Resumo e Comunicação - Instituto de Investigação Científica Tropical

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Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ ARCA DE NOÉ FLORIDA:
SABERES E PRÁTICAS MEDICINAIS ANCESTRAIS DA AMÉRICA LATINA
Isabel Maria Madaleno
Instituto de Investigação Científica Tropical - Programa de Desenvolvimento Global (GEO-DES)
[email protected] Resumo
O estudo da botânica medicinal e dos conhecimentos ancestrais sobre práticas de cura na América Latina
representa e fundamenta proposta alternativa para paliar dores, mitigar mal-estares e resolver problemas
de saúde que a todos afligem.
Durante nove anos (1998-2006) visitei feiras e mercados, consultei curandeiros e médicos, inquiri
agricultores urbanos e periurbanos que cultivavam espécies com valor terapêutico nas áreas
metropolitanas de quatro urbes latino-americanas: Cidade do México, capital mexicana; Lima, capital do
Peru; Santiago, capital do Chile; Belém, capital do estado do Pará, na Amazónia brasileira.
A pergunta que orientou o processo de investigação foi a seguinte: Como é que os residentes nas cidades
da América Latina que vivem abaixo do limiar de pobreza, sem acesso a sistemas convencionados de
saúde e assistência, tratam doenças crónicas e curam infecções? Questionários comuns guiaram as
conversas com as três categorias de informantes, durante as dez missões de investigação científica aos
países em apreço, que totalizaram 838 inquéritos e 131 entrevistas.
Os objectivos fundamentais do processo de investigação foram: 1) a avaliação da importância da flora
nativa nas preferências de consumo; 2) a avaliação do peso da influência europeia colonial nos usos
actuais e nas espécies medicinais introduzidas; 3) compilação de receituário de infusões e mezinhas
usadas em quatro enfermidades específicas – diabetes, artrite, cancro e afecções da visão.
A expectativa foi a de resgatar e documentar as tradições e práticas terapêuticas ancestrais, usando
exclusivamente espécies da flora medicinal, por serem mais acessíveis e menos dispendiosas, porque o
direito à saúde é universal
Palavras-chave: Plantas medicinais; América Latina; Peru; Brasil; Chile; México
1. OBJECTIVOS E METODOLOGIA
Os estudos sobre plantas com uso terapêutico iniciaram-se no Brasil, durante as
missões de investigação científica às práticas agrícolas intra e periurbanas na cidade de
Belém, capital do estado do Pará, nos idos de 1998, subsidiados pelo Programa Praxis
XXI e realizados em colaboração com o Museu Paraense Emílio Goeldi. Em 2002 a
investigação prosseguiu na área metropolitana de Santiago do Chile, no âmbito de um
convénio de cooperação firmado com a Universidade do Chile, financiado pelo
Gabinete de Relações Internacionais de Portugal (GRICES) e sua congénere chilena
(CONICYT). O ano 2004 marcou o início da pesquisa na Cidade do México, continuada
em 2006 por meio de um acordo cultural com a Universidade Nacional Autónoma do
1 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ México, subsidiada também pelo GRICES. Nesse ano realizou-se uma outra missão ao
Peru e à Ilha da Páscoa, ambas com a colaboração de centros de pesquisa latinoamericanos, respectivamente a Pontifícia Universidade Católica do Peru e o Centro de
Estudos da Ilha da Páscoa (Universidade do Chile).
Os objectivos específicos formulados para a investigação realizada na América
Latina foram os seguintes:
-Avaliar a importância da flora medicinal nativa, segundo as preferências de
consumo recolhidas entre as populações inquiridas e entrevistadas em 4 áreas
metropolitanas: Belém, Brasil; Santiago, Chile; Cidade do México, México; Lima, Peru.
-Avaliar o peso da influência colonial europeia nos usos e espécies medicinais
introduzidas.
-Compilar receituário de ervas, cascas e plantas medicinais usadas para mitigar
ou resolver quatro enfermidades específicas:
diabetes, reumatismo, afecções da
visão e cancro.
A metodologia aplicada ao processo de investigação estruturou-se em duas fases
e oito etapas:
A) Fontes Primárias:
1. Extracção de amostras espaciais entre agricultores urbanos e periurbanos (Fig.
1), sob a forma de inquéritos com questionário estruturado aos tipos de cultivos, práticas
agrícolas, alimentação do agregado familiar e receituário de remédios caseiros,
sobretudo entre as populações mais idosas
2. Extracção de amostras intencionais e casuísticas, entre comerciantes
grossistas, entre vendedores de mercados de bairro, vendedores de feiras e venda
ambulante nas ruas das cidades investigadas ou à porta dos
mercados municipais
urbanos, compilando simultaneamente as suas prescrições e receituário.
3. Realização de entrevistas semi-estruturadas detalhadas sobre as plantas
medicinais entre uma população seleccionada de agricultores, comerciantes, curandeiros
e médicos naturistas, a fim de desvendar processos terapêuticos ancestrais, de compilar
práticas de cura utilizadas em cada meio urbano, de aprofundar o inventário de espécies
de uso medicinal recomendadas aos pacientes menos dotados de recursos financeiros
e/ou mais confiantes nas propriedades curativas das plantas. Esta etapa incluiu notas de
trabalho, registos sonoros e gravações vídeo.
2 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ 4.
Identificação
botânica
das
espécies
inventariadas,
estabelecendo
correspondência entre os nomes vernáculos usados nas quatro metrópoles e sua
nomenclatura científica.
5. Hierarquização da produção e uso das plantas medicinais em cada cidade e no
conjunto das quatro áreas metropolitanas estudadas.
6. Redacção de comunicações a Conferências Internacionais e artigos publicados
em revistas nas disciplinas de Geografia, Botânica e Farmácia, assim como participação
em exposições internacionais sobre a temática das plantas medicinais, numa abordagem
comparativa.
A recolha de informação primária totalizou 969 testemunhos extraídos entre
1998 e 2006, sintetizada no quadro da Fig. 1.
Fig. 1 – Recolha de informação primária sobre espécies de uso medicinal
Urbes seleccionadas
Amostra das plantas
cultivadas e vendidas
(inquéritos)
Entrevistas a actores
seleccionados
Número de espécies de
uso medicinal
registadas
570
132
34
100
836
15
25
38
55
133
140
70
60
70
340
Belém do Pará
Santiago do Chile
Lima do Peru
Cidade do México
TOTAL
Fonte: Amostragens de Madaleno, 1998 a 2006
B) Fontes Secundárias:
7. Análise das estatísticas dos sectores agrícola e comercial metropolitanos, nos
4 países investigados, com o fito de avaliar as bases de dados locais referentes à
economia formal e informal.
8. Selecção, consulta e análise de fontes documentais históricas, geográficas,
etnográficas e botânicas.
No ano de 1999 realizei pesquisa à agricultura urbana praticada na Cidade de
Presidente Prudente, no estado de S. Paulo, que veio corroborar o lugar de destaque
dado à medicina doméstica no Brasil (Madaleno, 2001), tanto entre as populações locais
como entre os imigrantes, em particular os japoneses. Pela riqueza da flora medicinal
3 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ amazónica e por se tratar da décima cidade do Brasil, decidi focalizar este estudo
comparativo apenas em Belém do Pará.
2. ANÁLISE DOS RESULTADOS
O primeiro resultado da pesquisa efectuada à produção, venda e consumo de
espécies vegetais medicinais em quatro áreas metropolitanas da América Latina, ao
longo de nove anos, foi a de que a espécie mais cultivada e/ou mais vendida era
facilmente consumida por meio de infusão e bastante eclética. Buscava-se primeiro uma
espécie digestiva, depois uma planta que mitigasse dores e finalmente um chá para
aliviar o stress de que inevitavelmente padece quem vive nas cidades. Na Figura 2 estão
listadas as plantas preferidas por área metropolitana investigada e país, devendo
sublinhar-se que foi fácil estabelecer o ranking das espécies medicinais mais
consumidas por serem mais abundantes as prescrições que contêm uma só espécie.
O segundo resultado foi, surpreendentemente, o registo do enorme peso que a
influência colonial europeia tem até aos dias de hoje, mormente a espanhola no México,
no Peru e no Chile e a portuguesa, no caso do Brasil. O quadro 2 mostra já esta
tendência, pois em Santiago como em Lima, a planta medicinal que está no topo do
ranking de preferências é de origem europeia. Tal registo não diminui a importância das
espécies nativas, já que em ambos os países a flora endémica é riquíssima, como
veremos.
O terceiro resultado respeita às doenças e afecções pesquisadas com maior
detalhe, sendo de notar a diversidade de prescrições por país e em cada cidade estudada,
assim como de assinalar os usos diferenciados que cada espécie tem, sendo quase tantas
as terapêuticas quantos os nomes vernáculos atribuídos, como notáveis as receitas
domésticas e imaginosas as recomendações dos curandeiros índios.
4 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 2 – Plantas mais consumidas nas metrópoles latino-americanas investigadas
Nome
Ciudad de México
Cidade
vernáculo
Identificação Botânica
Usos
(FAMÍLIA)
Recomendados
Agastache mexicana Kunth
Sedativo, anti-stress,
carminativo e digestivo
Toronjil
(LABIATAE)
Anti-inflamatório, antiespasmódico,
Carminativo, sedativo e
digestivo (int.)
Conjuntivite (ext.)
Belem
Santiago
Lima
Matricaria Chamomilla L
Manzanilla
M. recutita L
(COMPOSITAE)
Sedativo e antiespasmódico, digestivo
Melissa officinalis L.
Melisa ou
Toronjil
Erva-Cidreira
(LABIATAE)
Lippia alba (Miller) HBK.
Carminativa, analgésica,
digestiva e sedativa
Propriedades
Farmacológicas
Actividade antiespasmódica registada
nas flores. Efeitos
sedativos em toda a
planta, variedades branca
e rosa (morada) (1)
Reconhecida actividade
anti-inflamatória, antiespasmódica. Efeitos
antibacterianos e antifúngicos comprovados. É
anti-séptica, sedativa e
febrífuga (2)(3)
Registadas actividades
antibacterianas, antifúngicas e antiespasmódicas. Digestivo
e anti-séptico. Sedativo,
com efeitos antivirais
contra o herpes simplex
(2) (3)
Registadas actividades
antiespasmódicas e
sedativas. Tem efeitos
anticonvulsionantes (4)
(VERBENACEAE)
Amostragens: 1998-2006
(1) Ochoa y Alonso, 1996; (2) Cunha, Silva e Roque, 2003; (3) Muñoz, Montes y Wilkomirsky, 2004; (4) Agapito y Sung, 2004.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:
3.1. Espécies Medicinais Europeias Comuns na América Latina
A colonização do Novo Mundo propiciou o avanço da farmacologia e da
medicina de quatrocentos com dois sentidos: enriqueceu os conhecimentos científicos
da época com a botânica nativa das Américas; levaram-se para a América espécies
usadas na Europa, que logo se integraram na medicina doméstica dos indígenas. A
5 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ aceitação das plantas originárias da Europa foi tão extraordinária, que algumas são
percebidas como nativas de América até aos nossos dias.
Outro fenómeno comum, tanto a países de colonização espanhola, como ao
Brasil, país de colonização portuguesa, foi a adopção de nomes vernáculos da farmácia
europeia a espécies endémicas ou nativas da América, apesar de pertencerem a família
botânica distinta, denominações baseadas em aplicações terapêuticas idênticas. Tal é o
caso da espécie mais consumida em Belém, a Lippia alba, (Verbenaceae), que tem a
designação popular da Melissa officinalis, (Labiateae), espécie europeia ou ainda do
Agastache mexicano (outra Labiateae) que tomou o nome de toronjil no México
Central, onde é a planta medicinal mais comummente consumida em infusões
digestivas, carminativas e calmantes.
Quando é que uma planta pode ser considerada medicinal? Cientificamente só
quando forem avaliados em laboratório os seus princípios activos, com especial recurso
à química, é que se pode qualificar uma dada espécie vegetal como medicinal natural.
Contudo, desde a antiguidade, bem antes dos avanços das ciências exactas e
experimentais, já se usavam espécies botânicas com reconhecidos efeitos benéficos para
o ser humano ou para os animais domésticos dos quais se cuidava. A tradição e o
método terapêutico são, portanto, outras formas de valorizar os usos curativos não
convencionais reconhecidos desde tempos imemoriais. Em medicina tanto a natural
como a de síntese química resulta às vezes o efeito placebo, que é inexplicável.
O registo etno-botânico da flora nativa e da farmacopeia doméstica e indígena
usada em processos de cura na América Latina constitui um direito dos povos indígenas
e está consagrado na legislação internacional. Esse registo deve ser sistematicamente
realizado sob pena de que grandes empresas multinacionais do poderoso domínio da
moderna farmácia venham a registar patentes com flora endémica, como já sucedeu
com boa parte da botânica da Amazónia, apesar de que as normas da Convenção da
Biodiversidade tenham sido discutidas precisamente no Rio de Janeiro (1992). A Fig. 3
exibe algumas das plantas europeias mais consumidas nos estudos de caso vertentes.
6 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 3 – Plantas medicinais europeias vulgarmente consumidas na América Latina
Nomes vernáculos
(por país)
Romero (México)
Romero (Perú)
Romero (Chile)
Alecrim (Brasil)
Cola de caballo (México)
Cola de caballo (Perú)
Cola de caballo (Chile)
Cana de jacaré (Brasil)
Identificação
botânica
Usos medicinais e terapêuticos
Actividade farmacológica
Rosmarinus
officinalis L.
Dor de cabeça (M). Artrite e diabetes,
diurético e digestivo. Sedativo (P)
Artrite. Antitumoral e tónico capilar
(Ch) Digestivo e carminativo.
Analgésico e anti-inflamatório usado
contra dores reumáticas (B)
Reconhecem-se actividades de
normalização de perturbações
digestivas, como tónico
circulatório e hipertensor.
Estimulante do couro cabeludo e
coadjuvante no tratamento do
reumatismo.
Tem actividades reconstituintes e
mineralizantes. Ajuda a aumentar
as defesas do sistema
imunológico. Cicatrizante, com
acções diuréticas devidas aos sais
de potássio que contém.
Reconhecido valor como
expectorante, como antiespasmódico e anti-séptico.
Aprovada como analgésico em
cólicas abdominais e reconhecida
espécie carminativa.
Encontraram-se alcalóides em
toda a planta. Actividade antifúngica e diurética fortemente
activa. Actividade antiinflamatória e emoliente nas
flores e folhas.
As sementes actuam em
problemas ginecológicos.
Comprovadamente antioxidante,
anti-inflamatório, antitumoral e
cicatrizante. Diminui lípidos
totais, colesterol, lipoproteínas e
triglicéridos no sangue.
Reconhecido hemostático e
antipirético, oxitócico e antidisentérico. Acção antimicrobiana e anti-sudorífera.
Anti-séptica e de reconhecida
acção reguladora do climatério.
As folhas, flores e raízes contêm
glucósidos, cianogénicos
(sambunigrina).
As cascas são diuréticas e
hemostáticas, com reconhecidos
poderes cicatrizantes.
Ch = Chile
LABIATAE
Equisetum arvense L.
EQUISETACEAE
Hinojo (México)
Hinojo (Perú)
Hinojo (Chile)
Funcho (Brasil)
Foeniculum vulgare
Miller
Borraja (México)
Borraja (Perú)
Borraja (Chile)
Borrage (Brasil)
Borrago officinalis L.
Llantén (México)
Llantén (Perú)
Llantén (Chile)
Tansagem (Brasil)
Plantago major L.
Poleo (México)
Poleo (Perú)
Poleo (Chile)
Salva (Brasil)
Sauco (Mexico)
Sauco (Perú)
Sauco (Chile)
Sabugueiro (Brasil)
M = México
UMBELLIFERAE
BORAGINACEAE
PLANTAGINACEAE
Salvia officinalis L.
LABIATAE
Sambucus nigra L.
CAPRIFOLACEAE
P = Peru
Úlceras e dores de rins (M)
Antioxidante, diurético e antiinflamatório (P) Diabetes, cicatrizante
e diurético (Ch) Diurético (B)
Carminativa e digestiva (M)
Carminativa e digestiva (P)
Bronquite e digestiva (Ch)
Inflamações de mucosas, olhos e
faringe (B)
Emprega-se contra a bronquite e
febres (M)
Diurético e regulador hormonal (P)
Gripe e resfriados. Problemas de pele
(Ch)
Problemas cutâneos e regulador do
fluxo menstrual (B)
Diarreia, infecções vaginais (M)
Cancro (P)
Cancro (Ch)
Curas de emagrecimento (B)
Sinusite e tosse (M)
Diabetes (P)
Digestiva, colite nervosa (Ch)
Menopausa e estimulante do apetite.
Catarro e resfriados (B)
Rinite alérgica (M)
Resfriados (P)
Cólicas, diarreia (Ch)
Sarampo (B)
B = Brasil
Fonte: Amostra de Madaleno, 1998 a 2006
Literatura Científica Recomendada: Agapito y Sung, 2004; Alonso , Ochoa, Rodriguez e Essayag, 1999; Cunha, Silva e Roque,
2003; Ochoa y Alonso, 1996; Ross, 2003.
3.2. Plantas Medicinais Registadas no Brasil
País de dimensões continentais foi o único do Novo Mundo a ser colonizado
pelos portugueses. Os fluxos migratórios, forçados ou voluntários, aliados à sua
fabulosa diversidade climática, tornaram-no no mais rico cadinho de saberes etnobotânicos da América Latina. Registei 140 espécies com usos medicinais durante o
trabalho de campo, que incluiu 555 inquéritos à agricultura urbana e 15 inquéritos e
7 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ entrevistas a vendedores e curandeiras. As cinco missões de investigação científica do
IICT à Amazónia assinalaram seis grupos de influências culturais no uso de mezinhas:
1)
As espécies nativas da Amazónia utilizadas pelos povos
indígenas; 2) Outras espécies brasileiras levadas por migrantes para a Amazónia;
3) Espécies de outras partes da América Latina, importadas ou cujo uso foi
introduzido por imigrantes dos países limítrofes; 4) Espécies europeias; 5)
Espécies africanas, levadas por nordestinos e escravos fugidos das plantações de açúcar, que ainda hoje residem em Quilombos, nas margens do Rio Amazonas;
6) Espécies asiáticas introduzidas por imigrantes japoneses. Na Fig. 4 estão listadas doze espécies seleccionadas entre as mais usadas pelos
belenenses ou por razão da originalidade das prescrições, em especial as referentes ao
reumatismo e à diabetes, duas das enfermidades pesquisadas com maior detalhe.
Começamos pela já referenciada Erva-Cidreira, que é uma planta herbácea brasileira,
que cresce até cerca de dois metros de altura, tem folhas dentadas e dá flor de cor
branca; encontrámos esta espécie tanto nos quintais de Belém (170 registos), onde era a
espécie de uso medicinal mais cultivada, quanto no Pantanal. As aplicações terapêuticas
consistem em infusões a tomar após as refeições e xaropes da folha liquefeita com mel,
em caso de gripes e de constipações. Dentre o receituário fitoterápico recomendado,
destaco a seguinte prescrição de mãe de família do Bairro da Pedreira: Deixar ferver
meia dúzia de folhas em meio litro de água durante 15 minutos e depois tomar com
açúcar ou mel a gosto. Sublinho que, tendo embora o mesmo nome vernáculo da
Melissa europeia, esta espécie é nativa.
O Açaizeiro (Huasai, no Peru) é uma palmeira de espique fino, com 25 a 30
metros de altura, que tem raízes aéreas e longas folhas compostas e pendentes. O fruto é
uma drupa vermelho-purpúrea, comestível, que cresce em cachos e cuja polpa é usada
na bebida mais emblemática do estado do Pará (Ferrão, 2001). As raízes aéreas são
mastigadas para curar a dor de dentes ou colocam-se nas gengivas doridas. Com a
decocção da raiz aplicam-se emplastros sobre feridas cutâneas e partes doridas devido a
afecções reumáticas e para estancar hemorragias. Esta espécie cresce em regiões de
clima equatorial, em especial ao longo dos igarapés do Baixo Amazonas, em solos
húmidos e alagados. O açaizeiro é a planta silvestre mais abundante nos quintais e lotes
periurbanos de Belém do Pará. O suco (“vinho”) de açaí faz parte da dieta diária das
8 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ famílias belenenses por ter valor calórico superior ao do leite e assinalável riqueza em
sais minerais e vitaminas, constituindo um notável complemento alimentar das classes
sociais mais desfavorecidas
Fig. 4 – Plantas medicinais brasileiras
Nome
Vernáculo
Erva-Cidreira
Açaí
Mastruz
Pata-de-Vaca
Amor Crescido
Canarana
Identificação
botânica
Lippia alba (Miller)
H.B.K.
VERBENACEAE
Euterpe oleracea C. Mart.
PALMAE
Chenopodium ambrosioides
L.
CHENOPODIACEAE
Bauhinia nitida Benth., B.
forficata Link, B. glabra
Jacq.
LEGUMINOSAE
Portulaca pilosa L.
PORTULACACEAE
Costus spicatus Roscoe
ZINGIBERACEAE
Pirarucu
Bryophyllum calycinum
Salisb.
CRASSULACEAE
Capim Santo
Cymbopogon Citratus
(DC.) Stapf
GRAMINEAE
Catinga de
Mulata
Aeolanthus suavis C. Mart.
LABIATAE
Marupazinho
Pariri
Anador
Eleuterine plicata Herb.
IRIDACEAE
Arrabidaea Chica (Humb.
& Bonpl.) Verlot
BIGNONEACEAE
Plectranthrus barbatus
Andr.
LABIATAE
Aplicações
Medicinais
Modo de
preparação
Parte da
planta
usada
Carminativa, analgésica,
digestiva e sedativa
Infusão,
Xarope
Folhas
A raíz é cicatrizante e
anti-reumática. O fruto é
nutracêutico.
Paus colocados
nas gengivas ou
mastigados
Antifúngica e vermífuga,
antigripal, antipirética e
analgésica, cicatrizante.
Infusão,
Xarope
Toda a planta
Antidiabética e diurética,
antibacteriana e
antidiarreica.
Infusão.
Macerada
Folhas, flores,
casca e raízes
Lavagem do couro
cabeludo. Infusão
e decocção.
Toda a planta
Cataplasmas.
Infusão,
Macerada
Folhas
Cicatrizante e diurética.
Diurética.
Afecções da visão.
Anti-séptico, antiinflamatório, bactericida,
antiulceroso
e anti-reumático.
Analgésico.
Antibacteriano,
antifúngico, antiinflamatório e
antiespasmódico.
Infusão, decocção.
Suco (visco da
folha) pingado nos
olhos, xarope.
Raiz aérea e
fruto
Folhas
Infusão
Folhas
Dor de ouvidos.
Vermífuga e aromática,
é antigripal.
Banhos
Toda a planta
Antidiarreico e
vermífugo.
Antianémico, tratamento
de úlceras e hepatites,
inflamações uterinas.
Decocção
“batatinha”
(bolbo)
Decocção
Folha e flor
Analgésico, diurético e
antitússico
Infusão, macerada
Folhas
Fonte: Amostras de Madaleno, 1998 e 2005.
Literatura Científica Recomendada: Van den Berg, 1993; Vieira, 1992; Martins, 1989.
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9 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Mastruz ou Epazote (designação que lhe é dada no México) ou Paico (Peru e
Chile) é uma herbácea de meio metro de altura e odor fétido usada em infusões
recomendadas às crianças que têm lombrigas e adequadas para a cura de gripes e
constipações. O receituário fitoterápico recomendado consiste em xaropes da folha
liquefeita com leite condensado, ingeridos contra a tosse e usados até em casos graves,
como a tuberculose. Algumas avós de Belém acrescentavam canela à receita doméstica.
Não se devem usar doses muito elevadas, nem por períodos prolongados, por ser tóxico.
Na Amazónia utiliza-se Mastruz nos galinheiros para afugentar piolhos. No México as
folhas são consumidas em tortilhas e guisados, usadas em vez da salsa por serem
digestivas, mas a principal aplicação do Epazote é no combate à malária. No Chile era
usada diariamente em infusões para tratamento de colites (receita de enfermeira da Ilha
da Páscoa).
A Pata de Vaca é uma planta arbustiva ou pequena árvore, de caule erecto e
muito ramificado, com folhas ovaladas ou cordiformes e bifoliadas, e bela flor branca
com aspecto de orquídea. No respeitante às aplicações terapêuticas, a literatura
científica referencia que as folhas possuem substância que substitui a insulina
(trigonelina) e são diuréticas (Cunha, Silva e Roque, 2003). A flor é purgante e a raiz
vermífuga. Quanto ao receituário fitoterápico, a receita mais vulgar consistia na
maceração de 100 gramas de cascas, folhas e flores num litro de álcool. O líquido coado
deve ser tomado à razão de 30 gotas em meio copo de água, em jejum, ao acordar. Para
controlar a diabetes a recomendação anotada foi a da toma adicional de 15 gotas ao
almoço e ao jantar. A espécie forficata é originária da Ásia, mas existem diversas
espécies no Brasil, em especial no sul do país. Encontrei as três espécies referenciadas
na Fig. 4, nos quintais de Belém; em Santiago do Chile, nos “huertos obreros e
familiares” do município de La Pintana, encontrei a Bauhinia candicans, usada para
reduzir o colesterol. No México, a espécie divaricata é designada Pata de Cabra,
usando-se exclusivamente as flores em cataplamas para cicatrização de feridas e golpes
(Madaleno, 2006ab, 2007; Madaleno & Gurovich, 2004).
O Amor Crescido é uma planta herbácea da América Tropical, anual erecta,
carnosa, com folhas alternas e flores alaranjadas, vermelhas ou lilás. É utilizada em
preparados e infusões contra a queda de cabelo. A infusão das folhas aplica-se em
emplastros contra queimaduras e afecções da pele. O receituário fitoterápico que
recolhemos foi variado, pois tanto se cultivava em quintais como se vendia a planta
10 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ fresca nos mercados, sendo a mais vendida no Ver-o-Peso. Uma das prescrições, de
vovó do Bairro do Condor, foi a seguinte: Misturar um punhado de folhas de AmorCrescido e outro de folhas de Jambu (Spilanthes oleracea) em água fria e levar ao lume.
Deixar levantar fervura e tomar em substituição da água, durante todo o dia, esta
decocção que é excelente diurético e protege o fígado. Prolífica no Peru, cresce tanto
nas zonas costeiras como nos Andes (Cuzco e Arequipa), onde toma o nome de “Flor
de Mediodía” e é usada em infusões digestivas.
A Canarana é uma planta herbácea erecta do Baixo Amazonas, de 1 a 3 metros
de altura, com folhas alternas e pilosas. As infusões das folhas são recomendadas em
tomas regulares e usadas externamente em cataplasmas. Duas prescrições são de
destacar: 1) Juntar uma folha de Canarana a um punhado de folhas de Abacateiro
(Persea americana) e um punhado de Quebra-Pedra (Phyllantus orbiculatus) num litro
de água e tomar maceradas durante o dia para curar infecções urinárias. 2) Colocar
folhas frescas de Canarana aquecidas em óleo de Andiroba (Carapa guianensis) sobre
os rins e bexiga, cataplasmas recomendados contra tumores. Com 55 ocorrências (10%
da amostra de 1998), esta espécie ocupava o 6º lugar no ranking das mais cultivadas nos
quintais de Belém do Pará (Madaleno, 2002).
O Pirarucu é planta herbácea perene, de folhas carnosas e dentadas como as
escamas do peixe homónimo do Rio Amazonas. Infusões das folhas usam-se em
aplicações internas contra a gastrite. O suco pingado nos olhos é recomendado em caso
de cataratas e de glaucoma. Receituário fitoterápico: 1) Ferver 2 ou 3 folhas de Pirarucu
em meio litro de água e tomar contra dores de estômago e diarreias. (Receita de
proprietária de banca do “Jogo do Bicho” do bairro da Sacramenta, que exercia a
actividade informalmente à porta da sua casa, em Belém do Pará, 1998). 2) Colocar 2 ou
3 folhas suculentas num pouco de água. Juntar açúcar a gosto. Levar ao lume e deixar
ferver até apurar. Depois de arrefecer, espremer a mistela, coando-a. O xarope
antitússico pode ser tomado várias vezes ao dia, usando uma colher de sopa como
medida. (Receita de vendedora do Mercado Ver-o-Peso, 2005). O Pirarucu cresce no
Baixo Amazonas e no estado do Maranhão, onde se conhece pela designação de Erva de
Santa Quitéria. O Pirarucu foi a 11ª espécie do ranking das plantas medicinais
cultivadas nos quintais de Belém do Pará, de acordo com os resultados do trabalho de
campo realizado nas duas primeiras missões Científicas à Amazónia, em 1998
(Madaleno, 2000).
11 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Capim Santo ou Capim Limão prolifera nas regiões tropicais, sendo chamada
Té Limón no México e Yerbaluisa no Peru. Trata-se de herbácea de 1 metro de altura e
cerca de 1 cm de largura, cuja infusão é analgésica e sedativa, usada no combate à dor
em tomas abundantes. Em Belém tanto existe cultivada nos quintais, como prolifera
silvestre à beira das estradas e caminhos dos bairros das baixadas ribeirinhas e lotes
periurbanos. Depois da erva-cidreira é a mais cultivada nos quintais de Belém. É a
segunda planta mais vendida nos mercados de Lima, no Peru e a 4ª na Cidade do
México, de acordo com o estudo comparativo que realizei entre 1998 e 2006
(Madaleno, 2007).
A Catinga de Mulata é planta herbácea de um metro de altura, de caule erecto
com folhas ovaladas, flor tubulosa de corola amarela. Aromática, é antigripal. A
decocção é usada em clister por ser vermífuga. Também é usada externamente em
“banhos de cheiro” durante as “festas juninas” (santos populares do mês de Junho).
Deve-se evitar a ingestão, por ser tóxica. A prescrição mais interessante é a usada em
caso de dor de ouvidos: Batem-se as folhas no liquidificador e pinga-se o suco nos
ouvidos. O estudo desta planta endémica da Amazónia deve-se ao botânico alemão Carl
Friedrich Philipp von Martius, que explorou a Amazónia durante três longos anos
(1817). A Flora Brasiliensis, entre outros escritos, tornou-se obra de referência da
botânica da Amazónia, contendo um total de 22 767 espécies brasileiras. Martius
naufragou no rio Amazonas, em frente a Santarém do Pará, tendo escapado
milagrosamente juntamente com o seu precioso acervo.
O Marupazinho é planta herbácea erecta com bolbo (“batatinha”) de cor lilás que
se usa para fins terapêuticos por ser antidiarreico e vermífugo. Utilizam-se decocções do
bolbo contra as desinterias e amebíases. O receituário fitoterapêutico recomendado
consiste em deixar ferver duas “batatas” (bolbos) de Marupaa ou Marupazinho em meio
litro de água. Deixar arrefecer, coar e tomar o líquido decocto antes das refeições.
(Receita de vovó de 70 anos, do Bairro do Marco – 2ª Missão à Amazónia, Madaleno,
1998).
O Pariri foi a quarta espécie registada nos quintais de Belém, um arbusto de
folhas compostas e pigmentadas, nativo da Amazónia (chamado Puca Panga, no Peru).
Tem aplicações diversas nas “doenças femininas”. Em 1998 recolhemos a seguinte
receita de mãe de família do bairro de Curió-Utinga: juntar 4 a 5 folhas de Pariri a um
12 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ litro e meio de água; levantar fervura e consumir o líquido decocto de cor avermelhada
diariamente (Madaleno, 2002: 141). Combate a anemia e as inflamações uterinas.
O Anador foi a quinta espécie do ranking das mais cultivadas em Belém, de
acordo com os resultados da mesma amostra, uma espécie endémica que tomou a
designação de um conhecido analgésico vendido nas farmácias de todo o Brasil. A
prescrição doméstica foi a seguinte: um par de folhas por xícara de água a ferver.
Macerado com hortelã-pimenta (Mentha piperita) combate as cólicas estomacais e
intestinais, minora afecções hepáticas e combate catarros brônquicos.
3.3. Plantas Medicinais Registadas no Chile
País singular, que atravessa 38º de latitude, numa distância superior à de Lisboa
a Moscovo (4 300 km de comprimento), é um dos mais ricos em biodiversidade na
América Latina, possuindo grande profusão de espécies endémicas favorecidas pelo
isolamento que a Cordilheira dos Andes lhe confere. Desde 1888, a pedido do Conselho
de Anciãos, que a Ilha da Páscoa (Rapa Nui) é parte integrante da República Chilena. O
trabalho de campo incluiu 132 inquéritos e 25 entrevistas e identificaram-se 70 espécies.
As cinco missões científicas indicaram 5 influências culturais na produção e venda de
hierbas (Fig. 5):
1) Europeia (Espanhóis, Ingleses e Alemães);
2) Práticas de cura dos índios
Mapuche do Sul do Chile; 3) Tradições índias Aymara do Norte; 4) Plantas
importadas do Peru; 5) Plantas medicinais da Ilha da Páscoa.
Dentre as onze espécies listadas, começo por descrever a planta mais consumida
pelos índios Aymara, do norte do Chile. A Llareta é um arbusto endémico de estrutura
complexa, compacto e resinoso, que cresce sobre superfícies rochosas. A flor, de corola
pequena, tem cor amarela. A resina tem aplicação externa em emplastros, no caso de
fracturas, artrite e dores nas costas. Utilizam-se infusões da raiz nas crises de asma e
para minorar a diabetes. A flor e as sementes utilizam-se em infusões contra a tosse,
gripes e constipações e para baixar o colesterol. É uma espécie dos Andes Centrais, que
se estende desde Cuzco (Peru) até ao deserto de Atacama (Chile). É mais abundante na
província de Iquique, Região de Tarapacá, no extremo norte do Chile. Endémica da
Cordilheira dos Andes, sobrevive apenas entre 3 500 e 4 500 metros acima do nível do
mar.
13 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ A Matua’Pua é uma erva nativa da Ilha da Páscoa que tem cerca de meio metro
de altura e cresce preferencialmente nas vertentes dos vulcões e no interior de caldeiras
vulcânicas. Na ilha, a principal utilização terapêutica é contra as dores reumáticas. As
receitas domésticas são transmitidas de geração em geração e consistem em preparados
da raiz ralada, cuja composição é reservada às curandeiras rapanui, em poções e
infusões secretas apenas conhecidas por um número restrito de mulheres. Se contra o
reumatismo a aplicação é externa, existem preparados de aplicação interna
recomendados contra o cancro.
O Canelo é uma árvore endémica do sul do Chile, de 30 m de altura, com folhas
obovado-elípticas e flores brancas estreladas. As cascas são usadas em mezinhas que a
‘machi’ (curandeira índia Mapuche) prepara. Uma das aplicações externas é a decocção
das cascas e folhas em banhos contra as dores reumáticas. Recolhi dois tipos principais
de prescrições: 1) Uma folha por chávena de água a ferver em infusão diurética e
antiescorbútica. 2) Um litro de álcool por 200 gramas de cascas e folhas gera alcoolato
usado em fricções contra o reumatismo. A descoberta do Canelo deve-se ao médico
John Winter, companheiro de Francis Drake, que levou a casca da árvore chilena para
Inglaterra, no regresso das suas viagens (1577-1581), razão pela qual os botânicos
Johann Reinhold Forster e Georg Forster a classificaram Drimys winteri, da família
Winteraceae. Esta é a árvore sagrada dos índios Mapuche do sul do Chile.
Árvore nativa do Chile, com cerca de 8 metros de altura, o Boldo tem folhas
aromáticas, pequenas, inteiras e flores de corola branca ou amarela. Tem aplicação
interna contra problemas do fígado e más digestões. As infusões da folha são
igualmente recomendadas para a gota. A medida é diferente para cada pessoa, ou seja,
uma mão cheia (puñado) por litro de água, a tomar após a refeição. Não deve ser
tomado por período de tempo dilatado pois torna-se tóxico. Apesar de ser planta nativa
do Chile Central, o Boldo dá-se em quase todos os domínios climáticos americanos.
Encontrei Boldo em Belém do Pará, na Cidade do México e, menos, em Santiago do
Chile. Não o encontrei cultivado em Lima. O Boldo ocupa o 9º lugar no ranking das
espécies medicinais mais vendidas nos mercados formais e informais de Santiago, mas
raramente se encontrou em quintais. O Boldo do Chile é a 2ª planta mais vendida nos
mercados de Belém do Pará, no Brasil e a 12ª mais cultivada nos quintais daquela
cidade da Amazónia, onde é consumida fresca. No ranking do comércio de ervas
mexicano ocupava um honroso terceiro lugar.
14 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 5 – Plantas medicinais chilenas
Nome
Vernáculo
Llareta
Matua’pua
Identificação
Botânica
Aplicações
medicinais
Azorella compacta Phil.
Cicatrizante, antitússico e
antigripal. Ensaios
farmacológicos provaram
efeitos benéficos na cura da
tuberculose e contra a doença
de Chagas.
UMBELLIFERAE
Polypodium scolopendria
Rauch
Modo de
Preparação
Parte da
planta
usada
Infusão
Emplastro
Toda a planta
Anti-reumática e antitumoral
Preparado
Rizoma
As cascas e folhas são
antiescorbúticas, febrífugas e
anti-reumáticas.
Infusão
Emplastro
Fricções
Decocção
Toda a planta
Infusão
Folhas
Infusão
Macerada
Folhas e
flores
Antitússico e antidiarreico
Infusão
Fruto comestível
Folhas e
frutos
Cicatrizante e antigripal.
Afecções da pele (eczemas,
herpes e sarna)
Infusão, decocção,
lavagem e
emplastro
Folhas e
caules
Cicatrizante, analgésico, antiinflamatório e diurético.
Infusão, decocção
Pulverizado sobre a
pele
Folhas
Infusão
Folhas e talos
POLYPODIACEAE
Canelo
Drimys winteri J.R. & G.
Forst.
WINTERACEAE
Cedrón
Peumus boldus (Molina)
Lyons
MONIMIACEAE
Lippia citriodora Kunth
(HBK)
VERBENACEAE
Maqui
Aristotelia chilensis (Molina)
Stuntz
ELAEOCARPACEAE
Parqui
Cestrum parqui L’Hér.
Matico
SOLANACEAE
Buddleja globosa Hope
BUDDLEJACEAE
Boldo
Protector hepático, digestivo
e anti-reumático.
Estimulante do apetite e
digestivo, é também
carminativo,
antiespasmódico e calmante.
Bailahuen
Haplopappus baylahuen
Remy
COMPOSITAE
Digestivo e cicatrizante, é
também antiespasmódico,
antibacteriano, anti-séptico,
carminativo e antiálgico.
Diego de la
Noche
Oenothera stricta Ledeb ex
Link
ONAGRACEAE
Antitumoral e antiinflamatório.
Preparado
Toda a planta
Palto (a)
Persea americana Mill.
LAURACEAE
Antitússica e antigripal
xarope
Folhas
Fonte: Amostras de Madaleno, 2002 a 2006.
Literatura Científica Recomendada: Bienvenido, s.d.; Muñoz, Montes y Wilkomirsky, 2004; Villagran y Castro, 2004.
O Cedrón é arbusto de cerca de 3 metros de altura, aromático, de folhas opostas
e longas, e flores brancas terminais que crescem em espiga. Estimulante do apetite e
digestivo, é também carminativo, antiespasmódico e calmante. A aplicação interna fazse em infusões digestivas e sedativas. O receituário fitoterápico recolhido consistia em:
Uma colher de chá por cada chávena de água a ferver ou 8 a 10 folhas por litro de água,
maceradas por 10 minutos, a tomar após as refeições. A infusão das flores e folhas
15 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ combate o mau hálito. O ranking nos estudos comparativos deu-lhe o 8º lugar em
Santiago, dentre as mais vendidas nos mercados formais e informais. É a 2ª planta mais
cultivada nos quintais da capital chilena (depois das Mentas). No México e no Peru a
folha seca de Cedrón é usada em infusões contra a indigestão. Em Belém do Pará, no
Brasil, toma o nome de Carmelitana, é cultivada nos quintais e usada fresca em chás
tranquilizantes.
Maqui é árvore endémica do sul do Chile, de cerca de 4 metros de altura, de
ramos delgados e flexíveis, de casca lisa. Os folíolos são elípticos. Os frutos maduros
são bagas pequenas como cerejas, negras e brilhantes. Aplicam-se internamente as
folhas em infusões que curam as dores de garganta. O fruto comestível cura a diarreia.
Os índios Mapuche fabricam ‘chicha’ com estas bagas. O Maqui foi pintado pela ilustre
botânica inglesa Marianne North, que em 1884 chegou ao Chile, derradeira etapa da
peregrinação científica que fez pelo mundo; o Maqui aparece no seu diário e integra
igualmente uma das 832 pinturas de sua autoria que estão expostas na ‘Marianne North
Gallery’, nos Royal Kew Gardens, de Londres (Echenique e Legassa, 1999)
Parqui é arbusto silvestre de cerca de 3 metros de altura, de aroma fétido, folhas
alternas, lanceoladas e flores amarelas. Cicatrizante e antigripal, é arbusto nativo do
centro e sul do Chile e é tóxico. A prescrição consiste em: Um punhado de caules, sem
casca, partidos ou raspados, por litro de água a ferver. A decocção bebe-se quente para
curar gripes e resfriados e fazer baixar a febre. A infusão das folhas, na proporção de 50
gramas por litro de água a ferver, serve para lavar feridas, herpes e cura a sarna. As
folhas, após cozimento, também se aplicam como emplastro cicatrizante.
O Matico é arbusto de folhas opostas lanceoladas e flores amarelas esféricas. A
infusão serve para desinfectar as feridas. Também se toma como chá diurético. A
decocção é recomendada para tratar úlceras digestivas e afecções hepáticas. Pulverizase a folha triturada sobre ferimentos cutâneos para ajudar a cicatrizar feridas (receita de
machi Mapuche, 2005). Há uma centena de espécies diferentes nas regiões tropicais. A
globosa cresce espontaneamente no Chile, desde a latitude da Valparaíso até à X Região
(Los Lagos), nas montanhas.
O Bailahuen cresce nos Andes de Tarapacá acima de 2000 metros de altitude; é
arbusto de folhas dentadas, brilhantes e cobertas de visco. Dá flores amarelas terminais,
agrupadas em capítulos solitários. Tem aplicação interna em infusões digestivas e
analgésicas e aplicação externa para desinfectar feridas e golpes. Receituário
16 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ fitoterápico recolhido: Cerca de vinte gramas de folhas e caules por litro de água a
ferver, minora as dores menstruais. Tomado após as refeições adelgaça a silhueta
(receita de casal de vendedores da Feira Lo Valledor, 2005). Quando ingerido com leite
de cabra aquecido ou com chá mate (um punhado de Bailahuen por meio litro de água)
ajuda a diminuir as crises epilépticas (receita Aymara, 2004).
Diego de la Noche é planta herbácea erecta com folhas lanceoladas e flor branca,
que só abre ao entardecer. Há 18 géneros de Onagráceas e 640 espécies por todo o
mundo, a maioria das quais são americanas. A Oenothera stricta é nativa do centro e sul
do Chile. A aplicação interna é recomendada contra tumores e em emplastros colocados
sobre feridas, pelas acções comprovadamente anti-inflamatórias. Receita para o Cancro
da próstata: Um “trocito” (pedacito) de raiz de corchito + um pouco de cada erva
(Diego de la Noche + Té Buchu + Horizonte + Orocoipó) para uma chávena de água.
Tomar quente, após as refeições, quatro vezes ao dia. As gotas de Sangre de Grado ou
Drago (Croton lechleri Muell. Arg.), vendidas em qualquer mercado chileno e peruano,
são adicionadas às infusões, na razão de uma, nos primeiros 5 dias, 2 nos seguintes 5, e
assim sucessivamente até às 5 gotas nas tomas regulares, pois este chá pode ser tomado
por períodos prolongados (receita de vendedora da Vega Chica, Santiago, 2005).
O Palto ou Palta, nome do Abacateiro no Chile, é árvore de 15 metros de altura,
com folhas elípticas de cerca de 20 cm de comprimento e 15 cm de largura, de fruto
verde violáceo com forma de pêra. É a terceira planta no ranking das mais cultivadas
nos quintais de Santiago, e as folhas frescas usam-se em infusões contra a gripe e na
confecção de xaropes antitússicos caseiros. Dentre as prescrições recolhidas destaco
duas: 1) 1 folha de laurel (louro) chileno (Laurelia sempervirens ou Thiga chilensis
Mol.), 1 folha de eucalipto (Eucaliptus globulus), vulgar nas faldas dos Andes, 1 folha
de palto (abacate), vulgar em La Pintana, 1 folha de cardenal blanco (Hibbiscus spp.) e
sumo de limão com mel (receita registada em huerto obrero do município de La
Pintana, de senhora idosa e originária do sul do Chile, alegadamente prescrição
tradicional dos índios Mapuche). 2) Folhas de palto batidas no liquidificador com mel e
umas gotas de pisco (bebida alcoólica peruana e chilena). Este xarope antigripal pode
ser tomado todo o dia (receita de enfermeira rapanui (Ilha da Páscoa) residente em
Santiago, 2005). 17 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ 3.4. Plantas Registadas no Peru
Quarto maior país em extensão da América Latina, depois do Brasil, Argentina e
México, o Peru estende-se desde a selva amazónica até ao Lago Titicaca, dos picos
nevados dos Andes até aos desertos costeiros. O Peru regista vinte e oito tipos
climáticos. Cada uma das suas oito grandes regiões possui rica biodiversidade e enorme
profusão de espécies endémicas (Fig. 6). O Peru exibe, ainda, numerosos sítios
arqueológicos da Civilização Inca, terraços alimentados por canais de irrigação e
cidades alcandoradas nos Andes (Vidal, 1996; Alva, 2004).
A missão de 2006 revelou três influências principais: 1) A Europeia; 2) A das
culturas ancestrais andinas, dentre as quais a Quechua e a Aymara; 3) A dos povos
indígenas da Amazónia. Identifiquei 60 espécies vegetais de uso terapêutico e realizei
38 entrevistas.
Árvore de até 6 metros de altura, com folhas cordiformes alongadas e flores
grandes e vistosas, brancas, rosadas ou vermelhas, o Achiote é originário da Amazónia
mas estende-se pela América Tropical sendo encontrada nos Andes até aos 1000 metros
de altitude. Utilizam-se decocções das folhas e sementes para minorar a diabetes.
Infusões das folhas em aplicações externas em caso de varicela, de lepra, como antiséptico urinário e vaginal. Dentre o receituário fitoterápico recolhido, destaco a seguinte
prescripção: Uma colher de chá de Achiote triturado e outra de Huamampinta
(Chuquiraga huamampinta) para uma chávena de água a ferver, a tomar diariamente
durante um a dois meses, cura o cancro da próstata (receita de guarda de museu idoso).
Em casos de maior gravidade juntar, ainda, Uña de Gato. Para as senhoras a
recomendação é Achiote e Manayupa, para curar infecções urinárias (receita de
vendedora do mercado de Surquillo). No Brasil tem o nome de urucu e é usada pelos
índios na pigmentação da pele, desde tempos imemoriais.
A Asmachilca é uma herbácea dos Andes Centrais de um metro de altura, de
folhas pilosas, com aroma desagradável, que sobrevive apenas acima dos 3000 metros
de altitude. As folhas e talos são usados em infusões e decocções contra a asma.
Receituário fitoterápico recomendado por vendedora Aymara do mercado Central de
Lima, oriunda de Arequipa: Um puñado (punhado) de folhas e talos a ferver por 10
minutos em um litro de água.
A Maca é uma planta anual de cerca de 20 cm, com folhas rasteiras que crescem
sob a forma de raios de um círculo quase perfeito. É endémica dos Andes Peruanos
18 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ sendo originária do altiplano de Junín, sito acima de 4 000 metros de altitude. As
plantas da Maca não florescem, nem dão fruto, usando-se apenas o “tubérculo”, que tem
6 a 8 cm de diâmetro e cor amarela, avermelhada ou mesmo negra. Com fins medicinais
utiliza-se preferentemente a variedade amarela. As prescrições recomendadas foram as
que se seguem: Juntar 100 gramas de Maca à sopa. Fervida em leite, come-se para
regularizar a menstruação. Uma colher de café de maca em pó ao pequeno-almoço é
estimulante e energética. Muito rica em cálcio é recomendada para a osteoporose
(receita de médica). Usada também em caso de úlceras gástricas, pelos efeitos
calmantes, em dose elevada afecta as funções hepática e renal. A título de curiosidade,
acrescento que a maca era parte importante do tributo ao Inca e ao Deus-Sol
(viracocha), prática continuada durante a colonização espanhola, como rezam as
crónicas citadas por Fernando Cabieses (1997) e Maria Rostworowski (1993): “Yten
dareis en cada año trescientas cargas de maca, cada carga de media fanega”.
O Capulí é uma árvore que cresce até 20 metros de altura, com folhas ovadas e
dentadas, flores solitárias e fruto em forma de baga amarela coberto de película
castanha. O fruto é diurético; as folhas e a casca do tronco são anti-sépticas e
cicatrizantes; as cascas são anti-reumáticas. Prescrições de índia Quechua do Mercado
das Flores de Rímac: O fruto come-se pelas suas qualidades antitússicas e efeitos
diuréticos. Também se recomenda o seu consumo contra o mau-olhado. Em aplicações
externas usam-se cataplasmas das folhas secas e cascas que têm efeitos benéficos na
desinfecção e cicatrização de feridas cutâneas e golpes. Aplicação interna têm ainda as
cascas, cuja decocção é considerada anti-reumática. Espécie andina, nativa do Peru,
encontra-se hoje desde Lima até Cuzco e Junín, nos Andes, entre os 2 000 e 3 500
metros de altitude.
A Huíla-Huíla é uma planta herbácea branca erecta de 1 m de altura, com flores
branco-douradas, andina, nativa do Peru e que cresce acima dos 2 500 metros de
altitude. A planta é pilosa mas de toque suave. Recomendação terapêutica de vendedora
Quechua do Mercado Ciudad de Dios: Uma planta por 2 litros de água a ferver. Usar
morna em banhos de assento. Também tem aplicação interna em decocção contra a
tosse, gripes e ataques de asma. A índia que me vendeu um espécime classificou-a como
“planta para mulheres”, o que verifiquei ser extensivo a outra espécie de cor branca, a
Flor Blanca (Buddleja incana R y P) embora recomendada contra a gastrite.
19 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Fig. 6 – Plantas medicinais peruanas
Nome
vernáculo
Achiote
Asmachilca
Maca
Identificação
Botânica
Aplicações
medicinais
Bixa orellana L.
A folha é diurética,
antidiabética e
antimicrobiana; a raíz é
digestiva; as sementes são
expectorantes, usadas contra
a tuberculose e antigripais.
BIXACEAE
Aristeguietia gayana
(Wedd.) King y Robinson
COMPOSITAE
Lepidium peruvianum
Chacon; Lepidium meyenii
Walpers
Expectorante, antitússico e
antiasmático.
Estimulante e Afrodisíaca
BRASSICACEAE
Prunus capuli Cav.
Capulí
Muña
ROSACEAE
Senecio canescens (HBK)
Cuatre
COMPOSITAE
Minthostachys setosa
(Briq) Epling
LABIATAE
Uña de Gato
Uncaria tomentosa
(Willd.) DC.
Huíla-huíla
RUBIACEAE
Manayupa
Pasuchaca
Yacón
Desmonium molliculum
(HBK) DC.
LEGUMINOSEAE
Geranium dielsianum
Kunth
GERANIACEAE
Polimnia sonchifolia
Poeppig et Endlicher
COMPOSITAE
Modo de
Preparação
Infusão, decocção
emplastro,
fricções.
Infusão e
decocção
Pulverizada pode
adiccionar-se a
bebidas e na
confecção de
sopas
Parte da
planta
usada
Toda a planta
Toda a planta
Raiz principal
tuberosa
Anti-reumática e cicatrizante,
Fruto anti-tússico e diurético.
Infusão e
emplastro. Fruto
comestível
Antimicrobiana, tem
actividade reconhecida contra
a candida albicans.
Preparado, banho
de assento
Toda a planta
Infusão,
condimento,
cataplasma
Toda a planta
Infusão e
decocção
Toda a planta
Analgésico, carminativo,
antitússico, anti-séptico,
anticancerígeno e antireumático
Actividades anti-inflamatória
e antioxidante. Inibição de
síntese do DNA em células
cancerígenas. Actividades
antitumoral e antiviral.
Antipirética e estimulante do
sistema imunológico
Toda a planta
Toda a planta
Actividades antiinflamatória, antidisentérica e
cicatrizante
Infusão e
decocção
Diabetes e diurética
Infusão
Toda a planta
Diabetes
Preparado
Cozido
Raiz principal
tuberosa
Fonte: Amostra de Madaleno, 2006
Literatura Científica Recomendada: Agapito e Sung, 2004; Espinosa e Pumacayo, 2005; Gonzales, Hoyos, Gonzales,
Remsberg, Navas, Chávez, Mejía-Meza, Guevara, Bellido, Davies e Yañez, 2007; Montesinos e Ramón, 2004; Sobral e
Noronha, 2001; Vilches, 1997.
A Muña é um arbusto de metro e meio de altura, muito ramificado e aromático,
endémico da pré-cordilheira andina peruana (vertentes sitas entre 2 500 e 4000 metros
de altitude). Tem folhas opostas e ovadas, dentadas, pubescentes na face inferior e dá
flores brancas tubulares. São recomendadas infusões das folhas frescas e dos talos por
melhorarem a digestão, tratarem as palpitações provocadas pela altitude e as afecções
respiratórias. Consome-se nas sopas e guisados como condimento. Usam-se folhas e
talos em cataplasmas contra as dores reumáticas e na cicatrização de feridas cutâneas.
20 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Receituário fitoterápico recomendado: Ferver 20 gramas de talos e folhas em 1 litro de
água durante 10 minutos. Esta decocção bebe-se duas vezes ao dia para curar o “mal de
montanha”, ou seja, o mal-estar provocado pela subida aos Andes. Para o turista que
visita Cuzco e Machu-Pichu, o encontro com os pequenos vendedores de Muña é
inevitável. Eles mostram-nos a planta fresca, que dão a cheirar, já que é aromática, e
apontam para a cabeça, indicando-nos ser forte analgésico. A Muña cresce silvestre em
extenso e denso mato aromático, que cobre as vertentes andinas.
A Uña de Gato é um arbusto trepador da floresta amazónica, que pode atingir
cerca de 20 metros de altura. Tem folhas ovadas, opostas, de pecíolo curto, com cerca
de 17 cm de comprimento e 9 cm de largura. O caule apresenta espinhos arqueados para
baixo, tal como unhas de felino, de até 2 cm. As flores são sésseis e têm corola amarela.
Aplicações terapêuticas: Um punhado de cascas por litro de água, bebe-se quente para
minorar as dores reumáticas ou provocadas por tumores (receita de vendedora do
mercado do Callao). No Brasil usa-se decocção das folhas frescas para mitigar dores,
em especial as provocadas por doenças cancerígenas. Espécie nativa da Amazónia
Peruana, estende-se hoje desde o Panamá (América Central) até ao Peru e Brasil. Cresce
até 600 metros de altitude, na selva Amazónica. É utilizada desde tempos imemoriais
por diversos grupos étnicos da Amazónia; a planta ocupa o 4º lugar no ranking das
preferências de Lima e de Santiago do Chile e é a 6ª mais utilizada na Cidade do
México (Madaleno, 2006b).
A Manayupa é uma planta herbácea trepadeira de talos e folhas verdes
esbranquiçadas, com flor amarela vistosa. Toda a planta tem aplicação medicinal
interna, sozinha ou associada. As prescripções variadas incluem infusões de Achiote e
de Manayupa, ou de Manayupa e Flor Branca (Buddleja incana) consideradas diuréticas
e depurativas. Receituário fitoterápico recomendado: Um punhado da planta por litro de
água, em decocção a tomar três vezes ao dia, durante 15 dias para desintoxicar.
Também se usa Manayupa em banhos de assento contra hemorróides (receitas de
médico naturopata de 80 anos de idade, que ainda exercia a profissão no seu consultório
do bairro de Miraflores). Esta espécie é endémica dos Andes e estende-se de Cajamarca
(N), a Cuzco e Junín, crescendo entre 1500 a 3 000 metros de altitude.
A Pasuchaca é uma planta herbácea nativa que cresce silvestre acima dos 3 000
metros de altitude, nos Andes peruanos. Encontrei folhas e talos desta espécie
embalados nos mercados e nunca a vi vender fresca. Era recomendada à razão de um
21 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ punhado por litro de água em toma de infusões às refeições, para controlar a diabetes. A
literatura científica divulga que foram comprovados os seus efeitos benéficos na
redução do açúcar, em particular as propriedades do rizoma. Foram ainda detectadas
actividades anti-hemorrágicas, anti-inflamatórias e bactericidas (Agapito e Sung, 2004).
Yacón ou Llacón é outra espécie herbácea, mais prolífica do que a anterior, por
se encontrar na Cordilheira dos Andes, desde a Colômbia à Argentina. Cultiva-se com
facilidade nas regiões montanhosas, utilizando-se as raízes em preparados que também
controlam a diabetes. Análises químicas revelam que contém inulina. A receita das
vendedoras Quechua, que recomendavam o “rizoma” (parecido a uma batata doce) era a
de que se consumisse cozido com regularidade, acompanhando a carne ou o peixe, em
vez de batata ou de arroz.
3.5. Plantas Medicinais Registadas no México
O México é um país de grande variação topográfica e climática cujos desertos
setentrionais contrastam com as selvas meridionais. A Cidade do México foi construída
sobre um planalto com altitude média de 2 300 metros, outrora coberto por ecossistemas
lacustres que hoje persistem em raras áreas protegidas de que Xochimilco constitui o
melhor exemplo. Os estudos desenvolvidos incluíram 100 inquéritos e 55 entrevistas
realizadas pela autora na Cidade do México, em Puebla, Cuernavaca e nas faldas dos
vulcões que ladeiam estas cidades do México Central. Foram identificadas 70 espécies
botânicas. Há onze espécies listadas na Fig. 7.
O trabalho de campo revelou quatro influências culturais principais:
1) Europeia; 2) Práticas de cura ancestrais dos Aztecas; 3) Tradições índias
Nahua; 4) Plantas importadas doutros países americanos.
A Arnica é uma planta herbácea perene com 50 cm a 1 metro de altura, de folhas
alternas dentadas, flor amarela terminal. Floresce em Agosto e Setembro. A infusão da
planta, em particular das flores, tem aplicação externa em emplastros, no caso de
fracturas, artrite e dores reumáticas. A decocção da planta usa-se ainda em gargarejos
para tratar dores de garganta e anginas. Espécie prolífica nativa do altiplanalto do
México Central, cresce tanto no Estado de Chihuahua (N), quanto no Distrito Federal,
22 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ Puebla e em Oaxaca. Não deve ser confundida com a espécie europeia Arnica montana
L. de que tomou o nome vernáculo, introduzido pela colonização espanhola.
A Ballentilla é um arbusto com 3 metros de altura e flores campaniformes
vermelho-alaranjadas, folhas grandes de pecíolo curto que crescem em grupos de três a
cinco. Espécie nativa do centro e sul do México, cresce desde a costa atlântica
(Veracruz) até à Pacífica (Chiapas). A infusão das folhas utiliza-se para desinfectar
feridas e deter hemorragias. Aplica-se como emplastro anti-séptico. Tem aplicação
interna contra diarreias e como antipirético. Recomendada em decocções contra o
paludismo.
Fig. 7 – Plantas medicinais mexicanas
Nome
vernáculo
Identificação
Botânica
Aplicações
Medicinais
Modo de
Preparação
Parte da
planta
usada
Anti-inflamatória, antiséptica e antibacteriana e
anti-reumática
Fricção e
Emplastro
Decocção
Toda a
planta
antidiarreica, anti-séptica e
cicatrizante
Infusão e decocção.
Emplastro
Folhas
Antidisentérico, minora a
diabetes e é eficaz contra a
malária
Infusão e decocção
Afecções da visão.
Antibacteriana e
antiespasmódica
Infusão
Toda a
planta
Emplastros e
fricções.
Preparados.
Folhas
Heterotheca inuloides Cass.
Arnica
Mexicana
COMPOSITAE
Hamelia patens Jacq.
Ballentilla
Chaparro
Amargo
RUBIACEAE
Castela tortuosa Lieb.
SIMAROUBACEAE
Argemone mexicana L.
Chicalote
Axihuitl
PAPAVERACEAE
Eupatorium aschembornianum
Sch.
COMPOSITAE
Anti-reumático. Úlceras
nervosas.
Caules
Cuphea aequipetala Cav
Hierba del
Cáncer
Muicle
Nopal
Toloache
Gordolobo
Cancerina
Anti-inflamatória e
antitumoral
LYTHRACEAE
Justicia spicigera Schlecht.
ACANTHACEAE
Opuntia tomentosa Salm-Dyck;
O. ficus-indica (L.) Miller; O.
depressa Rose.
CACTACEAE
Datura stramonium L.
SOLANACEAE
Gnaphalium semiamplexicaule
DC.
COMPOSITAE
Hippocratea excelsa Kunth
HIPPOCRATEACEAE
Emplastro
Antianémica, antipirética,
antidiarreica e antibacteriana
Infusão e banhos
Hipoglicémica e antiviral
Comestível
Emplastros
Anti-reumática.
Sedativa, antiespasmódica,
antiasmática e imunizante
Fumam-se as
folhas. Emplastro
das sementes.
Toda a
planta
Folhas,
caules e
flores
Talos
tenros sem
espinhos
Folhas e
sementes
Anti-gripal e antitússica
Infusão e decocção,
Fumam-se as folhas
Folhas,
flores e
talos secos
Afecções de pele
Fricções e
emplastros
Cascas e
raízes
Fonte: Amostragens de Madaleno, 2004 e 2006
Literatura Científica Recomendada: Adame, 2000; Aguilar, Contreras, Villafranco e Molina, 2002; Alonso, Ochoa, Rodriguez y
Essayag,1999; Alvarez, 2003; Ochoa e Alonso, 1996.
23 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Chaparro Amargo é um arbusto espinhoso, de até 3 metros de altura, com
casca de cor escura, de folhas pequenas, crescendo em grupos de 3 ou 4. Dá flores
vermelhas e solitárias e é usado na medicina indígena em infusões contra febres e
diarreias. A ingestão em infusões e decocções é ainda benéfica no caso da diabetes.
Receituário fitoterápico recomedado: Uma mão-cheia de cascas e ramos num litro de
água a tomar de manhã e ao deitar para controlar a diabetes. Tomar em jejum contra as
amibas durante 10 dias. Esta espécie é nativa das zonas secas do norte do México e
estende-se desde a Baja Califórnia, a Chihuahua, Nuevo León, San Luís de Potosí e
Puebla. Deve-se ao Jesuíta espanhol Miguel del Barco, que trabalhou como missionário
na Califórnia durante 30 anos (1739-1768), o estudo do Chaparro Amargo, descrito na
sua “Historia Natural y Crónica de la Antigua California”.
O Chicalote é uma planta herbácea, de flor branca terminal e folhas dentadas,
divididas em segmentos espinhosos. Floresce de Abril a Outubro. O látex era usado
pelos Aztecas contra as cataratas (“nubes en los ojos”), as sementes são purgantes e as
folhas usam-se em infusões contra a diarreia. Espécie nativa do México Central,
estende-se hoje desde o estado da Baja Califórnia (costa Pacífica) até ao Yucatán (Mar
das Caraíbas). O seu ambiente preferido são as encostas ensolaradas dos vulcões. A
primeira descrição da planta deve-se ao Franciscano Fray Bernardino de Sahagún que
escreveu a “Historia General de las Cosas de Nueva España” (1548). Contudo, os
estudos do curandeiro indígena Martín de la Cruz (1552), traduzidos para latim por Juan
Badiano, foram os mais divulgados.
O Axihuitl é uma erva silvestre de folha larga e comprida, que floresce de
Novembro a Fevereiro. A folha tem aplicação externa em emplastros e fricções contra
as dores reumáticas, normalmente sob a forma de alcoolato. Os curandeiros dos
povoados de Tepoztlán e San Juan de Tlacotenco (2 650m), no estado de Morelos,
utilizam-na para fabricar bebida estimulante que dizem ter o poder de cicatrizar as
úlceras nervosas. É espécie endémica do estado de Morelos, sito a sul do Distrito
Federal, no México Central, que existe apenas acima de 2 000 metros, no Parque
Nacional El Tepozteco. A espécie faz parte da tradição dos curandeiros índios Nahuas.
Xihuitl significa erva; quáhuitl, árvore; acatl, cana e zacatl, pasto.
A Hierba del Cáncer é uma trepadeira de cerca de 40 cm, o caule está coberto de
penugem violeta, da cor das flores. As folhas pequenas e de pecíolo curto, crescem
opostas. Toda a planta tem aplicação externa em emplastros, no caso de golpes e de
24 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ inflamações artríticas. Utilizam-se infusões e preparados que dizem curar todos os tipos
de cancro, o que nunca foi comprovado pelos ensaios farmacológicos. Está provado o
efeito anti-inflamatório. Espécie nativa do altiplanalto do México Central, estende-se
hoje desde os estados de Puebla e Morelos até Oaxaca. O Muicle é um arbusto de 2 m de altura, muito ramificado, de folhas ovadas e
opostas, flores tubulares terminais, de corola alaranjada. É usada em aplicações externas
em banhos contra o mau olhado, afecções cutâneas e má circulação. A infusão das
folhas e caules cura anemias e disenterias. Espécie nativa do México, tanto se encontra
nos quintais quanto silvestre. Estende-se desde San Luís de Potosí até ao estado de
Veracruz (Golfo do México).
O Nopal é cacto que atinge 5 metros de altura. Há várias espécies endémicas do
México das quais se utilizam os talos ternos depois de extraídos os espinhos. Os talos
moles (nopalitos) são comestíveis e a sua ingestão, cozidos ou assados, em solitário ou
com o fruto (Xocondl), controla a diabetes. Tem aplicação externa em emplastros que
ajudam a curar herpes, queimaduras e várias afecções cutâneas (Receitas de vendedora
do Mercado de la Merced, na Ciudad de México, 2004). Em Morelos consome-se ‘mole
rojo com nopales’, uma receita das zonas montanhosas do norte, com camarão a
acompanhar com 1 kg de nopal cozido com sal (receita recolhida em Tepoztlán, estado
de Morelos, durante a missão científica de 2006). É comida ritual da Semana Santa.
O Toloache é uma erva das Regiões Tropicais, que cresce silvestre também na
Europa e na Ásia. As folhas de recorte característico têm odor fétido. As flores, de
corola em forma de campânula violácea, são terminais. O fruto é uma cápsula verde
espinhosa onde se alojam as sementes. É tóxica e o seu uso deve ser muito controlado.
As sementes aplicam-se em emplastros ou sob a forma de alcoolato em fricções contra
as dores reumáticas e hemorróides. As folhas fumam-se como preventivo de ataques de
asma. Prolífico, o Toloache existe em todo o México sob a forma silvestre assim como
nas Zonas temperadas e tropicais do Hemisfério Norte. Folhas e sementes de Tlapatl
(Aztecas) ou de Toloatzin (Nahuas) mastigadas eram usadas em rituais mágicoreligiosos pré-hispânicos, para provocar a embriaguês. Provocam alucinações e podem
gerar estado comatoso. O cultivo da planta é proibido e as vendedoras informais do
Mercado de Sonora só a colhem a pedido de clientes. Adquiri o espécime entregue ao
Herbário do IICT porque o cliente que o havia encomendado não apareceu (Maio de
2004).
25 Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM, 29, 30 e 31 de Outubro de 2008 Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina _______________________________________________________________________________________________________ O Gordolobo é uma planta herbácea nativa do México Central, que atinge 80 cm
de altura, tem folhas alternas compridas e estreitas, flores terminais esféricas e pilosas
de cor branca. Consome-se sempre seca e para isso as mulheres das faldas do vulcão
Popocatepetl armazenam-nas nas vigas do tecto das suas cozinhas e arrecadações, já que
se trata de uma das espécies mais procuradas pelos clientes no Mercado de Sonora, na
Cidade do México. As folhas são fumadas contra os ataques de asma, velha prescrição
azteca, mas hoje em dia é mais frequente consumir-se um punhado de flores e talos em
infusões e decocções, contra gripes e constipações.
A Cancerina é um cipó lenhoso nativo do México que cresce silvestre até 17
metros de altura nas encostas dos vulcões do México Central. Utilizam-se as cascas e
raízes para matar piolhos e outros parasitas e fabricam-se preparados caseiros com
álcool para utilização em fricções e emplastros que as índias do mercado de Sonora
garantem curar o cancro de pele. A literatura científica consultada registou acções antiinflamatórias, antiartríticas e antitumorais em toda a planta (Alonso, Ochoa, Rodríguez
e Essayag, 1999).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da botânica medicinal e dos conhecimentos ancestrais sobre práticas de
cura na América Latina representa e fundamenta proposta alternativa para paliar dores,
mitigar mal-estares e resolver problemas de saúde que a todos afligem. A expectativa
desta pesquisa realizada ao longo de nove anos em quatro países e áreas metropolitanas
foi a de resgatar e documentar as tradições e práticas terapêuticas ancestrais, usando
exclusivamente espécies da flora medicinal, por serem mais acessíveis e menos
dispendiosas, porque o direito à saúde é universal.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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