Ideias Luiz Guilherme Brom Geografia do trabalho: Brasil, Estados Unidos e Europa A s sociedades industriais do ocidente viveram período de grande prosperidade e estabilidade nos trinta anos subsequentes à Segunda Guerra. Esse período, que vai de 1945 a meados da década de 1970, foi marcado pelo vigoroso desenvolvimento das sociedades industriais da América do Norte, Europa Ocidental e Japão. O keynnesianismo, o fordismo e o welfare state eram fontes de inspiração teórica dessas sociedades. O mercado de trabalho era abundante e o desemprego irrisório: na Europa, a taxa de desemprego nesse período histórico girava em torno de 1,5% e no Japão, em torno de 1%. O Brasil, como ator periférico da economia mundial, mesmo com relações comerciais internacionais bastante reduzidas naquele tempo, também se beneficiou: na década de 1950 nascem a Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobrás e o polo automotivo na região do ABC paulista. O desemprego por aqui não era um problema grave, ainda que o mercado de trabalho fosse muito mais modesto do que em outros países. Nova realidade A partir de meados da década de 1970, entretanto, com a crise do petróleo e outros problemas, nuvens negras se apresentam no horizonte do mercado de trabalho. O Japão consegue se sair melhor, em virtude de uma economia mais eficiente e de uma indústria de base tecnológica avançada. Mas os Estados Unidos mergulham em profunda recessão na segunda metade da década e a Europa segue o mesmo caminho. As taxas de desemprego 58 | geografia | conhecimento prático se elevam vertiginosamente nos países europeus, sobrecarregando os gastos dos Estados com assistência social. No mercado de trabalho brasileiro, a crise se abate com muito mais vigor e o país se vê diante do desemprego em massa, com milhões de desempregados nos grandes centros urbanos. Sem um sistema de assistência social como o europeu, as consequências foram graves: explode a miséria, a favelização das cidades, a violência e a criminalidade. O desemprego em massa, que vigorou por quase três décadas, mudou a cara do Brasil, afetando profundamente a vida dos brasileiros. Mas nos anos iniciais do terceiro milênio, o que parecia impossível começou a acontecer. O mercado de trabalho brasileiro dá sinais de recuperação, a economia nacional ganha vigor e milhões de novos postos de trabalho são criados. Em dezembro de 2011, por exemplo, a taxa de desemprego no país foi de 4,7%, menos da metade da taxa de dezembro de 2002, que foi de 10,5%, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística). Ainda com inúmeros e graves problemas, o fato objetivo é que o mercado de trabalho brasileiro melhorou nos últimos anos. E o mais surpreendente é que melhorou na contramão dos mercados de trabalho na Europa e EUA. Assim como a economia brasileira esteve mais imune às crises internacionais, também o mercado de trabalho brasileiro não acompanhou a deterioração internacional do trabalho. Se por um lado o mercado de trabalho brasileiro se apresenta – até o momento – imune às crises dos mercados norteamericano e europeu, por outro lado alguns problemas são comuns a todos Legenda falando do tratamento de agua Legenda falando do tratamento de agua MoMeNTo CrUCIal Nos Estados Unidos, o ápice da crise econômica e política ocorreu no final do segundo governo George W. Bush. Em 2008, o país sofre uma grave crise de origem financeira, que afeta dramaticamente a gigante economia americana, já cambaleante em virtude de gastos com guerras e outros problemas internos. Herdeiro da desordem, no governo Barack Obama a taxa nacional de desemprego atingiu o grave patamar de dois dígitos. No segundo semestre de 2011, entretanto, essa taxa começou a decrescer, chegando a 8,3% em janeiro de 2012, conforme o U.S. Bureau of Labor Statistics, do governo americano. Um sinal de esperança de dias melhores para os trabalhadores norte-americanos, mas uma situação ainda muito ruim quando comparada aos 4% de taxa de desemprego no ano de 2000. A União Europeia, por seu lado, também afetada pela crise de 2008, somada a outros problemas crônicos, vive seu pesadelo no mercado de trabalho. Com uma taxa de desemprego de 10,4% na chamada Zona do Euro, em dezembro de 2011, em alguns países a situação do mercado de trabalho é gravíssima, como na Espanha, cuja taxa na mesma data era de 22,9%, de acordo com o Eurostat, boletim oficial da União Europeia. E mesmo o Japão, cuja taxa de desemprego sempre foi a mais próxima de zero de todos os países industriais, fechou o ano de 2011 com uma taxa de desemprego de 4,6% em dezembro, que é estratosférica para os padrões japoneses. Se por um lado o mercado de trabalho brasileiro se apresenta – até o momento – imune às crises dos mercados norte-americano e europeu, por outro lado alguns problemas são comuns a todos. É o caso, por exemplo, da situação dos jovens no mercado de trabalho. O desemprego entre jovens com menos de 20 anos nos EUA, em janeiro de 2012, foi de 23,2%, ou seja, 180% acima da taxa nacional de desemprego na mesma data. Na União Europeia, a taxa de desemprego entre jovens com idade abaixo de 25 anos é de 21,3% na Zona do Euro, portanto 105% acima da taxa geral dessa mesma região. No Brasil, a taxa de desemprego entre jovens foi de 13,4% em dezembro de 2011 ou 185% acima da taxa nacional na mesma data. Mercados de trabalho aparentemente diferentes, portanto, guardam entre si algumas indesejadas igualdades. G KEYNNESIANISMO É a teoria econômica promovida pelo economista inglês John Maynard Keynes oposta às concepções neoliberalistas, ou seja, se baseia na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, sendo ator principal no palco econômico, regulando e interagindo com o sistema. WELFARE STATE É um tipo de visão e proposta política e econômica que determina o Estado como um agente da promoção do bemestar da sociedade e pleno organizador da economia. LUIZ GUILHERME BROM é doutor em Ciências Sociais, professor e palestrante, autor de quatro livros e diretor superintendente da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). [email protected] geografia | conhecimento prático | 59