PORTAL DA SAÚDE Ponto de situação da infecção pelo vírus da Gripe A e da campanha de vacinação Ministra da Saúde faz ponto da situação da infecção pelo vírus da Gripe A e da campanha de vacinação - 04/02/2010. Agradeço a presença das Senhoras e dos Senhores Jornalistas. Esta conferência de imprensa destina-se a fazer um ponto de situação da infecção pelo vírus da Gripe A (H1N1) e da campanha de vacinação em curso. Importa recordar que, a nível mundial, o primeiro alerta sobre o novo vírus surgiu a 24 de Abril do ano passado. A Organização Mundial de Saúde alterou sucessivamente os níveis de alerta: • Da Fase 4 em 27 de Abril, passámos à Fase 5 em 29 de Abril e à Fase 6/ Pandemia em 11 de Junho. • Ou seja, do primeiro alerta à declaração de pandemia decorreram, apenas, 48 dias, o que mostra bem a rapidez com que o vírus se propagou a nível mundial. Perante este cenário, importa verificar o que foi desenvolvido em Portugal. Logo a 24 de Abril – data do primeiro alerta - foi activado o Plano de Contingência Nacional. Dessa data a 21 de Agosto, decorreu aquilo que se designa de Etapa de Contenção, com o objectivo de evitar cadeias de transmissão, aplanando a curva epidémica. Nesta etapa houve concentração dos casos suspeitos em hospitais de referência, com ênfase no diagnóstico laboratorial, isolamento dos casos, quimioprofilaxia dos contactos e medidas de higiene respiratória e distanciamento social. Estas medidas de contenção permitiram ganhar tempo para melhor preparação dos serviços de saúde, para diminuir a concentração de casos em simultâneo, enquanto se aguardava a disponibilidade de vacinas. O primeiro caso diagnosticado em Portugal foi a 29 de Abril (uma mulher, jovem, saudável com link epidemiológico ao México). Nesta etapa de contenção foram diagnosticados laboratorialmente cerca de 2.000 doentes, quase todos casos importados ou com link epidemiológico. O aparecimento progressivo de casos sem link determinou a passagem à etapa de mitigação, com activação de toda a rede hospitalar e unidades de saúde dos cuidados primários para prestação de cuidados a doentes com sindroma gripal. A confirmação laboratorial dos casos e a quimioprofilaxia passaram então a ser recomendadas selectivamente, de acordo com critérios de gravidade clínica ou inclusão em grupos de risco. A 26 de Outubro iniciou-se a campanha de vacinação, assente numa estratégia de minimização do risco, com a finalidade de proteger os cidadãos mais vulneráveis, tendo sido identificados como tal cerca de 30% dos portugueses. Na primeira fase da vacinação foi dada prioridade às grávidas com patologia e aos profissionais essenciais, principalmente do sector da saúde. Até à data foram vacinadas cerca de meio milhão de pessoas, no universo de 800.000 vacinas distribuídas, o que significa uma taxa de utilização de 62%. Na primeira semana de Fevereiro, chegaram a Portugal mais cerca de 800.000 (oitocentas mil) vacinas. Ou seja, até hoje Portugal recebeu cerca de 1.600.000 (um milhão e seiscentas mil vacinas). Nesta fase, uma média de 7 a 8 mil pessoas continuam a vacinar-se diariamente em Portugal. Tendo em conta os grupos de risco definidos para o nosso plano de vacinação, Portugal encomendou 6.000.000 (seis milhões) de doses de vacinas para a Gripe A para protecção de 3 milhões de portugueses, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, confirmadas pela Agência Europeia do Medicamento. Com seis milhões de doses, Portugal garantia assim a cobertura de todos os grupos de risco identificados: 30% da população, como já tive oportunidade de referir. Apesar de algumas críticas feitas então, podemos hoje dizer que Portugal é apontado como um dos países da Europa que efectuou a encomenda de vacinas com maior racionalidade: apenas para 30% da sua população, correspondente aos grupos de risco identificados inicialmente e que a realidade tem demonstrado serem a população mais susceptível ao H1N1. Acresce, como é sabido, que a Organização Mundial de Saúde anunciou em momento posterior à encomenda de vacinas que uma dose seria suficiente para a protecção contra o vírus H1N1, alterando, assim, a sua anterior indicação, excepto em relação a crianças até aos 10 anos de idade e em imunodeprimidos, que mantêm a necessidade de duas doses. Por este motivo, o Ministério da Saúde, à semelhança do que foi feito noutros países, iniciou negociações com a empresa farmacêutica à qual foram encomendadas as vacinas, de forma a não receber a totalidade da reserva. Posso hoje confirmar que, no âmbito destas negociações, Portugal já cancelou a reserva de 2 milhões de doses. Gostaria, no entanto, de reiterar que a estratégia se mantém. A vacinação continua a ser fortemente aconselhada às grávidas, aos doentes crónicos, às crianças com idade entre 6 meses e 12 anos, aos coabitantes de crianças com menos de 6 meses e aos profissionais de saúde, uma vez que o vírus se tem mantido genética e antigenicamente estável e se prevê que continue a circular. A vacina da gripe faz parte de um conjunto coerente de medidas adoptadas pelos países para fazer face à actividade epidémica do vírus. Estamos convictos que em Portugal o conjunto das intervenções tem sido apropriado e permitiu atenuar o impacto da pandemia. Até à data foram comunicados cerca de 195 mil casos, número certamente subavaliado, quer por sub-notificação, quer porque muitos dos casos terão apresentado doença ligeira ou moderada sem recurso a serviços de saúde. O pico nacional da onda epidémica verificou-se em finais de Novembro (semanas 47 a 48). Foi, portanto, uma actividade gripal precoce quando comparada com o que se verifica habitualmente na gripe sazonal. Na distribuição por idades verificou-se uma maior proporção de casos nos grupos mais jovens, com predomínio de crianças e adolescentes, padrão semelhante ao internacionalmente descrito e diferente do da gripe sazonal. A expressão clínica da infecção foi moderada na maioria dos casos. No entanto, houve um total de 1.189 doentes internados por gripe, dos quais 117 em unidades de cuidados intensivos. Verificaram-se 104 óbitos. Destes, cerca de 80% tinham factores de risco conhecidos, nomeadamente, doença pulmonar, cardíaca e metabólica. Dados preliminares permitem concluir que cerca de 80% dos doentes que faleceram estiveram submetidos a ventilação assistida e a demora média de internamento em unidades de cuidados intensivos foi de 17 dias. A principal causa de morte foi a pneumonia viral primária, padrão semelhante ao dos outros países e diferente do que se verifica em gripe sazonal. Esta pandemia teve um impacte grande nos serviços de saúde, quer ao nível dos cuidados de saúde primários quer ao nível hospitalar, com uma resposta exemplar dos profissionais que permitiu o adequado tratamento dos doentes com gripe, sem repercussões negativas no regular funcionamento do Serviço Nacional de Saúde. Uma vez que o vírus continua em actividade e pode manifestar-se através de novas epidemias, as medidas adoptadas até ao momento continuam actuais e devem ser aplicadas em função da actividade gripal. Fico à disposição dos senhores jornalistas para as questões que entendam conveniente colocar. Lisboa, 4 de Fevereiro de 2010 Data de Publicação: 4.2.2010