimento), é um dos mais ricos em biodiversidade na América Latina, possuindo grande profusão de espécies endémicas favorecidas pelo isolamento que a Cordilheira dos Andes lhe confere. Desde 1888, a pedido do Conselho de Anciãos, que a Ilha da Páscoa (Rapa Nui) é parte integrante da República Chilena. O trabalho de campo incluiu 132 inquéritos e 25 entrevistas e identificaram-se 70 espécies. As cinco missões científicas indicaram 5 influências culturais na produção e venda de hierbas (Fig. 5): 1) Europeia (Espanhóis, Ingleses e Alemães); 2) Práticas de cura dos índios Mapuche do Sul do Chile; 3) Tradições índias Aymara do Norte; 4) Plantas importadas do Peru; 5) Plantas medicinais da Ilha da Páscoa. Dentre as onze espécies listadas, começo por descrever a planta mais consumida pelos índios Aymara, do norte do Chile. A Llareta é um arbusto endémico de estrutura complexa, compacto e resinoso, que cresce sobre superfícies rochosas. A flor, de corola pequena, tem cor amarela. A resina tem aplicação externa em emplastros, no caso de fracturas, artrite e dores nas costas. Utilizam-se infusões da raiz nas crises de asma e para minorar a diabetes. A flor e as sementes utilizam-se em infusões contra a tosse, gripes e constipações e para baixar o colesterol. É uma espécie dos Andes Centrais, que se estende desde Cuzco (Peru) até ao deserto de Atacama (Chile). É mais abundante na província de Iquique, Região de Tarapacá, no extremo norte do Chile. Endémica da Cordilheira dos Andes, sobrevive apenas entre 3 500 e 4 500 metros acima do nível do mar. 13 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ A Matua’Pua é uma erva nativa da Ilha da Páscoa que tem cerca de meio metro de altura e cresce preferencialmente nas vertentes dos vulcões e no interior de caldeiras vulcânicas. Na ilha, a principal utilização terapêutica é contra as dores reumáticas. As receitas domésticas são transmitidas de geração em geração e consistem em preparados da raiz ralada, cuja composição é reservada às curandeiras rapanui, em poções e infusões secretas apenas conhecidas por um número restrito de mulheres. Se contra o reumatismo a aplicação é externa, existem preparados de aplicação interna recomendados contra o cancro. O Canelo é uma árvore endémica do sul do Chile, de 30 m de altura, com folhas obovado-elípticas e flores brancas estreladas. As cascas são usadas em mezinhas que a ‘machi’ (curandeira índia Mapuche) prepara. Uma das aplicações externas é a decocção das cascas e folhas em banhos contra as dores reumáticas. Recolhi dois tipos principais de prescrições: 1) Uma folha por chávena de água a ferver em infusão diurética e antiescorbútica. 2) Um litro de álcool por 200 gramas de cascas e folhas gera alcoolato usado em fricções contra o reumatismo. A descoberta do Canelo deve-se ao médico John Winter, companheiro de Francis Drake, que levou a casca da árvore chilena para Inglaterra, no regresso das suas viagens (1577-1581), razão pela qual os botânicos Johann Reinhold Forster e Georg Forster a classificaram Drimys winteri, da família Winteraceae. Esta é a árvore sagrada dos índios Mapuche do sul do Chile. Árvore nativa do Chile, com cerca de 8 metros de altura, o Boldo tem folhas aromáticas, pequenas, inteiras e flores de corola branca ou amarela. Tem aplicação interna contra problemas do fígado e más digestões. As infusões da folha são igualmente recomendadas para a gota. A medida é diferente para cada pessoa, ou seja, uma mão cheia (puñado) por litro de água, a tomar após a refeição. Não deve ser tomado por período de tempo dilatado pois torna-se tóxico. Apesar de ser planta nativa do Chile Central, o Boldo dá-se em quase todos os domínios climáticos americanos. Encontrei Boldo em Belém do Pará, na Cidade do México e, menos, em Santiago do Chile. Não o encontrei cultivado em Lima. O Boldo ocupa o 9º lugar no ranking das espécies medicinais mais vendidas nos mercados formais e informais de Santiago, mas raramente se encontrou em quintais. O Boldo do Chile é a 2ª planta mais vendida nos mercados de Belém do Pará, no Brasil e a 12ª mais cultivada nos quintais daquela cidade da Amazónia, onde é consumida fresca. No ranking do comércio de ervas mexicano ocupava um honroso terceiro lugar. 14 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 5 – Plantas medicinais chilenas Nome Vernáculo Llareta Matua’pua Identificação Botânica Aplicações medicinais Azorella compacta Phil. Cicatrizante, antitússico e antigripal. Ensaios farmacológicos provaram efeitos benéficos na cura da tuberculose e contra a doença de Chagas. UMBELLIFERAE Polypodium scolopendria Rauch Modo de Preparação Parte da planta usada Infusão Emplastro Toda a planta Anti-reumática e antitumoral Preparado Rizoma As cascas e folhas são antiescorbúticas, febrífugas e anti-reumáticas. Infusão Emplastro Fricções Decocção Toda a planta Infusão Folhas Infusão Macerada Folhas e flores Antitússico e antidiarreico Infusão Fruto comestível Folhas e frutos Cicatrizante e antigripal. Afecções da pele (eczemas, herpes e sarna) Infusão, decocção, lavagem e emplastro Folhas e caules Cicatrizante, analgésico, antiinflamatório e diurético. Infusão, decocção Pulverizado sobre a pele Folhas Infusão Folhas e talos POLYPODIACEAE Canelo Drimys winteri J.R. & G. Forst. WINTERACEAE Cedrón Peumus boldus (Molina) Lyons MONIMIACEAE Lippia citriodora Kunth (HBK) VERBENACEAE Maqui Aristotelia chilensis (Molina) Stuntz ELAEOCARPACEAE Parqui Cestrum parqui L’Hér. Matico SOLANACEAE Buddleja globosa Hope BUDDLEJACEAE Boldo Protector hepático, digestivo e anti-reumático. Estimulante do apetite e digestivo, é também carminativo, antiespasmódico e calmante. Bailahuen Haplopappus baylahuen Remy COMPOSITAE Digestivo e cicatrizante, é também antiespasmódico, antibacteriano, anti-séptico, carminativo e antiálgico. Diego de la Noche Oenothera stricta Ledeb ex Link ONAGRACEAE Antitumoral e antiinflamatório. Preparado Toda a planta Palto (a) Persea americana Mill. LAURACEAE Antitússica e antigripal xarope Folhas Fonte: Amostras de Madaleno, 2002 a 2006. Literatura Científica Recomendada: Bienvenido, s.d.; Muñoz, Montes y Wilkomirsky, 2004; Villagran y Castro, 2004. O Cedrón é arbusto de cerca de 3 metros de altura, aromático, de folhas opostas e longas, e flores brancas terminais que crescem em espiga. Estimulante do apetite e digestivo, é também carminativo, antiespasmódico e calmante. A aplicação interna fazse em infusões digestivas e sedativas. O receituário fitoterápico recolhido consistia em: Uma colher de chá por cada chávena de água a ferver ou 8 a 10 folhas por litro de água, maceradas por 10 minutos, a tomar após as refeições. A infusão das flores e folhas 15 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ combate o mau hálito. O ranking nos estudos comparativos deu-lhe o 8º lugar em Santiago, dentre as mais vendidas nos mercados formais e informais. É a 2ª planta mais cultivada nos quintais da capital chilena (depois das Mentas). No México e no Peru a folha seca de Cedrón é usada em infusões contra a indigestão. Em Belém do Pará, no Brasil, toma o nome de Carmelitana, é cultivada nos quintais e usada fresca em chás tranquilizantes. Maqui é árvore endémica do sul do Chile, de cerca de 4 metros de altura, de ramos delgados e flexíveis, de casca lisa. Os folíolos são elípticos. Os frutos maduros são bagas pequenas como cerejas, negras e brilhantes. Aplicam-se internamente as folhas em infusões que curam as dores de garganta. O fruto comestível cura a diarreia. Os índios Mapuche fabricam ‘chicha’ com estas bagas. O Maqui foi pintado pela ilustre botânica inglesa Marianne North, que em 1884 chegou ao Chile, derradeira etapa da peregrinação científica que fez pelo mundo; o Maqui aparece no seu diário e integra igualmente uma das 832 pinturas de sua autoria que estão expostas na ‘Marianne North Gallery’, nos Royal Kew Gardens, de Londres (Echenique e Legassa, 1999) Parqui é arbusto silvestre de cerca de 3 metros de altura, de aroma fétido, folhas alternas, lanceoladas e flores amarelas. Cicatrizante e antigripal, é arbusto nativo do centro e sul do Chile e é tóxico. A prescrição consiste em: Um punhado de caules, sem casca, partidos ou raspados, por litro de água a ferver. A decocção bebe-se quente para curar gripes e resfriados e fazer baixar a febre. A infusão das folhas, na proporção de 50 gramas por litro de água a ferver, serve para lavar feridas, herpes e cura a sarna. As folhas, após cozimento, também se aplicam como emplastro cicatrizante. O Matico é arbusto de folhas opostas lanceoladas e flores amarelas esféricas. A infusão serve para desinfectar as feridas. Também se toma como chá diurético. A decocção é recomendada para tratar úlceras digestivas e afecções hepáticas. Pulverizase a folha triturada sobre ferimentos cutâneos para ajudar a cicatrizar feridas (receita de machi Mapuche, 2005). Há uma centena de espécies diferentes nas regiões tropicais. A globosa cresce espontaneamente no Chile, desde a latitude da Valparaíso até à X Região (Los Lagos), nas montanhas. O Bailahuen cresce nos Andes de Tarapacá acima de 2000 metros de altitude; é arbusto de folhas dentadas, brilhantes e cobertas de visco. Dá flores amarelas terminais, agrupadas em capítulos solitários. Tem aplicação interna em infusões digestivas e analgésicas e aplicação externa para desinfectar feridas e golpes. Receituário 16 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ fitoterápico recolhido: Cerca de vinte gramas de folhas e caules por litro de água a ferver, minora as dores menstruais. Tomado após as refeições adelgaça a silhueta (receita de casal de vendedores da Feira Lo Valledor, 2005). Quando ingerido com leite de cabra aquecido ou com chá mate (um punhado de Bailahuen por meio litro de água) ajuda a diminuir as crises epilépticas (receita Aymara, 2004). Diego de la Noche é planta herbácea erecta com folhas lanceoladas e flor branca, que só abre ao entardecer. Há 18 géneros de Onagráceas e 640 espécies por todo o mundo, a maioria das quais são americanas. A Oenothera stricta é nativa do centro e sul do Chile. A aplicação interna é recomendada contra tumores e em emplastros colocados sobre feridas, pelas acções comprovadamente anti-inflamatórias. Receita para o Cancro da próstata: Um “trocito” (pedacito) de raiz de corchito + um pouco de cada erva (Diego de la Noche + Té Buchu + Horizonte + Orocoipó) para uma chávena de água. Tomar quente, após as refeições, quatro vezes ao dia. As gotas de Sangre de Grado ou Drago (Croton lechleri Muell. Arg.), vendidas em qualquer mercado chileno e peruano, são adicionadas às infusões, na razão de uma, nos primeiros 5 dias, 2 nos seguintes 5, e assim sucessivamente até às 5 gotas nas tomas regulares, pois este chá pode ser tomado por períodos prolongados (receita de vendedora da Vega Chica, Santiago, 2005). O Palto ou Palta, nome do Abacateiro no Chile, é árvore de 15 metros de altura, com folhas elípticas de cerca de 20 cm de comprimento e 15 cm de largura, de fruto verde violáceo com forma de pêra. É a terceira planta no ranking das mais cultivadas nos quintais de Santiago, e as folhas frescas usam-se em infusões contra a gripe e na confecção de xaropes antitússicos caseiros. Dentre as prescrições recolhidas destaco duas: 1) 1 folha de laurel (louro) chileno (Laurelia sempervirens ou Thiga chilensis Mol.), 1 folha de eucalipto (Eucaliptus globulus), vulgar nas faldas dos Andes, 1 folha de palto (abacate), vulgar em La Pintana, 1 folha de cardenal blanco (Hibbiscus spp.) e sumo de limão com mel (receita registada em huerto obrero do município de La Pintana, de senhora idosa e originária do sul do Chile, alegadamente prescrição tradicional dos índios Mapuche). 2) Folhas de palto batidas no liquidificador com mel e umas gotas de pisco (bebida alcoólica peruana e chilena). Este xarope antigripal pode ser tomado todo o dia (receita de enfermeira rapanui (Ilha da Páscoa) residente em Santiago, 2005). 17 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ 3.4. Plantas Registadas no Peru Quarto maior país em extensão da América Latina, depois do Brasil, Argentina e México, o Peru estende-se desde a selva amazónica até ao Lago Titicaca, dos picos nevados dos Andes até aos desertos costeiros. O Peru regista vinte e oito tipos climáticos. Cada uma das suas oito grandes regiões possui rica biodiversidade e enorme profusão de espécies endémicas (Fig. 6). O Peru exibe, ainda, numerosos sítios arqueológicos da Civilização Inca, terraços alimentados por canais de irrigação e cidades alcandoradas nos Andes (Vidal, 1996; Alva, 2004). A missão de 2006 revelou três influências principais: 1) A Europeia; 2) A das culturas ancestrais andinas, dentre as quais a Quechua e a Aymara; 3) A dos povos indígenas da Amazónia. Identifiquei 60 espécies vegetais de uso terapêutico e realizei 38 entrevistas. Árvore de até 6 metros de altura, com folhas cordiformes alongadas e flores grandes e vistosas, brancas, rosadas ou vermelhas, o Achiote é originário da Amazónia mas estende-se pela América Tropical sendo encontrada nos Andes até aos 1000 metros de altitude. Utilizam-se decocções das folhas e sementes para minorar a diabetes. Infusões das folhas em aplicações externas em caso de varicela, de lepra, como antiséptico urinário e vaginal. Dentre o receituário fitoterápico recolhido, destaco a seguinte prescripção: Uma colher de chá de Achiote triturado e outra de Huamampinta (Chuquiraga huamampinta) para uma chávena de água a ferver, a tomar diariamente durante um a dois meses, cura o cancro da próstata (receita de guarda de museu idoso). Em casos de maior gravidade juntar, ainda, Uña de Gato. Para as senhoras a recomendação é Achiote e Manayupa, para curar infecções urinárias (receita de vendedora do mercado de Surquillo). No Brasil tem o nome de urucu e é usada pelos índios na pigmentação da pele, desde tempos imemoriais. A Asmachilca é uma herbácea dos Andes Centrais de um metro de altura, de folhas pilosas, com aroma desagradável, que sobrevive apenas acima dos 3000 metros de altitude. As folhas e talos são usados em infusões e decocções contra a asma. Receituário fitoterápico recomendado por vendedora Aymara do mercado Central de Lima, oriunda de Arequipa: Um puñado (punhado) de folhas e talos a ferver por 10 minutos em um litro de água. A Maca é uma planta anual de cerca de 20 cm, com folhas rasteiras que crescem sob a forma de raios de um círculo quase perfeito. É endémica dos Andes Peruanos 18 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ sendo originária do altiplano de Junín, sito acima de 4 000 metros de altitude. As plantas da Maca não florescem, nem dão fruto, usando-se apenas o “tubérculo”, que tem 6 a 8 cm de diâmetro e cor amarela, avermelhada ou mesmo negra. Com fins medicinais utiliza-se preferentemente a variedade amarela. As prescrições recomendadas foram as que se seguem: Juntar 100 gramas de Maca à sopa. Fervida em leite, come-se para regularizar a menstruação. Uma colher de café de maca em pó ao pequeno-almoço é estimulante e energética. Muito rica em cálcio é recomendada para a osteoporose (receita de médica). Usada também em caso de úlceras gástricas, pelos efeitos calmantes, em dose elevada afecta as funções hepática e renal. A título de curiosidade, acrescento que a maca era parte importante do tributo ao Inca e ao Deus-Sol (viracocha), prática continuada durante a colonização espanhola, como rezam as crónicas citadas por Fernando Cabieses (1997) e Maria Rostworowski (1993): “Yten dareis en cada año trescientas cargas de maca, cada carga de media fanega”. O Capulí é uma árvore que cresce até 20 metros de altura, com folhas ovadas e dentadas, flores solitárias e fruto em forma de baga amarela coberto de película castanha. O fruto é diurético; as folhas e a casca do tronco são anti-sépticas e cicatrizantes; as cascas são anti-reumáticas. Prescrições de índia Quechua do Mercado das Flores de Rímac: O fruto come-se pelas suas qualidades antitússicas e efeitos diuréticos. Também se recomenda o seu consumo contra o mau-olhado. Em aplicações externas usam-se cataplasmas das folhas secas e cascas que têm efeitos benéficos na desinfecção e cicatrização de feridas cutâneas e golpes. Aplicação interna têm ainda as cascas, cuja decocção é considerada anti-reumática. Espécie andina, nativa do Peru, encontra-se hoje desde Lima até Cuzco e Junín, nos Andes, entre os 2 000 e 3 500 metros de altitude. A Huíla-Huíla é uma planta herbácea branca erecta de 1 m de altura, com flores branco-douradas, andina, nativa do Peru e que cresce acima dos 2 500 metros de altitude. A planta é pilosa mas de toque suave. Recomendação terapêutica de vendedora Quechua do Mercado Ciudad de Dios: Uma planta por 2 litros de água a ferver. Usar morna em banhos de assento. Também tem aplicação interna em decocção contra a tosse, gripes e ataques de asma. A índia que me vendeu um espécime classificou-a como “planta para mulheres”, o que verifiquei ser extensivo a outra espécie de cor branca, a Flor Blanca (Buddleja incana R y P) embora recomendada contra a gastrite. 19 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 6 – Plantas medicinais peruanas Nome vernáculo Achiote Asmachilca Maca Identificação Botânica Aplicações medicinais Bixa orellana L. A folha é diurética, antidiabética e antimicrobiana; a raíz é digestiva; as sementes são expectorantes, usadas contra a tuberculose e antigripais. BIXACEAE Aristeguietia gayana (Wedd.) King y Robinson COMPOSITAE Lepidium peruvianum Chacon; Lepidium meyenii Walpers Expectorante, antitússico e antiasmático. Estimulante e Afrodisíaca BRASSICACEAE Prunus capuli Cav. Capulí Muña ROSACEAE Senecio canescens (HBK) Cuatre COMPOSITAE Minthostachys setosa (Briq) Epling LABIATAE Uña de Gato Uncaria tomentosa (Willd.) DC. Huíla-huíla RUBIACEAE Manayupa Pasuchaca Yacón Desmonium molliculum (HBK) DC. LEGUMINOSEAE Geranium dielsianum Kunth GERANIACEAE Polimnia sonchifolia Poeppig et Endlicher COMPOSITAE Modo de Preparação Infusão, decocção emplastro, fricções. Infusão e decocção Pulverizada pode adiccionar-se a bebidas e na confecção de sopas Parte da planta usada Toda a planta Toda a planta Raiz principal tuberosa Anti-reumática e cicatrizante, Fruto anti-tússico e diurético. Infusão e emplastro. Fruto comestível Antimicrobiana, tem actividade reconhecida contra a candida albicans. Preparado, banho de assento Toda a planta Infusão, condimento, cataplasma Toda a planta Infusão e decocção Toda a planta Analgésico, carminativo, antitússico, anti-séptico, anticancerígeno e antireumático Actividades anti-inflamatória e antioxidante. Inibição de síntese do DNA em células cancerígenas. Actividades antitumoral e antiviral. Antipirética e estimulante do sistema imunológico Toda a planta Toda a planta Actividades antiinflamatória, antidisentérica e cicatrizante Infusão e decocção Diabetes e diurética Infusão Toda a planta Diabetes Preparado Cozido Raiz principal tuberosa Fonte: Amostra de Madaleno, 2006 Literatura Científica Recomendada: Agapito e Sung, 2004; Espinosa e Pumacayo, 2005; Gonzales, Hoyos, Gonzales, Remsberg, Navas, Chávez, Mejía-Meza, Guevara, Bellido, Davies e Yañez, 2007; Montesinos e Ramón, 2004; Sobral e Noronha, 2001; Vilches, 1997. A Muña é um arbusto de metro e meio de altura, muito ramificado e aromático, endémico da pré-cordilheira andina peruana (vertentes sitas entre 2 500 e 4000 metros de altitude). Tem folhas opostas e ovadas, dentadas, pubescentes na face inferior e dá flores brancas tubulares. São recomendadas infusões das folhas frescas e dos talos por melhorarem a digestão, tratarem as palpitações provocadas pela altitude e as afecções respiratórias. Consome-se nas sopas e guisados como condimento. Usam-se folhas e talos em cataplasmas contra as dores reumáticas e na cicatrização de feridas cutâneas. 20 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Receituário fitoterápico recomendado: Ferver 20 gramas de talos e folhas em 1 litro de água durante 10 minutos. Esta decocção bebe-se duas vezes ao dia para curar o “mal de montanha”, ou seja, o mal-estar provocado pela subida aos Andes. Para o turista que visita Cuzco e Machu-Pichu, o encontro com os pequenos vendedores de Muña é inevitável. Eles mostram-nos a planta fresca, que dão a cheirar, já que é aromática, e apontam para a cabeça, indicando-nos ser forte analgésico. A Muña cresce silvestre em extenso e denso mato aromático, que cobre as vertentes andinas. A Uña de Gato é um arbusto trepador da floresta amazónica, que pode atingir cerca de 20 metros de altura. Tem folhas ovadas, opostas, de pecíolo curto, com cerca de 17 cm de comprimento e 9 cm de largura. O caule apresenta espinhos arqueados para baixo, tal como unhas de felino, de até 2 cm. As flores são sésseis e têm corola amarela. Aplicações terapêuticas: Um punhado de cascas por litro de água, bebe-se quente para minorar as dores reumáticas ou provocadas por tumores (receita de vendedora do mercado do Callao). No Brasil usa-se decocção das folhas frescas para mitigar dores, em especial as provocadas por doenças cancerígenas. Espécie nativa da Amazónia Peruana, estende-se hoje desde o Panamá (América Central) até ao Peru e Brasil. Cresce até 600 metros de altitude, na selva Amazónica. É utilizada desde tempos imemoriais por diversos grupos étnicos da Amazónia; a planta ocupa o 4º lugar no ranking das preferências de Lima e de Santiago do Chile e é a 6ª mais utilizada na Cidade do México (Madaleno, 2006b). A Manayupa é uma planta herbácea trepadeira de talos e folhas verdes esbranquiçadas, com flor amarela vistosa. Toda a planta tem aplicação medicinal interna, sozinha ou associada. As prescripções variadas incluem infusões de Achiote e de Manayupa, ou de Manayupa e Flor Branca (Buddleja incana) consideradas diuréticas e depurativas. Receituário fitoterápico recomendado: Um punhado da planta por litro de água, em decocção a tomar três vezes ao dia, durante 15 dias para desintoxicar. Também se usa Manayupa em banhos de assento contra hemorróides (receitas de médico naturopata de 80 anos de idade, que ainda exercia a profissão no seu consultório do bairro de Miraflores). Esta espécie é endémica dos Andes e estende-se de Cajamarca (N), a Cuzco e Junín, crescendo entre 1500 a 3 000 metros de altitude. A Pasuchaca é uma planta herbácea nativa que cresce silvestre acima dos 3 000 metros de altitude, nos Andes peruanos. Encontrei folhas e talos desta espécie embalados nos mercados e nunca a vi vender fresca. Era recomendada à razão de um 21 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ punhado por litro de água em toma de infusões às refeições, para controlar a diabetes. A literatura científica divulga que foram comprovados os seus efeitos benéficos na redução do açúcar, em particular as propriedades do rizoma. Foram ainda detectadas actividades anti-hemorrágicas, anti-inflamatórias e bactericidas (Agapito e Sung, 2004). Yacón ou Llacón é outra espécie herbácea, mais prolífica do que a anterior, por se encontrar na Cordilheira dos Andes, desde a Colômbia à Argentina. Cultiva-se com facilidade nas regiões montanhosas, utilizando-se as raízes em preparados que também controlam a diabetes. Análises químicas revelam que contém inulina. A receita das vendedoras Quechua, que recomendavam o “rizoma” (parecido a uma batata doce) era a de que se consumisse cozido com regularidade, acompanhando a carne ou o peixe, em vez de batata ou de arroz. 3.5. Plantas Medicinais Registadas no México O México é um país de grande variação topográfica e climática cujos desertos setentrionais contrastam com as selvas meridionais. A Cidade do México foi construída sobre um planalto com altitude média de 2 300 metros, outrora coberto por ecossistemas lacustres que hoje persistem em raras áreas protegidas de que Xochimilco constitui o melhor exemplo. Os estudos desenvolvidos incluíram 100 inquéritos e 55 entrevistas realizadas pela autora na Cidade do México, em Puebla, Cuernavaca e nas faldas dos vulcões que ladeiam estas cidades do México Central. Foram identificadas 70 espécies botânicas. Há onze espécies listadas na Fig. 7. O trabalho de campo revelou quatro influências culturais principais: 1) Europeia; 2) Práticas de cura ancestrais dos Aztecas; 3) Tradições índias Nahua; 4) Plantas importadas doutros países americanos. A Arnica é uma planta herbácea perene com 50 cm a 1 metro de altura, de folhas alternas dentadas, flor amarela terminal. Floresce em Agosto e Setembro. A infusão da planta, em particular das flores, tem aplicação externa em emplastros, no caso de fracturas, artrite e dores reumáticas. A decocção da planta usa-se ainda em gargarejos para tratar dores de garganta e anginas. Espécie prolífica nativa do altiplanalto do México Central, cresce tanto no Estado de Chihuahua (N), quanto no Distrito Federal, 22 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Puebla e em Oaxaca. Não deve ser confundida com a espécie europeia Arnica montana L. de que tomou o nome vernáculo, introduzido pela colonização espanhola. A Ballentilla é um arbusto com 3 metros de altura e flores campaniformes vermelho-alaranjadas, folhas grandes de pecíolo curto que crescem em grupos de três a cinco. Espécie nativa do centro e sul do México, cresce desde a costa atlântica (Veracruz) até à Pacífica (Chiapas). A infusão das folhas utiliza-se para desinfectar feridas e deter hemorragias. Aplica-se como emplastro anti-séptico. Tem aplicação interna contra diarreias e como antipirético. Recomendada em decocções contra o paludismo. Fig. 7 – Plantas medicinais mexicanas Nome vernáculo Identificação Botânica Aplicações Medicinais Modo de Preparação Parte da planta usada Anti-inflamatória, antiséptica e antibacteriana e anti-reumática Fricção e Emplastro Decocção Toda a planta antidiarreica, anti-séptica e cicatrizante Infusão e decocção. Emplastro Folhas Antidisentérico, minora a diabetes e é eficaz contra a malária Infusão e decocção Afecções da visão. Antibacteriana e antiespasmódica Infusão Toda a planta Emplastros e fricções. Preparados. Folhas Heterotheca inuloides Cass. Arnica Mexicana COMPOSITAE Hamelia patens Jacq. Ballentilla Chaparro Amargo RUBIACEAE Castela tortuosa Lieb. SIMAROUBACEAE Argemone mexicana L. Chicalote Axihuitl PAPAVERACEAE Eupatorium aschembornianum Sch. COMPOSITAE Anti-reumático. Úlceras nervosas. Caules Cuphea aequipetala Cav Hierba del Cáncer Muicle Nopal Toloache Gordolobo Cancerina Anti-inflamatória e antitumoral LYTHRACEAE Justicia spicigera Schlecht. ACANTHACEAE Opuntia tomentosa Salm-Dyck; O. ficus-indica (L.) Miller; O. depressa Rose. CACTACEAE Datura stramonium L. SOLANACEAE Gnaphalium semiamplexicaule DC. COMPOSITAE Hippocratea excelsa Kunth HIPPOCRATEACEAE Emplastro Antianémica, antipirética, antidiarreica e antibacteriana Infusão e banhos Hipoglicémica e antiviral Comestível Emplastros Anti-reumática. Sedativa, antiespasmódica, antiasmática e imunizante Fumam-se as folhas. Emplastro das sementes. Toda a planta Folhas, caules e flores Talos tenros sem espinhos Folhas e sementes Anti-gripal e antitússica Infusão e decocção, Fumam-se as folhas Folhas, flores e talos secos Afecções de pele Fricções e emplastros Cascas e raízes Fonte: Amostragens de Madaleno, 2004 e 2006 Literatura Científica Recomendada: Adame, 2000; Aguilar, Contreras, Villafranco e Molina, 2002; Alonso, Ochoa, Rodriguez y Essayag,1999; Alvarez, 2003; Ochoa e Alonso, 1996. 23 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Chaparro Amargo é um arbusto espinhoso, de até 3 metros de altura, com casca de cor escura, de folhas pequenas, crescendo em grupos de 3 ou 4. Dá flores vermelhas e solitárias e é usado na medicina indígena em infusões contra febres e diarreias. A ingestão em infusões e decocções é ainda benéfica no caso da diabetes. Receituário fitoterápico recomedado: Uma mão-cheia de cascas e ramos num litro de água a tomar de manhã e ao deitar para controlar a diabetes. Tomar em jejum contra as amibas durante 10 dias. Esta espécie é nativa das zonas secas do norte do México e estende-se desde a Baja Califórnia, a Chihuahua, Nuevo León, San Luís de Potosí e Puebla. Deve-se ao Jesuíta espanhol Miguel del Barco, que trabalhou como missionário na Califórnia durante 30 anos (1739-1768), o estudo do Chaparro Amargo, descrito na sua “Historia Natural y Crónica de la Antigua California”. O Chicalote é uma planta herbácea, de flor branca terminal e folhas dentadas, divididas em segmentos espinhosos. Floresce de Abril a Outubro. O látex era usado pelos Aztecas contra as cataratas (“nubes en los ojos”), as sementes são purgantes e as folhas usam-se em infusões contra a diarreia. Espécie nativa do México Central, estende-se hoje desde o estado da Baja Califórnia (costa Pacífica) até ao Yucatán (Mar das Caraíbas). O seu ambiente preferido são as encostas ensolaradas dos vulcões. A primeira descrição da planta deve-se ao Franciscano Fray Bernardino de Sahagún que escreveu a “Historia General de las Cosas de Nueva España” (1548). Contudo, os estudos do curandeiro indígena Martín de la Cruz (1552), traduzidos para latim por Juan Badiano, foram os mais divulgados. O Axihuitl é uma erva silvestre de folha larga e comprida, que floresce de Novembro a Fevereiro. A folha tem aplicação externa em emplastros e fricções contra as dores reumáticas, normalmente sob a forma de alcoolato. Os curandeiros dos povoados de Tepoztlán e San Juan de Tlacotenco (2 650m), no estado de Morelos, utilizam-na para fabricar bebida estimulante que dizem ter o poder de cicatrizar as úlceras nervosas. É espécie endémica do estado de Morelos, sito a sul do Distrito Federal, no México Central, que existe apenas acima de 2 000 metros, no Parque Nacional El Tepozteco. A espécie faz parte da tradição dos curandeiros índios Nahuas. Xihuitl significa erva; quáhuitl, árvore; acatl, cana e zacatl, pasto. A Hierba del Cáncer é uma trepadeira de cerca de 40 cm, o caule está coberto de penugem violeta, da cor das flores. As folhas pequenas e de pecíolo curto, crescem opostas. Toda a planta tem aplicação externa em emplastros, no caso de golpes e de 24 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ inflamações artríticas. Utilizam-se infusões e preparados que dizem curar todos os tipos de cancro, o que nunca foi comprovado pelos ensaios farmacológicos. Está provado o efeito anti-inflamatório. Espécie nativa do altiplanalto do México Central, estende-se hoje desde os estados de Puebla e Morelos até Oaxaca. O Muicle é um arbusto de 2 m de altura, muito ramificado, de folhas ovadas e opostas, flores tubulares terminais, de corola alaranjada. É usada em aplicações externas em banhos contra o mau olhado, afecções cutâneas e má circulação. A infusão das folhas e caules cura anemias e disenterias. Espécie nativa do México, tanto se encontra nos quintais quanto silvestre. Estende-se desde San Luís de Potosí até ao estado de Veracruz (Golfo do México). O Nopal é cacto que atinge 5 metros de altura. Há várias espécies endémicas do México das quais se utilizam os talos ternos depois de extraídos os espinhos. Os talos moles (nopalitos) são comestíveis e a sua ingestão, cozidos ou assados, em solitário ou com o fruto (Xocondl), controla a diabetes. Tem aplicação externa em emplastros que ajudam a curar herpes, queimaduras e várias afecções cutâneas (Receitas de vendedora do Mercado de la Merced, na Ciudad de México, 2004). Em Morelos consome-se ‘mole rojo com nopales’, uma receita das zonas montanhosas do norte, com camarão a acompanhar com 1 kg de nopal cozido com sal (receita recolhida em Tepoztlán, estado de Morelos, durante a missão científica de 2006). É comida ritual da Semana Santa. O Toloache é uma erva das Regiões Tropicais, que cresce silvestre também na Europa e na Ásia. As folhas de recorte característico têm odor fétido. As flores, de corola em forma de campânula violácea, são terminais. O fruto é uma cápsula verde espinhosa onde se alojam as sementes. É tóxica e o seu uso deve ser muito controlado. As sementes aplicam-se em emplastros ou sob a forma de alcoolato em fricções contra as dores reumáticas e hemorróides. As folhas fumam-se como preventivo de ataques de asma. Prolífico, o Toloache existe em todo o México sob a forma silvestre assim como nas Zonas temperadas e tropicais do Hemisfério Norte. Folhas e sementes de Tlapatl (Aztecas) ou de Toloatzin (Nahuas) mastigadas eram usadas em rituais mágicoreligiosos pré-hispânicos, para provocar a embriaguês. Provocam alucinações e podem gerar estado comatoso. O cultivo da planta é proibido e as vendedoras informais do Mercado de Sonora só a colhem a pedido de clientes. Adquiri o espécime entregue ao Herbário do IICT porque o cliente que o havia encomendado não apareceu (Maio de 2004). 25 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Gordolobo é uma planta herbácea nativa do México Central, que atinge 80 cm de altura, tem folhas alternas compridas e estreitas, flores terminais esféricas e pilosas de cor branca. Consome-se sempre seca e para isso as mulheres das faldas do vulcão Popocatepetl armazenam-nas nas vigas do tecto das suas cozinhas e arrecadações, já que se trata de uma das espécies mais procuradas pelos clientes no Mercado de Sonora, na Cidade do México. As folhas são fumadas contra os ataques de asma, velha prescrição azteca, mas hoje em dia é mais frequente consumir-se um punhado de flores e talos em infusões e decocções, contra gripes e constipações. A Cancerina é um cipó lenhoso nativo do México que cresce silvestre até 17 metros de altura nas encostas dos vulcões do México Central. Utilizam-se as cascas e raízes para matar piolhos e outros parasitas e fabricam-se preparados caseiros com álcool para utilização em fricções e emplastros que as índias do mercado de Sonora garantem curar o cancro de pele. A literatura científica consultada registou acções antiinflamatórias, antiartríticas e antitumorais em toda a planta (Alonso, Ochoa, Rodríguez e Essayag, 1999). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da botânica medicinal e dos conhecimentos ancestrais sobre práticas de cura na América Latina representa e fundamenta proposta alternativa para paliar dores, mitigar mal-estares e resolver problemas de saúde que a todos afligem. A expectativa desta pesquisa realizada ao longo de nove anos em quatro países e áreas metropolitanas foi a de resgatar e documentar as tradições e práticas terapêuticas ancestrais, usando exclusivamente espécies da flora medicinal, por serem mais acessíveis e menos dispendiosas, porque o direito à saúde é universal. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAME, J. e H. (2000), Plantas Curativas del Noreste Mexicano. México, Castillo AGAPITO, T. y SUNG, I. (2004), Fitomedicina I y II. Lima, editora Isabel. AGUILAR, R.V; CONTRERAS, A.A.; VILLAFRANCO, M.E.L. e MOLINA, S.X. (2002), Herbolaria Mexicana. México, Conaculta ALONSO, C. M, OCHOA, F. L, RODRÍGUEZ, B. E y ESSAYAG, R. M. (1999), Plantas Medicinales en México II: composición, usos y actividad biológica. México, UNAM. ALVA, W (2004), Geografía General del Perú. Lima, San Marcos. 26 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ ALVAREZ, L. P. (2003), Jardín Etnobotánico, Museo de Medicina Tradicional y Herbolaria de Cuernavaca, Morelos. México, Instituto Nacional de Antropología e Historia. BIENVENIDO, P. E. (s.d.), El Galeno Andino. Santiago, San Francisco. CUNHA, A.P, DA SILVA, A.P y ROQUE, O.R. (2003), Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. Lisboa, FCG. ECHENIQUE, A. y LEGASSA, M.V. (1999), Chilean Flora Through the Eyes of Marianne North, 1884. Santiago, Pehuén ed. ESPINOSA, J. y PUMACAYO, Z. (2005), Plantas Medicinales más Comunes Empleadas en el Perú. Lima, Nocedal. FERRÃO, J. E.M. (2001), Fruticultura Tropical, espécies com frutos comestíveis. Lisboa, IICT (vol. II). 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