DESCRIÇÃO DOS TERRITÓRIOS NERVOSOS E MUSCULATURA DO MEMBRO PÉLVICO EM Puma concolor EBONE, Christian1; BRITO, Matheus Cândano2; WILGES, Carlos Henrique de Mello ; SILVA, Aline Alves3, MARTINEZ-PEREIRA, MalconAndrei4 3 Palavras-Chave: Inervação. Musculatura. Membro pélvico. Puma concolor. INTRODUÇÃO O crescimento do desenvolvimento rural, ampliando áreas de lavouras e pastagens determinou a diminuição de habitats de muitas espécies nativas do Rio Grande do Sul. Os incidentes com mamíferos nativos envolvem atropelamentos, o contágio de doenças provenientes de animais domésticos, a perseguição dos carnívoros por atacar criações, ou a caça por esporte e devido a cultura de consumo de carne exótica e o envenenamento por pesticidas (DEEM, 2001; OLIVEIRA; SILVA, 2012). A onça-parda ou Suçuarana (Puma concolor), é o segundo maior felídeo neotropical que ocorre no Brasil, chegando a medir 1,20 m de comprimento e 0,60 m de cauda e pesar até 70 kg. Trata-se de um felídeo crepuscular-noturno e diurno, territorialista e solitário, habita ambientes de cerrado, deserto, montanha, caatinga, pantanal, mas principalmente florestas tropicais, subtropicais, inclusive em matas e galerias (OLIVEIRA; CASSARO, 1997). A caça indiscriminada para comercialização da pele e a alteração do habitat com consequente redução da disponibilidade de presas são as maiores ameaças a esta espécie sendo classificada pelo IBAMA como ameaçada de extinção. Dentre os felinos, a onça parda é um dos melhores saltadores, podendo saltar para o chão de alturas de até 15 metros e dar saltos de até 6 metros de extensão, facilitando a caça (OLIVEIRA; CASSARO, 1997). Ainda, grande parte das lesões, observadas nestes animais, relaciona-se a fraturas nos membros torácicos e pélvicos e que atingem as inervações e a vascularização que se espraiam nestes órgãos. O conhecimento da organização anatômica dos territórios vasculares e nervosos, considerando a localização e músculos supridos por cada componente é de grande importância para prática veterinária, por fornecer subsídios para o 1 Acadêmico Curso Medicina Veterinária – Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Bolsista PIBIC-UNICRUZ. Email: 2 Acadêmico Curso Medicina Veterinária, CCSA, UNICRUZ, Bolsista Voluntário PIBIC-UNICRUZ . E-mail: 3 Docentes Curso Medicina Veterinária, CCSA, UNICRUZ, e-mail: [email protected], [email protected] 4 Docente Curso Medicina Veterinária, Coordenador Projeto, CCSA, UNICRUZ, e-mail: [email protected] atendimento clínico-cirúrgico e reabilitação destes animais, já que apresentam algumas diferenças quando comparados a mamíferos domésticos, gerando impactos positivos na conservação destas espécies. MATERIAIS E MÉTODOS Foi dissecado um exemplar macho de Puma concolor, entregue no laboratório de Anatomia Animal da Universidade de Cruz Alta pela Patrulha Ambiental da Brigada Militar deste município, oriundo de óbito por atropelamento em rodovia. De posse do mesmo procedeu-se a fixação com solução de formaldeído 30%, seguida da retirada do tegumento e de cuidadosa dissecação macroscópica a fim de evidenciar a sistematização da inervação oriunda do plexo lombossacral. A dissecação seguiu as orientações de Evans e De Lahunta (2001). Deste modo, observou-se a emergência das raízes nervosas, assim como seu trajeto e distribuição nos antímeros direito e esquerdo. Logo após, confeccionaram-se fotografias para permitir um melhor registro visual dos resultados obtidos. A nomenclatura utilizada está de acordo com Nomina Anatômica Veterinária (2005). Este estudo possui licença do Ministério do Meio Ambiente (SISBIO 46237-1). RESULTADOS E DISCUSSÃO A inervação do membro pélvico no puma (Puma concolor) originou-se do plexo lombosacral, imergido entre a musculatura pélvica (músculos piriforme, glúteo médio e glúteo superficial). Assim como em outras espécies (SCHWARZE; SCHRÖDER, 1970), observouse a formação do plexo isquiático lateralmente e dos nervos femoral e obturatório medialmente, de onde se origina a inervação pertinente ao membro pélvico. O nervo femoral percorre a região ilíaca ventralmente, emitindo três ramos: para os músculos sartório, cranial e caudal, outro para o músculo quadríceps femoral e o terceiro que continua-se como nervo safeno (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986; MEDINA et al., 2014). O nervo safeno representa apenas uma inervação cutânea para a região femoral medial e sural crânio-medial, semelhante apenas ao descrito no leão (MEDINA et al., 2014). O nervo obturatório dirige-se caudalmente, transpondo o forame e músculos obturatórios, projetandose lateralmente para inervar os músculos pectíneo, grácilis e adutores maior e breve, idêntico ao descrito no gato e leão (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986; LOPES et al., 2012; MEDINA et al., 2014). O plexo isquiático emite quatro nervos: glúteo cranial, glúteo caudal, cutâneo femoral caudal e isquiático. O nervo glúteo cranial inervou os músculos glúteos médio e profundo, já o nervo glúteo caudal inerva os músculos glúteo superficial e gluteofemoral. O nervo cutâneo femoral caudal surge caudalmente aos nervos glúteos, dividindo-se em um ramo que seguiu junto ao bíceps femoral, em direção a região crural caudal, e o outro ramo para o bíceps femoral. Todos os territórios destes nervos mostraram-se semelhantes ao gato (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986), ao leão (MEDINA et al., 2014) e à jaguatirica (LOPES et al., 2012). Ao final do plexo lombosacral o nervo pudendo ramifica-se caudalmente formando ramos do nervo perineal e genital respectivamente, originando um ramo para o músculo coccígeo e elevador do ânus. A descrição do nervo pudendo foi compatível com o gato (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986), contudo os ramos para os músculos coccígeo e elevador do ânus assemelhou-se apenas ao leão (MEDINA et al., 2014). O maior nervo do plexo lombosacral, o nervo isquiático deu sequência à inervação da musculatura e pele do membro, dando origem a ramos musculares ao bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso. Na sequência, o nervo isquiático emitiu quatro ramos proximais: um para o abdutor crural caudal (muscular), o nervo cutâneo sural caudal proximal, inserindo-se no músculo bíceps femoral (músculo-cutâneo), o nervo cutâneo sural lateral, também sendo inserido no bíceps femoral (músculo-cutâneo) e o nervo cutâneo sural caudal distal (inervando o tendão calcâneo comum, o tarso e metatarso e um ramo mais distal para os dígitos). Estes territórios foram observados no gato (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986), bem como no leão (MEDINA et al., 2014). Os ramos terminais do nervo isquiático deram origem, na região crural ou sural, aos nervos fibular comum e tibial. O nervo fibular comum seguiu após o músculo bíceps femoral, imergindo entre a cabeça lateral do músculo gastrocnêmio e o músculo sóleo, dividindo-se em sequência em dois nervos: fibular profundo e fibular superficial. O nervo fibular profundo dividiu-se em três ramos: dois proximais e um distal, que se projetou para o músculo extensor fibular longo, que diferindo de outros felinos (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986; MEDINA et al., 2014) possui duas cabeças. Os ramos proximais dividiram-se cada um em três ramos, sendo três para o músculo tibial cranial e outros três para o músculo extensor digital longo, respectivamente. O nervo fibular profundo segue distalmente entre os músculos fibular longo e extensor digital lateral, dirigindo-se aos dígitos, formando os nervos digitais comuns dorsais, para a região distal de cada dígito. O nervo fibular superficial emitiu ramos aos músculos fibular longo, extensor digital longo e tibial cranial. Uma distribuição similar foi observada no gato doméstico (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986), no leão (MEDINA et al., 2014) e também nas imagens obtidas a partir da descrição da musculatura do membro pélvico no puma (CARO et al., 2013). O nervo tibial se inseriu junto à cabeça medial do gastrocnêmio, dividindo-se em um ramo para cada cabeça, um para o flexor digital superficial e outro para o flexor digital profundo. Logo após dirigiu-se caudalmente ao osso calcâneo, onde originou os nervos plantar lateral (músculo flexor digital breve e parte do flexor digital profundo) e plantar medial (músculos quadrado plantar, flexor digital profundo e interósseo). Esta organização foi observada em outros felinos (CROUCH, 1969; GHOSHAL, 1986; MEDINA et al., 2014), bem como deduzidas a partir das imagens obtidas pela descrição da musculatura do membro pélvico no puma (CARO et al., 2013). CONCLUSÕES Com este estudo pode-se verificar as diferenças que existem na inervação do membro pélvico entre o gato doméstico e os felinos selvagens, com especial atenção ao puma. Estes dados, apesar de preliminares, constituem uma importante ferramenta para o conhecimento anatômico de uma espécie da fauna brasileira, além de propiciar o efetivo atendimento clínico-cirúrgico destes animais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARO, C.; CONCHA, I.; BORRONI, C. & GUERRERO, J. Descripción anatómica de los músculos del miembro pélvico de puma (Puma concolor). Santiago, Universidad Santo Tomás, pp.59-68, 2013. CROUCH, J. E. Text-atlas of cat anatomy. Philadelphia: Lea & Febiger, 399 p,.1969. DEEM, S.L; KARESH, W.B; WEISMAN, W. Putting theory into practice: Wildlife health in conservation. Cons Biol, 2001. GHOSHAL, N.G. Nervos espinhais – sistema nervoso do carnívoro. IN: GETTY, R. SISSON & GROSSMAN Anatomia dos Animais Domésticos. 5 ed.; Rio de Janeiro, Interamericana, v. 2. p. 1595- 1617, 1986. INTERNATIONAL COMMITTE ON VETRINARY GROSS NOMENCLATURE. Nomina anatomica veterinaria. 5ed. Zürich, 2005. ANATOMICAL LOPES, J.A.; FÉ L.C. M.; LIMA A.R.; PEREIRA L.C.; BRANCO E. Morfologia do plexo lombossacral da jaguatirica (Leopardus pardalis). Biotemas, 25(4): 215-220, 2012 MEDINA, P.R.; MORALES, M.P.; CONCHA, A.I.; BORRONI, G.C. Descripción anatómica de la inervación del miembro pélvico de león africano (Panthera leo). Int. J. Morphol., 32(3):889-894, 2014. OLIVEIRA, D. S; SILVA, V. M. Vertebrados silvestres atropelados na BR 158, RS, Brasil. Biotemas 25, 2012. OLIVEIRA, T. G.; CASSARO, K. Guia de identificação dos felinos Brasileiros. Sociedade de Zoológicos do Brasil: Fundação Parque Zoológico de São Paulo. São Paulo, 1997. SCHWARZE, E.; SCHRÖDER, L. Compendio de anatomia veterinaria. Zaragoza: Acribia, v.4. 208 p., 1970.